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Esta nova coletânea traz como novidade a apresentação

2004 O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso no Sebrae


dos casos por área temática, visando facilitar a consulta teve sua origem em 2002 com o objetivo de disseminar
e melhor entendimento do conteúdo. 2004 as melhores práticas vivenciadas por empreendedores
e empresários de diversos segmentos e setores,
O primeiro volume da nova edição descreve casos participantes dos programas e projetos do Sebrae
vinculados aos temas de artesanato, turismo e cultura, em vários Estados do Brasil.
empreendedorismo social e cidadania. O segundo relata
histórias sobre agronegócios e extrativismo, indústria, A primeira fase do projeto, estruturada para escrever estudos
comércio e serviços. E o terceiro aborda exclusivamente de caso sobre empreendedorismo coletivo, publicou em
casos com foco em inovação tecnológica. 2003 a coletânea Histórias de Sucesso – Experiências

Os resultados obtidos com o projeto Desenvolvendo


Histórias de Sucesso Empreendedoras, em três livros integrados de 1.200
páginas, que contou 80 casos desenvolvidos em
Casos de Sucesso, desde sua concepção e implantação, Experiências Empreendedoras diferentes localidades e vários setores, abrangendo as
têm estimulado a elaboração de novos estudos sobre cinco regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e
histórias de empreendedorismo coletivo e individual, e, Nordeste. Participaram 90 escritores, provenientes do
conseqüentemente, têm fortalecido o processo de Gestão quadro técnico interno ou externo do Sebrae.

Histórias de Sucesso
do Conhecimento Institucional. Contribui-se assim, de forma
significativa, para levar ao meio acadêmico e empresarial Esta segunda edição da coletânea Histórias de Sucesso –
o conhecimento acerca de pequenos negócios bem- Experiências Empreendedoras – 2004, composta de três
sucedidos, visando potencializar novas experiências volumes que totalizam cerca de 1.100 páginas, contou com
que possam ser adotadas e implementadas no Brasil. a participação de 89 escritores e vários profissionais de
todos os Estados brasileiros, que escreveram os 76 casos.
Para ampliar o acesso dos leitores interessados em utilizar
os estudos de caso, o Sebrae desenvolveu em seu portal A continuidade do projeto reitera a importância da
(www.sebrae.com.br) o site Casos de Sucesso, onde o disseminação das melhores práticas observadas no âmbito
usuário pode acessar na íntegra todos os 156 estudos de atuação do Sistema Sebrae e de sua multiplicação para
das duas coletâneas por tema, região ou projeto, bem o público interno, rede de parceiros, consultores, professores
como fotos, vídeos e reportagens. e meio empresarial.

Todos os casos do projeto foram desenvolvidos sob a orientação


de professores tutores, atuantes no meio acadêmico e em
diversas instituições brasileiras, que auxiliaram os autores
a pesquisar dados, entrevistar pessoas e escrever os casos,
de acordo com a metodologia elaborada pelo Sebrae.

Foto do site do Sebrae. Casos de Sucesso.

Esperamos que essas histórias de sucesso possam


produzir novos conhecimentos e contribuir para fortalecer
os pequenos negócios e demonstrar sua importância
econômica no País.
Série Histórias
Boa leitura e aprendizado! de Sucesso.
Primeira edição 2003.
COPYRIGHT © 2004, SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer


forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Armando Monteiro Neto
Diretor-Presidente
Silvano Gianni
Diretor de Administração e Finanças
Paulo Tarciso Okamotto
Diretor Técnico
Luiz Carlos Barboza
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Gustavo Henrique de Faria Morelli
Coordenação do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Cezar Kirszenblatt, SEBRAE/RJ; Daniela Almeida Teixeira, SEBRAE/MG; Mara Regina Veit, SEBRAE/MG;
Renata Maurício Macedo Cabral, SEBRAE/RJ; Rosana Carla de Figueiredo Lima, SEBRAE Nacional
Orientação Metodológica
Daniela Abrantes Serpa – M.Sc., Sandra Regina H. Mariano – D.Sc., Verônica Feder Mayer – M.Sc.
Diagramação
Adesign
Produção Editorial
Buscato Informação Corporativa

D812h Histórias de sucesso: experiências empreendedoras / Organizado


por Renata Barbosa de Araújo Duarte – Brasília: Sebrae, 2004.

392 p. : il. – (Casos de Sucesso, v.1)

Publicação originada do projeto Desenvolvendo Casos de


Sucesso do Sistema Sebrae.
ISBN 85-7333-385-5
1. Empreendedorismo 2. Estudo de caso 3. Artesanato
4. Turismo 5. Cultura I. Duarte, Renata Barbosa de Araújo II. Série
CDU 65.016:001.87

BRASÍLIA
SEPN – Quadra 515, Bloco C, Loja 32 – Asa Norte
70.770-900 – Brasília
Tel.: (61) 348-7100 – Fax: (61) 347-4120
www.sebrae.com.br
PROJETO DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO

OBJETIVO
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi concebido em 2002 a partir das prioridades
estratégicas do Sistema SEBRAE com a finalidade de disseminar na própria organização, nas
instituições de ensino e na sociedade as melhores práticas de empreendedorismo individual e
coletivo observadas no âmbito de atuação do SEBRAE e de seus parceiros, estimulando sua
multiplicação e fortalecendo a Gestão do Conhecimento do SEBRAE.

METODOLOGIA “DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO”


A metodologia adotada pelo projeto é uma adaptação do consagrado método de estudos
de caso aplicado em Babson College e Harvard Business School, que se baseia na história
real de um protagonista, que, em dado contexto, se encontra diante de um problema ou de
um dilema que precisa ser solucionado. Esse método estimula o empreendedor, o aluno ou a
instituição parceira a vivenciar uma situação real, convidando-o a assumir a perspectiva do
protagonista.

O LIVRO HISTÓRIAS DE SUCESSO – Edição 2004


Esse trabalho é o resultado de uma das ações do projeto Desenvolvendo Casos de Su-
cesso, elaborado por colaboradores do Sistema SEBRAE, consultores e professores de ins-
tituições de ensino parceiras. Esta edição é composta por três volumes, em que se
descrevem 76 estudos de casos de empreendedorismo, divididos por área temática:
• Volume 1 – Artesanato, Turismo e Cultura, Empreendedorismo Social e Cidadania.
• Volume 2 – Agronegócios e Extrativismo, Indústria, Comércio e Serviço.
• Volume 3 – Difusão Tecnológica, Soluções Tecnológicas, Inovação, Empreendedorismo e
Inovação.

DISSEMINAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO SEBRAE


O site Casos de Sucesso do SEBRAE (www.casosdesucesso.sebrae.com.br) visa divulgar as
experiências geradas a partir das diversas situações apresentadas nos casos, bem como suas
soluções, tornando-as ao alcance dos meios empresariais e acadêmicos.
O site apresenta todos os estudos de caso das edições 2003 e 2004, organizados por área de
conhecimento, região, municípios, palavras-chave e contém, ainda, vídeos, fotos, artigos de
jornal, que ajudam a compreender o cenário onde os casos se passam. Oferece também um
manual com orientações para instrutores, professores e alunos de como utilizar o estudo de caso
na sala de aula.
As experiências relatadas ilustram iniciativas criativas e empreendedoras no enfrentamento
de problemas tipicamente brasileiros, podendo inspirar a disseminação e aplicação dessas
soluções em contextos similares. Esses estudos estão em sintonia com a crescente importância
que os pequenos negócios vêm adquirindo como promotores do desenvolvimento e da geração
de emprego e renda no Brasil.
Boa leitura e aprendizado!

Gustavo Morelli
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Coordenadora do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004


ARTESANATO LUCRATIVO COM
O USO DO COCO BABAÇU
TOCANTINS
MUNICÍPIO: SÃO MIGUEL DO TOCANTINS

INTRODUÇÃO

O s municípios de São Miguel do Tocantins e Buriti do Tocantins, loca-


lizados no extremo norte do Estado, detêm grande potencial de plan-
tação de babaçual nativa. A população local é constituída por pessoas
extremamente carentes e sem perspectivas de emprego. Boa parte da comu-
nidade ainda vive da produção da roça de coco, plantada pelos maridos
para o sustento da família, e da atividade da quebra do coco babaçu, feita
pelas esposas para fins de consumo doméstico.
Em meados da década de 1980, um grupo de mulheres de São Miguel
do Tocantins, liderados pelas senhoras Emília Alves, Raimunda Nonato e
Raimunda Gomes, começou a se organizar, não apenas para a quebra do
coco, mas para discutir uma série de assuntos, dentre os quais destacam-
se: o preço da amêndoa no mercado, as conseqüências da derrubada do
babaçual para plantio dos pastos e a aposentadoria da mulher trabalha-
dora na atividade rural aos 45 anos. Para atender as necessidades de
consumo básico e promover uma melhoria na qualidade de vida das
comunidades na região, as mulheres enxergaram alternativas no coco
babaçu para o desenvolvimento sustentável por meio do aproveitamento
de seus subprodutos.
Como fazer para que as práticas extrativas do babaçu se transformas-
sem numa fonte de riqueza continuada para a comunidade? Como aumen-
tar o valor derivado dos subprodutos do babaçu? Os desafios não eram
poucos para essas mulheres de fibra.

Higino Julia Piti, consultor do SEBRAE/TO, elaborou o estudo de caso sob orientação do professor
Francisco Gilson Rebouças Porto Júnior, do Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra),
integrando as atividades do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 1


Aurielly Painkow

PALMEIRAS DO COCO BABAÇU


Aurielly Painkow

COLAR ARTESANAL PRODUZIDO


EM SÃO MIGUEL DO TOCANTINS
ARTESANATO LUCRATIVO COM O USO DO COCO BABAÇU – SEBRAE/TO

O POVOAMENTO DA REGIÃO DO BICO DO PAPAGAIO

O Município de São Miguel do Tocantins, localizado na região extremo


norte do Estado, popularmente conhecida como “Bico do Papagaio”,
começou a ser povoado no século XVIII por garimpeiros, atraídos pelas
promessas de enriquecimento nas minas de diamantes. Com o fim da ex-
ploração do mineral, a região viu-se novamente relegada ao abandono e
seus moradores passaram a dedicar-se principalmente à agricultura de
subsistência, especificamente ao cultivo de arroz, mandioca, feijão, milho
e à exploração da palmeira do babaçu. Seus moradores vieram em sua
maioria do Estado do Maranhão com o objetivo principal de cultivar em
terras devolutas e férteis para a agricultura.
Até a criação do Estado, em 1989, a região estava freqüentemente em
manchetes noticiosas do País e do mundo exterior, em decorrência do in-
tenso conflito agrário que ocorria naquela época. Habitada por uma po-
pulação extremamente pobre, apresentando um dos piores Índices de
Desenvolvimento Humano, de apenas 0,722, a região começava a receber,
na década de 1980, os seus primeiros Projetos de Assentamento (PA), con-
centrados na sua maioria no município de São Miguel do Tocantins.

TABELA 1: INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DE SÃO MIGUEL DO TOCANTINS


Esperança de Taxa de Renda per Índice de (IDH-M) Classificação Classificação
vida ao nascer alfabetização capita (em R$) longevidade na UF nacional
(em anos) de adultos (%) de 2000 (IDHM-L)
58,92 68,27 59,14 0,565 0,722 132 4.971
Fonte: IPEA 2000.

O Bico do Papagaio, com 23 cidades, conta hoje com 13,83% da popu-


lação do Estado. A taxa de urbanização de São Miguel do Tocantins é de
22,5%, a menor entre os municípios da região. De acordo com os dados do
Censo do IBGE (2001), o município apresenta uma densidade demográfica
de 21,28 hab./km2, e está entre as seis mais elevadas da região.

DO BABAÇU TUDO SE APROVEITA

E mbora São Miguel apresente indicadores econômicos e sociais extrema-


mente desfavoráveis, o município, assim como toda região, conta com
vasta cobertura nativa da palmeira do babaçu, classificada como Orbignya

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 3


ARTESANATO

speciosa, da qual são extraídos o coco e diversos subprodutos. Do coco


são usadas as amêndoas, que possuem valor mercantil e industrial. O proces-
so de extração é feito manualmente pelas mulheres, em um sistema tradi-
cional de subsistência. É o único sustento de muitas famílias da região.
Da palmeira tudo se aproveita. Suas folhas servem de matéria-prima
para a fabricação de utensílios – cestos, coifas, abanos, portas, armadi-
lhas, cercas etc.; a folha, durante a seca, também serve de alimento para
os animais. O estipe do babaçu, quando apodrecido, serve de adubo;
se estiver em boas condições, é usado em marcenarias rústicas. Das pal-
meiras jovens, quando derrubadas, extrai-se o palmito e coleta-se a sei-
va, que é fermentada, produzindo-se vinho apreciado em algumas
regiões. As amêndoas verdes recém-extraídas, raladas e espremidas
com um pouco de água em um pano fino fornecem um leite de pro-
priedades nutritivas semelhantes às do leite materno. Este leite é utili-
zado na culinária para temperos de caças, peixes e bolos, além de ser
bebido em estado natural.
A casca do coco, devidamente preparada, fornece o carvão como
fonte de combustível para muitas famílias e sua fumaça abundante é
aproveitada como repelente natural. O mesocarpo, que é a parte fari-
nhosa do coco, é utilizado também como remédio para a cura de várias
infecções e moléstias estomacais. É aproveitado também para fabricar
uma farinha de alto valor nutritivo.
Apesar das amplas possibilidades de aproveitamento do babaçu, a
sua abundância nativa é percebida como um recurso marginal, perma-
necendo apenas como parte integrante dos sistemas tradicionais e de
subsistência. Somente a castanha ou amêndoa é aproveitada comercial-
mente, atingindo o preço de R$ 0,60 o quilo. Dela se extrai o óleo e o
que resta vira ração, vendida no mercado por R$ 0,40 o quilo.

A LABUTA PARA A CRIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO

I nicialmente o babaçu era explorado pelos índios, que beneficiavam a


castanha e utilizavam as palhas em suas ocas. Os emigrantes maranhen-
ses e paraenses fortaleceram a exploração do babaçu no Bico do Papa-
gaio em meados do século XX.
Enquanto os homens faziam o trabalho braçal, cultivando terras e cui-
dando de animais, as mulheres ficavam responsáveis pela casa, pelos filhos

4 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ARTESANATO LUCRATIVO COM O USO DO COCO BABAÇU – SEBRAE/TO

e pela extração da amêndoa do coco babaçu e pelo seu beneficiamento. A


prática do beneficiamento do babaçu foi crescendo ao longo dos anos nas
comunidades. Com forte presença de mulheres com clara visão de organi-
zação, as mercadorias produzidas eram de fácil comercialização.
O desenvolvimento dessas mulheres, especificamente as de São Miguel
do Tocantins, resultou na criação, em 1992, da Associação Regional das
Mulheres Trabalhadoras do Bico do Papagaio (Asmubip).
A luta para a formação da associação passou por etapas difíceis, pois
elas sofriam muitas restrições dos próprios maridos, que não reconheciam
os esforços que as mulheres estavam desenvolvendo. Ao contrário, tor-
ciam para que os sonhos da luta não fossem alcançados. Lembra Emília
Alves, presidente da Asmubip:
“A luta no início não foi nada fácil. Até o ano 2000, os homens, sem-
pre machistas, não acreditavam que uma mulher pudesse provocar uma
mudança no meio em que vive. Quando viajávamos para uma reunião de
trabalho ou para um encontro, diziam que a gente ia era atrás de homens,
que a gente só pensava em namorar”.
O desafio das quebradeiras de coco de São Miguel do Tocantins come-
çou a contagiar as mulheres de outros municípios da região, principal-
mente as de Buriti do Tocantins, Axixá e Sampaio. Em 2004, a associação
contava com 730 membros, distribuídos em 11 municípios da região.
Em entrevista com várias mulheres quebradeiras ou ex-quebradeiras de
coco, percebem-se a devoção pela palmeira do babaçu e a gratidão à planta:
“O coco babaçu para mim foi uma fonte de vida, porque foi dali que
eu e minha família retiramos, por muito tempo, a nossa subsistência. O
coco ainda é uma fonte de vida” – Elismar, Professora da Escola Estadual
de Buriti do Tocantins.

“O coco é teimoso” – Josima, AMB Buriti do Tocantins

O universo que rodeia o babaçu é impregnado por símbolos. O pró-


prio coco, em sua configuração de furos, remete os moradores à simbo-
logia impregnada em suas vivências. O sr. Cosme, da comunidade Olho
D’Água, em São Miguel, que iniciou o corte transversal do coco, possibi-
litando o início do artesanato, designa este fato como um “sonho”. Ao
abrir o coco, ele se encantou com o número de amêndoas, que era de
oito, fato raro quando comparado com a média encontrada até aquele
momento, que não passava de seis.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 5


ARTESANATO

Do coco só se aproveitava praticamente o óleo. Os subprodutos


eram pouco aproveitáveis, mas apresentavam um potencial econômi-
co bastante significativo para produtos de artesanato, e isso constituía
uma ação desafiadora para a associação. As senhoras Emília Alves,
Raimunda Nonata e Raimunda Gomes perceberam que, para aumen-
tar a renda das famílias, a saída perfeita era produzir o artesanato,
aproveitando totalmente o babaçu. A busca das mulheres era desco-
brir uma ferramenta que permitisse o corte da casca do coco, que é
muito dura.

UM SONHO DISTANTE A SER PERSEGUIDO

C hegar ao processo de desenvolvimento do artesanato parecia para a


comunidade um sonho distante a ser perseguido. Seus primeiros
passos foram a busca de informações e instituições que pudessem tornar
esse sonho realidade. A chegada do SEBRAE com o projeto de Desenvol-
vimento Local Integrado e Sustentável (DLIS), em 1999, trouxe ao municí-
pio a esperança de implementar uma idéia que já “matutava” na cabeça
das mulheres da associação.
Várias discussões ocorreram nas reuniões e palestras de sensibiliza-
ção realizadas pelo programa DLIS, com o apoio da Prefeitura de São
Miguel e das mulheres da Asmubip. Outras entidades, como o Conse-
lho Nacional dos Seringueiros (CNS), com sede em São Miguel, tam-
bém estiveram presentes no evento. A primeira reunião aconteceu no
prédio do Portal do Alvorada, com a presença significativa das asso-
ciadas da Asmubip e de lideranças locais. O debate sobre os proble-
mas da comunidade, especificamente das mulheres, foi calorosamente
discutido, tendo como um dos focos principais a atividade das que-
bradeiras de coco.
As soluções para os problemas não estavam à altura para tantas difi-
culdades levantadas durante as primeiras palestras de sensibilização. As
comunidades, cansadas de tantas promessas e projetos para minimizar a
miséria no município e região, não depositavam fé nas decisões que fo-
ram aos poucos sendo elencadas, pois queriam algo mais prático, que
possibilitasse um retorno econômico imediato. Foram realizados mais e
mais encontros em diferentes locais para amadurecimento de soluções
que deveriam ser encaminhadas e implementadas.

6 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ARTESANATO LUCRATIVO COM O USO DO COCO BABAÇU – SEBRAE/TO

ESTABELECENDO PRIORIDADE

C onsiderando as potencialidades e as tendências vocacionais, sociais e


econômicos da população de São Miguel do Tocantins e região, a
necessidade de desenvolver um trabalho com artesanato surgiu da própria
comunidade, como resultado das discussões nos fóruns DLIS. Diante dessa
necessidade, a Unidade de Inovação e Acesso à Tecnologia, pelo programa
Via Design, apresentou o projeto para otimizar o processo de confecção de
peças artesanais, tendo como parceiros o Núcleo de Inovação e Design em
Artesanato e a Fundação Cultural do Estado do Tocantins.
O projeto estabeleceu, dentre as várias prioridades: 1) resgatar a cultu-
ra iconográfica da região para aplicação em peças artesanais; 2) melhorar
a técnica de processamento da matéria-prima; 3) realizar uma pesquisa de
mercado para determinação/criação das peças a serem produzidas e dos
potenciais consumidores.
O projeto foi desenvolvido tendo como beneficiário direto a Asmubip,
que vinha realizando atividades de extração e beneficiamento das amên-
doas de babaçu para obtenção do óleo. Foram iniciadas de forma precá-
ria as atividades de confecção de peças artesanais. As ações do projeto
também beneficiaram os associados do CNS. Essa entidade conta com 240
associadas, e as mulheres apresentam uma sinergia inquestionável em
prol do desenvolvimento de atividades relacionadas ao extrativismo na
região. As atividades do projeto envolveram também a Associação das
Mulheres de Buriti (AMB), que contava com 120 associadas.

A GRANDE DESCOBERTA...

N o decorrer da implementação das ações do projeto, identificou-se, em


Palmas, capital do Estado, a existência de um equipamento desenvol-
vido pelo mecânico Teófilo Rodrigues de Santana, utilizado para corte do
coco. O coco, até então, era cortado com serra manual e era a parte dura
do serviço, por exigir considerável esforço físico por causa da dureza do
coco. A produção era limitada, eram confeccionados dois tipos de artesa-
natos: chaveiros e colares.
Embora a quantidade de peças artesanais produzidas não tenha se altera-
do substancialmente com a introdução do novo equipamento no sistema de
trabalho, houve uma melhoria significativa de qualidade. As mulheres

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 7


ARTESANATO

quebradeiras de coco de São Miguel e Buriti do Tocantins passaram a expe-


rimentar a produção diversificada de peças artesanais, tendo como principais
produtos bolsa, cinto, porta-prato, brinco, caneteiro, bandeja e outros mate-
riais de adorno decorativo e utilitário.
Os avanços em termos de pequenos negócios artesanais decorrentes da
organização cada vez mais estruturada por parte das mulheres envolvidas
com o projeto tinham agora um outro desafio por enfrentar. “Como fazer
para vender o que é produzido?”, lembra Raimunda Nonata, presidente da
Asmubip. As primeiras produções eram vendidas nas feiras locais e para as
pessoas intermediárias, que conheciam a qualidade das peças. Só posterior-
mente começaram a pensar em se estruturar para entrar em outros mercados.
A falta de experiência, aliada a uma dose enorme de vontade para
apreender coisas novas, foi fator-chave para as descobertas de novos pon-
tos-de-venda. As peças fabricadas passaram a ser vendidas inicialmente em
Imperatriz, MA, logo em seguida ganharam espaço no mercado de Palmas,
TO. A exposição de produtos em diversos eventos na capital do Estado foi
a oportunidade que faltava para a afirmação do artesanato do Bico do Pa-
pagaio. Os preços das peças vendidas variam de R$ 5,00 a R$ 20,00, sendo
os mais baratos os caneteiros e outras peças menores, sem muito valor agre-
gado. Os brincos, as bandejas e as peças utilitárias chegam a custar R$ 20,00.
A base de informações disponíveis, relacionadas ao resgate e valoriza-
ção da cultura iconográfica da região, bem como o desenvolvimento de
novas peças artesanais, valendo-se de elementos que reportem o produto
a seu lugar de origem, servem como componentes fortes para as mulheres
do Bico lutarem mais e mais pela melhoria de qualidade de vida da região,
constituindo o coco babaçu a “peça arte” fundamental na luta pelas mu-
danças almejadas.

CONCLUSÃO

A s 730 mulheres associadas da Asmubip produzem artesanato de valor


contribuindo para a geração de renda. As parcerias foram fundamen-
tais nesse processo, as experiências compartilhadas contribuíram para o
fortalecimento do trabalho em equipe, para a busca de soluções conjun-
tas e para o crescimento pessoal.
Foram valorizadas as características regionais da comunidade, utilizando-
se elementos da cultura material e iconográfica local nas peças artesanais:

8 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


ARTESANATO LUCRATIVO COM O USO DO COCO BABAÇU – SEBRAE/TO

adornos, utilitários e decorativas. O projeto respeitou as características lo-


cais, desenvolvendo-se inicialmente a composição de uma base de infor-
mações disponíveis, resgatando-se e valorizando-se a cultura iconográfica
da região. Os produtos incorporavam referências culturais, valendo-se de
elementos que relacionavam o produto a seu lugar de origem, do uso da
matéria-prima existente na região, das técnicas de produção e de elementos
simbólicos relacionados às origens dos produtores e de seus antepassados.
O movimento das quebradeiras de coco babaçu reuniu pessoas e per-
mitiu que se desenvolvessem iniciativas empreendedoras que se refletiram
em suas atividades quotidianas
As mulheres artesãs têm muitos desafios pela frente. Um deles é inovar
na confecção de peças com “cara regional”, incorporando uma identidade
cultural e social do Bico do Papagaio. Essa é uma etapa fundamental que
as mulheres quebradeiras de coco terão de perseguir nos próximos anos.
O estabelecimento de uma estratégia baseada na busca de parcerias
efetivas foi o grande passo para o alcance de importantes iniciativas ne-
gociadas para atender os propósitos da Asmubip e das comunidades da
região. A experiência apresentada pelas mulheres quebradeiras de coco
serve de estímulo para uma nova fase de conscientização liderada pelas
senhoras Raimundas e Emília Alves.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

• Que alternativas podem ser conduzidas para o encaminhamento de


uma política de aproveitamento economicamente racional do coco e seus
subprodutos, pautada em ganhos de produtividade?

• Como o comportamento dos maridos e o desafio que as mulheres


quebradeiras de coco propuseram enfrentar afetaram a vida familiar?

• Comente as iniciativas das quebradeiras de coco, do ponto de vista de


liderança numa região, na época, com graves problemas fundiários.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 9


ARTESANATO

BIBLIOGRAFIA

IBGE. Censo Demográfico 2002: características da população e dos


domicílios. Tocantins, 2002.

_____. Resumo Censo Demográfico 2002. São Miguel do Tocantins.


Tocantins, 2002.

IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica e Social, 2002. Disponível em:


<htpp//www.ipea.gov.br>

Artesanato Babaçu: design de artesanato no arranjo produtivo: Projeto


Via Design. Palmas, TO: SEBRAE, jun. 2003.

SEBRAE. Censo Empresarial Tocantins 2000. Palmas, TO: SEBRAE, 2000.


Disponível em: <htpp//www.sebraeto.com.br>. Acesso em: 28 fev. 2004.

_______. Guia passo a passo: metodologia para o desenvolvimento dos


casos de sucesso do SEBRAE: Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso.
Brasília, DF: SEBRAE, dez. 2003.

_______. Identificação Iconográfica: design de artesanato no arranjo


produtivo do babaçu: Projeto Via Design. Palmas, TO: SEBRAE, dez. 2003.

AGRADECIMENTOS

Diretoria Executiva do SEBRAE/TO: Ernani Soares Siqueira, Lina Maria M. C. Cavalcante, Pio
Cortizo Vidal Filho.

Coordenação Técnica: Maria da Penha Andrade Silva, Edglei Dias Rodrigues.

Colaboração: Emília Alves, Asmubip; Raimunda Nonato, Asmubip; Raimunda Gomes, Asmubip; Eligeneth
Resplande Pimentel, SEBRAE/TO; Edglei Dias Rodrigues, SEBRAE/TO; Durval Ribeiro da Silva Júnior,
SEBRAE/TO.

10 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

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