presidente João Goulart e o ministro Expedido Machado da Ponte (belo nome para um ministro de Viação e Obras) haviam decidido construir o Aeroporto Regional de Cascavel às vésperas do golpe de 1º de abril de 1964.
No entanto, após a “quartelada”, logo o aeroporto estaria
cancelado. Jango estaria se escondendo no Uruguai e Machado, após a cassação, seguiu para o exílio em Paris. Mas houve alguém que não se esqueceu da obra. Quando todos silenciavam, com medo de sofrer um doloroso destino, o deputado federal Lyrio Bertoli mostrava o quanto é importante haver um deputado federal persistente e fiel ao programa que defende. Ele insistiu no asfaltamento da BR-277 e persistiu na reivindicação do Aeroporto, que ainda hoje está em banho-maria por conta das trapalhadas dos governantes, que não demonstraram competência e habitualmente lavam as mãos por motivos que não são exatamente os de saúde. Pois bem, como voltamos a rememorar toda a já cinquentenária história do abortado nascimento do novo Aeroporto, lá do paraíso em que vive, Foz do Iguaçu, Lyrio Bertoli nos envia o teor integral de um termo de convênio assinado entre o governo do Paraná e o Ministério da Aeronáutica. Data: 10 de dezembro de 1969. Signatários: major brigadeiro Roberto Faria Lima, comandante da 5ª Zona Aérea, e engenheiro Theodoro Venetikides, representando o Paraná.
O convênio determinava que a Aeronáutica e o Estado do Paraná
iriam construir em conjunto as obras de infraestrutura do aeroporto em Cascavel. Que obras seriam essas? Pistas de pouso e de rolamento, pátio de estacionamento, pavimentação asfáltica ou de concreto e cimento, de acordo com a necessidade, e obras complementares. Interessante que não tinha essa farra atual de “aditivar” com milhares de reais obras atrasadas de propósito. O convênio determinava que os valores não poderiam ser mudados até o fim das obras. Era fazer ou fazer. Como está acontecendo atualmente, o que se deu na época foi também desprezar a construção do novo Aeroporto Regional e optar pela promoção de reformas no velho campo de pouso. Ficava na área onde hoje está o Terminal Rodoviário Helenise Tolentino. Anterior ao atual, inaugurado em 1977, aquele aeroporto, de 1953, tem uma bela história de como os pioneiros se uniam em torno do essencial. Cabe uma referência elogiosa ao prefeito Jacy Scanagatta, que mesmo acossado pela ânsia de uns e outros de trocar o nome do aeroporto teve a dignidade de manter o nome original – Coronel Adalberto Mendes da Silva – determinado pela Câmara e pelo prefeito José Neves Formighieri. Jacy não cedeu à mania de sepultar a história sob a empáfia dos que se acham donos de território, corações e mentes. R
Se alguma crítica poderia caber ao prefeito, ao determinar a
construção do atual aeroporto, em 1976, além da velha história sobre o regime de ventos, é que poderia ter reconhecido a promoção de Adalberto Mendes da Silva a General. Talvez fosse até melhor fazer a alteração, mas a fidelidade ao nome original do aeroporto merece menção favorável. Mudar o nome do aeroporto para homenagear um familiar de figurão endinheirado com a soja seria um desrespeito aos vereadores da primeira legislatura, que deram o nome do aeroporto a esse militar. Mendes da Silva comandou com firmeza e impôs rapidez às obras da atual BR-277 na década de 50 e assim fez jus à promoção ao generalato. Respeitar as legislaturas anteriores é também uma forma de ser correto. É homenagear aqueles que vieram antes e deixaram para as atuais gerações a base desta bela e promissora cidade, cujos verdadeiros donos são aqueles que aqui vivem e trabalham, independente de sua condição econômico-social. ** Dia desses, um velhinho empurrava seu carrinho de material reciclável. Cansado, parou para conversar. Lampejos de sabedoria, coisas de quem merecia uma dessas milhares de vagas em cursos de graduação hoje abertas a toda hora nas universidades. Cascavel é, sim, a cidade dos doutores, mas também dos favelados como o nosso idoso catador de papel. Gostaria de ver mais doutores empurrando a comunidade adiante e menos favelados empurrando pesados carrinhos de recicláveis. Mas, principalmente, é desejável que mais favelados se tornem doutores. Vamos lutar por isso? alceusperanca@ig.com.br .... O autor é escritor