JUIZ DE DIREITO DA 45ª Vara Cível da Comarca de São Paulo
ANCO MÁRCIO, nos autos da AÇÃO CONDENATÓRIA DE INDENIZAÇÃO Nº 000.000-0 que, perante esse meritíssimo Juízo, move em face de SANISTA SERVIÇOS MÉDICOS E HOSPITALARES Ltda, vem, por seu advogado adiante assinado, em não se conformando com os termos da sentença, apresentar RECURSO DE APELAÇÃO, mediante os termos anexos, que requer sejam recebidos e, após os trâmites de estilo, remetidos à Turma de Recursos.
Nestes termos,
Pede deferimento.
São Paulo, 18 de agosto de 2010
ANNE CAROLINE BOMFIM DE SOUZA OAB/SP 0000
BREVE RELATO DOS FATOS
O apelante propôs ação de indenização por danos morais e materiais em face da apelada no ano ...., visando a condenação desta a pagar indenização àquele em função de grave infecção hospitalar contraída no pós-operatório nas instalações da apelada. Devido à prolongada internação que foi de dois meses, o apelante não pode trabalhar e, por ser representante comercial, a sua renda familiar restou prejudicada demasiadamente. Ficou comprovado nos autos que o problema começou no hospital durante o tempo em que ficou internado, a falta de esterilização no instrumentos utilizados para o tratamento pós-operatório foi o que acarretou a infecção . Em sede de contestação, a apelada alegou unicamente a falta de nexo causal. Contudo, a manutenção dos equipamentos do Hospital é de responsabilidade deste, bem como os danos causados pela falta de zelo a estes aparelhos. A sentença proferida em 1º grau julgou improcedente o pedido do ora apelante, acolhendo a fundamentação de falta de nexo de causalidade. Devido a isto, restou ao apelante recorrer para buscar seus direitos.
DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E DO NEXO CAUSAL
A sentença recorrida negou o pedido do apelante fundamentada na exigência de comprovação da culpa da apelada, adotando a teoria da responsabilidade civil subjetiva, amparada na dicção do § 4° do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), consoante o excerto retro transcrito: “Em se tratando de danos advindos da relação médico-paciente é imprescindível a comprovação de culpa na conduta do agente ofensor, para que exista o nexo de causalidade. No caso em tela, o autor não demonstrou de maneira inequívoca a conduta culposa dos profissionais médicos que o atenderam, não sendo possível, desta forma, auferir responsabilidade civil sobre os danos, conforme aduz o art. art. 14, § 4º do CDC Desta forma, a legislação da defesa do consumidor deve ser interpretada, in casu, no sentido de exigir que o consumidor (autor) comprove a culpabilidade dos profissionais médicos que prestaram os atendimentos necessários.” No caso, o apelante postula a condenação da sociedade responsável pela manutenção do hospital no qual o autor foi internado, vindo a contrair, posteriormente, grave infecção, submetendo-se, portanto, à responsabilidade objetiva prevista no art. 14, caput, do CDC: “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.” A sociedade hospitalar, ao disponibilizar ao mercado consumidor serviços concernentes à prestação de serviços de saúde, enquadra-se na definição de fornecedor insculpida no art. 3° do CDC, assumindo, por conseguinte, o risco da atividade. Os danos restaram consubstanciados na contração de infecção hospitalar durante o período de recuperação pós-operatória. A verificação do nexo causal, por sua vez, depende da comprovação da falha na prestação de serviço, de modo a possibilitar a ocorrência dos danos suportados pelo autor. Ora, a infecção de paciente internado em hospital não é fato imprevisível, pois ocorre freqüentemente neste tipo de ambiente, cabendo aos responsáveis manter o ambiente o mais hígido possível para evitar a proliferação de infecções, o que, no caso, não ocorreu, pois ficou comprovado, na instrução do feito em 1º grau, que a apelada falhou com o dever de limpeza e higienização do hospital. Restou comprovada, portanto, a ocorrência de falha na prestação do serviço, consubstanciada nos problemas de esterilização de instrumentos hospitalares, a qual foi a causa hábil a ensejar a infecção do apelante e o agravamento do seu quadro clínico. Portanto, deve ser reformada a sentença de 1º grau para responsabilizar a apelada pelo pagamento de indenização pelos danos decorrentes da infecção que acometeu o apelante.
DOS DANOS
Conforme anteriormente explanado, a relação jurídica existente entre o apelante e a apelada caracteriza-se como prestação de serviços hospitalares, regulada, portanto, pelas normas do Código de Defesa do Consumidor. Ou seja, no presente caso deve ser aplicado o art. 14 do supracitado Código, o qual dispõe que a responsabilidade civil do fornecedor de serviços é objetiva, independe da existência de culpa. Assim, em se tratando da responsabilidade civil na sua modalidade objetiva, caberá ao lesado comprovar a existência do dano e do nexo de causalidade entre este e a conduta da ré. Ora Excelência, o nexo de causalidade, conforme outrora exaustivamente analisado, restou devidamente comprovado. Passa-se, então, à análise da ocorrência de dano ao apelante. In casu, o recorrente foi internado, a fim de submeter-se a uma cirurgia. Ocorre que nos dias subseqüentes, nos quais o apelante recuperava-se da intervenção cirúrgica, contraiu uma infecção hospitalar, motivo pelo qual ficou internado durante o período de dois meses. Tal infecção foi ocasionada por problemas técnicos graves no sistema de higiene e limpeza dos instrumentos pós-operatórios na data dos fatos, o que já restou devidamente demonstrado na fase de instrução probatória. Em primeiro lugar, não há dúvidas Excelência, diante de tais fatos, de que o recorrente sofreu dano moral. O apelante sofreu lesão da sua paz, tranqüilidade, integridade física e individual, uma vez que teve que ficar internado por um longo período dado à negligência da entidade apelada. A jurisprudência é assente no sentido de que infecção hospitalar causada por omissão dos hospitais gera o dever destes de indenizar o lesado pelos danos morais e materiais sofridos. É o que se extrai do seguinte acórdão: "O hospital responde pelos danos materiais e morais decorrentes de infecção hospitalar, se não prova, de maneira clara e convincente, a ocorrência de caso fortuito" (TJSP, AC nº 65.635-4, Rel. Des. Cezar Peluso, j. 23/02/1999). O autor deve ser ressarcido também pelo tempo que ficou internado e, portanto, impossibilitado de exercer a sua profissão e auferir os seus rendimentos, ou seja, deve ser indenizado por lucros cessantes. O apelante é representante comercial e, portanto, depende da sua própria atividade para obter a sua renda mensal, o que foi lhe privado durante todo o tempo que ficou hospitalizado (02 meses). Assim, provada a responsabilidade do recorrido e a existência do dano sofrido pelo apelante, deve aquele ser condenado a pagar o valor de 8 mil reais (média dos rendimentos do autor nos últimos 24 meses de quatro mil reais mensais multiplicados pelo número de meses, ou seja, dois), valor este que a vítima deixou de ganhar no período da sua internação. Deste modo, a sentença monocrática exarada merece ser reformada, com a conseqüente condenação da apelada ao pagamento de 51 mil reais (cem salários mínimos) a título de indenização por dano moral, e 8 mil reais a título de indenização por lucros cessantes.
DO PEDIDO
Por todo o exposto, e pelo que há de ser suprido diante do elevado descortino jurídico de V. Exas., requer essa colenda Turma se digne conhecer e dar provimento ao presente recurso, para que seja reformada a decisão a quo, nos termos supramencionados, em medida de lídima, serena e ponderada justiça.
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