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Estrutura interna

título

A palavra ode tem origem grega e significa “cântico laudatório de uma pessoa ou
acontecimento”. O adjetivo triunfal significa “grandioso”. Assim, o título da ode dá-nos a
sensação de algo grandioso, tanto no conteúdo como na forma. Por outras palavras, “Ode”
porque é uma composição poética destinada a cantar algo de elevado, e “Triunfal” pois é a
celebração da modernidade, da civilização técnica e industrializada.

introdução

- localização espácio-temporal: “À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da


fábrica” (v. 1) – numa fábrica, rodeado de máquinas, à noite e sob a luz forte das “grandes
lâmpadas elétricas”.

- Estado de espírito do eu lírico: Marcas do estado febril, doentio, delirante, “Tenho


febre e escrevo.” (v. 2); ”Tenho os lábios secos” (v. 10); “E arde-me a cabeça” (v.12); “Em
febre” (v. 15)

- Ação do sujeito poético («proposição»): “Escrevo rangendo os dentes, fera para a


beleza disto, / Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.” (vv. 2-3)

desenvolvimento: Traços futuristas

- Cântico da era moderna e do progresso: “E arde-me a cabeça de vos querer


cantar com um excesso / De expressão de todas as minhas sensações, / Com um excesso
contemporâneo de vós, ó máquinas!” (vv. 12-14); “Ó coisas todas modernas, / Ó minhas
contemporâneas, forma atual e próxima / Do sistema imediato do Universo! / Nova
Revelação metálica e dinâmica de Deus!” (vv. 45-46)

- Fusão de todas as eras no Momento presente: “Canto, e canto o presente, e


também o passado e o futuro, / Porque o presente é todo o passado e todo o futuro” (vv.
17-18); “Eia todo o passado dentro do presente! / Eia todo o futuro já dentro de nós!”
(vv. 90-91); O Instante presente é a congregação de todos os tempos: o presente é o
resultado de esforços científicos passados
e catalisador dos feitos futuros.

- Fusão do eu com a máquina: “Ah, poder exprimir-me todo como um motor se


exprime!/ Ser completo como uma máquina!” (vv.26-27); Declara-se o desejo de
identificação com as realidades tecnológicas contemporâneas; concretizando a atitude
provocatória dos futuristas, ao procurar associar o ser humano à revolução técnica. Vontade
de fazer parte da
máquina, símbolo da era moderna; relação perversa e erótica com os mecanismos.
- Fusão de todos os génios nos maquinismos: “E há Platão e Virgílio/ Virgílio e
Platão, /Alexandre Magno do século talvez cinquenta, /o cérebro do Ésquilo” (vv. 19-22);
Todos os génios e conquistas do passado contribuíram, de alguma forma, para o avanço
civilizacional, daí circularem nos maquinismos atuais.
O tempo é um contínuo: a civilização moderna é o resultado de uma acumulação de
saberes e experiências que o atravessaram como uma herança. O progresso atual é
consequência de sucessivas invenções no passado.

- Universalidade: “E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos
os comboios / De todas as partes do mundo” (vv. 60-61); O eu expande-se numa
identificação com todos os locais urbanos: a era moderna é cosmopolita e sem fronteiras
geográficas, daí a evocação de vários espaços das grandes metrópoles

- Valorização de uma nova forma de beleza: “Escrevo rangendo os dentes, fera


para a beleza disto, / Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.” (vv. 3-4);
“Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical” (v. 15); “Olá tudo com que
hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem! / Eh, cimento armado, beton de
cimento, novos processos! / Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos! /
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!” (vv. 37-40)

desenvolvimento: Traços sensacionistas

- Presença dos cinco sentidos: olfato: “A todos os perfumes de óleos e calores e


carvões” (v.31); audição: “r-r-r-r-r-r-r eterno!” (v.6); “De vos ouvir demasiadamente de perto,”
(v.11); “Rugindo, rangendo,” (v.24); visão: “À dolorosa luz” (v.1); “Andam por estas correias
de transmissão e por estes êmbolos” (v.23); tato: “Fazendo-me um excesso de carícias ao
corpo numa só carícia à alma.” (v.25); paladar: “Tenho os lábios secos” (v.10); “Por todas as
papilas” (v.9)

- Simultaneidade e exacerbação sensoriais: “E arde-me a cabeça de vos querer


cantar com um excesso / De expressão de todas as minhas sensações” (vv.12-13); «Poder
ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, / Rasgar-me todo, abrir-me completamente,
tornar-me passento / A todos os perfumes de óleos e calores e carvões» (vv. 29-31); A
pluralidade sensorial («Sentir tudo de todas as maneiras») enquanto método de
conhecimento da dinâmica da vida moderna. A intensidade e o sincronismo conferem maior
capacidade de captação sensitiva, já que esta se caracteriza pela sua fugacidade e
fragmentação.

conclusão:

- Interpretação e simbolismo do último verso: O verso/estrofe final, por um lado,


sintetiza a atitude de deslumbramento do sujeito poético face à modernidade que enaltece
ao longo do poema e com a qual manifestamente deseja fundir-se, mas, por outro lado,
ressalta o reconhecimento da impossibilidade dessa osmose a advém a sensação de
frustração de se saber, como no início do poema, apenas observador que se propõe cantar
uma realidade de que verdadeiramente não participa.

- Relação com a introdução: “Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!” (v. 107) –
desejo frustrado de abarcar por inteiro toda a realidade e toda a humanidade, apesar de
todo o esforço literário empregue no cântico.
A apetência para experimentar tudo de todas as maneiras leva-o a querer ser toda a gente
ao mesmo tempo. Esta confusão de identidades é o resultado da vida moderna que assiste
à compressão do tempo e do espaço, com as consequências que se adivinham ao nível da
personalidade.

Estrutura externa
- Classificação da composição poética
- Classificação estrófica, métrica e rimática

Linguagem
- Diferentes registos de língua: - Linguagem corrente - “Ah, poder exprimir-me todo
como um motor se exprime!” (v. 26); “Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!” (v. 58);
- Literária - “O burro anda à roda, anda à roda, /E o mistério do mundo é do tamanho disto.”
(vv. 50-51);
- Intercalada com momentos linguísticos marcados pelo excesso, como, por exemplo -
«Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, /Rasgar-me todo, abrir-me
completamente, tornar-me passento/A todos os perfumes de óleos e calores e
carvões/Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!» (vv.29-31).

Estilo

- Inovação poética:
Rutura ao nível do conteúdo:
- o uso de palavras completamente prosaicas (comuns ou vulgares);
- o canto excessivo da civilização industrial (a “flora estupenda, negra, artificial e insaciável!”
[v. 32] das fábricas)
- e a ousadia de abordar alguns aspetos negativos da sociedade (“Progressos dos
armamentos gloriosamente mortíferos! / Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos,
aeroplanos!” [vv. 39 e 40]).

Apresenta rutura ao nível da forma:


- irregularidade estrófica, métrica e rimática, que infringe os cânones literários até então;
- o uso excessivo da coordenação;
- a catadupa de recursos expressivos (onomatopeias ousadas, apóstrofes e enumerações
exageradas);
- discurso aparentemente caótico, a sugerir a exaltação descontrolada do eu lírico e a
ideologia de que uma nova realidade pede um novo tipo de poesia.

- Estruturas rítmicas:
Apesar do comprimento dos versos, predomina o ritmo rápido e frenético, sobretudo devido
à pontuação, às interjeições e às onomatopeias: “Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo,
ferreando,” (v. 24); “Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!” (v. 33); No
entanto, há momentos em que o verso longo confere um ritmo lento à ode “Só porque
houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, / E pedaços do Alexandre Magno do
século talvez cinquenta, / Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do
século cem” (vv. 20-22)

Recursos expressivos

- Apóstrofe – “Ó coisas todas modernas, / Ó minhas contemporâneas, forma atual e


próxima” (vv. 45-46)

- Aliteração – “de ferro e fogo e força” (v. 16)

- Anáfora – “Olá grandes armazéns com várias secções! / Olá anúncios elétricos que
vêm e estão e desaparecem!/ Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é
diferente de ontem! (vv. 35-37)”

- Metáfora – “flora estupenda, negra, artificial e insaciável» (v. 32); «sou o calor
mecânico e a eletricidade!” (v.32)

- Enumeração – «Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! / Ó cais, ó


portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!» (vv. 64-65); …

- Gradação – “Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento” (v. 30);


“Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim” (v. 71).

- Onomatopeia – “r-r-r-r-r-r-r eterno” (v. 5); “Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! / Hé-la!
He-hô! H-o-o-o-o! / z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!” (vv. 104-106)

- Interjeição – “Ó” (v. 34); “Ah” (v. 26); “Olá” (v. 35); “Eh” (v. 69), “Eia” (v. 83)

- Empréstimo – “rails” (v. 101)

- Neologismo – “submarinos” (v.40); “aeroplanos” (v.40); “árvore-fábrica” (v.93)

- Pontuação – Exclamativas e interrogativas: “Eia! sou o calor mecânico e a


eletricidade / Eia! E os rails e as casas de máquinas e a Europa!” (vv. 100-101); “Ao
ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?” (v. 76)

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