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O Tempo em Stº.

Agostinho
Pedro Filipe de Moura Ribeiro Vilar

Filosofia Medieval

Stº. Agostinho, a dado momento do livro 11 das suas 'Confissões', distingue

eternidade e tempo, desenvolvendo simultaneamente uma observação crítica, um

remoque, àqueles cujo pensamento "ainda volita ao redor das ideias, ideias da

sucessão dos tempos paasados e futuros." (Confissões [C], livro 11, § 11, pg.

277).

Segundo Stº. Agostinho, na eternidade "nada passa, tudo é presente, ao passo

que o tempo nunca é todo presente" (idem); e mais adiante pergunta ainda: "Quem

poderá prender o coração do homem, para que pare e veja como a eternidade

imóvel determina o futuro e o passado, não sendo nem passado nem futuro? (C,

pg. 278).

Ao longo das páginas que vão do parágrafo 'Que faria Deus antes da Criação?'

até 'O que é o tempo' o Santo de Hipona aplica-se na clarificação das

diferenças de natureza de ambas as concepções temporais:

A eternidade é enão o domínio, o elemento, o reino de Deus: estável,

incomensurável; enquanto o tempo, por seu lado, é o domínio do homem: instável,

mudável em passado, presente e futuro, que do tempo divino apenas se aparenta e

participa vestigialmente: " O tempo é um vestígio de eternidade" (idem, in De

Genesi, pg. 279).

Sendo pois a eternidade soberana, autónoma e acrónica como pode o Santo de


Hipona considerar que tal temporalidade determina o passado e o futuro, sendo

estas de uma natureza outra e diversa, pertencente a domínios que diríamos

profanos, mais próprios do antropológico?

Pensamos que uma possível resposta repousa numa ideia tutelar de Deus e da

eternidade: Deus ergue-se, perfila-se nos confins e para lá da temporalidade

humana:

"Precedeis [Deus], porém, todo o passado, alteando-vos sobre ele com a vossa

eternidade sempre presente. Dominais todo o futuro porque está ainda para vir."

(idem, pg. 279).

Quando este Santo nos diz que se ninguém lhe perguntar pelo tempo ele sabe o

que é o tempo, mas se alguém o fizer já não o consegue dizer é porque a nossa

natureza humana, proverbial, costumeira, é ainda co-natural e consubstancial a

esta eternidade - o "vestígio" de que também nos fala - e as interrogações e

perguntas sobre ela constituem brechas, rupturas, que abrem espaço e inscrevem

uma outra e diferente temporalidade, marcada pelo abandono da estabilidade, da

a-sucessividade da mesma eternidade - e porque, diz ainda muito simplesmente

Stº. Agostinho: "quanto ao presente, se fosse sempre presente e não passasse

para o pretérito, já não seria tempo mas eternidade" (idem, pg. 280)

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