Você está na página 1de 122

A Mudança Linguística e a

Evolução Semântica

Qual a vossa opinião sobre a relação entre a


evolução linguística e as ciências sociais, como
a sociologia e a psicologia?

1
Comunidade linguística
Uma comunidade linguística é um grupo de pessoas
que utiliza uma língua ou um dialecto, para
comunicarem entre si, num dado momento da
história de uma população.
Para se pertencer a uma comunidade linguística, não
é obrigatório que a língua em questão seja a língua
materna de todos os elementos que a actualizam,
basta apenas conhecer a língua a um nível que
permita a comunicação com as pessoas que a
utilizam no seu dia-a-dia.
2
Competência linguística
A competência linguística consiste na capacidade intuitiva que o
falante tem para utilizar a sua língua materna.
Isto quer dizer que qualquer pessoa sabe regras de concordância
gramatical sem nunca as ter estudado, ou seja, qualquer
pessoa pode falar uma língua desde que a tenha aprendido
oralmente.
A competência linguística também é denominada por faculdade
da linguagem e conhecimento da língua, ou seja, o principal
objecto de conhecimento da linguística generativa. Apenas
por termos competência linguística conseguimos comunicar e
organizar-nos em sociedade.

3
Competência comunicativa
A competência comunicativa é uma capacidade do falante
para usar a competência linguística de forma adequada a
situações sociais específicas.
Uma pessoa apenas consegue comunicar mediante o
domínio de conhecimentos extralinguísticos e contextuais.
Quer isto dizer que temos de adequar a nossa atitude
comunicativa às situações com que nos deparamos, e tal
consiste em saber o que dizer, a quem o dizer e a forma a
adoptar para nos exprimirmos de acordo com cada
situação.

4
Competência metalinguística
A competência metalinguística é a capacidade que o
falante tem de trazer para o nível do consciente
traços inconscientes da sua língua por meio de
múltiplas estratégias entre as quais se contam os
trocadilhos e os jogos de palavras.
Esta competência metalinguística está intimamente
relacionada com o conceito desenvolvido por
Vygotsky sobre as consequências linguística-
cognitivas decorrentes da aprendizagem de uma
Segunda Língua.
5
Vygotsky afirma:
«a foreign language facilitates mastering the
higher forms of the native language. The child
learns to see his language as one particular
system among many, to view its phenomena
under more general categories, and this leads
to awareness of his linguistic operations.
Goethe said with thuth that “he knows no
foreign language does not truely know his
own”»
6
Vygotsky e a metalinguística
A aprendizagem de L2 (língua segunda) é condição que
promove e estimula o desenvolvimento das capacidade
metalinguísticas .
A aprendizagem de L2 contribui para um melhor domínio
das “formas superiores” de L1 (língua primeira ou
materna).
Desta forma associamos o fenómeno linguístico ao
metalinguístico.
Uma criança bilingue consegue distinguir mais cedo a
distinção entre a forma física da palavra e o seu
correspondente significativo.
7
competência textual
A competência textual é a correcta interpretação
de um enunciado introduzido num contexto ou
numa situação.
Existem textos que variam de acordo com o
contexto social ou a situação histórica em que
se encontram.
O domínio da competência textual é fundamental
para a correcta interpretação de um enunciado
linguístico.
8
Domínio das competências
Um bom domínio de todas estas competências
proporciona ao indivíduo um acesso ao
conhecimento que é fundamental para o seu
desenvolvimento pessoal.
Deste modo é essencial conhecermos bem a
nossa língua materna, para podermos
comunicar e interpretar correctamente os
conteúdos das palavras e frases que nos
entram pelos olhos e pelos ouvidos.
9
Faculdade da linguagem
A Linguagem é a capacidade humana, inata e universal,
que permite a aquisição rápida das regras de
funcionamento da língua que a criança ouve durante
os primeiros anos de vida e que lhe possibilita a
construção progressiva da respectiva gramática.
A Linguagem é um sistema em mudança constante
Linguagem infantil é fundamental na moderna
concepção de definição de norma linguística, o
sistema da língua que avalia e gere a mudança.

10
Aquisição da linguagem
 Processo através do qual o indivíduo aprende a
sua língua materna, adquirindo as regras de
funcionamento dessa língua por simples
exposição à sua utilização no contexto em que
está inserido.
O processo de aquisição denomina-se por input
linguístico.
Opõe-se ao conceito de aprendizagem, que
implica o outro tipo de competências.
11
Gramática Interiorizada
Conhecimento que o falante, a pessoa que comunica
numa determinada língua, tem do modo de
funcionamento da sua língua, das estruturas
gramaticais e lexicais.
Este conhecimento é adquirido inconscientemente
durante o período da aquisição da língua.
Este conceito foi desenvolvido pela linguística
generativa, a escola Chomskyana, que pensa na
linguagem como uma característica da espécie
humana.
12
Gramática
Estudo do funcionamento das línguas,
geralmente de uma língua, com referência aos
seus aspectos fonológicos, morfológicos,
sintácticos e semânticos.
O termo gramática aplica-se ao livro que
explicita esse estudo mas pode também
aplicar-se ao conhecimento implícito que os
falantes têm do funcionamento da sua língua.

13
Mudança Fonética
Fenómeno que ocorre durante um
determinado período da história de uma
língua e que consiste nas evoluções operadas
no seu sistema sonoro. Reconhecem-se vários
tipos de mudanças fonéticas (ou fonológicas),
que podem afectar o número total de
fonemas (quando um fonema se divide em
dois ou quando o inverso se verifica) ou
apenas os alofones de um fonema.
14
Regularidade da mudança fonética

A mudança fonética que não é condicionada


por factores não fonéticos é regular e opera
sem excepções durante um certo período de
tempo e numa dada comunidade linguística,
com possíveis restrições contextuais. Certas
mudanças (incluindo a dissimilação e a
metátese) ficam excluídas desta hipótese.

15
Fonologia
Ramo da linguística que estuda os sistemas sonoros das
línguas. Da variedade de sons que o aparelho vocal humano
pode produzir, e que é estudado pela fonética, só um
número relativamente pequeno é usado distintivamente
em cada língua.
Os sons estão organizados num sistema de contrastes,
analisado em termos de fonemas, segmentos, traços
distintivos ou quaisquer outras unidades fonológicas de
acordo com a teoria usada.
A enorme variedade de sons produzidos pelo aparelho
fonador humano não é totalmente uniforme nem
classificável do ponto de vista fonológico.
É indispensável saber fazer uma análise pormenorizada
para distinguir os fonemas e os traços fonológicos de
outras unidades com valor acústico também produzidas
pelo aparelho fonador.
16
Fonologia
A análise fonológica divide-se em dois níveis:

1. O nível segmental é um dos dois níveis de análise fonológica das


línguas, onde incluímos os segmentos, ou fonemas, que constituem
as sequências fónicas.
Este nível ocupa-se da representação dos sons que correspondem
articulação das letras do alfabeto.
O nível segmental classifica os sons e as sequências de sons.

2. O nível prosódico representa cada um dos níveis da árvore métrica.


Os constituintes prosódicos são unidades mais vastas que o
segmento. Estes elementos são regulados por princípios rítmicos de
alternância entre unidades mais salientes e unidades menos
salientes.

17
Morfologia

A morfologia é a disciplina da linguística que descreve


e analisa a estrutura interna das palavras e os
mecanismos de formação de palavras.
O processo morfológico resulta de uma operação de
adjunção ou supressão de constituintes da palavra,
ou de alteração da sua estrutura interna, que actua
sobre uma forma de base e gera uma nova forma.
O neologismo, isto é, o actor principal no processo
da mudança linguística.

18
Sintaxe
Área da linguística que estuda as regras, as
condições e os princípios subjacentes à
organização estrutural dos constituintes das
frase, ou seja, o estudo da ordem dos
constituintes das frases.

19
Semântica
Área da linguística que estuda o significado tal como ele é
estruturado nas línguas.
O termo é usado de formas variadas em diversos campos,
entre os quais é de salientar a filosofia e a lógica em virtude
da sua relação com a semântica linguística.
Em filosofia é dada importância fundamental à relação
entre linguagem (ou língua) e mundo, assumindo formas
diversas consoante a concepção filosófica subjacente
(realismo, nominalismo, conceptualismo...).
Em lógica, a semântica de uma língua ou de um sistema
formal é sobretudo o estudo das relações entre o sistema
(estudado pela sintaxe) e os seus modelos ou
interpretações.

20
Mudança Linguística

O Dicionário de Termos Linguísticos (Lisboa, Edições Cosmos), organizado por


Maria Francisca Xavier e Maria Helena Mira Mateus, define os termos:

Mudança Linguística:
«Qualquer modificação sofrida pela estrutura de uma língua (a nível fonético,
fonológico, morfológico, sintáctico ou semântico) ao longo do tempo.»

Variação Linguística:
«[O] fenómeno pelo qual uma determinada língua nunca é, numa dada
época, lugar e grupo social, igual ao que era numa outra época, num
outro lugar e num outro grupo social.

21
Variação Linguística
1. A variação diacrónica ou diafásica é o objecto de
estudo da gramática e da linguística históricas.

2. A variação diatópica é o objecto de estudo da


geografia linguística e da dialectologia.

3. A variação diastrática é o objecto de estudo da


sociolinguística que se ocupa da variação social»,
isto é variação sincrónica.

22
Conceito de Diacronia
Dá-se o nome de diacronia ao carácter dos
factos linguísticos considerados na sua
evolução através do tempo ou à disciplina
que se ocupa do seu estudo (linguística
diacrónica). A diacronia pode ainda ser
encarada como uma sucessão de sincronias.

Fonte: Dubois 1973

23
Conceito de Sincronia
O conceito de Sincronia refere-se ao estado de língua considerado no
seu funcionamento num dado momento do tempo, sem ter em conta o
processo de mutação histórica. Estuda a variação nas vertentes
diastráticas (sociolinguística) e diatópicas (dialectologia).

Ambos os conceitos de Diacronia e Sincronia foram cunhados pelo


Linguista Ferdinand de Saussure (Genebra 1857- Morges 1913).

Saussure foi um linguista e filósofo  cujas elaborações teóricas


propiciaram o desenvolvimento da linguística enquanto ciência e
desencadearam o surgimento do estruturalismo.

O pensamento de Saussure estimulou muitas das questões da linguística


do Século XX.

24
Eixo paradigmático

Eixo diacrónico

Eixo sincrónico
25
Ferdinand de Saussure (1857-1913)
Significante X Significado

O signo linguístico constitui-se numa combinação de significante e


significado, como se fossem dois lados de uma moeda.

– O significante do signo linguístico é uma "imagem acústica"


(cadeia de sons). Consiste no plano da forma.
– O significado é o conceito, reside no plano do conteúdo.

A teoria do valor é um dos conceitos cardeais do pensamento de


Saussure. Sumariamente, esta teoria postula que os signos
linguísticos estão em relação entre si no sistema de língua.
Entretanto, essa relação é diferencial e negativa, pois um signo só
tem o seu valor na medida em que não é um outro signo qualquer:
um signo é aquilo que os outros signos não são.

26
Ferdinand de Saussure (1857-1913)
Língua X Fala

Saussure separa a língua da fala.

Para ele, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos


outros e que está depositado como produto social na mente de
cada falante de uma comunidade, possui homogeneidade e por isto
é o objecto da linguística propriamente dita.

A língua é muito diferente da fala que é um acto individual e está


sujeito a factores externos, muitos desses não linguísticos e,
portanto, não passíveis de análise. A fala está relacionado com
factores extralinguísticos, o denominado “saber sobre” de natureza
metalinguística, relacionável com os estudos de Vygotsky que
adiante faremos referência.

27
Ferdinand de Saussure (1857-1913)
Sincronia X Diacronia

Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrónica, um


estudo descritivo da linguística em contraste com a visão
diacrónica do estudo da linguística histórica, estudo da
mudança dos signos no eixo das sucessões históricas, a forma
como o estudo das línguas era tradicionalmente realizado
no século XIX.

A partir da visão sincrónica, Saussure procurou entender a


estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento
numa dado ponto do tempo (recorte sincrónico).

28
Ferdinand de Saussure (1857-1913)
Sintagma X Paradigma

O sintagma, definido por Saussure como “a


combinação de formas mínimas numa unidade
linguística superior”, e surge a partir da linearidade
do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de
pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois
um termo só passa a ter valor a partir do momento
em que ele se contrasta com outro elemento. Já o
paradigma é, como o próprio autor define, um
"banco de reservas" da língua fazendo com que suas
unidades se oponham pois uma exclui a outra.

29
factores externos da mudança

Tudo o que, sendo próprio de uma dada


comunidade, nomeadamente a sua estrutura
social e o tipo de contacto que estabelece
com comunidades linguisticamente
diferentes, tem influência sobre a língua
falada por essa comunidade, determinando
modificações da sua estrutura.
Contacto com outras línguas

30
factores internos da mudança

Tudo o que, sendo parte integrante de um dado sistema


linguístico, age como condicionamento de mudanças no
interior desse sistema.

Mudanças de pronunciação das palavras:


Há-des em vez de Hás-de
Mudança determinadas pela aplicação da lei do menor
esforço

31
História da gramática
O estudo da gramática iniciou-se à mais de quatro mil anos.
A primeira gramática de que se tem notícia é a de Panini para o sânscrito,
uma língua ainda hoje falada na Índia que terá surgido em torno de 1500 a.C.

Os gregos foram dos primeiros a pensar sobre a linguagem no ocidente.


Aceita-se que o estudo formal da gramática se tenha iniciado com os gregos, que a
partir de uma perspectiva filosófica descobriram a estrutura da língua.

O gramático grego Dionísio, o Trácio, escreveu a "Arte da Gramática", esta obra


que serviu de base para as gramáticas grega, latina e de outras línguas europeias
até o Renascimento.

Com o advento do Império Romano, e com os processos da latinização e da


romanização, os romanos receberam a tradição gramatical dos gregos e
traduziram-na para latim.

32
História da gramática
No século XVIII iniciaram-se as comparações entre as várias línguas europeias e
asiáticas. No século XIX, surgiu a gramática comparativa, como enfoque
dominante da Linguística.
Gottfried Wilhelm Leibniz, linguista comparativista, afirma que
"maioria das línguas provinha de uma única língua, a indo-européia".

Até o início do século XX, ainda não havia descrição gramatical da língua dentro de
seu próprio modelo.

Abordando esta perspectiva, surgiu o "Handbook of american Indian languages"


[Manual das línguas indígenas americanas) em 1911, do antropólogo Franz Boas,
assim como os trabalhos do estruturalista dinamarquês Otto Jespersen, que
publicou, em 1924, "A filosofia da gramática".
Boas desafiou a metodologia tradicional da gramática ao estudar línguas não
indo-européias que careciam de testemunhos escritos.

A análise descritiva, representada nestes dois autores, desenvolveu um método


preciso e científico, além de descrever as unidades formais mínimas de qualquer
língua. Introdução do estudo da análise fonética histórica.

33
História da gramática
Para Ferdinand de Saussure, "a língua é o sistema que sustenta qualquer
idioma concreto", isto é, o que falam e entendem os membros de
qualquer comunidade linguística, pois participam da gramática.

Em meados do século XX, Noam Chomsky concebeu a teoria da "gramática


universal", baseada em princípios comuns a todas as línguas. Gramática
generativa, como qualidade genética do ser humano.

Também nos séculos XIX e XX, se estabeleceram as bases científicas


da Semiótica, como "sistema de signos", a conectar várias ou todas as
áreas do conhecimento.

Em língua portuguesa, a primeira gramática conhecida é da autoria de Fernão


de Oliveira, foi publicada em Lisboa, em 1536, com o título “Grammatica
da lingoagem portuguesa”. Adiante faremos referência com maior
pormenor à vida do primeiro gramático português

34
História da gramática
Foram os gregos os primeiros a elaborar gramáticas em
função dos sistemas de escrita.
O pensamento Grego deu origem a considerações sobre a
linguagem em termos cognitivos, estreitamente
relacionada com a vertente normativa que regula o “bom
uso da linguagem”.

Esta visão normativa da gramática dominou os estudos até


ao aparecimento das novas abordagens de análise da
língua e das ciências até ao final do século XIX.

Longo período em que as ciências da gramática se


preocupavam unicamente com o uso correcto da língua.

35
Abordagens gramaticais
Podemos considerar três grandes correntes gramaticais:

1. A corrente tradicional, da Gramática Tradicional ou Normativa,


preocupada com o “bom uso” da linguagem e que desenvolveu a
ortografia e a eloquência, proveniente da tradição greco-latina.

2. A corrente descritiva, a da Gramática Estruturalista, preocupada


com a descrição da língua tal como se fala, pretendendo verificar
como funcionam as diferentes partes do sistema linguístico.

3. A corrente da Gramática Generativa ou Transformacional que


estuda o dinâmico percurso que vai dos processos mais profundos
aos da superfície. Consiste numa proposta teórica de gramática
explícita que compreende um conjunto de regras formais, de
princípios e de parâmetros universais subjacentes ao conjunto
infinito de enunciados. Gramática Universal de Chomsky.
36
Gramática Descritiva
Estudo que descreve o funcionamento dos sistemas
de elementos que pertencem aos vários níveis da
língua (ou seja, dos sons, das palavras e das
frases) e da interrelação existente entre estes
sistemas, tomando como base tanto a sua
utilização oral como escrita.
Tome-se como exemplo a Nova Gramática do
Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Luís
Lindley Cintra (a primeira edição é de 1984 e foi
publicada em Lisboa , pela Edições João Sá da
Costa).

37
história externa e história interna

A história externa de uma língua estuda as


modificações que se produzem na
comunidade linguística que a fala e nas suas
necessidades, com o objectivo de determinar
as condições da evolução linguística
propriamente dita.
A história interna estuda as modificações
sofridas pela estrutura de uma língua no
decurso da sua evolução.

38
História do Latim
Para compreendermos efectivamente a origem do português é
fundamental conhecer a origem da língua e da cultura de Roma.
 
O latim é a língua mãe de todas as línguas românicas tendo os
fundamentos da civilização ocidental sido lançados pela
expansão Império Romano.

Para se perceber a sua importância na cultura e mentalidade dos


povos da actualidade é absolutamente necessário ter
conhecimento de que um em cada dez habitantes do planeta
comunica diariamente utilizando línguas provenientes do latim.

39
História da Língua
Embora o latim seja hoje uma língua morta, com poucos
falantes fluentes e sem que ninguém o tenha por língua
materna, ainda é usado pela Igreja Católica.
Exerceu enorme influência sobre diversas línguas vivas, ao servir
de fonte vocabular para a ciência, o mundo académico e
o direito.
O latim vulgar, um dialecto do latim, é o ancestral das línguas
neolatinas, italiano, francês, espanhol,
português, romeno, catalão,  e outros idiomas.
Muitas palavras adaptadas do latim foram adoptadas por outras
línguas modernas, como o inglês.
O latim gozou do estatuto de língua franca do mundo
ocidental por mais de mil anos é prova de sua influência.
40
História da Língua
O latim é uma antiga língua indo-europeia do ramo itálico originalmente falada
no Lácio, a região do entorno de Roma.
Foi amplamente difundida, especialmente na Europa, como a língua
oficial da República Romana, do Império Romano e, após a conversão deste
último ao cristianismo, da Igreja Católica.
Através da Igreja, tornou-se a. língua dos académicos
e filósofos europeus medievais .
Galileu Galilei com o «Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo» publicado
em 1632, foi o primeiro académico europeu a escrever em língua vulgar, no
dialecto toscano, a partir do qual é fixada a norma linguística italiana.
O latim, por ser uma língua altamente flexiva e sintética, tem uma sintaxe variável
quando comparada com a de outros idiomas.
A sintaxe latina é indicada por uma estrutura de afixos (sufixos e prefixos) ligados a
temas.
O alfabeto latino, derivado dos alfabetos etrusco e grego (por sua vez, derivados
do alfabeto fenício), continua a ser o mais usado no mundo.

41
A formação do Império Romano
A língua latina está documentada pelo menos a partir do
século VI a.C. e a sua localização inicial correspondia
apenas à cidade de Roma e à região que a circundavam.
Nessa longínqua época Roma encontrava-se rodeada de
povos que falavam outras línguas indo-europeias e não
indo-europeias.
Entre as línguas não indo-europeias destacava-se a norte
o Etrusco, que inicialmente ocupava uma área
geográfica mais ampla que o latim e também era
dotada de um maior prestígio.

42
Mapa da Europa antes da Expansão de Roma

43
Latim - Períodos históricos
Pré-clássico, do século VII a.C. ao século II a.C.. As inscrições mais antigas procedem
do século VII a.C. Nos séculos III e II a.C. a literatura faz sua aparição, sob
influência grega (Plauto, Terêncio).

Clássico, do século II a.C. ao século II d.C. A idade dourada da literatura latina.

Latim vulgar, incluindo o período patrístico, do século II ao V, inclusive


a Vulgata de São Jerónimo e as obras de Santo Agostinho.

Período medieval, do século VI ao século XIV; surgem as línguas românicas.

Período renascentista, do século XIV ao XVII.

Neolatim (ou latim científico), do século XVII ao final do século XIX.


Após a sua transformação nas línguas românicas, o latim continuou a fornecer um
repertório de termos para muitos campos semânticos, especialmente culturais e
técnicos, para uma ampla variedade de línguas.

44
A Romanização
A Romanização é o processo pelo qual Roma expande as suas
fronteiras políticas com o objectivo de exercer domínio com os
diferentes povos. Foi um longo processo de expansão que se iniciou
no século IV a.C. até ao século IV d.C.
A Romanização fez-se em diferentes graus, com diferentes ritmos e
com diferentes intensidades.
Houve zonas que assimilaram a cultura e a civilização romanas com
relativa rapidez e profundidade e houve zonas em que a Romanização
foi tardia, menos profunda, mais superficial.
A Romanização fez-se então de diversos modos, graus, épocas e de
acordo com as características culturais de cada região.

45
Latinização
Latinização é o processo através do qual a língua latina vem
sendo imposta nos territórios romanizados.
A assimilação linguística processou-se numa linha de latinização
das populações integradas no império. Não correspondeu a
uma política sistemática e consertada do povo Romano,
consistiu sim na difusão e adopção da língua latina por parte
das populações que integraram o Império Romano.
No seio deste enorme império ocorreu uma difusão e uma
assimilação pela quase totalidade das populações aloglotas,
isto é, populações que falavam outras línguas.
A relação que hoje existe entre a língua e a identidade
comunitária não existia na antiguidade, tendo nascido esta
consciência étnica com o estabelecimento das nações
modernas.
46
A invasão da península Ibérica
A invasão da Península Ibérica ocorreu segundo duas vias de penetração
quase simultânea de colonos romanos. Houve uma invasão de legiões,
que chegaram pelo Rio Ebro e percorreram todo o território do norte
em direcção à Galiza, constituída por colonos Oscos e Úmbrios.
Uma outra vaga de legiões aporta a Sul, na região da cidade de Cádis,
junto ao estreito de Gibraltar, e segue pela Lusitânia chegando às
costas do mar Cantábrico formada por colonos oriundos do Sul da
Itália e da Sicília.
Esta bivalência no local de entrada das legiões romanas e de origem das
populações invasoras, tanto de militares como de colonos, conduz
necessariamente a uma diversidade. Estas diferenças verificaram-se
tanto a nível linguístico, como a nível da identidade da origem
geográfica e sócio-cultural dos colonos e dos militares.

47
Divisão administrativa Romana na
Península Ibérica
Para uma correcta e profícua administração, Roma opta pela divisão da
Hispânia em duas regiões. A primeira divisão administrativa de 192 a.C.
dividiu a Península Ibérica entre Hispânia Citerior e Hispânia Ulterior.
Posteriormente, em 27 a.C., no tempo do imperador Augusto, é feita uma nova
divisão administrativa que divide a Península Ibérica em três regiões, a
Hispânia Citerior Tarraconense permanece indivisa e a Hispânia Ulterior é
dividida em duas províncias, a Lusitânia e a Bética.
A subdivisão da Ulterior sedimenta as grandes diferenças culturais e linguísticas
então já existentes.
A terceira e última divisão administrativa ocorre em 216 d.C. com a
constituição de uma província no Noroeste peninsular, até então incluída na
Hispânia Citerior.
Esta nova região é denominada por “Galécia” ou “Gallaecia et Asturica” ou
ainda a “Hispânia Citerior Nova”.

48
49
Édito de Caracala 212 d.C.
No ano de 212 d.C. o imperador Caracala, compreendendo
que a assimilação cultural e linguística estava praticamente
consumada em todo o império, não havendo já uma
verdadeira distinção entre vencidos e vencedores, decretou
uma medida legislativa segundo a qual todos os cidadãos
livres do Império gozavam da cidadania romana.
Esta medida ficou conhecida como o Édito de Caracala.
Este édito determinava que todos os súbditos livres do
império podiam gozar da categoria de “cidadão romano”
desde que soubessem falar e escrever em latim.

50
A importância do latim como língua de
cultura e ascensão social

O conhecimento e domínio do latim era também


pressuposto para aqueles que eram ou aspiravam ser
cidadãos romanos, “ciues romani”, o que era um altíssimo
privilégio entre as gentes que constituíam a população do
império, uma vez que apenas os cidadãos romanos podiam
aceder aos mais prestigiados cargos públicos, quer fossem
políticos ou administrativos.
Se tivermos em conta o que se passou na História da
república e do Império Romano verificamos que, inicialmente,
a cidadania era um privilégio de muito poucos.

51
Mudança Linguística
A transformação ou evolução de uma língua para outra
língua decorre, normalmente, segundo um processo de
mudança linguística influenciada por factores internos e
externos.
Os factores da estrutura interna resultam na transformação
estrutural de uma língua, e no caso do latim estes processos
de mudança permitem compreender que a partir de
determinada altura já não se falava Latim, tendo por base os
documentos escritos, produzidos pelas populações ao longo
do tempo.
Os factores externos relacionam-se com o momento em que
as populações da România tomaram consciência de que o que
falavam já não era Latim.
52
Evolução do português
Em 30 AC, os romanos conquistaram a parte ocidental da
Península Ibérica, composta principalmente pelas províncias
romanas da Lusitânia e da Galécia. 
Os soldados romanos trouxeram com eles uma versão popular
do Latim, o Latim Vulgar, do qual se acredita que descendem
todas as línguas latinas e que contribuiu com cerca de 90% do
léxico do português.
Embora a população da Península Ibérica se tenha estabelecido
muito antes da colonização romana, poucos traços das línguas
ibéricas nativas persistiram no português moderno.
Os únicos vestígios das línguas anteriores encontram-se numa
parte reduzida do léxico e na toponímia da Galiza e Portugal.

53
Invasões Bárbaras
Entre 409 e 711, dado o colapso do Império Romano, a
Península Ibérica foi invadida por povos de origem germânica,
conhecidos pelos romanos como bárbaros.
Estes bárbaros, Suevos e os Visigodos, fixaram-se na
Península Ibérica e absorveram rapidamente a cultura e
língua romanas da península.
Estavam lançados os dados do contacto entre os povos
invasores e os povos invadidos que juntos contribuíram para
a da mudança linguística do latim falado na Península.
As línguas germânicas influenciaram particularmente o
português em palavras ligadas às guerra e violência, tais como
"Guerra"
54
Invasão dos mouros
Desde 711, com a invasão da península pelos mouros (a partir do Norte de
África), o árabe foi adaptado como língua administrativa nas regiões
conquistadas.
Contudo, a população continuou a falar latim vulgar; logo que os mouros
foram expulsos, em 1249 (conquista de Faro), verificou-se que a influência
exercida pelo árabe na língua foi pequena, exceptuando no léxico: o
português moderno ainda tem um grande número de palavras de origem
árabe, especialmente relacionadas com comida e agricultura, o que não
tem equivalente noutras línguas latinas.
A influência árabe é também visível nos nomes de locais no sul do país, tais
como "Algarve" e "Alcácer do Sal". Muitas palavras portuguesas que
começam por al- são de origem árabe.
Estamos mais uma vez na presença do contacto de línguas, um dos
factores que mais contribuem para a mudança linguística.

55
Invasão Árabe
Durante o período Árabe a Península Ibérica
viveu numa situação de diglosia.
A diglosia é a situação linguística em que um
uma determinada comunidade linguística vive
num estado de bilinguismo, ou seja, possui duas
línguas. Uma que usa no âmbito familiar e outra
que usa no ambiente social.
Este é um dos aspectos que mais contribuem
para a mudança linguística.
56
Mapa da evolução da conquista dos territórios
ocupados pelos Mouros

A reconquista Cristã lançou todos os


reinos cristão que se formaram após a
invasão árabe na conquista de
territórios para sul.

A conjuntura política ditada pela


invasão árabe definiu cinco territórios
no norte da Península. O reino da
Galiza, o reino de Leão e Astúrias, O
Reino de Castela, e os Condados de
Navarra e Aragão e o Condado da
Catalunha.

Cada um destes territórios possuía


uma variedade linguística de origem
latina que se foram diferenciando ao
longo do tempo.
57
O português
Portugal tornou-se independente em 1143 com o rei D. Afonso
Henriques. A língua falada à época, o português
antigo (antepassado comum ao galego e ao português modernos,
do século XII ao século XIV), começou a ser usada de forma mais
generalizada, depois de ter ganhado popularidade na Península
Ibérica cristianizada como uma língua de poesia.

Em 1290, o rei Dom Dinis cria a primeira universidade portuguesa


em Lisboa (o Estudo Geral) e decretou que o português, até
então apenas conhecido como "língua vulgar" passasse a ser
conhecido como língua portuguesa e oficialmente usado.

58
Mapa da Península Ibérica

59
O português
No segundo período do português arcaico, entre os séculos XIV e XVI,
com as descobertas portuguesas, a língua portuguesa espalhou-se por
muitas regiões da Ásia, África e Américas.
Hoje, a maioria dos falantes do português encontram-se no Brasil,
na América do Sul.
No século XVI, torna-se a língua franca da Ásia e África, usado não só
pela administração colonial e pelos mercadores, mas também para
comunicação entre os responsáveis locais e europeus de todas as
nacionalidades.
A irradiação da língua foi ajudada por casamentos mistos entre
portugueses e as populações locais e a sua associação com os esforços
missionários católicos levou a que fosse chamada Cristão em muitos
sítios da Ásia

60
Países que de Língua Oficial Portuguesa

61
O português
O fim do português arcaico é marcado pela publicação
do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende em 1516.
O período do português moderno (do século XVI até ao presente)
teve um aumento do número de palavras originárias do latim
clássico e do grego, emprestadas ao português durante
a Renascença, aumentando a complexidade da língua.
Este período também ficou conhecido como o período do
português Clássico. Pois foi nesta altura que Camões escreve a
epopeia que coloca o português entre as línguas eruditas da
Europa.
Desde o período clássico aos nossos dias poucas alterações

62
Via popular e via erudita
Existem palavras na língua portuguesa que de forma diferente derivam do mesmo
étimo latino.

planum > pla(n)u > chão


esta é a evolução da palavra via popular
Planum > plano
Evolução da palavra via erudita.

Como explicar esta evolução fonética e esta mudança semântica?


A palavra portuguesa “plano” foi introduzida por eruditos na escrita e passou para
o uso corrente, generalizando-se a toda a população com um sentido ou
significado diferente.
Enquanto a palavra chão é o resultado de séculos de evolução, a palavra plano foi
forjada num momento, o século XVI por um processo de introdução de
palavras directamente do latim literário de forma consciente protagonizada
por escritores.

63
Fernão de Oliveira 1507 - 1581
Também conhecido por Fernando de Oliveira este frade , gramático, construtor bélico-naval
renascentista, era natural de Aveiro e foi um dos expoentes renascentistas portugueses.

Ordenado frade dominicano, em virtude de suas posições heterodoxas, logo caiu no desagrado


do Tribunal da Santa Inquisição, tendo sido preso várias vezes por determinação daquele tribunal.

Com efeito, consta que, em 26 de Outubro de 1555, entre tantas outras prisões:
"[...] Deu entrada nas masmorras da Inquisição, em Lisboa, o insigne aveirense Padre Fernão de
Oliveira, clérigo dominicano e diplomata, escritor e filólogo, marinheiro e soldado, aventureiro e
perseguido, «o primeiro gramático da língua portuguesa e porventura o primeiro tratadista naval de
todo o mundo» [...]“ (Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis, I, fl. 9).

Intelectual amplo, publicou a reputada primeira gramática portuguesa, a conhecida Grammatica da


lingoagem portuguesa (Lisboa, 1536). Este intelectual é um dos responsáveis pela introdução de
latinismo na língua portuguesa do século XVI. Foi um verdadeiro homem do renascimento.

Dedicou-se a um variado conjunto de actividades, sobressaindo a de piloto, para a qual a religião


desempenhou um papel irrelevante. Foi ainda teórico da guerra e da construção naval. Precisamente
nestas duas áreas — arte bélica e construção naval — destacou-se sobremaneira. As suas
contribuições aí, com efeito, deram as bases da hegemonia portuguesa em diversos oceanos
no século XVI.
64
Palavras divergentes
Classificação atribuída às palavras que provêm do
mesmo étimo, uma popular e outra erudita.
Latim Via popular Via erudita

Arena(m) Areia Arena


Atriu(m) Adro Átrio
Legale(m) Leal Legal
Plaga(m) Praia Plaga
Parabola(m) Palavra Parábola
Macula(m) Mágoa Mácula
Mancha
Malha
Solitariu(m) Solteiro Solitário
Plenu(m) cheio Pleno

65
Palavras convergentes
Há palavras que provêm de étimos diferentes e se apresentam sob a
mesma forma vocabular.

São:
Sanu- (adjectivo) > são (adjectivo)
Sunt (verbo) > são (forma verbal)

Rio:
Rivu- (substantivo) > rio (substantivo)
Rideo (verbo) > rio (forma do verbo rir)

Esta é uma das várias razões para a existência de palavras homófonas

66
Evolução semântica
Na passagem do latim para o português as palavras além
da evolução fonética, sofreram, por vezes, uma
evolução de sentido ou evolução semântica.

No diapositivo das palavras convergentes vimos que o


latim solitarium deu origem à palavra portuguesa
solteiro.
O sentido primitivo da palavra latina era «isolado,
solitário, que vive só»
Em virtude de uma relação de circunstâncias, passou no
português a designar o “homem que ainda não casou”.
67
Evolução semântica
• A palavra ministrum significou em latim «o que
serve, o servente, o escravo». Esta palavra
humilde veio a designar na linguagem politica
uma função elevada: Ministro
• A palavra portuguesa «aresta» provém de
aristam, que significava barba de milho e, mais
tarde, espinha de peixe. Foi a ideia de agudeza,
aspereza que permaneceu no português
«aresta». Um exemplo «limar as arestas» com o
sentido de «remover dificuldades».

68
Evolução semântica
• O substantivo calamitatem > calamidade foi
pelos romanos aproximado de calamus, a
cana ou haste de trigo ou de qualquer outro
cereal; especializou-se no sentido de flagelo
(temporal, saraivada) que ocasionava a perda
das colheitas. Este sentido veio a perder-se
completamente e a palavra passou a designar
«qualquer espécie de desgraça, desventura,
infelicidade, calamidade».
69
Semântica lexical
• Denotação é o nome que designa o seu
significado mais usual. É o sentido estável,
fixo, da palavra.
• Ex. negro – cor escura
• Conotação é o nome dado às possibilidades
de significação que um sujeito falante pode
incluir ou sugerir no seu discurso.
• Ex. negro – luto, tristeza, morte

70
Vocabulário do Português
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, com cerca
de 228 500 entradas, 376 500 acepções,
415 500 sinónimos, 26 400 antónimos e 57 000
palavras arcaicas, é um exemplo da riqueza léxical da
língua portuguesa.
O Português, quer em morfologia, quer em sintaxe,
representa uma transformação orgânica
do latim sem intervenção de qualquer língua
estrangeira.
Algumas mudanças tomaram corpo durante o Império
Romano, outras tiveram lugar mais tarde.
Na Idade Média Alta, o Português estava a erodir
tanto como o francês, mas uma política
conservadora reaproximou a língua ao latim.
71
Classificação e línguas relacionadas
com o português
O português é uma língua indo-europeia, do grupo das línguas
românicas (ou latinas), as quais descendem do latim, que pertence
ao ramo itálico da família indo-europeia.

A língua portuguesa é, em alguns aspectos, parecida com a língua


castelhana, tal como com a língua catalã ou a língua italiana, mas é
muito diferente na sua sintaxe, na sua fonologia e no seu léxico.
Um falante de uma das línguas precisa de alguma prática para
entender um falante da outra. Além do mais, as diferenças no
vocabulário podem dificultar o entendimento. Compare-se por
exemplo:

Ela fecha sempre a janela antes de jantar. (português)


Ella cierra siempre la ventana antes de cenar. (castelhano)

72
Classificação e línguas relacionadas
com o português
Enquanto os falantes de português têm um nível notável de compreensão do
castelhano, os falantes castelhanos têm, em geral, maior dificuldade de
entendimento. Isto acontece porque o português, apesar de ter sons em
comum com o castelhano, possui outros que são únicos.
No português, por exemplo, há vogais e ditongos nasais (provavelmente
herança das línguas célticas). Além disso, no português europeu há
profunda redução de intensidade das sílabas finais e as vogais átonas
finais tendem a ser ensurdecidas ou mesmo suprimidas.
Esta particularidade da variedade europeia, que resulta do chamado
‘processo de redução do vocalismo átono’, dificulta a compreensão por
parte de falantes castelhanos, galegos e brasileiros.
O português é, naturalmente, relacionado com o catalão, o italiano e todas as
outras línguas latinas.
Há muitas línguas de contacto derivadas do ou influenciadas pelo português,
como por exemplo o patuá macaense de Macau.

73
Mudança Linguística

Destas definições conclui-se que, por um lado, a


mudança linguística marca diferentes fases ou
período na variação diacrónica.
Por outro lado, a mudança constitui uma selecção
das formas linguísticas em variação geográfica
ou social, abandonando umas e generalizando
outras à comunidade.
O conceito de Mudança Linguística surge
associado ao conceito de variação Linguística.
74
Fonética
A fonética é a disciplina linguística que
estuda os sons e divide-se em três
grandes ramos:
1) fonética articulatória;
2) fonética acústica;
3) fonética auditiva ou perceptiva.

75
Fonética Acústica
Ocupa-se das propriedades físicas dos sons de fala, do
seu funcionamento enquanto gerador de sons, e das
principais correspondências entre traços acústicos e
elementos dos sistemas fonológicos das línguas.

A fonética acústica recorre a técnicas instrumentais de


investigação e a análise acústica para fornecer
evidências claras e objectivas para outros domínios de
investigação de fala (como o articulatório e perceptivo,
por exemplo).

O real interesse da física do som assenta na sua relação


com o funcionamento do sistema linguístico.

76
Fonética Acústica
Para que seja possível a um ser humano a capacidade de
emitir sons são necessárias três condições fundamentais:
1. A existência de uma corrente de ar;
2. A passagem dessa corrente de ar por obstáculos;
3. Condições de ressonância do ar dentro do corpo de forma a
garantir uma sonoridade.
 
A corrente de ar proveniente dos pulmões é a fonte de
energia, ou seja, a força exercida sobre um corpo material
que origina a sua vibração. Na fala, o mecanismo de
formação do fluxo de ar constitui a fonte de energia. A
fonte sonora é a matéria que entra em vibração com a
acção da fonte de energia.

77
Fonética Acústica
A teoria acústica da produção de fala entende o processo
da linguagem oral humana como um mecanismo complexo
em que as ondas vibratórias propagadas por uma fonte
sonora e movidas por uma fonte de energia são modeladas
por um sistema de ressoadores. A fonação só se cumpre
realmente quando se dá a captação e recepção dos sinais
sonoro pelo receptor.
 
Entendemos por caixas de ressonância do tracto vocal o
conjunto de órgãos que realizam a ressonância
proporcionando uma maior sonoridade. Podem ter formas
e dimensões variáveis. A faringe, a boca e as fossas nasais
funcionam como caixas de ressonância. A cavidade bucal é
bastante versátil devido à sua enorme elasticidade, tendo
capacidade para a aumentar ou diminuir de forma e de
volume, através dos movimentos realizados pelos
articuladores activos. 78
Fonética Acústica
A onda sonora caracteriza-se por um movimento de
propagação de uma vibração através de um meio natural,
que pode tanto pode ser o ar como a água, sem deslocação
permanente das próprias partículas. Uma onda sonora é
composta por um determinado número de oscilações
completas que vibram durante um segundo. Para que exista
uma onda sonora é indispensável que exista uma fonte de
energia. A energia é medida pela análise da relação entre a
intensidade e a duração. Em linguagem fonética a energia é
uma força variável que dá origem à onda sonora. Uma onda
sonora pode ser complexa quando o fenómeno vibratório
resulta da vibração de mais do que uma frequência. Uma
onda sonora pode ser periódica, quando se repete
regularmente, e pode ser sinusoidal, que é um tipo de onda
mais simples, que resulta da variação regular da pressão do
ar. Um tom, quando é puro, tem esta forma de onda.
79
Fonética Perceptiva
É o ramo da fonética que estuda a resposta de percepção
aos sons da fala, sendo intervenientes nessa percepção o
ouvido, o nervo auditivo e o cérebro.

A fonética perceptiva é a parte da fonética que estuda a


percepção que fazemos dos sons da fala através da
audição. Esta refere-se especificamente a compreender a
forma como é feita a apreensão e percepção dos sons
emitidos quando são produzidas as palavras e as frases.
Esta disciplina linguística investiga as relações entre os sons
enquanto vibração e a informação que vem codificada
dentro deles que será posteriormente descodificada pelo
cérebro. A percepção da fala é uma capacidade da espécie
humana para identificar e interpretar a sequência de sons
através do sentido da audição.

80
Fonética Perceptiva
O aparelho auditivo é o conjunto dos órgãos que capta
os sinais acústicos produzidos pela fala e que os
converte em impulsos nervosos. É constituído pelo
ouvido que se dividimos em três partes, o ouvido
externo, o ouvido médio e o ouvido interno. Usamos a
audição para apreender as vibrações emitidas pela voz
humana.

A percepção é a faculdade que nos permite interpretar


um conjunto de sons, consoante a sua sequência, e
identificá-lo com os significados que lhes
correspondem.  

81
Fonética Articulatória
Etapas da produção de fala

Ressonância nasal

Articulação

Fonação

Respiração

82
Fonética Articulatória
Ao conjunto de órgãos envolvidos pelo ser humano na
articulação dos sons chamamos aparelho fonador.
É constituído pelos pulmões, traqueia, esófago,
laringe, faringe, boca e nariz.
Na língua portuguesa quase todos os sons da fala são
produzidos no momento em que se faz a expiração.
O ar que vem dos pulmões passa pela laringe e pelas
cordas vocais, que podem ou não entrar em vibração,
e chega ao exterior através da boca e do nariz.
Todo este processo é comandado pelo cérebro.

83
Fonética Articulatória
Ramo da fonética que estuda o modo como os sons da fala
são produzidos (articulados) pelos órgãos do aparelho
fonador.

A fonética articulatória é uma disciplina linguística que tem


evoluído graças ao avanço da ciência e da tecnologia. A
invenção da radiografia, bem como de outros materiais de
observação, permitem aos investigadores o conhecimento
de como funciona o aparelho fonador. Através da fisiologia
percebemos quais são as partes do corpo envolvidas no
acto de falar, ou seja, podemos com o recurso a esta
disciplina da medicina identificar com precisão todos os
órgãos que nos permitem emitir sons.

84
Fonética Articulatória
Aparelho fonador é
constituído por 3 secções:

1.Cavidades supraglotais ou tracto


vocal:
1.1. tracto nasal
1.2. cavidade oral
1.3. cavidade faríngea
1.4. tracto oral

2. Laringe / Cordas vocais

3. Cavidades subglotais: Pulmões


85
Fonética Articulatória
O funcionamento do aparelho fonador resulta da
correcta articulação das várias partes do corpo
que realizam a fala. A matéria-prima da
construção fónica é o ar, ou melhor, a corrente
de ar que usamos para respirar.
A zona de respiração é constituída pelos
pulmões, pelos brônquios e pela traqueia. Estes
elementos vão fornecendo e gerindo a
quantidade de ar necessária para a articulação
correcta dos sons da fala em português.

86
Fonética Articulatória
Fundamental para a realização da linguagem humana é
a laringe, que é constituída por diversas cartilagens e
por um tecido membranoso situado entre a traqueia a
faringe. É na laringe que estão situadas tanto as cordas
vocais como a glote.
A glote é um espaço normalmente triangular que
existe entre as cordas vocais. A função sonora das
cordas vocais é fundamental na fonação, na medida
em que nos facultam a voz, e consequentemente, a
possibilidade de falar e de cantar.

87
Fonética Articulatória
As cordas vocais são as duas pregas de tecido muscular que
se situam no interior da laringe humana e que produzem a
energia sonora. Estas duas pregas ao vibrar em algumas
circunstâncias, aproximando-se e afastando-se uma da
outra, simultaneamente, dão origem à voz. Se as cordas
vocais estiverem afastadas uma da outra, o ar que vem
projectado pelos pulmões passa pela laringe e chega à boca
sem qualquer vibração.
Quando não existe qualquer vibração designamos os sons
como surdos ou não vozeados. No entanto, quando as
cordas vocais se aproximam uma da outra, a pressão
provocada pela corrente de ar é tão intensa que as obriga a
vibrar dando origem a sons sonoros ou vozeados.

88
Fonética Articulatória
Chamamos tracto vocal ao conjunto de órgãos situados acima da
laringe através dos quais passa a corrente de ar durante o processo
da produção dos sons da fala. Dividimos este conjunto de
elementos em dois grupos: a cavidade bucal e a cavidade nasal.
 
A cavidade bucal abrange toda a boca, na qual se encontram os
lábios, os dentes, os alvéolos, o palato, o véu palatino e a úvula. É
na boca que se encontram os articuladores activos e os
articuladores passivos.
 
A cavidade nasal corresponde à região que engloba o nariz e a
parte da faringe que se encontra acima do ponto de fechamento do
palato mole. O ar ao passar pela cavidade nasal e pela cavidade
bucal em simultâneo altera a natureza dos sons conferindo-lhe
nasalidade.

89
Fonética Articulatória
Os articuladores activos constituem as partes móveis
do tracto vocal envolvidas na produção de um som de
fala. Os articuladores activos são os lábios, a língua, o
véu palatino, a úvula e o maxilar inferior.
 
Os articuladores passivos são as partes imóveis do
tracto vocal que constituem pontos de referência em
relação aos quais se dirige o movimento dos
articuladores activos. São articuladores passivos os
dentes, os alvéolos e o palato.

90
Fonética Articulatória
Podemos distinguir e classificar a natureza dos sons tendo em conta
a participação dos articuladores passivos e dos articuladores
activos.

O ponto de articulação é um dos parâmetros de classificação dos


sons da fala. É o local do tracto vocal onde os articuladores se
movimentam entre si de forma a executar os movimentos que
possibilitam a produção dos diferentes sons.
 
O modo de articulação é também um factor para a classificação dos
sons. A forma como a corrente de ar atravessa a cavidade bucal e a
cavidade nasal durante a produção dos sons, define a presença ou
ausência de constrição no tracto vocal, influenciando, deste modo,
o grau de constrição do fonema.

91
Fonologia
Ramo da linguística que estuda os sistemas sonoros das
línguas. Da variedade de sons que o aparelho vocal humano
pode produzir, e que é estudado pela fonética, só um
número relativamente pequeno é usado distintivamente
em cada língua.
Os sons estão organizados num sistema de contrastes,
analisado em termos de fonemas, segmentos, traços
distintivos ou quaisquer outras unidades fonológicas de
acordo com a teoria usada.
A enorme variedade de sons produzidos pelo aparelho
fonador humano não é totalmente uniforme nem
classificável do ponto de vista fonológico.
É indispensável saber fazer uma análise pormenorizada
para distinguir os fonemas e os traços fonológicos de
outras unidades com valor acústico também produzidas
pelo aparelho fonador.
92
Fonologia
A análise fonológica divide-se em dois níveis:

1. O nível segmental é um dos dois níveis de análise fonológica das


línguas, onde incluímos os segmentos, ou fonemas, que constituem
as sequências fónicas.
Este nível ocupa-se da representação dos sons que correspondem
articulação das letras do alfabeto.
O nível segmental classifica os sons e as sequências de sons.

2. O nível prosódico representa cada um dos níveis da árvore métrica.


Os constituintes prosódicos são unidades mais vastas que o
segmento. Estes elementos são regulados por princípios rítmicos de
alternância entre unidades mais salientes e unidades menos
salientes.

93
Nível prosódico
As propriedades prosódicas são propriedades fonológicas relacionadas
com o controlo da duração, da intensidade e da altura dos sons que têm
como consequência a quantidade das vogais, a proeminência acentual, o
tom e a entoação.

A altura é o atributo da sensação auditiva de acordo com o qual um som


pode ser ordenado numa escala de grave a agudo. Acusticamente
corresponde à sequência dos sons. Fonologicamente determina o tom.
 
A duração é a quantidade de tempo durante o qual uma unidade
linguística é produzida. Fonologicamente determina a quantidade dos
sons.
 
A Intensidade é a quantidade de energia acústica de um som. A
intensidade das variações na pressão do ar. A sua unidade de medida é o
decibel (db). Fonologicamente determina o acento em línguas como o
português.
Também está relacionada com o volume.
94
Nível Segmental
A classificação dos sons 

Um som do ponto de vista linguístico é uma massa de ar em


movimento que resulta das variações de pressão no meio natural
provocadas pela vibração, quer no ar como na água, na verdade o
som propaga-se mais facilmente na água do que no ar.
 
O som da fala é produzido pelo aparelho fonador e transmitido
através de variações de pressão entre as partículas de ar. Essas
ondas de pressão, que já conhecemos com o nome de ondas
sonoras, são captadas pelo aparelho auditivo e interpretadas pelo
cérebro.
 
O traço fonológico é a propriedade que constitui um segmento
fonológico. Os traços fonológicos são as unidades mínimas dos
segmentos, denominam-se como traços distintivos quando
permitem a distinção entre dois segmentos do sistema fonológico.
95
Nível Segmental
Um fonema é uma unidade distintiva, mínima e sucessiva, que
serve para formar os significantes dos monemas, ou seja, o fonema,
que se representa fonologicamente como em [a], [m], []. A cada
um destes segmentos corresponde a um som.
 
Um monema é uma unidade significativa mínima, ou seja, o
momena é a unidade mais ínfima da fala que contém um valor com
significado. Pode representar-se por um, dois ou mais fonemas, que
individual ou conjuntamente, têm um valor de significado. Desta
forma é o significado que possibilita a um só fonema tornar-se um
monema, como na flexão verbal «é». O valor de significado que um
fonema adquire pode ser de pessoa, género, qualidade, entre
outros. A uma sílaba, normalmente, corresponde um monema, mas
esta não é uma regra exacta.

96
Nível Segmental
A palavra “zoologia” por exemplo é constituída por três
sílabas mas apenas contém dois monemas: o monema
“zoo” que significa animal e o monema “logia” que significa
tratado, estudo, conhecimento, ciência. O significado de
uma palavra obtém-se juntando o sentido do conjunto de
monemas que a constituem. Neste caso a palavra
“zoologia” significa o estudo dos animais, ou melhor a
ciência que estuda os animais

Outros exemplos de monemas podem ser as palavras


“pato” ou “mãe”. Nestes exemplos verificamos que “pato”
contém duas sílabas mas apenas um monema, a palavra
“mãe” contém uma sílaba e, consequentemente, apenas
um monema. Uma palavra pode conter vários monemas,
na medida em que cada parte que a constitui possui um
significado. A noção de monema aqui interessa-nos apenas
para compreender a sua relação com o fonema.
97
Nível Segmental
O segmento é a unidade mínima do sistema fonológico,
que pode corresponder a um fonema ou pode ser também
uma variedade contextual desse fonema.

Consideramos como segmentos ou fonemas os elementos


fónicos que apresentam diferenças entre si. Com base no
estudo e análise destas unidades conseguimos classificar e
distinguir os sons, tanto a nível do ponto de articulação,
como do modo de articulação.
Convencionou-se que os fonemas se dividem em três tipos:
1. as vogais;
2. as semivogais;
3. as consoantes.

98
Nível Segmental
Uma vogal é um som produzido sem qualquer obstrução do tracto
vocal. A corrente de ar é projectada pelos pulmões e atravessa as
cavidades bucal e nasal sem nenhum contacto com os
articuladores. Uma vogal é sempre produzida com a vibração das
cordas vocais.

A semivogal é um som produzido com características articulatórias


e acústicas semelhantes às das vogais mas que ocorre junto de uma
vogal formando com ela um ditongo. Uma semivogal nunca pode
receber acento tónico nem pode surgir isolada, isto é, fora do
contexto de ditongo. A semivogal também pode designar-se por
glide.
 
Uma consoante é um som produzido com uma obstrução ou
estreitamento do tracto vocal. Estamos na presença de uma
consoante quando a passagem do ar é completamente bloqueada
pelos articuladores ou quando a passagem do ar é restringida
verificando-se uma fricção audível. As consoantes não são todas
produzidas com vibração das cordas vocais. 99
Classificação das vogais
Os critérios para a classificação das vogais são:
o ponto de articulação, o timbre e a intensidade.
O ponto de articulação das vogais pode ser anterior, médio, ou posterior.
O timbre pode ser aberto, médio ou fechado.  
A intensidade é tónica ou átona.
 
Vogal recuada: vogal produzida com elevação da parte posterior do corpo da
língua.
Vogal adiantada: vogal produzida com a elevação da parte anterior do dorso
da língua.
Vogal alta: vogal produzida com a elevação do corpo da língua na parte
anterior ou posterior da boca.
Vogal arredondada: vogal produzida com projecção e arredondamento dos
lábios.
Vogal baixa: vogal produzida com um abaixamento do corpo da língua na
parte interior ou posterior da boca.
Vogal média: vogal produzida com o corpo da língua na parte anterior ou
posterior da boca.
100
Alfabeto Fonético Internacional

101
Classificação das consoantes quanto
ao ponto de articulação
As consoantes labiais ou bilabiais são articuladas com a intervenção de ambos os
lábios, verifica-se uma pequena projecção dos lábios que se fecham, no caso das
consoantes bilabiais [p] e [b]. Quando o lábio inferior se eleva em direcção aos
dentes do maxilar superior estamos perante consoantes lábio-dentais [f] e [v].

Uma consoante dental é articulada com elevação da parte anterior da língua em


direcção aos dentes do maxilar superior.

As consoantes alveolares são produzidas com uma elevação da parte anterior da


língua em direcção aos alvéolos. Chamamos alvéolos à região óssea das gengivas,
o local onde os dentes estão enraizados. O contacto da língua com os alvéolos
proporciona a articulação de sons como o [t] e o [d].
 
Uma consoante palatal realiza-se com a elevação da parte central da língua em
direcção ao palato.

A consoante velar é realizada com uma elevação e uma retracção da parte


anterior da língua na direcção do palato mole.

102
Classificação das consoantes quanto
ao modo de articulação
Uma consoante oral é articulada com o véu
palatino elevado o que provoca uma saída da
corrente de ar exclusivamente pela cavidade
bucal.
A consoante nasal é produzida com um
abaixamento do véu palatino, que permite a
passagem do fluxo de ar pela cavidade bucal e
pela cavidade nasal.

103
Classificação das consoantes quanto
ao modo de articulação
Uma consoante sonora articula-se com a
vibração das cordas vocais. Também designamos
as consoantes sonoras como consoantes
vozeadas.
  A consoante surda é produzida sem vibração das
cordas vocais. A corrente de ar passa pela laringe
que encontra as cordas vocais afastadas. As
consoantes surdas também são denominadas
como consoantes não vozeadas.

104
Classificação das consoantes quanto ao
modo de articulação
As consoantes oclusivas são produzidas com um fechamento completo no
tracto vocal que é rapidamente distendido.

As consoantes fricativas são produzidas com um estreitamento no tracto


vocal, de tal forma que os dois articuladores se encontram
suficientemente próximos para que o fluxo de ar que passa por eles entre
em turbulência, gerando uma fricção audível.

Uma consoante lateral caracteriza-se pela oclusão da corrente de ar num


ponto central escapando-se o ar pela zona lateral da língua [l] ou [].

A consoante vibrante produz-se com um batimento ou com vários


batimentos rápidos de um dos órgãos articuladores contra outro. Em
português esses batimentos podem ser produzidos pela ponta da língua
contra os alvéolos (r – apical) ou pela úvula (R – velar). É o que acontece
com as duas produções possíveis da palavra carro. No caso de caro a
vibrante é produzida com um único batimento dos alvéolos.
105
106
Processos fonológicos de alteração de segmentos
Os processos fonológicos designam as modificações sofridas
pelos segmentos fónicos em diferentes circunstâncias
contextuais. Estes fenómenos podem ocorrer no início, no
fim das palavras, ou pelo meio das palavras, na sílaba da
vogal acentuada, ou em outras sílabas. Alguns processos
fonológicos estão relacionados com constituintes
morfológicos da palavra. Outros relacionam-se com o
contexto.

Numa língua é possível compreendermos a sua evolução


através da inserção, supressão ou alteração de segmentos.

Os processos fonológicos aplicam-se tanto na análise da


evolução de uma língua, como factor determinante na
investigação da história da língua, como também se podem
verificar no presente, alertando para alguns processos de
mudança que ocorrem contemporaneamente. 107
Processos fonológicos de alteração de segmentos

A inserção de segmentos fónicos é um fenómeno


fonético segundo o qual um novo segmento é
introduzido numa palavra.
Quando a sua articulação ocorre em posição
inicial é classificado como prótese.
Quando esta inserção se verifica a nível medial é
denominada por epêntese.
Quando se acrescenta um som no final da palavra
dizemos que estamos perante uma paragoge.
108
Processos fonológicos de alteração de segmentos

A prótese é o fenómeno fonético que se caracteriza por introduzir um som no início de


uma palavra.
scribere > escrever – o segmento “e” foi uma prótese acrescentada à palavra de origem
latina.
 
A epêntese é um fenómeno fonético que se caracteriza pela introdução de um som no
meio de uma palavra.
uena > uea > veia – o segmento “i” foi introduzido no meio da palavra. Neste caso não
na palavra de origem latina, mas na evolução da palavra em português antigo. A na
evolução desta palavra verificamos que inicialmente sofreu uma sincope e
posteriormente uma epêntese.
 
A paragoge é o fenómeno fonético que consiste na introdução de um segmento no final
da palavra.
chef > chefe – o segmento “e” foi introduzido no fim da palavra, verificando-se assim
uma paragoge.

109
Processos fonológicos de alteração de segmentos
A supressão de segmentos é um processo fonológico que afecta a língua
provocando uma mudança quando um segmento deixa de ser articulado.
Se ocorre em posição inicial denomina-se como uma apócope, se ocorre em posição
medial é designada como uma síncope, se ocorre no final da palavra é referida como
uma aférese.

Uma aférese é um fenómeno fonético que se caracteriza por fazer suprimir um


segmento no início de uma palavra.
acume > cume – o segmento “a” desapareceu na palavra portuguesa, diz-se que
sofreu uma aférese
A síncope é um fenómeno fonético que se caracteriza por suprimir um segmento
fónico no interior da palavra.
manu > mão – o segmento “n” sofreu uma síncope
A apócope é um fenómeno fonético que se caracteriza pela supressão de um
segmento fónico no final da palavra.
lupum > lobo – apócope de “m” de acusativo, característica da evolução das línguas
românicas.

110
Processos fonológicos de alteração de segmentos

A alteração de segmentos é um conjunto de processos originados


pela mudança linguística que afecta a qualidade dos sons.
 
A assimilação é um processo fonológico que consiste em tornar
iguais ou semelhante sons que eram diferentes.
 
Tabula > tabla > talla > tala - o som grafado por “b” era oclusivo no
português antigo e tornou-se igual ao som lateral grafado por “l”
 
Dentro da assimilação verificamos ainda a metafonia e a inflexão
vocálica.
 

111
Processos fonológicos de alteração de segmentos

Metafonia é o processo que resulta da alteração da vogal tónica pela influência das vogais
átonas da sua flexão.
 
Mentir e minto
Jogo do latim jocum e jogos do latim jocos
Porco do latim porcum e porcos porcos
Olho do latim oculum e olhos do latim oculos
 
Inflexão vocálica é um fenómeno que ocorre para tornar diferentes sons que
aparentemente seriam iguais dentro de uma sequência flexão verbal
 Fiz
Fizeste
Fez – a vogal temática muda para permitir a distinção entre o sujeito do verbo.
Fizemos
Fizestes
Fizeram
112
Processos fonológicos de alteração de segmentos
A dissimilação é um fenómeno fonético que torna diferentes sons
inicialmente iguais.
uerrere > varrer – apesar de estar grafado como “rr” a pronúncia
latina articulava o som [], a mudança linguística para o
português verificou uma pronúncia mais gutural transformando
o som em [].

A metátese é um fenómeno fonético que passa pela permuta de


lugar entre dois sons da mesma palavra. 
flore > frol > flor – neste exemplo ocorrem duas metáteses, uma
primeira na passagem do latim para o português antigo e uma
segunda na passagem do português antigo para o português
actual.
113
Processos fonológicos de alteração de segmentos

A atracção é um fenómeno fonético que sucede quando um som


mais fraco é levado para junto da vogal da sílaba tónica.
coriu > coiro – a sílaba tónica “co” atraiu a semivogal “i” da
sílaba átona.

A vocalização é um fenómeno fonético exclusivamente


consonântico, que consiste na passagem de uma consoante a
uma vogal ou mais frequentemente a uma semivogal. 
nocte > noite – o segmento oclusivo grafado por “c” sofreu uma
vocalização transformando-se na semivogal grafada como um
“i”.

114
Processos fonológicos de alteração de segmentos

A sonorização é um fenómeno fonético exclusivamente consonântico que


consiste na transformação de uma consoante surda em consoante sonora.
 lupu > lobo – a palavra latina articulava o grafema “p” como uma consoante
oclusiva surda. Na transformação para o português actual verificamos que o
“p” sofreu uma sonorização, mas este fenómeno é muito antigo e ocorreu
ainda na passagem do latim clássico para o latim coloquial tardio.
 
A palatalização é um fenómeno fonético exclusivo das consoantes. Resulta na
transformação em palatal de uma consoante que não o era.
 seniore > senhor – a consoante grafada por “n” na presença da semivogal “i”
forma um grupo grafado por “ni” que evolui para um novo som palatal
grafado por “nh” e representado foneticamente por [].  
filiu > filho – ocorre uma palatalização na medida em que a existência da glide
influencia o ponto de articulação da consoante alveolar. O grupo “li” sofre
uma palatalização em [].

115
Processos fonológicos de alteração de segmentos

A assibilação é um fenómeno fonético exclusivamente consonântico, ou seja, apenas


afecta as consoantes. Ocorre quando um segmento fonético se identifica com um
segmento vizinho ou dele se aproxima. Verifica-se quando uma consoante se
transforma em silibante. Esta aproximação induz o falante a pronunciar uma palavra
de forma diferente, então, o fonema adquire um traço ou traços fonéticos do
segmento vizinho.
lancea > lancia > lança – o fonema latino grafado como “c” possuía um valor fonético de
[k], a evolução para português antigo ainda usava o som oclusivo [k], mas na
passagem para português moderno esse som foi alterando sofrendo uma
assibilação. O som [k] deixou de ser oclusivo e transformou-se em fricativo [s].
 
A nasalização é um processo fonológico em que um segmento vocálico oral adquire
nasalidade quando se encontra em contacto com um som nasal. É um caso
particular de assimilação. 
mi > mim – o som oclusivo nasal [m] do português arcaico evolui no sentido de conferir
nasalidade à vogal.

116
Processos fonológicos de alteração de segmentos

A ditongação é um processo fonológico que se caracteriza pelo


desdobramento de uma vogal em dois segmentos, produzindo-
se uma diferenciação do timbre no interior do segmento
vocálico, dando origem ao aparecimento de uma semi-vogal
em posição pré ou pós vocálica.

arena > areã > areia – a síncope da oclusiva intervocálica deu


origem a um encontro entre duas vogais que pertencem a
sílabas diferentes, tendo a nasalidade da oclusiva desaparecida
permanecido como traço da nasal que com ela constituía uma
sílaba. A evolução do português antigo para o português actual
desenvolveu uma semivogal permitindo uma melhor distinção
entre as sílabas da palavra.
117
Processos fonológicos de alteração de segmentos

A contracção é um processo fonético de alteração de segmentos que consiste na


aglutinação de sílabas diferentes numa vogal ou num ditongo.
Pode ocorrer enquanto crase ou enquanto sinérese.  

É uma crase quando se verifica a aglutinação de duas vogais em apenas uma.


sedere > seer > ser – a mudança da forma “seer”do português antigo para “ser” em
português actual é um processo de contracção por crase. As vogais “ee” pertenciam
a duas sílabas diferentes, mas contraem-se dando origem a apenas uma vogal e a
uma sílaba.
 
É uma sinérese ocorre quando se verifica uma aglutinação de vogais que dão origem a
um ditongo.
 lege > lee > lei – o termo “lege” depois de ter sofrido uma síncope da oclusiva deu
origem a uma situação de hiato, a resolução do hiato nesta palavra deu origem a
uma contracção das duas vogais num ditongo.

118
Cronologia dos principais fenómenos fonéticos
que afectam vogais e consoantes
Latim coloquial tardio(séculos V-IX):

Apócope de –M de Acusativo
Perda da quantidade vocálica
Redução /monotongação/simplificação dos
ditongos AE e OE
Síncope de algumas vogais átonas

119
Cronologia dos principais fenómenos fonéticos
que afectam vogais e consoantes
Latim Coloquial Tardio > Galego-Português/Português Arcaico
(séculos XIII-XIV)

Apócope de –e precedido de lateral ou vibrante


Síncope de algumas vogais prétónicas
Metafonia exercida po –i (já em curso no LCT)
Síncope das consoantes sonoras intervocálicas
Sonorização das consoantes surdas intervocálicas ou entre
vogal e vibrante
Simplificação da consoante geminada (ex. GŨTTA- > gota;
BŨCCA- > boca)
Palatalizações e Assibilações
Metafonia por –u final
120
Cronologia dos principais fenómenos fonéticos
que afectam vogais e consoantes
Até ao século XVI:

Metafonia por –a
Inflexão vocálica exercida por nasal
homossilábica
Algumas metáteses
Algumas atracções
Algumas assimilações e dissimilações

121
Cronologia dos principais fenómenos fonéticos
que afectam vogais e consoantes
Português arcaico > Português moderno:

Crase
Algumas metáteses
Algumas assimilações e dissimilações

Meados do século XX até hoje:

Centralização da vogal do ditongo

122

Você também pode gostar