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Propriedades e Reacções
DQB, 2003
Aminas: propriedades e reacções
Aminas ........................................................................................................ 1
Propriedades e Reacções ............................................................................. 1
Estrutura ..................................................................................................... 3
Nomenclatura .............................................................................................. 5
Propriedades físicas .................................................................................... 8
Basicidade ....................................................................... 10
Preparação de tampões .................................................. 14
Aplicação das propriedades básicas na purificação de compostos
...................................................................................... 16
Reacções de preparação de aminas ........................................................... 18
Aminas
Estrutura
..
N H
H3C 105,9Aº
H
112,9Aº
Figura 1
Quando uma amina está ligada a três grupos diferentes é quiral, à
semelhança do que acontece com um átomo de carbono tetraédrico.
R' R'
N R N R' R
N H
R H H
Figura 2
|
R1 R1
|
+
N R2 | R2 N +
R4 | R4
R3 R3
Figura 3
Nomenclatura
NH2
Figura 4
NH2 NH2
Br
NO2
orto-bromo-anilina para-nitro-anilina
Figura 5
NH2
Ácido para-aminobenzóico
COOH
Figura 6
N(CH3)2
N,N-dimetilbenzenamina
Figura 7
NH2
NH2
CH3
OMe
4-metilbenzenamina 4-metoxibenzenamina
Figura 8
Propriedades físicas
Basicidade
Devido ao facto de possuirem um par de electrões desemparelhados
as aminas são bases de Lewis:
CH3NH2 + H+ → CH3NH3+
Ka
RNH3+ + H2O RNH2 + H3O+
que são menos ácidos do que o próprio ião amónio. Por outras
palavras as alquilaminas são levemente mais básicas do que o NH3.
É importante não confundir as constantes de dissociação do ião NH4+
e da molécula de NH3. Esta última é um ácido extremamente fraco
cujo pKa é de cerca de 34, o que faz com que a respectiva base
conjugada, o ião amideto NH2- seja uma base extremamente forte.
Estes iões são formados por reacção da correspondente amina com
um alquil lítio:
Ka . Kb = Kw
e portanto
pKa + pKb = 14
+ + +
NR1R2 NR1R2 NR1R2 NR1R2
- -
Figura 9
Preparação de tampões
As propriedades básicas das aminas podem ser aplicadas na
preparação de soluções tampão moderadamente básicas.
Atente-se no seguinte exemplo de preparação de um tampão de
pH=10,5 e concentração 0,01M.
Procura-se uma amina que tenha um pKa cujo valor seja semelhante
ao valor de pH pretendido. A piperidina pode ser a escolhida em
virtude de ter um pKa=11,12.
Aplica-se logarítmos à expressão que define o Ka e resolve-se em
relação ao pH:
pH=pKa+log [RNH2]/[RNH3+]
substitui-se pelos valores anteriores
10,5=11,12+ log [RNH2]/[RNH3+]
e aplicando antilogarítmos
[RNH2]=0,23 . [RNH3+].
Sendo a concentração escolhida para o tampão de 0,01M então
[RNH2]+[RNH3+]=0,01.
Fica-se assim com um sistema de duas equações a duas incógnitas
que após resolução permite encontrar os seguintes valores:
[RNH2]= 0,0019
[RNH3+]=0,0081
A espécie [RNH3+] é obtida a partir da adição de um ácido forte, por
exemplo HCl, que em solução se dissocia na totalidade, de acordo
com a equação:
[RNH2]+HCl [RNH3+]+Cl-
Caso se pretenda preparar um litro de tampão é necessário adicionar
0,01 mole da amina, no caso do exemplo piperidina, 0,0081 mole de
ácido clorídrico e água até perfazer um litro, obtendo-se 0,0019 mole
de amina protonada
A preparação do tampão utilizou concentrações e não entrou em linha
de conta com as actividades nem com a influência da temperatura no
valor do pKa, pelo que o pH da solução obtida tem sempre de ser
Maria Eduarda Araújo, DQB 2003 14
Aminas: propriedades e reacções
Piperidina+ciclohexano
HCl+água
NaOH
Alquilação directa
As aminas podem ser preparadas por processos muito diversos. Um
dos processos aparentemente mais simples é a alquilação do
amoníaco, aproveitando o poder nucleofílico deste e fazendo-o reagir
com um halogeneto de alquilo
RNH2
+HBr
NH3 + RBr R2NH
+HBr
R3N
+HBr
+
R4N
O O O
OH- + RCH2Br
N H N
- O + RCH2NH2
O
O O O
Figura 10
CH3
CH3
NO2
Fe NH2
C2H5,HCl,
calor
NO2
NH2
NO2 NH2
SnCl2
HCl conc.
CHO CHO
Figura 11
Redução de nitrilos
A redução de nitrilos utilizando hidrogénio e um catalizador metálico,
ou hidreto de alumínio e lítio em éter, dá origem a aminas primárias.
Quando a redução é feita por meio da hidrogenação catalítica forma-
se como produto secundário uma amina secundária. O aparecimento
desta amina é devido ao facto de a redução catalítica passar por um
intermediário que é uma imina. Esta imina pode reagir com a amina
primária, entretanto formada, originando uma imina secundária, com
libertação de amoníaco, a qual sofre igualmente redução, formando-
se assim uma amina secundária. Para minimizar esta reacção
secundária a hidrogenação deve ser feita em presença de excesso de
NH3.
RCN + H2 → RCH=NH
RCH=NH + H2 → RCH2NH2
RCH=NH + RCH2NH2 → RCH=NCH2R + NH3
RCH=NCH2R + H2 → RCH2NHCH2R
Redução de oximas
A redução catalítica de oximas dá também origem a aminas primárias.
As oximas podem ser preparadas a partir de aldeídos e cetonas por
reacção com a hidroxilamina.
Redução de iminas
As iminas são preparadas por reacção do amoníaco, ou de aminas
primárias, com aldeídos ou cetonas. A redução catalítica da imina dá
assim uma amina primária ou secundária. Uma variante desta reacção
é conhecida por reacção de Eschweiller-Clarck e destina-se a obter
aminas terciárias em que exista pelo menos um grupo metilo. É
realizada fazendo reagir a amina a metilar com formaldeído e ácido
fórmico a 100º. A espécie que sofre redução não é uma imina mas um
ião imínio e o agente de redução é o proprio ácido fórmico. A reacção
segue o seguinte mecanismo:
Redução de amidas
As amidas são reduzidas pelo hidreto de alumínio e lítio, em éter, a
refluxo, originando aminas. A redução do grupo carbonilo é completa
sendo este transformado num metileno: CH2. O método permite
*
K. Oznur, C. B. Reese, J. Chem. Soc. Perkin, 81 (1980), 1569-1573
RCO-NH2 RCH2NH2
RCO-NHR’ RCH2NHR’
RCO-N R-N=C=O
R-N=C=O + H2O RNHCOOH
RNHCOOH RNH2 + CO2
Carbamatos (RR’NC=OOR’’)
Os carbamatos são compostos bastante usados em química orgânica.
Carbamatos de t-butilo são utilizados como grupos protectores de
aminas. A amina a proteger numa dada reacção é transformada por
reacção com cloroformato de t-butilo num carbamato de t-butilo
efectuando-se em seguida a reacção pretendida. Os carbamatos são
estáveis em meio ácido hidrolisando-se em meio básico. Em geral são
removidos não por hidrólise mas por hidrogenólise em condições
suaves. A função carbamato encontra-se presente também em
produtos de origem natural sendo a fisostigmina, provavelmente, o
composto mais importante. A fisostigmina é o pricípio activo presente
nas sementes de uma leguminosa aquática da Nigéria, a Physostigma
venenosum, conhecida por feijão do Calabar. Estas sementes eram
utilizadas pelos povos indígenas numa “prova da verdade”, ou seja,
quando se pretendia punir um dado indivíduo. Ao acusado era-lhe
dado a beber uma poção (esere) feita com esta planta e mandado
caminhar durante um certo tempo até a planta fazer efeito. Caso o
acusado fosse tão afortunado que durante esse período de tempo
vomitasse a poção e sobrevivesse era considerado inocente e
mandado em paz. Pensa-se que a ingestão rápida da droga pelos
indivíduos impacientes por demonstrar a sua inocência provocaria o
vómito não tendo o veneno tempo de actuar, enquanto que a ingestão
lenta pelos indivíduos receosos da actuação da droga faria com que
esta fosse libertada lentamente no organismo e portanto totalmente
assimilada levando assim à morte.
Os carbamatos são muito usados como antifúngicos. São os
componentes de muitas formulações para o tratamento de micoses
cutâneas como é o caso da vulgarmente conhecida por pé de atleta.
São também muito correntes em formulações de pesticidas. Devido à
Maria Eduarda Araújo, DQB 2003 25
Aminas: propriedades e reacções
Reacções de aminas
Formação de amidas
O amoníaco, aminas primárias e aminas secundárias reagem com
cloretos de acilo e anidridos de ácidos carboxílicos para darem amidas
(Fig. 12).
Quando a reacção é feita com cloreto de acilo é necessário utilizar
dois equivalentes de amina para neutralizar o ácido clorídrico formado
na reacção:
O O- O
+
R + R1R2NH R NHR1R2 R
Cl NR1R2
Cl +
R1R2NHCl
Figura 12
Rearranjo de Beckman
Amidas também podem ser formadas por reacção de oximas com
pentacloreto de fósforo ou ácido sulfúrico concentrado através de um
processo designado por rearranjo de Beckman (Fig. 14).
Oximas são compostos que resultam da reacção da hidroxilamina,
NH2OH, com uma cetona, por meio de um mecanismo (Fig. 13)
semelhante ao acima apresentado (Fig. 12).
- -
O O O
+ NH2OH R R' R R'
R R' +
+ NH OH NHOH H
2
+ OH2
NOH - H+ + NHOH
H2O + R R'
R R' R R' NHOH
Figura 13
+
OH2 R
NOH + H + N N R
N
+ +
R R' R R' R'
H2O R'
OH2
R H R
N N
O R' O R'
Figura 14
O H
O N O
N O H
N
N
H O
n
Nylon 6
Figura 15
Formação de iminas
As aminas podem reagir com aldeídos e cetonas originando iminas. O
mecanismo (Fig. 16) é semelhante ao de formação de oximas (Fig.
13):
-
O O O
+ NH2R1 R R' R R'
R R' + NH R
2 1 NHR1 +
H
NR1 + OH
- H+ + NHR
1
2
H2O + R R'
R R' R R' NHR1
Figura 16
Formação de enaminas
Aminas secundárias não podem originar iminas mas, se a reacção for
levada a cabo com aldeídos ou cetonas que possuam H em posição α
para o carbonilo, forma-se outro tipo de composto denominado
enamina
+
NR1R2 + NR R OH2
- H+ 1 2
R CH2R'
R H H2O +
R CH2R' NR1R2
R'
Figura 17
O
N
+ N + N Br
+ CH CHCH2 Br
2
O
H N+ H
+ Br
Figura 18
Reacção de Manich
As iminas podem reagir com outros nucleófilos de carbono para além
dos reagentes de Grignard e dos reagentes alquil-lítio. Na reaçcão de
Mannich (Fig. 19),uma cetona com hidrogénios α reage com um
aldeído e uma amina primária para dar um produto de condensação.
Neste processo a forma enólica da cetona reage, em meio ácido, com
a imina protonada resultante da condensação do aldeído (em geral
formaldeído) com a amina. Toda a reacção sofre catalise ácida, sendo
em geral adicionado um ácido fraco, como o ácido acético, como
catalisador.
H+
O OH
N H
R
Figura 19
H3C
N
CO2CH3
O
Ph
O
Figura 20
NHR
O N
+ NH2-NHR1
R R' R R'
Figura 21
Redução de Wolff-Kishner
A redução de Wolff-Kishner (Fig. 22) é uma reacção que permite fazer
a redução de grupos carbonilo utilizando uma hidrazona como ponto
de partida:
NH
O N
+ NH2-NH2 + H2O
R R' R R'
-
H2O OH
NH R
R - N N NH
N N R'
R' H
R R'
-
H2O OH
H H R
H2O - N2
R H R - N N
R' H
R' R'
Figura 22
Nitrosação
As aminas reagem com o ácido nitroso, HNO2. O produto da reacção
varia conforme estejamos em presença de uma amina alifática ou
aromática e conforme a amina seja primária , secundária ou terciária.
Aminas secundárias, alifáticas ou aromáticas reagem com o ácido
nitroso para dar N-nitrosoaminas. As nitrosoaminas são em geral
coradas possuindo um tom amarelado.
+ +
HO-N=O + H H2O N=O
+ +
H2O N=O H2O + N=O
+ H
RR'NH + + N=O RR'N
N=O
+ H
RR'N +
RR'N N=O + H
N=O
**
“Em 1956, Magee e Barnes publicaram o primeiro estudo em que se relacionava
e se comprovava inequivocamente que a administração a ratos no laboratório de
N-nitrosodimetilamina (DMN) em pequenas doses diárias (50 ppm misturados
com a alimentação) provocava o aparecimento de tumores no fígado no período
máximo de 1 ano [9]. Este facto vinha de encontro a relatos de envenenamento de
trabalhadores expostos à DMN em laboratórios industriais. Em ratos de
laboratório uma dose única de 25 mg/kg de DMN tomada oralmente ou por via
intravenosa era responsável pela necrose do fígado, acompanhada de hemorragias
no fígado e rins e levava à morte em 2 a 4 dias. Preocupante foi a observação de
que uma única dose de DMN inferior à dose letal, embora não provocasse
inicialmente quaisquer danos visíveis nos rins, levava ao aparecimento, a médio
prazo, de tumores nestes orgãos [9]. No entanto, nem todas as N-nitroso-aminas
são cancerígenas, verificando-se que a N-nitrosometil-terbutilamina, a N-
nitrosoetil-terbutilamina e a N-nitrosodibenzilamina, entre outras, não têm a
capacidade de induzir tumores. A falta de capacidade de induzir tumores por parte
destes compostos foi explicada através de um mecanismo que postula a
hidroxilação no carbono α seguida de decomposição originando um diazoalcano.
Este diazoalcano seria o responsável pela indução do tumor, não tendo as N-
**
M. E. M. Araújo, L. Cyrne, S. Marinho, F. Norberto ,”Os compostos N-nitroso e o cancro”, Química,
Boletim da Sociedade Portuguesa de Química, 79 (2000), 30
+ +
RHN N=O + H+ [ RHN N=OH RHN N OH ]
+
RHN N OH +
R N=N OH + H
+ +
R N=N OH + H R N=N OH2
+
R N=N OH2 H2O + R +
N N
catião alquildiazónio
N+
R
Reacção de Sandmeyer
calor calor - -
NaCN HBr HCl
H3PO2 I
H2O BF4 - CuCN - CuBr CuCl
H OH F I CN Br Cl
R R R R R R R
Figura 23
Nitrosoamidas
As amidas secundárias, à semelhança do que se passa com as aminas
secundárias, também reagem com o ácido nitroso originando N-
nitrosoamidas.
**
“Outros compostos N-nitroso, como por exemplo, as N-nitroso-amidas também
estão associados ao aparecimento de carcinomas. Por exemplo, após a
administração de N-nitroso-N-metilureia foram observadas lesões inflamatórias
hemorrágicas no estômago, intestino e pâncreas, antecedendo o aparecimento de
carcinomas...... as N-nitroso-amidas produzem apenas tumores no local de
aplicação........ Este último facto será provavelmente devido à menor solubilidade
das N-nitroso-amidas em meio aquoso, o que faz com que estes compostos não
**
ibid.
Diazoalcanos
Os diazoalcanos são compostos com a fórmula geral RR’C=N2. O
elemento mais simples é o diazometano (Fig. 24) que tem a seguinte
estrutura:
- + + -
CH2 N N CH2 N N
Figura 24
O
S NCH3 -
C7H7SO3 + H C N N OH
O NO 2
H3C OH - H
-
CH2 N N O
- + - +
CH2 N N OH [ CH N
2 N CH2 N N]
H
-
OH
Figura 25
O
N2 + R C
OMe
Figura 26
+ CH2
Figura 27
Oxidação
As aminas são oxidadas com facilidade. As alquilaminas primárias dão
origem a numerosos compostos e do ponto de vista sintético esta
reacção não tem utilidade.
As arilaminas primárias são oxidadas com ácido pertrifluoracético aos
correspondentes compostos nitrados (Fig. 28)
NH2 NO2
CF3COOOH
Figura 28
R R
+ -
N + HO R' N O
R' 2 2
R'' R''
Figura 29
- -
H2O2 + OH HO + H2O
- -
C6H5 CN + HO2 C6H5 C N
O OH
H2O
C6H5 C NH
-
+ OH
O OH
Figura 30
***
Maria Eduarda M. Araújo, “Síntese de N-óxidos de derivados de piridina em mei básico”, Tese de
Mestrado em Química orgânica Tecnológica, Universidade Nova de Lisboa, 1986
R R
Y-
+ O
R'
N N+
OH
H O O R'
Y
Y=O,NH
R
YH
+ O
R'
N+
O-
Figura 31
Degradação de Hofmann
Os hidróxidos de amónio quaternários sofrem por acção do calor uma
reacção em que se dá a eliminação de uma amina terciária e
formação de um alqueno. Esta reacção é conhecida pelo nome de
degradação de Hofmann (Fig. 32).
O hidróxido de amónio quaternário é obtido por metilação exaustiva
da amina inicial com iodeto de metilo, seguida de tratamento com
óxido de prata e água. Aquecimento deste hidróxido a uma
temperatura de pelo menos 100º leva a que se verifique a quebra de
uma das ligações carbono-azoto e a formação de um alqueno.
+ H2O + N(CH3)3
Figura 32
CH3I AgO ∆
N
+ N(CH3)3
H2O
Figura 34
Esta reacção é muito útil para determinar qual o tipo e tamanho dos
grupos alquilo ligados ao átomo de azoto de uma amina, a partir da
análise dos alquenos resultantes da reacção de degradação. Antes do
desenvolvimento dos métodos espectroscópicos foi uma ferramenta
poderosa na identificação estrutural de diversos alcalóides.
A reacção dá-se através do seguinte mecanismo (Fig. 35):
-
OH
CH3I H H
N AgO
N +
H2O
+ N(CH3)3
Figura 34
∆ 64%
+ N
+
N
∆
- +
OH N
36%
Figura 35
Bibliografia