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Exposição a Fumos Metálicos na Soldagem TIG

ÁREA: Engenharia Aplicada e Gestão: novos rumos para a concepção e desenvolvimento de soluções na
indústria.

Jancler Adriano Pereira Nicácio


Petróleo Brasileiro S.A – Refinaria Gabriel Passos – REGAP
Inspeção de Equipamentos e Instalações
jancler@petrobras.com.br
(31) 3529-4583
Rodovia Fernão Dias BR-381 Km 427 Bairro Pintados Betim-MG CEP: 32.510-000

Resumo

Este trabalho possui o objetivo de determinar a exposição ocupacional de soldadores do processo TIG
(Tungsten Inert Gas), a fumos metálicos oriundos do processo de soldagem, usando como critério a ACGIH
(American Conference of Governmental Industrial Hygienists). Este estudo de caso foi realizado em uma
empresa prestadora de serviços de engenharia e consultoria ltda, na obra de construção e montagem de
tubulações industriais em uma refinaria de petróleo, em Minas Gerais. Os fumos metálicos são classificados
como riscos químicos; os riscos químicos são os riscos causados pelas substâncias químicas presentes no
ambiente de trabalho, na condição de matéria-prima, produto intermediário, produto final ou como material
auxiliar. Os dados foram coletados por meio de avaliação de campo da exposição ocupacional a fumos
metálicos. Como resultado da análise, o grupo homogêneo de exposição analisado está exposto a um
potencial de risco moderado. A exposição se encontra sob controle técnico e acima do nível de ação, porém
abaixo do limite de tolerância. A ação tomada pela empresa foi a implantação de um plano de
monitoramento de fumos metálicos no processo de soldagem TIG (Tungsten Inert Gas) com medições de
campo periódicas e exames clínicos e laboratoriais dos soldadores.

Palavras-chave: Soldagem, Fumos Metálicos, TIG, ACGIH.


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1. INTRODUÇÃO
A execução da atividade de soldagem exige por parte do empregador e empregado o cumprimento de
normas e procedimentos relativos à segurança industrial e a higiene ocupacional. Diversos problemas são
oriundos devido ao não cumprimento de normas de segurança. A monitoração e posterior mensuração dos
níveis ocupacionais de exposição no local de trabalho é geralmente a metodologia mais usual de verificação.

Segundo o anuário estatístico da previdência social – AEPS (2007) tem-se que o total de registro de
acidente do trabalho em 2007 no que diz respeito ao sistema respiratório, inclui-se aí os danos causados pela
exposição a fumos, gases e vapores de soldagem 1.189 registros com a comunicação de acidente de trabalho
(CAT) emitida.

O processo de soldagem TIG (Tungsten Inert Gas) é um processo de soldagem atípico, pois
geralmente não produz resíduos de soldagem de grande volume, como gases, poeiras, fumos metálicos
amplamente visíveis como os produzidos nos processos de soldagem mais convencionais como o processo de
soldagem oxi-acetilênica, ou eletrodo revestido que também são muito usados em industriais.

Quais os níveis ocupacionais de exposição dos soldadores que utilizam o processo de soldagem TIG
(Tungsten Inert Gas) a fumos metálicos durante a execução da soldagem TIG em refinarias de petróleo?

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. CONCEITO DE SOLDAGEM


“Denomina-se soldagem ao processo de união entre duas partes metálicas, usando uma fonte de calor,
com ou sem aplicação de pressão. A solda é o resultado desse processo.” (WAINER; BRANDI; MELLO;
1992).

“Operação que visa obter a união de duas ou mais peças, assegurando, na junta soldada, a continuidade
de propriedades físicas, químicas e metalúrgicas.” (MARQUES; MODENESI; 2006).

Na soldagem por fusão temos a participação do metal de adição (metal a ser inserido), do metal base
(material a ser soldado), aplicação de calor localizado na junta soldada, originando a solda, conforme a figura
1 abaixo.

Figura 1. Soldagem por fusão.


FONTE: (MARQUES; MODENESI, 2006)
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A soldagem por fusão é realizada pela aplicação de energia concentrada em uma parte da junta de
forma a conseguir a sua fusão localizada, de preferência afetando termicamente ao mínimo o restante da peça,
para que não promova o aparecimento de distorções e trincas localizadas nas regiões de soldagem, conforme
pode ser visto na figura 2.

Figura 2. Fluxo geral de calor na soldagem por fusão.


FONTE: (MODENESI, 2007)

2.2. PROCESSO DE SOLDAGEM TIG


Segundo Marques, Modenesi e Santos (2005) a soldagem TIG (Tungsten Inert Gas) ou GTAW (Gas
Tungsten Arc Welding) foi patenteada por C.L. Coffin nos Estados Unidos da América na cidade de Detroit
em 1890. É um processo onde o arco elétrico é gerado entre a ponta de um eletrodo de tungstênio não-
consumível e o metal base. A poça de fusão é protegida por um gás inerte de alta pureza que flui do bocal
envolvendo o eletrodo, conforme indicado na figura 3. O processo pode ou não utilizar um metal de adição,
no formato de arame, que pode ser alimentado manual ou automaticamente.

Figura 3. Esquema do processo de soldagem TIG.


FONTE: (MARQUES, MODENESI, 2006)

Este processo produz soldas de alta qualidade, sendo indicada para soldar uma vasta gama de metais e
ligas. É utilizado na produção de soldas de ligas não-ferrosas, aços inoxidáveis, aços resistentes ao calor, entre
outros. Como o foco de calor é concentrado, a geração de distorções é minimizada e a ZTA é relativamente
pequena.
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Os eletrodos usados na soldagem TIG são varetas sinterizadas de tungstênio puro ou com adição de
elementos de liga, tória (óxido de tório) ou zircônia (óxido de zircônio) e sua função é conduzir a corrente
elétrica até o arco. A capacidade de condução varia com a composição química, com o diâmetro e com o tipo
da corrente de soldagem (MARQUES; MODENESI, 2006).

2.3. AGENTE QUÍMICO


Consideram-se agentes químicos as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no
organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que,
pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo pela pele ou
por ingestão (REIMBERG, 2006).

2.4. RISCOS QUÍMICOS


Consideram-se riscos químicos os riscos causados pelas substâncias químicas presentes no ambiente
de trabalho, na condição de matéria-prima, produto intermediário, produto final ou como material auxiliar, os
quais, em função das condições de utilização, poderão entrar em contato com o corpo humano, interagindo em
ação localizada, ou em ação generalizada (REIMBERG, 2006).

A febre de fumaça de solda, também chamada “febre de soldador”, é uma doença sistêmica com
sintomas de febre súbita e aumento de glóbulos brancos periféricos, que pertence ao tipo de febre de fumaça
de metal, cuja causa da doença é devido à inalação de óxido de metal (BURGESS, 1997).

Ao se expor a fumaça de óxido de metal, o efeito da doença manifesta-se 6 a 12 horas depois, com
sintomas de vertigem, sensação de fraqueza, sensação de aperto no peito, dispnéia e dores nos músculos e
juntas. Depois disso, o paciente tem febre e leucocitose, em casos mais caso graves, sente frio e treme. Possui
características não fibrogênicas: como estrutura alveolar intacta, reação pulmonar mínima e potencialmente
reversível (REIMBERG, 2006).

2.5. FUMOS METÁLICOS


Fumos metálicos são partículas sólidas produzidas por condensação ou oxidação de vapores de
substâncias sólidas em condições normais, como por exemplo: fumos de soldagem, fumos presentes em
fundições, processos de spray metálico a quente.

Figura 4. Tipos de poeiras.


FONTE: (SESI, 2007)

Grupo homogêneo de exposição (GHE) corresponde a um grupo de trabalhadores que experimentam


exposição semelhante de forma que o resultado fornecido pela avaliação da exposição de qualquer trabalhador
do grupo seja representativo da exposição do restante dos trabalhadores do mesmo grupo.
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Limite de tolerância (LT) é o limite compatível com a salubridade do ambiente em que vive o
trabalhador, para as mais diversas substâncias. O LT pode ser expresso em ppm (uma parte de gás para um
milhão de partes de ar) ou mg/ m³ (mg de gás por metro cúbico de ar).

O nível de ação (NA) de um agente ambiental é um valor de 0,5 do seu limite de exposição, para
agentes químicos. O nível de ação é um valor referencial, a partir do qual certas ações devem ser tomadas,
num programa de higiene ocupacional; por essa razão, há ações específicas previstas na norma
regulamentadora, ao ser excedido o valor do nível de ação (SESI, 2007).

2.6. LIMITES DE TOLERÂNCIA E EFEITOS DE PARTÍCULAS, FUMOS E


ÓXIDOS METÁLICOS – ACGIH

Abaixo cita-se a Tabela (1) contendo os limites de tolerância de exposição a agentes químicos usado
neste trabalho.

Tabela 1. Limites de tolerância de partículas, fumos e óxidos metálicos.


FONTE: (ACGIH – TLVs e BEIs, 2007)

Elemento Valores limites toleráveis (mg/m³/ 8 h)


Alumínio 10,0
Cádmio 0,1
Cromo 0,5
Cobre 0,2
Fluoretos (fluxos) 2,5
Ferro 1,0
Chumbo 0,05
Magnésio 15,0
Manganês 0,2
Níquel 1,5
Vanádio 0,1
Zinco 5,0
Monóxido de carbono 5,5
Molibdênio 0,5
Ozônio 0,2
3. METODOLOGIA
Considerando-se o critério de classificação de pesquisa proposto por Vergara (1991), quanto aos fins e
quanto aos meios, tem-se:

Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa aplicada, pois tem a motivação de resolver um problema
concreto, da exposição ocupacional a fumos metálicos no processo de soldagem TIG.
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Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa, ao mesmo tempo, documental e bibliográfica. Pesquisa de
documental, pois a empresa disponibilizou acesso aos relatórios de amostragens de campo e ao mesmo tempo
a pesquisa é bibliográfica, pois recorrerá ao uso de material acessível ao público em geral como livros,
dissertações, teses, artigos, leis e normas.

O universo da pesquisa foi composto por trinta soldadores qualificados para a execução de tarefas de
soldagem nas tubulações em aço carbono na refinaria de petróleo, com o objetivo de expansão das unidades
de processo de refino.

A amostra em estudo constou de seis soldadores qualificados para as obras de montagem de tubulações
industriais. Desta forma temos: (06/30) x100 = 20%.

A empresa disponibilizou o relatório de amostragem de campo de fumos metálicos, de seis soldadores


de sua obra de ampliação das tubulações industriais, essa coleta foi realizada em janeiro de 2009. As coletas
forma realizadas conforme indicador por Fachinetto (1996) e Maestri &Vitali (2003).
.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados das planilhas de amostragem de campo de fumos metálicos encontram-se tabelados abaixo.
Realizaram-se seis monitoramentos em soldadores no mês de janeiro de 2009, com o tempo de duração de
uma jornada de trabalho, ou seja, durante oito horas de exposição. Neste monitoramento foi-se avaliado a
exposição aos seguintes agentes químicos: ferro, cromo e manganês.

Abaixo cita-se na Tabela (2) após cálculos de média aritmética simples das concentrações de todos os
soldadores e o resultado individual da monitoração, fez-se a comparação com os limites de exposição
propostos pela tabela da ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) do ano de
2007.

Tabela 2. Análise dos dados das planilhas de amostragem de campo.


FONTE: (Autor, 2009)

Amostra Ferro - Fe Cromo - Cr Manganês - Mn


1 0,5655 0,1270 0,0514
2 0,6089 0,1140 0,0485
3 0,7128 0,1495 0,0429
4 0,6325 0,1810 0,0497
5 0,6597 0,1632 0,0565
6 0,7039 0,1570 0,0619
Somatório 3,8833 0,8917 0,3109
Média 0,6472 0,1486 0,0518
Limite de Tolerância - LT 1,0000 0,5000 0,2000
Nível de ação - NA 0,5000 0,2500 0,1000
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Como se pode notar do quadro anterior à concentração do agente químico ferro e sua exposição
individual, assim como sua média estão com valores acima do nível de ação , porém abaixo do nível do limite
de tolerância, isto indica a necessita de ações para o controle desta exposição.

A concentração medida de exposição aos agentes químicos: cromo e manganês, tanto a amostragem
individual como o cálculo da média estão com valores abaixo do nível de ação, e por conseqüência abaixo
também do nível do limite de tolerância, indicando que não é necessário programas de controle para esses
agentes químicos.

5. LIMITAÇÕES DA PESQUISA
A metodologia escolhida para esta pesquisa apresenta uma limitação que será exposta abaixo:

O soldador do processo TIG, geralmente é qualificado em outro processo de soldagem, desta forma o
soldador ficará exposto a fumos metálicos de outro processo de soldagem, no trabalho em estudo, o soldador
fica exposto principalmente ao processo de eletrodo revestido, tido como o que produz mais fumos metálicos
(ESAB, 2004).

Desta forma é de difícil separação e correta mensuração dos efeitos individuais de cada processo de
soldagem, sendo os efeitos observados.

6. CONCLUSÃO
O questionamento deste trabalho era a comparação entre os limites de exposição ocupacionais
propostos pela ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists) de 2007, com as
concentrações avaliadas por amostragens de campo (nas obras de uma refinaria de petróleo) onde ocorre o
processo de soldagem TIG (Tungsten Inert Gas).

Como resposta a essa pergunta afirma-se que a amostragem de campo mensurou a concentração de três
agentes químicos presentes no processo de soldagem TIG: o teor de ferro, cromo e manganês. Os limites
ocupacionais estão expostos na tabela 1 e tem como referência a tabela padrão de 2007.

De acordo com o exposto acima, chega-se a conclusão de que o grupo homogêneo de exposição
(amostra em estudo), dos soldadores do processo TIG analisado está exposto a um potencial de risco
moderado.

Na exposição moderada, em condições normais de trabalho, o contato dos trabalhadores é freqüente e a


níveis médios, ou esporádicos a níveis altos. A exposição se encontra sob controle técnico e acima do nível de
ação, porém abaixo do limite de tolerância conforme indicado na tabela 2, desta análise fica clara a
necessidade da empresa de controlar essa exposição.

A ação tomada pela empresa foi à inclusão de um plano de monitoramento de fumos metálicos no
processo de soldagem TIG, onde consta a realização de medições de campo periódicas (monitoramento
ambiental) e controle clínico e laboratorial dos soldadores (monitoramento biológico).

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACGIH - American Conference of Governmental Industrial Hygienists. Limites de exposição Ocupacional
(TLVs) para substâncias químicas e agentes físicos & índices biológicos de exposição (BEIs).
Tradução: Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais, 2007;
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BURGESS, William A. Identificação de possíveis riscos à saúde do trabalhador nos diversos processos
industriais. Tradução Ricardo Baptista. Ergo Editora Ltda. Belo Horizonte, 1997. 558p;
FACHINETTO, J. L. Avaliação dos fumos produzidos por diferentes processos de soldagem. 1996.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
1996;
FANTAZZINI, M. L. Introdução à estratégia de amostragem de agentes ambientais. Material didático
da disciplina “Estratégia de Amostragem”. Curso de Higiene Ocupacional. PECE –USP. São Paulo,
2003;
MAESTRI, A. A.; VITALI, C. A. Aspectos negativos dos fumos de soldagem: Prevenção e soluções para
salvaguardar a saúde do trabalhador. Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2005.
51p;
MARQUES, P.V.; MODENESI, P.J. Apostila de Soldagem I: Introdução aos processos de soldagem.
Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2006. 51p;
MODENESI, P.J. Introdução à física do arco elétrico: E sua aplicação na soldagem dos metais.
Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, 2007. 146p;
PREVIDÊNCIA SOCIAL. AEPS - Anuário Estatístico da Previdência Social. Distrito Federal, Brasília,
2007. 866p;
REIMBERG, Cristiane. Trabalho com solda: processo de risco. Revista proteção, São Paulo, n. 170, p. 51-
56, fev. 2006;
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA. Técnicas de avaliação de agentes ambientais: Manual SESI.
Brasília, 2007, 300p;
VERGARA, S. C. Sugestão para estruturação de um projeto de pesquisa. Caderno de pesquisa. Rio de
Janeiro: EBAP/FGV, nº 2, 1991;
WAINER, Emílio; BRANDI, Sérgio; MELLO, Fábio. Soldagem: Processos e metalurgia. 2. ed. São Paulo:
Edgard Blucher, 1992. 494p.

Exposure to Smoke Metallic in TIG Welding

Abstract.

This paper has the objective to determine the occupational exposure of the process of TIG welding (Tungsten
Inert Gas), the metal fumes from the welding process, using as criterion the ACGIH (American Conference of
Governmental Industrial Hygienists). This case study was conducted in a business provider of engineering
services and consulting ltda in the work of construction and assembly of industrial piping in an oil refinery in
Minas Gerais. Metal fumes are classified as chemical, chemical risks are the risks caused by chemicals in the
environment of work, provided the raw material, intermediate product, final product or as material help.
Data were collected through a field evaluation of occupational exposure to metal fumes. As a result of the
analysis, the homogeneous group of exposure analysis is exposed to a potential of moderate risk. The
exhibition is under control and above the technical level of action, but below the limit of tolerance. The action
taken by the company was implementing a plan for monitoring metal fumes in welding TIG (Tungsten Inert
Gas) with periodic measurements of field and laboratory and clinical examinations of welders.

Keywords: Welding, Smoke Metallic, TIG, ACGIH.

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