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[…]A emoção e as várias reacções com ela relacionadas estão alinhadas com a mente”.
António Damásio
Introdução
O capítulo que estudámos tem como principal objectivo distinguir as emoções dos
sentimentos, enfatizando o papel da consciência. Faz uma profunda reflexão sobre os modos
como o organismo participa nestes processos e fundamenta as suas pesquisas através dos
estudos realizados por ele próprio, comparando as suas inferências com os resultados obtidos
por outros cientistas.
Neste capítulo, António Damásio estabelece uma relação directa entre a emoção e o
sentimento. Apesar de habitualmente utilizarmos as palavras: emoção e sentimento, como sendo
sinónimos, o facto é que a essência de ambas diferem uma da outra, embora estejam
estreitamente relacionadas.
A emoção é composta por imagens mentais provenientes dos padrões neurais que
representam as modificações do corpo e do cérebro. Por sua vez, o sentimento resulta da
“equação”: organismo + emoção + efeito causal da emoção no organismo.
O sentir dá-nos a conhecer que sentimos. É este conhecimento que vai permitir
complementar uma emoção e que os seus efeitos possam se repercutir ao longo do tempo
através de respostas adequadas a cada situação. É impossível conhecer um sentimento se não
houver consciência do mesmo. Um sujeito deve estar consciente (acordado) para poder ter as
emoções e os sentimentos. Embora alguns sentimentos possam estar relacionados com as
emoções, muitos não o estão, pois estes relacionam-se também com os nossos padrões de
valores e visão de vida, assim sendo, todas as emoções geram sentimentos, mas nem todos os
sentimentos geram-se nas emoções. As emoções centram-se mais no corpo e os sentimentos na
mente.
Os sentimentos de fundo estão relacionados com o estado corporal que predomina entre
as emoções. São subtis, pelo que subtilmente ficamos cientes que estamos a experienciar um
sentimento de fundo. Quando sentimos alegria, medo, tristeza ou outras emoções, o sentimento
de fundo foi substituído pela emoção que estamos a ter. Por esta razão, muito provavelmente,
são os sentimentos de fundo e não os emocionais aqueles que experimentamos com mais
frequência nas nossas vidas.
O autor aprofunda algumas das noções básicas de James, que refere que os sentimentos
são o reflexo das alterações do estado corpo. As respostas às emoções direccionam-se tanto ao
cérebro como ao corpo, pois a essência do sentimento é formada pela modificação das estruturas
neurais por parte do cérebro. Assim, ao contrário do que James defende, o corpo não é o única
fonte do sentimento. Do mesmo modo, que a proveniência dos indícios manifestados pelo corpo
pode orientar-se por uma representação que não existe potencialmente do corpo (“como se”),
em oposição de uma representação do corpo como realmente existe (“ como é”).
A ideologia defendida por James, resguarda que as manifestações corporais dos
sentimentos não são fundamentais. O facto de parecer que os doentes, com traumatismo na
espinal medula, manifestem sentimentos faz com que muitos autores refutem esta ideia. No
entanto, Damásio destaca o fenómeno de uma porção da comunicação corporal ser enviada pela
espinal medula. Uma grande parte da informação manifestada pelo corpo é revelada pela espinal
medula e outra parte é manifestada pelos nervos que se situam num nível superior à espinal
medula. Assim sendo, uma grande parte das manifestações emocionais depende da espinal
medula, enquanto outra parte depende essencialmente do sistema nervoso ao nível do tronco
cerebral.
Nem toda a informação corporal é transmitida por nervos. A principal função da espinal
medula também é revelada pela circulação sanguínea, sendo localizada no tronco cerebral. Após
vários estudos, o autor pôde concluir que quanto mais elevada a lesão na espinal medula, menor
a capacidade de sentir a emoção. Pois, a espinal medula é um canal importante de transmissão
de sentimentos. No entanto, mesmo que a lesão na espinal medula seja complexa, sempre é
possível a transição de sinais para o sistema nervoso central. Outro facto interessante ainda
referido, é que alguns autores conceberam a ideia de corpo como parte do organismo e omitiram
a cabeça. Esta ideologia é refutada por Damásio, por achar que a parte superior dos aparelhos
digestivo e respiratório e o sistema vocal são responsáveis pelo fornecimento de inúmeros sinais
ao cérebro, ou seja, que não necessitam da espinal medula para tal acontecer. Isto porque a
maioria das emoções expressam-se através da transformação muscular da face e do couro
cabeludo. E mais uma vez, estas representações emocionais não necessitam da espinal medula.
Damásio, para corroborar a sua teoria comparou os seus estudos com os que W. Cannon
tinha efectuado em gatos e cães. As experiências feitas por este cientista consistiam em
seccionar o nervo vago e a espinal medula a estes animais. Estas lesões impediam que o animal
se pudesse movimentar mas, como o cérebro e os circuitos nervosos que permitiam as
expressões faciais estavam intactos, os animais puderam manifestar facialmente as emoções
básicas de zanga, medo e outras. No entanto, como estes animais não são racionais, ou seja não
têm consciência alargada, é totalmente impossível estudar os seus sentimentos. Contudo,
Damásio acredita que os sentimentos devem sofrer modificações parciais porque o animal não
poderá receber os impulsos viscerais, que servem de complemento aos sinais cerebrais.
Também, afirma que Cannon falhou na sua tentativa de provar que os animais têm sentimentos,
porque ele não distinguiu a emoção e o sentimento, bem como, não reconheceu que o processo
era automatizado.
Para continuar a desvendar os mistérios da influência dos danos das lesões cerebrais nas
emoções e nos sentimentos, Damásio observou algumas pessoas que padeciam da síndroma
“Locked in”. Ou seja, pessoas incapazes de se movimentar em absoluto excepto de pestanejar,
mover os olhos e lacrimejar mas, dada a lesão cerebral que apresentam, carecem no absoluto
dos sentimentos de angústia e de encarceramento, que tal situação provocaria em indivíduos que
não padecem desta patologia.
Um dado interessante, é que estes doentes têm intactos os sentimentos de alegria,
tristeza e outros. O autor defende que as imagens que surgem neste caso, não podem ter lugar
pelo “circuito-através-do-corpo” porque o cérebro não consegue sentir o corpo. Desta forma, o
cérebro vale-se das estruturas cerebrais, ainda disponíveis, que estão na origem do sentimento
para o induzir. No entanto, como quase todos os caminhos de comunicação entre o corpo e o
cérebro estão livres, este (o cérebro) continua a receber sinais químicos e neurais dos sistemas
que determinam as emoções de fundo. É a recepção das imagens do mileu interno, que ainda
conseguem chegar ao cérebro, aquilo que permite aos doentes distinguir entre estados
harmoniosos e estados de dor. Como as emoções já não são produzidas no corpo mas sim no
cérebro, os processos da dor são mais curtos, portanto, sentidos por menos tempo.
O sentir do corpo pelo nosso cérebro, que é fundamental para o processo harmonioso de
sentir as emoções, se estiver comprometido, pode alterar de forma significativa a realização de
novas aprendizagens. Segundo estudos realizados por James Mcgaugh e os seus colegas, um
indivíduo que apresente lesões ao nível do nervo vago, pode ficar privado do processo
emocional que potencia a aprendizagem porque fica impossibilitado de receber grande parte da
informação visceral. Este estudo exalta a importância do “circuito-através-do-corpo” porque ele
se encarrega do fornecimento da informação visceral específica fundamental para o processo
emocional que orienta a aprendizagem. Um indivíduo num estado emocional de alegria
consegue reter mais informação do que um indivíduo que esteja a experimentar tristeza. A
alegria ajuda o indivíduo a concentrar-se mais nos novos conteúdos e a empenhar-se mais nas
tarefas de aprendizagem, enquanto que o estado de tristeza conduz o indivíduo a uma atitude de
desinteresse e afastamento.
Apesar das dificuldades iniciais experienciadas, esta leitura foi muito pertinente porque
veio aprofundar alguns conhecimentos sobre o papel das emoções para a aprendizagem.
Reforçando a ideia, já desenvolvida por muitos pedagogos, que a aprendizagem para ser bem
desenvolvida, deve ser significativa para os alunos.