Letras de Sangue

O MauO Mau
EO E OMal
Mal

Edson Tomaz da Silva

 Letras de Sangue

O Mau E O Mal

Eram três e meia da madrugada quando finalmente alguém dentro da casa

percebeu que estavam tocando a campainha. Se a música não estivesse tão
alta, teriam notado que ela estava tocando a pelo menos quinze minutos.

Ao abrir a porta, o dono da casa e anfitrião da festa deu de cara com uma
senhorinha bem idosa. Com um leve sorriso nos lábios, ela o cumprimentou:

- Boa noite, meu jovem, poderia fazer a gentileza de abaixar o som?

O sujeito mediu a velhinha de alto a baixo e não teve dúvidas: tascou-lhe a

porta na cara.

Ela continuou impassível. Voltou a apertar a campainha. Ele voltou a abrir.

- Não há necessidade de se aborrecer, meu jovem. Pode apenas abaixar um

pouquinho o som?

- Escuta aqui, dona... A senhora sabe com quem está falando?

- Com você! – ela respondeu, e continuou impassível.

- Dona, a senhora não sabe com quem tá falando. Eu sou o Mau.

Ela sorriu.

- Tudo bem, eu sou o Mal...

Ele não entendeu nada. Bateu novamente a porta na cara dela. Velha mais
doida...

De longe, Severino, o vigia noturno do condomínio fechado, apenas

observava enquanto a nova moradora discutia com o playboyzinho, o tal de
Maurício, que todo mundo conhecia como Mau. Ele bem que gostaria de
ajudar a velhinha, mas Mau era filho de uma juíza e de um militar de alta
patente, amigo pessoal de traficantes e um pequeno traficante ele mesmo,
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tudo o que lhe permitia fazer o que quisesse e deixar as regras de civilidade
para os outros cumprirem. Da única vez que tentou fazer o Mau cumprir as
regras do condomínio, Severino quase perdeu o emprego e ainda tomou uma
surra dos amigos marginais do playboyzinho.

Mas não podia deixar de admirar a classe da velhinha. Apesar de ter tomado
a segunda portada na cara, a única coisa que ela fez foi encostar a mão na
porta da casa e contar baixinho até dez. Quer dizer, ele achava que era isso
que ela estava fazendo, porque ela abaixou a cabeça e começou a murmurar
alguma coisa que ele não conseguiu ouvir.

Ato seguinte, ela virou as costas e voltou para sua casa. Na casa do Mau, o
som continuava no último volume.

Foi quando, sem absolutamente nenhum aviso, uma grande explosão fez
tremer a terra e, em segundos, a casa de Mau estava envolta em chamas.
Não houve tempo nem condições para que as pessoas na casa fugissem. O
dono da casa e todos os seus convidados foram reduzidos a cinzas.

Estranhamente, nenhuma das casas em volta sofreu qualquer espécie de

dano. Não houve sequer uma janela quebrada por algum estilhaço da
explosão.

Os bombeiros chegaram logo e, enquanto apagavam o fogo, os outros

moradores do condomínio observavam dos gramados de suas casas.
Severino viu que a velhinha também estava fora de casa, olhando tudo
enquanto apreciava uma xícara de chá.

Aproximando-se dela, Severino sorriu:

- Boa noite, Dona Valquíria. Eu queria uma palavrinha com a senhora...

- Pois não, Severino. Que explosão horrível, não é mesmo?

- É sobre isso mesmo que quero conversar com a senhora...

Ela franziu a testa. O que ele poderia querer com ela?

- Pois não, Severino?

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- Eu só queria dizer obrigado. Tenha uma boa noite! – e Severino afastou-se,

com uma piscadela marota.

Por um minuto ela ficou atônita. Mas depois deu uma risadinha e voltou-se
para dentro de casa, para fazer aquilo que queria desde o início: desfrutar de
uma boa noite de sono.

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Sobre o Autor

Edson Tomaz da Silva nasceu em São Paulo, capital, em 26 de abril de 1971.

A paixão pelos gêneros de terror e suspense é antiga, mas o autor só
começou a publicar seus textos em 2009 no site Recanto das Letras”

Em 2010, criou o site Letras de Sangue, onde publica seus textos, na

companhia de outros escritores amadores, também apaixonados por terror e
suspense.

Para ajudar na divulgação do site, passou a publicar seus textos também no

Scribd, criando a Coleção Letras de Sangue.

Licenciamento da Obra

A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons

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