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A narrativa envolve Pedro Bala, líder dos ͞capitães͟, filho de um grevista morto pela
polícia, com um tiro. Em torno dele, outros meninos, como Sem -Pernas, João Grande,
Professor, Gato, Querido-de-Deus e Pirulito, dentre outros.
Os policiais também fazem parte dos sonhos de ódio dos capitães. Até a família
singela, que adota Sem-Pernas, padece, vítima do assalto dos meninos, pois eram
ricos. Professor chega a ser reconhecido, na rua, como um futuro desenhista de
sucesso, mas não consegue acreditar na proposta de um homem bem vestido que lhe
dá um cartão. O menino prefere ficar com a piteira que recebera, deixando o cartão
pela sarjeta.
Marcando época, está a varíola, que acaba vitimando ricos e pobres. Boa -Vida, um dos
capitães, é acometido pela ͞bexiga͟, mas fica saudável.
Logo em seguida, os capitães irão se dispersar. Gato vai para Ilhéus, Professor parte
para o Rio de Janeiro (capital do país), Pirulito torna -se frade, padre José vai ao
interior, em nova paróquia, Volta Seca entra para o bando de Lampião, João Grande
vira marinheiro, Sem-Pernas suicida-se e Querido-de-Deus segue sua vida de
capoerista. Pedro Bala deixa o trapiche, torna -se líder comunista, após se envolver
com os doqueiros. Fim.
O livro revela a diferença de classe e a violência contra os mais pobres, vitimados pelo
que se acostumou a ler como ͞os ricos͟. De caráter panfletário e feito em forma de
uma sequência de episódios, ͞Capitães da areia͟ se esforça para expor a vida de
meninos abandonados em um caráter quase documental, uma vez que as notícias
publicadas antes do primeiro capítulo, dariam v erossimilhança à narrativa, numa uma
necessidade de fazer da obra uma arma contra a miséria.
Lima Barreto já se enveredara pelo caminho das diferenças sociais, assim como Aluísio
Azevedo. Contudo, a linguagem do texto de Amado é mais simples e as imagens
diretas. Há pouca profundidade psicológica, quando o foco não é Pedro Bala. Uma
cena estapafúrdia se dá quando Sem-Pernas, menino de, no máximo quatorze anos, sai
do cinema e vai a uma sorveteria, com sua então família de pessoas ricas mas que nem
desconfiam de seu passado ou intenções. Pois quando ao menino é oferecido sorvete,
o narrador revela seu pensamento: queria uma cervejinha. Enfim, prevalece a
caricatura, mesmo na exposição das angústias, por exemplo, de Sem Pernas ou
Professor. Há quem diga que lhes falta carinho de mãe, daí todos buscassem algo a
substituir, como Dalva (Gato), padre (Pirulito), famílias (Sem pernas) e por aí vai. Mais
de uma vez, o narrador explica o óbvio, dizendo ao leitor que Dora é ͞mãe, irmã e
noiva͟ de Pedro. Haja paciência. De fato, as carências são bem claras, mas não
aprofundadas. Existe um tanto de determinismo na construção das figuras, rodeadas
pelas docas sujas, bares com homens jogando baralho, bebedeira, putas, soldados
cheios de ódio e a imensidão do mar. O bando d e Ezequiel é consequência clara do
ambiente sem regras e miserável... assim como a ideia de um reformatório pior que
uma prisão.
Enfim, a chance do debate sobre a miséria e o valor da confiança e união seriam o lado
positivo de mais um romance socialista de Jorge Amado.