Você está na página 1de 8

- 492 - Peres AM, Ciampone MHT

GERÊNCIA E COMPETÊNCIAS GERAIS DO ENFERMEIRO1


MANAGEMENT AND GENERAL NURSING COMPETENCIES
GERENCIA Y COMPETENCIAS GENERALES DEL ENFERMERO

Aida Maris Peres2, Maria Helena Trench Ciampone3

1
Extraído da tese intitulada “Competências gerenciais do Enfermeiro: relação entre as expectativas da instituição formadora e do
mercado de trabalho” apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo (EEUSP).
2
Doutora em Enfermagem pela EEUSP. Professora assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná
(UFPR).
3
Livre-docente do Departamento de Orientação Profissional da EEUSP.

PALAVRAS-CHAVE: Enfer- RESUMO: As políticas de educação por meio das Diretrizes Curriculares Nacionais visam direcionar as
magem. Educação em enferma- instituições de ensino superior para a formação das seguintes competências e habilidades gerais dos
gem. Educação baseada em profissionais de saúde: atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e
competências. gerenciamento, educação permanente. Como a maioria das competências apontadas podem ser caracte-
rizadas como competências gerenciais, o presente artigo busca descrevê-las e relacionar os conhecimen-
tos necessários para a formação dessas competências. Essa classificação trouxe algumas reflexões
conceituais que permitem analisar o trabalho do enfermeiro e as relações entre gerência e assistência.

KEYWORDS: Nursing. Nur- ABSTRACT: The education policy of the Brazilian National Curriculum Directions attempts to direct
sing education. Competency- educational institutions for the formation of the following health care professional competencies and
based education. general abilities: attention to health care, decision-making, communication, leadership, administration
and management, and permanent education. The majority of these competencies can be characterized
as managerial competencies and the present article describes them and relates the necessary knowledge
for the formal education of these competencies. This classification brings some conceptual reflections
that allow for analysis of nursing work and the relationships between management and assistance.

PALABRAS CLAVE: Enfer- RESUMEN: Las políticas de educación por medio de las Directrices Curriculares Nacionales apuntan
mería. Educación en enfer- en direccionar a las instituciones de enseñanza superior para la formación de las siguientes competencias
mería. Educación basada en y habilidades generales de los profesionales de la salud: atención a la salud, toma de decisiones,
competencias. comunicación, liderazgo, administración y gerencia, educación permanente. Como la mayoría de las
competencias senãladas pueden ser caracterizadas como competencias gerenciales, el presente artículo
pretende describirlas y relacionar los conocimientos necesarios para la formación de dichas competencias.
Esa clasificación trajo algunas reflexiones conceptuales que permiten analizar el trabajo del enfermero
y las relaciones entre la gerencia y la asistencia.

Endereço: Aida Maris Peres Artigo original: Reflexão teórica


R. Batista Pessine, 560 Recebido em: 17 de fevereiro de 2006.
80.820-000 - Vista Alegre, Curitiba, PR. Aprovação final: 28 de junho de 2006.
E-mail: amaris@ufpr.br

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 492-9.


Gerência e competências gerais do enfermeiro - 493 -

INTRODUÇÃO Aqui, essas dimensões estão relacionadas com a di-


mensão singular, a dimensão particular e a dimensão
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
estrutural, respectivamente.
(LDB) oferece às escolas as bases filosóficas,
conceituais, políticas e metodológicas para nortear a A instauração de modelos de competências
elaboração dos projetos pedagógicos. Propõe que os advém de um movimento irreversível, cujas principais
profissionais egressos, a partir das novas diretrizes, conseqüências serão sentidas nos âmbitos da educa-
possam vir a ser críticos, reflexivos, dinâmicos, ativos, ção e do mundo do trabalho. Na busca de conver-
diante das demandas do mercado de trabalho, aptos gências para categorizar as competências, identificam-
a “aprender a aprender”, a assumir os direitos de li- se como mais citadas na literatura as competências de
berdade e cidadania, compreendendo as tendências comunicação, educacionais, de trabalho em equipe e
do mundo atual e as necessidades de desenvolvimen- de gerência.5
to do país.1 Na graduação, as DCNs apontam para o exer-
Em função da nova LDB, instituições relacio- cício das seguintes competências e habilidades gerais
nadas ao ensino de enfermagem foram as primeiras dos profissionais de saúde: atenção à saúde, tomada
da área de saúde que se mobilizaram para traçar as de decisões, comunicação, liderança, administração e
diretrizes gerais para a educação em enfermagem no gerenciamento e educação permanente.6 Entre as seis
Brasil. Durante o processo de construção das Diretri- competências apontadas, cinco podem ser caracteri-
zes Curriculares Nacionais (DCNs) foram envolvidas zadas como competências gerenciais.
diversas entidades nacionais, tanto do âmbito do en- O presente estudo possui como objetivo descre-
sino quanto dos serviços, na busca de um perfil pro- ver as competências gerais citadas nas DCNs e relacio-
fissional com competências, habilidades e conhecimen- nar os conhecimentos necessários para sua formação.
tos para atuar no Sistema Único de Saúde (SUS).2
As DCNs para a Educação Profissional de Ní- COMPETÊNCIAS GERAIS DO ENFER-
vel Técnico preenchem a lacuna conceitual sobre com- MEIRO
petência das DCNs da graduação. Competência pro- Para compreender melhor as competências
fissional é a capacidade “de mobilizar, articular, colo- apontadas pelas DCNs para a área da saúde, as mes-
car em ação, valores, conhecimentos e habilidades mas serão descritas a seguir, partindo de estudos que
necessários para o desempenho eficiente e eficaz de classificam essas competências também como funções
atividades requeridas pela natureza do trabalho”.3:1 gerenciais para analisar o trabalho do enfermeiro.7
A crítica sobre as políticas de educação volta-
das à formação de competências mostra que, a exem-
plo do que ocorre na América Latina, a educação
Atenção à saúde
baseada em competências surge para adequar os sis- “Os profissionais de saúde, dentro de seu âm-
temas educacionais com um novo conceito para a bito, devem estar aptos a desenvolver ações de pre-
qualificação profissional e satisfazer investidores in- venção, promoção, proteção e reabilitação da saúde,
ternacionais. A lógica do mercado prima por mão- tanto em nível individual quanto coletivo. Cada pro-
de-obra capacitada para dar conta da dimensão fissional deve assegurar que sua prática seja realizada
tecnológica e não privilegia a formação crítico-refle- de forma integrada e contínua com as demais instân-
xiva capaz de impactar o mercado e provocar cias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criti-
melhorias sociais locais a médio e longo prazo. camente, de analisar os problemas da sociedade e de
Contrapondo-se ao sistema de formação de procurar soluções para eles. Os profissionais devem
competências brasileiro, cuja responsabilidade primeira realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões
advém das Instituições de Ensino Superior (IES), de- de qualidade e princípios da ética/bioética, tendo em
veria ser também papel das organizações emprega- conta que a responsabilidade da atenção à saúde não
doras a formação de uma rede de conhecimento per- se encerra com o ato técnico, mas, sim, com a resolu-
manente que gerasse o desenvolvimento contínuo de ção do problema de saúde”.6:4
competências. Neste contexto a formação de com- A atenção à saúde não se constitui diretamente
petências advém de três dimensões distintas: da pes- como objeto de trabalho desenvolvido pela gerência,
soa (competência individual), das organizações (core mas pode ser entendida como finalidade indireta do
competências) e dos países (sistemas educacionais).4 trabalho gerencial em saúde. Para que a atenção à saú-
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 492-9.
- 494 - Peres AM, Ciampone MHT

de seja alcançada, o profissional que exerce a gerência evidenciada na forma de assistência (promoção, pre-
faz uso de instrumentos do trabalho administrativo venção, proteção e reabilitação).10
como o planejamento, a organização, a coordenação e O caminho apontado pelas DCNs para assegu-
o controle. A qualidade da assistência à saúde demanda rar a integração e a continuidade da assistência em to-
a existência de recursos humanos qualificados e recur- das as instâncias do sistema de saúde indica que o pro-
sos materiais compatíveis/adequados com a oferta de fissional enfermeiro precisa desenvolver competênci-
cuidados orientada pelas necessidades de saúde.8-9 as apoiadas em uma base sólida de conhecimentos.
O trabalho de enfermagem como instrumento Dentre esses conhecimentos que, associados à aquisi-
do processo de trabalho em saúde, subdivide-se ain- ção de habilidades, permitem identificar e acessar in-
da em vários processos de trabalho como cuidar/as- formações determinantes para a atenção à saúde com
sistir, administrar/gerenciar, pesquisar e ensinar. Den- padrões de qualidade reconhecidos para a fundamen-
tre esses, o cuidar e o gerenciar são os processos mais tação de suas atitudes, destacam-se os seguintes sabe-
evidenciados no trabalho do enfermeiro. res da Administração: as teorias administrativas, as fer-
O gerenciamento realizado pelo enfermeiro re- ramentas específicas da gerência, o processo de traba-
sulta da composição histórica da força de trabalho lho, a ética no gerenciamento, conhecimentos sobre
em enfermagem que sempre promoveu sua divisão cultura e poder organizacional, negociação, trabalho
técnica e social. Seja pelas vantagens obtidas ao ocu- em equipe, qualidade de vida no trabalho, saúde do
par espaços de poder mais elevados nessa cadeia hie- trabalhador, leis trabalhistas, gerenciamento de pesso-
rárquica ou pela cisão provocada entre gerenciamento as, dimensionamento de pessoal, gerenciamento de
e execução desde os primórdios da Enfermagem recursos materiais, custos, recursos físicos, sistemas de
Moderna, o processo de trabalho gerencial foi manti- informação e processo decisório.
do como privativo do enfermeiro, reforçando o status Isso posto, passaremos a discutir algumas das
quo dessa categoria profissional aliado à garantia de competências gerais indicadas pelas DCNs que se re-
sua responsabilidade legal sobre a equipe. lacionam diretamente com a área de Administração
A gerência configurada como ferramenta/ins- em Enfermagem.
trumento do processo do “cuidar” pode ser entendi-
da como um processo de trabalho específico e assim, Tomada de decisão
decomposto em seus elementos constituintes como o Outra competência almejada para o profissio-
objeto de trabalho (recursos humanos e organização nal de saúde pelas DCNs é a tomada de decisão. “O
do trabalho), tendo como finalidade recursos huma- trabalho dos profissionais de saúde deve estar funda-
nos qualificados e trabalho organizado para assim, ob- mentado na capacidade de tomar decisões, visando o
ter as condições adequadas de assistência e de trabalho, uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força
buscando desenvolver a “atenção à saúde”. Desse modo, de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de
os objetos de trabalho do enfermeiro no processo de procedimentos e de práticas. Para este fim, eles de-
trabalho gerencial são a organização do trabalho e os vem possuir competências e habilidades para avaliar,
recursos humanos de enfermagem. Os meios/instru- sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, ba-
mentos são: recursos físicos, financeiros, materiais e os seadas em evidências científicas”.6:4
saberes administrativos que utilizam ferramentas espe-
A Administração indica que o processo de to-
cíficas para serem operacionalizados. Esses instrumen-
mada de decisões pode ser desenvolvido pelos gestores
tos/ferramentas específicas compreendem o planeja-
com maior qualidade, se estes seguirem um método.
mento, a coordenação, a direção e o controle.10
“A análise de problemas constitui-se de uma série de
Essas funções gerenciais apontadas como res- processos, que podem ser aprendidos para serem uti-
ponsabilidade do enfermeiro, permitem vislumbrar lizados como instrumentos do processo de trabalho
caminhos para compreender com maior clareza que gerencial e que ajudam a qualificar as decisões dos pro-
“gerenciar” é uma ferramenta do processo de traba- fissionais de saúde e seus gestores, de modo
lho “cuidar” ao exemplificar como o enfermeiro pode participativo, ouvindo todos os envolvidos na situa-
fazer uso dos objetos de trabalho “organização” e ção e escolhendo ações que obtenham o máximo su-
“recursos humanos” no processo gerencial que por cesso na resolução do problema, com o menor custo
sua vez, insere-se no processo de trabalho “cuidar” e com o mínimo de desvantagens ou riscos para to-
que possui como finalidade geral a atenção à saúde dos os envolvidos”.11:38
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 492-9.
Gerência e competências gerais do enfermeiro - 495 -

Por muito tempo, utilizou-se como base para o cisão composto pelo estabelecimento de objetivos,
processo decisório o modelo de planejamento procura de alternativas, avaliação de alternativas, esco-
normativo originado pelo convênio Organização Pan- lha, implementação e avaliação.
Americana de Saúde (OPAS) com o Centro de Estu- Na assistência, o processo de enfermagem é um
dos Del Desarrollo (CENDES), que tinha como prin- sistema que merece ser citado como efetivo para a
cípio preparar tecnicamente os profissionais de saúde tomada de decisão.13 Contudo, apreende-se que preva-
para elaborar planos que concorressem às verbas do lece, principalmente no ambiente de gestão hospitalar,
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). o raciocínio pautado no planejamento normativo como
Essa proposta de planejamento como base para o base para os processos decisórios. Isto é, em geral esta-
processo decisório pautava-se fundamentalmente na belece-se um único plano de ação, sem que se faça pre-
racionalidade e na eficiência. O planejador partia de visão dos cenários de implementação. Dessa forma, o
um diagnóstico situacional em que previa, por meio planejamento consiste em proposta idealista.
de seu conhecimento técnico, como controlar todas
as variáveis de um ambiente estável, desconsiderando
a esfera política e social.11 Liderança
Nas últimas décadas, o planejamento estratégi- A liderança é tida como uma das principais com-
co como base para o processo decisório amplia a petências a serem adquiridas pelo profissional de saú-
perspectiva do saber técnico e incorpora importantes de. “No trabalho em equipe multiprofissional, os pro-
dimensões, tais como a dimensão política e a dimen- fissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posi-
são social. Nesse sentido, o gestor trabalha em con- ções de liderança, sempre tendo em vista o bem-estar
junto com os atores envolvidos na busca de estratégi- da comunidade. A liderança envolve compromisso,
as que visem diminuir a rejeição, a indiferença ou a responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de
oposição e gerenciar os conflitos no sentido de obter decisões, comunicação e gerenciamento de forma efe-
maior governabilidade no processo decisório. tiva e eficaz.” 6:4
Para alcançar a competência de tomar decisões, Liderança é o processo pelo qual um grupo é
algumas etapas precisam ser cumpridas. Conhecer a ins- induzido a dedicar-se aos objetivos defendidos pelo
tituição e sua missão, avaliar as reais necessidades dos líder ou partilhado pelo líder e seus seguidores. Lide-
usuários e realizar o trabalho pautado em um planeja- rança e administração se sobrepõem, já que alguns as-
mento que contemple o detalhamento de informações pectos da liderança poderiam ser descritos como
tais como: idéias e formas de operacionalizá-las; recur- gerenciamento.14
sos viáveis; definição dos envolvidos e dos passos a Florence Nightingale é apontada como exem-
serem seguidos; criação de cronogramas de trabalho e plo de líder. “Sua imagem pública foi e continua a ser
envolvimento dos diversos níveis hierárquico.12 a da dama piedosa, mas, por baixo de seus modos
O planejamento e a conseqüente tomada de suaves, havia um espírito inflexível, uma lutadora, uma
decisão como função específica do enfermeiro que obstinada transformadora de sistemas. Ela nunca fez
desenvolve o gerenciamento do serviço foram re- aparições públicas, nem discursos, e exceto pelos dois
duzidos à dimensão técnica, pois compõem apenas anos que passou na Criméia, não ocupou nenhuma
um conjunto de ações que buscam colocar uma ou- posição pública. Sua força residia em ser uma autori-
tra ação em prática, já que as questões ideológicas e dade formidável na questão dos males a serem reme-
de poder intrínsecas ao planejar não são considera- diados, em saber exatamente o que fazer a respeito, e
das pelos enfermeiros.11 em usar a opinião pública para instigar os dirigentes a
As habilidades para a tomada de decisão com- usar sua agenda”.14:31-2
põem-se do pensamento crítico sobre as situações com Na discussão sobre a liderança e como ela sur-
base em análise e julgamento das perspectivas de cada ge, se é inata ou aprendida, os estudiosos da temática
proposta de ação e de seus desdobramentos. O racio- elucidam como nos diferentes momentos históricos
cínio lógico e intuitivo e a avaliação permeiam esse pelos quais passou a humanidade, eram vistas, a figura
processo. Dentre os conhecimentos da área de admi- do líder e o fenômeno da liderança. Desde as concep-
nistração a serem adquiridos nesta temática estão: o ções de que a liderança seria hereditária, o líder como
conhecimento da cultura e das estruturas de poder das o escolhido pela vontade divina, a liderança como ca-
organizações, o processo gerencial da tomada de de- racterística inata no ser humano, às concepções que

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 492-9.


- 496 - Peres AM, Ciampone MHT

apostam na possibilidades de desenvolver competên- A educação permanente é uma das modalida-


cias para liderança.13-14 des de educação no trabalho. Caracteriza-se por: pos-
No período de vigência da teoria das relações suir um público-alvo multiprofissional; ser voltada para
humanas a partir da década de 30, o foco da liderança uma prática institucionalizada; enfocar os problemas
mudou das características do líder para a ênfase nas de saúde e ter como objetivo a transformação das
atitudes do líder e a influência de seu estilo de lideran- práticas técnicas e sociais; ser de periodicidade contí-
ça no clima e resultados do grupo de trabalho. A teo- nua; utilizar metodologia centrada na resolução de pro-
ria situacional, também referenciada como teoria blemas e buscar como resultado a mudança. A educa-
contingencial da liderança, aponta que nenhum estilo ção permanente em saúde trabalhada tanto pelo gover-
de liderança é ideal para todas as situações e que os no federal quanto pela Organização das Nações Uni-
determinantes fundamentais do estilo de liderança das para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),
devem incluir tanto a natureza da situação, quanto a é utilizada como política de formação e qualificação de
capacitação do gerente e as habilidades da equipe. Em recursos humanos, onde o processo educativo deve ser
uma visão de liderança interacional e transformacional dinâmico, contínuo e trazer avanços sociais. A educação
contemporânea, a liderança eficaz depende também permanente dos recursos humanos deve visar auxiliá-
da cultura organizacional, dos valores do líder e da los na adequação aos contínuos avanços tecnológicos e
complexidade da situação.13 às mudanças sócio-econômicas.15
É preciso lembrar que gênero, poder e lideran- O envolvimento do enfermeiro no processo de
ça estão interligados. Pesquisas mostram que as mu- educação permanente acontece com a aquisição con-
lheres vêem o poder diferentemente do homem, como tínua de habilidades e competências que estejam de
forma de dominação em uma relação em que elas são acordo com o contexto epidemiológico e com as ne-
freqüentemente as subordinadas, o que acarreta mui- cessidades dos cenários de saúde, para que resultem
tas dificuldades para perceberem que também possu- em atitudes que gerem mudanças qualitativas no pro-
em poder.13 Esses aspectos culturais da liderança in- cesso de trabalho da enfermagem.
fluenciam também as relações de trabalho de uma Sobre a educação permanente como compe-
categoria predominantemente feminina. tência a ser adquirida pelos profissionais de saúde, a
Entre os conhecimentos gerenciais que subsidi- mesma pode ser viável sob o enfoque de atualização
am o desenvolvimento da liderança são destacados: contínua que busque inovar e suprir as necessidades
planejamento, estratégias gerenciais, estrutura de atualização do trabalho, desde que a instituição de
organizacional, gerência de pessoas, processo decisório, saúde se comprometa juntamente com o profissional,
administração do tempo, gerenciamento de conflito, facilitando ou participando do planejamento e desen-
negociação, poder e comunicação. volvimento de ações de educação permanente.
No entanto, quanto ao cumprimento do texto
das DCNs no que diz respeito a assumir a educação,
Educação permanente
treinamentos e estágios das futuras gerações profissi-
O exercício da competência ‘educação perma- onais e dos profissionais de serviço, constata-se que a
nente’ é citado nas DCNs como responsabilidade do formação proporcionada pelos cursos de graduação
profissional de saúde associada ao papel da universi- da área de saúde não capacitam para a função
dade e das políticas institucionais. “Os profissionais educativa. Os profissionais de saúde tentam mascarar
devem ser capazes de aprender continuamente, tanto essa lacuna com uma prática de ênfase técnico-cientí-
na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, fico que se desvirtua dos caminhos propostos pelas
os profissionais de saúde devem aprender a aprender políticas de saúde e de ensino.
e ter responsabilidade e compromisso com a sua edu- Nos cursos de enfermagem que formam ape-
cação e treinamento/estágios das futuras gerações pro- nas para o bacharelado, as disciplinas que abarcam
fissionais, mas proporcionando condições para que conteúdos da área da educação são trabalhadas de
haja benefício mútuo entre os futuros profissionais e maneira dispersa, com dificuldades em associar a edu-
os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e cação como saber da Enfermagem. Os cursos de en-
desenvolvendo a mobilidade acadêmica/profissional, fermagem que oferecem licenciatura precisam rever
a formação e a cooperação por meio de redes nacio- sua abordagem, ampliando-a para a capacitação do
nais e internacionais”.6:4 enfermeiro também exercer o processo educativo in-

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 492-9.


Gerência e competências gerais do enfermeiro - 497 -

formal, presente nas relações do dia-a-dia do traba- e de tecnologias de comunicação e informação”.6:4


lho em saúde, imprimindo a esse processo a disposi- Entre os fatores que impulsionam a necessidade
ção para aprender a aprender constantemente. de fortalecer os processos de comunicação na gerên-
Dentre os conhecimentos da área de Adminis- cia em Enfermagem estão a maior demanda da troca
tração que permitem identificar e acessar informações de informações entre serviços, instituições e popula-
para desenvolver a competência de educação perma- ção. Dois aspectos da comunicação serão abordados
nente, destacam-se os seguintes: planejamento, políti- neste tópico devido sua relevância para as relações de
cas de desenvolvimento de recursos humanos, orga- trabalho dos profissionais de saúde: as informações
nizações de aprendizagem pautadas em métodos ati- que sustentam o trabalho em saúde e a comunicação
vos, conhecimento do processo de trabalho, cultura interpessoal.
organizacional, negociação, trabalho em equipe, co- A importância da informação em saúde desta-
municação, qualidade de vida no trabalho, saúde do ca-se pela visão epidemiológica que propicia ao en-
trabalhador, leis trabalhistas, gerenciamento de pesso- fermeiro identificar problemas individuais e coletivos
as e educação continuada. na população, relacionados como elementos para a
análise da situação encontrada, subsidiando a busca de
Comunicação possíveis alternativas de encaminhamento e planeja-
Comunicação é a troca de informações, fatos, mento para a resolução dos problemas encontrados.
idéias e significados. Entre os componentes de uma Essas informações abrangem os dados referen-
comunicação estão a mensagem, o comunicador, o tes ao processo saúde-doença do indivíduo ou popu-
receptor, e o meio. Nos processos de codificação, lação analisada e ao transformar esses dados em co-
decodificação e feed-back são sentidas as influências de nhecimento efetivo para a ação de cuidados de En-
seus componentes como: a urgência da mensagem, a fermagem, instrumentalizam a implantação de uma
experiência e a habilidade do emissor, e a imagem que metodologia da assistência. A padronização apresenta
este tem do receptor. Mas, a maior interferência na importância especial na representação e comunicação
comunicação ocorre por conta dos ruídos de inter- das informações de Enfermagem.
pretação, capazes de distorcer a mensagem durante o Os tipos de comunicação mais conhecidos e
processo comunicativo.16 estudados são a comunicação verbal e a comunicação
Na comunicação interpessoal a capacidade que não-verbal. No entanto, outra forma de comunicação
o comunicador deve possuir para expressar o que sente, surge e domina cada vez mais o ambiente de trabalho:
pensa e precisa, aliada ao fato do receptor ser um bom a comunicação virtual. O processo de comunicação
ouvinte e estar aberto a escutar de fato seu interlocutor das informações, organizado em sistemas
facilita o sucesso da comunicação. No entanto, alguns informatizados e com funções diversas, garante que
empecilhos à comunicação merecem ser citados: a falta as pessoas recebam informações com facilidades para
de articulação e compreensão do problema; o engo- quem as envia, já que o princípio utilizado é o da in-
do nas relações, que acarreta falta de confiança e coo- clusão de nomes em listas. Essas inclusões transfor-
peração; as percepções de posição/status que podem mam as listas em verdadeiras redes sociais de infor-
distorcer a comunicação; fatores pessoais como mação. Nessa situação, os sistemas de informações
irritação do receptor em relação ao transmissor; dife- potencializam o pensar, facilitam o fazer e motivam o
rentes estilos de comunicação advindos de caracterís- comunicar-se na Enfermagem. Os sistemas de infor-
ticas pessoais, de gênero ou culturais.16 mação podem facilitar a troca de informações entre
A comunicação diz respeito ao ato de se comu- os diferentes níveis organizacionais, inclusive colocan-
nicar fora ou dentro da instituição, com clientes e ou- do-os em contato direto com as necessidades da cli-
tros profissionais. O profissional de saúde precisa sa- entela de Enfermagem.
ber comunicar-se e gerenciar a comunicação.7 “Os pro- A utilização dos sistemas de informações na
fissionais de saúde devem ser acessíveis e devem man- Enfermagem pode destinar-se: ao ganho de tempo
ter a confiabilidade das informações a eles confiadas, no acesso às informações, que facilita o pensar; ao
na interação com outros profissionais de saúde e o apoio operacional que facilita o fazer; ao apoio à ges-
público em geral. A comunicação envolve comunica- tão de pessoas, que auxilia no processo decisório e
ção verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitu- motiva a comunicação das equipes. A comunicação
ra; o domínio, de pelo menos, uma língua estrangeira virtual potencializa os tipos de comunicação verbal e

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 492-9.


- 498 - Peres AM, Ciampone MHT

não-verbal, agregando valor à assistência. A constituição do saber de administração na


Voltada à vertente da comunicação interpessoal, enfermagem deu-se a partir da necessidade de orga-
a competência em comunicação pode ser conceituada nizar os hospitais. Em sua dimensão prática, o saber
como um processo interpessoal que deve atingir o administrativo institucionalizou-se com a formação das
objetivo dos comunicadores, pressupor conhecimen- primeiras alunas da Escola Nightingale, que buscava
tos básicos de comunicação, possuir consciência do suprir a demanda de enfermeiras diplomadas para
verbal e do não-verbal nas interações, atuar com cla- fundarem novas escolas, ao serem treinadas para o
reza e objetividade, promover o autoconhecimento cargo de superintendente. A formação diferenciada
na busca de uma vida mais autêntica. A competência as disciplinava para ocuparem a chefia de enfermarias
comunicativa é fundamental para que o enfermeiro e a superintendência de hospitais.18
conquiste relações profissionais e pessoais mais signi- Chama a atenção que na área da enfermagem o
ficativas, maior autoconsciência e aceitação das dife- gerenciamento foi historicamente incorporado como
renças, ampliação dos caminhos de ensino e da pes- função do enfermeiro. Portanto, sempre houve no
quisa e conquista de um bem-estar.17 processo de formação desses profissionais um pre-
Na gerência, a competência comunicacional é paro “mínimo” para assumir esse papel. Entretanto,
essencial, “visto que para organizar é indispensável as DCNs estendem essa competência para outros pro-
comunicar-se, a fim de estabelecer metas, canalizar fissionais de saúde. Embora não seja objeto do pre-
energias e identificar e solucionar problemas, apren- sente estudo, empiricamente sabe-se que são poucas
der a comunicar-se com eficácia é crucial para as carreiras da área de saúde que incluem disciplinas
incrementar a eficiência de cada unidade de trabalho e voltadas ao gerenciamento de serviços de saúde na
da organização como um todo”.16:42 graduação. Mesmo dentre os atuais gerentes de servi-
ços de saúde, um pequeno percentual se especializam
Os conhecimentos identificados como essenci-
em gestão.
ais para o desenvolvimento da competência
comunicacional incluem: conhecimento do próprio Para o desenvolvimento da competência admi-
estilo de interação, administração de conflitos, negoci- nistração e gerenciamento são considerados indispen-
ação, escuta ativa, normas e padrões de comunicação sáveis o conjunto de conhecimentos identificados para
organizacional, sistemas de informação, trabalho em planejar, tomar decisões, interagir, gestão de pessoal.
equipe, metodologia da assistência, poder e cultura Assim nas DCNs, com ênfase nas funções adminis-
organizacional. trativas, destacam-se o planejamento, organização, co-
ordenação, direção e controle dos serviços de saúde,
Administração e gerenciamento além dos conhecimentos específicos da área social/
econômica que permitem ao gerente acionar dados e
“Os profissionais devem estar aptos a tomar ini- informações do contexto macro e micro-
ciativas, fazer o gerenciamento e administração tanto organizacional, e analisá-los de modo a subsidiar a
da força de trabalho, quanto dos recursos físicos e ma- gestão de recursos humanos, recursos materiais, físi-
teriais da informação, da mesma forma que devem es- cos e financeiros.
tar aptos a serem empreendedores, gestores, emprega-
dores ou lideranças na equipe de saúde”.6:4 O enfer- CONSIDERAÇÕES FINAIS
meiro tem sido o responsável pela organização e coor-
denação das atividades assistenciais dos hospitais e pela Apresentadas as competências gerais propostas
viabilização para que os demais profissionais da equipe pelas DCNs para a formação dos profissionais de
de enfermagem e outros da equipe de saúde atuem, saúde e apontadas suas interfaces com os saberes da
tanto no ambiente hospitalar quanto na saúde pública.9 Administração e da Enfermagem, surgem os desafios
a serem enfrentados para sua efetivação. A modalida-
Desde o advento da enfermagem moderna
de de formação por competências deve ser analisada
pode ser visualizada a dimensão prática do saber ad-
para não refletir apenas mais um modismo que serve
ministrativo que resultou na divisão técnica do traba-
a interesses de grupos específicos tanto do ensino, quan-
lho na enfermagem em que as nurses, de nível social
to do mercado de trabalho.
inferior prestavam cuidado direto aos doentes, enquan-
to as ladies-nurses de nível social elevado, possuíam As DCNs apresentam um texto com preten-
capacitação diferenciada e realizavam tarefas de su- sões de formar um profissional crítico-reflexivo, ati-
pervisão e ensino.18 vo diante das demandas do mercado de trabalho.6 Mas,
Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 492-9.
Gerência e competências gerais do enfermeiro - 499 -

do outro lado tem-se um mercado de trabalho priva- 5 Witt RR. Competências da enfermeira na atenção básica:
do que prefere contar com o desempenho técnico- contribuição à construção das Funções Essenciais de Saúde
científico para atender o capital do mundo globalizado Pública [tese]. Ribeirão Preto (SP): USP/EERP; 2005.
e um serviço público de saúde que enfrenta dificulda- 6 Ministério da Educação (BR), Conselho Nacional de
des em inserir e manter um profissional que atue ati- Educação. Resolução No 3, de 07 de novembro de 2001.
vamente no sistema de saúde. Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em
Enfermagem. Diário Oficial da República Federativa do
Percebe-se uma divisão acentuada entre ensino Brasil, 09 Nov 2001. Seção 1. p.37.
e serviço. Enquanto na dimensão estrutural das políti-
cas de educação e de saúde existe a preocupação com 7 Berndt FPG. Competências gerenciais do enfermeiro
[dissertação]. Florianópolis (SC): UFSC/Programa de Pós-
a inserção do futuro profissional no SUS, propondo
Graduação em Administração; 2003.
estratégias para a ampliação da participação das esco-
las formadoras no sistema de saúde, estas e os servi- 8 Silva CC. Competências na prática educativa para constituição
da força de trabalho em saúde: um desafio aos educadores
ços de saúde locais e regionais possuem muitas difi-
[tese]. São Paulo (SP): USP/Escola de Enfermagem; 2003.
culdades para articular parcerias interessantes para
ambos os lados. A situação pode ser analisada como 9 Lunardi Filho WD, Lunardi VL. Uma nova abordagem no
um contra-senso, já que ao concluir a graduação, o ensino de enfermagem e de administração em enfermagem
como estratégia de (re)orientação da prática profissional do
profissional partirá para o mercado de trabalho. Este
enfermeiro. Texto Contexto Enferm. 1996 Maio-Ago; 5
por sua vez, deseja um profissional experiente, porém (2): 20-4.
não está disposto a investir em treinamento, com ex-
10 Felli VEA, Peduzzi M. O trabalho gerencial em enfermagem.
ceção de alguns hospitais universitários ou serviços
In: Kurcgant P, organizador. Gerenciamento em
públicos de saúde.
enfermagem. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan;
Outro desafio está na mudança das abordagens 2005.
pedagógicas ainda predominantes no ensino da enfer- 11Ciampone MHT, Melleiro MM. O planejamento e o
magem em que prevalece a transmissão de conheci- processo decisório como instrumentos do processo de
mentos que desconsidera metodologias ativas de ensi- trabalho gerencial. In: Kurcgant P, organizador.
no. O ensino por competências pode ajudar a trans- Gerenciamento em enfermagem. Rio de Janeiro (RJ):
formar o ensino de administração em enfermagem Guanabara Koogan; 2005.
onde a dissociação teoria-prática é evidenciada quan- 12 Marx LC, Morita LC. Competências gerenciais na
do o egresso da formação tradicional se depara com enfermagem: a prática do Sistema Primary Nursing como
o mundo do trabalho. parâmetro qualitativo na assistência. São Paulo (SP): BH
Comunicação; 2000.

REFERÊNCIAS 13 Marquis BL, Huston CJ. Administração e liderança em


Enfermagem: teoria e aplicação. 2a ed. Porto Alegre (RS):
1 Brasil. Lei No 9.394, de 20 de dezembro 1996. Estabelece Artes Médica Sul; 1999.
as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da
14 Gardner JW. Liderança. Rio de Janeiro (RJ): Record; 1990.
República Federativa do Brasil, 23 Dez 1996. Seção 1. p.27.
15 Mancia JR, Cabral LC, Koerich MS. Educação permanente
2 Almeida M. As novas diretrizes curriculares para os cursos no contexto da enfermagem e na saúde. Rev. Bras. Enferm.
da área de saúde. Londrina (PR): Rede Unida; 2003. 2004 Set-Out; 57 (5): 606-10.
3 Ministério da Educação (BR), Conselho Nacional de 16 Quinn RE, Thompson M, Faerman SR, McGrath M.
Educação. Resolução No 4 de 22 Dez 1999: diretrizes Competências gerenciais: princípios e aplicações. 3a ed. Rio
curriculares nacionais para a educação profissional de nível de Janeiro (RJ): Elsevier; 2003.
técnico [acesso em 2005 Dez 18]. Disponível em: http://
www.mec.gov.br/cne/pdf/CEB04991.pdf 17 Braga EM. Competência em comunicação: uma ponte entre
aprendizado e ensino na enfermagem [tese]. São Paulo
4 Fleury MTL, Fleury A. Desenvolver competências e gerir (SP): Esc. Enferm. USP; 2004.
conhecimentos em diferentes arranjos empresariais: o caso
18 Gomes ELR, Anselmi ML, Mishima SM, Villa TCS, Pinto
da indústria brasileira de plástico. In: Fleury MTL, Oliveira
IC, Almeida MCP. Dimensão histórica da gênese e
Jr MM, organizadores. Gestão estratégica do conhecimento:
incorporação do saber administrativo na enfermagem. In:
integrando aprendizagem, conhecimento e competências.
Almeida MCP, Rocha SMM, organizadores. O trabalho de
São Paulo (SP): Atlas; 2001. p.189-211.
enfermagem. São Paulo (SP): Cortez; 1997. p.229-50.

Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2006 Jul-Set; 15(3): 492-9.

Você também pode gostar