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Num tempo em que o mundo é atravessado por enormes perplexidades e as pessoas são
assaltadas pela dúvida, pelo desânimo e até pelo niilismo, quereria, no décimo
aniversário da sua morte, deixar uma homenagem a um homem que, na situação mais
degradada e degradante dos campos de concentração nazis, mostrou como e porquê é
possível manter a dignidade. Refiro-me a Viktor Frankl, fundador da chamada terceira
corrente de psicoterapia de Viena: a logoterapia.
Ele próprio sintetizou o núcleo do seu pensamento: "O que é, na realidade, o Homem? É
o ser que decide o que é. É o ser que inventou câmaras de gás, mas ao mesmo tempo é o
ser que entrou nelas com passo firme, murmurando uma oração."
A logoterapia parte de uma concepção filosófica que tem o Homem enquanto pessoa
como centro. O impulso primário da pessoa não é, como pensou Freud, a vontade de
prazer, também não é a vontade de poder, como queria Adler, mas a vontade de sentido.
Este sentido não se inventa, mas descobre-se: numa obra, num amor, numa tarefa a
realizar. No fundo, cada um tem de perguntar: o que é que a vida quer de mim? "Em
última instância, viver significa assumir a responsabilidade de encontrar a resposta
correcta para os problemas que a vida coloca e cumprir as tarefas que ela continuamente
aponta a cada pessoa."
O que distingue então Frankl de Freud e de Adler é que enquanto estes reduziam o
Homem a um ser que procura a satisfação dos impulsos em ordem ao restabelecimento
de um equilíbrio homeostático intrapsíquico, para Frankl, ele não é só um sistema
psicológico. É preciso compreendê-lo na sua totalidade: corpórea, psíquica e espiritual.
"A realidade humana refere-se sempre a algo para lá de si mesma. Está dirigida para
algo que não é ela mesma. Os seres humanos procuram mais para lá de si mesmos: um
sentido no mundo. Procuram encontrar um significado a realizar, uma causa a servir,
uma pessoa a quem amar. E só assim os seres humanos se comportam como
verdadeiramente humanos."
Quando as pessoas não encontram sentido, surgem as neuroses que chamou noógenas:
não provêm de conflitos instintivos ou inconscientes, mas da falta de sentido e atingem
o núcleo mais íntimo da pessoa. A logoterapia é precisamente terapia de encontro de
sentido: ajuda cada um a descobrir o sentido pessoal da sua vida a realizar.
No nosso tempo, já não é o sexo que é reprimido, mas o que é espiritual e religioso. Daí,
a falta de sentido, de orientação, e, consequentemente, o tédio e o vazio.