O movimento Impressionista começou na metade do século XIX e
perdurou até a metade do século XX. Sua origem se deu na França e foi uma iniciativa do movimento da música clássica. A música impressionista surgiu como uma forma de reação ao movimento anterior, o Romantismo, que tinha como característica peças com formas longas e com o uso de escalas comuns como as maiores e menores. O impressionismo utilizava escalas não tão comuns como a escala exafônica e a utilização demasiada das dissonâncias. As formas musicais comuns neste período eram os Noturnos, Arabesque e Prelúdios que tinham como característica serem peças curtas. Claude Debussy e Maurice Ravel são considerados os maiores compositores impressionistas. Outros nomes também ganharam destaque tais como: Erick Satie, Isaac Albéniz, Francis Poulenc, dentre outros. Nas músicas de Paulo Gondim podemos identificar traços da música impressionista, principalmente em sua sonoridade. Sua escrita pianística se assemelha em alguns pontos com a música de Claude Debussy. Debussy possuía uma leitura à primeira vista extraordinária e extraía do piano uma sonoridade inconfundível. Foi um grande revolucionário da escrita pianística. Claude Debussy compunha suas músicas de tal forma que a sua sonoridade transmitia a idéia de uma melodia plana que dava a sensação de vôo. Isso se dava pelo efeito do ostinato sobre os acordes com 7° maior, 11° e 13° de forma repetitiva e lenta acompanhada por uma melodia simples e suave. A escrita pianística de Claude Debussy se caracteriza por sua flexibilidade e uso intenso do Rubato. José Eduardo Martins fala sobre a concepção do termo Rubato e ressalta: “O Rubato é a concepção ampla do apressar-diminuir o andamento. Esta liberdade, reforçadora da expressão de uma passagem, não destrói o cerne do ritmo; apenas o torna mais flexível e elástico.”
Na peça Têca de Paulo Gondim são encontradas semelhanças com a
música de Debussy. Nos compassos 36 e 39 é empregado o uso do Rallentando, que indica uma diminuição do andamento assim como o Rubato. Em sua busca pelo som, Debussy usava blocos de acordes para alcançar a sonoridade desejada. A seguir, destaca-se uma definição de bloco de acordes segundo José Eduardo Martins:
“Baseados na repetição de acordes pelas duas mãos, repetidas
ou não, estabelecendo rarefação da sonoridade, quando nos andamentos mais lentos. Geralmente há a sustentação propiciada por longos pedais.”
É o que ocorre na peça Têca entre os compassos 36 e 39. A mão
esquerda do piano é sustentada por uma nota pedal enquanto que a mão direita se move por acordes invertidos dando este efeito de “rarefação” do som, ou seja, há uma sensação de diminuição do som ocasionada pelo bloco de acordes com a nota pedal. Para entender a obra pianística de Debussy deve-se levar em conta a agógica da música. O termo agógica foi criado pelo musicólogo alemão Karl Wilhelm Julius Hugo Riemann que designa as flutuações de tempo introduzidas na execução de uma composição musical, com o fim de deixar uma margem de expressão ao intérprete. Nas pecas Têca e Improviso na Sala 3 de Paulo Gondim vemos que o entendimento da agógica é indispensável para uma boa interpretação das peças, pois, em vários momentos, o interprete precisa compreender o que o compositor quis dizer com suas indicações na partitura. O uso de ligaduras longas e curtas nas peças para piano de Debussy busca dar uma plasticidade à melodia ou à harmonia. A ligadura em Debussy também tem uma função trimbrística buscando dar ressonância a determinadas linhas melódicas. Na peça Têca de Paulo Gondim há várias ligaduras longas que sugerem um clima elástico ao discurso melódico, dando a indicação de uma melodia contínua. Outro fator bastante presente na música para piano de Debussy são as respirações através de fermatas, pausas ou suspensões. Essas ferramentas causam um prolongamento do som ou do silêncio, expressando assim uma sonoridade ímpar. Nas peças de Paulo Gondim, Têca e Improviso na Sala 3, há o uso de fermatas e pausas que indicam grandes respirações para a retomada de uma tema ou apresentação de uma nova parte. Uma característica presente em algumas músicas de Debussy é o uso de pequenos motivos melódicos que se repetem e são variados no decorrer da peça. Geralmente esses motivos são bem simples e possuem intervalos pequenos. É o que ocorre na peça Ballade, 1890. No início da peça é apresentado um pequeno motivo que se repete no decorrer da peça em diversas tonalidades e ritmos. Nas peças de Paulo Gondim podemos observar também essa mesma característica. No início da peça é apresentado um pequeno motivo que sofrerá variações em toda peça, e apesar de ser modificado, não perde sua essência. Nas peças para piano de Debussy podemos encontrar com freqüência dissonâncias não-resolvidas e escalas de tons inteiros. Na peça Improviso na Sala 3 de Paulo Gondim encontramos uma escala de tons inteiros no compasso 20. Debussy influenciou muitos compositores importantes do Jazz como George Gershwin, Bill Evans, George Shearing, Thelonious Monk, Duke Ellington, Antônio Carlos Jobim, Herbie Hancock e Jimmy Giuffre. Paulo Gondim também está inserido entre os compositores contemporâneos que tiveram influência de Claude Debussy.