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Joana D’Arc

Num período em que as dificuldades se abatiam sobre o Reina de França,


originadas pela Guerra dos Cem Anos – ter em conta que este território foi o grande
palco das maiores batalhas deste período -, eis que emerge uma figura até hoje bastante
polémica, que consegue suscitar paixões e interrogações.
O que importa aqui é, sem dúvida, saber quem foi Santa Joana D’Arc e qual o
seu real impacto na História.
Então, como poderemos descortinar tais factos? E entender as razões que a
levaram a tais actos que, na verdade, beiraram o heroísmo; para que tal seja concebível
teremos de entrar em larga medida na área das Ciências Psíquicas e estudar o mundo
que nos é invisível – refiro-me àquele mundo que nos envolve a todos quando nascemos
e onde mergulhamos pelas mãos da morte.
Vários são os pontos de vista históricos que envolvem este tema; os do século
XIX engrandecem-na, equiparam-na uma espécie de messias nacional ao passo que os
historiadores do século XX lançam teses críticas de uma clara dureza, que em muito as
qualificavam de puras e simples neuroses1.
Mas, com ou sem neuroses, esta jovem camponesa, nascida em 1412, em
Domermy (Orleães – França), proporcionou uma imensa ajuda aos franceses, para que
estes se pudessem libertar do poderio opressor que a Inglaterra lhes imponha. As suas
visões (ou neuroses), desde cedo se começaram a manifestar. Todavia, há uma questão
que se levanta; sendo a sua aldeia natal, uma recôndita terra, na qual as notícias da
guerra não chegavam, ela nos afirma que em suas visões lhe havia sido relatada a
situação. Verdade, mentira? É certo que poderia ter ouvido algo, mas é igualmente certo
que essas mesmas visões lhe deram um papel a desempenhar no futuro – salvar o seu
país das garras inglesas. Começa a sua caminhada para a corte, onde se iria reunir com o
delfim.
Então, meses mais tarde e após passar por uma série de testes por parte da Igreja,
a fim de atestar a sua pureza e, de que não se tratava de uma enviada do demónio, irá ser
acolhida pelo futuro rei de França e na sua corte acabará por figurar, no meio de toda
uma nobreza e de grandes damas da sociedade da época, que agora, tinham como

1
C.f, Leon Denis, Joana D’Arc – Médium, Fundação Espírita Brasileira, s.d, p. 9
companhia assídua uma humilde camponesa, mas a quem mais tarde haveriam de
reverenciar as devidas honrarias2.
Já mais tarde, segue para a guerra com os exércitos reais – que nesta época ainda
tinham grandes bases no feudalismo -, mas sem ter qualquer tipo de sabedoria na arte da
guerra, muito menos no que toca à alfabetização; mesmo assim, irá quebrar as regras
hierárquicas, de que tanto se orgulhavam os Senhores do Reino, que tinham em seu
sangue o desprezo pelas mulheres, mas, agora, teriam de se curvar perante uma, mas
com grandes reservas. Reservas essas que se transformam em assombro, quando vêem
alguém de condição inferior a eles se transcender, superando todos os obstáculos que se
lhe entrepõem pelo caminho3. Um desses primeiros obstáculos foi conseguir uma
audiência com o delfim – como anteriormente referi -, a isto se seguiu a espantosa
vitoria em Orleães, marcando-se assim, um ponto de viragem na Guerra dos Cem Anos;
uma outra, foi guia-lo (delfim) a Reims, para lá ser ungido e coroado como Carlos VII4.
Mas, as vitorias desta jovem, que emanava um profundo amor à pátria e guiada
pela vontade de Deus, que lhe haveria confiado mais uma série de missões5, Joana
começa agora a dirigir as suas vistas para Paris, o seu objectivo mais imediato; todavia,
a simpatia que o rei sentia por ela começa a esfriar, pois, graças a ela o delfim contava
já com uma grande base de apoios para prosseguir com as operações, então a Donzela
de Orleães já não lhe era tão útil como outrora6.
Por fim, em 1430, ela e um destacamento de soldados dirige-se para o Norte de
França; por lá as hostilidades tinham-se reacendido e Compiègne estava prestes a
capitular, contudo, Joana consegue penetrar na cidade que era sem dúvidas um ponto de
grande valor estratégico. É recebida em festa, mas, mais tarde, acaba por ser capturada
pelos Borguinhões, que a venderam aos ingleses, por uma considerável maquia7,
iniciando-se aqui um novo ciclo na sua senda na História.
Esta mova fase será marcada pelo seu julgamento. Que se pode dizer em relação
a ele? Primeiramente verificou-se um total desapoio por parte do rei de França, que a
deixou completamente à sua sorte – ignorando assim que a coroa que lhe havia sido

2
Cf, idem, ibidem, p. 11
3
Cf, idem, ibidem, pp. 11-12
4
Cf Carl Grimberg, História Universal, Vol. 8, Europa-América, 1940, pp. 78-81
5
Cf idem, ibidem, p. 80
6
Cf, idem, ibidem, pp. 82-83
7
Cf, idem, ibidem, p. 83
colocada em sua cabeça, foi em grande parte responsabilidade da jovem que agora
estranha a sua pena seria equiparada a heresia, em muito motivada pelas suas visões e,
por outro lado devido às roupas masculinas que fazia questão de vestir; tal se deveu a
uma intenção de se igualar aos seus companheiros de armas, que a viam, como, uma
rapariga somente.
O julgamento tem então início, a 21 de Fevereiro de 1431, com a sessão iniciada
pelo Bispo de Béarnais, exortando a ré a dizer a verdade perante o tribunal8. Joana de
imediato diz que tudo aquilo que for do seu foro íntimo que juraria dizer, excepto as
palavras de Deus, que essas, somente foram reveladas a Carlos VII; mesmo que lhe
custe a vida, não irá falar. É então que o bispo lhe pede que ela recite o Pai Nosso, ao
que prontamente se recusa e por mais três vezes o fez, dizendo que só o diria se a
ouvissem em confissão; tal pedido da ré não foi acedido, chegando mesmo a ser-lhe dito
que caso não o fizesse seria encarcerada e acusada de heresia.
Nos dias seguintes, o julgamento vai-se desenrolando e são-lhe lançadas
inúmeras questões; inquiriam sobre o conteúdo das conversas com as vozes, quando
elas tinham surgido pela primeira vez – tal se manifestou por volta dos doze anos -;
chega-se a minuciosos pormenores, de que lado vinha a voz – vinha da sua direita, do
lado da igreja -, se estava em jejum ou não9. Estas questões eram de uma grande
pressão, chegando mesmo Joana a dizer ao inquiridor: você carrega-me muito10, ou seja,
atacava-a muito a fim de lhe conseguir retirar as palavras que tanto queriam os clérigos.
Durante o seu cárcere continuava a ouvir as vozes, e muitas das vezes elas
aumentavam e diziam a Joana para que ela respondesse ousadamente pois Deus a
ajudaria11. Apenas lhe é recomendado pela voz, que responda a tudo, exceptuando no
que diz respeito aos temas que se relacionam com as questões relativas ao delfim,
contudo havia questões que ela não sabia bem se a voz permitia que as proferisse ou não
sem prévia autorização12. Chegando ao quinto interrogatório, é-lhe interpelado a sua
opinião relativamente aos papas, do qual “la pucelle” não tinha qualquer conhecimento;
devido a isto é-lhe lida duas cartas, uma que o conde de Armagnac lhe havia escrito,

8
Cf, Julgamento de Condenação, http://www.abbaye-saint-benoit.ch/saints/jeanne/index.htm, acedido 10-
07-2010, p. 1
9
Cf, idem, ibidem, pp. 6-11
10
Idem, ibidem, p.4
11
Cf, Idem, ibidem, p. 10
12
Cf, idem, ibidem, p.12
uma segundo mencionando-se à sua própria resposta ao dito conde; na sua carta de
resposta, Joana diz que no momento não se pode referir em relação ao tema dos três
papas que figuravam na carta a ele enviada, mas que, mal pudesse daria resposta e
indicaria qual o legitimo13.
Após esta leitura, Joana diz ao seu inquiridor que o seu conteúdo poderia ter sido
adulterado em parte, ou seja, passagens que ela não ditou, mas que o seu escrivão lá
colocou; havia sim dado resposta a um outro tema que não figurava lá. Isto, vem provar
em parte que os ingleses não forjaram a correspondência, mas sim os seus, por boa ou
má, não se sabe14.
Nesta mesma sessão judicial é-lhe lida uma terceira carta, referindo-se à
correspondência enviada ao Rei, ao duque de Bedfort e a outros tantos; após a sua
leitura, pergunta-se se ela reconhece a carta, ao que ela confirma, salvo três palavras que
foram adulteradas; em lugar de “devolva à Donzela” é “devolva ao rei”. As palavras
“chefe de guerra” e “corpo por corpo” não estavam na carta15. O julgamento
desenrola-se ainda por mais umas quantas sessões, sempre a inquirirem Joana com
grande “violência”, tanto que chegando ao fim do julgamento, ela é acusada de
blasfémia e mandam-na conduzir à prisão, mas sem antes Joana dizer: Nunca blasfemei
nem santo nem santa; e esses que o disseram ou reportaram ouviram mal16.
Este julgamento, que acabou com a sua condenação a fogueira, foi muito mais
uma vingança conta a heroína de França, do que um julgamento de heresia17, tal como
se pode verificar no relatório final do tribunal eclesiástico que a sentenciou em 1431,
todavia, em 1920, ela é beatificada, isto é o corolário de um processo de limpeza do
nome de “la pucelle” iniciado em 1452, para a reabilitação póstuma18.

“Dói-me ver que os franceses


disputam entre si minh’alma.”
Joana D’Arc

13
Cf, idem, ibidem, pp.15-16
14
Cf, idem, ibidem, p. 16
15
Cf idem, ibidem, p. 17
16
Cf, idem, ibidem, p. 26
17
Cf, Julie Wheelwright, Joana d’Arc, virgem Guerreira, Ponto e Virgula, BBC História – número 05, sd,
disponível em www.umeoutro.net, acedido a 10-07-2010, p. 4
18
Cf, idem, ibidem, p.5

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