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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DE VITÓRIA

FACULDADES INTEGRADAS SÃO PEDRO

UNIDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE

ANDRÉ DOS SANTOS PIMENTEL

SAGRADO CANIL DE HOMENS:

DA SANTIDADE DE FRANCISCO DE ASSIS À ALIENAÇÃO

DO ACOLHIMENTO IMPRODUTIVO

VITÓRIA

2009
ANDRÉ DOS SANTOS PIMENTEL

SAGRADO CANIL DE HOMENS:

DA SANTIDADE DE FRANCISCO DE ASSIS À ALIENAÇÃO

DO ACOLHIMENTO IMPRODUTIVO

Relatório de Estágio apresentado às Disciplinas


Estágio Básico I e II do Curso de Psicologia da
Unidade de Ciências Médicas e da Saúde da
Associação Educacional de Vitória, como requisito
final para obtenção de nota.

VITÓRIA

2009
“Comungar é tornar-se um perigo: viemos pra incomodar.”

Cecília Vaz Castilho


SUMÁRIO

ESTÁGIO DE EMBRIÃO ......................................................................................... 05

A CHEGADA NA FRATERNIDADE CATÓLICA ..................................................... 07

DISPOSITIVOS: O GRUPO E AS OFICINAS.......................................................... 10

A OFICINA DE MUSICALIZAÇÃO .......................................................................... 12

O CINE NA FRATERNIIDADE ................................................................................. 13

CANIL DE HOMENS ................................................................................................ 15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 19

ANEXOS .................................................................................................................. 21
ESTÁGIO DE EMBRIÃO

A naturalização do termo estágio em ambientes de ensino dificulta a visão do


mesmo enquanto estado, fase ou momento. Parece adquirir um caráter pragmático
que se segue por uma série de terminologias acadêmicas de fim de curso. Gostaria
de mostrar, nesse primeiro momento, como se deu a fase embrionária dessa
empreitada em que tentamos trazer a rua para o quintal de casa, e, junto com ela,
seus habitantes, como vizinhos esquecidos e/ou mal-vindos em nosso território.

Em um momento pré-reflexivo da disciplina de Estágio Básico, que teve como


enfoque a situação dos moradores de rua, passeamos por algumas linhas de
atuação, como a pesquisa em referenciais teóricos tangentes à caracterização
contemporânea das metrópoles (bem como os sentimentos reflexivos que se criam
em torno das mesmas) e à pessoa do morador de rua; a vivência inicial nas ruas do
Centro da cidade de Vitória; e, posteriormente, a vivência em uma fraternidade
católica de acolhimento de moradores de rua.

A primeira vivência de rua do grupo no estágio foi um encontro com a entidade “rua”,
no Centro de Vitória. Ali, após discutir brevemente sobre as experiências pessoais
de cada membro, o grupo partiu para uma caminhada em duplas pelas ruas. A
sensação de penetração em um novo espaço ficava clara à medida que as cenas de
um cotidiano até então desconhecido se revelavam aos olhares: em sentido oposto
aos espaços movimentados do cotidiano, que conferem cor de povo, sociedade e
multidão aos conglomerados urbanos, a rua do centro de Vitória à noite exibe o
vazio da urbe e suas novas configurações.

O povo da rua, que durante o dia aceita ou finge aceitar o papel de coadjuvante
social de tudo, mostra-se com suas características afloradas, com sua coletividade
pulsante e escancarada de humanidade, averso a modelos e formatos, como diz
Espinosa na fala de Pilatti:

Espinosa é o primeiro pensador da era moderna a dizer: não, multidão é


outra coisa. Multidão é a substância produtiva do desejo, do trabalho e do
afeto humano. A multidão vem antes, a multidão produz, a multidão resiste,
a multidão recusa armadilhas, caixinhas e jaulas do poder, do direito, dos
tribunais, dos parlamentos, da representação, etc. A modernidade
hegemônica se traduz politicamente como medo da multidão: é preciso
domá-la, é preciso contê-la, é preciso limitá-la. Para a modernidade
alternativa, ao contrário, a multidão é produtividade, afetividade e desejo
em busca de liberação. (PILATTI, 2004, p. 60)

A imersão nesse ambiente, fez com que a insegurança do novo e desprotegido


lugar, aos poucos desse espaço à vivência pura e simples da liberdade
proporcionada pela rua, do lugar sem lugar que não necessariamente se dobra às,
por vezes, desconexas regras sociais estabelecidas para os lugares civilizados,
como adiante sublinharia o sociológico polonês Zygmunt Bauman.

Bauman (2004) traça o perfil de insegurança que se produz nos centros urbanos da
contemporaneidade, em que o encontro é relegado a situações limítrofes e usuais. A
civilidade, para o sociólogo, é a “atividade que protege as pessoas umas das outras,
permitindo, contudo, que possam estar juntas”, e, segundo Sawaia (1999), esse
processo civilizatório acaba por produzir elementos de exclusão e inclusão, que
delineiam uma sociedade com lugares bem definidos para cada componente do
tecido social.

A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem


social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos
inseridos de algum modo, nem sempre decente e digno, no circuito
reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande maioria da
humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se
desdobram para fora do econômico. (SAWAIA, 1999, p.8)

Descobrir, desvendar e mostrar essa inserção manca e a figuração de cada ator


social nesse universo tornou-se o tema de outras discussões do grupo, que transitou
por textos e reflexões acerca da conceituação formulada em torno da realidade nas
ruas. Para tanto, retomamos a discussão da Modernidade Líquida de Bauman, e
revisitamos textos de apoio, como “Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade
da população de rua e o desafio para políticas de saúde” de Adorno e Varanda e
“Sujeitos no Sumidouro: A experiência de criação e resistência do Jornal Boca de
Rua” de pesquisadores da cidade de Porto Alegre.

Tais discussões, somadas à experiência da vivência da semana anterior suscitaram


questionamentos sobre a definição do morador de rua, qual a melhor abordagem e,
em especial, a dinâmica e a construção de espaços privados e purificados, cujas
diferenças são amansadas e higienizadas e, em função dessa modelização, não tão
ameaçadoras quanto o desequilibrado lado de fora da rua, que nos incutiu intensos
sentimentos de insegurança frente às cotidianidades mantidas escondidas e,
portanto, desconhecidas. Bauman (2004, p. 126), descreve com grande propriedade
o clima dominante no grupo após essa primeira vivência de rua:

Esforço para manter à distância o “outro”, o diferente, o estranho e o


estrangeiro, e a decisão de evitar a necessidade de comunicação,
negociação e compromisso mútuo, não são a única resposta concebível à
incerteza existencial enraizada na nova fragilidade ou fluidez dos laços
sociais. (…) A atenção agudamente apreensiva às substâncias que entram
no corpo pela boca e pelas narinas, e aos estranhos que se esgueiram sub-
repticiamente pelas vizinhanças do corpo, acomodam-se lado a lado no
mesmo quadro cognitivo. Ambas ativam um desejo de “expeli-los do
sistema”.

Para a definição do morador de rua, tocamos diferentes posições e lugares de


conhecimento, que “variam conforme a natureza do olhar, seja de fora ou de dentro
desse meio, ou da ótica institucional.” (Varanda & Adorno, 2004, p.58). Encontramos
também referências na obra “População de Rua – Quem é, como vive, como é vista”
(Vários Autores), que fala das vias pelas quais a sociedade de compra e venda da
força de trabalho força a manutenção de um fundo de consumo (alimentação,
moradia, vestuário, condução) para a venda da força de trabalho, e de como as
situações de privação vão deteriorando esse fundo e as condições dele advindas.

Neste processo, seu papel de provedor sofre uma desqualificação e ele


passa a ser alvo de pressão por parte da família, bem como do mercado de
trabalho. Este é um dos caminhos possíveis da chegada até a rua,
momento em que o trabalhador, sob essa pressão, rompe os vínculos com
a família e o trabalho, atravessando o limiar tênue que no imaginário social
estabelece os parâmetros de uma ordem legítima da vida. (Vários Autores,
1994, p.19)

Esse processo indica uma essência comum a grande parte dos moradores com
quem conviveríamos na fraternidade católica, para os quais a rua constituiu-se
enquanto alternativa às inúmeras circunstâncias relacionadas às histórias de vida
pessoais, condições físicas e mentais.

A CHEGADA NA FRATERNIDADE CATÓLICA

Em maio de 2008 tiveram início os trabalhos na Fraternidade Católica, em que um


primeiro contato com o Irmão Francisco (nome fictício) introduziu as atividades
realizadas. Já no primeiro dia houve um tímido encontro com alguns dos “irmãos
acolhidos” (termo utilizado para a definição dos moradores de rua abrigados na
Fraternidade Católica), que ainda estavam acordados.

Logo após esse primeiro contato, a metodologia que se seguiria para a atuação na
Fraternidade Católica se definiu sem a necessidade de estudos preliminares. A
imersão do projeto político da pesquisa-intervenção gritava como única forma válida
para viver em plenitude os roteiros imanentes à vida de cada irmão acolhido, por
meio da revisão das relações entre sujeito e objeto e entre teoria e prática.

O que se pretendeu nesse locus temporal de imersão na Fraternidade foi muito mais
a experiência da produção de acontecimentos do que uma produção de verdades
científicas.

A leitura de Adoírno sobre o que é intervenção auxilia a compreensão do tipo de


pesquisa e do trabalho realizado:

Intervenção que carrega não só o sentido da intromissão violenta, como se


naturalizou compreende-la, mas no resgate de uma interventio que
contempla a idéia de um “vir entre”, “interpor-se”. (Ardoíno, 1987 apud
Paulon, 2005).

Longe da busca de uma intelectualidade imagética e academicista, mas ciosos pela


penetração na multiplicidade de sentidos e sentimentos, as palavras de Gramsci
refletiriam com clareza alguns dos ideais da forma que construímos para estar na
Fraternidade Católica.

O erro do intelectual consiste em acreditar que se possa saber sem


compreender e, principalmente, sem sentir e estar apaixonado, (…) isto é,
em acreditar que o intelectual possa ser intelectual (e não um mero
pedante) sem sentir as paixões elementares do povo, compreendendo-as
e, assim, explicando-as e justificando-as em determinada situação
histórica. (GRAMSCI, 2004, p. 139)

Gramsci, ao falar da paixão, fala claramente da implicação das histórias observadas


na vida do pesquisador, nas transformações que ocorrem em seu mundo quando da
inserção no campo da pesquisa. Entre paixão e implicação, o pensamento de
Lourau é clarificador: “estar implicado é admitir que sou objetivado por aquilo que
pretendo objetivar” (Lourau apud Paulon, 2005).

Na segunda semana, houve um contato maior em torno da mesa do refeitório, com a


apresentação de todos e formação de pequenos grupos para conversa entre
acolhidos e alunos. A partir desse momento, o caráter desumanizado do morador de
rua dava lugar à emergência de seres humanos potentes e pulsantes, ainda que
relegados a um plano de estratificação social que lhes reserva um lugar de silêncio e
timidez forçada.

Sobre a ideia nietzschiana de vontade de potência, adormecida, mas ainda viva nos
irmãos acolhidos, remeto o leitor às palavras do próprio ao dizer da força do homem,
que se cria e se destrói nas emergências de sentido de vida e do eterno retorno:

E sabeis... o que é pra mim o mundo”?... Este mundo: uma monstruosidade


de força, sem princípio, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força...
uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimos, ou
rendimento,... mas antes como força ao mesmo tempo um e múltiplo,...
eternamente mudando, eternamente recorrentes... partindo do mais
simples ao mais múltiplo, do quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente,
mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez...
esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do
eternamente-destruir-a-si-próprio, sem alvo, sem vontade... Esse mundo é
a vontade de potência — e nada além disso! E também vós próprios sois
essa vontade de potência — e nada além disso! (NIETZSCHE, 1987,
p.397)

Com as demais vivências, os moradores de rua abrigados na Fraternidade Católica,


assumiram rosto e identidade, passaram a ter suas histórias de vidas
compartilhadas e começaram a abrir espaços para pequenos núcleos de
intervenção, num ritmo ainda desconhecido, mas que se definia a cada encontro e a
cada fala do acolhido.

A reinvenção das formas de vida presente na fala dos moradores traz à tona a
noção de autopoiese formulada pelos biólogos Humberto Maturana e Francisco
Varela e lembrada por Virginia Kastrup em sua obra “A Invenção de Si e do Mundo:
uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição”.

De acordo com os biólogos, os acontecimentos na vida dos indivíduos em um


determinado instante dependem de sua estrutura nesse instante, e essa estrutura é
tão somente a maneira como os componentes interconectados de um sistema
interagem sem alterar sua organização. É o devir o resultado dessa interação entre
organismo e meio, sempre em interferência mútua:

Organismo e meio são já resultados, efeitos de uma rede processual,


constituindo-se reciprocamente e apresentando-se como fontes mútuas de
perturbação. O meio não preexiste como um espaço ou continente onde o
organismo vai situar sua existência, mas é constituído pelo organismo
como um ambiente de vida. [...] a estrutura do organismo resulta da história
de seus acoplamentos com meios específicos. Seres vivos e ambiente
definem-se como séries marcadas por dinâmicas distintas, ambos em
deriva. (KASTRUP, 1999, p.114-115)

A subjetividade inventiva e problematizadora que perpassava os relatos emergentes


em cada nova conversa mostrava a potência criadora frente ao novo que existia nos
moradores de rua com quem mantivemos contato. Essa ideia remete-nos à
impossibilidade de manutenção de um estado fixo. Fala da variação e não se
restringe a um sistema fechado e indiferente às condições que o ambiente lhes
impõe. Pelo contrário: vão à rua e se reinventam, se reconfiguram como moradores
de rua ontem, acolhidos hoje e devir agora e amanhã.

DISPOSITIVOS: O GRUPO E AS OFICINAS

Trazer a idéia foucaltiana de dispositivo para pensar o fazer de um processo grupal


na Fraternidade é fundamental em sua compreensão. Gilles Deleuze faz uma leitura
de Foucault acerca dos dispositivos:

Mas o que é um dispositivo? Em primeiro lugar, é uma espécie de novelo ou


meada, um conjunto multilinear. É composto por linhas de natureza
diferente e essas linhas do dispositivo não abarcam nem delimitam sistemas
homogêneos por sua própria conta (o objeto, o sujeito, a linguagem), mas
seguem direções diferentes, formam processos sempre em desequilíbrio, e
essas linhas tanto se aproximam como se afastam uma das outras. Cada
está quebrada e submetida a variações de direção (bifurcada,
enforquilhada), submetida a derivações. Os objetos visíveis, as enunciações
formuláveis, as forças em exercício, os sujeitos numa determinada posição,
são como que vetores ou tensores. (DELEUZE, 1990, p. 155)

O grupo de acolhidos da Fraternidade Católica ilustra a idéia de Foucault sobre


linhas de sedimentação, observadas através do discurso contido e/ou preso
compartilhado no estágio. Todavia, a exploração das chamadas “linhas de fissura”
foi o norte de nossa experiência no terreno da fraternidade católica.
Concomitantemente às falas recolhidas, manifestavam-se formas de criação e
reconfiguração de espaços, formas e sentidos por alguns moradores que não
aceitavam o lugar de mero “acolhido à espera da morte”.
Dessa forma, o grupo em si constitui-se enquanto dispositivo. Referenciando a idéia
de dispositivos como “máquinas de fazer ver e de fazer falar”, intentamo-nos em
promover bons encontros entre os moradores para que os mesmos pudessem, de
fato, experienciar a grupalidade em que deveriam viver ao compartilhar
diuturnamente o mesmo espaço social1. Longe de insinuar que esse
compartilhamento deveria ser definidor de comportamentos universais, a menção ao
coletivo alude à deficiência primordial na utilização do dispositivo grupal.

As falas portadoras de afetos congelados em territórios fechados, quando


acionados pelo dispositivo grupal se vêem na adjacência de uma
inquietação podendo, se intensificados, se deslocar do lugar naturalizado a
que estavam remetidas. (BENEVIDES DE BARROS, 1997, p. 188)

Da latente deficiência observada no grupo no que tange a questão dos dispositivos,


pensamos na formação de oficinas para a descristalização de alguns lugares
colocados na Fraternidade.

A criação e legitimação das oficinas enquanto dispositivos encontra referencial na


fala de Regina Benevides ao caracterizar os dispositivos:

O que caracteriza um dispositivo é sua capacidade de irrupção naquilo que


se encontra bloqueado de criar, é seu teor de liberdade em se desfazer dos
códigos que procuram explicar, dando a tudo o mesmo sentido. O
dispositivo tensiona, movimenta, desloca para outro lugar, provoca outros
agenciamentos. Ele é feito de conexões e ao mesmo tempo produz outras.
(BENEVIDES DE BARROS, 1997, p. 189)

Dessa forma, a promoção das oficinas objetivou, basicamente, torná-las


catalisadoras da produção de analisadores, definidos por Lourau (2004, p. 132) em
“palavra política, liberada e libertadora”.

1
É fato que os moradores acolhidos, apesar de conviverem na mesma casa, não compartilhavam de uma
mesma vivência. Era comum que não soubessem sequer nomes ou histórias daqueles a quem se chamava
“irmãos” acolhidos.
A OFICINA DE MUSICALIZAÇÃO

Ao conversar sobre uma forma de trabalhar de maneiras mais pontuais com os


irmãos acolhidos, o grupo manifestou o desejo de utilizar oficinas de música, artes e
jogos como forma de promoção da capacidade de produção.

Nosso objetivo com essas atividades era a criação de espaços de experimentação e


criação constante de sentimentos, por meio das variações de cada morador em seu
tempo, ritmo e forma. Era, de fato, trazer o caos como elemento de transformação e
criação, o estranhamento como forma de conhecimento de novos fluxos e fuga dos
modelos engendrados no cotidiano.

Em função de vivências musicais outras, decidimos utilizar a música como o espaço


criativo de manifestação dos desejos e necessidades dos moradores da
Fraternidade Católica.

A utilização da música pauta-se na infinidade de possibilidade de produção a partir


dessa. A complexidade do universo da música transborda a barreira do ouvir, do
soprar, do cantar, do tocar, mas envolve antes uma permissão de se deixar levar
pelo sentir o invisível que perpassa o som, de se deixar tocar por sua intensidade.
Fazer, ouvir, sentir e ser música é um amplo processo de aprendizagem no campo
da sensibilidade, capturando forças e efeitos que nela se manifestam. Música é
ruptura com uma realidade consensual objetiva, é a possibilidade de criação da
diferença como norma. Esperávamos fazer desse o momento de livre criação e
manifestação da produção de sentido de cada morador acolhido, com suas
idiossincrasias, desejos e devires.

Apesar da baixa adesão dos moradores, prosseguimos com os senhores Odilon e


Luizinho, que, em conjunto conosco, entre algumas rodas de violão, compuseram
duas músicas que seguem em anexo.

A composição de Luizinho, chamada “Luizinho Vem Cá”, fala de sua infância e dos
momentos que passou até chegar na Fraternidade Católica, ambientada num
cadenciado samba que confere uma certa felicidade travestida de uma história nem
sempre tão alegre.
Já a composição de Odilon, reflete um ponto que seria crucial para pensar todos os
processos que norteiam o saber/fazer na Fraternidade Católica: a dicotomia fé e
alienação. A música, em ritmo de pop rock, fala de um Deus maravilhoso e
misericordioso, que salva e que utiliza a fraternidade católica (e seu fundador) como
o espaço de aproximação com os moradores de rua.

A oficina de música não cumpria seus objetivos em virtude da não adesão dos
acolhidos, como grupo. Apenas Odilon e Luizinho participavam. O primeiro limitado
às suas vontades e, o segundo, sem vontade alguma.

A ideia de pensar a fraternidade individualmente se distancia da proposta inicial de


enxergá-la como um organismo vivo, como um grupo, como socius. Por isso, minha
recusa total em prosseguir com o projeto da oficina de música.

O CINE NA FRATERNIDADE

Após a experiência mal-sucedida da oficina de música, optamos por tentar incentivar


a formação de novas ideias por meio do cinema.

O cinema é capaz de revelar novos olhares sobre questões aparentemente óbvias


e/ou desgastadas e, aliado à sua dinâmica e objetividade, poderia ser uma
alternativa à difícil empreitada de seduzir os acolhidos e incitar o pensamento crítico.
É importante lembrar, nesse momento, que seduzir é um objetivo primeiro, mas, de
forma alguma, pretende ser único. Tê-los em volta da tela é apenas a abertura de
um canal de comunicação e reflexão.

Assim, permeados pela notícia do possível (e provável) fechamento da Toca,


escolhemos como primeiro filme o clássico “Sociedade dos Poetas Mortos”. O filme
é uma produção burguesa e mostra uma realidade bastante distanciada do cotidiano
dos irmãos acolhidos, mas também discute a quebra de paradigmas e a luta e
resistência por mudanças. Dessa forma, pensamos ser o pontapé inicial ideal para
nortear a reconfiguração das subjetividades a partir das mudanças que se seguiriam
com a mudança de tocas2.

Segue abaixo relato retirado do Diário de Campo de 15/08/2009:

Assim sendo, no dia marcado, fui à toca cedo, avisando que voltaria às 16
horas para fazer o cinema. Providenciei pipoca, refrigerantes e, o mais
importante, o data show. Uma tela de mais de 100 polegadas para aqueles
que poucas oportunidades tiveram de frequentar um cinema era o convite
ideal para o momento. O grande problema foi utilizar o DVD da coleção
Cinemateca Veja, que tinha somente o áudio original, ou seja, apenas em
inglês. As legendas não representavam grande conforto para aqueles cuja
alfabetização era precária ou inexistente. Mesmo assim, a magia do cinema
conquistou os acolhidos e, durante duas horas, todos penetraram o universo
da escola preparatória de Welton, no estado de Vermont (EUA). Durante a
primeira hora narrei as legendas, mas depois percebi que as limitações da
linguística em muito pouco ou nada contribuam para enriquecer o momento
e, portanto, os deixei viajar livremente, criando diálogos e lendo as
expressões marcadas nos rostos repletos de humanidade dos atores.
De um ou dois envolvidos na oficina de música, passamos a um grupo de
seis valentes acolhidos que não se intimidaram com o filme em língua
estrangeira.

Antes de passarmos ao próximo filme, cabe salientar o desconforto que eu sentia ao


ver dois grupos distintos na Fraternidade Católica: religiosos e acolhidos. Esses
grupos não possuem congruência alguma, por vezes se tangenciam. E só. Os
papeis são bem definidos: aos religiosos cabe, primeiramente, orar e, nas horas
vagas, prover os alimentos (no sentido mais amplo da palavra) necessários à
sobrevivência dos acolhidos; aos acolhidos cabe sobreviver.

Assim, a escolha do próximo filme deveria responder às perguntas lançadas no


vazio do parágrafo anterior e também se aproximar mais da realidade dos acolhidos.
Numa escolha infeliz optei pelo filme “Batismo de Sangue”. Claramente o cenário do
filme, franco-brasileiro, se aproximava do mundo dos acolhidos, e, de quebra, trazia
importantes apontamentos sobre o caminho do fazer cristão e, portanto, prato cheio
para os religiosos da Toca. O objetivo maior dessa escolha foi reunir religiosos e
acolhidos num mesmo filme. Queria que respirassem o mesmo ar por duas horas e
fossem homens iguais por esse período, dividindo pensamentos, tensões, angústias
e sentimentos. Clarifica-se, entretanto, nesse momento, o abismo entre essas duas
instituições. Não se misturam. Nada é mais importante que rezar para um religioso

2A Fraternidade Católica estava, nesse momento, se preparando para deixar o Espírito Santo, levando toda
sua estrutura (e alguns moradores) para Governador Valadares, em Minas Gerais.
da Fraternidade Católica, e assistir a um filme num sábado à tarde seria um pecado
quase mortal.

O filme, denso, pesado e triste, não encantou os irmãos acolhidos como a


superprodução da semana anterior, apesar dos mesmos recursos audiovisuais e
alimentícios, e pouco a pouco o grupo foi se reduzindo até o final, com apenas duas
pessoas. Eu sabia que o filme não seria tão interessante quanto um faroeste ou uma
comédia, mas, como já relatei, vislumbrei a aproximação desses dois grupos e
estava disposto a pagar o preço do tédio com os lucros da união.

CANIL DE HOMENS

Vários são os relatos biográficos que mostram a relação de São Francisco de Assis
com os animais, baseado num mútuo sentimento de carinho. Joergensen (1982,
p.318) conta-nos de um episódio em que numa caminhada, ao parar para
descansar, uma multidão de aves de diversas regiões vieram lhe saudar, cantando e
pousando em sua cabeça, braços e em volta de seus pés.

O tempo tem mostrado que a inspiração da Fraternidade Católica por São Francisco
de Assis não se limita somente ao auxílio aos pobres, mas também na paixão do
santo por animais. A metodologia de trabalho em muito se assemelha à de um canil:
dá banho, tosa (cabelo e barba) e alimenta. Não há planejamento de atividades que
envolvam os moradores, tampouco momentos de potencialização de suas ações. O
acolhimento proposto pela Fraternidade Católica não supera o modelo de alienação
encontrado em instituições disciplinares como presídios, reformatórios e canis.

Ainda, o discurso dos irmãos acolhidos alimenta um ideal de casa com grande
aproximação ao que Marc Augé chama de lugar antropológico, que seria
simultaneamente:

princípio de sentido para aqueles que o habitam e princípio de


inteligibilidade para quem o observa (...). Entretanto, é também uma ilusão.
Para o indígena, "nada permite pensar que ontem, mais do que hoje, a
imagem de um mundo fechado e auto suficiente tenha sido,...algo além de
uma imagem útil e necessária, não uma mentira, mas um mito inscrito de
maneira aproximada no solo" (AUGÉ, 1994, p. 47).
A Fraternidade Católica enquanto casa constitui em um não-lugar, algo que fugiria
do non sense, e recriaria novos espaços de sentido pela interpenetração de novas
manifestações do sentido que se perdera com a crise da situação de morador de
rua. Entretanto, o freio ideológico imposto pela filosofia da instituição dificulta a
manifestação de qualquer movimentação em sentido contrário ao status quo.

Não há, no repertório de atividades preparado pelos religiosos para os acolhidos,


uma só que potencialize a vida e a socialização desses sujeitos. O cotidiano dos
irmãos religiosos é a oração e, se conveniente, a inclusão dos moradores em
alguma atividade religiosa.

A tônica dos trabalhos da Fraternidade Católica é a caridade. Segundo São


Francisco, “os frades devem pregar sobretudo com as obras” (Joegensen, 1982, p.
245). Ainda sobre o exercício da caridade, escreve São Tiago:

Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as
obras? Porventura a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem
nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser:
Ide em paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas
necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se
não tiver as obras, é morta em si mesma. (Tg 2, 14-17)

Todavia, ao observar as atitudes dos irmãos religiosos em relação aos irmãos


acolhidos, emerge uma confusa percepção de que o objetivo maior da Fraternidade
Católica não é ajudar os pobres, e sim buscar a salvação balizada no cumprimento
de objetivos de uma vida de doação e santidade. Partindo das orientações de São
Francisco e do texto de São Tiago, o pressuposto de que “a fé sem obras é morta”
endossa a opção pelos acolhidos como caminho pelo qual os religiosos seguem a
fim de alcançar o reino dos céus, não pela necessidade do “outro”, e sim pela
caridade do “eu”.

Gilles Deleuze tangencia esse sentimento simultaneamente sacro e mundano em


seu livro “Diferença e Repetição”:

“(…) a fé nos convida a redescobrir de uma vez por todas Deus e o eu


numa ressurreição comum. Kierkgaard e Péguy completavam Kant,
realizavam o kantismo, ao confiar à fé o cuidado de ultrapassar a morte
especulativa de Deus e de curar a ferida do eu” (DELEUZE, 2006, p. 143)
Os leigos que frequentam a Fraternidade Católica, em grande parte, são fortemente
influenciados pela visão neopentecostal que impera no ideário da Toca e,
expressam, através de seus discursos a mesma distância que os religiosos criam
entre eles e os acolhidos, chegando a protagonizar a lamentável cena abaixo
retirada do Diário de Campo de 22/08/2009:

Na exibição do filme “Sociedade dos Poetas Mortos”, pedi a um leigo de voz


alta e clara que lesse as legendas enquanto eu providenciava a pipoca e
assim o fez de boa vontade durante cerca de dez minutos. Ao ser informado
por um religioso que estava na hora da Santa Missa, simplesmente saiu
andando e repetindo pelo menos dez vezes: “missa, missa, missa, missa,
missa, missa, missa, missa, missa, missa...”, deixando os acolhidos sem a
narração das legendas.

Não muito diferentemente dos leigos, os religiosos não tem, em sua maioria,
formação religiosa consistente. Os estágios da formação dessa linha da Igreja
Católica são satisfeitos durante o período de adesão às fraternidades católicas
dessa natureza, desde o começo até a conclusão. De uma forma geral, o corpo
religioso é constituído por iniciantes que, apesar das manifestas boas intenções, não
possuem condições de suprir as carências psicossociais que se apresentam e
tampouco as espirituais, que ficam a cargo do guardião. A figura do guardião,
representada na Fraternidade Católica de Vitória pelo Irmão Francisco (nome
fictício), é cercada por contradições: é o que tem a formação completa e a quem
cabe a orientação e coordenação dos irmãos religiosos e irmãos acolhidos na casa.
Todavia, suas práticas denotam um grande autoritarismo e o cerceamento das
produções espontâneas de qualquer natureza.

O perfil que hoje se manifesta nos irmãos religiosos parece ser muito maior que a
mera presentificação de suas atitudes oriundas de uma formação social distanciada
da realidade dos moradores de rua e da pobreza como fenômeno social, e não
individual. A fala de Guattari (1986, p. 239 e p. 240) sobre o desejo sinaliza o
caminho pelo qual o sentido de justiça social norteador dos pensamentos dos irmãos
religiosos se funda:

Acho muito mais vantajoso partir para uma teoria do desejo que o
considere como pertencendo propriamente a sistemas maquínicos
altamente diferenciados e elaborados (…) Há máquinas territorializadas,
assim como também máquinas desterritorializadas que funcionam num
nível de semiotização completamente outro.
E mais adiante:

O desejo (…) também pode, como toda máquina que se preze, se


paralisar, se bloquear (e até muito mais do que qualquer máquina técnica);
ele corre o risco de entrar em processos de implosão, de autodestruição,
que no campo social poderão se manifestar através de fenômenos que eu
e Deleuze chamamos de “microfascismos”.

O desdobramento da fé na vida dos religiosos parece atingir labirintos atitudinais que


se confundem em um processo de territorialização de práticas esvaziadas de
sentido, que atendem a campos ideologicamente pautados no cristianismo
neopentecostal norteador da teologia da prosperidade. O que se expressa na
Fraternidade Católica são práticas descoladas de um campo social efetivamente
transformador e permissivo ao devir, à criação e à potência de vida presentes na fala
de cada morador com quem tivemos contato ao longo dessa experiência.

Maior que qualquer sentimento de pena ou misericórdia produzido no senso comum


em relação aos moradores de rua, o que fica da experiência na Fraternidade
Católica é a opaca atuação dos religiosos, que mostram grande distanciamento do
sentido coletivo de ação social. Fica o rosto do morador de rua acolhido refletido em
nós, fica a ideia de Decloux:

O modo pelo qual se apresenta o Outro, superando a idéia do Outro em


mim, nós o denominamos, com efeito, rosto. Este modo não consiste em
figurar como tema sob o meu olhar, tampouco consiste em desdobrar-se
como um conjunto de qualidades que formam uma imagem. O rosto do
Outro destrói em cada momento e ultrapassa a imagem plástica que deixa
em mim mesmo, a idéia à minha medida e à medida do seu ideatum – a
idéia adequada. (DECLOUX, 1964, p. 717).

O rosto anárquico e subversivo de cada morador, os problemas demonstrados no


silêncio e nas palavras expressos em cada relato, em cada vivência, mostram que
os irmãos acolhidos, de fato, acolhem os irmãos religiosos em um choque de
realidade e pulsão, que colore seu fazer e perpetua sua fé.

Apresenta-se, na Fraternidade Católica, uma pseudo-relação de coexistência


pacífica, em que as rupturas se encarregam de conferir vida e caos a um mundo de
isopor.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTOÉ, S. (org.) René Lourau: Analista Institucional em Tempo Integral. São


Paulo, Hucitec, 2004.

AUGÉ, M. Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade.


Campinas: Papirus, 1994.

BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

BENEVIDES DE BARROS, R. D. Dispositivos em Ação: O Grupo. Saúde e


Loucura 6: São Paulo: Hucitec, 183-191, 1997.

BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução do Centro Bíblico Católico. 156 Ed.,
São Paulo, Ave Maria, 2003.

DECLOUX, S. Existence de Dieu et rencontre d’ Autrui. Nouv. Rev. Théol.


86,1964.

DELEUZE, G. Diferença e Repetição. 2 ed., Rio de Janeiro: Graal, 2006.

___________. ¿Que és un dispositivo? In: Michel Foucault, filósofo. Barcelona:


Gedisa, 1990, pp. 155-161. Tradução de Wanderson Flor do Nascimento.

GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. 3 ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,


2004.

GUATTARI, F. & ROLNIK, S. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis:


Vozes, 1986.

JOERGENSEN, J. São Francisco de Assis. Petrópolis: Vozes, 1982.

KASTRUP, V. A Invenção de Si e do Mundo: uma introdução do tempo e do


coletivo no estudo da cognição. Campinas: Papirus, 1999.

MIZOGUCHI, D.; COSTA, L.; MADEIRA, M. Sujeitos no Sumidouro: A experiência


de criação e resistência do Jornal Boca de Rua. Porto Alegre: Psicologia e
Sociedade, 2007.
NIETZSCHE, F. Assim Falava Zaratustra. In: Os pensadores. São Paulo: Abril
Cultural, 1984.

PAULON, S. M. A análise de implicação como ferramenta na pesquisa-


intervenção. Psicologia e Sociedade, v. 17, p. 16-23, 2005.

PILATTI, A. “O Poder Constituinte na Perspectiva de Antonio Negri”, in: Mundo e


Sujeito: Aspectos Subjetivos da Globalização. ABDALLA, M. e BARROS, M.E.B.
São Paulo: Paulus, 2004.

SAWAIA, B. As Artimanhas da Exclusão: Análise psicossocial e ética da


desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 1999.

VARANDA, W; ADORNO, R. Descartáveis urbanos: discutindo a complexidade


da população de rua e o desafio para políticas de saúde. São Paulo: Saúde e
Sociedade, 2004.

VÁRIOS AUTORES. População de Rua: Quem é, como vive, como é vista., São
Paulo: Hucitec, 1994.
ANEXO A

Música: Luizinho Vem Cá


Composição: Luizinho

Sabe, às vezes me pego a lembrar


Moleque travesso já fui de soltar pipa no céu

Jorge, quantas vezes falei pra você


Canário dos outros não é pra mexer
Venha correndo, me dê sua mão
Vamos brincar até o anoitecer

Ê... ou até mamãe:


- Luizinho vem cá, ou então rapaz
Chicote via sambar
Ê... ou então rapaz, chicote vai sambar
Lá, lá, laia, laia (2x)

Mas nem toda a lembrança me faz sorrir


Com fome e com frio eu até me esqueci
Que um dia tive um canto pra dormir

Fui um tempo um nobre catador


Quanto tinha talento até pra ser professor
Mas dessa quem me chama eu sei que é Deus
Que me ama como um filho que é seu

Tinha talento, laia, laia


- Luizinho vem cá, ou então rapaz
Pra fazer todo mundo brincar
Chicote via sambar
Sorrir com alegria
Que jamais fugirá
Lá, lá, laia, laia (2x)
ANEXO B

Música: As Aves e As Feras


Composição: Odilon

O céu no infinito
Resplandece o seu brilho
Anunciando o nosso Cristo
Pai Eterno concebido

O povo aqui na Terra


Feliz à Sua espera
Rezando na capela
Ansioso o revela

As aves e as feras
Que vivem sobre a terra
Se agrupam na serra
Com gritos e com festas

Será Cristo nosso amigo


Honrado e recebido
Por seu povo reunido
Com amor e muito riso

Tudo isso é muito unido


Cativante e divino
Resplandece e tem sentido
Satisfaz o nosso espírito
ANEXO C

Filme: Sociedade dos Poetas Mortos

Título Original: Dead Poets Society

Ano de lançamento (EUA) : 1989

Direção: Peter Weir

Roteiro: Tom Schulman

Elenco: Robin Williams , Robert Sean Leonard , Ethan Hawke , Josh Charles , Gale
Hansen

Duração: 02 hs 09 min

Sinopse

Em 1959, num tradicional Colégio da Nova Inglaterra, um grupo de estudantes tem


sua formação rígida abalada com a chegada de um novo e carismático professor de
literatura, John Keating, ex-aluno que volta à cidade depois de vários anos.

Apaixonado por poesia e com um pensamento altamente liberal, ele logo transforma
a rotina de seus alunos com seus métodos pouco convencionais. Cheio de humor e
sabedoria, Keating inspira os rapazes a abrirem suas mentes, a seguirem seus
sonhos e a viverem intensamente. Logo que entra na sala, vai dizendo: "Carpe
diem", aproveitem o dia!.

Acostumados com os métodos opressores e moralistas do colégio, de um hora para


outra, incentivados a pensarem por si mesmos, os jovens passam a encarar seus
próprios desafios. Todd Anderson, por exemplo, é uma pessoa dócil que parece ser
destinada a ser ignorada pelo mundo. Neil Perry, embora seja líder, é
completamente indefeso diante do autoritarismo do pai. Knox Overstreet,
apaixonado por uma bela garota, que namora outro, não sabe o que fazer para
cortejá-la.

Sempre contando com o apoio de Keating, os estudantes reabrem uma antiga


sociedade secreta, a chamada "Sociedade dos Poetas Mortos". Os jovens
demonstram ter energia e criatividade, mas sua imaturidade é o grande problema.

Em pouco tempo, entretanto, os resultados começam a aparecer e, com eles, os


conflitos com as atitudes conformistas dos pais e da ortodoxa direção do colégio.
Considerados rebeldes, na realidade eles estão dando seus primeiros passos para
se tornarem adultos.
ANEXO D

Filme “Batismo de Sangue”

Título Original: Batismo de Sangue

Ano de lançamento (FRA/BRA) : 2007

Direção: Helvécio Ratton

Roteiro: Helvécio Ratton e Dani Patarra, baseado no livre homônimo de Frei Betto.

Elenco: Caio Blat, Daniel de Oliveira, Cássio Gabus Mendes, Ângelo Antonio, José
Carlos Aragão, Odilon Esteves

Duração: 01 h 50 min

Sinopse

Na cidade de São Paulo, no final da década de 1960, o convento dos frades


dominicanos torna-se uma das mais fortes resistências à ditadura militar vigente no
Brasil. Movidos por ideais cristãos, os freis "Tito", "Betto", "Oswaldo", "Fernando" e
"Ivo", passam a apoiar logistica e politicamente o grupo guerrilheiro Ação Libertadora
Nacional, comandado à época por Carlos Marighella. O grupo dissocia-se após uma
conversa entre Frei Diogo e seus frades, onde conlui-se a necessitade de dispersão
do grupo a partir de então.

Frei Ivo e Frei Fernando partem para o Rio de Janeiro, onde são surpreendidos e
torturados por oficiais brasileiros que, acusando-os de traidores da igreja e traidores
da pátria, perguntam por informações sobre o local de reunião do grupo para a
posterior captura e execução de seu líder, Carlos Marighella. Após sofrerem cruel
tortura, os frades informam aos policiais o horário e o local de reunião do grupo,
onde Marighella costuma receber recursos oriundos da igreja. Marighella é então
surpreendido e executado por policiais do DEOPS paulista, sob o comando do
delegado torturador Fleury. Frei Betto, refugiado no interior do Rio Grande do Sul, é
encontrado, preso, e une-se ao restante do grupo no presídio de Tiradentes, em São
Paulo, em 1971. Os frades são posteriormente julgados e sentenciados a quatro
anos de reclusão em regime fechado.

A única exceção é Frei Tito, que liberto por um processo de negociação para a
libertação de um embaixador seqüestrado pela ALN, exila-se na França. Frei Tito
não consegue superar as seqüelas psicológicas sofridas após ser preso e torturado
e acaba suicidando-se, ainda na França.

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