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2.

1 A SONORIDADE CARACTERÍSTICA DO IMPRESSIONISMO

O movimento Impressionista começou na metade do século XIX e


perdurou até a metade do século XX. Sua origem se deu na França e foi uma iniciativa
do movimento da música clássica.
A música impressionista surgiu como uma forma de reação ao
movimento anterior, o Romantismo, que tinha como característica peças com formas
longas e com o uso de escalas comuns como as maiores e menores. O impressionismo
utilizava escalas não tão comuns como a escala exafônica e a utilização demasiada das
dissonâncias. As formas musicais comuns neste período eram os Noturnos, Arabesque e
Prelúdios que tinham como característica serem peças curtas.
Claude Debussy e Maurice Ravel são considerados os maiores
compositores impressionistas. Outros nomes também ganharam destaque tais como:
Erick Satie, Isaac Albéniz, Francis Poulenc, dentre outros.
Nas músicas de Paulo Gondim podemos identificar traços da música
impressionista, principalmente em sua sonoridade. Sua escrita pianística se assemelha
em alguns pontos com a música de Claude Debussy.
Debussy possuía uma leitura à primeira vista extraordinária e extraía
do piano uma sonoridade inconfundível. Foi um grande revolucionário da escrita
pianística.
Claude Debussy compunha suas músicas de tal forma que a sua
sonoridade transmitia a idéia de uma melodia plana que dava a sensação de vôo. Isso se
dava pelo efeito do ostinato sobre os acordes com 7° maior, 11° e 13° de forma
repetitiva e lenta acompanhada por uma melodia simples e suave.
A escrita pianística de Claude Debussy se caracteriza por sua
flexibilidade e uso intenso do Rubato. José Eduardo Martins fala sobre a concepção do
termo Rubato e ressalta:
“O Rubato é a concepção ampla do apressar-diminuir o
andamento. Esta liberdade, reforçadora da expressão de uma
passagem, não destrói o cerne do ritmo; apenas o torna mais
flexível e elástico.”

Na peça Têca de Paulo Gondim são encontradas semelhanças com a


música de Debussy. Nos compassos 36 e 39 é empregado o uso do Rallentando, que
indica uma diminuição do andamento assim como o Rubato.
Em sua busca pelo som, Debussy usava blocos de acordes para
alcançar a sonoridade desejada. A seguir, destaca-se uma definição de bloco de acordes
segundo José Eduardo Martins:

“Baseados na repetição de acordes pelas duas mãos, repetidas


ou não, estabelecendo rarefação da sonoridade, quando nos
andamentos mais lentos. Geralmente há a sustentação
propiciada por longos pedais.”

É o que ocorre na peça Têca entre os compassos 36 e 39. A mão


esquerda do piano é sustentada por uma nota pedal enquanto que a mão direita se move
por acordes invertidos dando este efeito de “rarefação” do som, ou seja, há uma
sensação de diminuição do som ocasionada pelo bloco de acordes com a nota pedal.
Para entender a obra pianística de Debussy deve-se levar em conta a
agógica da música. O termo agógica foi criado pelo musicólogo alemão Karl Wilhelm
Julius Hugo Riemann que designa as flutuações de tempo introduzidas na execução de
uma composição musical, com o fim de deixar uma margem de expressão ao intérprete.
Nas pecas Têca e Improviso na Sala 3 de Paulo Gondim vemos que o
entendimento da agógica é indispensável para uma boa interpretação das peças, pois, em
vários momentos, o interprete precisa compreender o que o compositor quis dizer com
suas indicações na partitura.
O uso de ligaduras longas e curtas nas peças para piano de Debussy
busca dar uma plasticidade à melodia ou à harmonia. A ligadura em Debussy também
tem uma função trimbrística buscando dar ressonância a determinadas linhas melódicas.
Na peça Têca de Paulo Gondim há várias ligaduras longas que
sugerem um clima elástico ao discurso melódico, dando a indicação de uma melodia
contínua.
Outro fator bastante presente na música para piano de Debussy são as
respirações através de fermatas, pausas ou suspensões. Essas ferramentas causam um
prolongamento do som ou do silêncio, expressando assim uma sonoridade ímpar.
Nas peças de Paulo Gondim, Têca e Improviso na Sala 3, há o uso de
fermatas e pausas que indicam grandes respirações para a retomada de uma tema ou
apresentação de uma nova parte.
Uma característica presente em algumas músicas de Debussy é o uso
de pequenos motivos melódicos que se repetem e são variados no decorrer da peça.
Geralmente esses motivos são bem simples e possuem intervalos pequenos. É o que
ocorre na peça Ballade, 1890. No início da peça é apresentado um pequeno motivo que
se repete no decorrer da peça em diversas tonalidades e ritmos.
Nas peças de Paulo Gondim podemos observar também essa mesma
característica. No início da peça é apresentado um pequeno motivo que sofrerá
variações em toda peça, e apesar de ser modificado, não perde sua essência.
Nas peças para piano de Debussy podemos encontrar com freqüência
dissonâncias não-resolvidas e escalas de tons inteiros. Na peça Improviso na Sala 3 de
Paulo Gondim encontramos uma escala de tons inteiros no compasso 20.
Debussy influenciou muitos compositores importantes do Jazz como
George Gershwin, Bill Evans, George Shearing, Thelonious Monk, Duke Ellington,
Antônio Carlos Jobim, Herbie Hancock e Jimmy Giuffre.
Paulo Gondim também está inserido entre os compositores
contemporâneos que tiveram influência de Claude Debussy.

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