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A humanidade de Jesus – Revista secular

Isto É faz 14 perguntas sobre Jesus e a


Bíblia

Quais são os mistérios que ecoam na trajetória do homem que mudou a história da
humanidade. Na busca pela humanidade de Jesus, e pelo debate de mistérios que
intrigam grande parte da humanidade há séculos, a revista ISTOÉ fez 14 perguntas
sobre a vida de Cristo a especialistas, autores consagrados e lideranças religiosas.

Confira abaixo a íntegra da matéria:

A descoberta dos restos da casa de uma família que viveu no tempo e na região de Jesus
de Nazaré animou arqueólogos e entusiastas bíblicos no último dia 21. Ainda que ela
não tenha vínculos diretos com o Messias, essa descoberta joga luz sobre um Jesus que
vai além da figura mítica que morreu na cruz, como contam os evangelhos do Novo
Testamento. Ela alimenta quem vive para especular o lado humano do Filho de Deus,
que a Igreja nunca deixou se sobrepor ao divino. Mas o interesse por detalhes históricos
de alguém como Cristo é compreensível. Afinal, foi esse judeu da Galileia quem
plantou a semente da religião mais influente do mundo. E, para quem lê os evangelhos
como relatos biográficos, um erro de princípio, segundo os especialistas, as lacunas
parecem implorar por especulações. O Novo Testamento não traz, por exemplo,
nenhum registro sobre a vida e as andanças de Cristo entre os 15 e 30 anos de idade.
“Porque esses anos não são importantes”, explica Pedro Vasconcelos Lima, teólogo da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para a igreja, tudo de
relevante sobre a missão de Cristo na terra está na “Bíblia”. Mas é o suficiente? A
clareira histórica aberta por esses 15 anos perdidos é uma das brechas mais exploradas
por estudiosos, uns mais honestos que outros, para especular sobre a vida e Jesus. Mas
ela não é a única. Outras foram encontradas nas entrelinhas dos 27 livros, 260 capítulos
e 7.957 versículos do Novo Testamento. Mais algumas foram pesquisadas, com base em
descobrimentos arqueológicos que variam de objetos do tempo de Jesus a textos de
grupos religiosos do cristianismo primitivo, no longínquo século I d.C. E, por mais que
a Igreja prefira não tratar de alguns detalhes das faces divina e humana de Cristo, os
mais de um bilhão de fiéis não param de fazer perguntas.

“É na humanidade de Jesus que melhor podemos compreender a dimensão de sua


divindade”, reconhece Frei Betto, religioso dominicano autor do recém-lançado “Um
Homem Chamado Jesus”. Na busca pela humanidade de Jesus, e pelo debate de
mistérios que intrigam grande parte da humanidade há séculos, ISTOÉ fez 14 perguntas
sobre a vida de Cristo a especialistas, autores consagrados e lideranças religiosas. Em
que época foram escritos os Evangelhos e quem os escreveu? Jesus teve irmãos? Maria
foi virgem durante toda sua vida? Jesus estudou? Qual profissão seguiu? Como era
fisicamente? Esteve na Índia? Deixou alguma coisa escrita? Teve um relacionamento
amoroso com Maria Madalena? Teve filhos? Por mais simples ou absurdas que algumas
dessas questões possam parecer, elas merecem uma discussão. “Algumas realmente
atormentam a vida dos fiéis”, reconhece o padre mariólogo Vicente André de Oliveira,
membro da Academia Marial de Tietê, no interior de São Paulo. As respostas apontam
caminhos, mas não têm a aspiração de ser definitivas. O estudo científico da vida do
Messias ajuda na construção do que se convencionou chamar de Jesus histórico. Em
esforço que surgiu no final do século XVIII e ganhou ritmo com importantes e raras
descobertas arqueológicas no século XX (leia quadro na página 76), um Jesus que vai
além dos relatos bíblicos começou a ganhar forma.

Ele surgiu do debate acadêmico do que podia e não podia ser considerado fonte para o
entendimento da vida que o Nazareno levou na Terra. E, como a fé cristã, evolui e
ganha novos contornos diariamente. Para o fiel bem resolvido, não há disputa entre o
Jesus histórico e o bíblico, ou divino. “Cristo trouxe uma mensagem poderosa de amor e
perdão que é inatingível”, afirma Fernando Altemeyer, professor de teologia e ciências
da religião da PUC-SP. Para quem crê, é esse o legado do homem de Nazaré. Mas toda
informação que contribuir para montar o quebra-cabeça dessa que é a mais repetida e
famosa história da humanidade será bem-vinda.

Jesus nasceu em Belém ou Nazaré?

Embora os evangelhos de Mateus e Lucas afirmem que Jesus tenha nascido em Belém,
é muito provável que isso tenha ocorrido em Nazaré. “Todos os grandes especialistas
bíblicos são unânimes em admitir que Jesus nasceu em Nazaré”, afirma Frei Betto,
religioso dominicano autor do recém-lançado “Um Homem Chamado Jesus”. Ao que
tudo indica, Lucas e Mateus teriam escolhido Belém como cidade natal de Jesus para
que suas versões da vida de Cristo se alinhassem a uma profecia do Antigo Testamento,
segundo a qual o Messias nasceria na Cidade do Rei Judeu, ou seja, a Cidade de Davi,
que é Belém. Quanto à afirmação de que Jesus teria nascido em uma manjedoura
rodeado de animais, Sylvia Browne, americana autora do best seller “A Vida Mística de
Jesus”, é taxativa: “Tanto José quanto Maria provinham de famílias judias nobres e
prósperas, de sorte que Jesus nasceu em uma estalagem e não em um estábulo, rodeado
de animais”, diz. “José, de família real, não podia ser pobre – era um artesão
especializado.” A afirmação de Sylvia é contestada por Fernando Altemeyer, professor
de teologia e ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP). “Afirmar que a ascendência nobre de José garantiria o bem-estar da família
não faz sentido”, argumenta. Ele lembra que Davi é do ano 1000 a.C. e em um milênio
sua fortuna certamente teria se dispersado. “Fora que a ascendência entre os judeus vem
de mãe, não de pai”, explica. Para o teólogo, são muitas as fontes independentes que
tratam da pobreza da família de José e é quase certo que Jesus tenha nascido em um
curral e morado em um gruta com o pai e a mãe, que não eram miseráveis, mas tinham
pouca terra e viviam como boa parte dos judeus pobres das áreas rurais.

Quando Jesus nasceu?


Uma coisa é certa: ele não nasceu no dia 25 de dezembro. E a razão é simples. Esta data
coincide com o solstício de inverno do Hemisfério Norte, quando uma série de festas
pagãs, muito anteriores ao nascimento de Cristo, já aconteciam em homenagem a
divindades ligadas ao Sol e a outros astros. Ao que tudo indica, o dia foi adotado pelos
católicos primitivos na esperança de cristianizar uma festa pagã. Faz sentido. Jesus
também significa “Sol da Justiça”, o que faz dele um belo candidato a substituto de uma
efeméride como o solstício de inverno. Se Jesus não nasceu em 25 de dezembro, a
Igreja Católica também não sabe qual o dia nem o ano exatos. Os registros abrem um
leque relativamente grande de possibilidades. É certo, porém, que o nascimento
aconteceu antes da morte do rei Herodes, em 4 a.C., já que foi ele quem pediu o
recenseamento que teria obrigado a viagem de Maria e José a Belém. Quanto ao mês e o
dia, só há especulações. Para o padre mariólogo Vicente André de Oliveira, da
Academia Marial de Tietê, no interior de São Paulo, Jesus teria nascido entre os meses
de setembro e janeiro, quando, segundo ele, eram tradicionalmente feitos os censos em
Belém. Já as pesquisas do astrônomo australiano Dave Reneke mostram que a estrela
que teria guiado os Reis Magos apareceu em junho – crença compartilhada por parte da
comunidade católica. Wagner Figueiredo, colunista do site Mistérios Antigos e autor de
“Trilogia dos Guardiões – O Êxodo”, por sua vez, coloca as fichas no oitavo mês do
ano, que, segundo ele, seria o período oficial de recenseamento dos romanos.

Quem e quantos foram os Reis Magos?

Se realmente existiram, os Reis Magos não eram reis e provavelmente não seguiram
estrela nenhuma. O único registro dessas figuras nos evangelhos canônicos, ou oficiais,
está em Mateus, que fala dos magos do Oriente e de uma estrela seguida por eles. Mas a
menção não diz quantos eram os visitantes nem se eram, de fato, reis. “Como esses
magos trouxeram três presentes, supõe-se que eram três reis”, explica o cônego Celso
Pedro da Silva, professor de teologia e reitor do Centro Universitário Assunção
(Unifai), em São Paulo. A versão atual da história se formou junto com o forjar de
diversas tradições católicas durante o primeiro milênio da Era Cristã. Convencionou-se
chamar os visitantes de Melchior, rei da Pérsia, Gaspar, rei da Índia, e Baltazar, rei da
Arábia. Também ficou estabelecido que eles teriam trazido incenso, ouro e mirra como
presentes ao recém-nascido. Para Wagner Figueiredo, colunista do site Mistérios
Antigos e autor de “Trilogia dos Guardiões – O Êxodo”, os três seriam, ainda,
astrólogos ou astrônomos, já que usaram uma estrela para guiá-los até Belém. “Mas não
sabemos se a estrela de Belém era mesmo uma estrela”, diz Figueiredo.

“Ela pode ter sido um cometa, uma supernova ou o alinhamento celeste de planetas”,
explica. Em consulta ao histórico astronômico de então, Figueiredo descartou a
possibilidade de a estrela ser um cometa. Segundo ele, o único fenômeno astronômico
desse tipo visível da Terra em anos próximos ao nascimento de Jesus foi a passagem do
cometa Halley. Mas o Halley riscou o céu em 12 a.C., no mínimo cinco anos antes do
nascimento de Jesus, o que o elimina como candidato a estrela de Belém. Um registro
do que hoje chamamos de supernova por astrônomos chineses na constelação de
Capricórnio no ano 5 aC. é o candidato mais forte. “A supernova, que é a explosão de
uma estrela, cria um forte ponto luminoso no céu”, especula Figueiredo. Ele lembra,
ainda, da impressão de movimento que esses fenômenos deixam, o que as alinha com a
descrição que se tem da estrela de Belém. A terceira e última possibilidade de
explicação astrológica trata do alinhamento de planetas entre os anos 7 a.C. e 6 a.C. Na
primeira tese, Júpiter e Saturno se alinharam criando um ponto luminoso que caminhou
pelo espaço entre maio e dezembro daquele ano. Já na segunda, Júpiter, Saturno e Marte
se aproximaram na constelação de Peixes, formando um único e poderoso ponto
luminoso no céu.

Jesus teve irmãos? Maria se manteve virgem?

Muito da discussão em torno dessa pergunta se deve à ambiguidade do termo grego


adelphos, que para alguns significa irmão, enquanto para outros significa companheiro,
amigo. Nos evangelhos de Mateus e Marcos e na carta de Paulo aos Gálatas, a palavra
surge e, para quem é partidário da primeira interpretação, confirma a existência de
irmãos e irmãs de Jesus. Segundo Rodrigo Pereira da Silva, professor de teologia do
Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp-EC), se os irmãos existiram, eles
seriam seis – quatro homens e duas mulheres –, identificados no Evangelho de Marcos.
Silva lembra também que no evangelho apócrifo de José fala-se que o pai de Jesus era
viúvo quando se casou com Maria e que teria filhos do primeiro casamento. O teólogo
ressalva, porém, que duas situações narradas pelos evangelhos canônicos, tidos como
fonte mais confiável, depõem contra essa interpretação. “Esses supostos irmãos dão
ordens a Jesus”, argumenta. “Isso jamais aconteceria se eles fossem, de fato, irmãos,
porque Jesus foi o primogênito. E o mais velho, na Galileia de então, tinha autoridade
sobre a família”, diz.

Soma-se a isso o fato de Jesus ter confiado sua mãe ao apóstolo João no momento da
crucificação, segundo está descrito no Evangelho de João, e não a um de seus supostos
irmãos. Sabe-se também, a partir dos textos bíblicos, que, além de Maria, mãe de Jesus,
nenhum parente direto do Messias estava ao pé da cruz quando ele foi morto. O rechaço
da igreja à possibilidade da existência de irmãos de Jesus se explica. Se a teoria fosse
verdadeira, iria contra um dos dogmas marianos segundo o qual a mãe de Jesus teria
dado à luz virgem e assim permanecido até a assunção de seu corpo aos céus. Por isso o
apego ao problema de tradução da palavra adelphos e aos sinais que estão na “Bíblia”
da ausência de irmãos (segundo interpretação oficial). Para o padre mariólogo Ademir
Bernardelli, da Academia Marial de Aparecida, no interior de São Paulo, a existência ou
não de irmãos é mais simbólica do que prática. “A virgindade de Maria é uma tradição
que foi criada com o tempo”, diz Bernardelli. “A pergunta pela virgindade no parto ou
depois do parto nunca foi um assunto discutido entre a hierarquia católica primitiva, só
surgiu depois”, afirma.

Especulação ou não, a tese de que Jesus teria irmãos ganhou força com um precioso
achado arqueológico em 2002. Chamado de ossuário de Tiago, o artefato é uma urna de
pedra-sabão com as inscrições “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Embora a Igreja
conteste as inscrições, feitas em aramaico, o objeto atraiu a atenção tanto de
sensacionalistas quanto de estudiosos. A urna é, sem dúvida, legítima e data do tempo
de Cristo. Já a autenticidade das inscrições, mais especificamente a parte que diz “irmão
de Jesus”, ainda está sendo avaliada pela comunidade arqueológica internacional. Se
comprovada, esse seria o primeiro e único objeto vinculado diretamente a Jesus já
descoberto.

Jesus estudou? Qual profissão seguiu?

Para Wagner Figueiredo, colunista do site Mistérios Antigos e autor de “Trilogia dos
Guardiões – O Êxodo”, Jesus teve formação intelectual mais rica do que se supõe a
partir dos evangelhos. “Era comum, na Antiguidade, que os mais ricos custeassem os
estudos dos prodígios apresentados ao conselho do templo”, diz. Cristo era uma dessas
crianças brilhantes e certamente não passou despercebido no templo, onde chegou a
protagonizar uma cena curiosa, aos 12 anos, quando colocou os sábios para ouvi-lo.
Mas mesmo que tenha tido uma formação, Jesus continuou como um homem de hábitos
e mentalidade rurais. “Podemos chamá-lo de um caipira antenado, que tinha
sensibilidade suficiente tanto para dialogar com o povo quanto com a elite intelectual de
sua época”, resume Paulo Augusto Nogueira, professor de teologia da Universidade
Metodista de São Paulo, em São Bernardo do Campo.

Segundo o americano H. Wayne House, autor do livro “O Jesus que Nunca Existiu”, o
Messias provavelmente sabia ler em hebraico e aramaico e escrever em pelo menos um
desses idiomas. Suspeita-se, também, que falava um pouco de grego, a língua comercial
da época.

Quanto à profissão que seguiu, há controvérsias. E as dúvidas surgem por causa de uma
palavra ambígua, usada nos registros mais antigos dos evangelhos. Neles, José é
apresentado como “tekton”, uma espécie de artesão que faria as vezes de um mestre de
obras. Ele teria, portanto, as habilidades de um carpinteiro, mas não apenas. Jesus e José
seriam uma espécie de faz-tudo. Faziam a fundação de uma casa, erguiam paredes como
pedreiros e construíam portas como carpinteiros. É sabido também que tinham ovelhas e
uma pequena plantação. Portanto, teriam algumas noções de pastoreio e agricultura.

Como era Jesus fisicamente?

A imagem de Cristo que se consagrou foi a de um tipo bem europeu: alto, branco, de
olhos azuis, cabelos longos ondulados e barba. Mas são grandes as chances de que essa
representação esteja errada. “É praticamente certo que ele não foi um homem alto, a
julgar pelos objetos, como camas e portas, deixados por seus contemporâneos”, revela a
socióloga e biblista Ana Flora Anderson. O fato é que não há registros fieis da aparência
do filho de Maria. Essa ausência de documentos se explica. Para os especialistas, até o
ano 30 d.C. pouquíssimas pessoas sabiam quem era Jesus. “Mas ele é Deus encarnado.
Então teve um corpo, uma aparência física”, afirma padre Benedito Ferraro, professor
de teologia na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), no interior de São
Paulo. E se por um lado a existência carnal de Jesus impôs limites físicos a um Deus
todo-poderoso, ela deu asas à imaginação e à especulação dos fieis já no século II e III
d.C. sobre a aparência desse Deus em carne e osso.

A julgar pelos registros históricos que contam um pouco da vida na região em que Jesus
nasceu e foi criado, o Messias deve ter sido um homem baixo, de pele morena e cabelos
escuros e encaracolados (à esq., uma reconstituição feita pelo médico especialista em
reconstrução facial inglês Richard Neave, da Universidade de Manchester). Por ser um
trabalhador braçal, tinha uma estrutura física bem desenvolvida. “Como palestino,
deveria ter as características daquele povo”, lembra frei Betto, dominicano autor do
recém-lançado “Um Homem Chamado Jesus”. Esse é o máximo a que chega a
especulação baseada em estudos. “Não saberemos nem precisamos saber da real
aparência de Jesus – ela não importa”, afirma o cônego Celso Pedro da Silva, professor
de teologia e reitor do Centro Universitário Assunção (Unifai).

Jesus foi à Índia?


Teria Cristo pregado às margens do rio Ganges? Quem garante de pés juntos que ele
esteve na Índia, cita duas possibilidades cronológicas. A primeira, durante os chamados
anos perdidos, dos 12 ou 14 anos de idade aos 28 ou 30 anos. A segunda, depois da
ressurreição. Ambas as afirmações são extremamente controversas e têm tanto
apaixonados defensores quanto vigorosos detratores. O teológo americano H. Wayne
House, do Dallas Theological Seminary no Texas, Estados Unidos, não acredita na
visita de Jesus à Índia, mas reconhece que são muitas as fontes que narram uma suposta
passagem do Messias, não só pela Índia, mas também pela região das Cordilheiras do
Himalaia. Um texto hindu do século I d.C. menciona a suposta visita de Cristo ao rei
Shalivahan, empossado mandatário da cidade de Paithan, no Estado de Maharashtra, em
78 d.C.

Sylvia Browne, americana autora do best seller “A Vida Mística de Jesus”, é fervorosa
defensora da visita de Jesus à Índia. “Há dezenas de textos de eruditos orientais que
confirmam a estada de Jesus na Índia e em regiões vizinhas na época”, conta ela em seu
livro. Segundo Sylvia, Jesus recebeu diferentes nomes nas culturas pelas quais circulou,
entre eles “Issa”, “Isa”, “Yuz Asaf”, “Budasaf”, “Yuz Asaph”, “San Issa” e “Yesu”.

Para a maioria dos cristãos, essas afirmações são absurdas. “Esses nomes são muito
comuns na Índia, não permitem concluir que se referem ao Jesus que reconhecemos
como Cristo”, sentencia Rodrigo Pereira da Silva, professor de teologia do Centro
Universitário Adventista de São Paulo (Unasp-EC). Silva explica que uma série de
documentos reunidos em livro do alemão Holger Kersten chamado “Jesus Viveu na
Índia”, de 1986, incendiaram uma discussão vazia sobre o assunto. “Isso é uma
picaretagem”, afirma o teólogo Pedro Vasconcelos Lima, presidente da Associação
Brasileira de Pesquisa Bíblica (Abib). Para ele, explorar esse tipo de ideia é caminhar
no limite ético da especulação. “Era uma época de efervescência religiosa”, lembra o
teólogo Fernando Altemeyer, colega de Lima na PUC-SP. “Um sem-número de sujeitos
com o nome Issa ou Yesu pode ter aparecido na Índia e se anunciado profeta ou
liderança de Israel”, lembra. Há também o argumento das dificuldades e custos de uma
viagem como essa no século I d.C. Jesus, muito provavelmente, não teria como arcar
com as despesas de uma empreitada desse tipo.

Jesus foi tentado pelo demônio no deserto?

Que Jesus foi tentado no deserto, não há dúvida. O episódio é relatado por três
evangelistas, Mateus, Marcos e Lucas, e citado pelo quarto, João. O que se questiona é a
natureza do demônio que se apresenta a ele. Seria ele o demônio feito homem ou apenas
uma síntese simbólica das tentações às quais todos os seres humanos estão sujeitos?
Para o padre Vicente André de Oliveira, mariólogo da Academia Marial de Tietê, no
interior de São Paulo, a tentação do demônio é simbólica. “O deserto e o demônio são
maneiras de ilustrar o encontro de Jesus com suas limitações como homem”, diz
Oliveira. Simbólico ou não, o encontro aconteceu. E para o teólogo Pedro Vasconcelos
Lima, presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (Abib), segundo os
textos oficiais, o demônio se materializa diante de Jesus. Nesse sentido, ele tinha uma
aparência física, apesar de ela não estar descrita. Pelos relatos de Mateus e Lucas, sabe-
se apenas da conversa entre o Filho de Deus e Satanás. “Eram tentações que tinham
como objetivo tirar Jesus de seu caminho”, lembra o mariólogo. A saber: a tentação do
poder, da vaidade e do exibicionismo.
Jesus já gozava de fama quando foi levado pelo Espírito Santo para passar 40 dias e 40
noites no deserto. Se quisesse um cargo público na burocracia romana, por exemplo, era
praticamente certo que o conseguiria e, com ele, viriam fartos benefícios. Mas isso seria
se entregar às tentações. Ele resistiu e saiu recompensado, na visão dos cristãos.

Jesus era um judeu taumaturgo?

Judeus taumaturgos eram figuras muito comuns no tempo de Jesus: homens que
circulavam pela Galileia fazendo milagres como uma espécie de mágico. Mas, para a
maioria dos especialistas, não há possibilidade de Cristo ter sido um deles, apesar de
suas andanças e milagres. A afirmação vem de muitas fontes. “Jesus pedia segredo dos
milagres que fazia, não cobrava por eles e evitou fazer curas diante de quem tinha meios
de recompensá-lo”, explica Rodrigo Pereira da Silva, professor de teologia do Centro
Universitário Adventista de São Paulo (Unasp-EC). Segundo ele, os taumaturgos jamais
agiriam dessa maneira. “Eles eram profissionais da cura. Jesus, não.” Outra diferença
importante entre Jesus e os taumaturgos era que o Messias apresentava Deus de maneira
acessível aos fiéis. Diferentemente dos taumaturgos, que valorizavam uma espécie de
canal exclusivo que teriam com o divino para operar seus milagres, Jesus tentava
ensinar as pessoas a cultivar o contato com Deus. E, assim, receber suas graças sem
intermediários.

Mas a fama de Jesus como um judeu taumaturgo existiu e, em alguns lugares, ainda
existe. Quem afirma é Giordano Cimadon, coordenador da Associação Gnóstica de
Curitiba e membro de um dos braços brasileiros do gnosticismo, grupo religioso que
condiciona a salvação ao conhecimento. Ele conta que, no início da Idade Média,
provavelmente no século VII, alguns escritos chamados “Toledoth Yeshu”, que
significa algo como o “Livro da Vida de Jesus”, circularam tentando expor Cristo como
mais um entre os muitos judeus taumaturgos da Galileia. “A obra, que mostra Jesus
como um falso Messias, circulou também como tradição oral”, conta Cimadon. Depois,
ela foi redigida em aramaico e traduzida para ídiche, ladino e latim. A versão mais
famosa foi compilada pelo alemão Johann Wagenseil e impressa na segunda metade do
século XVII. O texto cria polêmica até hoje por divulgar uma versão deturpada
supostamente por grupos de judeus da vida de Jesus. Argumenta-se que ela foi usada
para legitimar o antissemitismo entre os séculos XIII e XX.

Qual a relação de Jesus com seus apóstolos?

Há quem argumente que a escolha que Jesus fez dos discípulos tenha sido um desastre.
Não houve um sequer, por exemplo, que o acompanhasse durante a crucificação. Mas a
Igreja Católica garante que ele confiava nos apóstolos que escolheu, inclusive nos que o
traíram. Para o cônego Celso Pedro da Silva, professor de teologia e reitor do Centro
Universitário Assunção (Unifai), em São Paulo, Cristo tinha plena consciência de que
lidava com homens e que os homens têm suas limitações. “É a beleza da obra de Jesus”,
diz. Cristo tratava todos com igualdade, mas com Pedro, João e Tiago tinha mais
intimidade. Mesmo sabendo que Pedro, por exemplo, negaria conhecê-lo em três
ocasiões no dia de sua morte. Da mesma maneira, Jesus escolheu Judas, que também o
traiu. Sobre ele, há farta literatura. Em evangelho atribuído a Judas, o apóstolo não
aparece como traidor, mas como engrenagem fundamental do projeto de Deus , pois
sem ele Jesus não seria crucificado e não se martirizaria para salvar os homens.
Com que idade Jesus morreu?

Provavelmente não morreu com os consagrados 33 anos. Essa marca foi estabelecida
pela tradição durante os primeiros séculos do cristianismo primitivo – ou seja, não há
nada que a comprove. Para o espanhol Ramón Teja Cuso, professor de história antiga da
Universidade da Cantábria, Jesus não poderia ter morrido com 33 anos. Se ele nasceu
entre os anos 6 a.C. e 5 a.C. e Pôncio Pilatos, algoz de Jesus, ocupou o cargo de prefeito
da Judeia entre 29 d.C. e 37 d.C., o Messias morreu com, no mínimo, 34 anos e no
máximo 43 anos.

Já o professor de filologia grega da Universidade Complutense de Madri, Antonio


Piñero, usa a astronomia para fazer suas estimativas. Segundo ele, analisando o
calendário de luas cheias no dia da Páscoa judaica, e existem registros desse fenômeno
na data da crucificação, há apenas duas possibilidades de morte de Jesus dentro da
janela estabelecida pelo professor Teja: 7 de abril de 30 d.C. e 3 de abril de 33 d.C.
Nesse sentido, Jesus teria morrido com 36 anos ou 39 anos. Ainda assim, essas são
apenas conjecturas. Elas dependem de variáveis que não podem ser verificadas, como,
por exemplo, o relato de que havia uma lua cheia na ocasião da morte de Jesus ou que
seu ministério teria durado três anos. O ano certo, portanto, dificilmente será conhecido,
mas sabe-se, com uma margem mínima de dúvida, que foi entre os anos 29 d.C. e 37
d.C.

O dia da semana é consenso. De acordo com a “Bíblia de Jerusalém”, a tradução mais


fiel dos originais das Sagradas Escrituras, Jesus morreu em uma sexta-feira, dia 14 de
Nisã, que equivale, no calendário judaico, a 30 dias entre os meses de abril e março. A
crença de que essa é a data correta é quase unânime entre os especialistas ouvidos por
ISTOÉ.

Jesus manteve um relacionamento amoroso com Maria Madalena?

Como a questão que envolve as possíveis viagens de Jesus ao Vale do Rio Ganges, essa
é uma pergunta que gera discussões acaloradas. Um dos grupos que defendem a relação
de amor carnal entre Jesus e Maria Madalena com mais fervor é o dos gnósticos. Como
Sylvia Browne, americana autora do best seller “A Vida Mística de Jesus”. Para ela,
Jesus conheceu Maria Madalena ainda na infância e se casou com ela no que ficou
conhecido, nos evangelhos, como o episódio das Bodas de Caná. Nessa ocasião, Jesus
transformou água em vinho, que era parte fundamental da cerimônia do matrimônio.
“Maria, mãe de Jesus, não ignorava que, pelos costumes judaicos, o noivo era
responsável pela distribuição do vinho”, diz Sylvia. “Então quem fabricou o vinho
oferecido aos convidados em Caná? Jesus. Era ele o noivo”, afirma em seu livro.

Outro indicador de que Jesus e Maria Madalena teriam uma relação amorosa estaria
registrado no evangelho apócrifo de Filipe. Nele estaria escrito que Jesus beijava Maria
Madalena na boca – afirmação constestada por uma corrente de tradutores. Ela, por sua
vez, o compreendia melhor do que qualquer discípulo. A certa altura, os apóstolos
chegam a demonstrar ciúme.

A americana Sylvia vai mais longe. Ela sustenta que Jesus teve filhos com Maria
Madalena. As crianças teriam nascido depois da suposta morte de Cristo, que, segundo
ela, foi forjada com a ajuda de Pôncio Pilatos e José de Arimateia. Ambos teriam tirado
Jesus e Maria Madalena da Galileia num barco que passou pela Turquia e Caxemira, até
aportar na França. Durante a estada na Turquia, a primeira filha do casal Jesus e Maria
Madalena, chamada Sara, teria nascido. Outra menina e dois meninos teriam sido
gerados já na França.

A Igreja Católica rechaça qualquer possibilidade de relação de amor carnal e, portanto,


de filhos entre os dois. “Jesus deixou sim descendentes, espiritualmente, bilhões deles
espalhados por todo o planeta”, afirma o padre mariólogo Vicente André de Oliveira, da
Academia Marial de Tietê, no interior de São Paulo. A instituição religiosa reconhece,
porém, que Maria Madalena era de fato muito próxima de Jesus. “Para os homens
daquela época, ver Jesus confiar segredos a uma mulher era uma afronta”, lembra o
cônego Celso Pedro da Silva, professor de teologia e reitor do Centro Universitário
Assunção (Unifai). “Mas da simples confiança concluir que havia uma relação
matrimonial é deduzir demais.”

O professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)


Rodrigo Pereira da Silva lembra que quando o livro “O Código da Vinci”, de Dan
Brown, foi lançado, em 2003, um sem-número de supostos especialistas surgiu para
confirmar o que o próprio autor havia classificado de ficção. Uma das afirmações seria
de que Leonardo Da Vinci retratou Maria Madalena, e não o apóstolo João, ao lado de
Cristo na “Santa Ceia”. “Criei um curso com a Coordenadoria-Geral de Especialização,
Aperfeiçoamento e Extensão (Cogeae) da PUC-SP só para esclarecer a confusão criada
pela obra”, lembra. Batizada de “O Código da Vinci e o Cristianismo dos Primeiros
Séculos: Polêmicas”, a disciplina foi um sucesso. Ainda assim, muitas das afirmações
do livro, que vendeu cerca de 80 milhões de cópias e foi traduzido para mais de 40
idiomas, permaneceram como aparentes verdades para muitos. “Mas não são”, sentencia
Silva.

Jesus deixou algo escrito?

“É mais fácil encontrar os vestígios de um palácio do que de uma choupana”, diz o


teólogo Pedro Vasconcelos Lima, presidente da Associação Brasileira de Pesquisa
Bíblica (Abib). Com essa afirmação, Lima resume o argumento que explica a
inexistência não só de qualquer documento escrito por Jesus, mas de objetos que
tenham ligação direta com ele. É que, no início do século I d.C., Cristo não tinha
nenhuma importância. E, historicamente, os documentos mais antigos só registram os
feitos de estadistas e donos de grandes fortunas – como sabemos, ele não foi nenhum
dos dois. O único registro que se tem de Jesus escrevendo está nos evangelhos. Eles
relatam o episódio da adúltera que seria apedrejada até a morte – supostamente Maria
Madalena –, mas que foi salva pelo Messias. Cristo teria escrito algo na areia para
afastar quem queria matar a mulher. “Não sabemos o que foi, mas podem ter sido os
nomes de quem havia se encontrado com ela, talvez alguém importante ou até alguns
dos que queriam apedrejá-la”, explica o cônego Celso Pedro da Silva. Fora isso, porém,
não há absolutamente nada escrito por Jesus que tenha sido encontrado – ou para ser
achado, suspeita-se. Na melhor das hipóteses, pode haver anotações de um ou outro fiel
feitas durante uma das pregações de Cristo. Mas, até hoje, esses registros permanecem
perdidos.

Quem escreveu os evangelhos? E quando?


A própria Igreja Católica reconhece que não há como saber se os evangelhos foram, de
fato, escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João. Nos textos não há menção aos autores.
Sylvia Browne, americana autora do best seller “A Vida Mística de Jesus”, usa essas
supostas brechas nas escrituras para tecer suas teorias. Ela lembra que a “Bíblia” como a
conhecemos só tomou forma a partir do Concílio de Niceia, em 325 d.C., e que nesses
três séculos a Igreja manipulou transcrições e traduções dos evangelhos para que eles
divulgassem uma mensagem alinhada ao projeto de expansão da instituição. Sylvia
sustenta ainda que os evangelhos de Mateus, Lucas e Marcos foram escritos pela mesma
pessoa e que apenas o de João teve um autor exclusivo. Supostas contradições, omissões
e coincidências seriam sinais da manipulação.

A teoria da coautoria começou a tomar forma no início do século XVIII, com os


trabalhos do teólogo protestante alemão Heinrich Julius Holtzmann e do filólogo Karl
Lachmann. Chamada de “Questão Sinótica”, ela tem apoio de importantes estudiosos da
atualidade, como o inglês Marc Goodacre, responsável pelo núcleo de estudos do Novo
Testamento na Universidade Duke, na Inglaterra, e John Dominic Crossan, teólogo e
fundador do controverso Jesus Seminar. Em 1968, um outro pesquisador inglês, A.M.
Honoré, chegou a fazer um levantamento mostrando que 89% do que está em Marcos se
encontra em Mateus, enquanto 72% de Marcos está em Lucas.

“Isso é uma besteira”, argumenta o teólogo e professor da Pontifícia Universidade


Católica de São Paulo (PUC-SP) Fernando Altemeyer. Para ele, não há contradição nos
evangelhos e as omissões e coincidências são justificáveis. “Os evangelhos não foram
escritos como biografias de Jesus”, reforça o teólogo Pedro Vasconcelos Lima,
presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (Abib). “Eles contam as partes
da vida do Messias que têm importância”, conclui. Os relatos da vida de Cristo que não
entraram para o Novo Testamento circulam com o título de evangelhos apócrifos. Entre
os séculos XIX e XX houve uma explosão nas descobertas desse tipo de documento.
Hoje já são mais de 15 os relatos extraoficiais. A Igreja não os reconhece, embora
utilize parte dos que datam dos séculos I d.C. e II d.C. para reconstruir o dia a dia de
Jesus, que viveu como mais um dos milhares de judeus remediados da Galileia.

Os evangelhos também não foram escritos logo depois que os fatos aconteceram. Eles
datam dos anos 70 d.C. e 90 d.C. e foram redigidos, provavelmente, em aramaico e
hebraico. Chegaram até nós por meio de cópias, pois os originais foram perdidos. Não
se tem registro de como isso aconteceu, mas não seria difícil danificar um manuscrito
em papiro no tempo de Jesus. As cópias foram descobertas em fragmentos e
reconstruídas por pesquisadores alemães no início do século XIX. A mais antiga, em
papiro grego, data do século II d.C. e foi reconstruída no século XIX pela equipe Nestle
& Alland, de Stuttgart, na Alemanha.

O que diz a arqueologia

Só a arqueologia é capaz de preencher as imensas lacunas que compõem a trajetória de


Jesus na Terra. Ao se debruçar sobre os costumes e a cultura do tempo do Messias,
através de buscas por monumentos, documentos e objetos que compunham aquela
época, os pesquisadores da área se movimentam para saciar as centenas de indagações
acerca do judeu que mudou a história da humanidade. Praticamente não há esperanças
de se achar algo diretamente ligado a Jesus Cristo ou à sua família. Mas há expectativa
de se encontrar objetos relacionados a contemporâneos, da mesma classe social, que
moravam na Galileia. Nesse quesito, o século XX foi recheado de conquistas. Novas
técnicas e o renovado interesse por provar, ou desmentir, o que foi escrito pelos
evangelistas alimentaram as buscas pelo que sobrou do tempo de Jesus. E as
descobertas foram importantes. Entre papiros e pergaminhos, jarros, urnas, pedras e
ruínas comprovou-se parte do que disseram Mateus, Marcos Lucas e João (leia quadro).

Mas, quando o assunto é arqueologia, todo cuidado é pouco. Nem tudo é o que parece.
Por isso, o processo de verificação da autenticidade dos objetos é lento e rigoroso. Que
o digam os estudiosos do que ainda vem sendo considerado o último grande achado do
tempo de Cristo: uma urna que conteria os ossos de Tiago, irmão do Messias. Revelada
em 2002, ela já foi reconhecida como objeto do tempo de Cristo, mas as inscrições em
aramaico que a identificam como sendo de Tiago ainda estão sob avaliação da
comunidade arqueológica internacional. “Pude ver o ossuário em primeira mão, quando
estive em Israel no começo de 2009”, conta Rodrigo Pereira da Silva, teólogo, filósofo e
doutor em teologia bíblica com pós-doutorado em arqueologia na Andrews University,
nos Estados Unidos. “Mas ainda há muito o que ser feito para validar as inscrições.”

Professor de teologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp-EC),


Silva também é arqueólogo e já participou de escavações em Israel, na Jordânia, no
Sudão e na Espanha. Ele conta que, no caso da urna de Tiago, se comprovada a
autenticidade de seus escritos em aramaico, esse será o primeiro artefato arqueológico
com vínculos diretos com Jesus. No dia 21 de dezembro, um outro achado empolgou os
arqueólogos. Foram encontrados os restos de uma casa humilde de Nazaré que datam do
século I d.C. Com dois quartos, um pátio e uma cisterna, ela ajuda a resconstruir a vida
de judeus do tempo de Cristo. “As informações vêm sempre fragmentadas”, explica
Pedro Vasconcelos Lima, professor de teologia e presidente da Associação Brasileira de
Pesquisa Bíblica (Abib). “Não podemos esquecer que esses fragmentos não foram
criados para responder às nossas perguntas e, por isso, precisam de um cuidadoso
trabalho de contextualização.”

Enquanto a contextualização segue a todo vapor, nos departamentos acadêmicos das


melhores universidades do planeta, o trabalho de campo tem encontrado mais
obstáculos do que de costume. Como se o calor, a areia e as outras tantas dificuldades
usuais da arqueologia já não fossem suficientes, questões políticas das regiões
escavadas têm influenciado pesadamente as áreas disponíveis para exploração. “Vemos
muitas descobertas se esgotarem nelas mesmas”, explica Rafael Rodrigues da Silva,
professor do Departamento de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (PUC-SP) e teólogo do Centro de Estudos Bíblicos (Cebi). “O sujeito faz
a descoberta, quer escavar o entorno, buscar outros sinais e não pode”, afirma. É que
boa parte da terra onde estão enterrados muitos desses objetos está em áreas de
constante disputa, como é o caso de porções territoriais de Israel. “Se o século XX foi
bom para a arqueologia, dos anos 90 para cá temos visto uma calmaria nos achados –
mesmo com essa história do ossuário de Tiago”, afirma o professor Silva. Sem achados,
sem história.

Fonte: Revista Isto É – Edição 2094 de 23 de dezembro de 2009 / Gospel+


Via: Gospel Prime

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