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IMPORTÂNCIA DO TÍTULO
A palavra ode, de origem grega, significa cântico laudatório ou de exaltação de uma
pessoa, instituição ou acontecimento. Com o epíteto de Triunfal, pretendeu o poeta não
só vincar, mas também hiperbolizar o significado de ode, apontando para qualquer coisa
de grandioso, não apenas no conteúdo, mas também na forma, imprimindo-lhe uma
sugestão de força ou exagero, em nítida coerência com a estética do Futurismo /
Sensacionismo. Desta forma, todo o elogio da obra incide sobre a Era Moderna e
Industrial.
ASSUNTO
Sob influência de Marinetti e Walt Whitman, a Ode Triunfal canta o triunfo da técnica,
as máquinas, os motores, a velocidade, a civilização mecânica e industrial, o comércio,
os escândalos da contemporaneidade... Sentir tudo de todas as maneiras é o ideal
esfuziantemente revelado pelo sujeito poético, sentir tudo numa histeria de sensações,
que lhe permitam identificar-se com as coisas mais aberrantes («Ah, poder exprimir-me
todo como um motor se exprime!/ Ser completo como uma máquina!»).
DESENVOLVIMENTO DO ASSUNTO
Introdução (1.ª estrofe):
Localização do sujeito poético: engenheiro situado no interior de uma fábrica;
Atividade a que se dedica: escrita, a partir da contemplação do que o rodeia ("Tenho
febre e escrevo") - v. 2;
Logo, pode afirmar-se que o estado de espírito do sujeito poético é de dor, violência e
febre, causadas por sensações contraditórias: a beleza do que o rodeia é dolorosa, isto é,
causa-lhe dor, deixa-o doente.
De seguida, surge um novo conceito de estética: novo conceito de beleza, "totalmente
desconhecida dos antigos" (v. 4).
Ricardo Moreira
Colégio Internato dos Carvalhos ANO LETIVO: 2019/2020
“Uma Escola de Futuro com Valor(es)”
Conclusão (último verso):
A fábrica aparece então como motivo inspirador para a homenagem a esta civilização
moderna, que submerge o eu poético, nevrótico e fragilizado («tenho febre»; «fúria fora
e dentro de mim», «meus nervos», «arde-me a cabeça»). É este universo de «lâmpadas
eléctricas», «rodas», «engrenagens», «máquinas», «correias de transmissão»,
«êmbolos» e «volantes» que o faz sentir-se simultaneamente incomodado e atraído pela
ruidosa dinâmica dos «maquinismos em fúria».
A vertigem das sensações
Estabelecendo com esta «flora estupenda, negra, artificial e insaciável» uma ligação
eufórica e exaltada, o sujeito poético deixa-se seduzir vertiginosamente por um excesso
de sensações que mal tem tempo de fixar na sua «mente turbulenta e encandescida».
Sente-se arrebatado por um universo, onde a velocidade, a força e o progresso têm
expressão e, por isso, confessa: «Nem sei se existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-
me. / Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!». A violência de sensações fá-lo
desejar «ser toda a gente e toda a parte» e limitar a si próprio e ao gozo do instante
qualquer noção de temporalidade («O Momento estridentemente ruidoso e
mecânico....»).
Ricardo Moreira
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“Uma Escola de Futuro com Valor(es)”
A temporalidade unificada
A atração erótica pelas máquinas
Esta visão excessiva e intensa do real provoca no sujeito poético um estado de quase
alucinação, marcadamente sensual: «Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa
só carícia à alma.»; «Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,/ Rasgar-me
todo, abrir-me completamente...»; «Amo-vos carnivoramente,/
Pervertidamente...»; «Possuo-vos como a uma mulher bela...». Esta paixão quase erótica
pelas máquinas e este entusiasmo pela civilização moderna assume aspectos de um certo
masoquismo sádico, que inspira no sujeito poético sensações novas e violentas,
experimentadas até ao histerismo: «Atirem-me para dentro das fornalhas! / Metam-me
debaixo dos comboios! / Espanquem-me a bordo de navios! / Masoquismo através de
maquinismos!». Logo, não é estranha, por isso, não só a tendência do sujeito poético
para humanizar as máquinas («Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!»;
«Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força...»), como também a tentativa de ele
próprio se materializar, ou tornar-se parte delas: «Ah, poder exprimir-me todo como um
motor se exprime! / Ser completo como uma máquina!»; «Rugindo, rangendo, ciciando,
estrugindo, ferreando...».
A denúncia social
Em relação a este tópico, convém registar ainda que a força e a agressividade do sujeito
poético são permanentemente quebradas pela evocação irónica do reverso da medalha
da civilização industrial: a desumanização («Progressos dos armamentos gloriosamente
mortíferos!»; «...injustiças, violências...»), a hipocrisia e a futilidade («...ó grandes,
banais, úteis, inúteis, / Ó coisas todas modernas...»), a corrupção, os escândalos
políticos e financeiros («Orçamentos falsificados!»; «Deliciosos escândalos financeiros
e diplomáticos...»), os falhanços da técnica («Eh-lá grandes desastres de comboios! /
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!»), a miséria e a devassidão das multidões
(«Maravilhosa gente humana que vive como cães, / Que está abaixo de todos os
sistemas morais...»).
Para além disso, a aguda sensibilidade do sujeito poético revelada na denúncia do lado
negativo e desumano da civilização moderna é uma atitude literária, em que a perfeição
e a força das máquinas parecem ser, afinal, compensações para os seus próprios
Ricardo Moreira
Colégio Internato dos Carvalhos ANO LETIVO: 2019/2020
“Uma Escola de Futuro com Valor(es)”
fracassos e para a sua inadaptação, que irão marcar a última fase poética de Álvaro de
Campos.
Recursos expressivos
Ricardo Moreira
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