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RELEM – Revista Eletrônica Mut ações, julho –janeiro, 2010

©by Ufam/Icsez

Ganho financeiro

Mercado de peixes ornamentais no Baixo Amazonas


pode ter incremento

Peixeiros podem ter Estudos beneficiarão coleta de


incremento a partir do projeto espécies pesqueiras

Pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) estudam peixes


em Parintins (AM), na Amazônia, buscando gerar renda às populações

Bonitos, coloridos, pequenos e rentáveis. O peixe ornamental vem se tornando


cada vez mais comum no mercado e aquários internacionais. Cerca de um bilhão de
peixes são comercializados no mundo, movimentando mais de US$ 3 bilhões ao ano. O
Brasil, país rico em belezas naturais, é um dos mais importantes fornecedores de
espécies do clima tropical, mas convive com uma série de problemas, entre eles a
criminalização da atividade, a exportação irregular e a pesca predatória.
A criação de peixes ornamentais é um segmento da aq uicultura (criação de
animais e plantas aquáticas) voltado para a produção de peixes coloridos e,
normalmente de pequeno porte, destinados ao povoamento de aquários e pequenos
lagos de função paisagística. O mercado ostenta uma atividade multimilionária, de
grande importância econômica para os países em desenvolvimento. Desde 1985, o que
tem influenciado de forma significativa às comunidades pesqueiras dos países são as
atividades que envolvem a indústria de peixes ornamentais e o comportamento da
espécie, incluindo seu caráter exótico. Espécies raras e de cores fortes, assim como
aquelas com formatos incomuns, despertam grande interesse no mercado do aquarismo,
podendo alcançar valores monetários significativos em leilões virtuais na internet, com
valores individuais de até US$ 8 mil.
O comércio de peixes ornamentais no Brasil teve início com as espécies de água
doce da região amazônica, por meio da descoberta e catalogação do cardinal, um peixe
nativo, por Herbert Axelrodi. Hoje, o Brasil é o segundo maior exportador da América
do Sul, estando somente atrás da Colômbia e seguido do Peru. Os três exportam 96%
dos peixes ornamentais do continente. No ranking global, o Brasil encontra-se em 17º
lugar, exportando mais de US$ 4 milhões em peixes ornamentais por ano. Entre os
maiores exportadores estão: Cingapura, República Tcheca e Estados Unidos, os quais
também são os maiores importadores.
Encontrados principalmente em igapós e igarapés das planícies e flo restas
inundáveis da Bacia Amazônica, os peixes ornamentais do Brasil poderiam ser uma
atividade mais rentável ao país. A ausência de pesquisa restringe a rentabilidade dos
negócios brasileiros. Nos países importadores, onde há pesquisa em aquarismo, como
Alemanha, Holanda, Singapura e Hong Kong, os exemplares amazônicos são
modificados geneticamente para ganhar novas cores e tamanhos, mais próprios aos
aquários. Segundo especialistas, é um mercado muito rentável, mas não se desenvolve
no Brasil por falta de investimentos. Para que essa pesca seja realizada de forma
economicamente-sustentável, evitando o esgotamento, é necessário realizar pesquisas e
trabalhos científicos sobre a realidade das espécies exploradas. O manejo sustentável de
peixes ornamentais exige a conservação de seu habitat e o conhecimento integrado do
ecossistema, da biodiversidade aquática e da questão socioeconômica da atividade.
Em Parintins, cidade do interior do Amazonas, localizada a 390 km de Manaus,
esse tipo de trabalho começou a ser realizado. A Universidade Federal do Amazonas
(Ufam) iniciou, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
(Pibic), um trabalho de pesquisa que servirá como subsídio para avaliar o manejo e a
reprodução de cada espécie, bem como incentivar a população para a conservação dos
lagos e dos peixes neles existentes, uma vez que a maioria das pessoas desconhece a
biodiversidade existente nesses locais.

Projeto
O projeto “Levantamento das espécies de peixes ornamentais da região do Lago
do Macurany” tem o objetivo de verificar a possibilidade da exploração das espécies
ornamentais na região do Lago do Macurany, por meio da identificação dos tipos que
possuem potencial ornamental. O trabalho é orientado pelo professor Márcio Aquio
Hoshiba, docente do curso de zootecnia da Ufam, e tem como aluna bolsista Kaila de
Assis Cerdeira e mais 20 alunos voluntários. “Iniciamos a pesquisa porque acreditamos
que tem espécies de peixes aqui que ainda nem foram estudadas. A região é explorada e
acontece que às vezes a população acaba nem conhecendo a espécie porque entra em
extinção”, diz o docente.
A ideia do projeto é fazer a captura dos peixes, trazer para o laboratório e
estudá- los individualmente, observando a melhor forma de manejo pra garantir uma
melhor reprodução. Feita a atividade, a continuidade da espécie tende a ficar garantida.
Além disso, o projeto tem como meta conscientizar a comunidade sobre a utilização do
trabalho como forma de renda e despertar nos moradores a necessidade de manter o lago
limpo.
O projeto tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Amazonas (Fapeam) até o fim deste ano. Em junho de 2010, os pesquisadores irão
entregar um relatório parcial de análise e resultados da pesquisa. Somente no segundo
semestre eles irão entregar o relatório final, o qual constará todo o estudo coletado na
pesquisa científica.
A estudante Kaila enfatiza que “a coleta e identificação dos peixes servirá como
base para estudos mais detalhados de manejo, reprodução e fisiologia das espécies
encontradas na região, conscientizando a população sobre a importância da
sustentabilidade. Outro impacto a ser lembrado é a conscientização da comunidade para
a importância do lago e, consequentemente, para a sobrevivência do próprio lago”.
Os projetos a serem desenvolvidos na área de piscicultura em Parintins são
divididos em quatro grupos. Projetos voltados ao manejo, reprodução e criação de
peixes ornamentais; projetos responsáveis por avaliar diferentes formas e composições
de dietas experimentais no desempenho dos peixes; projetos responsáveis por avaliar
parâmetros fisiológicos, metabólicos e químicos no estresse de peixes; projetos ligados
à utilização de aminoácidos para diminuir o canibalismo em larvas de matrinxã (peixe
típico da Amazônia).
A intenção do professor Hoshiba é montar um aquário semelhante ao de Ibatuba,
no interior de São Paulo, mostrando as espécies de peixes ornamentais encontradas só
aqui na região amazônica. “Quando isso acontecer, vai se tornar uma atração, porque
acreditamos que a maioria da população não conhece essas espécies. E futuramente
transformar essa atração em atividade lucrativa para o município, para que a cidade
fique conhecida não só pelo Festival Folclórico, mas também pelas riquezas naturais da
região”.

Técnica
Mensalmente, são realizadas coletas na região do Lago do Macurany, onde são
analisados os parâmetros físicos e químicos da água, a qualidade e nível para realizar a
coleta dos peixes. Para garantir a regionalidade aos estudos, as coletas são realizadas
com a mesma metodologia utilizada pelos ribeirinhos, por meio do puçá (tipo de
armadilha para pegar peixes). Usado com a finalidade de embarcar o peixe, o puçá (ou
passaguá) é normalmente confeccionado com madeira ou alumínio. Seu corpo é
constituído de um cabo de tamanho variável e um aro na extremidade, onde se prende
uma rede cônica. Se bem usado, é a ferramenta mais segura para o embarque dos
pescados. Isso porque evita que eles se debatam e, consequentemente, escapem com
facilidade. Os peixes ornamentais normalmente são encontrados em locais de remanso
com fundo de lama e folhas, onde a água é mais fria.
Após a coleta, os peixes são levados e mantidos no laboratório de pesquisa em
aquicultura do Instituto de Ciências Socais, Educação e Zootec nia (Icsez), campus da
Ufam em Parintins, e posteriormente identificados, fotografados e mensurados,
permitindo a identificação das espécies coletadas e a confecção de um “miniatlas”
regional das espécies de peixes ornamentais. Feita a identificação, os pe ixes são
distribuídos em aquários, onde são separados por espécie e observados diariamente para
identificação dos hábitos e alimentação correta. As espécies encontradas no lago do
Macurany só serão divulgadas a partir do momento que o grupo fizer o reconhecimento
de cada espécie. A estimativa é que fim de 2010 haja uma relação descritiva desses
peixes.

Dificuldades
Muitas são as dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores na Amazônia, uma
delas é falta de estrutura do Icsez, sede acadêmica da Ufam no Baixo Amazonas (região
do Estado do Amazonas próxima ao Pará). O instituto não possui uma área com
laboratório específico para o estudo das espécies, o que acarreta na morte de parte dos
peixes coletados. “Não temos um laboratório específico e a dificuldade é manter os
peixes no aquário, porque como é uma espécie que ainda não está habituada a adaptação
dela é mais complicada por causa dessa transição”, explica Hoshiba. Outra dificuldade é
que o potencial de hidrogênio (PH) dos lagos de Parintins é muito ácido e cada espécie
de peixe tem uma condição especial.
A utilização inadequada dos recursos hídricos, a poluição e o assoreamento dos
rios também são fatores que prejudicam o estudo. Ela influencia na mortalidade das
espécies, promovendo diminuição em sua variabilidade genética. A cada coleta, os
pesquisadores observam que o lago está cada vez mais sujo. Por isso, é necessário o
desenvolvimento de técnicas de manejo sustentável para a aquicultura na região
amazônica.

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