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Etanol: a Hora do Brasil

Agora que governos de países do mundo inteiro voltam seus interesses para os combustíveis
renováveis, surgem os críticos, culpando os biocombustíveis pela crise de alimentos no mundo.
Parece uma jogada de gente esperta, que não se conforma com a liderança do Brasil na área.

O mercado internacional de biocombustíveis ainda é incipiente, portanto é improvável que seja


o culpado pela falta de alimentos. Para o Governo Brasileiro, a culpa é da alta de preços do
petróleo. Além disso, países como China e Índia estão consumindo mais alimentos, e o
aquecimento global fez diminuir a produção em alguns países. O assunto está quente na mídia.

O fato é que o álcool substitui com eficiência o petróleo, não só como combustível, mas
principalmente como matéria-prima da indústria química, na produção de materiais, como o
plástico. Para os países industrializados, a alcoolquímica é uma opção mais barata e segura
que a petroquímica, pois o petróleo é caro, escasso, não-renovável e altamente poluente.

O Brasil domina a tecnologia de produção de álcool combustível desde o final dos anos 70,
portanto há 30 anos. É também pioneiro no uso de etanol em larga escala. O consumo interno
vem aumentando, para atender os carros flex, e em janeiro de 2008, pela primeira vez, o
consumo de álcool em nosso País ultrapassou o consumo de gasolina, em 1,6%. O álcool é
55% mais barato que a gasolina.

Atualmente, o Brasil exporta pouco etanol. Em 2006, dos 16 bilhões de litros de álcool
produzidos, exportamos menos de 3 bilhões. Entretanto, este mercado está bastante aquecido.
A União Européia, os Estados Unidos e o Japão já manifestaram interesse em comprar etanol
brasileiro. Assim, a perspectiva é que o consumo aumente consideravelmente nos próximos
anos.

Para o Brasil, tradicional exportador de matéria-prima, dominar a tecnologia de produção e de


consumo do etanol em larga escola é motivo de orgulho. Quem se lembra do início do
Programa Nacional do Álcool (Proálcool), quando os veículos movidos a etanol demoravam
para dar partida? Hoje o setor sucroalcooleiro brasileiro tem conhecimento e capacidade para
expandir-se, num mercado livre e competitivo.

Nos últimos dez anos, produtores e universidades paulistas investiram em pesquisas, e hoje a
produtividade da cana brasileira é 25% maior que a de outros países produtores.
Desenvolvemos variedades resistentes à seca, doenças, herbicidas e pragas, que podem ser
colhidas no meio e no fim de safra, com alto teor de sacarose.

Em relação à responsabilidade socioambiental, o setor sucroalcooleiro também melhorou


muito. Os resíduos da indústria canavieira são usados na adubação do solo e na geração de
energia. A queimada, um dos principais fatores poluentes, tem prazo para acabar, pois um
decreto do governo federal proíbe a queima dos canaviais a partir de 2018, o que torna
irreversível o processo de mecanização da colheita.

Os produtores sabem muito bem que combustível nenhum será comercializado no mercado
internacional, se tiver como origem lavouras onde existe trabalho infantil ou escravo,
desmatamento e poluição da atmosfera, do solo e das águas. Pesquisadores brasileiros
prevêem que, em breve, o setor sucroalcooleiro vai buscar a certificação do etanol, a fim de
assegurar a qualidade e o respeito às questões sociais e ambientais.

Estudos revelam que o Brasil tem oferta de terras já degradadas, como pastos, que podem ser
ocupados para plantação da cana-de-açúcar. Uma pesquisa realizada pela Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), sob a coordenação do professor Rogério Cerqueira Leite,
indica que o Brasil possui áreas disponíveis, que não são áreas de preservação, para aumentar
a produção de cana em 35 milhões de hectares, e produzir 100 bilhões de litros de álcool por
ano, em 20 anos. A área plantada na última safra foi de 7 milhões de hectares.

Nosso desafio é servir um mercado externo novo, e em evolução. Será necessário controle de
estoque criterioso, para garantir regularidade no fornecimento e assegurar o equilíbrio entre a
demanda e a oferta. Outro problema a ser equacionado diz respeito à logística de escoamento
do produto, e para isso já estão sendo construídos os alcooldutos.

Portanto, no mercado de biocombustíveis e da alcoolquímica, quem possui tecnologia,


conhecimento, infra-estrutura e experiência de uso é o Brasil. Desta vez, nós chegamos
primeiro. Então, com licença, críticos de todas as paragens, mas chegou a nossa hora de
crescer. Deixem os brasileiros trabalharem!

Rita de Cássia Volpato


Comunicadora, especialista em Gestão Estratégica e Educação
ritavolpato@uol.com.br
www.castilhogestao.com.br

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