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PENSAMENTOS

PRIMEIRA PARTE – COMO ORIENTAR A PRÓPRIA VIDA ....................................................................................... 1

INTRODUÇÃO – ORIENTAÇÃO ....................................................................................................................................... 1

I. O Princípio de Retidão ........................................................................................................................................................ 3

II. A Lei do Retorno ............................................................................................................................................................... 4

III. Um Novo Estilo de Vida. O Método do Respeito Recíproco ........................................................................................ 5

IV. Um Novo Tipo de Moral .................................................................................................................................................. 8

V. As Posições do Indivíduo Perante A Lei ........................................................................................................................ 10

VI. Análise das Forças da Personalidade e O Conhecimento do Futuro. O Fim das Guerras. ...................................... 12

VII. O Futuro Estado Orgânico Unitário da Humanidade ............................................................................................... 14

VIII. Por Que Se Vive. As Trajetórias Erradas e A Técnica de Sua Correção .............................................................. 15

IX. O Problema da Delinquência ......................................................................................................................................... 17

X. A Fabricação do Técnico, do Produto e do Consumidor ............................................................................................. 19

CONCLUSÃO ....................................................................................................................................................................... 22

SEGUNDA PARTE – ANÁLISE DE CASOS VERÍDICOS ............................................................................................ 25

INTRODUÇÃO – ORIENTAÇÃO ..................................................................................................................................... 25

I. Diálogo Com As Leis da Vida........................................................................................................................................... 27

II. A Nova Ética .................................................................................................................................................................... 29

III. A Técnica do Fenômeno ................................................................................................................................................ 31

IV. Primeiro Caso ................................................................................................................................................................. 33

V. Segundo Caso ................................................................................................................................................................... 39

VI. Terceiro Caso .................................................................................................................................................................. 40

VII. Quarto Caso .................................................................................................................................................................. 42

VIII. Quinto, Sexto e Sétimo Caso ....................................................................................................................................... 44

IX. O Novo Tipo de Exame de Consciência ........................................................................................................................ 47

X. Como Fazer Um Novo Exame de Consciência ............................................................................................................. 50

CONCLUSÃO ....................................................................................................................................................................... 53

Vida e Obra de Pietro Ubaldi (Sinopse)...............................................................................................página de fundo


Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 1
O leitor poderá dizer: mas eu não creio em Deus! Não tem
importância. Pedimos apenas para que observe os fatos, pois
PENSAMENTOS
eles nos mostram como funciona a vida. É pueril pensar que o
fato de crer ou não crer em nossas filosofias ou religiões possa
modificar tal realidade. Ora, esse funcionamento contínuo, con-
PRIMEIRA PARTE
creto e experimentalmente controlável, mostra-nos de forma ra-
COMO ORIENTAR A PRÓPRIA VIDA cional a presença de conceitos diretivos, sem os quais o fato po-
sitivo de tal funcionamento não se poderia realizar. Assim cada
um pode verificar a presença desses princípios e constatar que
INTRODUÇÃO – ORIENTAÇÃO eles são antepostos à manutenção de uma ordem. Quem ama,
acreditando, verá neles Deus; quem é ateu deverá admitir a pre-
A finalidade deste livro é oferecer, sobretudo aos jovens, sença deles, ainda que negando Deus. Na prática, porém, afir-
um modo para se orientar na vida, a fim de que ele, depois de mar ou negar a Sua presença não altera coisa alguma, porque
ter entendido como ela funciona, possa autodirigir-se. Procu- todos obedecem àquelas leis, sejam ou não de qualquer religião.
ramos estabelecer um diálogo com base na inteligência, na Não entramos na teoria geral do funcionamento da vida,
sinceridade e na boa vontade. pois isto nos levaria muita longe, além do que já tratamos am-
Usamos este método e o aconselhamos ao leitor, porque é plamente disso alhures. Aqui, queremos ser simples e práticos.
de seu interesse usá-lo. Acreditamos ser vantajoso para todos Permaneceremos, portanto, ligados à realidade exterior, aquela
eliminar o velho, fatigante e contraproducente sistema dos que mais tocamos com as mãos. Quem quiser aprofundar o co-
atritos entre contrários. Não nos fazemos de preceptor que nhecimento de tais problemas, analisando-os em seus pormeno-
exige obediência, nem de distribuidor de sabedoria para me- res e enfrentando-os em seus aspectos mais vastos e longínquos,
nores ignorantes que nada sabem fazer senão aceitar as su- poderá encontrar tudo isso nos demais livros já publicados.
gestões. Aqui não existe autoridade imposta e, por isso, nada Entremos na matéria.
há para se contestar. De nossa forma mental e da estrutura de nossa personali-
Neste volume, procuramos apenas explicar, a quem interessa dade, que definem nossas escolhas e nossa conduta, depende o
compreender, como realmente funciona a vida, a fim de que ca- modo pelo qual cada um constrói sua própria vida e seu pró-
da um, se o quiser, comporte-se de um modo mais racional, por- prio destino. Primeiro semeamos e depois colhemos. A relação
tanto mais vantajoso, menos ilógico e de menor dano. Explica- causa-efeito é evidente. A vida é um laboratório onde encon-
se, ainda, que ninguém pode constranger outra pessoa a fazer is- tramos os mais variados instrumentos e ingredientes. Nós os
so ou aquilo e que, por isso, deve-se respeitar a sua liberdade. escolhemos e depois os manipulamos como julgamos melhor,
Mostramos, também, que não se pode impedir as consequências cada um a seu modo.
das boas ou más ações praticadas pelo indivíduo. Em suma, bus- Grande parte deste trabalho é preestabelecido e automáti-
camos demonstrar que existe uma realidade inevitável, pela co, como o nascimento, o desenvolvimento físico, a velhice, a
qual, quando não se vive em estado de ordem e disciplina, deve- morte, a reprodução, o funcionamento orgânico, os impulsos
se sofrer os consequentes danos, porque esta é a lei da vida, que instintivos e a formação de novos instintos, pela assimilação no
subsiste, mesmo depois de destruída toda autoridade humana. subconsciente das experiências vividas. Todos podemos verifi-
Concluiremos, então, que se deve ser honesto e prudente, mas car que nossa vida se desenvolve ao longo de uma rota estabe-
não pelo fato de alguma autoridade humana o impor e pelo me- lecida da qual ninguém pode sair.
do das sanções punitivas com que ela nos ameaça. São permitidas, porém, algumas oscilações, que, ainda as-
Este é o velho sistema. O novo, que seguimos aqui, não sim, permanecem limitadas e corrigidas por uma lei própria,
se baseia na imposição forçada, mas sim na livre aceitação cuja tendência é reconduzi-las para a ordem, tão logo esta seja
derivada da convicção. E é exatamente esta convicção que violada. Mesmo se, nas aparências, tem-se a impressão do pre-
nos propomos alcançar com a demonstração racional e po- domínio da nossa liberdade e do caos individualista, o que de
sitiva, baseada em fatos. É por isto que nos colocamos na fato ocorre, em substância, além destas aparências, é que todos
posição de diálogo, em paridade perante o leitor. Como se os nossos movimentos permanecem regulados por leis cuja
vê, o problema é solucionado por um princípio completa- função é reconstruir o equilíbrio e sanar o mal que fazemos.
mente diverso do passado. Trata-se exatamente do método Sem a presença dessa força íntima reguladora, o nosso mundo,
que os jovens estão inaugurando hoje e que corresponde às abandonado a si mesmo, desmoronaria em pouco tempo, no en-
suas condições de vida, modificadas em razão da maturida- tanto vemos que, pelo contrário, ele está continuamente cons-
de que o homem está para atingir. truindo-se, porque evolui sempre para o alto.
A vida é uma série de problemas a serem resolvidos. Como A vida é um impulso de crescimento, um anseio em direção
resolvê-los? Antigamente vigorava o método do comando, à perfeição e à felicidade. A grande aspiração é subir, mesmo
adaptado à fase infantil da humanidade. Devia-se obedecer ce- se cada um o faz em relação ao seu nível. Nisso manifesta-se a
gamente. Mas por que? Parque assim tinha falado Deus. Aqui lei de evolução. Devemos evoluir, e esta é razão pela qual a vi-
a mente humana estacava, porque era incapaz de avançar so- da representa aquele laboratório que mencionamos, consti-
zinha. Hoje ela sabe andar um pouco mais à frente e pergunta: tuindo-se numa escola de experimentação para aprender. A
mas por que Deus falou assim? O adulto discute a autoridade, primeira coisa que é necessário compreender, sobretudo os jo-
mas, se ela serve à vida, reconhece-lhe o valor, obedecendo, vens construtores da vida, é que se trata de um trabalho para o
quando está convencido de que seja útil e justa. Não basta co- ser construir a si próprio, através de provas variadas, cada um
mandar, é necessário justificar o próprio direito ao comando. sujeito àquelas mais adequadas ao seu desenvolvimento.
2 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
A vida é uma coisa séria, a ser percorrida com consciência te era um terreno inexplorado, e a psicanálise era inexisten-
e responsabilidade, sabendo a que dores podem levar-nos os te. As motivações eram secretas. O indivíduo não as estudava
nossos erros. É necessário, então, saber como é construída a nem as dirigia, lançando assim ao acaso a semente do futuro
Lei, para evitar tais erros e as dores que se seguem. Esta lei desenvolvimento de seu destino. Os jovens enfrentavam a vi-
pode ser chamada a lei de Deus, porque exprime o Seu pensa- da, tomando as mais graves decisões, em estado de completa
mento, que dirige cada fenômeno, em todos os níveis de evolu- ignorância dos problemas que deviam enfrentar e das suas
ção e planos de existência. soluções. Procedia-se por tentativas, ao acaso, seguindo mi-
É necessário ter compreendido que o homem se move den- ragens. Nada de planificações racionais da vida e nenhum
tro dessa Lei como um peixe no mar. A finalidade de nossos conhecimento das consequências. Disso pode-se deduzir
movimentos é a experimentação, e a finalidade da vida é o quão despreparado estava o indivíduo para resolver os seus
aprendizado. Estamos, sobretudo os jovens, cheios de desejos problemas com inteligência.
e de impulsos que nos lançam a provar o que serve para nos Aquilo que buscamos adquirir neste livro é a consciência
construirmos. Os efeitos desse trabalho ficam registrados e de nós mesmos, o conhecimento do significado, do valor e das
são acrescentados à nossa personalidade, que se enriquece de consequências de cada ato nosso, a fim de que tudo se desen-
conhecimento, constituindo a nossa própria evolução. Por aí volva beneficamente, de maneira satisfatória para o indiví-
se compreende a importância de se saber viver. Assim, ao fim duo. Desejamos ensiná-lo a ser forte, resistente, positivo e
da vida, seremos ricos, se soubermos adquirir novas e melho- construtivo. Chegou a hora de dar um salto à frente, em dire-
res qualidades, mas seremos pobres, se nada fizermos e, por- ção a um novo tipo de seleção biológica, não mais aquela fe-
tanto, nada aprendermos de bom. E isso independente de to- roz do passado, que exaltava como campeão o vencedor vio-
dos os triunfos, conquistas e bens terrenos, que só valem como lento e assaltante, hoje tornado um perigo social. Trata-se de
miragens para nos induzir a fazer o trabalho de experimenta- um tipo de seleção mais aperfeiçoado, que deseja produzir o
ção e de aquisição de qualidades. homem inteligente, trabalhador, espiritualmente forte e cole-
Trata-se de um novo modo de conceber a vida, entendo-a tivamente organizado. Trata-se de construir o homem consci-
em função de outros pontos de referência, para conquistar ou- ente, que sabe pensar por si mesmo, independente do juízo
tros valores. Antigamente, relegava-se isso ao plano espiritual alheio, e que assume sua responsabilidade, porque conhece a
em bases emotivas de fé e sentimento. Hoje, fazemo-lo com ba- lei de Deus e sabe viver segundo ela.
se na lógica, através das observações dos fatos e do controle Tal conhecimento e o fato de saber viver de tal modo, cons-
experimental. Já é um progresso, porque daí nasce um tipo de ciente de estar dentro da Lei e em harmonia com ela, devem
moral positivamente científica e universal, aquela que os no- dar a esse homem resistência na adversidade, que só pode pos-
vos tempos de espírito crítico exigem. Progresso necessário, suir quem sabe encontrar-se de acordo com a Lei e, portanto,
porque, quanto mais se avança, tanto mais os problemas a se- na posição de justo equilíbrio no seio da ordem universal. Que
rem resolvidos, dos quais é feita a vida, tornam-se mais nume- podem fazer as acusações alheias, quando o indivíduo é hones-
rosos e difíceis. Os instrumentos de experimentação que en- to e pode, conscientemente, proclamar perante Deus a sua ho-
contramos no laboratório da vida e que devemos empregar nestidade? A verdadeira força não está nos poderes humanos,
para aprender fazem-se sempre mais complexos e de difícil mas sim no estado de retidão.
uso. Para nossos ancestrais bastava uma ética elementar para Quem compreendeu como tudo isso funciona, sabe que não
resolver os seus problemas. Faz-se necessário uma ética sem- se trata apenas de palavras. Ele sabe que a Lei não é uma abs-
pre mais complexa e exata para resolver os novos problemas tração, mas uma força viva, operante, inflexível, positiva, sa-
que surgem, quando se sobe a um nível evolutivo mais eleva- neadora e honesta; sabe que a sua justiça termina por vencer
do. Para dirigir uma carroça ou um automóvel, é necessário todas as injustiças humanas e que, portanto, o vencedor final é
um diferente grau de perícia e precisão. o justo, e não o prepotente sobre a Terra. A Lei, imparcial e
A nossa sociedade atual não possui escolas que eduquem universal, paga a cada um o que for merecido.
a fundo, ensinando a viver. A velha moral era exterior, base- Neste trabalho, não apresentamos produtos emocionais ou
ada muito mais nas aparências, velhos enganos nos quais ho- fideístas. Através da observação e da experimentação, chega-
je ninguém mais crê. Antigamente, bastava não gerar escân- mos à conclusão que existem, no campo moral e espiritual, leis
dalo, impedindo que o pecado fosse visto. A verdadeira ciên- inderrogáveis como as existentes no campo da matéria e da
cia da vida consistia em esconder os próprios defeitos, e não energia. Todos os fenômenos, de cada tipo, são regidos por
em corrigi-los. Os adultos que possuíam aquela ciência a leis exatas, que não são senão ramificações de uma lei central,
guardavam bem, para não ensiná-la em prejuízo próprio, na qual estão contidos os princípios que regulam o funciona-
usando, em vez, a autoridade e as punições. Tais métodos es- mento de todo o universo.
tão hoje se desmantelando. A liberdade individual cresceu, e Buscaremos, a seguir, mostrar quais as mais altas e pre-
o pecado social adquiriu importância, porque prejudica o ciosas metas que pode ter a vida, as quais lhe dão um signi-
próximo. Hoje, a vida se faz sempre mais coletiva, exigindo ficado novo e vão além daquelas comuns do sucesso materi-
um maior senso de responsabilidade. al. Procuraremos mostrar que, para conquistar, também se
Ora, quem entendeu tem o dever de mostrar como tudo pode lutar e vencer com outros valores. E o faremos com ba-
funciona àqueles que podem e querem compreender. Com es- se não em abstrações filosóficas ou misticismos, mas no real
tes apontamentos, buscamos preencher o vácuo de conheci- funcionamento da vida.
mento que se verifica nas diretivas fundamentais de nossa Com estes esclarecimentos, fechamos estas notas prelimi-
vida, em nosso pensamento e nossos atos. Antigamente isso nares de orientação geral, com as quais quisemos definir o
era deixado aos instintos, aos impulsos do subconsciente. Es- presente trabalho e as suas bases.
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 3
I. O PRINCÍPIO DE RETIDÃO modo semelhante às normas exatas vigentes nos outros cam-
pos já de domínio da ciência. Hoje, a ética é um campo ainda
Veremos que justiça e senso de retidão emanam das leis da inexplorado, constituindo um fenômeno que vivemos frequen-
vida, a ponto de se reconhecer nelas qualidades de alta morali- temente com resultados desastrosos, porque lhe ignoramos o
dade. Como é possível isso no plano biológico? Que significa is- funcionamento e, daí, cometemos erros contínuos. Mas, no fu-
so e como se explica? Moralidade significa um estado de ordem turo, será possível planificar a viagem da vida, percorrendo-a
no nível espiritual. Mas este estado de ordem é o mesmo que a com olhos abertos, e não mais às cegas, num completo caos,
ciência encontra no plano da matéria e da energia, tanto que o como ainda hoje se costuma fazer.
codificou, expressando-o com leis exatas, positivamente contro- Mesmo nestas condições, viver é lógico e justo segundo a
ladas. Então essa moralidade biológica que encontramos nas leis Lei, porque são proporcionais à atual involução humana. E a
da vida não é senão uma expressão, relativa a esse nível, da or- vida adianta-se por tentativas, através de uma série de erros e
dem universal da Lei. Trata-se da mesma disciplina vista pela pagamentos correspondentes, de sonhos e desilusões, com
ciência no campo físico e dinâmico, a qual se verifica também dores corretivas. Isso acontece porque a direção está errada.
no campo, ainda mais avançado, da conduta do homem e da mo- Aponta-se para fora do centro. A vida não é feita para gozar,
ral que a dirige. Trata-se do mesmo princípio de ordem inserido mas para aprender. Compreendido isto, logicamente se vê
na Lei e atuante em níveis evolutivos diversos. É assim que se que tudo está em seu justo lugar e funciona como deve. Mas
explica como a conduta humana está sujeita a normas éticas. é necessário ter compreendido que a vida é uma escola, um
Assim podemos dizer que a vida, ainda que em proporção laboratório experimental. É lógico e útil que, quando as expe-
e em forma adaptada ao seu grau de evolução, é fundamen- riências estão erradas, fique-se queimado pelas consequên-
talmente honesta. Até no seu nível mais alto, constituído pela cias do erro cometido, porque isso serve para aprender e, as-
psique e pela consciência, tal condição é dada por um estado sim, a finalidade é atingida.
de equilíbrio, de correspondência entre causa e efeito, entre Eis para que serve a dor. Eis quanto é útil o que, por não se
ação e reação etc., que encontramos no mundo da matéria e da lhe compreender a função, parece danoso. Eis como o que é ne-
energia. Trata-se do mesmo princípio de ordem que, no nível cessário para eliminar o erro, a fim de se evoluir em direção ao
superior da psique e da conduta, toma a forma de retidão e melhor, é julgado um mal. Muitas coisas nos parecem erradas
justiça. Essa equivalência de valores, em forma diversa nos porque as vemos fora de seu devido lugar e, portanto, não com-
vários planos evolutivos, é possível porque o Todo, devido à preendemos a sua posição nem a função exercida por elas. Mas,
sua unidade fundamental, é regido por uma única lei. Trata-se se observarmos bem, veremos que tudo, segundo sua natureza,
do mesmo princípio de harmonia que rege todo o universo. É cumpre a finalidade para a qual existe. A força do homem do
assim que, no fundo, tudo, porquanto é um momento da Lei, futuro não consistirá em superar o próximo, subjugando-o se-
moraliza-se em qualquer nível. gundo a lei do nível animal, mas sim em mover-se consciente
Desse modo então, daquilo que se verifica nos fenômenos da da ordem, segundo a lei de Deus.
matéria e da energia, quando violamos as leis de seu funciona- Tratemos agora de analisar o fenômeno. Como calcular os
mento, podemos deduzir as consequências de nossas atitudes, efeitos maléficos de uma nossa ação contra a retidão, isto é,
quando fazemos a mesma coisa no campo moral. Há uma equi- realizada no sentido anti-Lei? É preciso primeiro definir o que
valência básica entre as leis dos vários planos, pelo fato de não entendemos por retidão. Para isto é necessário concebê-la em
serem elas senão aspectos da mesma e única Lei, vista em mo- termos gerais, referindo-nos não só ao fator moral, mas também
mentos evolutivos diversos. Assim, aos efeitos de uma violação ao dualismo universal de positividade e negatividade, contido
em um plano, correspondem os efeitos que se verificam em ou- na Lei. Esse é um princípio verdadeiro em todos os planos da
tro plano. É importante compreender esses conceitos, por causa existência, abrangendo os valores da matéria, da energia e do
das consequências práticas que daí derivam. Acontece, então, espírito. No plano moral, positividade e negatividade tornam-se
que uma violação da retidão no campo moral pode levar a con- bem e mal, virtude e culpa, retidão e desonestidade etc.
sequências danosas, correspondentes às de uma violação do pa- Eis então que, por retidão, entendemos a qualidade positiva
ralelo princípio de equilíbrio presente, por exemplo, na lei de contida em um dado ato. Logo positividade é o poder benéfico
gravitação. Isso porque, em ambos os casos, verifica-se a mesma daquele ato, observado em suas consequências, e negatividade
violação do princípio universal de ordem, do qual é feito a Lei. é o seu poder maléfico. É, portanto, a favor da moral um ato
Segue-se que a falta de retidão é um fenômeno analisável, benéfico, e contra a moral um ato maléfico, sendo que em am-
como o é a falta de equilíbrio, porque, em ambos os casos, bos os casos têm-se como referência tanto o indivíduo isolado
temos efeitos calculáveis, proporcionais à quantidade de afas- como a coletividade.
tamento da posição de equilíbrio na ordem da Lei, isto é, à O ato benéfico produz vantagem, e o maléfico, desvantagem.
quantidade de violação efetuada. Em suma, o desacordo com Mais exatamente, podemos definir como moral tudo que é
ordens similares, das quais é feita a Lei, paga-se com conse- benéfico ou pseudomaléfico perante a Lei – ponto de referência
quências negativas tanto no plano matéria-energia como no que estabelece os verdadeiros fins da vida – e como imoral tudo
moral. Assim a posição certa ou errada, com referência ao que é maléfico ou pseudobenéfico, porque segue fins falsos e
primeiro plano mencionado, encontra no segundo plano, dado ilusórios. Assim pode ser benéfico o que nos faz sofrer e malé-
pelo nível biológico, o seu equivalente nos conceitos de moral fico o que nos causa prazer.
ou imoral, honesto ou desonesto. Então o erro de direção que, No campo moral, positividade e negatividade tomam a
em sua conduta, o indivíduo comete perante a ética em seu forma adequada para satisfazer os fins que a vida se propõe re-
campo, produz os mesmos efeitos negativos que produz o erro alizar, segundo o plano de evolução no qual ela se encontra e
de direção que o motorista ou o astronauta cometem em suas trabalha naquele momento. Assim, no plano animal, nível no
funções. Tratando-se de um mesmo fenômeno de desequilí- qual o fim da vida consiste na seleção individual do mais forte,
brio, é lógico que ele deva ser estudado nos dois campos di- é positivo e moral o tipo guerreiro e conquistador, que lança o
versos segundo os mesmos princípios. novo, vencendo e eliminando o débil inepto. Mas, em um nível
É este fato que nos permite afirmar a possibilidade da mais alto, tudo aquilo resulta negativo, porque a seleção toma
construção de uma ética de tipo positivo, baseada em princí- outra forma, para produzir outro tipo, intelectualmente forte
pios científicos. Isso significa que os movimentos da conduta segundo a retidão, dirigida à conquista da ordem, mais do que
humana deverão, no futuro, ser estudados e executados de ao próprio domínio sobre os outros.
4 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
Eis então que uma moral justa em um nível de evolução, não Estes são casos mais complicados, nos quais é mais difícil
o é em outro nível mais adiantado. Assim, evoluindo, pode tor- ver o funcionamento da Lei. Mas comecemos com a descrição
nar-se imoral e desonesto o que anteriormente era lícito e julga- de um tipo de caso simples, de modelo monocromático no ne-
do honesto. Desse modo, assim como acontece com a verdade, gativo, com resultado rápido e evidente, pela presença exclusi-
também temos morais relativas e progressivas em evolução. va de forças de uma dada qualidade, e ausência daquelas de
Estabelecido tudo isso, pode-se proceder ao cálculo de mo- qualidades opostas. Em nossas experiências no laboratório da
ralidade ou imoralidade de cada ato nosso. Se ele é, por exem- vida, pudemos assistir à operação cirúrgica da punição por falta
plo, 10% positivo e 90% negativo, isso levará a resultados com de retidão, presenciando a solução de um caso de negatividade.
a mesma percentagem. E vice-versa também, em todas as con- A operação nos impressionou pelas seguintes qualidades: 1)
dições possíveis, sempre mantendo a proporção das percenta- A exatidão com que o efeito correspondeu à causa, conservan-
gens, a mais ou a menos, entre cada ato e as suas consequên- do-se do mesmo tipo de forças postas em ação, mas retornando
cias. Eis os primeiros elementos para estabelecer um cálculo. ao emitente em vez de atingir o indivíduo ao qual elas se desti-
Mas quando que uma conduta é verdadeiramente moral? navam; 2) A precisão com a qual foi centralizado o escopo, sem
Quando ela corresponde totalmente à retidão, isto é, à positivi- atingir quem quer que estivesse próximo do alvo; 3) A rapidez
dade, sendo toda ela benéfica, porquanto possui 100% de valor do desenvolvimento e da conclusão do fenômeno; 4) A conver-
evolutivo, seja para si ou para os outros. Pode-se assim medir o gência dos impulsos em direção àquele resultado final; 5) A
grau de moralidade ou de imoralidade de um ato, observando significativa massa dos resultados obtidos em relação aos mí-
que percentagem ele possui desta ou daquela qualidade oposta. nimos meios usados, isto é, o rendimento com eles obtido du-
Essa posição nos faz conhecer o tipo e a quantidade das rante o trabalho realizado.
causas boas ou más postas em movimento, dando-nos, portanto, Perante tal espetáculo tem-se a sensação de ver a face da
também a medida das qualidades e volume dos efeitos que, ine- Lei, não sendo possível conter, ao fim da experiência, um grito
xoravelmente, acontecerão. de maravilha, quando se observa o seu perfeito funcionamento.
Dessa forma, pode-se prever os efeitos, quando são conheci- Não se trata de sonhos. Qualquer pessoa pode verificar a exis-
das as causas que os determinam, das quais eles são as conse- tência de um caso semelhante a esse, controlando as suas con-
quências. E as causas são dadas pelos elementos aqui tomados clusões. Mas tudo isso corresponde a uma lógica que nos auto-
para exame. O segredo para conhecer aquilo que nos acontecerá riza a admiti-la, mesmo porque, confirmando a nossa tese, exis-
na fase de efeito reside em nosso conhecimento do que somos e, te a visão da unidade fundamental da Lei.
portanto, fazemos na fase de causa. Compreendida a técnica do Observemos agora outro caso, que podemos chamar poli-
fenômeno, pode-se prever o seu futuro desenvolvimento. É lógi- cromático, onde fica diminuída a velocidade com a qual o fe-
co que seja assim, porque o efeito está contido na causa, sendo a nômeno chega à sua conclusão. Tratemo-lo com análise precisa.
continuação de um desenvolvimento que se pode conhecer antes Tudo depende das forças existentes no campo em que o ca-
da sua manifestação, prolongando a linha por ele já traçada, co- so se desenvolve. Temos o indivíduo que age em sentido nega-
mo continuação do caminho na direção em que ele foi iniciado. tivo, para obter vantagem em prejuízo de um terceiro. Isso é
Pode-se, portanto, praticar uma pequena futurologia, aplicada contra a Lei. Esta negatividade e o dano correspondente deveri-
aos casos da própria conduta e suas consequências. am agora recair sobre o promotor, com isso resolvendo o que é
um simples caso de falta de retidão, como o precedente. Mas,
II. A LEI DO RETORNO pelo contrário, esse homem continua sem ser perturbado em sua
violação. A sanção de sua culpa permanece suspensa. Por quê?
Continuemos a observar. Dissemos que, dada a premissa Aqui o caso se complica, porque as forças postas em movimen-
colocada por nós, o fenômeno tende a se concluir segundo a to por ele estão no mesmo campo e combinam-se com as forças
direção que lhe foi dada no início. Estudemos agora como pre- movidas pelo ofendido, que se encontra em fase de pagamento
ver, em unidades de tempo, a velocidade com que o fenômeno do seu débito para com a Lei e, por isso, necessita da experiên-
chega à sua conclusão na fase dos efeitos. Nem todos os casos cia corretiva do seu erro passado.
são simples, derivados de uma conduta exclusivamente positi- Então a ação punitiva da Lei contra o opressor, por causa
va ou negativa. O decurso do fenômeno é tanto mais linear e a do mal praticado, é freada pelo bem que ele faz, tornando-se
solução tanto mais rápida e fácil, quanto mais monocromática útil ao executar, segundo a Lei, a função de seu instrumento
é a sua composição, isto é, quanto mais decisivamente preva- na imposição de uma lição corretiva ao oprimido. Eis aí, em
lecer uma das duas características, seja de positividade ou de favor do opressor, o impulso positivo, que interrompe mo-
negatividade. Um caso construído por um só destes elementos, mentaneamente o impulso negativo contra ele, pelo mal que
ou seja, com 100% de uma só destas duas qualidades, é de rá- fez. Combinam-se assim dois valores opostos: a injustiça por
pida solução. Isso acontece porque, nesta condição, todas as parte do opressor (negatividade anti-Lei) e a justiça por parte
forças em ação são orientadas e dirigidas para uma mesma do oprimido que paga seu débito (positividade segundo a
conclusão, seguindo em uma única direção e, portanto, ten- Lei). Esta é a razão pela qual o primeiro, que faz sofrer o se-
dendo todas a convergir para um único fim. gundo, pode continuar a fazer o mal, não obstante seja justo
As complicações e os atrasos da conclusão se verificam ele passar dessa posição àquela do próprio pagamento, como
quando o caso é composto de qualidades positivas e negativas de fato acontecerá mais tarde.
ao mesmo tempo, porque então elas resultam contrastantes e Assim, tão logo o opressor tenha cumprido sua função de
divergentes, em vez de concordantes e convergentes na direção instrumento punitivo segundo a Lei, o fenômeno chegará à
de uma única solução. Nessas condições, o desenvolvimento do fase de pagamento também para ele, que terá de efetuá-lo, so-
fenômeno prolonga-se até que se estabeleça uma prevalência na frendo a lição corretiva que o espera. É natural que, quando a
direção das forças em um dado sentido. Assim é necessário es- opressão feita por esse homem tiver purificado e redimido o
perar que se esgote o impulso das forças do tipo que está em seu oprimido de toda a negatividade que o agravava, o opres-
percentagem menor, porque só então o tipo oposto pode se sor seja então abandonado a seu destino, pois a sua missão
afirmar e vencer, prevalecendo em uma única direção. Nesse foi cumprida. Naquele momento, não havendo mais razão pa-
ínterim, pode-se chegar a resultados temporários, sem uma ex- ra esperar, a Lei passa a exigir o seu pagamento. Finda a fácil
pectativa definida ainda, em razão de terem sido determinados vitória do mal, cai a ilusão de ter sabido evadir-se às sanções
por impulsos positivos e negativos não delineados. da Lei, sem prestar contas.
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 5
Pode-se encontrar muitos casos assim, mas sempre em tra as paredes da Lei. Buscando tal liberdade, o homem lança as
função do mesmo princípio básico, aplicado em posições di- causas de uma autopunição corretiva, que terminará por forçá-
versas. Então, uma vez compreendida a técnica de seu funcio- lo a se enquadrar dentro da ordem. Nas revoluções aflora sem-
namento, cada um poderá traçar o esquema do fenômeno até à pre a escumalha, justamente aqueles que mais clamam por li-
sua conclusão final. berdade, com lutas e destruições. Diz-se então que as revolu-
É necessário, porém, ter em conta que, na realidade, não en- ções devoram seus filhos. Por quê? Porque este é o efeito que
contramos casos isolados, mas sim uma concatenação de casos, lhes recai em cima, imposto pela causa por eles mesmos posta
razão pela qual os efeitos de um se encravam nas causas de ou- em movimento, a qual tem de ser do mesmo tipo, de modo que
tro, como fios entrelaçados que afundam suas raízes no passa- eles, por terem matado, são agora mortos.
do. Isso porque, em vez de pagar e liquidar o débito, procura-se Trata-se de receberem como restituição o mesmo impulso
fugir dele, criando-se assim novos débitos. Assim a semeadura que eles próprios colocaram em movimento. Dadas estas leis,
de causas negativas não termina nunca, e o imenso fardo de do- não deveriam tremer aqueles jovens que hoje vemos entrega-
res que pesa sobre a humanidade não se esgota, tornando-se seu rem-se aos vícios, ao ócio, aos estupefacientes etc., se compre-
patrimônio natural e constante. endessem de que efeitos estão semeando as causas? É certo
Com esta técnica, podemos conhecer qual será o nosso fu- que nas revoluções são necessários também os destruidores.
turo, observando as forças que pusemos em movimento, pelas Mas que fim têm eles? Uma vez que executaram sua função, a
quais o nosso destino é construído. É necessário ter compreen- Lei os destrói e deixa vencer os construtores, que lhe servem
dido que os efeitos têm natureza do mesmo tipo das causas que para avançar. O que é negativo não tem direito à vida e, por-
pusemos em movimento, como determinante deles, conservan- tanto, logo acaba sendo morto.
do assim as qualidades positivas ou negativas de que foram sa- Eis que cada um pode estabelecer uma contabilidade própria
turados ao nascerem. Portanto, quando as causas que lança- de débito e crédito em sua conta corrente pessoal, posta perante
mos, visando algo útil para nós, são contra a Lei, elas se vol- a justiça da Lei. Esses débitos e créditos não são constituídos de
tam contra nós em posição invertida, para prejuízo nosso. valores econômicos, mas sim dos superiores valores morais,
Quando, porém, elas são segundo a Lei, então se voltam a nos- dotados de mais vasta capacidade do que os materiais, que,
so favor. Existe assim a lei do retorno, segundo a qual recebe- frente a eles, encontram-se em posição subordinada. Pode as-
mos, em forma negativa, aquilo que lançamos negativamente sim ser paupérrimo o mais rico e poderoso homem da Terra, se
e, em forma positiva, aquilo que lançamos positivamente. Eis ele tem débitos a pagar para com a Lei. E ao contrário. Essa é a
então a que resultados leva a tentativa de querer ser astuto para contabilidade que realmente vale, aquela na qual está a base da
fraudar a Lei em vantagem própria. vida, sendo decisiva para ela, porque não permanece limitada
A Lei, em si mesma, é invisível como um espelho. Este, apenas ao campo dos bens e do dinheiro, mas abrange todas as
por si, permanece vazio, pois nele nada se vê senão uma ima- expressões da vida, em cada um de seus aspectos, como saúde,
gem refletida. Mas, tão logo nos colocamos em sua frente, eis afetos, felicidade ou dores. O bem ou o mal que recai sobre nós
que ele nos reflete tal como somos, restituindo-nos a nossa dependem da dose de positividade ou negatividade que colo-
imagem igual ao modelo, com as mesmas qualidades, mas em camos em nossas contas, com nossos atos.
posição invertida de retorno.
Estejamos atentos, portanto, para cada ação nossa, porque III. UM NOVO ESTILO DE VIDA.
as nossas obras nos seguem e recaem sobre nós. É necessário O MÉTODO DO RESPEITO RECÍPROCO
compreender que o mundo, em substância, é regido por um
princípio de ordem, razão pela qual o segredo do verdadeiro su- Nos vinte e dois volumes que precedem o presente, procu-
cesso não está em tentar modificar este princípio para vantagem ramos compreender o nosso mundo, orientando-nos, pelo menos
nossa, mas sim em segui-lo, enquadrando-se nele. O caos se em linhas gerais, com referência ao problema do conhecimento.
encontra somente no exterior, na superfície, e está sempre, não Ao mesmo tempo, quisemos comunicar aos outros os resultados
obstante a nossa resistência, sendo corrigido e recolocado na deste trabalho. No presente livro, a fim de que todos possam au-
ordem da Lei, que é a força íntima pela qual tudo é dirigido. ferir vantagens, procuramos disponibilizar estes resultados, ex-
Assim, querer ser forte para se impor não serve senão para lan- plicando como aplicá-los na vida prática. Para que o consumidor
çar sobre nós a reação da Lei, que não admite ser violada. de um remédio possa encontrá-lo pronto para o uso na farmácia,
Conforme o seu volume e a simplicidade de sua estrutura, o é necessário que, ao produzi-lo, o técnico o tenha primeiro estu-
fenômeno de retorno pode ter maturação mais ou menos rápida. dado longamente em seu laboratório. Agora, com este livro, es-
Quando as causas são poucas e lineares, tratando-se de um só tamos na fase final daquele trabalho, aquela na qual o produto é
indivíduo, chega-se logo à conclusão. Mas, quando se trata de oferecido ao publico, para que este se sirva dele.
muitas causas conexas e complexas, como no caso de nações e Tal produto não teria sido solicitado no passado, quando
povos, a conclusão é mais laboriosa e lenta. pouco se pensava, porque a vida se havia estabilizado numa po-
É necessário compreender que cada defeito é uma disso- sição estática ou de movimentos extremamente lentos. Mas ele
nância pela qual nos afastamos da Lei, um ponto débil perante é solicitado hoje, quando a humanidade se pôs a pensar, presa
ela e, portanto, um erro a ser corrigido, que, por isso, volta-se de uma febre de renovação. Assim, temos motivos para crer
sobre nós em forma de débito a ser pago. A causa de tudo isso que a nossa oferta corresponde a uma demanda nascida do atual
somos nós, porquanto nos colocamos em posição de desordem momento histórico. É por isto que fazemos tal oferta, buscando
dentro da ordem, lançando-nos contra ela, em nosso próprio preencher um vazio e satisfazer uma necessidade.
prejuízo. Ora, se não sabemos nos enquadrar, a Lei, em vez de Não pretendemos ser infalíveis nem oferecer um produto de-
uma casa, será para nós uma prisão. E a Lei pode ser uma casa finitivo, que valha para sempre. Mas acreditamos que ele, hoje,
bastante cômoda para se morar, contudo não sabemos nos sirva mais do que os produtos usados no passado. Estes eram
mover dentro dela, porque somos feitos de desordem. O so- adaptados à época, mas não ao momento atual, que é de grandes
frimento que se segue, quando nos lançamos contra suas pare- mudanças. Sabemos que a verdade é relativa e evolui. Existe uma
des, serve para nos ensinar a viver na ordem e, assim, trans- verdade absoluta e definitiva, mas ela constitui o ponto de chega-
formar o cárcere em uma ótima casa. da de quem está a caminho. Portanto, ao longo desse caminho,
O homem invoca a liberdade. Mas de que tipo? Trata-se de não pode haver senão verdades relativas à posição e ao nível evo-
uma liberdade da desordem, aquela que o leva a chocar-se con- lutivo atingido pelo ser, um após outro, progressivamente.
6 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
Sempre para respeitar o fato positivo dessa relatividade, pro- faz-se no segundo caso as coisas mais a sério, porque se co-
pomos as nossas conclusões como hipóteses de trabalho, cuja va- nhece a estrutura do fenômeno, trabalhando-se, portanto, não
lidade o leitor pode ele mesmo depois controlar experimental- por obediência, mas por convicção, livres e esclarecidos, com
mente, aplicando-as à sua vida. Desejamos que ele se convença consciência e responsabilidade.
por si, e não que creia em nós segundo o velho sistema do princí- Eis que a nossa moral, na forma, coincide com aquela tradi-
pio de autoridade. Não assumimos nenhuma posição de mestre cional, mas apoia-se em bases mais sólidas, fundando-se numa
que, colocando-se na cátedra, despeja sapiência. Não buscamos técnica da qual se pode estudar o funcionamento. Ela é, portan-
seguidores. Quem nos lê deverá fazer o esforço de compreender, to, o modelo de moral adaptada ao novo tipo de forma mental
sem pretender que outros o façam em seu lugar e lhe forneçam os que o homem novo de nossos tempos está construindo, analítica
resultados, para adquiri-los sem fadiga. O leitor indolente, que e crítica, em vez de instintiva, emotiva e fideística. Esta é a ra-
aceita por fé, deixando-se arrastar assim, sem fazer ele mesmo o zão pela qual acreditamos que o atual momento histórico seja
esforço de compreender a vida, permanecerá estacionário e não adequado para se propor tal tipo de moral, da qual se pode tirar
atingirá a finalidade, que é amadurecer e evoluir. vantagem segundo os novos tempos.
Isso não impede que exponhamos as nossas conclusões em Aqui oferecemos esta interpretação da vida, não como uma
forma definitiva, porque o caminho para chegar até lá, através conclusão obrigatória, emanada “ex-cathedra”, mas como um
de uma demonstração detalhada, já foi percorrido em nossos ou- método para ver com os próprios olhos e, assim, estudar a reali-
tros volumes, não sendo possível repeti-lo aqui. Não nos encon- dade dos fatos. São estes que falam, e não alguém que deseja
tramos mais na fase precedente e preparatória, de indagação, impor a sua doutrina. Simplesmente dizemos: “Observai, é a
mas sim na de exposição e aplicação dos resultados obtidos. realidade que fala. Eu só vos coloco a par da minha experiência,
Ao assumirmos agora a nossa posição, queremos em pri- que adquiri no laboratório da vida, observando, pensando, com-
meiro lugar nos colocar de acordo com as leis da vida. E pode- preendendo e controlando. Quem deve pensar, compreender e
mos fazê-lo, porque as observamos e vimos então que é uma amadurecer agora sois vós. Estamos aqui para vos ajudar nisto”.
grande vantagem pôr-se em sua corrente, concordando e cola- Já terminou o tempo no qual se pensava por uma procuração
borando com elas, em vez de opor-se egoisticamente e, com is- delegada pela autoridade, que se encarregava disso, estabele-
so, ser barrado e posto de lado. Colocar-se na corrente da Lei cendo em que coisa se devia crer. Admitimos tão somente que
confere uma grande força, razão pela qual procuramos que o leitor, tendo compreendido o problema, possa, continuando a
também o leitor a conquiste por si, colocando-se ele próprio indagação com o mesmo método, desenvolver por sua conta es-
dentro desta corrente. ta pesquisa, conduzindo-a para conclusões mais avançadas. So-
Este fato nos oferece um primeiro ensinamento. Para se ter licitamos este auxílio a todos os estudiosos inteligentes. Por is-
sucesso na vida é necessário fazer ou produzir qualquer coisa so dissemos acima que a verdade é relativa e progressiva. Aqui-
que verdadeiramente seja um bom produto, útil para os outros. lo que, para quem escreve aqui, é uma conclusão, pode ser para
Se isso agrada à vida, esta, que é uma força inteligente e utilitá- outros um início. Esta é a razão pela qual buscamos pensar este
ria, irá protegê-lo e impulsioná-lo para frente. Mas se aquele livro junto com o leitor.
produto for feito somente em benefício de quem o faz, com fins Eis que nos encontramos diante de uma revolução substan-
egoístas e a exploração dos outros, a vida então se rebelará e cial, consistente com a renovação de valores sobre os quais se
buscará destruir tudo, negando qualquer sucesso. baseia a vida e adaptada aos pontos de referência em função
Então surge na Lei um princípio que diz: “A afirmação de dos quais se executa a nossa conduta. Hoje, o valor ainda con-
qualquer produto ou instituição, assim como o favor que eles siste em riquezas, poderes, honras etc., quando, na verdade, ele
encontram e a duração de seu sucesso, são proporcionais ao grau está nas qualidades morais. Crê-se na força, em vez da justiça;
de positividade – ou seja, de utilidade para o bem de todos – que na astúcia enganadora, em vez da retidão etc. Mas assim, a ca-
eles possuem. E ao contrário, a caducidade, o descrédito que os da passo, desembocamos numa estrada errada, que nos leva a
elimina e a rapidez de sua liquidação, são proporcionais ao grau bater contra o muro. O alvo está sempre em um ponto diferente
de negatividade que, em prejuízo de todos, eles possuem”. daquele que visamos. Porém, se apontarmos corretamente, nós
Eis que já aparece um novo estilo de vida, enquadrado em o atingiremos precisamente. Então veremos que tudo está no
um regime de retidão. Isso, porém, não por princípios abstratos, seu devido lugar, para executar a sua respectiva função, e
sentidos e aplicados muito pouco na realidade da vida, mas sim compreenderemos que a vida não é uma ilusão, mas sim um
por um cálculo utilitário, para uma vantagem concreta, que to- meio para construir a nossa felicidade e grandeza. Não se trata
dos compreendem e está no instinto, método aplicado por to- das revoluções usuais, que se reduzem à substituição de pesso-
dos, porque concorda com aquilo que a luta pela sobrevivência as e de classes sociais nas velhas posições favorecidas, para
exige. É certo que, neste caso, as motivações são diversas. En- depois se comportar do mesmo modo. Trata-se, pelo contrário,
tão não se é honesto por amor a Deus ou para alcançar o paraí- de uma revolução que a maturidade mental torna possível, ba-
so, coisas que frequentemente nos deixam indiferentes, mas sim seada na compreensão do imenso rendimento utilitário de se
por razões concretas e com resultados controláveis. Neste novo saber viver dentro da ordem, com retidão, em vez de se viver
estilo de vida, não se fala de sacrifícios com recompensas nebu- no caos e assaltando-se uns aos outros.
losas e longínquas, mas de uma vantagem imediata, calculável, Acreditamos neste novo tipo de revolução, não porque nos
previsível e, portanto, bem mais convincente, porque aderente à sintamos capazes de iniciar uma mudança de tal grandeza, o
realidade. O ganho obtido assim é substituir a dúvida pela con- que é absurdo, mas sim porque vemos que os tempos estão
vicção e o fingimento pela ação. amadurecendo e que o novo milênio nos encaminha por essa
Será moral esse novo método de vida? Ainda que sejam di- estrada. O conceito de retidão como valor moral já existia no
versas as motivações pelas quais se fazem as mesmas coisas, mundo antigo, mas não podia agir porque era baseado somente
não há dúvida que as normas de conduta são sempre as da reti- em abstrações ideais e afirmações morais gratuitas, que não
dão. Chega-se ao mesmo resultado prático, mas passando-se convenciam a ninguém. A força capaz de impulsionar a mu-
por outras vias. Enquanto no passado se usavam as sugestões dança é devida à possibilidade hoje existente de se compreen-
ou imposições por parte de uma autoridade, agora se utiliza a der o rendimento positivo e imediato deste novo estilo de vida
demonstração racional, levando à convicção e, assim, à livre e, portanto, a vantagem de realizá-lo com seriedade.
adesão de quem compreendeu e reconhece que é vantajoso ser Uma das bases deste novo estilo é a eliminação do absolu-
honesto. Muito embora tudo isso tenha um mesmo objetivo, tismo e de sua imobilidade em relação à verdade, para substituí-
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 7
los pelo conceito de verdade relativa, em movimento de trans- zando os seus habitantes. O novo estilo de vida, no seu modo
formação evolutiva. De fato, cada período histórico possui a de conceber as relações sociais, considerará o proselitismo co-
sua própria verdade, aquela da qual ele tem necessidade para mo uma falta de respeito para com o próximo, considerando-o
executar seu trabalho de construção da vida. Então, sendo este um atentado contra a liberdade de consciência.
trabalho diferente de um período para outro, porque o trajeto Ainda assim, o proselitismo pode ser um meio útil para di-
evolutivo a percorrer é diferente, eis que a verdade dominante fundir uma ideia, funcionando como um sistema de irradiação
em função dele deve também ser diferente. Isso significa não mental necessário à evolução. Então onde começa o dever de
somente que uma verdade é verdadeira na fase de desenvolvi- respeitar a consciência alheia e termina o de instruir o ignorante?
mento na qual ela deve funcionar, porque naquele momento Se a vida usou o método do proselitismo, é porque ele cum-
corresponde a uma determinada necessidade da vida, mas tam- pre uma função. Para cada nível de evolução há um sistema
bém que ela não é mais verdadeira em outro momento, no qual proporcional de difusão das ideias. O proselitismo é adaptado
se torna verdadeira outra verdade, sendo esta então, e não mais ao estado infantil da humanidade, presumindo o ignorante que
aquela, que deve funcionar, porque corresponde às novas e di- se torna discípulo, para crer no mestre e repetir suas palavras.
ferentes necessidades da vida. Por isto tal método foi justo e necessário no passado. Mas o
Para a vida, a verdade não é uma abstração, mas sim uma proselitismo torna-se invasão da casa alheia em uma fase de de-
realidade em funcionamento. Assim, os velhos conservam as senvolvimento mental mais avançado, quando o indivíduo já
suas ideias, que foram úteis a seu tempo, enquanto os jovens construiu a sua verdade e tem, por isso, direito a vê-la respeita-
buscam outras, novas. Gostaríamos de permanecer imóveis, da. Trata-se, no primeiro caso, de um vazio a preencher e, no
mas a vida caminha porque é vida e, se não caminhasse, seria segundo, de um patrimônio alheio no qual não se deve pôr a
morte. Eis então que a verdade dos velhos não é um erro, como mão. Somente quando há uma consciência, ou seja, uma casa
agradaria aos jovens que fosse, para combatê-lo e destruí-lo. espiritual alheia, pode-se falar de invasão. Mas, quando tudo is-
Trata-se, ao contrário, de uma verdade que cumpriu sua missão so não existe, tem-se o dever de entrar para ensinar.
e que, por tê-la cumprido, merece todo o respeito. Merece-o É assim que a difusão das ideias deve ser realizada por dois
porque ela foi útil ao homem de seu tempo e porque, graças a modos diversos, segundo o nível evolutivo no qual o fenômeno
seu trabalho, os jovens podem hoje encontrar-se mais avança- ocorre. Para o primitivo, a simples oferta de uma verdade não
dos. O progresso é uma escada que se sobe por degraus, não serve para nada. Caso se explique, ele não entende, e quando se
sendo possível passar ao sucessivo sem escalar o precedente. oferece, ele não aceita, porque segue somente seus instintos.
Disso resulta que o passado está superado, mas como inte- Não resta senão persuadir com os elementares argumentos utili-
gração que o leva avante, e não como destruição que o elimina. tários da ameaça (inferno e prisão) ou do prêmio (paraíso e go-
Atentemos, pois, para saber, nos acontecimentos renovadores, zos). Para quem tem uma consciência, tal método torna-se re-
conservar os velhos valores ainda utilizáveis pela vida. Eis os pugnante e é repelido. O medo obriga e o desejo seduz, mas ne-
perigos de uma contestação geral e indiscriminada, que pode nhum dos dois convence. Este método é aceito porque coincide
levar a perdas gravíssimas. com o utilitarismo fundamental da vida, mas não convence, por-
Mas observemos ainda outro aspecto do novo estilo de que seus resultados são incontroláveis e estão situados no im-
vida. O conceito de relatividade do verdadeiro elimina o an- ponderável. Explica-se assim como, no passado, a ignorância e o
tagonismo não apenas entre o velho e o novo, mas também método de prêmio ou castigo produziram uma obediência passi-
entre as verdades individuais. Ora, toda supressão de formas va, sem convicção, feita, portanto, de evasões e hipocrisias.
de luta é progresso que facilita a solução do problema da Quem é mais evoluído deseja, pelo contrário, ver, compre-
convivência pacífica. ender e ficar convencido. A sua aceitação é condicionada a
Segundo a forma mental do passado, cada indivíduo acredi- outros fatores. Então pode bastar o sistema da oferta, sem a
tava que seu modo de ver era a verdade. Então, ele pensava as- necessidade de levar em conta o cálculo do dano ou vanta-
sim perante os outros: “Se eu vejo a verdade e esta é uma só, gem. É assim que hoje, frente à forma mental mais adiantada,
então eu a tenho e tu estás em erro, razão pela qual estou auto- o proselitismo é substituído pelo diálogo. Então uma verdade
rizado a te corrigir”. Quando a verdade era de grupo, então, se não é imposta, mas sim exposta e, dessa forma, em vez de se
este fosse forte, adquiria o direito de impor-se aos estranhos, condenar o erro, apenas demonstra-se que ele é de fato um er-
que se tornavam um terreno a ser invadido. O resultado era a ro. O fim a que se tende é a aceitação por convicção, e não pe-
luta pela conquista de seguidores. Eis o proselitismo. Quem la constrição. O método é mais sutil e profundo, e o resultado
aderia estava certo, mas quem não aderia estava errado e, por- mais íntimo e completo.
tanto, era combatido. E uma verdade tanto mais valia e podia Eis a transformação a que assistimos em nosso tempo. Esta
impor-se como tal, quanto mais forte ela fosse, porque maior é a razão pela qual nasceu a ideia do diálogo. Trata-se de um
era o número de seus seguidores. Quando passavam à minoria, fenômeno universal, porque é efeito de deslocamentos evoluti-
a sua verdade tornava-se erro e, como tal, era condenada. Isso vos. O uso desse estilo novo é fatal hoje, porque faz parte de
até ao ponto em que, então, as partes se invertiam, tornando-se um amadurecimento biológico. Explica-se assim o fato do ho-
perseguidos aqueles que antes eram os árbitros do juízo. dierno surgimento de uma nova autonomia mental, que destrói
Com tal método, acontece que os inovadores, considerados o velho sistema ético fideístico, colocando-o sob um processo
rebeldes, porque faziam parte do grupo minoritário, contrário à de secularização e dessacralização, que o despoja de sua fisio-
ordem estabelecida pela maioria, eram depois julgados heróis e nomia tradicional. Para os conservadores, agarrados à forma,
mestres, quando o seu grupo, tornando-se maioria, conseguia isso parece o fim. Então, não vendo que se trata de uma des-
impor-se. Eis que o conceito de culpa e da correspondente pu- truição necessária para a renovação, eles se desesperam.
nição, de legalidade ou ilegalidade, é relativo aos princípios vi- Desesperam-se porque cada um está convencido de possu-
gentes e muda com a mudança da verdade dominante. ir a verdade absoluta, de modo que a dos outros é considerada
Eis a importância vital do proselitismo, uma vez que o nú- um erro. Então é doloroso não conseguir destruí-la, como se
mero dá força para a sobrevivência, seja de uma religião, de desejaria. Nasce, deste modo, uma oposição entre termos que
uma ideologia política etc. No entanto o proselitismo é um sis- são apenas aspectos complementares de uma verdade única.
tema que invade outras áreas, atingindo o campo espiritual, Complementaridade pela qual um é necessário ao outro, como
conceptual, moral etc., de modo similar àquele que, pelo mes- o são luz e sombra, que, isoladas do seu termo oposto, não são
mo motivo, é praticado na invasão do território alheio, escravi- percebidas. Assim se opõem erro e verdade, que são simples-
8 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
mente as duas partes, positiva e negativa, de uma única e superada, a retidão torna-se um elemento básico para a com-
permanente unidade, ainda que em todos os lugares a vejamos plexa estrutura social de uma humanidade que atinge o estado
cindida no dualismo universal. orgânico. Hoje, que alcançamos a fase cerebral e científica,
O novo Evangelho dirá: “Respeita o teu próximo como que- compreende-se que a negatividade do estado de luta é destruti-
res que teu próximo respeite a ti mesmo”. Do velho “método do va e que somente a positividade da retidão é construtiva. É
assalto” ao novo “método do respeito”, passar-se-á por evolu- uma questão de compreender.
ção. Chegaremos a isso quando a inteligência estiver desenvol- Eis então que, no estado orgânico, próprio dos povos mais
vida o bastante para compreender a relatividade das nossas ver- civilizados, o egoísta desonesto representa o elemento antisso-
dades, todas elas corretas em função do ponto de referência, cial a ser expulso. Assim, quanto mais primitivo é o indivíduo,
dado pelo grau de desenvolvimento mental e moral alcançado tanto mais lhe convém ser aventureiro, e quanto mais evoluído
pelo indivíduo que a possui. Todos estamos a caminho, ocu- ele é, tanto mais lhe convém ser honesto, porque esta é a con-
pando diferentes posições evolutivas. É natural, portanto, que duta mais vantajosa para quem vive no estado orgânico. Trata-
tipos com personalidade e com olhos diversos vejam aspectos se de um desenvolvimento biológico, que tem fatalmente de
diferentes da realidade. É por isso que cada um tem o direito de atingir esta nova fase, quando chega a hora da maturação. A
possuir a sua verdade e de exigir respeito por ela, assim como evolução é também um processo de progressiva moralização.
tem o dever de respeitar a dos outros. A nova moral não cai no defeito da negatividade e não lhe
sofre os danos, enquanto goza das vantagens da positividade.
IV. UM NOVO TIPO DE MORAL Chega-se a compreender que, agindo contra a justiça, obtém-
se uma vantagem negativa, ou seja, um dano. O segredo do
Observemos sob outros aspectos o tema que estamos de- verdadeiro sucesso, então, está em agir segundo a Lei. Eis que
senvolvendo, referindo-nos agora às diretivas que, segundo a o nosso desejo de enriquecer deve ser satisfeito, mas segundo
nova moral, pode-se dar à orientação da própria vida. Veja- a justiça, se não quisermos permanecer iludidos, alcançando o
mos então quais são os direitos recíprocos dos indivíduos pe- resultado oposto.
rante a aquisição e a posse dos meios econômicos, sobre os Para compreender como isso acontece, é necessário conhe-
quais se baseia a vida. O problema era simples nos baixos ní- cer a estrutura de nosso mundo. Analisamo-la a fundo em vá-
veis evolutivos do passado, quando tudo pertencia, por direi- rios de nossos volumes, porém neste só é possível um resumo.
to, ao primeiro ocupante, bastando que ele fosse forte para sa- Vivemos na superfície das coisas, onde reina o egocentrismo,
ber defender sua posse. Com a vida do homem atingindo o ní- o separatismo, a luta, a desordem, a ilusão, a negatividade. A
vel social, o problema tornou-se mais complexo na definição presença universal do dualismo faz presumir, como termo
dos direitos e deveres recíprocos. complementar à nossa negatividade, a existência do termo
Neste ambiente, pode ser justificado o assalto do tipo primi- oposto positivo, com qualidades contrárias, cuja função cons-
tivo, quando o indivíduo se encontra em condições de desespe- trutiva é dirigir, corrigir e sanar o nosso mundo, feito de nega-
rada necessidade, por lhe ser negado qualquer meio de sobrevi- tividade destrutiva, levando-o assim, passo a passo e a cada
vência. Justifica-se também o desejo natural de crescer, enri- momento, da desordem à ordem, da doença à saúde, do mal ao
quecer e dominar, quando isso é um meio para civilizar-se, o bem, da posição errada à justa.
que constitui uma evolução e está nas finalidades da vida. Isso, No fundo do caos, injustiça e desonestidade que estão na
porém, deve ser feito honestamente, segundo a justiça, sem superfície de nosso mundo, há dentro dele, como uma alma que
aproveitar-se de ninguém, caso contrário viola-se a Lei, pois ela o sustenta, ordem, justiça e retidão. A ascensão evolutiva nos
exige que tudo seja merecido. Buscar a felicidade não é culpa, leva em direção a esse mundo interior, cujos princípios, quanto
se ela não for tirada da infelicidade dos outros, caso no qual o mais evoluímos, mais entendemos e vivemos. Sendo ele de tipo
ganho mal realizado, com prejuízo de outros, não poderá deixar positivo, a evolução tende a nos levar não em direção ao erro e
de resultar em dano para si próprio. à correspondente dor, mas, pelo contrário, ao enquadramento na
Eis então que, quando este crescimento quer se realizar por ordem, dentro da qual desaparecem o erro e a dor. A nova mo-
vias torcidas, com violência ou astúcia, o resultado, obtido ili- ral utilitária nos ensina a ser honestos, a fim de evitarmos a ne-
citamente, fica impregnado de negatividade, qualidade que gatividade, que se paga com a própria dor, e conquistarmos a
tende a destruí-lo. Neste caso, o indivíduo que pensa ganhar, positividade, que é premiada com a própria alegria.
na realidade perde. É importante compreender essa técnica, Chega-se assim a compreender que a astúcia para enganar é
porque é fácil cair vítima de miragens e, assim, obter um resul- contraproducente, constituindo-se num meio para vencer super-
tado oposto àquele desejado. Quando se quer obter algo sem ficialmente, de forma temporária e aleatória, enquanto a reti-
merecê-lo, contrai-se um débito que depois é preciso pagar, dão, pelo contrário, é uma força para vencer em profundidade,
terminando-se por receber somente o que se merece. Assim, de forma estável. Cada um trabalha em seu próprio nível.
em vez de riqueza, obtém-se miséria. Quanto mais se é evoluído, tanto mais se trabalha em profundi-
Cálculos semelhantes eram desconhecidos na economia dade, alcançando proporcionalmente resultados do tipo utilitá-
do passado. Bastava realizar o fruto da própria rapina para rio. E quanto mais efeitos vantajosos se deseja obter, tanto mais
que isso se considerasse legítimo, tanto que constituía um di- profundamente é necessário trabalhar.
reito fixado por herança, no qual não se levava em conta a Esta é a mecânica do fenômeno. Não se pode obter efeitos
negatividade que podia estar contida nele perante a justiça da vantajosos ou danosos, senão dispondo as causas adequadas. O
lei de Deus. Diante da nova moral, porém, aquela era uma resultado, portanto, depende de nós. Os animais no mato, por-
economia de aventureiros. Mesmo assim, tratava-se de uma que são animais, não podem agir senão como tais e, portanto,
consequência lógica do sistema de luta pela vida então vigen- devem viver como animais. O homem civilizado, como tal, po-
te. Tudo era proporcionado. O que importava era saber ven- de agir de outro modo, colocando em ação outras forças, para
cer, e não o mérito ou a justiça. viver melhor. A realidade profunda é que a retidão atrai rique-
Isso não impediu que o sistema de luta pudesse ser supera- za, enquanto a desonestidade atrai pobreza. Tanto mais se com-
do por evolução, para dar lugar ao sistema de retidão, de modo preende isto, quanto mais desenvolvido se é, seja pelas vanta-
que, atingido certo nível de desenvolvimento, esta pudesse tor- gens que derivam deste fato, seja pela experiência vivida e pelo
nar-se uma arma de defesa para a sobrevivência. Pela velha conhecimento adquirido, pagando os débitos contraídos para
forma mental, isso é inconcebível. Mas hoje, quando ela está com a Lei devido aos erros cometidos.
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 9
Todavia, é possível se objetar que mesmo a riqueza deso- evolução atingido, eram adaptados ao cumprimento da função
nesta às vezes se sustém. Pode-se então chegar a crer que não que, segundo as leis da vida, deviam cumprir.
existe justiça, considerando-se a retidão uma ingenuidade e de- Segundo a forma psicológica do passado, era possível pen-
bilidade, como coisa perigosa a ser evitada, porque o método sar que se pudesse enganar um Deus antropomórfico, imagina-
rendoso é aquele do tipo oposto. Mas o resultado imediato en- do pelo indivíduo como um amo que comandava arbitrariamen-
gana e não subsiste. O jogo tem suas regras e, caso se queira te a seu bel-prazer e de quem se era servo pela força. Era, por-
vencer, é necessário conhecê-lo e respeitá-lo. Antes de tudo, tanto, natural a busca de escapatórias com astúcias, para evadir-
aquelas riquezas subsistem apenas enquanto podem ser susten- se de tal domínio. Hoje, quem compreendeu o funcionamento
tadas com novas desonestidades, que depois devem ser pagas. da Lei sabe que Deus é algo completamente diferente e que,
Além disso, se observarmos os casos em que, em vez de conse- portanto, o uso de astúcia em busca de escapatórias para fugir
guir fraudar a justiça da Lei, paga-se o erro, vemos que eles são de uma lei justa e inviolável é um absurdo.
maioria, sendo esta a regra. E ainda que não se veja como nem Quem compreendeu não pode ser tão ingênuo a ponto de se
quando se paga em alguns casos, estes constituem uma minoria, meter por esse caminho, pois ele sabe que o mesmo não o leva
tratando-se de uma exceção que confirma a regra. a ganhar, mas sim a perder, resultando em seu dano, e não em
Pode levar-nos a um engano o fato de que a certo ponto, sua vantagem. A conta é clara, sincera e utilitária, de modo que
com a morte do indivíduo, o fenômeno parece interromper-se o julgamento da conduta do indivíduo se inverte e aquele com-
em seu desenvolvimento, porque não se vê mais a sua continu- portamento, antigamente considerado uma sagacidade do inte-
ação. Julgando com tal critério, cremos então que tudo esteja ligente, passa agora a ser julgado uma ingenuidade do ignoran-
terminado. Mas a continuação está na lógica do fenômeno, e te, como de fato é assim quem, porque não compreendeu como
ninguém pode interromper seu prosseguimento, violando aque- funciona a vida, provoca seu próprio dano com suas mãos.
la lógica. Se tudo desaparece a nossos olhos, isso não é porque O homem pode afrontar hoje grandes mudanças, porque se
cesse de existir, mas sim porque se esconde no imponderável, está tornando mais maduro, autocrítico e inteligente. É natural e
fugindo assim à nossa percepção. fatal, portanto, ele entrar nessa nova fase da moral, que o levará
Na própria lógica de cada fenômeno está a sua continuação. a um novo modo de agir, com as respectivas consequências.
Uma vez iniciado, ele não pode ser anulado, devendo cumprir Neste livro, estamos mostrando a técnica de funcionamento da
todo o seu desenvolvimento, até à exaustão dos impulsos que o Lei. Isso não serve para a criança e, no passado, seria trabalho
constituem. Se esta é a regra, devemos admitir que ela perma- desperdiçado. Mas o cálculo, porque dá evidência de um racio-
nece verdadeira também para os casos interrompidos pela mor- cínio utilitário, é o melhor meio para convencer o adulto, que
te, dos quais não se vê a conclusão. O fato é que, se uma força é sabe ver com olhos críticos e analíticos.
lançada, os seus impulsos não podem ser anulados. A existência A ética torna-se então outra coisa. A mudança é profunda e
de uma lei pela qual o desenvolvimento de um fenômeno não tem efeitos decisivos. À incerteza da fé substitui-se a previsão
pode parar até que ele, depois de ter percorrido todo o seu de- dos resultados a serem alcançados, com a certeza de que, segun-
senvolvimento lógico, atinja a sua conclusão, pode constituir do a lógica dos fatos observados, eles acontecerão. Se as religi-
mais uma prova a favor da tese da sobrevivência depois da ões, no passado, usaram o método do mistério e da fé, é porque
morte. Quando um equilíbrio é rompido, ele deve ser restabele- ele era inevitável, uma vez que as massas eram totalmente inca-
cido. Quando um erro é cometido, ele deve ser pago, mesmo pazes de raciocinar e compreender. Mas hoje, que elas começam
que esse pagamento ocorra depois da morte. Ela não pode inter- a pensar, eis que o método mistério-fé é abandonado e se come-
romper o curso fatal da ação da Lei e, por isso, não pode ser ça, ao contrário, a observar, para compreender e resolver.
capaz de anular os efeitos das causas dispostas por nós em vida. Para bem compreender a passagem que se está efetuando
Ter compreendido o funcionamento da Lei e, com isso, hoje da velha para a nova moral, com a difusão, em todos os
adquirido consciência das consequências fatais dos erros que campos, do pensamento humano positivo e científico, devemos
a violam, leva-nos a viver segundo outro tipo de moral, diver- colocar estas duas formas mentais uma ao lado da outra. O
so daquele praticado no passado. Isso não quer dizer que nos- homem comum do passado não sabia entender nada que esti-
sos progenitores fossem imorais. Eles eram simplesmente vesse além de seu estado emotivo. Assim, ele não era guiado
amorais, mas no sentido de que ainda não podiam entender o pelo raciocínio, mas sim pelos instintos e impulsos do sub-
mais alto nível de moralidade alcançada pelo homem ao atin- consciente, que o faziam mover-se em uma ou outra direção. A
gir essa forma de consciência da Lei, a qual estamos aqui maior preocupação do indivíduo era satisfazê-los. Seu maior
examinando. O homem é moral com respeito ao seu nível de trabalho consistia em superar os obstáculos que, sobrepondo-
evolução, mas torna-se imoral em relação a um nível mais al- se, impediam aquela satisfação. Na simples psicologia do ho-
to. Com a evolução, ele vai-se moralizando sempre com maior mem das massas, não havia lugar para uma moral mais eleva-
exatidão e perfeição, porque a evolução é um avanço em dire- da. Naquele sentido desenvolvia-se a sua inteligência, e era es-
ção ao alto, ou seja, em direção a Deus e à sua lei. Assim, tu- te o tipo da sua norma de vida. Ele não via a razão pela qual
do se torna sempre mais definido, e o que era lícito em um ní- não devesse viver a seu modo, satisfazendo seus desejos,
vel não o é mais no superior. Com o progresso, as malhas da quando não lhe advinha dano. Tudo aquilo que este homem
ética se fazem cada vez mais estreitas, de modo que tudo podia fazer era aprender a arte de encontrar os meios para se
quanto por ela passava numa fase de desenvolvimento do ser, satisfazer. A vantagem imediata que ele obtinha deste método
não passa mais na fase sucessiva. o convencia do valor do mesmo. Além disso, tudo aquilo que o
Nossos antepassados, pelo seu modo frequentemente feroz preceituário daqueles tempos não tinha previsto era considera-
de agir, podem nos parecer imorais. Mas eles o eram apenas em do lícito. Triunfava plenamente o maquiavelismo, segundo o
relação aos mais avançados, e não perante si próprios. Pela qual a habilidade consistia em saber se evadir dessa moral
mesma razão, nós também podemos parecer imorais a nossos mais elevada, porque este era o método que o levava à vitória.
descendentes, mais evoluídos do que nós. É por isso que não se Havia, porém, a presença dos princípios morais, altamente
pode culpar nossos ancestrais, se eles, por serem menos evoluí- proclamados. O problema então era somente fugir deles, satis-
dos, seguiam de fato um tipo de moral mais primitiva. A sua fazendo-se sem incorrer em suas sanções. Como resultado, ti-
involução os justifica. Não é admissível que se possa condenar nha-se uma sociedade bem acomodada e coberta de boas inten-
a vida por ter cometido um erro. Se ela usou no passado tais ções, onde cada um, recitando a sua parte, fazia uma bela fi-
métodos, é porque eles, sendo então proporcionais ao grau de gura, bastando para isso que seguisse algumas regras exteriores
10 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
convencionais. Tratava-se de um método, também este, para re- razão desta mudança não é de caráter ético, mas sim biológico.
solver o problema da convivência. Trata-se de uma questão de evolução. É pelo fato de passarmos
Tal sistema não podia durar senão na fase evolutiva em que ao estado orgânico que adquire valor o fator retidão, o qual
podia ser utilizado pela vida. Superada aquela fase e alcançada serve nesta hora à vida. E também é por isso que se desvalori-
uma compreensão mais avançada, aquele sistema não é mais zam o fator força e o domínio para impor-se, coisas que, pelo
aceitável. Isso é o que está acontecendo hoje, quando se com- contrário, servem ao estado caótico. O problema é utilitário. A
preende que, com tal método, não se resolve os problemas. Por retidão é aceita pela vida não por ideologias morais, mas por
isso mudou-se de sistema e aqueles problemas são postos a nu, razões práticas de rendimento.
enfrentados com sinceridade e sem escapatórias emotivas, por Tudo é relativo e evolui. Acontecerá então que o princípio
meio de uma mentalidade científica e positiva, que penetra em de retidão e justiça, próprio da Lei, superará o sistema vigente
todos os campos. Essa é o modo pelo qual se alcança a nova da luta. Isso não significa que ela será abolida, mas sim que
moral, baseada no estudo da Lei e de sua técnica funcional, mudará de forma. Pelo fato de estarmos passando hoje ao esta-
que estamos expondo aqui. do orgânico da sociedade, o separatismo individualista torna-se
O extraordinário resultado destes fatos, colocados perante contraproducente para a vida, que, por isso, deixa-o de lado,
uma moral demonstrada e convincente, conduzirá o indivíduo a como fase superada.
um método diferente de pensar e de viver. Assim, do sistema de Assim a luta terminará na sua forma atual de seleção do mais
hipocrisia e escapatórias para desviar-se do próprio dever, com forte ou ardiloso no baixo nível evolutivo, para continuar em
uma moral pregada, mas não praticada, passar-se-á ao sistema uma forma mais aperfeiçoada, como luta inteligente, competin-
da moral sincera e vivida, como é tudo aquilo que depende de do na conquista do desconhecido. Ela se estenderá a grupos cada
fatos positivamente controlados, e não da fé. Trata-se de uma vez maiores, nos quais serão coordenadas as funções sociais e se
verdadeira revolução, que tende a varrer fora os métodos tradi- organizará a coletividade ( A Grande Síntese: “Lei das Unidades
cionais de pensar e agir. Nascerá assim um novo tipo de vida, Coletivas”). Deverá assim desaparecer a luta individual e violen-
por meio do qual o homem adulto poderá autodirigir-se com ta, que será relegada ao submundo social. Sobre esta prevalecerá
conhecimento e consciência perante a lei de Deus. um tipo de luta mais inteligente, realizada em nível mental, que
não se rebaixa às pueris rivalidades do orgulho humano.
V. AS POSIÇÕES DO INDIVÍDUO PERANTE A LEI Já vemos o trabalho de equipe entre especialistas que
unem seus esforços para um fim comum, a coordenação das
Falamos no primeiro capítulo do princípio de retidão, sobre funções nas grandes organizações industriais e a universalida-
o qual se baseia a Lei. Ele corresponde a um princípio de equilí- de da ciência, que não admite barreiras. Assim a seleção, co-
brio e justiça, o qual faz parte da ordem de que é feita a Lei. mo é lógico, será realizada em outro sentido, direcionada para
Vimos, então, que existe este outro método de conceber e con- produzir um indivíduo não mais forte e isolado, mas sim inte-
duzir a vida. Podemos agora perguntar-nos se, para vencer, ter ligente e social, com maior aptidão para viver na coletividade
sucesso e resolver o problema da sobrevivência, há somente o e cumprir nela a sua função específica. Isso não nos surpreen-
método vigente em nosso mundo, pelo qual se deve ser o mais de, porque já vemos tudo isso realizado na sociedade orgânica
forte e hábil para triunfar na vida, ou existe de fato outro método de células que é o corpo humano.
também? Qual é então a sua técnica e a que resultados ele nos Para viver de tal forma, é necessário conquistar qualidades
leva? Aquilo que dissemos até aqui sobre a Lei e a sua retidão diversas daquelas valorizadas no passado, quando a vida se en-
pode levar-nos à dúvida de que o outro método possa ser mais contrava na fase precedente de evolução e o sistema de retidão e
lucrativo e superar o sistema honesto e meritório, no qual se justiça da Lei era próprio de uma fase mais avançada, ainda a ser
possui um valor real, mais útil do que impor-se à força. Seria re- realizada. Ora, a evolução não pode ser detida, por isso ninguém
volucionário admitir que o sistema da justiça, com a consequen- pode evitar os deslocamentos que ela produz. Portanto a passa-
te defesa automática do indivíduo por parte da Lei, possa substi- gem para esse novo modo de conceber e conduzir a vida não é
tuir com vantagem a justiça feita com os próprios meios, como é uma utopia, mas sim uma realidade já em ação, pois constitui
o método vigente no plano animal. Isto seria uma reviravolta, um fenômeno que é natural e fatal consequência da evolução.
pois o justo, mesmo sendo fraco, tornar-se-ia um vencedor, por- Resolvido este problema, tratemos agora de conhecer mais
que está protegido pela Lei, enquanto o homem injusto, que, por a fundo a técnica deste novo método de vida, para poder fazê-
ser forte, impõe sua própria lei, tornar-se-ia um vencido, porque, lo funcionar com nossas mãos. Ao falar de retidão, tínhamos
sendo um rebelde, teria a Lei contra ele. dito que o homem justo, colocando-se na corrente da Lei, é por
Tal estranha afirmação da superioridade de tal método, com ela protegido e auxiliado. Isso seria uma bela solução para re-
a vitória segundo a justiça, como quer a Lei, não é infundada, solver o problema da vida, sendo honestos e colocando-nos
mas baseia-se em vários fatos: 1) É evidente que o velho sistema dentro da Lei, para nos deixarmos assim ser levados por ela.
não resolveu o problema da convivência social pacífica; 2) Mas será possível usar esse sistema para alcançar tal finalida-
Aquele sistema não é mais válido, porque se tornou contrapro- de? Para fazer funcionar a Lei em nossa vantagem bastará a re-
ducente e, portanto, deve ser eliminado, quando se passa do ve- tidão ou, por outro lado, precisamos também de outros fatores?
lho estado social caótico ao orgânico; 3) Esta afirmação é corro- Qual é a estrutura deste fenômeno? Dentro de que mecanismos
borada pelo fato de podermos controlar a sua veracidade, porque deve encontrar-se o indivíduo para sua vantagem, e não para
hoje se está iniciando a passagem para o estado orgânico, em ra- seu prejuízo? Como e em função de que elementos ele deve
zão da qual assistimos a um deslocamento na avaliação dos va- conduzir-se para conseguir isso?
lores humanos. O vencedor egoísta e violento, antes honrado Tudo se baseia na Lei. Porém ela não é apenas um princípio
porque forte e vencedor, começa a ser considerado atualmente de retidão e justiça, mas também uma vontade de torná-lo atu-
um criminoso, inimigo da coletividade. Hoje o herói de guerra, o ante, formando uma corrente de seres vivos que a fazem reali-
amo prepotente dominador e o hipócrita astuto que sabe enga- zar-se. Podemos representar o fenômeno com a imagem da cor-
nar, ao invés de incutirem respeito, provocam revolta e são iso- renteza de um rio sobre o qual o indivíduo se desloca com seu
lados como elementos antissociais, para serem eliminados. barco. Se ele rema de acordo com a Lei, isto é, no sentido da
Nesta nossa época de transição para um novo tipo de civili- corrente, ela o ajudará. Então ele avançará e seus esforços obte-
zação, tudo isso começa a se verificar de forma visível, pois já rão o máximo de rendimento para o bem. Se, pelo contrário, o
podemos verificar o início da inversão dos velhos valores. A indivíduo rema contra a Lei, isto é, no sentido oposto à corren-
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 11
te, ela não poderá ajudá-lo, levando-o para frente. Então ele re- pio evolutivo da Lei e tende, portanto, a acumular valores nega-
trocederá e seus esforços só obterão rendimento para o mal. tivos em prejuízo do indivíduo.
No entanto o fenômeno não se exaure aí. Pode haver outras Então a posição de justiça, favorável a esse homem, segun-
posições, que devemos examinar para resolver o problema do a Lei, é neutralizada por sua posição oposta de inércia antie-
apresentado acima, como a questão de ser honesto e deixar-se volutiva, contra a Lei, em prejuízo dele. Assim, a negatividade
levar. Se o fato de agir segundo a justiça nos coloca na corrente da inércia, que recusa a evolução, anula a positividade da reti-
da Lei, então nada impede que, uma vez colocado o barco na dão, levando o indivíduo a uma estagnação na qual a vida para.
corrente, seja possível avançar sem remar. E esta seria uma bela O resultado é que ele, permanecendo estacionário em um mun-
solução: evoluir sem fadiga. Mas por que isso não é possível? do de movimento, acaba sendo superado pela massa em mar-
Chegando a este ponto, é necessário, para compreender o cha, resultando disso um retrocesso, porque o movimento des-
fenômeno, levar em conta que influenciam como elementos loca tudo para diante, ao longo do caminho da evolução.
fundamentais da Lei não só o princípio de retidão e justiça, mas Para compreender isso, é necessário levar em conta que o
também o princípio de evolução e, portanto, qualquer movi- fluxo da corrente evolutiva avança continuamente e, portanto,
mento com essa finalidade. Assim, a Lei exige também o cum- está ligado ao tempo como uma função dele. De fato, definimos
primento deste dever por parte do indivíduo, além daquele ou- o tempo como o ritmo que regula e mede o desenvolvimento do
tro. Então vai contra a corrente da Lei não só aquele que não transformismo fenomênico. Ora, esta transformação se verifica
cumpre o dever de retidão e justiça, mas também quem não em sentido evolutivo, de modo que o fluxo da corrente evoluti-
cumpre o igualmente importante dever de evolução, deixando va está ligado ao fluxo da corrente do tempo e, assim como ele,
de realizar o movimento para realizá-la. Em suma, o homem, não pode parar. Quem se isola dessa corrente fica estacionado
embora justo, se não trabalha para evoluir, também é um viola- dentro dela, mas ela não pode ser interrompida e continua a
dor da Lei, como o é quem trabalha contra ela. avançar. Desse modo, quem para é ultrapassado e deixado para
Compreendido isso, vejamos quais são as outras posições, trás, com um movimento equivalente a um retrocesso involuti-
além dos dois casos extremos já examinados, que o indivíduo vo, semelhante àquele realizado no segundo caso pelo indiví-
pode assumir perante a Lei. Nos dois casos precedentes, ele se duo que se move contra a Lei, retrocedendo. Eis como a inér-
move: 1) Segundo a Lei e seguindo-lhe a corrente; 2) Contra a cia, pelo fato de, também no homem justo, transformar-se em
Lei e movendo-se em direção oposta à sua corrente. Temos de- involução, pode constituir um grave prejuízo para ele.
pois outros dois casos, relacionados não ao movimento, mas sim No quarto caso, tal como no terceiro, o indivíduo se coloca
à inércia: 3) O homem justo que se recusa a trabalhar para evo- contra a Lei, porque se recusa a trabalhar para evoluir, colocan-
luir; 4) O homem injusto que igualmente se recusa àquele traba- do-se fora da corrente que avança. Porém essa sua negatividade,
lho. Estes dois tipos são ambos culpados, pois, dado que a Lei é ao invés de ser compensada com a positividade do homem justo,
movimento, ficar parado é um atentado contra ela, constituindo como se dá com o tipo do terceiro caso, é, pelo contrário, agra-
uma revolta contra o princípio de evolução, fundamental na Lei. vada pela sua negatividade de homem injusto. Segue-se que os
Quais são então as consequências de se cometer o erro de não dois impulsos, não sendo opostos um ao outro como no terceiro
trabalhar para avançar, seguindo o movimento evolutivo? caso, não se neutralizam, mas somam-se, e isso no negativo. En-
Para melhor nos exprimirmos, representamos o fenômeno tão, por falta de trabalho evolutivo, o retrocesso involutivo do
com a imagem de um grupo de seres percorrendo um caminho. terceiro caso, próprio do inerte que para, não só se verifica neste
Poder-se-ia traçar em um desenho a estrada sobre a qual avança caso, mas também é maior, uma vez que o seu ponto de partida,
o movimento dessa massa, relativamente àquele percurso, ao sendo o do injusto, e não o do justo, está mais embaixo.
deslocamento e às várias posições do indivíduo. Para nos facili- O indivíduo do quarto caso se encontra em vantagem sobre
tar a compreensão, também introduziremos no fenômeno os aquele do segundo, porque, enquanto este é ativo de forma anti-
conceitos de positivo e negativo. Assim, qualificaremos com Lei, trabalhando para involuir, aquele, com a sua inércia, para-
um sinal positivo tudo aquilo que está de acordo com a Lei e, lisa esse movimento em sentido negativo, pernicioso para ele.
portanto, progride com o próprio esforço, seguindo a corrente Assim a sua inércia freia o seu retrocesso, deixando-o um ponto
da evolução, e qualificaremos com um sinal negativo tudo aqui- acima do qual chegaria, se fosse ativo como homem injusto, no
lo que é anti-Lei e, portanto, tende a retroceder, seguindo na di- sentido anti-Lei. Eis que, no quarto caso, a inércia, como sus-
reção contrária àquela corrente. pensão de uma atividade negativa, pode representar uma vanta-
Examinemos agora os vários casos expostos acima. No pri- gem, porque é um mal menor. Se, para quem avança pelo ca-
meiro caso, o indivíduo encontra-se de pleno acordo com a Lei, minho do bem, parar é um mal, para quem avança pelo cami-
porque é um justo que se colocou e se move na corrente da evo- nho do mal, parar é um bem. Em outras palavras, se, para quem
lução. Uma vez que aplica os princípios fundamentais da Lei, trabalha positivamente, parar é negativo, para quem trabalha
ele progride em positividade, acumulando a seu favor sempre negativamente, parar é positivo.
mais valores daquele tipo. Cada indivíduo se situa numa dessas quatro posições, se-
No segundo caso, o indivíduo encontra-se em plena opo- gundo sua natureza e seus impulsos correspondentes, aos quais
sição contra a Lei, porque, além de injusto e situado fora da a Lei responde adequadamente. Isso coincide com o que ele
Lei, move-se contra a corrente da evolução. Uma vez que vi- merece, porque a estrutura de sua personalidade é obra sua.
ola os princípios fundamentais da Lei, ele regride no sentido Com essa técnica automática, cada um recebe a lição a ele
da negatividade, acumulando em seu prejuízo sempre mais adaptada. A lei quer a correção do erro para a salvação do ser, e
valores deste tipo. a evolução é o meio pelo qual isto tem de se realizar. A função
No terceiro caso, o indivíduo está, por um lado, de acordo da evolução é transformar o negativo em positivo, assim como
com a Lei, porquanto é um justo, mas, por outro lado, está con- a função da involução é emborcar o positivo em negativo. A
tra ela, porque, recusando-se a avançar, isto é, a trabalhar para evolução é uma corrente em movimento, dentro da qual a Lei
evoluir, senta-se à margem da estrada, fora da corrente evoluti- quer que tudo avance. Está implícito, portanto, que ela faça essa
va, que avança. Então, neste caso, temos duas forças opostas. corrente levar avante quem nela se coloca e, no caso contrário,
Uma é dirigida em sentido positivo, porque funciona segundo o faça o oposto. Assim podemos compreender por que isso acon-
princípio da retidão da Lei e tende, portanto, a acumular valores tece. E de fato, a Lei ajuda ao máximo o indivíduo do primeiro
positivos a favor do indivíduo. A outra, pelo contrário, é dirigi- caso, resiste ao do segundo caso, colocando-lhe obstáculos, e
da em sentido negativo, porque funciona opondo-se ao princí- deixa entregue a si mesmos os do terceiro e quarto casos.
12 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
Há, porém, um fato fundamental, que não admite exceções. estabelecem o funcionamento orgânico executado pela matéria
A Lei atinge fatalmente a sua finalidade, que é fazer a evolução e pela energia. Sem tal essência, ao invés da ordem existente,
funcionar e, por meio dela, levar todos à salvação. Qualquer feita de movimentos coordenados em direção a um fim deter-
que seja a posição escolhida pelo indivíduo, as reações da Lei minado, segundo um processo construtivo de evolução, tería-
acabarão sempre por corrigi-lo do erro e fazê-lo avançar, seja mos o caos total, no qual tudo ficaria disperso.
porque ele é atraído pelo bem que conquista, seja porque ele O campo no qual agem essas forças de natureza psíquica,
procura salvar-se do mal que lhe cai em cima. Muitos procuram diretoras de nossa vida, é a nossa personalidade, em cuja estru-
retroceder e muitos se põem de lado para fugir à fadiga de evo- tura deveremos, portanto, descobrir a existência delas e, com
luir, mas a grande corrente da Lei irá persegui-los, agitá-los e isso, a origem primeira do lançamento da trajetória de seu de-
desentocá-los, até levá-los à salvação. Não se pode deixar de senvolvimento. Para conhecer tudo isso, devemos então olhar
nascer e viver, como não se pode deixar de aprender e evoluir. para dentro de nós, porque é de nossas qualidades e das ações
É fatal, portanto, o retorno final a Deus. que lhes seguem que depende, por dedução lógica de causa-
efeito, o nosso destino.
VI. ANÁLISE DAS FORÇAS DA PERSONALIDADE E Eis então que, para conduzir o exame mencionado acima, é
O CONHECIMENTO DO FUTURO. necessário conhecer-se a si mesmo, porque aí se encontra a ori-
O FIM DAS GUERRAS. gem do primeiro impulso, que estabelece o ponto de partida pa-
ra todo o movimento. São as qualidades de que somos feitos
Ao tratar no capítulo precedente das posições justas ou er- que estabelecem a posição inicial do lançamento, da qual de-
radas que o indivíduo pode assumir, falamos de bem ou mal em pende a forma da trajetória, a sua direção, o seu desenvolvi-
termos gerais, como valor positivo ou negativo, sem especifi- mento e, por fim, o seu ponto de chegada. É necessário então
car-lhes o conteúdo. Nossa finalidade é compreender o fenô- um exame de consciência profundo, severo e sincero, realizan-
meno, e não fazer preceituário. Esse trabalho o leitor, se lhe do-se um trabalho de introspecção e autopsicanálise que ponha
agradar, poderá fazê-lo, tendo em conta a natureza do erro to- às claras as características das forças positivas (segundo a Lei)
mado para exame. Queremos então mostrar como proceder pa- ou negativas (anti-Lei) que constituem a nossa personalidade.
ra, a partir do geral, inferir o particular, quando se quiser foca- Voltaremos a este conceito no fim do volume.
lizar um caso específico. Entramos assim no terreno das aplica- O resultado da análise do caso, como conhecimento do seu
ções dos princípios expostos acima. desenvolvimento e previsão de sua conclusão, depende da exa-
Para fazer isso, é necessário definir a natureza e a quanti- tidão de tal exame de consciência. Este desenvolvimento é jus-
dade dos valores dos quais é constituído o fenômeno a ser es- tamente aquilo que chamamos de destino, o qual, pelo fato de
tudado. Estabelecida uma unidade de medida, pode-se deter- nos faltar o conhecimento necessário para poder conduzir tal
minar, no caso observado, o posterior desenvolvimento e a ve- análise, é considerado como uma fatalidade cega. No entanto
locidade da progressão de sua evolução, assim como a dimen- trata-se, pelo contrário, de um fenômeno analisável em suas
são do deslocamento do indivíduo no sentido positivo segun- causas, corrigível em seu desenvolvimento e controlável em
do a Lei, ou negativo anti-Lei, ao longo do seu caminho evo- seus movimentos. E é desse modo que ele será entendido, im-
lutivo. Pode-se também determinar o grau de afastamento al- plantado e dirigido futuramente na vida, quando o indivíduo
cançado pelo indivíduo em relação à linha da Lei, em sentido for consciente da Lei.
negativo (por falta de retidão), e o grau de proximidade desse Para chegar a isso, é necessário compreender que o futuro já
homem em relação a ela, em sentido positivo (como retidão). está contido em suas causas, que temos sob os olhos no presen-
Assim, naquele segundo caso já estudado, pode-se observar o te. Eis então que o futuro é analisável em sua origem, fonte dos
movimento de retrocesso involutivo realizado pelo indivíduo, primeiros movimentos, de que depende todo o resto. O proble-
não só em relação à força exercida por ele contra a corrente, ma está em saber compreender o conteúdo daqueles germes e a
mas também em relação à força exercida pela corrente a favor sua lei de desenvolvimento, para determinar sua direção e, as-
da evolução, e assim por diante. sim, o ponto para o qual tende. Isso é possível, porque todas es-
É possível, então, chegar à determinação qualitativa e sas coisas estão contidas naqueles germes. Se soubermos exa-
quantitativa desses valores, porque se trata de forças. Elas minar e compreender tudo, eis que, depois do presente, pode-
são postas em movimento numa dada direção, sendo lançadas remos ver o seu futuro correspondente.
ao longo de uma trajetória que, pelo fato de estar sujeita a Pelos princípios segundo os quais a Lei atua, poderemos
uma lei de desenvolvimento, como acontece com todos os fe- saber que forma tomará em cada caso o efeito das causas dis-
nômenos, pode ser determinada e traçada. O princípio de postas por nós, para o bem ou para o mal. Pode-se assim co-
causa-efeito liga em uma concatenação lógica os sucessivos nhecê-lo como um complemento lógico daquela causa, especi-
momentos desse desenvolvimento, fazendo-o avançar sobre almente na reação corretiva por parte da Lei. Ela, de fato, por
um trilho definido e a uma dada velocidade. Isso permite es- princípio de ordem e equilíbrio, põe ao lado de cada movimen-
tabelecer, com antecedência, onde, quando e de que forma o to, à guisa de anticorpo, o correspondente fator compensador,
fenômeno vai terminar. que age como termo complementar. Desse modo, pode-se co-
Estas são apenas indicações gerais sobre a questão. Aqui só nhecer o valor desta incógnita, pois sabe-se que, para usufruir
podemos expor o problema sumariamente, oferecendo ao leitor uma vantagem, é necessário ter-se fatigado para merecê-la, ra-
a chave para que ele possa aprofundar-se e analisar por si mes- zão pela qual quem, para usufruir, faz o mal, termina por dever
mo, resolvendo os casos que surgirem. Quem desejar conhecer pagar, sofrendo. Como se vê, não se trata de um trabalho de
como se chega a essas conclusões, pode encontrar orientações profeta, com base numa incontrolável intuição ou inspiração,
no volume: Princípios de Uma Nova Ética. acessível somente a poucos e em condições excepcionais, mas
Tudo isso que expusemos é possível. Presume-se, porém, sim de um trabalho à base de lógica, acessível a todos, em
uma definição da natureza e da quantidade de movimento das condições normais e em termos positivos. Assim, começa-se a
forças que constituem o caso em exame. Elas são do tipo men- entrar, com o método racional, no campo até agora reservado à
tal. É necessário ter compreendido que o nosso universo é cons- ética e às religiões, resolvendo os problemas que elas pro-
tituído não somente de matéria e energia, mas também de psi- põem, mas não resolvem. E isso sem basear-se em afirmações
quismo. Trata-se de uma onipresente substância psíquica, com gratuitas, não controláveis, mas sim usando uma técnica racio-
caracteres de inteligência, ligada à direção dos movimentos que nal e uma forma mental científica. Até agora, a ciência e a fé
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 13
partiram de pontos e usaram métodos muito diversos para po- Então, como se comporta a Lei neste momento, em relação
der estabelecer um diálogo e uma compreensão. Hoje, porém, ao homem, que ela deixa livre para construir seu destino con-
o homem está se transformando de criança em adulto e, por is- forme ele quiser? A Lei exige que seja atingida a sua finalida-
so, enfrenta tais problemas com outra forma mental. A ciência de, que é fazer a vida entrar em sua nova fase de desenvolvi-
avança sobre todos os campos, de modo que invade também os mento, na qual o método da violência bélica estará superado. O
mais longínquos, preparando-se para enfrentar neles problemas homem é livre, mas, não importa o que ele faça, a Lei está de-
que têm até agora, com os velhos métodos, permanecido inso- cidida a realizar sua vontade sobre a dele.
lúveis. Trata-se do encaminhamento em direção à religião ci- O resultado do sistema é sempre o mesmo: 1) Ou o homem,
entífica da nova civilização do Terceiro Milênio. porque a compreendeu, obedece à Lei, colaborando com ela no
Uma diferente aplicação de tais conceitos, prática e imedia- cumprimento de sua vontade; 2) Ou o homem desobedece à
ta, podemos encontrar em outro campo. Podendo-se prever em Lei, sendo forçado assim a cumprir a vontade dela. No primeiro
suas primeiras causas quais serão os acontecimentos de nossa caso, a abolição das guerras é conseguida pacificamente, sem
vida, será possível preparar uma defesa contra aqueles doloro- dores, só por meio da inteligência. No segundo caso, o mesmo
sos. E isso poderá acontecer através do uso de uma técnica dife- resultado é atingido à força, por meio de uma ação constritiva,
rente daquela comumente adotada, intervindo de forma preven- realizada por meio de uma prova dolorosa. Este é o meio que a
tiva e agindo sobre as causas, de modo a suprimir-lhes ou cor- Lei usa com quem não compreende outra linguagem. Trata-se
rigir-lhes os efeitos. Trata-se de um novo método de defesa da de um método seguro, uma vez que, independente do caso, a
vida, mais inteligente e decisivo. Lei acaba sendo obedecida, seja porque foi compreendida, seja
A vida, então, irá se tornar completamente planificada, e o porque foram sofridas as consequências de não compreendê-la.
homem será o senhor do seu próprio destino, em vez de supor- Vejamos o primeiro caso. A Lei oferece motivos utilitários
tá-lo como um escravo, sem entendê-lo. O jogo é claro. positivos a quem é capaz de avaliá-los, para que sejam acei-
Quando sabemos que as causas de nossas dores são os nossos tos. Os armamentos atômicos custam muito, porque envelhe-
defeitos, podemos eliminar as dores, eliminando os defeitos. cem rapidamente e são continuamente renovados pelo inces-
Isso porque está na lógica da Lei que, onde não temos defei- sante progresso científico. A primeira vantagem, portanto, em
tos, ela não tem razão para impor lições corretivas. Será pos- prol da paz, é a supressão do custo de produção. Há depois o
sível assim, fazendo um exame de consciência, até mesmo fato de que é difícil obter uma superioridade atômica absoluta
prever quais provas nos esperam, porque elas são uma conse- e definitiva, que assegure a defesa, porque sempre se pode ser
quência lógica de nosso passado. Mas é evidente que, para superado por outro país. A preparação com meios atômicos
nos libertarmos, é necessário agir sobre as causas e, se não for não admite mais possibilidade de vitória, porque o atacante
possível, procurar pelo menos aliviar o peso das provas a en- seria aniquilado juntamente com o atacado, de modo que uma
frentar, colaborando com a Lei, aceitando e compreendendo a guerra produziria somente destruição para todos. E isso se
sua lição. De fato, a finalidade da Lei é ensinar, a fim de que torna sempre mais verdadeiro, porque os meios atômicos fa-
não se repita o erro e, assim, não se tenha de suportar a dor zem-se mais mortíferos a cada ano.
correspondente. Certamente, quando o aluno aprende por Vejamos o segundo caso. Se o homem quiser colocar-se em
meio da inteligência e da boa vontade, não há razão que justi- uma linha anti-Lei, insistindo em usar a sua inteligência no
fique o método do chicote, porque dele não se tem mais ne- sentido de determinar uma guerra atômica, ela será igualmente
cessidade para atingir aquele fim. Eis então, como aspecto uti- a última, porque constituirá tal prova e lição, que todos perde-
litário do presente estudo, um método inteligente para evitar a rão a vontade de repetir a experiência. Assim, com o sistema
dor. No final deste volume, aprofundaremos também este do chicote, a Lei saberá fazer-se compreendida, alcançando a
conceito. Isso poderia ser chamado de um novo tipo de seguro sua finalidade da mesma forma, ainda que o homem não queira
contra os males que nos ameaçam. Tal seguro, porém, só é ob- compreender o absurdo de seu comportamento. E a culpa será
tido individualmente, com um trabalho consciente e inteligen- dele, que pagará um alto preço, pois a sua liberdade não pode
te. Estes conceitos são suscetíveis de vários desenvolvimen- impedir que a Lei se realize.
tos, razão pela qual tudo que, aqui, é agora um ponto de che- Mas por que ela quer hoje a abolição das guerras? A Lei o
gada, poderá ser para outros um ponto de partida. quer porque não há mais necessidade delas para atingir seus
Mas, também no plano coletivo, a ascensão do homem pa- fins. Se no passado a vida as aceitava, é porque tinham uma fi-
ra um mais alto nível de inteligência e consciência levará a nalidade, que era misturar os povos, difundir as ideias e ex-
grandes mudanças. Sabemos que a evolução tende a levar para pandir a civilização dos conquistadores nos países conquista-
uma diminuição progressiva da dor, reduzindo-a tanto mais, dos. As grandes marchas dos exércitos no passado eram meios
quanto maior for o grau de compreensão da Lei e, portanto, de de comunicação através de massas inertes. O invasor vencedor
harmonização com ela, o que significa evitar o erro e o cor- era um fecundador não só de mulheres, mas também de cére-
respondente sofrimento corretivo a ele ligado. O objetivo de bros, instituições e costumes.
tais esforços é sempre evitar a dor. E um dos efeitos do de- Hoje, a vida não tem mais necessidade das guerras com essa
senvolvimento da inteligência humana será a eliminação das função, porque a ciência abriu grandes vias, antes desconheci-
guerras. Esta será uma das grandes transformações que se ve- das. Os meios de comunicação fizeram-se hoje tão rápidos e fá-
rificarão no atual momento histórico, no qual termina um ci- ceis, que se atingiu automaticamente um estado de fusão perma-
clo de civilização e inicia-se outro. A vida está empenhada a nente, sem necessidade de invasões com exércitos vencedores.
fundo neste trabalho. Tudo isso amalgama, unifica e suprime as diferenças de língua,
A abolição das guerras será o resultado da nova moral utili- ideias e raça, em razão do que ruem as barreiras étnicas, econô-
tária, baseada na inteligência. Isso não acontecerá por mérito de micas, políticas e religiosas, levando em direção ao futuro esta-
teorias pacifistas. Elas nunca serviram para nada. A vida não é do orgânico, ao qual, por lei de evolução, tende a humanidade.
feita de palavras, mas sim de fatos, baseando-se sobre um posi- É com esta finalidade que a vida abandona o sistema de
tivo cálculo utilitário. A moral que eliminará as guerras não se- guerras. A Lei quer a unificação, e hoje surgiu um fato decisivo
rá filosófica ou religiosa, mas sim racional e positiva, conforme neste sentido. A evolução levou a humanidade a alcançar os
a nova forma mental que o homem está assumindo hoje, ao umbrais de uma nova fase de desenvolvimento, forçando-a ago-
atingir um novo nível de evolução. Este é um dos muitos resul- ra a entrar nela. Como aconteceu isso? O progresso da ciên-
tados da atual crise de crescimento. cia levou à descoberta de armas bélicas de tal potência, que não
14 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
podem ser usadas sem provocar uma catástrofe universal. O fa- vigente, baseado na luta pela seleção do mais forte para exer-
to é que elas são mortíferas demais para poderem ser usadas cer o comando, passa-se ao colaboracionismo, baseado no mé-
com a velha finalidade de vencer um inimigo. Hoje as duas todo da cooperação pacífica para o interesse comum. Esta se-
maiores nações que disputam a supremacia mundial atingiram gunda posição está nos antípodas da primeira. Como é possível
uma tão grande potência atômica, que cada uma delas pode des- então, num ambiente onde domina o regime de caos, transfor-
truir a outra, e cada uma sozinha pode destruir o mundo. mar a luta em colaboração? Como conseguir implantar aí um
Chegamos ao ponto de ruptura com a velha lei da luta, que método de vida unificado e orgânico?
deve ser abolida, porque, em vez de atingir o fim evolutivo de Não é sem razão que o homem é por instinto proselitista,
seleção do mais forte, leva, pelo contrário, a uma destruição expansionista e imperialista. Veremos agora como a vida utili-
universal, fato contra o qual a vida se rebela. Essa é a forma pe- za essas qualidades. É certo que elas são contraproducentes em
la qual a Lei elimina as guerras, que não servem mais aos fins uma sociedade que atingiu o estado orgânico, onde é funda-
dela, pois não termina com o triunfo do vencedor selecionado mental o dever do respeito ao espaço vital alheio (material e
(fato de utilidade biológica em sentido evolutivo), mas sim com espiritual), porque tudo está disciplinado na ordem, não sendo
a destruição de todos. A revolução é profunda, porque leva a lícitas transgressões de normas e violações de limites. Mas
um estado de unificação mundial, abolindo o velho método de aquelas qualidades, em uma sociedade no estado caótico, ser-
vida egocêntrica e separatista, para adotar o método coletivista vem à vida, que, graças a elas, pode realizar, sob o domínio do
e colaboracionista. Isto significa passar do estado caótico ao vencedor na luta, os primeiros reagrupamentos, os quais, sem
orgânico. Trata-se de um grande salto avante em direção ao re- tais condições para lhes impor e manter a união pela força, não
gime de ordem, para o qual tende a evolução. se formariam nem resistiriam.
Vemos, de fato, que tudo isso hoje começa a se realizar, tanto É com este sistema que a vida começa a impor gradualmen-
no campo político como no religioso. Vem acontecendo entre os te o novo regime de tipo orgânico no lugar do caótico. Ela utili-
filhos separados do cristianismo e acontecerá para todas as reli- za o vencedor na luta, que, por isso mesmo, mostra-se mais ap-
giões, cujas bases positivas serão dadas pela ciência, único co- to para as funções de organizador, servindo justamente para es-
nhecimento de tipo universal. No campo político, a mesma ten- ta finalidade, de amalgamar e unificar sob seu comando os ego-
dência à unificação levou à ideia nova dos Estados Unidos da centrismos rivais que constituem o regime de caos. Como se vê,
Europa, reduzindo as três ou quatro potências mundiais a um esta é uma fase de transição, na qual se utiliza o melhor fruto
número sempre menor, até que se atinja uma sociedade mundial do método mais involuído para passar à posição mais evoluída.
de nações, com um governo único, que assumirá funções de polí- O indivíduo da fase caótica jamais se adaptaria a viver no regi-
cia e impedirá as guerras, resolvendo os casos de países menores. me de ordem, a não ser forçado por um chefe construído se-
Estes são os novos conceitos que a Lei colocará em prática. gundo seu mesmo velho tipo, capaz de tratá-lo com o método
Os destruidores do velho já estão trabalhando. Mas não se trata da força, o único compreensível para ele. Desse modo, a vida
de destruição, e sim de renovação. A Lei nos mostra o gesto de fornece os meios necessários para induzi-lo a evoluir.
Deus, continuamente criador, impulsionando o homem novo Obrigado assim a viver dessa outra maneira, o indivíduo
em direção a uma posição biológica mais adiantada, envolven- egocêntrico e separatista começa a avizinhar-se e a fundir-se
do todas as suas manifestações. Na superfície vê-se a tempesta- com o seu rival, encaminhando-se para um estado unitário.
de gerada pelo vórtice do grande deslocamento. Mas nas pro- Mas, dado seu tipo, era-lhe necessária uma educação imposta à
fundezas está a ordem da lei de Deus, que guia o desenvolvi- força, para que assim, habituando-se, ele assimilasse e apren-
mento do fenômeno e garante seu bom êxito. O tempo bate fa- desse a viver o novo modelo. Era necessária uma educação im-
talmente o ritmo do transformismo evolutivo, que a cada mo- posta por um amo vindo de fora, para que, depois, ela descesse
mento, sem jamais cessar, demole o negativo, para reconstruí-lo do exterior para o interior, a fim de ser assimilada através de
positivamente. Vemos a trajetória do fenômeno lançada do mal longa repetição, até se tornar um automatismo ou novo instinto.
para o bem, cujo completo e definitivo triunfo deverá ser assim Esta é, na verdade, a técnica que a vida adota para a formação
fatalmente alcançado no retorno final do ser a Deus. de novas qualidades na personalidade.
É fato que o ponto de partida do atual salto à frente é o ho-
VII. O FUTURO ESTADO ORGÂNICO mem do velho tipo, construído no passado, e também é fato que
UNITÁRIO DA HUMANIDADE a vida não dispõe de outro. Esse homem não é racional, inteli-
gente e planejador, como o futuro tipo, mas um ser movido
Observamos no capítulo anterior o fenômeno do fim das apenas por seus instintos. Dado tudo isso, não resta à vida, para
guerras e a tendência à unificação política mundial. Em outros dar aquele salto, a não ser utilizar, tal qual ele é, o único mate-
pontos, já afirmamos que a humanidade se encaminha para o rial de que ela dispõe, aplicando os seus métodos para modifi-
estado orgânico. Olhemos agora para o futuro, a fim de com- cá-lo. Tratando-se de instruir indivíduos do tipo rebelde, é lógi-
preender o que ele nos prepara neste terreno. co que esse trabalho não pudesse ser feito senão por férrea im-
Comprovamos nos fatos que o homem, quanto mais é primi- posição. O raciocínio e a persuasão não servem para esse nível.
tivo, tanto mais é individualista, egocêntrico, separatista e iso- É assim que as formas de organização que se verificam em
lado, vivendo num estado caótico, e quanto mais é evoluído, nossa sociedade são caracterizadas pela imposição, e não por
tanto mais é coletivista, interdependente com seus semelhantes uma unificação espontânea e convicta, na qual cada um, cons-
e integrado ao todo, vivendo num estado orgânico. ciente de sua função na coletividade, toma a posição que o es-
A passagem de um tipo ao outro ocorre por evolução. Não pera. É assim que a organização na Terra é do tipo imperialis-
há dúvida que esta marcha é orientada e que sua direção vai da ta, tomando a forma hierárquica, numa estrutura em que a or-
desordem para a ordem na lógica de seu desenvolvimento. De- dem desce de apenas um que comanda a muitos que obede-
sordem significa uma posição de elementos rivais em luta entre cem. Segue-se que estes, naturalmente rebeldes, têm seu indi-
si, cada um afirmando-se em si mesmo contra o outro. Ordem vidualismo egocêntrico encerrado na ordem imposta pelo che-
significa uma posição de relações recíprocas de tipo diferente, fe. E assim começa a realizar-se o principio orgânico. Estes
tendo como base a vida em sociedade, segundo o princípio da são seus primeiros passos.
unificação, colaboração e organicidade. Estamos aqui explicando por que tudo isso acontece assim e
Queremos observar aqui como a vida passa do primeiro qual a razão para a vida se comportar desta maneira. Tal estru-
estado ao segundo, ou seja, como do individualismo até agora tura, assumida pelo princípio orgânico em suas primeiras for-
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 15
mações, para chegar depois a se realizar plenamente, nós a en- VIII. POR QUE SE VIVE.
contramos em todos os campos, seja político, religioso, bélico, AS TRAJETÓRIAS ERRADAS E
industrial etc. Qualquer que seja o tipo de governo, religião, A TÉCNICA DE SUA CORREÇÃO
exército ou atividade econômica, termina-se sempre no sistema
piramidal, composto por chefes e dependentes, com o poder No presente trabalho, a finalidade pela qual estamos estu-
tanto mais centralizado, quanto mais se dirige para o alto. dando a estrutura e a técnica do funcionamento da Lei é evitar o
Tudo isso é perfeitamente coerente com as qualidades do mal e a dor. Tratando-se de resolver um problema, é lógico que
biótipo humano em seu nível evolutivo atual, seja pelo instinto a primeira coisa a fazer é compreendê-lo, analisando-o com
de egocentrismo separatista que o faz rebelde e, portanto, ne- mentalidade positiva. Por isso evitamos atitudes idealistas, não
cessitado de uma ordem imposta para sair do caos, seja pelo baseadas na realidade dos fatos.
instinto de domínio sobre seu semelhante para submetê-lo. A A vida dá provas de uma tão grande sapiência ao construir
técnica usada pela vida combina e utiliza essas qualidades para seus organismos, dirigir os seus fenômenos, resolver os seus
alcançar seu objetivo, que é passar à organicidade. problemas e atingir os seus fins, que não podemos deixar de
Eis por que a estrutura das organizações humanas atuais é considerá-la um centro psíquico inteligente. Este fato nos auto-
do tipo comando-obediência. Trata-se de uma razão psicoló- riza a estudar-lhe o pensamento para conhecê-lo.
gica estrutural, ligada à realidade e proporcionada aos fins, Perguntamo-nos, então, por que a vida, que soube criar as
segundo o comportamento normal da vida, que sabe tirar o maiores maravilhas, resolvendo problemas dificílimos em suas
melhor partido dos elementos disponíveis. Assim, utiliza-se o construções, deixa frequentemente suas criaturas indefesas, à
individualismo para cumprir a função de chefe, a seleção do mercê de mil perigos e sofrimentos? Como se explica tamanha
mais forte para escolhê-lo e a prepotência do dominador para indiferença por tal sorte, ao lado de tanta sabedoria e previdên-
subjugar e enquadrar os rebeldes na ordem, aproveitando-se cia? Como se justifica tanta negatividade destrutiva, ao lado de
assim as próprias qualidades do caos para construir o estado tanta positividade construtiva? Quando o indivíduo vem ao
orgânico. Essa condição pode surgir, mas apenas na depen- mundo, frequentemente espera-lhe a miséria, as doenças, o cár-
dência de um chefe, vencedor por eleição ou por revolução. cere e muitos outros tipos de sofrimentos materiais e espiritu-
No fundo, trata-se sempre de um ato de conquista, com o ais. Há gente condenada desde o nascimento a uma vida de do-
qual, para satisfazer seu instinto de domínio, o chefe começa res. Todavia as coisas estão combinadas de tal modo, que nas-
a organizar os seus dependentes. É natural que do velho mé- cer é algo fatal, porque depende de instintos irrefreáveis. Além
todo de vida nasça esse novo, levando consigo as qualidades disso, a vida é imensamente pródiga de meios para tornar o fato
dele, para depois libertar-se delas gradativamente. É assim do nascimento inevitável. Ela, que é avaríssima e utilitária,
que, em nossa sociedade, podemos encontrar casos de orga- desperdiça uma abundância incrível de germes, destinados em
nicidade já distanciados daquela posição original impositiva, grande parte a perecer. Por exemplo, dos duzentos e cinquenta
que forma o esqueleto do fenômeno. milhões de espermatozoides que conseguem contato com o
Inicialmente, a organicidade existe como um produto da óvulo, somente um está destinado a operar a fecundação.
potência dominadora do chefe, estendendo-se em profundi- Se a vida deseja tanto que o ser nasça, ainda que seja para
dade e amplitude proporcionais a essa potência. Assim, de deixá-lo depois submetido a todos os tipos de condições, exce-
Roma a Carlos Magno, a Napoleão etc., nasceram e desapa- to um estado de felicidade garantida, então deve haver uma
receram os grandes impérios da história. Sobre o mesmo forte razão para isso. Somente tal fato pode explicar a contra-
princípio baseia-se a solidez do grupo familiar e de outros, de dição existente nas manifestações da vida, que é tão benéfica
dimensões sempre maiores, como instituições, associações, de um lado e, depois, tão maléfica de outro. E, nisto, ela dá
partidos, religiões, nações etc. Como se vê, existe uma gra- também provas de saber perfeitamente fazer-se obedecer, ade-
duação unificadora sempre mais vasta, que tende a se desen- quando-se exatamente ao caso de indivíduos cujo primeiro im-
volver, admitindo um número sempre maior de elementos. pulso é a desobediência à Lei.
Notamos então que o princípio de unificação é um fato posi- Para os subdesenvolvidos, o jogo da vida se reduz a buscar
tivo que se está realizando. Trata-se de um fenômeno que o prazer e a fugir da dor. Mas a coisa não é tão simples, e ne-
funciona e vai-se impondo. E unificação sempre mais vasta nhuma uma explicação nos é oferecida. Encontramo-nos pe-
implica em organicidade cada vez mais complexa e completa. rante um funcionamento que cabe a nós mesmos descobrir e
Assim avança-se também neste sentido. compreender. Trata-se de algo que simplesmente funciona,
Deste modo, os elementos dispersos no caos começam a co- como acontece com todas as leis do universo, sem nos dizer
nhecer o novo estado de ordem que os aguarda, habituam-se a nada a seu respeito. Tratemos então de compreender qual é,
viver nele, veem-lhe as vantagens, assimilam-lhe as qualidades, neste caso, a regra do jogo.
aprendem a arte da convivência e da colaboração, encaminhan- A finalidade da vida não pode ser gozar, ainda que os ingê-
do-se gradualmente para a coletivização. É assim que, pouco a nuos possam crer nisso. Isto pode acontecer na juventude,
pouco, o indivíduo, de egocêntrico separatista, vai-se fazendo quando o indivíduo baseia-se em seu desejo, e não em sua ex-
orgânico unitário, assimilando as qualidades necessárias para periência. Mas não há velho que, tendo vivido, conserve tal
isso. Eis a técnica do fenômeno. Esta é uma das vias pela qual a ilusão. Então devemos admitir que a finalidade da vida não é o
Lei se manifesta, realizando a evolução. O resultado final que gozo, pois, se fosse, impor o nascimento de uma criatura desti-
nos espera no futuro é o estado orgânico unitário. nada a sofrer seria uma traição. Ora, a vida demonstra ser tão
Resumindo tudo o que dissemos neste capítulo e no prece- benéfica, que não se pode admitir nela tal impulso maléfico.
dente, temos as seguintes conclusões: 1) O homem no futuro te- Em todas as suas manifestações, ela se demonstra tão carrega-
rá uma vida inteligentemente planificada, na qual muitas dores da de positividade, que a negatividade contida nela deve existir
poderão ser previstas e evitadas, eliminando-lhes as causas; 2) por outra razão.
O mundo caminha para a abolição das guerras; 3) O futuro nos A realidade é que o verdadeiro objetivo da vida é outro. Uma
reserva o estado orgânico-unitário da humanidade. vez entendido qual é ele, tudo encontra sua explicação. Assim, é
Eis alguns aspectos da imensa revolução que se realizará no necessário primeiro ter compreendido o fenômeno vida em seu
Terceiro Milênio e que levará a humanidade a viver em um ní- desenvolvimento e finalidade. O fim supremo que ela quer al-
vel evolutivo mais avançado, inteligentemente orientada segun- cançar a todo custo, de acordo com seu caráter de positividade
do o funcionamento da lei de Deus. construtiva, é a salvação do ser, conseguida através da evolução.
16 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
Salvação significa atingir a felicidade, que é o grande desejo a em sentido involutivo, quando deveria ser dirigida para o alto,
fremir no fundo de cada coração humano e a impulsionar o indi- em sentido evolutivo. Assim, apesar de querer dirigir-se à
víduo à ação. Este desejo está escrito na lei de Deus e está desti- alegria, ela caminha para a dor, porque segue no sentido invo-
nado a se realizar. Ele deverá ser um dia satisfeito. Se assim não lutivo. Para evitar essa trajetória e colocá-la realmente na di-
fosse, tal anseio não teria sentido nem finalidade, constituindo reção da alegria, a vida deve reorientá-la com golpes doloro-
uma zombaria atroz. Quem sabe como funciona a vida não pode sos. Trata-se de uma desordem, que é uma doença da ordem.
admitir que ela trabalhe com tal sistema. E é neste ponto que dói. A dor aparece quando a ordem é alte-
Compreendido que esta é a sua finalidade, as condições que rada, e deste fato somos advertidos por aquela sensação que
ela nos oferece de fato não são mais uma contradição, porque chamamos dor. Isto, em todos os campos, é a expressão sen-
assumem outro significado. Não se vive para gozar, mas sim sorial de uma violação da ordem da Lei.
para se chegar à felicidade, que é o ponto final no topo da esca- Desejamos a felicidade, e isto é justo. Mas o caminho para
la evolutiva. O instinto não nos engana e é um motor utilíssimo chegar lá é regulado por normas. Se não as seguirmos, chega-
da ação. Ele cumpre sua função, que é nos impulsionar na bus- remos, pelo contrário, à dor. Insistimos nisso porque este é o
ca da felicidade. Assim corre-se a fazer esforços em todos os sistema mais usado, embora seja uma grande ilusão, uma vez
sentidos para subir, enfrentando e tentando vencer todos os obs- que leva, ao invés, à operação cirúrgica da reorientação. É duro
táculos. Com isso, experimenta-se, seguindo o curso da escola então ter de retornar à Lei pelo lado negativo, em posição cor-
da vida, cujos métodos didáticos (erro-dor etc.) já vimos. E para retiva. Só quem não compreendeu o funcionamento do fenôme-
que não se tente fugir de tudo isso, há o instinto de apego à vi- no não vê o absurdo de pretender que a desordem e a violação
da, o qual nos faz suportar as provas necessárias para evoluir. possam levar à felicidade, porquanto esta é, pelo contrário, um
Todavia pode acontecer que se tente a fuga com o suicídio. estado de harmonia, feito de disciplina na ordem.
Mas, por que é ele um mal? Mais exatamente, porque é uma re- O conhecimento de tal mecanismo pode ser útil, sobretudo
cusa em afrontar as provas que precisamos atravessar para con- aos jovens, que, ingênuos e carregados de desejos, encontram-se
seguir a evolução, que, ainda que não se compreenda, é a fina- na hora do lançamento da trajetória de sua vida, quando realizam
lidade da vida. Evoluir para salvar-se é o dever que a vida nos a implantação de seu destino. Eles creem ter nascido para gozar.
impõe. Suicidar-se é dizer não a este dever, que, em substância, Mas nasceram, em vez disso, para experimentar e aprender, a fim
não é senão o de construir o nosso bem. Mas isso deve aconte- de evoluir, o que significa elevar e melhorar as condições de vi-
cer cumprindo a fadiga para ganhá-lo, o que está de acordo com da. Programa saudável e construtivo. Quem tem a mente lúcida
a justiça da Lei. Então o suicida, que deseja fugir disso, termina compreende que isso é lógico e corresponde à verdade.
por pagá-lo, no sentido de que a prova não aceita recai sobre ele Mas é frequente o caso em que se busca a felicidade, des-
com a fatalidade de um destino e agravada pela recusa. cendo negativamente, isto é, endividando-se com a Lei. Trata-
É necessário compreender que as provas, sendo meios para se de um regime de perda contínua, porque, não sendo ganho
aprender a subir, constituem instrumentos de evolução e, por- com o próprio esforço e valor, não é reabastecido de positivi-
tanto, de salvação. Embora reconhecendo nelas um aspecto ne- dade, de modo que para continuar a gozar, usufruindo da posi-
gativo, a vida assume um valor positivo. Assim, o mal e a dor, tividade, é necessário um endividamento cada vez maior. As-
que são destrutivos em si, adquirem um significado e um poder sim a negatividade aumenta, sendo isso inevitável, pois o mo-
construtivo, que dão um sentido elevado e benéfico àquilo que vimento, uma vez lançado em descida, adquire sempre mais
antes parecia uma condenação. velocidade, até atingir o ponto de saturação, no qual a reação
Eis por que a vida pode – sendo benéfica, e não maléfica – da Lei amadurece, interrompendo subitamente o desequilíbrio
impor o nascimento, mesmo se este leva a provas dolorosas. e restabelecendo a ordem à força.
Estas então não são negativas e destrutivas, mas sim positivas e Como se vê, o fenômeno se baseia num jogo de equilíbrio
construtivas, porque, se forem compreendidas, podem tornar-se entre duas forças contrárias, uma positiva e outra negativa em
um instrumento de evolução, constituindo um meio para subir relação ao princípio de justiça próprio da Lei. É um processo
em direção à felicidade. Eis por que se deve nascer. Esta é a ra- similar ao verificado no uso de drogas, que criam um paraíso
zão pela qual a vida é sempre uma bênção de Deus, mesmo fictício de tipo negativo, pois artificialmente roubado às leis da
quando ligada a um destino doloroso. Tais afirmações são o re- vida, o qual tende assim a exaurir-se, de modo que, para se con-
sultado não de uma fé, mas sim de um raciocínio baseado na tinuar a gozá-lo, torna-se necessário um aumento contínuo da
realidade e na lógica vivenciadas. dose de negatividade pela qual ele é gerado. Isso significa que,
Já explicamos que a dor tem a finalidade de eliminar o erro, para se conseguir um bem sempre menor, é necessário buscar
que é a sua causa. A dor existe para eliminar a si mesma. O fato um mal sempre maior. Mas é justo e lógico que assim seja,
de ser ela um meio para chegar à felicidade, justifica-a perante porque a trajetória do fenômeno está em posição inversa, no
a Lei. Em suma, reconhecemos na vida uma larga zona de ne- sentido anti-Lei, razão pela qual não se pode obter senão resul-
gatividade, mas compensada e corrigida, fechada e enquadrada tados opostos, no sentido antivida. Assim, tudo tende a se re-
para o bem, na positividade fundamental do Todo. solver em envenenamento e morte. É nesta direção que o de-
Compreendido esse mecanismo, tratemos de utilizar o seu senvolvimento do fenômeno se precipita, até o baque final, com
conhecimento para orientar sabiamente a nossa vida e, com is- o qual a Lei restabelece o equilíbrio segundo a justiça. Atente-
so, evitar o doloroso efeito do erro. mos para não nos enveredarmos por essa estrada, da qual de-
Um sistema bastante difundido para satisfazer o desejo de pois não se sai mais, enquanto não se chega ao fundo.
felicidade é tentar procurá-la pelo caminho mais fácil, de me- A vida pode fazer convites desse tipo em qualquer campo,
nor resistência, através de atalhos. Com isso, procura-se che- do poder político e econômico ao prazer dos sentidos etc. Em
gar rapidamente, por qualquer meio, sem importar-se com as nosso tempo, caracterizado pela adoração do sucesso, é fácil
consequências. Quem compreendeu o mecanismo da vida sa- cair na armadilha. E os ingênuos, atraídos, abocanham o anzol.
be que isso é um erro pelo qual ele será conduzido à dor. Esse Não seria uma traição da vida fazer semelhantes ofertas? Então
tipo de felicidade é roubada à justiça da Lei e, como furto, de- por que ela as faz? Onde está a justiça da Lei?
ve ser-lhe pago. A alegria que não corresponde a um mérito e É necessário não esquecer que a vida é uma escola, e uma es-
a um valor verdadeiro é falsa, transformando-se assim em um cola é feita de contínuas provas a serem superadas. Tais ofertas
engano. Trata-se de uma trajetória lançada na direção errada, são um teste para aqueles que, tendo experimentado e aprendido,
que exige, portanto, uma correção. Ela é lançada para baixo, dão provas de saber resistir ao convite, não caindo mais na arma-
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 17
dilha. De tal exame aqueles saem vencedores e são promovidos à sos podem ser resolvidos, se bem orientados. Oferecemos uma
classe superior. Os maduros conhecem o jogo da armadilha e, por chave com a qual poderão ser abertas muitas portas ainda fe-
isso, não caem nele, vitória que lhes serve para avançar. chadas, se soubermos onde está a fechadura correspondente.
Mas os imaturos não entendem o jogo, e é exatamente para Não nos podemos enveredar pelo caminho da casuística, por-
chegarem a compreendê-lo que eles têm necessidade de expe- que, sendo os detalhes intermináveis, isso nos levaria muito
rimentá-lo. Como podem aprender, se não sentirem na própria longe. Seguem-se então alguns outros capítulos, mas sem ne-
pele quais são as consequências do erro? É necessário que nhuma pretensão de exaurir o argumento.
eles aprendam e, portanto, vivam todo o desenvolvimento do Estamos numa época de grandes mudanças, na qual se pes-
fenômeno da queda, como descrito acima. Isso até o baque fi- quisam métodos novos, destinados não a encobrir os proble-
nal, que é o golpe necessário, sendo a única coisa que pode ter mas, para salvar as aparências, mas sim a resolvê-los. Esta é a
a força para abrir e penetrar sua mente, ainda dura para enten- diferença entre o presente e o passado. Antigamente, o proble-
der. Nela, então, faz-se a luz, e estes homens amadurecem, de ma da pobreza era enfrentado com o paliativo das esmolas e
modo que, quando receberem o próximo convite do mundo, com a promessa de uma felicidade futura no céu, a qual era en-
não cairão na armadilha. Então, eles superarão tal exame e carregada de compensar o mal e, assim, realizar a justiça de
poderão subir para uma classe superior. Esta é a mecânica do Deus. Hoje, em vez de fazer da pobreza um problema espiritual
fenômeno. O caminho é livre, sendo necessário, portanto, e deixar de resolvê-lo, procura-se suprimi-la com os meios po-
muita atenção para escolhê-lo. sitivos da técnica produtiva e da organização econômica coleti-
Cuidado, portanto, para não se deixar seduzir, aceitando ce- va. Diz um provérbio chinês: “Se quiseres ajudar um pobre, não
gamente ofertas gratuitas para triunfar facilmente. Façamos en- lhe dês um peixe, mas ensina-o a pescar”.
tão um exame de consciência e, se virmos que tais triunfos não Nota-se a mesma mudança de métodos com relação ao pro-
são merecidos, por não corresponderem a um valor real nosso, blema da delinquência. No passado, a justiça se encarniçava con-
não os aceitemos. Devemos dar provas de sermos conscientes tra aquele condenado como culpado. Isso constituía um enfure-
do que valemos e merecemos. Se somos orgulhosos, vaidosos, cimento estéril, porque se limitava aos efeitos do mal e às suas
ávidos, ignorantes, descuidados ou irresponsáveis, é justo que origens mais próximas. A finalidade não era eliminar as causas e,
caiamos e paguemos. com isso, a delinquência, mas sim defender-se e vingar-se. Hoje,
O banquete está pronto, e somos convidados. Mas devemos em vez disso, tende-se a fazer a psicanálise do criminoso, para
compreender o significado do convite, porque, se não o com- atingir as causas remotas e organizar uma ação preventiva em
preendermos antes, compreenderemos depois, como acontece profundidade, para impedir, na sua origem, a formação do mal.
com o peixe que abocanha o anzol. O ávido, ansioso de ganhos Trata-se de enfrentar o problema com métodos diferentes.
gratuitos, crendo ser esperto e vencedor, abocanha-o. Mas por Observemos quais são eles e qual é o mais útil à vida. Trata-se
quê? Porque estas são as qualidades de seu temperamento, exa- de dois sistemas de vida, que pertencem a dois níveis diferentes
tamente aquelas que devem ser corrigidas pela experiência. É de evolução, sendo que hoje está ocorrendo a passagem do infe-
justo que a prova o espere, até que ele aprenda e com isso evo- rior para o superior. O primeiro é baseado na luta, o segundo é
lua. Ele compreenderá depois. Mas como se poderia isentá-lo baseado na compreensão. O primeiro foi usado no passado, o
da prova, se ele antes não compreendia? A desilusão tem uma segundo começa a ser utilizado hoje, para continuar a se desen-
salutar função educadora, e é por isto que, para seu bem, a vida volver sempre mais no futuro. Ele depende da afirmação da in-
o faz suportá-la. A finalidade disto é fazer ele chegar a compre- teligência, posição nova que a humanidade agora alcança, por
ender que, com aquele método, ao invés de se vencer, perde-se. lei da evolução, entrando numa sua fase mais avançada.
A desilusão serve para atingir a compreensão, que é a primeira O criminoso é tanto mais notado e expulso da coletividade,
condição para avançar. Trata-se de um sofrimento justificado, quanto mais próxima ela se encontra de um regime de ordem.
salutar e construtivo. Se ele houvesse sido maduro, não teria Em um regime de desordem, quanto mais o caos domina, tanto
abocanhado e não teria sofrido, porque sofrer é justo, útil e ne- menos se nota a presença do criminoso, porque, num ambiente
cessário somente para quem não aprendeu. caótico, onde reina um sistema de luta, ele constitui a regra, e
não a exceção. O fato é que, quanto mais involuída é uma so-
IX. O PROBLEMA DA DELINQUÊNCIA ciedade, tanto mais ela se encontra afastada da justiça e tanto
mais a vida se reduz à autodefesa na luta pela sobrevivência,
Neste livro, foi nosso propósito basearmo-nos sobre o que a na qual o mais forte vence.
vida nos mostra através dos fatos, observando seu pensamento. Esta era a substância da justiça penal no passado. Mais do
Por isso não nos referimos a nenhum escritor. Além disso, im- que numa compreensão inteligente do fenômeno, ela se baseava
pusemo-nos ser breves e sintéticos, fazendo uma recapitulação em reações instintivas do subconsciente, para se defender con-
de todo o trabalho de preparação que nos trouxe até este ponto. tra um ataque à própria pessoa ou aos próprios bens. A lei de
Tal trabalho está aqui subentendido, embora não muito eviden- Deus não podia funcionar senão de acordo com o baixo nível
te. Este é um livro de aplicações e conclusões, que representa a evolutivo então atingido, baseado na luta pela sobrevivência. A
fase final. O período de pesquisas e maturação está nos vinte e justiça consistia em uma reação de defesa e vingança, que sal-
dois volumes precedentes e nos quarenta anos percorridos por dava as contas, mas não restabelecia a ordem, deixando intacto
vários caminhos, para chegar à maturação atual. o estado de guerra entre juízes (a parte lesada) e violadores (o
Ao fim deste trabalho, implantamos algo que outros po- assaltante). Embora houvesse a punição, permanecia como um
derão desenvolver, aplicando através de novas pesquisas os mal social o hábito do delito, que não era erradicado.
princípios expostos. Com isso, depois de ter percorrido a fa- No passado dava-se exemplo público da justiça, adminis-
se conclusiva do velho mundo, colocamo-nos agora às portas trando-a em praça pública, onde o povo podia gozar o saboroso
do novo, que hoje não só pertence aos jovens, mas também espetáculo de ver os malfeitores serem torturados e mortos. Es-
será deles amanhã. te era o lugar para onde todos corriam, e pode-se imaginar com
Fizemos algumas aplicações das teorias aqui expostas. que resultados morais e educativos. Acreditava-se, com isso,
Mas, uma vez que nos tenhamos orientado e, assim, compre- combater o delito, enquanto na realidade, o povo aprendia a
endido a técnica do fenômeno, dela se poderá fazer muitas ou- cometê-lo melhor ainda, instruído por aquele espetáculo feroz.
tras aplicações. Ainda citaremos algumas, mas escolhidas ape- Tais efeitos, no entanto, constituíam sutilezas psicológicas que
nas como exemplo, só para mostrar como e quando muitos ca- eram ainda desapercebidas.
18 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
Tratava-se de um mundo ainda involuído, ou seja, carregado política mundial, pela qual o guerreiro assaltante de outra nação
de negatividade. Assim, à negatividade do criminoso somava-se não será mais um herói glorioso, mas sim um criminoso, da
a da sociedade julgadora e à negatividade da culpa somava-se a mesma forma como hoje, dentro do próprio país, é criminoso
da punição, de modo que o ódio e a vingança aumentavam a qualquer indivíduo que assalte o próximo. Já se reconhece o di-
negatividade em vez de absorvê-la, para eliminá-la. Não é pos- reito de se recusar à guerra por objeção de consciência.
sível combater a negatividade senão com a positividade, que a O princípio já existe, mas ainda é limitado somente a cada
corrige, agindo em sentido oposto. Tal sistema não é seguido nação. Trata-se apenas de uma questão de amplitude na exten-
porque o indivíduo, no seu egoísmo, preocupa-se tão-somente são de sua aplicação, a qual, no entanto, está sempre crescen-
em resolver o seu problema, que é defender o seu próprio inte- do. Pela lei de evolução, que leva à formação de unidades co-
resse. Cada um dos dois termos lança sobre o outro sua própria letivas sempre maiores, não é possível se chegar a outro resul-
negatividade, que, na falta da ação de uma força corretiva, per- tado senão a unificação mundial, em que todo e qualquer ato
manece intacta. Desse modo, o mal não é curado, pois não se bélico será uma violação da ordem, passível de punição pela
pode eliminá-lo com outro mal, e reaparece sempre. polícia, como ato criminoso.
Deveríamos ir então de braços abertos ao encontro do de- Antigamente, estas extensões na aplicação de tais princípios
linquente? Isso é possível para uma sociedade que já atingiu a não eram realizáveis. Procurava-se então resolver o problema da
fase de compreensão, mas não para aquelas ainda situadas na criminalidade de outro modo, lançando-se furiosamente sobre o
fase de luta. Tudo isso, então, era justificado no passado, por- condenado, acreditando-se que, quanto mais cruel fosse a pena,
que se utilizava o sistema de imposição e os homens se acha- mais difícil tornar-se-ia a ocorrência do delito. Hoje, quando se
vam na fase de luta. passa do método da luta ao da compreensão, vê-se a estrutura do
Há, porém, outro fato: a humanidade está passando hoje à fenômeno, e a solução é dada de maneira diversa. O homem ra-
fase da compreensão, e isso acontece primeiramente com as cional moderno analisa o caso, questionando. Quais são os resul-
classes dominantes, que representam a posição evolutiva mais tados do sistema punitivo? Considerado do ponto de vista utilitá-
avançada. É destes que se espera, frente ao criminoso, a inicia- rio, qual é o seu rendimento para o bem da coletividade? Tal sis-
tiva de se passar do regime de luta ao da compreensão. Trata-se tema melhora ou piora o criminoso? E uma vez que o piora, para
de um momento propício para iniciar e, depois, realizar a pas- que serve então puni-lo, se isso se reduz a uma fábrica de maior
sagem para uma posição de positividade, a fim de sanar o mal, delinquência? A solução está em empregar um método feito de
corrigindo a negatividade do elemento antissocial, oposto à so- positividade, que assim corrige e diminui o mal e a negativida-
ciedade: o criminoso. de, ao invés de agravá-la, como se fazia anteriormente contra a
É pela maturidade das massas que o indivíduo antiordem criminalidade, utilizando-se um método de negatividade.
deve ficar como que estrangulado por uma reação psicológica Como se vê, o novo estilo de enfrentar o problema consiste
coletiva, pela qual seu campo de ação é fechado. Este homem em se propor a melhorar o delinquente, porque este é o caminho
deve ser julgado pela opinião pública como criminoso, mesmo que leva à diminuição da criminalidade, sendo, portanto do inte-
quando, ao prejudicar o próximo, dá provas de saber vencer pe- resse coletivo. O velho estilo não tinha esses fins corretivos, con-
lo valor da força ou da astúcia. No passado ele podia, caso ven- sistindo apenas na reação de defesa individual do ofendido contra
cesse, tornar-se um herói admirado, porque era julgado com o ofensor. Ora, o novo estilo, sendo produto de uma fase evoluti-
uma psicologia individualista, pela qual só à parte lesada inte- va mais avançada e inteligente, compreendeu que o sistema de
ressava reclamar, não à coletividade. Aos outros, porquanto ile- investir contra o condenado é contraproducente e deve, portanto,
sos, não importavam os danos, que não lhes diziam respeito. A por uma questão utilitária de rendimento, ser eliminado.
vitória, sendo à custa de um terceiro, dava-lhes um senso de va- Começa-se então a estudar a psique do delinquente, procu-
lor e poder, incutindo, portanto, respeito. Ainda hoje, o delin- rando-se penetrá-la com a pesquisa, para descobrir onde está o
quente astuto bem sucedido provoca uma dose de admiração terreno das motivações e a origem primária das ações. Procura-
por parte dos que não foram lesados. se, assim, penetrar todo o mecanismo cerebral determinante do
Tudo isso está implícito no sistema da luta e dele surge como ato criminoso, que é sua última consequência. Com a psicanáli-
consequência. Este sistema é uma qualidade ligada à involução, se do delito, pode-se determinar quais as condições hereditá-
de modo que, quanto mais involuído é o indivíduo, tanto mais rias, mentais e ambientais dentro das quais ele nasce. Torna-se
valor ele tem como criminoso, e ao contrário. Acontece que a possível, assim, desinfetar esse terreno, a fim de impedir o nas-
evolução tende a eliminar tal tipo. É assim que a delinquência cimento do criminoso, ou, caso este já se tenha formado, estu-
começa a ser julgada como tal, quando o mundo se civiliza, en- dar métodos de como reeducá-lo, para reabilitar esse elemento
quanto antes constituía um método normal de defesa e um meio antagônico e, depois, inseri-lo na vida coletiva. Isso faz parte
necessário à vida. Esta, quando se encontra em tal nível, aceita a daquele trabalho de formação do estado orgânico da sociedade,
delinquência, porque só quem sabe roubar e matar sobrevive ne- já explicado nos capítulos precedentes.
le. O criminoso, de fato, acha-se à vontade e vive bem num am- Essa recuperação já está sendo feita, de modo que os fatos es-
biente caótico, que é feito sob medida para ele. Mas acontece o tão de acordo com as nossas explicações. Busca-se pôr em ação
contrário num regime de ordem, ao qual somente o evoluído se melhoramentos carcerários no sentido educativo, para reconstruir
adapta. Assim pode-se considerar o criminoso como uma sobre- o indivíduo estragado. Para não provocar a reação involutiva do
vivência atávica do passado, destinada a desaparecer com o condenado, busca-se evitar o embrutecimento, procurando-se ir
tempo, por lei de evolução, pois, quanto mais a sociedade se ci- ao seu encontro, não com o sentido de vingança, mas de compre-
viliza, tanto menos adaptado a tal ambiente ele se torna e tanto ensão do seu caso. Busca-se reatar as relações de boa vizinhança
mais difícil é para ele viver nestas condições. na convivência social, rompidas por várias causas, que se procu-
Em um momento de transformação como o atual, estão apa- ram eliminar. É verdade que a sociedade quer antes de tudo se
recendo novos critérios, antes inconcebíveis. Condena-se, por defender, sendo isto seu pleno direito. Mas ela deve agora apren-
exemplo, o culto da personalidade, que representa a apoteose do der a se defender mais profundamente, suprimindo a causa do
vencedor, segundo o velho sistema. Apareceu depois o conceito mal, e não o agravando com o acréscimo de outro mal. Também
de criminoso de guerra. Para ser completo, porém, tal conceito neste setor, vemos a passagem para a fase de colaboração, que
deverá ser aplicado não só aos vencidos, como imposição dos constitui o novo estilo de vida em todos os campos.
vencedores, mas a quem quer que faça uma guerra, violando a Antigamente, a ação punitiva se dirigia contra o indivíduo
ordem internacional. Encaminhamo-nos para a formação de uma que tinha agido mal. Mas ele não era senão o último efeito de
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 19
uma cadeia de fatos ignorados pela justiça, os quais tinham, to- X. A FABRICAÇÃO DO TÉCNICO,
davia, valor determinante. Tais fatos eram desconhecidos porque DO PRODUTO E DO CONSUMIDOR
a penetração psicológica do homem não era capaz de observá-
los. Via-se o fenômeno com outra forma mental. A aplicação da É próprio do estado orgânico, para o qual a humanidade se
justiça tinha frequentemente o sabor de uma luta entre crimino- encaminha, a formação de problemas interdependentes, ligados
sos. De fato, quem ditava e aplicava a lei era aquele que, por ser em cadeia. Aqui, apresentamos agora alguns deles, inerentes à
o vencedor, havia-se tornado senhor, cuja vontade o vencido de- industrialização moderna, mostrando como se pode resolvê-los
via suportar. As classes ricas e dominadoras constituíam os ven- de um modo mais lucrativo, quando se usa o sistema de retidão,
cedores, enquanto as pobres e subjugadas constituíam os venci- que nos é proposto pela Lei.
dos. As primeiras faziam a lei a seu favor, condenando, caso não No passado, a produção era reduzida e o trabalho era um ar-
obedecessem, aqueles que tinham interesses contrários. Assim o tesanato destinado a poucos consumidores. O estado primitivo
delito, para indivíduos da classe dominada, era um ato de legí- da técnica não permitia a grande organização industrial com
tima defesa. Porém, mesmo assim, eles eram punidos, porque, produção em série, que implica não só num suprimento de téc-
em um regime de justiça, baseado na força, o fato de serem fra- nicos aptos à execução daquele trabalho, mas também no for-
cos e não saberem vencer tornava isto merecido. Ora, se estes necimento de uma massa de consumidores preparados para ab-
homens se tornassem fortes e vencessem, não seriam mais cri- sorver aquela produção. A indústria torna-se assim um fenôme-
minosos, e sim legisladores, admirados e obedecidos. no complexo, no qual, como rodas dentadas, devem-se engre-
Em tal mundo, o culpado, que acabava punido segundo a nar, um exigindo a presença do outro, os elementos sucessivos
justiça de então, era quem perdia a batalha, por não ter sido sufi- de um ciclo preestabelecido. O problema da fabricação do pro-
cientemente forte ou astuto para saber vencê-la. Neste tempo, a duto no estabelecimento industrial encontra-se espremido entre
reação punitiva se dava através da luta, método correspondente dois fatores: a formação do técnico nas escolas, para fornecer o
ao primeiro tipo de vida. Hoje a justiça procura também os cul- trabalhador que produz, e a preparação do consumidor, para as-
pados colaterais, precedentes e longínquos, de modo que a rea- segurar o mercado. Por sua vez, esses problemas se encaixam
ção ao mal se dá através da compreensão, método corresponden- em outros, mas examiná-los nos levaria longe demais. Limitar-
te ao segundo tipo de vida. Atualmente são chamados a debate nos-emos, então, a observar os três problemas básicos: o do
elementos antes nunca vistos, que podiam antigamente fazer o técnico, o do produto e o do consumidor, aos quais correspon-
mal impunemente, pois ninguém os via. Culpava-se assim aque- dem outros três: o da escola, o da indústria e o do comércio.
le envolvido mais próximo, apanhado em falta, desconsideran- Comecemos pelo primeiro. Antigamente a instrução tinha
do-se desse modo o fator remoto, que pode ser determinante. características diferentes da atual. Era reservada a poucos, diri-
Vem à minha mente um exemplo típico, no caso histórico gindo-se a uma elite que podia permitir-se tal luxo. Frequente-
da Monja de Monza1. Ela foi presa durante toda sua vida em mente, tinha somente a finalidade de formação cultural, para
uma cela, por ter seguido os instintos do sexo, a cuja satisfação embelezar com um título uma posição econômica privilegiada.
tinha direito, deixando-se levar pelos delitos decorrentes de sua Tratando-se de pessoas que não tinham necessidade de traba-
ligação com um delinquente, que, por sua audácia, tinha conse- lhar para viver e não sendo a instrução adquirida frequentemen-
guido fazê-la sentir nele o macho protetor. No entanto, ela pro- te com essa finalidade, desejava-se estudar o menos possível
cedera segundo os elementares e sadios impulsos da vida. Neste para receber o famoso pergaminho, como era chamado então o
caso, a justiça não viu seus genitores, que, sem aparecer, havi- diploma, do qual se dizia que não servia para nada na vida. O
am-na indiretamente constrangido a declarar uma vocação ine- estudante, portanto, não se preocupava, como o faz hoje, se o
xistente; não viu o pobre, simples e velho padre, escolhido pro- mestre tinha ou não conhecimento do que ensinava.
positadamente para aceitar tais declarações; não viu, se bem me Hoje, a instrução é sobretudo técnica, destinada não para en-
lembro, uma tia que queria apoderar-se do feudo, cuja posse a sinar a dissertar como um intelectual, mas sim para adquirir um
monja herdaria, caso não fosse fechada em um convento. Quem conhecimento que deverá depois ser aplicado em uma posição de
era então o culpado? Mas a punição foi aplicada somente a ela. ganho e responsabilidade. Como se vê, pelas condições alteradas,
Quantos outros puderam cometer a metade do delito impune- o problema do ensino hoje é apresentado de maneira diversa. Ele
mente, porque a justiça não os viu, fixando-se somente na mon- não é mais do tipo acadêmico como era antes, mas sim prático,
ja. Tais casos não autorizam a exigir uma justiça perfeita, im- positivo e realizador. Não constitui mais o monopólio de uns
possível na Terra, mas autorizam a contar com outra justiça, poucos eleitos, bradando em nome de sua sapiência às massas
que retifica a humana, quando esta não consegue funcionar. ignorantes, estupefatas ao ouvi-los. Estas se fizeram mais cultas e
Hoje se estuda o criminoso e procura-se entender o delito. inteligentes, mobilizando-se como um imenso material humano
Às vezes, mais do que um culpado, encontra-se um doente. A que, antes abandonado a si mesmo, tornou-se agora produtivo
perseguição está sendo superada. Perante um acusado, busca- com o adestramento mental. É, portanto, de seu próprio interesse
se saber por que esse homem é culpado, procurando determi- aprender, e o indivíduo vai à escola para isto, motivo pelo qual
nar quem e que fato o levou a esse ponto. Agora vemos que a ele quer uma escola bem feita, para aprender, porque sabe que
justiça, para ser feita, deveria golpear outros pontos, situados disso dependem seus futuros ganhos e posição social.
distantes. Pode assim, atrás da culpa incriminada, aparecer um Encontramo-nos hoje perante o fato de que a instrução não
mundo de outras culpas individuais e coletivas, das quais aque- só está dirigida para as massas, mas também serve, ao mesmo
la do condenado não é senão a última consequência. Revelam- tempo, como um meio para o indivíduo se tornar produtivo, tra-
se então estados de injustiça social, pelos quais cada um é res- zendo assim vantagem tanto individual e como coletiva. Isto se
ponsável, mesmo quando dispensa o dever da reparação. En- deve ao desenvolvimento técnico, efeito do progresso científico.
tão, uma sentença penal pode constituir um convite a se fazer Outro fator contribuinte é o novo impulso de laboriosidade, que
um exame de consciência, para ver a parcela com a qual cada se compreende ser o único meio, porquanto intensifica a produ-
um concorre na determinação daqueles efeitos. Às vezes, ção, para alcançar o bem-estar, ao qual quem trabalha sente ter
quando acontece um fato triste, em vez de se investir contra direito. Descobriu-se assim o método para nos tornarmos ricos.
quem se deixou apanhar em falta, poderia ser até mesmo o ca- Aqui pode surgir uma objeção. Sem dúvida, assim se eleva
so de nos perguntarmos quem é o verdadeiro culpado. o nível de vida. Mas consistirá nisso a finalidade da instrução,
ou será ela a formação espiritual? Com o método de mecaniza-
1
V. romance histórico: I Promessi Sposi, de A. Manzoni. (N. do A.) ção da instrução, não se arrisca a atentar contra a integridade da
20 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
personalidade humana, construindo um robô tecnicamente per- dirigentes e operários? Na realidade, trata-se da divisão de um
feito no exercício de suas funções, mas desprovido da orienta- mesmo trabalho, com funções complementares, uma necessá-
ção ainda necessária em outros campos? Não se arrisca a dimi- ria à outra. Ora, cada atrito que houver é prejudicial a todos,
nuir a dignidade do homem, quando o tornamos apenas um téc- de modo que o método da colaboração representa aquele de
nico especializado, para ser colocado na máquina da produção maior rendimento. É aí que se vê a lógica da aplicação do
industrial, como uma peça feita sob medida? princípio de retidão da Lei, em obediência aos princípios utili-
Pode-se responder que este tipo de instrução é útil para o tários, segundo os quais funciona a vida.
mecanismo da produção e, portanto, como esta a base do bem- Neste campo, podemos ver como a evolução muda a forma
estar, deve ser aceito. Tal aceitação é válida, mas sem maiores das relações sociais. Antigamente, o rendimento do trabalho,
pretensões, admitindo-se que aquele sistema só se aplica no seu em vez de resultar na produção, era anulado pela fadiga da lu-
respectivo setor e que, portanto, deve ser completado no que ta. À custa de uma menor produção, era necessário pagar o
diz respeito à formação da personalidade. Com aquele sistema, dispêndio de energia utilizada para manter em pé a atividade
não se pretende construir todo o homem, mas somente o técnico contraproducente da luta, equivalente ao fator que, na mecâni-
perito em seu setor, para executar seu trabalho. Espera-se que ca, chamamos de atrito, o qual funciona como resistência, ab-
ele se complete, e a industrialização, ao invés de impedi-lo, sorvendo energia. Os dois elementos da relação trabalhista
tende sempre mais a permiti-lo, como nos indicam a semana eram o patrão e o servo. O primeiro dizia ao segundo: “Eu sou
inglesa, o trabalho cada vez mais executado pela máquina, os o patrão, porque venci. Por isso deves me obedecer. A lei, a
meios técnicos de difusão do saber etc. verdade e a justiça são definidas pelo que eu quero, como me
Há, depois, o fato de que uma instrução de massa não pode agrada e como me serve”. O servo, de sua parte, reagia com a
ser realizada sem perder em altura o que ganha em extensão. O resistência passiva, negando-se ao trabalho, que ficava então
desenvolvimento hodierno em sentido horizontal não pode ser reduzido a um rendimento mínimo. Grande parte da fadiga era
obtido senão renunciando-se ao desenvolvimento vertical, que desperdiçada com esses atritos.
só uma elite de poucos pode atingir. Antigamente, o saber po- O novo método, para o qual a vida avança, consiste em ter
dia ser profundo, mas era concentrado em uns poucos. Hoje ele compreendido a utilidade que há para ambas as partes em evitar
é mais superficial, mas difuso entre muitos. Trata-se de com- essa dispersão. Os dois elementos da relação de trabalho avizi-
pensações das quais não se pode fugir. A difusão da cultura é nham-se para usufruir das vantagens que advém da compreen-
paga com seu nivelamento. são recíproca. O primeiro diz ao segundo: “Nós fazemos parte
Antigamente, os governos preferiam deixar os povos em es- do mesmo organismo. Portanto é nosso interesse colaborar,
tado de ignorância, porque assim era mais fácil dominá-los. Ho- eliminando a fadiga louca e estúpida da luta, que não é útil a
je, a instrução torna-se um direito. As próprias indústrias come- ninguém. Procuremos ser mais inteligentes, evitando-a. Eu, na
çam a construir escolas por sua conta, a fim de preparar seus função de comando, faço uma parte do trabalho, a qual tu não
técnicos especializados para trabalharem em suas oficinas. As- sabes fazer. Tu, na função de obediência, fazes a outra do
sistimos à democratização do ensino, ministrado com meios mesmo trabalho, a qual eu não posso fazer. Temos necessidade
técnicos que o multiplicam ao infinito. As “teaching machi- um do outro, portanto convém a ambos a colaboração”.
nes”2 representam uma revolução nos métodos didáticos. O método de patrão e servo é uma concepção infantil, que
Assim, a instrução vem construir a parte introdutória da ainda sobrevive nos países subdesenvolvidos. Mas a evolução le-
vida, realizando o adestramento para o trabalho, do mais sim- va fatalmente ao outro sistema, que passa a ser praticado tão logo
ples ao mais complexo. O período escolástico, então, torna-se a inteligência se desenvolve o suficiente para chegar a compre-
a primeira fase do trabalho do homem, como preparação para ender sua utilidade. Não é um problema de bondade ou amor,
outro, que virá depois, na fábrica. A instrução torna-se a fase mas sim de produtividade do próprio esforço de trabalho. Não se
de construção do técnico e encaixa-se na engrenagem da or- trata de pregar ideais, mas de gozar uma vantagem e eliminar um
ganização industrial. Com isto, a grande produção em série prejuízo. Pode-se calcular a perda de rendimento a que leva o li-
pode ser precedida e alimentada por uma produção paralela de tígio. Nos países mais civilizados, os industriais mais inteligentes
um grande número de trabalhadores preparados tecnicamente. antecipam espontaneamente aqueles melhoramentos que se im-
A escola começa a fazer parte, portanto, do moderno tecni- porão por si mesmos, dentro em pouco, e que terão inevitavel-
cismo. Assim, a instrução se liga à produção, como fase pre- mente de ser concedidos. O cálculo deve ter-lhes demonstrado a
paratória desta, e a indústria, porque é condicionada pela ins- maior conveniência de escolher esse caminho, que elimina gre-
trução, faz dela um problema seu. ves, sabotagens, debates e atividades similares, que são dispendi-
É certo que tudo isso é coerente perante o fim a que se pro- osas e dispersivas e devem ser pagas pelo industrial.
põe a sociedade. Mas para onde nos poderá levar a lógica do Tudo isso corresponde à lógica da evolução. Ela leva do
aproveitamento racional em busca de rendimento econômico? separatismo à unificação, do caos ao estado orgânico. Vemos
Que perigos pode esconder essa industrialização da vida? O aqui, uma vez mais, aplicados pela vida, estes seus princípios,
método da linha de montagem, para produzir tantas unidades os quais já ilustramos acima. A evolução aproxima os elemen-
por hora, adapta-se à estrutura espiritual do homem, ou pode tos que a involução mantinha afastados e inimigos, levando-
ser um suicídio para ele? O fim de grande parte da instrução nos, assim, em direção a um rendimento sempre maior de nos-
tende hoje a ser não a formação do indivíduo maduro e comple- so esforço, com a eliminação das dispersões. Dessa forma, as-
to, mas sim um investimento de capital. Calcula-se quanto custa sistimos a um contínuo processo de restrição da negatividade e
a instrução em relação ao rendimento que depois se pode obter de dilatação da positividade, o que significa um melhoramento
do indivíduo em quem ela foi aplicada. O problema não é mais das condições de vida.
a construção espiritual do homem, mas sim o bem-estar. Che- ◘◘◘
gando-se à abundância, que outros problemas poderão surgir? Formando-se o técnico para produzir e depois se fabricando
◘◘◘ o produto a ser consumido, é necessário estabelecer o consu-
Compreendido o problema da formação do técnico que midor para absorver a produção. Chegamos assim ao terceiro
produz, observemos o problema conexo da fabricação do pro- termo conclusivo do ciclo: escola, indústria e comércio. Este
duto. Quais são nas organizações industriais as relações entre problema de vender o produto também pode ser resolvido de
duas formas: empregando o método da imposição, segundo o
2
Máquinas de ensino. (N. da E.) baixo nível evolutivo do passado, feito de luta, ou utilizando o
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 21
método da compreensão e da colaboração, segundo o nível Então se compreenderá que, no comércio, não se pode tirar
evolutivo superior. Observemos agora, também na moderna vantagem do prejuízo alheio, mas somente dano para si, enten-
organização comercial, o maior rendimento que se pode alcan- dendo que o público não é um terreno a ser desfrutado. Com-
çar com o método da retidão, para constatar, assim, o valor preender-se-á que um produto inferior, lançado com grande
dessa qualidade mesmo neste campo. rumor propagandístico, apesar de dar um rendimento imediato,
Diz-se que a propaganda é a alma do negócio. No seu esta- trará perda no futuro, de modo que, no fim das contas, as des-
do genuíno, a propaganda deveria constituir-se na oferta de um pesas com essa propaganda serão dinheiro jogado fora. Méto-
produto útil ao consumidor, dado que ele paga, e dirigir-se ho- dos falsos produzem resultados falsos. Eis que o sistema co-
nestamente ao encontro dele, para satisfazê-lo. Em um regime mercial mais lucrativo, de fato, é tornar o produto bom e útil,
de retidão e colaboração, deveria ser esse o dever do produtor. conquistando a confiança do consumidor para formar a cliente-
Em vez disso, no velho regime do tipo egoísta separatista, a fi- la, e não a fazendo fugir com a imposição do produto através de
nalidade é outra, constituindo-se em ser capaz de obter a maior uma propaganda desonesta. Em suma, também neste caso, o
quantidade possível de dinheiro. O comprador é um material a sistema da retidão é o mais lucrativo.
conquistar, de interesse do próprio produtor. O intercâmbio se O problema do consumidor pode ser visto também sob ou-
implanta sobre um regime de luta. O produto não é oferecido tro aspecto, colocado perante a moderna economia do consu-
no interesse do consumidor, mas sim no do produtor. mo. O progresso técnico levou hoje a uma produção intensiva
É natural então que ao egoísmo de um lado se contraponha e mecanizada. A indústria organizada lança um rio de produ-
o egoísmo do outro lado, estabelecendo entre os dois um estado tos, num grande número de unidades por minuto. Sem dúvida,
de inimizade. O comprador, perante o produtor que finge servi- trata-se de abundância, mas, com isso, o homem se tornou es-
lo, mas tem como única finalidade o lucro, reage com a descon- cravo da máquina, que o liga a um ciclo intenso e obrigatório
fiança. Este estado de ânimo, por sua vez, interfere no comér- de produção e de consumo. Tal ciclo não pode ser interrompi-
cio. Reaparece assim o regime de atritos, que absorve parte do do, porque dele vivem milhares de operários. É necessário en-
rendimento, como já se viu nas outras fases do ciclo. tão achar o mercado para dar saída a tanta mercadoria. Uma
Quando a produção é abundante, o consumidor encontra sua vez fabricado o produto, é necessário produzir o consumidor e
defesa no sistema de concorrência, que, levando à seleção do o seu hábito de consumo.
melhor produtor, permite ao consumidor uma possibilidade de Disso nasce um regime de vida carregado da ânsia do reno-
escolha. A eliminação da negatividade daquele produtor que só vamento contínuo, com a obrigação de adquirir e consumir. En-
vê seu próprio lucro é, então, imposta à força, enquanto lhe cus- tão os produtos devem ser construídos para não durar. Chega-se
taria menor dispêndio de energia um regime consciente e es- a criar necessidades artificiais, com a finalidade de satisfazê-
pontâneo de positividade, devido ao seu maior rendimento. Es- las, mesmo se inúteis à vida. Assim também o consumidor é
tamos em uma ordem de expedientes de caráter contraprodu- mecanizado, sendo reduzido a um consumidor submetido a co-
cente para ambos os lados. ações contínuas. Ele vê tudo envelhecer rapidamente em suas
A propaganda segue estes impulsos. Ela deveria ser do tipo mãos, porque os produtos mudam de tipo ou de modelo e, por
informativo, a serviço de quem busca notícias dos produtos. Em fim, têm de ser jogados fora, porque não se encontra mais peças
vez disso, ela é do tipo assaltante, para impor o produto, e isso de reposição. Assim a máquina terminou por impor seu ritmo
de uma forma que, nos centros urbanos, pode tornar-se obce- de consumo, como tinha imposto o da produção. Alcança-se en-
cante. O público, sabendo que isso se faz no interesse do produ- tão uma riqueza apoiada na pobreza, porque não se pode possu-
tor, defende-se, habituando-se a não assisti-las, para sentir o ir senão uma quantidade de coisas impostas pela grande produ-
menor aborrecimento possível. Eis que o resultado em parte é ção, sempre em curso de renovação. Com isso, forma-se tam-
negativo, tornando contraproducente a despesa da propaganda. bém um novo problema: encontrar um meio de se livrar do pro-
O resultado da propaganda invasiva é a formação de uma atitu- duto de refugo, que aumenta continuamente.
de especial de rejeição automática, para se livrar de tal agressão O remédio está em não se deixar dominar pela máquina,
psicológica. Contra as tentativas de forçar uma ideia a penetrar não se submetendo ao seu ritmo; está em produzir e consumir
por sugestão no organismo mental, surge neste uma reação si- somente aquilo que tem serventia, simplificando a vida, ao in-
milar à formação de anticorpos, com função defensiva. O qua- vés de complicá-la com uma infraestrutura custosa e inútil. É
dro propagandístico, exatamente por ser propaganda, é repelido necessário refrear a ilimitada voracidade consumista que se
de forma automática pelo subconsciente, tão logo a mente se levanta nos países mais ricos. Nestes, tende-se a um padrão de
apercebe dele. Apenas ele aparece, o efeito que produz é, sobre- vida sempre mais elevado. Mas é preciso compreender que is-
tudo, provocar uma cadeia de ideias, ligando propaganda a es- to não pode ser um fim em si mesmo, com um crescimento até
torvo e aborrecimento, pelo que surge a rejeição. Assim a vida, o infinito, mas somente um meio para realizar um desenvol-
neste caso, arranja a legítima defesa. vimento mais para o alto. Também neste caso devemos retor-
Perguntamo-nos por que a vida, que é inteligente e utilitá- nar ao conceito de retidão.
ria, adota esse sistema tão contraproducente? Para que serve ◘◘◘
isso? Será ele produtivo em outro sentido? Isso pode aconte- Concluamos então este argumento. Observamos neste capí-
cer, à medida que a vida dirige o fenômeno para outra estrada. tulo, em relação ao ciclo produtivo, os seus três elementos
Então o intercâmbio comercial não serve como tal, mas sim componentes: escola-técnico, indústria-produto e comércio-
para tornar os compradores mais inteligentes, ensinando-lhes a consumidor. Verificamos então que, quando eles funcionam se-
desconfiar e a não se deixar enganar. A sua fadiga também gundo a Lei, ou seja, conforme a positividade da retidão, temos
produz seu rendimento, e este não se exaure aqui. De fato, o boa qualidade de sangue e de circulação, resultando num orga-
comprador, tornando-se mais inteligente, pode, com a recusa nismo social saudável. E vimos também que, quando os três
da mercadoria, obrigar o produtor a passar ao método da ho- elementos funcionam de maneira anti-Lei, ou seja, contra a re-
nestidade, o que constitui progresso e vantagem para todos. tidão e negativamente, temos má qualidade de sangue e de cir-
Assim, também o produtor se torna mais inteligente, conse- culação, resultando num organismo social doente.
guindo, à sua própria custa, entender o maior rendimento do Neste segundo caso, isso acontece quando: 1) O trabalhador
sistema da retidão. Com este jogo, eliminam-se sempre mais não trabalha; 2) O produto é mal feito; 3) O consumidor não pa-
os prejuízos da negatividade da luta e se obtém sempre mais as ga. Pode-se ter assim uma indústria que serve apenas de fachada
vantagens da positividade da colaboração. para esconder a vontade de furtar, buscando impingir um mau
22 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
produto ao consumidor, com a finalidade única de arrecadar di- Ora, a fase atual é a de limpeza do terreno. E depois? Supe-
nheiro. Então temos o organismo daquela indústria doente de rada essa fase, a vida segue em frente. Sua finalidade é positiva
um câncer que tende a matá-la. Este câncer é a desonestidade. e, portanto, sempre construtiva. Então a vida mobiliza a seção
Isso nos faz ver que, mesmo neste campo, a Lei funciona, e dos construtores, colocando em ação a onda dos elementos po-
que, também nele, a positividade da retidão significa vida, assim sitivos, adaptados à construção. Isso não pode acontecer senão
como a negatividade, que exclui a positividade, significa morte. em um segundo tempo, quando os destruidores, depois de lim-
par o terreno, já se afastaram. Hoje estamos na primeira fase,
CONCLUSÃO mas a lógica do fenômeno nos indica qual será a sucessiva.
Não se iludam, portanto, os atuais destruidores. Terminada
Resumindo, podemos concluir que a visão aqui apresenta- a sua função, eles terão de ir embora. Sua natureza e sua ação
da é otimista, mesmo revelando uma dura realidade. Seu oti- direcionam-se no sentido da descida, portanto não podem pro-
mismo está no fato de nos mostrar que a salvação final está duzir senão frutos negativos, destrutivos para todos, inclusive
assegurada, ainda que seja necessário ganhá-la com o próprio para eles. Como pode um câncer, mesmo vencendo, ter vida
esforço e frequentemente através da dor. A ideia base é de longa? É assim que deverá passar a moda atual dos jovens con-
evolução, de ascensão, de conquista da felicidade. O método testadores. Eles se desafogam e se satisfazem, cumprindo sua
proposto para realizar tudo isso é um princípio de ordem: a re- função, mas não compreendem que seu destino é a liquidação.
tidão. Por isso temos insistido em tal conceito e é neste senti- Contudo, se compreendessem, não executariam sua função.
do que acreditamos na vida de hoje, dando um passo à frente. Eles acorrem porque se sentem atraídos pela oportunidade,
Antigamente, a retidão era somente uma questão moral, mas que se lhes apresenta, de satisfazer os próprios instintos. Esta é
hoje se tornou biológica. Ela é ligada ao fenômeno da evolu- a sua hora. Mas há períodos nos quais a vida valoriza, prepara e
ção e aparece agora porque se passa a uma nova fase, na qual faz funcionar outro tipo de indivíduo, que antes não se podia
se passa do nível evolutivo do passado a um superior. Este fa- manifestar, devido aos obstáculos colocados pelas condições
to está conexo com uma abertura da inteligência humana, sig- que o mundo atravessa. Enquanto isso não ocorre, pode-se fa-
nificando a adesão à realidade anteriormente não compreendi- lar: “Não estão na moda”. E por que não estão na moda? Por-
da, com um novo estilo de vida, em relação a novos pontos de que não servem. Mas quando servem, ficam na moda.
referência. A mudança já se iniciou e, para quem tem olhos de Assim a atual destruição está na moda hoje, porque serve
ver, já se revela em seus primeiros movimentos. Vamos con- aos fins da vida. Mas ela passará e dará lugar a um trabalho di-
cluir este volume observando em que consiste essa mudança. ferente, para o qual serão chamados indivíduos de outro tipo.
Poderemos vê-la, assim, sob dois aspectos: como fenômeno São as condições do ambiente que atraem ora um, ora outro. E
coletivo e como fenômeno individual. quais são essas condições no início das revoluções? São uma
Há períodos nos quais a evolução caminha tão lentamente, repugnância dos abusos do velho regime e uma vontade decidi-
que parece estática, chegando ao ponto de fazer crer na imobi- da de acabar com eles. Quando o sistema causa danos não mais
lidade dos sistemas de vida. Nestes períodos, ela corre subter- suportáveis e o ambiente está saturado, supera-se o limite da
rânea e invisível, amadurecendo novas transformações. Mas, paciência e explode a reação corretiva do erro, que reorienta pa-
uma vez cumprido esse trabalho preparatório, eis que seu resul- ra o positivo a trajetória lançada em erro para o negativo.
tado explode e se manifesta. Esta é a hora da transposição, em Isto é o que está acontecendo hoje. A atual revolução repre-
que se passa a um nível evolutivo mais alto. Esta passagem é de senta a reação corretiva dos erros do passado. A posição de cada
intenso movimento e de mudanças radicais, tomando aspecto momento da história é um anel de uma cadeia de momentos su-
revolucionário. O mundo se encontra hoje executando um des- cessivos, ligados em desenvolvimento lógico, em função das me-
ses saltos à frente. Estamos então em um movimento de revolu- tas que a vida quer alcançar. Cada salto avante é uma revolução.
ção. Tratemos de compreender o que está sucedendo. Em um regime de superação contínua, isso é inevitável. Cada sis-
A técnica das revoluções é conhecida, o que nos permite tema tem seus defeitos, e a evolução quer eliminá-los. Vivemos
analisar o desenvolvimento do fenômeno em cada uma de suas constantemente perseguindo uma posição mais avançada.
fases. As revoluções nascem como uma reação contra o velho Antigamente, a autoridade era representada por um homem
regime, e a primeira coisa que elas se propõem a fazer é des- com um cetro, sentado em um trono. Hoje, esta figura deve ser
truí-lo. É necessário, portanto, mobilizar a seção dos destruido- substituída por um homem que trabalha a serviço da coletivida-
res. Então o submundo da sociedade, até então amordaçado, de. É necessário retificar. Eis os contestadores globais contra
vem à tona para executar a devida função, segundo sua especia- toda forma de autoridade. Não se trata, de fato, da costumeira
lização, que é destruir. Isso aconteceu na revolução francesa e revolta de grupo ou partido em um determinado país. A revolu-
na russa, como é frequente nestes casos. As revoluções tendem ção hoje é universal, acontecendo em todos os campos. Trata-se
para o novo, e sua primeira operação é limpar o terreno. de uma revolta de filhos contra pais, de estudantes contra pro-
Quais são esses elementos? São aqueles negativos, anár- fessores, de pobres contra ricos, de operários contra patrões, en-
quicos, caóticos, rebeldes, assaltantes etc. Sua trajetória é fim de dependentes contra todo tipo de comando. Uma revolta
descendente. A vida chama, e eles respondem ao apelo, que global contra os princípios do velho regime. Não é a usual re-
concorda com sua própria natureza negativa. Os elementos volta dos famintos, pois empolga também os filhos de boas fa-
positivos, que tem natureza de caráter construtivo, não res- mílias, aqueles a quem nunca falta nada.
pondem a nenhum apelo destruidor. O resultado é que os pri- Aqueles que choram por tudo isso se perguntam qual é a
meiros, os negativos, desejosos de se realizarem, seguindo sua causa remota? De quem é a culpa desta contestação? Se ela é
própria negatividade, executam exatamente a função destrui- global, então constitui crise de sistema de vida. E se a contesta-
dora para a qual foram chamados. ção nasceu, é porque a velha geração, que agora se lamenta,
Terminado esse trabalho, que é feito deles? Eles satisfize- lançou as suas causas. Mas estas, por sua vez, são consequên-
ram seu negativismo, alimentaram-no e aumentaram-no, tor- cias de causas mais longínquas e dos erros de outras gerações,
nando-se ainda mais negativos, o que significa permanecer do- que as precederam. Mas, então, de quem é a culpa?
minados pela negatividade. Então, completada a sua função, Se o progresso é uma série de passos à frente, aquelas gera-
eles são rejeitados pela vida, ou melhor, são liquidados por seu ções também deram o passo que as esperava naquele ponto e
próprio negativismo, que se volta contra eles. Este é de fato o momento, tendo realizado a sua parte da fadiga para percorrer a
fim dos iniciadores das revoluções. estrada da evolução até aqui. O regime do passado não foi inven-
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 23
tado pelos nossos pais, mas é o produto de todas as gerações que se com os outros. E de fato, como já dissemos, a humanidade se
viveram sobre a Terra. Assim o novo regime, que, a seu tempo, encaminha em direção ao estado orgânico unitário.
nossos pais também queriam, era uma revolução para seus ances- Acontece, então, que a seleção toma outra direção. Chegan-
trais, como o regime que agora querem os jovens é uma revolu- do a outra fase, a evolução se propõe a construir no homem no-
ção para os conservadores de hoje. O princípio seguido pela vida vas qualidades, impulsionando-o para frente, neste novo senti-
ao avançar é sempre o mesmo, ainda que, em tempos mais estáti- do. Com isso, a base da aceitação do indivíduo pela coletivida-
cos como no passado, o impulso à frente e o esforço para realizá- de passa a ser a sua capacidade de se tornar uma célula do or-
lo fossem menores. Os nossos velhos, agora conservadores, fo- ganismo social, condição para a qual são necessárias qualidades
ram tão revolucionários como os jovens de hoje, e estes, por sua benéficas (positivas), que o fazem útil, e não maléficas (negati-
vez, serão conservadores para os jovens de amanhã. vas), que o tornam prejudicial. Isso porque quem é positivo es-
Qual será então a verdadeira razão pela qual os velhos de to- palha positividade, melhorando tudo a seu redor, e quem é ne-
dos os tempos reclamam contra os jovens? É certo que, ao longo gativo espalha negatividade, piorando tudo ao seu redor. Eis
das gerações, as novas perturbem as velhas com suas inovações, por que a retidão representa um princípio de valor fundamental
pois, no fundo, estas consistem na substituição dos velhos, que na nova civilização do Terceiro Milênio.
conquistaram e ocupam e as posições mais elevadas, pelos jo- O fundamento da revolução consiste no fato de que a força e
vens. Assim os jovens são condenados como violadores da or- a astúcia – as armas de ataque e defesa do passado para vencer na
dem. Trata-se de um problema de luta pela sobrevivência. Pro- vida – são substituídas pela retidão. Então o valor está na ordem,
cura-se, então, justificar essa condenação com os métodos do e não na revolta egoísta; está em saber viver segundo a Lei, e não
velho sistema, para que ela fique vestida com os mais nobres contra ela. É lógico que a evolução avance dessa forma e que a
princípios. Será isto hipocrisia? Mas os velhos também têm di- seleção, tão logo o ser maduro esteja, tenda a produzir tal biótipo.
reito de viver sem serem perturbados, portanto não se pode con- A trajetória da vida está agora tomando esta nova direção.
dená-los, se eles, para se defenderem, são obrigados a recorrer à Mudam assim as apreciações. O homem honesto não é mais um
hipocrisia, já que o seu direito não é reconhecido. tolo, pois se torna pioneiro do novo mundo da justiça, embora
Então uma das inovações do novo regime poderia ser a sin- seja um vencido no reino da prepotência. Ele não é mais um fra-
ceridade e a clareza, seguindo, por isso, uma lógica mais inteli- co a ser sobrepujado, como era no velho mundo, ainda involuí-
gente. E os velhos diriam aos jovens: “É justo e reconhecemos do, mas sim um forte, apto ao comando no novo mundo, já evo-
o seu direito de renovar, mas este deve respeitar nos velhos o luído. É assim que o atual modo de viver deverá ser deixado de
direito de viver a sua vida. Vocês estão errados porque não res- lado no submundo da evolução, para ser substituído pelo método
peitam esse direito”. da retidão. Dada a nova unidade de medida para fins coletivis-
Concluindo este argumento, eis que a atual revolução, não tas, o que serve à vida não é a força, mas sim a positividade.
obstante o seu aspecto inicial destrutivo, é construtiva, consti- Em suma, poderemos defender nossa vida com métodos to-
tuindo um produto da positividade da vida. A revolução pressi- talmente diversos daqueles do passado, com uma atuação mais
ona, e os jovens atuais não são todos destruidores. Há também íntima e profunda, dirigindo as nossas ações no sentido positi-
os construtores, que ainda não estão atuando, porque a sua hora, vo e benéfico, em vez de negativo e maléfico. Trata-se de uma
enquanto não estiver completa a destruição do passado, não po- estratégia mais poderosa, porque, sendo mais sutil, penetra e
de chegar. Olhemos a trajetória do fenômeno. Ele aponta para o age sobre as causas. De resto, é lógico que a lei de quem vive
alto. Hoje, os adultos e velhos continuam com os métodos de como elemento componente de um organismo coletivo deva
seu tempo, procurando salvá-los e chorando pelo seu desapare- ser diferente da lei do indivíduo que vive de interesses isola-
cimento. Dos jovens, uma parte está pronta a destruir e a outra dos, limitados a si mesmo.
parte espera para começar a obra de reconstrução. O problema da defesa se torna um problema de estrutura da
◘◘◘ personalidade do indivíduo e de suas qualidades positivas ou
Já vimos a mudança atual em seu aspecto coletivo. Vamos negativas. A nova arma não consistirá em adicionar ao organis-
observá-la agora como fenômeno individual. Também neste mo físico instrumentos exteriores de luta, mas sim em enrique-
caso, encontramo-nos perante uma revolução, porque se trata cê-lo interiormente de qualidades positivas. A vida é natural-
de passar a um método de vida dirigido por uma lógica diver- mente cheia de assaltos e perigos, e não é seu propósito criar pa-
sa da atual. Trata-se de uma mudança de base substancial, ra si um ambiente imunizado. Ela quer construir o indivíduo ca-
que muda a técnica da defesa para a sobrevivência, como paz, por si mesmo, de resistir, seguindo uma nova técnica defen-
consequência da mudança do método de vida. No passado, siva. A solução não pode ser obtida com a esterilização artificial
como já dissemos, o método empregado era do tipo individu- do ambiente, mas apenas purificando, enriquecendo e fortale-
alista egocêntrico. O novo método será do tipo coletivista e cendo o indivíduo com forças positivas, que repelem a negativi-
colaboracionista. Por conseguinte o sistema de defesa para a dade assaltante, ao contrário das negativas, que a atraem, abrin-
sobrevivência não será mais a força e a astúcia, em que se do-lhe as portas. Observemos agora como tudo isso funciona.
emprega uma técnica de assalto e usurpação, adaptada a um Vemos primeiramente que a vida, enquanto deixa à mercê
regime de desordem, mas sim a retidão, cuja utilidade é mui- da reação corretiva da Lei o indivíduo negativo, ajuda o positi-
to maior em um regime de ordem. vo a subir. Porém, na realidade, não encontramos indivíduos to-
Muda, portanto, o modelo que a vida propõe como melhor. talmente negativos ou totalmente positivos. Acontece então que
O clássico tipo do assaltante forte torna-se simplesmente um tais indivíduos são atingidos pela reação corretiva da Lei em
perigo social a ser isolado, enquanto o homem honesto torna-se suas zonas de negatividade, mas ajudados por ela nas de positi-
um elemento de ordem, bem aceito porque enquadrado e útil à vidade. Isso corresponde ao sistema utilitário adotado pela vida
sociedade. No futuro, a vida será baseada num princípio sempre e à sua finalidade salvadora. Assim, não se desperdiça nada,
mais altruísta coletivista e sempre menos egocêntrico separatis- porque são estimulados a se desenvolver para o bem todos os
ta. Assumirá, portanto, extrema importância a sadia estrutura valores utilizáveis para essa finalidade.
moral do indivíduo, porque dela dependerá o seu comportamen- Desse modo, o mesmo indivíduo, segundo suas diferentes
to, que, conforme seja útil ou danoso para a sociedade da qual qualidades, pode encontrar-se submetido a tratamentos diferen-
ele faz parte, determinará a sua aceitação e o respectivo trata- tes, um de reação corretiva, para eliminar o que nele é negativi-
mento por parte dela. O valor do indivíduo não consistirá mais dade, e outro de auxílio protetor, para desenvolver o que nele é
em saber se impor para dominar, mas sim em saber coordenar- positividade. De fato, somente no caso de trajetórias negativas,
24 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
é necessário o doloroso trabalho de sua correção, o que não Mas o que, exatamente, significam positividade e negativida-
acontece para aquelas positivas. Assim a dor aparece apenas no de? A primeira quer dizer retidão em todas as qualidades consti-
primeiro caso, enquanto, no segundo, acontece o contrário. tuintes da personalidade, e a segunda significa o abuso ou mau
Então a Lei se manifesta de duas formas opostas: como pro- uso daquelas qualidades. Qualquer das forças ou impulsos com-
va dolorosa no caso da negatividade, e de forma contrária no ponentes da personalidade podem ser dirigidos no sentido da Lei
caso oposto. Existindo no indivíduo as qualidades positivas da ou em sentido anti-Lei, e isso para cada tipo de pensamento, mo-
retidão, vemos funcionar a ajuda amiga e encorajadora da Lei. tivação ou atividade. Assim, a condição de estar a favor ou contra
Eis de que modo e dentro de quais limites, a retidão (positivi- Lei corresponde ao conceito de virtude e pecado. Penitência é a
dade) pode ter uma função de defesa. correção no sentido positivo de uma trajetória na direção negati-
Estes conceitos nos fazem compreender qual é o método pa- va. Tal correção é necessária, porque um estado permanente de
ra ter sucesso na vida. Ele consiste em trabalhar no sentido da negatividade constitui também um estado permanente de vulne-
corrente positiva da Lei, porque, neste caso, ela nos impulsiona- rabilidade. Como se vê, trata-se de um conceito básico para a de-
rá (cf. Cap. V). De outro modo, se fizermos o contrário, colo- fesa da vida. Daí a sua importância. Tudo isso corresponde ao tí-
cando-nos na corrente negativa, contra a Lei, ela nos dificultará. tulo desta obra: Como Orientar a Própria Vida.
Observemos agora a estrutura do fenômeno da técnica de- Eis que o conceito de retidão tem um conteúdo complexo,
fensiva. O homem é feito de um organismo físico ligado a um que deve ser analisado qualidade por qualidade, fazendo-se a
organismo espiritual, governado pelas mesmas leis de saúde ou anatomia de nosso organismo espiritual, impulso por impulso
doença. Para o organismo espiritual, a saúde resulta do fato de do subconsciente, em relação ao comportamento do indivíduo
ser ele constituído de forças positivas, assim como, para o or- em todos os seus deveres, tanto no fazer como do não fazer. A
ganismo material, ela resulta do fato de ser ele constituído de negatividade pode corromper qualquer ponto, que se torna en-
material são. Ora, o ataque se verifica em ambos os organis- tão o calcanhar de Aquiles, vulnerável a todos os ataques.
mos, seja ele sadio ou doente, porém somente no primeiro caso Dante, no seu “Inferno”, estudou a ação específica para a
o indivíduo resiste. Se o organismo físico é sadio, o micróbio correção das trajetórias erradas, caso por caso, opondo a elas o
não se desenvolve, assim como, se o organismo espiritual é caminho reverso, para realizar a correção da posição negativa
constituído de forças positivas, as negativas não entram, sendo ocasionada pela culpa. Cada pecado constitui um caso de nega-
a recíproca verdadeira, no caso contrário. Não se resolve o pro- tividade, que é eliminada pela reabsorção na positividade, con-
blema esterilizando o ambiente, mas sim fortificando o orga- quistada por meio da dor. Por isso a dor é um instrumento de
nismo. No caso do físico, se esterilizamos o ambiente, perde- redenção, constituindo o método utilizado pela Lei para fazer o
mos a capacidade de resistência e nos tornamos sempre mais pecador compreender o seu erro, a fim de que ele não o repita.
vulneráveis. O mesmo acontece com o organismo espiritual, Isso é necessário porque o indivíduo, pelo fato de estar na
quando, para salvá-lo dos ataques, isolamo-nos do mundo. posição negativa, não se apercebe disso, pois somente vê com
Eis então que, neste novo regime, a arma de defesa da vida sua forma mental negativa, o que lhe impede uma correta visão
consistirá na própria positividade. Isso porque sermos positi- das coisas. Ele mesmo é o seu próprio ponto de referência. As-
vos significa sermos sadios e fortes, portanto aptos para ven- sim, baseando-se na correspondente visão distorcida, acredita
cer. Ao contrário, sermos negativos significa sermos doentes e estar com a verdade e ter direito a se satisfazer a seu modo, ne-
fracos, portanto destinados a perder. Assim vence-se ou per- gativamente. Então, choca-se contra a Lei, provocando sua rea-
de-se em função das qualidades íntimas, tal como a vida nos ção, cuja finalidade é eliminar a negatividade, operação na qual
mostra na sua defesa contra o assalto das doenças. A defesa se está inserida a dor. Assim, quem é negativo fatalmente provoca,
baseia sobre a saúde celular e na consequente potência de re- por si mesmo, a reação corretiva da sua negatividade, de modo
sistência. Ninguém pensa em apanhar uma faca ou um revól- que o processo de sua redenção funciona automaticamente.
ver para se defender de uma doença. Compreendido esse mecanismo, dentro do qual funciona a
Com a positividade espiritual, mantendo nossa conduta e es- vida do indivíduo, que conduta deverá ele ter para alcançar, com
trutura segundo a Lei, podemos defender-nos contra toda espé- o menor dano e maior vantagem possível, o caminho da evolução
cie de males. A negatividade pode chegar ao ponto de nos ma- redentora, para sua salvação, imposta pela vida? Dado que nin-
tar, porque ela deixa que nos penetrem as forças negativas, das guém pode fugir a esse dever, porquanto é para seu próprio bem,
quais o mundo está cheio. A sua tempestade investe e arrasta os é natural que o indivíduo inteligente procure cumpri-lo pelo mo-
elementos negativos, enquanto não toca e vai-se embora, sem do mais conveniente e lucrativo. Isto é o que queremos explicar.
molestar, no caso da personalidade positiva. Trata-se de saber executar este trabalho, reduzindo ao mí-
Acontece então que, quanto mais involuído é o ser, tanto nimo a dor e aumentando ao máximo a felicidade. A dor cum-
menos ele é purificado da negatividade, ressentindo-se, portanto, pre uma função importantíssima em nossa evolução. Ela é a
dos assaltos, perigos e dores. Por outro lado, quanto mais evolu- campainha de alarme para nos advertir onde está o erro, indi-
ído é o ser, tanto mais ele é saturado de positividade e, portanto, cando-nos assim a negatividade que é necessário corrigir. A
defendido contra o mal. O papel da evolução é nos redimir da dor tem finalidade defensiva, sendo, portanto, salutar, porque
negatividade, eliminando-a pouco a pouco, até transformá-la to- toda negatividade é uma ameaça contra a vida. Mesmo quan-
da em positividade. O longo percurso evolutivo nos leva assim a do nos faz sofrer, ela nos protege, e é para nos proteger que
libertarmo-nos do mal e a conquistarmos o bem. Então, quanto nos faz sofrer. Se o fogo não chamuscasse, não seria evitado,
mais aperfeiçoado é o ser, tanto mais protegida é a sua vida. mesmo quando nos matasse.
É necessário compreender que, quanto mais nos chega o mal, Dessa forma, a vida consegue nos manter na ordem, fixando
mais a causa está em nossa negatividade. Portanto é possível os limites para o gozo que provém do uso das coisas. Quando
eliminar ou impedir que isso aconteça, eliminando ou impedin- nos excedemos, acreditando que, aumentando a dose, obtere-
do que se forme essa negatividade. Dela depende a nossa vulne- mos o aumento de prazer, encontramos, pelo contrário, a sua
rabilidade e, consequentemente, o fato de sermos atingidos. O diminuição, até que ele se torne sofrimento. Com isto, a vida
segredo do bem-estar está em ser constituído de forças positivas. nos avisa do erro e, assim, nos força a corrigi-lo. Então a dor
A superioridade do homem evoluído está em sua positividade. representa um sistema defensivo que a vida usa para nos prote-
Esta é sua arma para vencer na vida. Não se trata de abstrações ger contra o mal, pelo qual somos prejudicados. Ela constitui
ideais ou dissertações moralistas, mas de um método cujas van- mais um aspecto da sabedoria e da bondade da vida, exatamen-
tagens se pode experimentar, quando corretamente usado. te lá onde parece mais difícil vê-las.
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 25
Este é o rendimento útil da dor. Mas de onde deriva a sen- SEGUNDA PARTE
sação dolorosa? Que fato a produz? Ela decorre do fato de
constituir uma operação cirúrgica, pela qual se faz a necessária ANÁLISE DE CASOS VERÍDICOS
correção de uma trajetória na direção errada, lançada por um
feixe de forças que não tencionam ceder a qualquer desvio. A INTRODUÇÃO – ORIENTAÇÃO
negatividade, lançada como tal, quer permanecer como é, con-
tinuando a se desenvolver, à semelhança de um câncer. A sua O presente volume confirma e desenvolve o precedente:
diminuição ou eliminação é um ataque à sua vitalidade, que pa- Como Orientar a Própria Vida. O objetivo de ambos é mostrar,
ra ela, ainda que negativa, significa andar em direção à morte. racionalmente, sem qualquer premissa gratuita, com base apenas
A dor se origina da asfixia provocada pelo tipo errado de na lógica e nos fatos, a utilidade de se seguir uma conduta moral
vida. De fato, a negatividade busca o prazer no aumento de si reta. A novidade contida nestes livros, a qual poderá parecer re-
mesma, ou seja, do erro e do vício. Mas trata-se de uma vitali- volucionária, está no fato de que eles nos mostram qual deve ser
dade invertida, que leva à morte; de um prazer doentio, que le- o comportamento correto, baseando-se sobre um princípio dire-
va à dor. Então a vida deve corrigir com a dor este prazer doen- tivo completamente diverso daquele vigente no passado.
tio, para salvar o indivíduo, levando-o ao gozo verdadeiro, que Trata-se de uma transformação hoje em ação, de caráter não
somente pode ser positivo, segundo a ordem da Lei. Eis como superficial e formal, como geralmente costumava acontecer no
os dois elementos do dualismo universal se entrelaçam em um passado, mas substancial e de base, porque modifica o tipo bio-
jogo de compensação. lógico, de modo que cobre toda a personalidade humana. A mu-
Em vista disso, vejamos então como o indivíduo deve com- dança é substancial porque não se verifica apoiando-se no mes-
portar-se dentro desse mecanismo, a fim de, tanto quanto possí- mo nível evolutivo, mas transportando-se a um nível superior.
vel, evitar a dor e obter felicidade. Eis como poderemos com- Este fato deriva de uma transformação da forma mental, isto
portar-nos logicamente. O primeiro passo consiste em individu- é, do instrumento psíquico pelo qual o homem concebe seu
alizar, com um severo exame de autopsicanálise, os pontos de mundo. É natural, então, que um ser evolutivamente mais ma-
negatividade da própria personalidade. Isso sem se deixar en- duro possa viver aplicando princípios que, inicialmente, não era
ganar pelo astuto subconsciente, que procura escondê-los. Nes- capaz de conceber e que somente agora pode compreender e
sa operação, é necessário procurar ver e julgar com a visão cor- seguir. Portanto a base do fenômeno ético que estudamos aqui é
reta da positividade, e não com a distorcida da negatividade. In- positiva e biológica. Tal mudança é um fato que se está verifi-
felizmente, fazer esse exame não é coisa fácil, porque pressu- cando e que não pode deixar de ser admitido por qualquer um
põe qualidades introspectivas e certa maturidade psicológica. É que tenha olhos para ver. Procuremos entendê-lo.
assim que, frequentemente, o movimento de correção e salva- Inicialmente havia “a luta pela vida”. Deste ponto de par-
mento não pode ter início. Então a vida, não podendo, por ima- tida, que levava a uma necessidade de contatos, desenvolveu-
turidade do indivíduo, usar o método inteligente da compreen- se, através de distinções e complicações progressivas, a técni-
são, e também não podendo renunciar à salvação do ser, é obri- ca das relações sociais. Originalmente, o modelo daquelas re-
gada a usar, com esta finalidade, o método duro da provação, lações era agressivo-defensivo, com base no tipo guerreiro.
que, por esta a razão, tem sua existência justificada. Disso derivava que o valor individual era dado pela força. As-
O segundo passo consiste em preparar-se para executar es- sim, a ética do primitivo baseava-se no princípio da força,
pontaneamente a operação dolorosa da correção da trajetória sendo este tão fundamental, que ainda sobrevive até hoje.
errada, sem esperar a intervenção forçosa por parte da Lei, Neste sistema, um direito não tem valor, se não se fizer valer
operação tanto mais dolorosa quanto mais forçosamente, de- por uma força. De fato, somente hoje as massas adquiriram
vido à rebeldia do indivíduo, tiver de ser imposta. Trata-se de direitos, porque aprenderam a se fazer valer pela força do nú-
trabalhar de acordo com a Lei, secundando-lhe a ação correti- mero e da inteligência organizadora.
va, em vez de resistir-lhe. É necessário compreender que a Lei Observemos o desenvolvimento do fenômeno. O mais forte
nos protege e que é de nosso interesse segui-la, sendo nosso impunha respeito, uma vez que sabia realizar o difícil trabalho
prejuízo resistir-lhe, porque, neste caso, ela nos constrange a de vencer tudo e todos. A vitória, então, autorizava-o a co-
fazer à força aquilo que poderíamos fazer pacificamente, obe- mandar, pois ela, mesmo realizando-se naquele nível, repre-
decendo-lhe. É necessário compreender que, se não a segui- sentava um valor. Naquele grau de evolução, isso também era
mos, arruinamo-nos. É justamente para não deixar isso acon- justo, porque o mais forte, sendo o mais apto para sobreviver,
tecer que ela nos constringe. representava o melhor e, portanto, tinha o direito de ser chefe,
Nesse processo, uma mente negativa, exatamente por ser arrastando os outros, de menor força e menos capazes, que por
deste tipo, pode ver maldade e vingança. Perguntamos, no en- isto mesmo deviam obedecer-lhe como escravos. É lógico, en-
tanto, se é mau o cirurgião que nos opera para nos salvar, dan- tão, que o chefe fosse egoísta e comandasse apenas para si, po-
do-nos vida e saúde? É exatamente pelo fato de estar doente de rém, mesmo nesta forma tão primitiva, ele já começava a fixar
negatividade que o indivíduo não compreende a bondade da o conceito de autoridade, do qual dependia a manutenção de
ação e, por isso, resiste-lhe. Porém, sabendo que a operação é uma ordem necessária à convivência. Assim, embora à base do
necessária para salvar o doente, o cirurgião o amarra ao leito, desfrute do escravismo, começou-se a trabalhar para a constru-
deixando-o gritar, e o opera à força, para salvá-lo. Se a Lei tem ção do edifício social em todos os seus aspectos, até se atingir
que salvar o ser, mas este não quer se salvar, o que pode fazer a sua complexidade atual.
ela senão salvá-lo à força? Deixando os pormenores, esta foi a estrada pela qual che-
Com o sistema de compreensão do problema e espontânea gamos até ao presente. Hoje, porém, verificam-se fatos novos,
adesão à Lei, consegue-se o resultado de correção com muito que levam a um ponto de ruptura do velho ponto de equilíbrio.
menos trabalho. O esforço evolutivo, assim, dá muito maior A organização coletiva está tomando proporções sempre mais
rendimento. Então não somos mais penitentes encarcerados, gigantescas. A ciência e a técnica colocaram nas mãos do ho-
mas seres livres e conscientes, que colaboram com a Lei. Este mem meios complexos e poderosos demais para que possam
sistema de autodirigir-se com conhecimento, vivendo por si ser usados com a velha forma mental. Dessa forma, se não se
mesmo uma vida planificada segundo a Lei, método pelo qual quiser terminar no caos e na destruição recíproca, é necessário
se percorre com menos fadiga o caminho da evolução, será o atingir um estado de consciência até agora desconhecido. Nes-
sistema inteligente que o homem evoluído do porvir seguirá. te momento não há outra escolha: ou compreender e aprender a
26 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
comportar-se, ou desorganizar-se e destruir-se. Para não che- assim, frequentemente, sobrepor-se naquele terreno. Como a
gar ao desastre, urge então compreender. O chefe não pode Terra tinha seus reis, imaginou-se um rei dos reis, que fosse su-
mais ser do tipo antigo, que detém o poder como um conquis- perior a eles e, espiritualmente, mais elevado. Assim a autori-
tador, para dominar seus dependentes. Aparece a necessidade dade espiritual enalteceu os reis e dominou os povos, fazendo-
de um novo método de comando, de poder e de autoridade, não se representante de Deus e governando em seu nome.
mais para imposição do domínio por parte do mais forte, que Eis o velho sistema. Naturalmente, este segundo poder tam-
foi o vencedor, mas sim para o cumprimento de funções soci- bém tinha suas armas, que eram somente do tipo psicológico e
ais a serviço da coletividade. Eis porque, hoje, os velhos con- serviram bem por milênios. Hoje, porém, a mudança da forma
ceitos vigentes no passado estão em crise e vão sendo rapida- mental modifica tudo. A potência daquelas armas baseava-se
mente liquidados pelos jovens. em ameaças incontroláveis e no medo que estas incutiam. Elas
Tudo isso não nos autoriza a condenar o passado. Tal método, necessitavam da sugestionabilidade das massas e, portanto, de
em relação ao seu tempo, não foi um erro, mas sim uma fase ne- sua fé, que desmorona tão logo o espírito crítico se desenvolva
cessária para o desenvolvimento, como o é a infância para o ho- e permita, assim, ver as coisas mais profundamente, com outros
mem adulto. A seu tempo, aquele sistema funcionava bem, por- olhos. As novas gerações não conseguem nem ao menos con-
que era proporcional ao estado infantil da humanidade. Hoje, po- ceber como possa existir e ser feito o inferno!
rém, em uma fase mais desenvolvida, não é possível mais ser as- Mas o que desmorona? Na realidade, cai somente o velho
sim, e não há conservadorismo que possa fazer valer aquilo que modo de pensar e de fazer as coisas, porque permanece invari-
não tem mais serventia para a vida. É inútil chorar e resistir. Isto ável o mesmo ponto supremo a ser atingido pela evolução. É
é o que fatalmente deve acontecer e que já está acontecendo. assim que, se hoje tanto se fala da “morte de Deus”, isso signi-
Consideremos como funciona a vida. Com relação à evolu- fica tão-somente a morte do velho conceito comum de Deus,
ção, frequentemente o homem se satisfaz e se limita apenas a para atingir outro tipo, de mais alto valor. Trata-se de um Deus
pensar e falar, em vez de agir. A vida, ao contrário, não se ex- visto de uma posição evolutiva mais avançada, ainda maior e
pressa com palavras, mas sim com fatos. Seu pensamento está mais belo. É a evolução que nos está construindo os novos
escondido, e não podemos vê-lo senão quando este se manifesta olhos para vê-Lo. Então não se trata apenas da morte de um
pela ação. A vida não faz a teoria da revolução, ela faz a revolu- método superado, para continuar a fazer, de outro modo, a
ção. A vida não fala de mudanças, ela as realiza. Para suprimir a mesma coisa e com o mesmo fim, mas sim do nascimento de
ideia, ela suprime a pessoa que a sustém, e assim por diante. Ho- um sistema mais adequado, porque responde melhor às trans-
je, quando a vida se move sobre este caminho de realizações, ela formações realizadas nos tempos novos.
está decidida a levá-las a cabo sem dar explicações. Seu pensa- É para se adequar a esta necessidade que abandonamos nes-
mento, se o quisermos ver, encontrá-lo-emos escrito nos fatos. te livro a velha forma mental e, embora visando o mesmo fim,
Confrontemos agora a velha fase evolutiva com a nova, para usamos outra, melhor compreendida hoje pelos jovens, a qual
vermos em que consiste a passagem de uma para outra. Antes serve para avançar ainda mais em direção aos mesmos nobres
de tudo, podemos dizer que não existe oposição real entre a ve- ideais buscados no passado. Por isso não nos servimos da su-
lha situação e a nova. A vida, em sua evolução, não toma hoje gestionabilidade, medo, credulidade etc., meios adaptados ao
uma direção diversa daquela do passado, apenas mudou a ma- subdesenvolvimento, mas preferimos o método da lógica, da
neira de proceder, tornando-se diferente. A estrada que a vida razão, da compreensão e do conhecimento, que nos avizinha do
percorre é uma só, mas agora atingiu um ponto em que se apre- mesmo Deus das religiões, levando-nos a entender a beleza da
senta mais ampla, diversamente situada, aberta em direção a finalidade e a lógica do Seu trabalho. Falar a linguagem do pas-
outros horizontes. Na atual revolução, não acontece senão uma sado torna-se, a cada momento, sempre mais anacrônico. É inú-
passagem para uma zona mais avançada. til resistir à corrente da vida, que avança. Por isso procuramos
Como era feito o velho sistema diretor da conduta humana? segui-la, seguros de que ela, também sob esta nova forma, ex-
Ele havia tomado as duas formas que a vida possui: a do macho, pressa o pensamento de Deus, assim como a Sua vontade.
através da força, e a da fêmea, através da astúcia. No sistema de Trata-se de modificações biológicas fundamentais, de natu-
luta do mundo animal, encontramos o germe deste fenômeno. reza evolutiva, que dizem respeito a uma crise não apenas de
Surge assim o poder civil e o religioso, ambos presentes desde o religião, mas de diretrizes éticas universais. É por isto que nes-
início da humanidade. Mas, como já dissemos, um direito não te livro apresentamos um modelo biológico e um tipo de vida
tem valor, se não se fizer valer por uma força, portanto, se um diferentes daqueles seguidos no passado, demonstrando que o
poder não está armado para impor-se, não tem valor. Eis porque homem reto e justo vale mais do que o homem forte e vence-
cada um dos dois devia possuir uma arma. Qual era ela? dor. Como se vê, a substância da velha moral não desaparece,
Conforme dissemos acima, os vencedores submetiam e es- mas adquire bases sólidas, de tipo científico. Apela-se para a
cravizavam os povos, criando e mantendo assim a ordem sob inteligência, que sabe compreender, e não para a obediência e
seu domínio. As relações sociais eram, portanto, do tipo amo- a passividade do ignorante. Utilizam-se as qualidades do ho-
servo. O rei era o chefe, que comandava todos. Este era o mode- mem novo, não mais entendido como um súdito a ser domina-
lo macho de domínio, baseado na força. Mas a vida oferecia do, mas como um interlocutor, com o qual se deve dialogar,
também outro modelo, aquele do tipo feminino, baseado na as- deixando-o livre em sua consciência, mas convencendo-o,
túcia, que já cumpria sua função, porquanto representava os porque hoje, além de haver argumentos para convencê-lo, ele
primeiros degraus do desenvolvimento da inteligência. Formou- tem capacidade para ser convencido. Explicamos que a vida –
se assim, em nome do invisível, do mistério e do além, outro ti- exceto para os subdesenvolvidos, incapazes de compreendê-la
po de chefe, que criava e mantinha a ordem sob seu domínio. – não se baseia na força, mas sim sobre o mérito, que é, segun-
A princípio, as duas funções podiam estar unidas na mesma do a justiça, direito perante a lei de Deus.
pessoa, de modo que o feiticeiro era um chefe e o rei era um Trata-se de um direito sagrado, não só garantido por Deus,
deus. Mas, em cada caso, suas relações com as massas eram do mas também reconhecido pelo homem novo, que adquire neste
tipo amo-servo, por que aquele era o único modelo que conhe- nível consciência do bem e do mal, compreendendo seus deve-
ciam. Foi assim que este, encontrando-se já existente e pronto res e direitos. Finalmente, o conceito de bem e de valores posi-
para o uso, foi facilmente transplantado para o campo espiritu- tivos destaca-se daquele do mais forte – no qual se tem o direito
al. Ora, tal poder também tinha necessidade de uma força para a qualquer abuso – para se tornar princípio de retidão e de justi-
se manter, a qual ele encontrou neste outro campo, conseguindo ça, baseado sobre a realidade do funcionamento das leis da vi-
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 27
da, deixando de ser apenas uma afirmação teórica. É para apoi- O fenômeno já está se realizando. A vida se lançou nesta
ar nossas afirmações em bases positivas, que nos baseamos direção, e isso, para o homem, significa ter de cumprir um
aqui sobre a observação objetiva do modo pelo qual a lei de imenso trabalho de construção. Se a velha ética cai, é preciso
Deus age naqueles pontos passíveis de controle. encontrar uma nova, porque uma ordem é necessária. A busca
Estes são os objetivos do presente livro. Tratemos de com- de um novo caminho que garanta a manutenção da disciplina
preender-lhe todo o significado. Quis ele nascer em um mo- faz-se urgente, porque, com o crescimento do poder humano,
mento histórico gravíssimo, de cuja importância poucos se dão podem-se cometer erros proporcionalmente maiores, tanto que
conta. Mas o fenômeno já está funcionando, e nós estamos den- hoje se pode chegar a desastres sem precedentes. As regras de
tro dele. Portanto não é mais hora de discutir se a revolução orientação mudam, quando a gente, em vez de uma carroça,
existe ou não, mas de observar como ela está se desenvolvendo. dirige um automóvel em alta velocidade. Antigamente, éra-
Ocorre hoje um fato novo na história. Trata-se da queda do mos protegidos pelas limitações impostas por nossa ignorân-
princípio religioso, e não apenas de uma religião. Tal conflito cia, que não permitia pôr as mãos sobre as grandes forças da
já surgiu em outros tempos, mas em torno dos mesmos concei- vida. Pensemos, porém, quão diferente mentalidade é necessá-
tos básicos, pelos quais as duas partes continuavam a se enten- ria hoje para dirigir-se, quando basta apertar um botão para
der, porque a sua linguagem permanecia a mesma. Hoje a dife- que estoure uma guerra atômica capaz de destruir a humani-
rença no modo de pensar é tão grande, que as duas partes não dade. E o aumento de tal potência humana, atualmente, ocorre
se entendem mais, pois foi mudado o pensamento e a lingua- e difunde-se com um crescimento impressionante e irresistí-
gem que o expressa. O novo simplesmente suprime o velho, vel, de modo que o perigo de arruinar-se por inconsciência
porque não mais o toma em consideração. Então se procede torna-se sempre maior. Pode a ciência, então, tornar-se loucu-
dessa forma, até se chegar ao ponto de uma dessacralização e ra? Devemos sustar seu progresso? Não. Devemos somente
de uma desmistificação global, que fazem desaparecer os ve- desenvolver, paralelamente, uma consciência ética para saber
lhos conceitos, postos fora de uso. Isso é alarmante, porque, fazer bom uso daquele progresso.
sendo o problema ético monopólio das religiões, vêm a faltar, Antigamente, em um regime de inconsciência e de irrespon-
com a queda destas, as diretivas da conduta humana, o que le- sabilidade, era possível sobreviver brincando impunemente,
va à anarquia, mal social gravíssimo. tomando-se algumas liberdades que só uma ética aproximativa,
Vemos cair assim todo o instrumental dos velhos expedien- simplista, formal, preceituada, com base mística e emotiva po-
tes psicológicos coativos, necessários para induzir o homem a dia permitir. Hoje a ciência, mostrando-nos que tudo é regido
se comportar bem, e não se sabe com o que substituí-los, para por leis exatas, acordou-nos de um sonho e colocou-nos perante
não terminar no caos. Não se pode impedir que eles caiam, por- uma dura e complexa realidade, que não perdoa. Pagam-se to-
que não mais aprisionam a mente moderna, saída da menorida- dos os erros com justiça, e paga-se tudo com exatidão matemá-
de. Aumenta a sensação de vácuo diante de nós, apavorante tica, fatalmente, sem possibilidade de fuga, não havendo aquela
porque perigosa. É inútil insistir com o velho sistema. A orien- elasticidade de soluções que o problema elementar, formulado a
tação moral deve agora ser conseguida por outro caminho e grosso modo, permite.
funcionar com métodos diferentes daqueles do passado, que Pelo contrário, com o progresso, os problemas se fazem cada
eram ótimos e funcionavam bem para o homem da época, mas vez mais numerosos e difíceis. Não é mais válido o velho méto-
não servem para o homem moderno. do de legar a sabedoria dos avós de pai para filho. Não cremos
Para compreender o significado deste livro, devemos com- mais nas fábulas infantis, que outrora nos mantinham encanta-
preender o significado da atual revolução espiritual, porque foi dos. Na falta de outras diretrizes, há quem as peça ainda às ve-
em função dela que nasceu o presente volume. Não se trata de lhas mitologias religiosas, como a criança que busca refúgio en-
uma cisão de doutrina, mas de um fenômeno da evolução, por- tre as saias da mamãe. Mas ela está envelhecida e não pode mais
que se tende não a formar um novo grupo dissidente ao lado do ajudar, mesmo porque nos tornamos muito grandes para que ela
velho, permanecendo no mesmo nível, mas sim a deslocar todo o possa fazer. Desejaríamos continuar a brincar e a sonhar, mas
o grupo para outro nível. Na verdade, hoje o antagonismo é en- estamos crescidos, e uma vastidão ilimitada, inexplorada e eri-
tre progressistas e conservadores, ocorrendo dentro de todas as çada de problemas novos, todos a serem resolvidos, assalta-nos
doutrinas. A dissensão não acontece entre dois partidos desti- de golpe a visão. Saberemos construir-nos espiritualmente à al-
nados a sobreviver, fixando a cisão, mas em todos os campos, tura necessária para cumprir este imenso trabalho?
entre a parte que deseja avançar e a parte que, desejando manter Esta é a angústia do homem atual. E nós a tornamos nossa
sua posição, será automaticamente liquidada por velhice. neste livro, colocando-nos frente àquela dura realidade, para
Trata-se de um fenômeno evolutivo, e podemos dizer que procurar cumprir uma primeira tentativa de orientação séria,
ele consiste em uma superação para avizinhar-se sempre mais com razões visíveis, assumindo como base sólida as leis da vi-
de Deus. Neste caso, não temos uma cisão em partes, mas um da. Temos consciência de que nos encontramos na hora crítica
salto avante, o que significa uma continuação no caminho da da passagem de uma era para outra. Devemos então sentir e as-
evolução. O caminho não é no sentido de destruir o velho, sumir a responsabilidade que os novos tempos, cada dia mais,
mas sim de construir o novo. A destruição do velho é apenas impõem a cada um e a todos.
um fato implícito na construção do novo e necessário para a
realização deste. I. DIÁLOGO COM AS LEIS DA VIDA
Basicamente, como já dissemos, trata-se de um fenômeno
de evolução, sadio e vital, segundo a lei de Deus. Por isso o Observando o mundo que nos circunda, é fácil constatar que
seu esquema é diverso daquele dos cismas do passado, que re- não há fenômeno cujo desenvolvimento não seja dirigido por
presentavam uma moléstia do grupo e produziam seu debilita- uma lei própria, como um trilho já feito, sobre o qual ele cami-
mento. Naquelas dissidências, a mudança se dava no sentido nha. Este caminho não se traça ao acaso, mas é orientado em
horizontal, ficando na superfície e levando à divisão. No caso direção a uma dada finalidade, seguindo uma técnica de desen-
atual, a mudança é evolutiva, dando-se no sentido vertical as- volvimento que constitui a lei do fenômeno. Tudo isto é mais
cendente (entre o passado e o futuro), com tendência para uni- evidente no plano físico e dinâmico, domínio da ciência. Assim
ficar-se em um plano mais alto. A tônica é diversa. Hoje não se os fenômenos se movem em um regime de planificação prees-
trata de conquistar espaço vital com proselitismo, mas sim de tabelecida, que os enquadra dentro de uma ordem, necessária
transformar-se por evolução. para que não se desmorone tudo no caos.
28 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
Ora, a lógica dessa estrutura orgânica nos faz supor que, ao ça. Se ela, além de suas formas, é constituída também de uma
mesmo regime de ordem, estejam sujeitos também os fenôme- inteligente diretriz de funcionamento, é inegável, então, que de-
nos que se processam no plano mental e moral. Tanto mais que ve ser possível comunicar-se com essa inteligência, para se
eles são de natureza biologicamente mais evoluída do que a compreender qual é o seu pensamento e a sua vontade. Ora, co-
dos fenômenos da matéria e da energia, sendo mais importan- municar-se significa estabelecer um diálogo no qual se propõe
tes do que estes, por dizerem respeito à diretriz de nossa con- questões e se obtêm respostas. Isto é exatamente o que procura-
duta e, portanto, à nossa evolução. E, neste caso, trata-se do mos fazer, baseando-nos na lógica indicada, dado que esta era a
elemento humano, que é mais avançado na escala evolutiva. estrutura do fenômeno, onde o diálogo deveria ser possível.
Seria um absurdo, constituindo frontal contradição com tudo Chegando a este ponto, trata-se de resolver o problema de
aquilo que a ciência nos mostra acontecer nos campos de seu como conseguir estabelecer esse diálogo. É certo que a vida
domínio, se a mesma coisa não acontecesse também na zona pensa. E vemos seus efeitos, que nos revelam uma extraordiná-
do ápice da vida, situada à frente na evolução, no ponto de sua ria sabedoria. Mas a vida não formula seu pensamento com pa-
mais intensa atividade de conquista. A razão nos diz que, além lavras, como nós o fazemos. Ela não fala, simplesmente age.
do universo da matéria e da energia, deve haver também um Sua linguagem é concreta, manifestando-se materializada nos
universo do espírito, constituído pelos imponderáveis valores fatos. Então, para entender tal linguagem, é necessário observar
morais e ideais, com base numa outra ordem de fenômenos, os fatos. Trata-se de descobrir neles aquele pensamento subter-
regulados, como acontece com todos os outros, por leis que râneo, que se esconde sepulto no íntimo da realidade. Mas, se
lhes disciplinam o funcionamento. ele foge a nosso exame, como apreendê-lo então?
Até aqui estamos no terreno da lógica, identificando um Há momentos, como o atual, de trabalho febril por parte
campo que, segundo o raciocínio nos indica, deve existir. Ora, das forças da vida. São momentos de revolução, de realizações
esta premissa nos autoriza a admitir, como hipótese de trabalho, urgentes, de explosões decisivas, nos quais a pressa e o ímpeto
a existência de leis que regulam tais fenômenos, permitindo nos das realizações fazem que se rasgue o véu atrás do qual a vida
lançarmos à pesquisa delas, para conhecer a técnica de seu fun- se protege, como costuma fazê-lo, nos pontos mais nevrálgicos
cionamento. Isto é o que neste livro nos propomos fazer. Po- e preciosos de sua organização, principalmente no tocante à
nhamo-nos então num terreno prático, positivo, analítico e ex- sua direção. Na série de fatos que exporemos, anotamos exa-
perimental. Já realizamos o início desta pesquisa e, aqui, ofere- tamente os casos e momentos mais evidentes, nos quais nossa
cemos seus primeiros resultados, para que possam ser utilizados análise pôde colher, mais a descoberto, o pensamento da vida.
e também desenvolvidos posteriormente, após esta fase inicial. Esperamo-lo no caminho, o que possibilitou ver assim a sua
Não procuraremos persuadir o leitor com dissertações teóri- técnica funcional, observando a estrutura e o conteúdo das leis
cas, mas colocaremos sob seus olhos, sobretudo os fatos e os que regem o seu funcionamento.
resultados da análise dos mesmos. Se o leitor quiser, poderá ele No seu plano teórico, este trabalho já foi por nós realizado
mesmo repetir a experiência, com outros fatos tomados para em outros livros. Eis aqui estas leis, que, depois de tê-las visto e
exame, para controlar a validade das conclusões tiradas de nos- mostrado, colocamos a nu, deixando a palavra com elas. Neste
so trabalho. A nova pesquisa é possível e pode tornar-se tanto livro, em vez de expormos as ideias, deixaremos que o leitor es-
mais profunda, quanto mais longamente ela for executada. Nós, cute nos fatos aquilo que a vida diz, para ver com seus próprios
aqui, estamos apenas debruçados sobre os umbrais de um novo olhos qual é o pensamento dela, observando o seu comporta-
mundo, do qual só nos aparece uma primeira revelação. Basta mento em determinados casos. Assim, este livro, em vez de uma
isto, porém, para nos fazer pressentir que a estrada a percorrer dissertação genérica sobre as leis da vida, deseja ser vivo e cons-
neste sentido é longa e vai muito mais longe. Não porque po- tituir um trabalho de aplicação em detalhes, apoiado sobre uma
semos de descobridores, mas porque há fatos que provam a pre- série de casos típicos, tomados para exame. Isso porque o nosso
sença de leis neste campo, podendo ser verificados por todos, objetivo não é dissertar, mas sim mostrar, no plano prático,
em todos lugares e a todo o momento, sempre prontos a revelar quais os danos que nos ameaçam, quando violamos estas leis, e
a qualquer um que os observe como é regulado seu funciona- quais as vantagens que podemos gozar, quando as seguimos.
mento. Tais fatos, nos quais se manifestam aquelas leis, já Como se pode esperar que de premissas negativas derivem
acontecem em todos os lugares, de modo que a descoberta deles resultados positivos? É preciso aprender a se comportar, esco-
pode ser feita por qualquer um. lhendo a solução justa para os nossos problemas. Se colocarmos
Conhecer estas leis para depois se adequar a elas significa uma premissa positiva, podemos contar com tais leis, porque
possuir a arte da conduta certa e, portanto, poder gozar de todas elas “devem” levar-nos a resultados positivos. Em suma, trata-se
as vantagens decorrentes dela, evitando todos os danos que de- de conquistar uma consciência da vida e um senso de responsa-
rivam, como consequência fatal, de qualquer erro cometido bilidade novos, como consequência de um conhecimento anteri-
contra aquelas leis. Estamos fazendo um discurso utilitário, co- ormente não possuído. Trata-se de passar do estado de incerteza
erente com a realidade da vida, que é utilitária, e o fazemos do primitivo imprevidente a um novo modo de viver, regido por
num momento em que o homem passa da fase infantil à de uma planificação inteligente, para possuir, em vez de uma vida
adulto, razão pela qual ele é capaz de compreendê-lo. incerta e perigosa, uma vida garantida e protegida. No entanto,
A vida parece ter aberto um concurso entre aqueles que pro- para atingir tal planificação e gozar as suas vantagens, é indis-
curam oferecer-lhe a ideia da qual ela precisa hoje para cumprir pensável conhecer e, portanto, seguir as leis da vida. Sem isto,
a tarefa de reconstrução, necessária depois da atual tarefa de bate-se a cada passo a cabeça contra estas leis, que reagem a ca-
destruição. É evidente que, presentemente, vive-se em um ritmo da violação, comportando-se conosco do modo como nos com-
de transformismo evolutivo acelerado em todos os campos. portamos com elas. É, portanto, de supremo interesse conhecê-
Procuramos então formular e oferecer uma nova ideia, conven- las, tanto para evitar danos como para ganhar vantagens.
cidos de que a vida, atualmente, vai aceitá-la, porquanto esta Se, em outros livros, tratamos dos problemas espirituais
serve aos seus desígnios. com sentido de fuga do mundo, agora, para acompanhar o es-
A vida sabe o que faz. Quem observa seu funcionamento, forço da vida no momento atual, estamos seguindo a orientação
desde suas primeiras tentativas elementares e formas menos positiva prevalecente, à qual adere a nova cultura da tecnologia
evoluídas até suas construções mais complexas e evoluídas, não contemporânea. Justamente por visarmos resultados reais é que
pode deixar de encontrar nela uma inteligência superior. Ainda deixamos falar a vida com sua linguagem de fatos, controlá-
que contenha males e imperfeições, a vida sempre vence e avan- veis por todos, para concluir com uma ética racional e científica,
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 29
universal como a ciência e, assim, independente de posições fi- tivo é por ela sufocado e expulso, enquanto o positivo é por ela
deísticas. Mais do que de elucubrações filosóficas, hoje há ne- atraído e, como coisa sua, canalizado em sua corrente.
cessidade de um conhecimento capaz de resolver favoravel- Portanto, para quem quiser saber por que a vida é positiva,
mente os problemas, dando uma resposta adequada à questão, a ou seja, benéfica, construtiva e salvadora, podemos acrescen-
fim de se obter um guia prático sobre como se comportar, para tar – referindo-nos ao nosso livro O Sistema – que o pensa-
evitar o próprio dano. mento contido atrás cada fenômeno em nosso universo é de-
vido à presença nele do aspecto imanente da divindade, para-
II. A NOVA ÉTICA lelamente àquele transcendente. Em outros termos, trata-se
dos princípios remanescentes do Sistema, com funções direti-
Antes de examinar a casuística, devemos orientar este traba- vas no Anti-Sistema, que, embora decaído na forma ou maté-
lho, reassumindo vários conceitos já desenvolvidos, que o leitor ria, ainda assim ficou saturado do pensamento do Sistema.
necessita ter em mente. A nossa vida é composta de uma série De tudo isso pode-se concluir que o método pelo qual ver-
de atos que podemos observar em sua origem, desenvolvimento dadeiramente somos levados à vitória não é, como se costuma
e conclusão. Eles se unem entre si ao longo da linha causa- crer, o da força ou o da astúcia, mas sim o da justiça. Os que
efeito, constituindo ciclos cada vez maiores, até formarem o ci- ousam violá-lo, porque são fortes ou astutos, na realidade traba-
clo de desenvolvimento de uma vida e comporem, todos juntos, lham pela sua própria ruína, agindo não a favor de si mesmo,
o ciclo máximo da ascensão evolutiva. Em cada caso, o movi- mas em seu próprio prejuízo. Quando eles obtêm algumas van-
mento começa com o lançamento de uma trajetória e é constitu- tagens, estas são apenas imediatas e aparentes, que deverão ser
ído pelo percurso estabelecido, que se desenvolve como um ar- pagas depois, às próprias custas. A nova ética que propomos,
co, subindo em uma dada direção e, depois, descendo até um explicando o mal que se pode fazer a si mesmo com tal condu-
ponto no qual, exaurindo-se, aquele movimento se conclui, ini- ta, poderia transformar a nossa psicologia e com isso a diretriz
ciando-se outro. O que estabelece o percurso da trajetória e o do comportamento, evitando-nos imensos danos. É loucura pre-
seu ponto de chegada é a natureza das forças lançadas na parti- tender que, adotando uma conduta feita de negatividade, seja
da. Sabendo escolhê-las e colocá-las em movimento, podemos possível lançar trajetórias de tipo positivo, para concluir numa
estabelecer, nós mesmos, qual será o seu desenvolvimento e a posição do mesmo sinal. Como se pode pretender que o efeito
sua conclusão. Portanto tudo depende de nós, que podemos as- seja diverso da causa que o determinou?
sim atingir os resultados desejados. Isso significa que é possível Pode-se objetar que se encontram casos nos quais o bem é
sermos donos do êxito de nossas ações bem como do nosso des- vencido e o mal triunfa, contradizendo esta nossa afirmação.
tino, que as envolve, se soubermos cumprir o trabalho do lan- Mas como podemos ter certeza de que aqueles casos são con-
çamento correto de sua trajetória ou corrigir-lhe o percurso, cluídos com a morte? Não seria lícito admitir que deve haver
quando esse resulta em erro. uma continuação da vida, na qual o fenômeno se completa?
Ora, se o percurso da trajetória e seu ponto de chegada de- Nada nos autoriza a afirmar que ele em vida tenha atingido a
pendem da natureza das forças lançadas, esta natureza depende sua conclusão. Na morte, ele pode ter permanecido em suspen-
por sua vez da estrutura de nossa personalidade, cujos compo- so, de modo que o cumprimento da Lei é adiado, escondendo-
nentes são aquelas forças. Se esta estrutura é a causa de nosso se no invisível. Esta percepção é corroborada pelo fato de que,
futuro, ela é, por sua vez, a consequência de nosso passado, pe- na Terra, encontramo-nos perante um fenômeno que, como tal,
ríodo no qual a construímos do modo como é no presente. Na não pode ser anulado antes que o percurso de sua trajetória se
sua fase de percurso, o feixe de forças constituintes da persona- acabe completamente, após as forças lançadas terem atingido a
lidade pode sofrer deslocamentos de sua órbita por atração de sua meta e a causa ter-se extinguido no seu efeito. Isso acontece
forças afins, de modo que as boas se somam também às forças com todo e qualquer fenômeno.
boas do indivíduo, reforçando a positividade dele, e as más fa- Uma importante aplicação destes conceitos pode ser feita no
zem o mesmo às negativas, reforçando a negatividade dele. O campo da futurologia. Temos, antes de tudo, uma unidade de
indivíduo, portanto, pode não só modificar sua trajetória, enca- medida para avaliar na partida – o momento inicial do lança-
minhando-se em uma direção ou outra, mas também, com isso, mento da trajetória – que é a dose de positividade ou negativi-
melhorar ou piorar a sua posição. dade contida no fenômeno, dada pelas forças constituintes da
Também aqui, segundo o dualismo universal, o campo é di- personalidade. Sabemos também que as características de posi-
vidido em duas partes: uma positiva e outra negativa, que são o tividade destas forças levam o fenômeno a desembocar na afir-
bem e o mal, ou seja, aquilo que é útil ao indivíduo e aquilo que mação do indivíduo, para o sucesso e a vantagem dele, com o
o prejudica. Eis que a ética, pelo fato de querer o nosso bem, bom êxito de seu plano. Além disso, sabemos que as caracterís-
exige uma conduta do tipo positivo, pois a positividade na ação ticas de negatividade terminam por levá-lo à falência de seu
conclui a nosso favor, enquanto a negatividade resulta em nos- plano, em seu prejuízo. Então, das premissas iniciais, podemos
so dano. Disso deriva a importância da retidão, pois a conclu- deduzir o que delas poderá derivar.
são é que ela coincide com o sucesso do indivíduo, enquanto a Uma vez que o fenômeno entrou em órbita, estabelecendo a
desonestidade coincide com o fracasso dele. Consequentemen- premissa, podemos prever os seus deslocamentos, que, assim
te, tanto quem faz o bem como quem faz o mal o faz antes de como o efeito depende da causa, constituem a consequência.
tudo a si mesmo. De resto, seria absurdo que a vida, com sua Como era de se esperar, quando o campo de forças do fenôme-
sabedoria e inteligência, violasse a lei de causa-efeito, pois so- no é do tipo negativo, ele atrairá as forças de mesmo sinal que
mente se pode colher aquilo que se semeia. encontrar no seu desenvolvimento, absorvendo-as e somando-
Seria absurdo também que a vida, para atender o seu retilíneo as a si mesmo. Isto se aplica igualmente para as forças de tipo
utilitarismo e o seu impulso ascensional, propusesse qualquer positivo. Se, do exame da qualidade da personalidade, conclui-
coisa de negativo. O mal, mais do que uma culpa, é um erro. Se a se que ela, estando em um campo de forças negativas, possui
vida se rebela contra ele, ferindo-nos com a dor, isso acontece também forças de tipo positivo, podemos prever a possibilidade
com uma finalidade educativa e defensiva, a favor de quem co- de que estas funcionem como impulsos corretivos da negativi-
mete aquele erro, porque, assim, ela constringe aquele indivíduo dade do fenômeno, enquanto ele se encontrar na fase de trans-
a voltar à via correta, que o leva ao seu bem. Por outro lado, se a formismo, dada pelo seu desenvolvimento. De forma recípro-
vida rejeita aquilo que é o mal, ela aceita e sustém aquilo que é o ca, também pode acontecer que as forças de tipo negativo en-
bem. Isso porque ela é feita de positividade, de modo que o nega- contradas na personalidade, ao longo do percurso e do relativo
30 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
transformismo do fenômeno, corrompam as forças de tipo posi- compete à Lei o dever de assegurar. De um lado, trabalha o in-
tivo, deslocando a trajetória para o negativo. divíduo, do outro, responde-lhe a vida com suas normas de jus-
Tal futurologia, neste caso, baseia-se num atento exame psi- tiça. Esta será a nova ética positiva do futuro.
canalítico do sujeito, sobretudo para pôr a nu as zonas do sub- No passado, o homem vivia perdido no caos, isolado por
consciente. Por fenômeno entendemos qualquer acontecimento seu egoísmo, tendo como defesa somente a sua capacidade de
de nossa vida, desde aqueles mínimos, individuais, até aos lutar contra todos para vencê-los. Com a nova ética, ele tem
grandes fenômenos históricos. Ele toma forma concreta em consciência de fazer parte de um organismo com o qual coor-
nossos atos, que constituem somente a aparência exterior, na dena a sua conduta. Então entre o homem e a vida formam-se
qual se esconde este dinamismo interior, revelado pela análise relações de direitos e deveres recíprocos. Para o homem, o de-
do fenômeno. Os resultados dos acontecimentos dependem de ver de viver em disciplina lhe dá o direito aos meios para viver.
nossa conduta, e esta depende de nossos pensamentos, que por Para a vida, o direito de ser obedecida lhe impõe o dever de
sua vez dependem de nossa forma mental, ou seja, de nossas procurá-los. Se o homem não cumpre seu dever, a vida também
qualidades individuais. Percorrendo esta cadeia de derivações, não cumpre o seu para com ele.
podemos seguir o desenvolvimento lógico do acontecimento e Verifica-se um intercâmbio sem enganos. Se o indivíduo
reunir, através do seu desenvolvimento, seus dois extremos: o apresenta à vida uma conduta negativa, recebe tratamento nega-
lançamento da trajetória e a conclusão de seu percurso no resul- tivo, mas, se ele apresenta uma conduta positiva, a vida deve
tado obtido. O trabalho de futurologia se baseia na análise das conceder-lhe um tratamento positivo. É assim que, para quem o
forças que constituem a personalidade, porque elas representam pratica, fazer o bem resulta no bem e fazer o mal resulta no mal.
a natureza e a direção dos impulsos postos em movimento. Como se vê, trata-se de uma ética baseada sobre um princípio
Para poder prever o desenvolvimento de um acontecimento, totalmente diferente daquele vigente no passado, não mais de
é necessário outro conhecimento, que se refere às leis da vida e egocentrismo, mas sim de colaboração; não de força, mas de jus-
de seu modo de funcionar. Quando elas reagem contra o erro, tiça; não de separatismo, mas de reciprocidade, na qual cada um
seu propósito é ensinar, e não se vingar, esmagando. Podemos faz sua parte. Isso se deve ao fato de que esta nova ética, perante
saber assim, com antecedência, de qual tipo, se física ou moral, a antiga, representa a passagem para uma fase mais evoluída e
será a sua intervenção, que é sempre salutar, mesmo sendo do- aperfeiçoada, condição que implica um enquadramento na or-
lorosa. As leis da vida fundamentam-se sobre um princípio de dem, com uma tomada de consciência mais exata e um senso de
justiça, tanto que, perante elas, o mérito constitui um direito. responsabilidade anteriormente desconhecidos. Tudo isso corres-
Elas “devem” compensar aquilo que foi honestamente ganho. ponde a um processo de cerebração, devido à evolução, que ago-
Neste regime, a ideia de alguma coisa abandonada ao acaso é ra quer transportar o homem do plano instintivo emotivo ao pla-
inadmissível, como é também qualquer desordem em um regi- no diretivo, racionalmente controlado. Portanto não se trata da
me de disciplina. Cai assim o conceito de concessão gratuita de destruição do velho, mas sim da sua continuação e ascensão, le-
favores ou graças, bem como o de qualquer ato arbitrário. As vando não à sua substituição, mas sim ao seu aperfeiçoamento.
relações entre o indivíduo e as leis da vida são de direitos e de- Estas duas fases obedecem a dois diferentes princípios: o do
veres entre ambas as partes, pesados a cada momento na balan- caos para o primitivo e o da ordem para o evoluído. No caos, a
ça da justiça. Então o sujeito pode exigir daquelas leis que seja atividade fundamental é a luta, de modo que, se o indivíduo não
recompensado por aquilo que mereceu, e a vida tem o dever de se defende, ninguém mais o defende. Na ordem, a base é a dis-
recompensá-lo. Tudo isto simplesmente para obedecer ao prin- ciplina, de modo que, quando o indivíduo cumpre o seu dever,
cípio de justiça, que é a base destas leis e que, em nenhum caso, isso é o suficiente para colocar em movimento as forças que,
pode ser violado por elas. A vida, assim como deve castigar pa- naquele regime, são encarregadas da proteção dele. Tal condi-
ra corrigir o erro do indivíduo, também não lhe pode negar as ção já começa a se realizar na parte civilizada de nossa huma-
vantagens do que ele tenha merecido. nidade, mais próxima do estado orgânico. No caos, é lícito
As relações do indivíduo com a vida não são aquelas de su- agredir, mas nele sobrevive somente quem sabe lutar e vencer.
jeição entre servo e amo, mas sim de justiça. Por isso podemos Na ordem, não se pode agredir, mas quem faz um trabalho útil
saber como, em cada caso, a vida irá comportar-se com o indi- à coletividade deve ser protegido por ela, para que ele possa
víduo. Isso pode ser previsto, porque o cálculo se baseia sobre continuar trabalhando. Então ele não deve perder seu tempo lu-
o mérito, que é um fator analisável. É esta exatidão na avalia- tando, dado que é mais útil produzir segundo sua especializa-
ção dos valores e esta rigidez de justiça com a qual eles são ção. Somente nesta fase mais avançada isto é possível, quando
pesados e permutados, que nos permitem prever a consequên- já se alcançou o senso social da coletividade, o que falta na fase
cia de nossas ações. Isto é possível porque, assim, cada uma precedente, na qual os indivíduos não sabem o valor da ordem
delas é avaliada exatamente, como acontece somente em um coletiva, porque estão exauridos pelos atritos causados por seu
regime de disciplina exata. separatismo. É tudo uma questão de divisão de trabalho, utili-
Aqui, analisamos o funcionamento da Lei. Ela funciona zando a forma de maior rendimento utilitário, porque assim a
também para mim, enquanto escrevo, e para o leitor, enquanto energia que se gasta na luta é encaminhada para uma maior
ele lê. Segundo aquilo que colocamos em um prato da balança, produção. Hoje já se procura evitar tal desperdício, porque se
encontramos depois o peso correspondente no outro prato. começa a compreender quão contraproducente é o método da
Mostramos aqui como fazer o exame dos elementos presentes luta. Assim, a função do guerreiro, outrora fundamental, desva-
no fenômeno e das leis que dirigem seus movimentos. Com este loriza-se sempre mais diante da função do trabalhador.
material em mãos, podemos seguir o desenvolvimento do fe- Ora, quando sabemos que as premissas de um fato (lança-
nômeno e prever qual será a sua conclusão. mento de trajetória) estão em nossas mãos e que as consequên-
Estamos no plano positivo experimental da ciência. Trata-se cias estão nas mãos das leis da vida, então, se conhecermos a
de leis exatas, como são aquelas da matéria e da energia. Não técnica funcional destas leis, eis que será possível orientarmos
há mais, então, aquisições que não sejam justificada pelo méri- nossa conduta para o nosso bem, ao invés de para o nosso mal.
to, estando superada a psicologia do servo que implora favori- Isso leva a uma grande modificação na própria vida, semeando
tismos. A Lei de um lado e o homem do outro, ambos estão su- as causas dos acontecimentos e colhendo seus efeitos. Porém
jeitos à mesma ordem, de modo que, se o homem cumpriu seu não é a vida que muda, e sim o homem, porque, passando a um
dever para com a Lei, então, com isso, ele adquire perante ela o nível evolutivo mais elevado, ele entende mais e se comporta
correspondente direito a um bom tratamento, cujo cumprimento diferentemente, em seu próprio interesse. A vida tem funciona-
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 31
do e continua a funcionar sempre com os mesmos princípios. É Nos capítulos seguintes, faremos uma breve casuística, com
o homem que evolui e, assim, vê aquilo que antes não via, evi- a exposição de uma série de fatos observados por nós, enquanto
tando desse modo os erros e as dores que deles derivam. eles aconteciam, seguindo-os desde seu início até a sua conclu-
A conclusão dessa nossa dissertação é que nossa maior pre- são. Faremos esta análise para compreender a técnica de seu
ocupação deve ser o cumprimento de nosso dever, cabendo a funcionamento e para nos apossarmos dela, com a finalidade de
cada um determinar em que ele consiste. Isto é o suficiente para podermos dirigir novos casos que queiramos iniciar, para levá-
pôr uma premissa positiva no movimento que dela deverá de- los a bom êxito, como desejamos.
senvolver-se como consequência. Feito isso, sabemos que seu Para atingir este escopo, consideramos cada ato iniciado
desenvolvimento se dará em sentido favorável a nós, porque as por nós para chegar a um dado fim, ou seja, cada evento em
leis da vida providenciarão para que assim aconteça. Atenção, que tomamos parte ativa, como um fenômeno em movimento,
porém, porque com a vida não se brinca. Se apenas pretende- cuja trajetória se desloca de um ponto de partida a um ponto
mos fingir que fazemos nosso dever, procurando dar a entender de chegada. Observaremos o trajeto deste movimento nos se-
isto aos outros e também a nós mesmos, a vida não se deixará guintes aspectos: 1) As causas que precedem seu lançamento;
enganar e nos pagará com um desastre. 2) Os seus elementos constituintes; 3) O desenvolvimento do
É incrível a que elevação evolutiva, com suas respectivas transformismo pelo qual, ao longo de seu caminho, ele passa,
consequências, pode levar a aplicação de tais princípios. Quan- em função das forças que o determinam e daquelas que encon-
do se sobe até este plano, cai a lei da luta pela seleção do mais tra no ambiente; 4) As conclusões às quais ele, deixado a si
forte, porque, biologicamente, o modelo do melhor, definindo o mesmo, poderá chegar ou às quais, devido à nossa interven-
novo tipo que a evolução quer produzir, é, ao contrário, o mais ção, poderemos fazê-lo chegar. Aplicaremos estes conceitos,
inteligente, o mais poderoso mentalmente, e não fisicamente. penetrando nos detalhes da casuística, para compreender o
Então o maior problema da vida, a sobrevivência, será resolvi- significado recôndito dos fatos.
do com estes meios, que muito melhor saberão ser bem sucedi- A moral que deriva do conhecimento das leis da vida e de
dos. Entramos assim no regime de ordem, próprio de um nível seu funcionamento não é aproximativa e elástica, nem permite
evolutivo mais avançado, regime no qual a retidão atinge o va- acomodações ou escapatória, mas é exata e rígida, não admitin-
lor de técnica aperfeiçoada para a defesa da vida. Tivemos que do ajustes ou evasões. Passa-se de um regime de baixa veloci-
explicar estes princípios diretores porque era necessário antepor dade para outro de alta, que exige uma precisão maior de mo-
esta orientação geral, antes de passarmos à sua aplicação nos vimentos, porque a uma mesma mudança direcional correspon-
casos que examinaremos nos capítulos seguintes. dem efeitos maiores.
Eis então que é necessário primeiramente pensar no lan-
III. A TÉCNICA DO FENÔMENO çamento da trajetória. É imprescindível que esta não se com-
ponha de forças negativas, porque elas representam um erro
A posição do homem é a seguinte: ele vive no seio do gran- na partida, que é introduzido dentro do desenvolvimento do
de organismo do todo, cujo funcionamento é dirigido pelo pen- fenômeno e que, portanto, nele se manifestará, levando-o a
samento da Lei, que representa a presença de Deus (Sistema) um resultado negativo.
imanente em nosso universo (Anti-Sistema). É esta presença O primeiro ponto de partida é a própria personalidade e as
que, no seio da desordem transitória e superficial, mantém na forças das quais ela se compõe. Eis que, no início de um dado
sua profundidade uma ordem eterna e inviolável. A isto deve- acontecimento, quando começamos a agir para colocá-lo em
mos o fato de que tudo, ao invés de se desmoronar no caos, vai movimento, a fim de que ele se realize, deveremos fazer um
sendo levado, pelo contrário, a uma contínua evolução em dire- exame de consciência ou uma autopsicanálise, para nos aperce-
ção ao melhor. Ora, cada erro contra aquela ordem produz dor. bermos de quais forças dispomos, dadas pelas qualidades que
O homem, porque não conhece a Lei, comete erros contínuos. possuímos e que constituem a nossa personalidade.
Seu maior trabalho consiste na contínua fabricação de suas pró- De como fazer o exame de consciência trataremos a fundo
prias dores. Dessa forma, tudo parece construído de modo a re- no fim deste volume. Aqui somente mencionamos que esta es-
sultar na geração de sofrimento para o próprio homem. trutura da personalidade é um fato estabelecido, o qual preexis-
Mas o fenômeno não se interrompe ao chegar a conclusões te à análise e do qual depende o tipo de força que poremos em
tão tristes. Tal fato é justificado porque, naquela dor, está a sal- órbita no momento do lançamento da trajetória. É evidente que,
vação. A dor é uma escola de aprendizagem, portanto um ins- de uma personalidade com estrutura predominante de tipo ne-
trumento benéfico, pois quem aprendeu não repete o erro e, gativo, não poderá ser obtido senão o lançamento de uma traje-
com isso, elimina a dor. Assim tudo está construído de forma a tória composta de forças negativas. É evidente também a recí-
ser destinado à autorreparação. Não se sofre, portanto, em vão, proca, de modo que, de uma personalidade com estrutura pre-
mas sim para aprender, a fim de não errar e, assim, não sofrer. dominante de tipo positivo, será obtido o lançamento de uma
Eis, em síntese, o mecanismo da existência, o jogo dentro do trajetória feita de forças positivas.
qual existimos e do qual fazemos parte. É esta ordem interna Disto segue-se que, automaticamente, os temperamentos
que buscamos descobrir aqui. honestos são levados a lançar trajetórias positivas e, com isto, a
Orientados por este quadro de fundo, tratemos, então, de obter resultados positivos, valendo também a recíproca. Parece
continuar o nosso trabalho de indagação, que nos leva a desco- ventura ou má sorte, mas trata-se, na verdade, de uma conse-
brir aquela ordem. Fazemos isso porque é o conhecimento que quência do funcionamento da lei que rege o fenômeno. Além
nos salva. Ele é o mais ativo agente destruidor da dor, já que, disso, há também o fato de que o exame de consciência, no qual
uma vez alcançado, ela não tem mais razão de existir, porque se faz o juízo das qualidades boas ou más, é feito pelo próprio
não há mais nada a corrigir e ensinar. Portanto o modo certo pa- indivíduo que inicia o movimento, não lhe restando nada mais a
ra eliminar a dor nós o encontramos. Quem compreendeu evita fazer, senão usar sua forma mental, a única que ele possui.
fazer o mal, porque sabe que o faz em seu prejuízo. É duro so- Ora, o instrumento de ajuizamento pode ser ele mesmo po-
frer, mas a própria vida contém um grande remédio para isso. sitivo ou negativo, ou seja, justo, direito e segundo as leis da
Para destruir a dor, existe uma grande força: a evolução, porque vida, ou arbitrário, errado e distorcido pela negatividade da per-
ela destrói a ignorância. Portanto é sagrado, em cada campo, o sonalidade. Neste segundo caso, o lançamento da trajetória em
trabalho de conquista do conhecimento. Continuemos então, direção errada, contraproducente e tendente a resultados nega-
sobre esta estrada, o nosso trabalho de análise. tivos, é fatal. Mas é necessário reconhecer que isso também é
32 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
justo, porque se trata de uma consequência direta do fato de ser cer a colocação destas forças em órbita através de um lançamento
aquela personalidade composta de forças negativas. correto da trajetória e, por fim, efetuar posteriormente eventuais
Na execução do exame de consciência, é necessário estar correções da mesma durante o seu percurso, processo este possí-
prevenido também da possibilidade de haver, sobre a função de vel de ser realizado, pois se trata de um fenômeno em movimen-
julgar, a influência do subconsciente, que está sempre pronto, to, no qual é possível assim inserir novos impulsos.
no âmago, a fazer aflorar seus próprios impulsos. Ele é astuto e Isso significa acompanhar todo o desenvolvimento do fe-
aproveita qualquer oportunidade para fazer apreciações distor- nômeno que movimentamos, desde suas primeiras causas até à
cidas a seu modo, a fim de satisfazer sua vontade. Também fa- sua conclusão. Temos falado de positividade e negatividade. O
laremos melhor disto mais adiante (Cap. IX). O subconsciente leitor pode indagar-se que significam na prática estes dois con-
quer sobreviver tal como é, afirmando-se à sua maneira. Assim, ceitos. Positividade significa retidão, honestidade, sinceridade,
luta para se impor e, a fim de conseguir isso, disfarça-se com justiça, responsabilidade etc., qualidades que o indivíduo posi-
argumentos que lhe dão razão, envergando uma auréola de vir- tivo utiliza no lançamento da sua trajetória. Negatividade signi-
tude para esconder suas qualidades negativas. É a besta origi- fica o contrário. Podemos afirmar que os resultados são positi-
nal, ainda não eliminada, que emerge. Então, por meio de um vos no primeiro caso e negativos no segundo, pois temos reali-
exame de consciência assim viciado desde o início, não pode- zado verdadeiros controles experimentais, com os quais obti-
mos obter senão um resultado falsificado. vemos confirmação desta correspondência de fatos. Na casuís-
Que se deve fazer então para obter bons resultados? A con- tica que exporemos nos capítulos seguintes, veremos aplicados
dição imprescindível é ter uma personalidade de tipo positivo. estes conceitos, observando a técnica segundo a qual se desen-
Se, porém, ela é negativa, torna-se necessário procurar antes de volvem os atos que iniciamos para alcançar um dado objetivo.
tudo corrigir a sua negatividade, reduzindo esta ao mínimo, pa- Porém, antes de procedermos à casuística, temos de explicar
ra que na estrutura da personalidade possa prevalecer a positi- como tudo isso acontece. Veremos que cada ato nosso é um fe-
vidade, com tudo aquilo que se segue. Mas o que é necessário nômeno regido por normas definidas do princípio ao fim. Che-
fazer quando, como consequência da estrutura negativa da per- gou a hora de enfrentar com espírito analítico e métodos positi-
sonalidade, já foi completado o lançamento de uma trajetória vos o caso de nossa conduta, até agora deixado inexplorado, à
deste tipo? Neste caso, não há mais nada a fazer senão procurar mercê de normas empíricas. O sistema de construir uma ordem
corrigi-la. Vejamos como. apoiada no comando e na obediência, em vez de se basear na
No caso de trajetórias totalmente negativas, não há nada a compreensão e na convicção, pertence à era infantil da humani-
fazer. O desastre final é fatal. Seria necessário que a personali- dade e desaparece agora, quando ela entra em uma fase mais
dade negativa que realizou o lançamento seguisse a longa esco- madura. A disciplina, porém, continua necessária. Se o homem
la da própria correção, à custa de inúmeras provas, até se tornar novo, que é crítico e racional, não a aceita mais por imposição
positiva. Observemos, porém, o caso mais frequente, represen- de autoridade, não lhe resta senão aceitá-la por livre vontade,
tado pela trajetória mista. A personalidade pode possuir um como fruto do entendimento. Caso ele não queira compreender,
fundo de positividade com zonas de negatividade. Estas, então, aprenderá duramente à própria custa, caindo no caos.
constituem na trajetória o que poderíamos chamar de nós de re- A nova moral irá se impor por si mesma, sendo seguida não
sistência. É preciso descobri-los e desfazê-los, pois eles são er- porque a autoridade mandou, mas porque ela é útil no interesse
ros contra a lei da vida. Trata-se de desvios cuja direção é ne- de quem a aplica. Moral clara, controlável por fatos e vantajosa,
cessário endireitar ao longo do caminho. o que torna aceitáveis os seus princípios de honestidade e justi-
Isso se pode fazer esperando que aqueles impulsos negati- ça. A mente moderna não se sujeita mais passivamente a uma
vos se esgotem, para deixá-los consumirem sua energia inicial. moral somente normativa e preceituada, exigindo em seu lugar
Mas é possível ainda intervir de outra maneira, colocando vo- uma moral livre e consciente, mas responsável, regida por sua
luntariamente em movimento impulsos positivos que se opo- lógica, que lhe justifica as normas, e controlável em seu valor
nham aos negativos em sentido contrário, para neutralizá-los. pelos seus resultados. A mente moderna não aceita uma moral
Com isso, pode-se combater também a tendência dos impulsos coagida, à base de ameaças e condenações. Tal sistema leva à
negativos de atraírem para seu campo outros impulsos negati- evasão, e não à aceitação por convicção, que se atinge quando
vos, a fim de reforçarem-se. A presença da negatividade, ten- se compreende seu funcionamento e vantagens. A nova moral
dendo a desviar do sentido positivo o percurso da trajetória, não está na lei da vida e diz: “Posso pegar aquilo que quiser, con-
nos deve alarmar. O fenômeno se desenvolve como uma luta tanto que eu pague por isto, pois só é verdadeiramente meu o
entre a positividade e a negatividade. Cada erro pode ser corri- que eu tiver merecido. Posso agir livremente, mas as conse-
gido, e aqui explicamos como. Se o erro aparece, ele deve ser quências são minhas. Cumpre a mim compreender o que posso
corrigido, sendo que, ao corrigi-lo, aprende-se a não repeti-lo e o que não posso fazer. A veracidade e a utilidade desta lei eu
mais. Tudo, até mesmo o mal, pode ter uma função construtiva. posso verificar por mim mesmo, convencendo-me desse modo
O problema é neutralizar a negatividade presente no fenôme- que me convém segui-la”. É por isso que mostramos seu funci-
no, porque ela o polui, levando-o a resultados negativos. Estes, onamento. Dele ninguém pode fugir. Passar para outra fé ou
porém, podem ser calculados, porque são proporcionais à dose de tornar-se ateu não muda nada. A lei da vida é igual para todos.
negatividade contida no fenômeno. Daí serem eles previsíveis e Conclui-se que, conhecendo a técnica de seu funcionamen-
evitáveis. É necessário compreender que os resultados finais de- to, podemos dominar os acontecimentos, porque, quando colo-
pendem desta dose e que esta dosagem depende de nós. Somos camos em movimento os elementos exigidos, sabemos quais
donos dos resultados, porque, se preenchermos todas as condi- são os resultados que eles devem atingir. Tudo isso acontece no
ções necessárias para atingi-los, podemos obter aqueles que dese- terreno da positividade e do raciocínio, e não do fideísmo e da
jamos. E agora já sabemos quais são elas. Mas, quando os resul- emotividade, de modo que pode ser apresentado na forma men-
tados não são obtidos, sabemos também a razão pela qual isso tal mais compreensível para o homem moderno e para o do fu-
acontece e o que é necessário fazer para evitar este prejuízo. A turo. Tais conclusões têm, pois, características universais. A
análise do fenômeno nos mostra tudo. Não podemos, portanto, técnica do fenômeno é sempre a mesma e funciona não somen-
culpar ninguém, nem nos embalarmos com esperanças ilusórias. te para o indivíduo, mas também para os grupos, tais como: a
É necessário analisar e saber dirigir os elementos determinantes família, as instituições, os partidos, os povos e a humanidade.
do fenômeno, e isto significa observar a estrutura da personalida- Mesmos nestes casos, trata-se ainda de uma unidade, porém
de, examinar com exatidão as forças que a constituem, estabele- não mais individual, e sim coletiva.
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 33
O ponto de partida permanece sempre o mesmo, sendo defi- Isso é possível hoje, porque o homem está atingindo uma
nido pelas qualidades constituintes daquele tipo de unidade. De- maturidade psicológica que lhe permite ver a vida com espírito
las depende o gênero de trajetória que eventualmente será lança- crítico adulto, apoiado no método analítico e positivo. Pode-se
da, assim como o seu percurso e a sua conclusão. Eis que a mes- assim enfrentar e resolver problemas que antes permaneciam
ma técnica do exame inicial da consciência, para prever o êxito sepultos no mistério, porque eram vistos somente com uma
de um acontecimento e influir sobre ele, é usada também no caso psicologia infantil, de tipo empírico. Cai a veste legendária e
de unidades coletivas. Nesta dimensão maior pode-se igualmente mitológica, para deixar aparecer a realidade nua, que se torna
prever onde irá terminar o percurso da trajetória. É possível as- assim compreensível, mostrando-nos as normas mais sólidas a
sim realizar uma espécie de futurologia histórica, incumbida do que nos referíamos.
trabalho de fazer previsão neste imenso campo das unidades co- Ao homem novo que se está formando é necessário fornecer
letivas. Também neste caso pode-se intervir no fenômeno, guian- um alimento diferente daquele que o satisfazia no passado, mas
do-o com inteligência em direção à melhor conclusão, seja inici- que não o satisfaz mais agora, um alimento mais nutritivo, feito
ando-o sabiamente, com um lançamento positivo, seja corrigindo de um sistema persuasivo, capaz de levá-lo com clareza à con-
seu caminho, quando ele tende para o negativo. vicção, porque mostra a realidade da vida. Onde encontrar então
Tudo isso é hoje atualidade. No passado, a humanidade, em este material? Só a ciência nos apresenta características de posi-
sua ignorância das consequências, lançou muitos impulsos com tividade, objetividade e imparcialidade, elementos capazes de
base no egoísmo e na injustiça, o que explica a colheita dos re- alcançar uma verdade biológica universal, que não seja só de um
sultados obtidos, segundo a técnica que temos visto. A razão de grupo e não esteja em luta contra a verdade de outros grupos.
tantas dificuldades que afligem a humanidade reside no fato de Até agora, a ciência não entrou no campo da ética do com-
seus lançamentos serem realizados segundo uma trajetória em portamento correto. Mas é exatamente a maturidade evolutiva
grande parte negativa. Assim a história avança, carregando do homem, acima mencionada, o fator que pode permitir a ci-
atrás este peso. Não há outro remédio, então, senão aplicar o ência penetrar neste terreno. Tudo está pronto para que isso se
método da correção das trajetórias erradas. verifique: o grau de evolução alcançado; o desenvolvimento da
Ora, nos grandes fenômenos coletivos, tal como no caso in- ciência; a necessidade de resolver novos e mais complexos pro-
dividual, o ponto de partida também é um exame de consciên- blemas, incluindo os de natureza espiritual, insolúveis pelos ve-
cia, que neste caso, porém, é realizado em massa, processo no lhos métodos; e a necessidade de definir as diversas verdades
qual cada povo deve se autoavaliar honestamente, colocando-se deixadas em suspenso. As contínuas mudanças nas relações so-
diante das leis da vida. Com base nos resultados deste exame, a ciais vão criando situações imprevistas, que exigem uma regu-
coletividade deve lançar novas forças, porém de tipo positivo, lamentação nova, com base em outros princípios, porque os ve-
introduzindo-as na própria trajetória histórica, com a finalidade lhos se tornam inadequados. É assim que se faz sempre mais
de corrigir o desvio precedente ora em ação. Quanto à positivi- necessário desenvolver uma ciência da conduta humana no
dade, temos visto o que ela significa. Somente assim será pos- mesmo nível já alcançado pela ciência em outros campos.
sível corrigir a trajetória anterior, guiando-a em direção a resul- Hoje se corre e, portanto, é necessário ver bem a estrada.
tados benéficos, e não maléficos. Urge entender o significado da vida e as consequências de nos-
Neste trabalho, a própria vida ajudará quem se preparar para sas ações, para nos dirigirmos inteligentemente. Com o aumen-
cumpri-lo, porque isso corresponde ao objetivo dela. O sistema to dos poderes do homem, aumenta a periculosidade de seus
de luta, à base de ação e reação – naturalmente separador – é movimentos errados, e há cada vez menos margem para eles.
involuído, antiorgânico e antiunitário, indo contra a formação Por isso é necessário uma ética de tipo científico, que nos mos-
das grandes unificações sociais, finalidade que a vida quer al- tre a técnica do funcionamento das leis da vida. É preciso fazer
cançar no momento atual e no futuro próximo. o homem compreender que ele não está sozinho na estrada,
Falamos disto porque o momento é grave. Os meios de ação abandonado à mercê da própria sorte e distante de qualquer for-
se tornaram hoje muito mais potentes com a ciência, de modo ça para auxiliá-lo, mostrando-lhe que, pelo contrário, elas estão
que, se não quisermos terminar em um desastre, é imprescindí- próximas e que a sua ajuda funciona realmente, desde que ele o
vel e urgente uma capacidade diretiva mais inteligente. A velha mereça, por ter cumprido com o seu dever.
psicologia agressiva era limitada na proporção dos prejuízos Em um momento de tantas reivindicações sociais, deve-se
que ela podia causar. É urgente um progresso moral, paralelo fazer valer também os direitos do homem justo perante as leis
ao científico, que coordene sabiamente esta hipertrofia de pode- da vida. Em um mundo onde ele é esmagado pelo mais forte,
res em todos os campos. O avanço tecnológico constitui uma torna-se necessário provar, experimentalmente, que este ho-
vitória, mas torna-se também um grave perigo, se não souber- mem é defendido pelas leis da vida, porque ele é útil a ela, que
mos guiá-lo. É igualmente urgente corrigir as velhas trajetórias se mostra sua amiga e o defende, para seus objetivos. Com a fi-
carregadas de negatividade, se não quisermos que elas nos le- nalidade de construir um futuro cada vez mais realizador do es-
vem a resultados do mesmo tipo. Elas estão em movimento e tado orgânico unitário, a vida tem sempre menos necessidade
avançam fatalmente em direção à sua conclusão. Tudo isto é do biótipo prepotente vencedor, cujo valor é adequado em ou-
analisável e evitável. Estamos na encruzilhada. As velhas nor- tras condições, inerentes a outras fases de evolução, e tem sem-
mas estão atualmente superadas. É necessário substituí-las por pre mais necessidade, como modelo para a massa, do homem
normas sólidas, mais adaptadas ao novo homem que se está justo, que saiba ordenadamente funcionar em seu posto na cole-
formando e à sua nova posição na vida. tividade, segundo suas qualidades e especialização de trabalho.
Mas que entendemos por normas mais sólidas? Como é
esse novo homem que se está formando? Que a velha moral IV. PRIMEIRO CASO
se torna cada vez mais inadequada aos novos tempos, prova-
nos o fato de haver sido formado um movimento revolucio- Vamos retomar agora, na análise dos casos que passamos a
nário inovador que não é obra apenas de um grupo particular, examinar, o raciocínio que fizemos como ponto de partida des-
mas sim de uma corrente mundial. Encontramo-nos diante de te livro. Trata-se de uma ideia segundo a qual, se existem leis
um fenômeno novo para nós, dado pelo fim de uma civiliza- que regulam o funcionamento dos fenômenos no plano físico e
ção e o início de outra, de tipo diferente. A velha ordem está dinâmico, devem existir paralelamente leis que regulam o fun-
caindo, porém uma nova e melhor, capaz de substituí-la, de- cionamento dos fenômenos no plano ético e espiritual. Pelo
verá necessariamente nascer. fato de todos os fenômenos se encontrarem no mesmo organis-
34 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
mo do todo, é lógico que, no funcionamento deste organismo, obter um determinado resultado, podemos dominar o fenôme-
devem tomar parte também os fenômenos do plano ético e es- no, dirigindo-o até à conclusão desejada.
piritual, em paralelo e engrenados com aqueles outros, cujo A cada momento e lugar verificam-se acontecimentos de to-
comportamento a ciência nos demonstra. das as grandezas, mas sem qualquer controle nosso, não haven-
Dessa forma, podemos observar o comportamento dos fe- do, assim, previsão do seus desenvolvimentos nem controle para
nômenos do plano ético e espiritual. Quanto mais nos avizinha- guiá-los. Nesta confusão, não somos na verdade donos da situa-
mos da compreensão de seu funcionamento, mais vemos a sua ção, pois, em vez de fazer uma escolha racional e muito menos
utilidade prática. Faz parte dos princípios diretivos da vida obter prever as consequências da própria conduta, comportamo-nos
o maior rendimento com o mínimo de meios. Então, quando empiricamente, seguindo cada um suas próprias miragens. Exis-
somos utilitários, aderimos a estes princípios. Não é pecado bus- te somente uma vaga intuição da presença de uma lei diretriz, já
car a própria vantagem, quando esta é sabiamente entendida. que se crê em uma divina providência. Admite-se que ela funci-
Com isso, seguimos a vida, que deseja o nosso bem. Mesmo one de fato para os bons, condição correspondente ao lançamen-
quando nos golpeia com a dor, ela ainda assim é benéfica, pois to em órbita de forças do tipo positivo, e que não funcione para
nos quer advertir do erro, a fim de que não o cometamos mais. A os maus, condição correspondente ao lançamento em órbita de
vida é sempre positiva, construtiva e saneadora. Somos nós que forças do tipo negativo. Mas estamos longe de um exame analí-
tomamos o caminho negativo. Ela vem ao nosso encontro para tico do fenômeno e do controle de seu funcionamento.
nos salvar, empurrando-nos do caminho errado para o certo. Para cumprir este trabalho, não estabelecemos aqui discus-
Se observarmos as obras executadas pela vida, não pode- sões com as velhas filosofias, destinadas a resolver o proble-
mos deixar de admitir que ela é muito inteligente. Busquemos ma ético, mas simplesmente constatamos a existência dos fa-
então compreender o seu pensamento. O nosso raciocínio é tos sobre os quais se baseiam as nossas afirmações. Esta fase
simples. Se o mal e a dor não são obra da vida, mas fruto de do conhecimento é a nova fase evolutiva na qual o homem
nosso fracasso, então, aprendendo a não errar, vamos eliminar prepara-se para entrar. No nível animal, as leis da vida funci-
o erro – causa da dor – e os seus tristes efeitos. O caminho jus- onam deterministicamente, de modo que os seres obedecem
to é assinalado pelas leis da vida. Basta segui-lo. Por isto pro- cegamente ao instinto, manifestando com isso o comando da-
curamos conhecer essas leis, para depois segui-las e, assim, li- quelas leis. No nível humano, o ser tem a liberdade de obede-
vrarmo-nos do mal que nos aflige. Basta que funcionemos dis- cer ou desobedecer, mas, devido à sua ignorância da técnica
ciplinadamente na ordem estabelecida, em vez de procurarmos de desenvolvimento do fenômeno, deve aprendê-la à sua cus-
violá-las. Quando nos afastamos do caminho, verifica-se a se- ta, sofrendo as consequências de seus erros. Na fase evolutiva
quência encadeada das seguintes posições: ordem, violação, subsequente, que nos espera, o ser, pelo fato de já conhecer
desordem, erro e dor. Assim, a liberdade é benéfica, mas so- aquela técnica e suas consequências, sabe prever e prover ra-
mente quando é compreendida como disciplina naquela ordem, cionalmente o desenvolvimento fenômeno, dominando-o, para
e não como revolta contra ela. dirigi-lo na direção da conclusão desejada.
A dor é filha do erro. Quando saímos da pista, vamos bater Esta última fase, constitui uma posição de grande vantagem
contra um muro. Mas a pista sobre a qual a vida corre é bem fei- sobre a precedente, porque nos permite avançar não mais ao
ta. Somos nós que não sabemos guiar. E não sabemos guiar por- acaso, ferindo-nos continuamente, por inconsciência, com as do-
que não conhecemos as leis. Estamos precisando então de aulas lorosas consequências dos nossos fracassos, mas sim através de
de direção. O grande erro é acreditar que as coisas acontecem uma orientação inteligente, em direção ao que nos é verdadei-
por acaso. Basta desembaraçar e penetrar além da confusão das ramente útil. Trata-se de uma ciência nova, sobre a qual se pode-
aparências, para nos convencermos do oposto. Sem nem mesmo rá estabelecer, para nossa vantagem, um novo código de vida.
suspeitá-lo, vivemos, pelo contrário, dentro de uma ordem ma- ◘◘◘
ravilhosa. Cremos no acaso porque semeamos desordem e, por Depois destas premissas orientadoras, iniciamos a casuísti-
isso, perdemo-nos no caos, que é a sua consequência. ca. Observemos o primeiro caso. Dois jovens, um rapaz e uma
Tudo isso se explica pelo fato de, neste campo, o homem moça, enamoram-se enquanto frequentam o ginásio. Ele é po-
não ter ainda atingido o conhecimento, encontrando-se, por- bre e não tem meios para frequentar uma universidade. Ela tem
tanto, na fase de aprendizagem, na qual o aluno não pode dei- posses e lhe oferece esta oportunidade, levando-o à sua família,
xar de cometer erros, através dos quais ele aprende. Mas a fa- que provê os recursos necessários, até ele completar o curso su-
se que o espera a seguir não pode ser outra senão a de quem, perior. Nesse período, ela também continua seus estudos e os
por ter aprendido, não erra mais. O resultado de nossa desor- dois se casam pouco depois de se formarem. Nasce uma meni-
dem atual não pode ser mais do que um mundo de dificulda- na, com tudo se passando sempre na casa da esposa. A família
des, aquele no qual vivemos. Mas isso também é lógico e está dela reside numa cidadezinha que oferece poucos recursos de
no seu justo lugar, pois, ainda que através do sofrimento, tra- trabalho para os dois jovens. O desejo deles é então se transferi-
ta-se de uma fase necessária para aprender e, assim, elevar-se rem para a capital vizinha.
em direção a uma condição melhor. Aqui começa a nossa história em suas linhas externas. Ob-
Grandes são as vantagens do conhecimento que buscamos servemos agora quais eram as forças que se moviam atrás des-
alcançar aqui, se o utilizarmos como diretriz de um comporta- te esquema. Quem, em substância, era ele e quem era ela? De
mento sábio de nossa parte. Quando se conhece a técnica funci- que tipo eram as forças constituintes da personalidade de cada
onal do fenômeno, pode-se prever quais serão as consequências um, segundo a natureza da qual elas acabavam de ser lançadas
de nossas ações. Lançando a trajetória de desenvolvimento cor- em órbita por eles, para se tornarem depois a trajetória de seus
retamente, segundo a ordem das leis da vida, podemos garantir- destinos? Qual era, enfim, a direção assumida pelo desenvol-
nos o bom êxito do acontecimento iniciado. Mesmo se errarmos vimento do fenômeno, estabelecida pelas qualidades individu-
o movimento de lançamento, ainda podemos depois corrigi-lo, ais de cada personalidade?
para levá-lo a um bom termo. Trata-se de um trabalho não so- Observemos primeiramente a personalidade dele. Tratava-se
mente de previsão (futurologia), mas também de intervenção, a de um jovem dinâmico, mas no sentido de agitação irrequieta, e
fim de cuidarmos do desenvolvimento do fenômeno, se quiser- não de laboriosidade produtiva. Assim, a sua atividade era em
mos que aconteça o melhor para o nosso bem. Está em nossas grande parte um desperdício de meios e energia, ainda que à cus-
mãos estabelecer a solução mais vantajosa para nós. Então, ta de quantos lhe eram vizinhos. De engenho ágil, mas extrema-
sabendo quais premissas devemos colocar em movimento para mente desordenado, ele representava um alto custo de manuten-
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 35
ção. Este peso foi suportado pela família dela, até que ele, depois a um prêmio pela astúcia em prejuízo de outros. Ele não entende
de se formar, mudou-se para a capital vizinha, para trabalhar. que, ao contrário, trata-se de um exame para medir sua maturi-
Neste momento, ele começou a colher os frutos daquilo que se- dade, o qual lhe permitirá, se ele souber superá-lo, passar a um
meava, tendo de viver à sua própria custa e pagar ele mesmo o nível evolutivo superior. Neste exame, ele teria que dar prova de
desperdício de sua própria desordem. A partir de então, ele se en- ordem e autodisciplina, não abusando de uma oportunidade fa-
controu sozinho, na dependência de suas qualidades. vorável, mas sim procurando, em vez disso, conquistar aquelas
Mas que qualidades eram estas? O seu instinto fundamental qualidades que são indispensáveis para poder gozar definitiva-
era o do lutador que quer subir a qualquer custo, pisando os ou- mente das vantagens oferecidas por uma posição mais avançada.
tros. E assim ele tinha agido até então. Depois de escolher a Mas, em vez disso, que fez aquele jovem? Adquirindo velo-
moça, o seu movimento constante foi do tipo egoísta, invasor e cidade na via de ascensão gratuita que se lhe abria em frente, a
devorador. Ele tinha como justificativa o fato de estar esfaima- facilidade de percorrê-la, oferecida a ele como um convite a
do, mas isso não o autorizava a se tornar um perigo social. Em aproveitar-se ilimitadamente, levou-o, por insuficiência de au-
primeiro lugar, ele se alojou na casa dela, obtendo assim ali- tocontrole, a uma explosão do instinto de crescimento. No en-
mentação e moradia. A grande pressa de se casar e ter um filho tanto o exame consistia exatamente num teste de autocontrole.
decorria do seu intuito de consolidar sempre mais a sua tomada É assim que este jovem, no momento do maior triunfo, quando
de posse na casa da mulher, conquistando uma posição cada acreditava ter alcançado o ápice, constatou ter falhado na prova
vez mais cômoda. Mas agora, que havia chegado o momento de e, na qualidade de aluno reprovado, foi obrigado a recomeçar
assumir a devida responsabilidade de marido, para prover a desde o início, com um novo exame.
manutenção da própria família (trajetória de forças positivas, Que acontece a ele então a partir deste momento? Vemos
segundo as leis da vida), eis que ele busca evadir-se de seus que a vida lhe retira todos os favores, deixando-o à mercê de
próprios deveres, gastando seus ganhos em amores extraconju- seus próprios instintos. Por que isto? Porque ela não executa o
gais (trajetória de forças negativas, contra as leis da vida). Este trabalho de corrigir as nossas trajetórias erradas, tarefa que cabe
homem egoísta continuava assim a desenvolver suas qualidades a nós, mas somente nos oferece os meios para corrigi-las. Ora,
de egoísmo predador, coroando seu trabalho com a conquista aquele jovem havia recebido estes meios e, em vez de se dar ao
da liberdade conjugal e eximindo-se dos deveres familiares. trabalho de utilizá-los bem, terminou por desperdiçá-los. Esta
Assim, o caminho seguido pelo jovem desde o princípio, era a sua culpa. Todavia ele tinha algumas qualidades, que
segundo suas qualidades, foi-se tornando cada vez mais decisi- constituíam matéria prima para chegar a um melhoramento. En-
vo e evidente, com seu movimento no sentido de desfrutar o es- tão não se podia desprezar aqueles valores, somente porque este
forço dos outros, jogando sobre os ombros da esposa seus pró- jovem, na primeira vez, não passou no exame. Bastava mandá-
prios deveres. Formou-se então uma corrente negativa pronta lo de volta à escola, para que ele se preparasse de novo e, repe-
para se voltar contra ele. Foi assim que os impulsos neste senti- tindo a experiência, aprendesse a lição não compreendida.
do se acumularam gradativamente, até alcançar o momento crí- Foi assim que terminou a fase de benefícios, e a vida se
tico da explosão. Vejamos como isso aconteceu. preparou para fornecer um curso diferente de ensinamentos,
O jovem avançava triunfante, acreditando que vencia facil- desta vez com outros meios, mais persuasivos, porque se tra-
mente, quando, na verdade, engolfava-se em uma negatividade tava de um aluno “difícil de aprender”. Assim se explica por
sempre maior, aumentando a velocidade de sua descida. A vida que a vida passou a usar o método do constrangimento, e não
é utilitária e evita o desperdício, fazendo de tudo para salvar o mais o da oferta. Ela devia fazê-lo experimentar em primeiro
que há de bom em um indivíduo. Portanto ela o ajuda e o favo- lugar os efeitos dos erros cometidos, para eliminar nele a von-
rece na medida em que haja nele um mérito a compensar ou um tade de repeti-los. Eis por que vemos agora aquele jovem ser
real valor a pôr em funcionamento. Mas, quando o indivíduo atingido por uma série de golpes adversos, que o param na es-
está nos antípodas desta posição, pretendendo usurpar com sua trada dos triunfos fáceis, obrigando-o a refletir e a aprender a
negatividade aquilo que não mereceu, a vida então toma uma lição. Chega-se assim a uma nova fase do desenvolvimento do
das seguintes ações: 1) Se o caso é perdido, ela favorece o indi- fenômeno. Trata-se de um trabalho de outro tipo, não mais li-
víduo na via descendente, para que ele a percorra mais rapida- vre, e sim coativo, não mais oferecido, e sim imposto pela vi-
mente e tudo se resolva com o desastre final; 2) Se há alguma da, a fim de que o sujeito não fuja mais ao dever de se corri-
coisa para salvar, ela submete o indivíduo a uma prova neste gir. Depois de uma vitória não merecida, chega a penitência e,
campo particular, de modo que, pelo menos dentro daqueles li- com ela, a compreensão e a redenção.
mites, ele aprenda, corrija-se e salve-se. No primeiro caso, a vi- A história dele já chegou a este ponto, bastante significati-
da o favorece; no segundo, ela o para. Mas o favorecimento é vo. Enquanto escrevemos, estamos observando seu desenvol-
para acelerar o desmoronamento e a obstrução é para realizar vimento. No outro campo de forças, formado pela família de-
uma experiência. Trata-se em ambos os casos de provas desti- la, que, mesmo não sendo seu dever, tem querido ser útil, não
nadas a salvar. Assim a vida resolve os dois casos. há desapontamento, porque seus cuidados para com ele não
Observemos o fenômeno. Temos dois campos de forças. O foram desperdiçados, ainda que o resultado fosse negativo. Is-
primeiro é o campo do predador, com sua posição negativa con- to aconteceu por culpa dele, que então sofria o dano, e não por
tra a justiça, mas justificada pela pobreza dele e pelo seu legí- culpa da família, que havia querido somente fazer o bem e,
timo desejo de crescer, que representa, ao mesmo tempo, certa por isso, recebia o benefício correspondente. Não importa se a
positividade, porque é efeito de sua inteligência, prova de valor positividade do auxílio acabou neutralizada pela negatividade
e mérito individual. O segundo é o campo da família da esposa, das qualidades do indivíduo que o recebeu. As contas com as
que ajuda um jovem a conseguir uma posição e faz isto por um leis da vida são individuais.
impulso benéfico, fazendo-se instrumento da vida, ao oferecer a A história daquele jovem passou de uma fase que parecia
um indivíduo nascido pobre uma oportunidade de melhorar, afortunada a uma de infortúnio. Isso é o que aconteceu de fato, e
como é seu direito, suas condições de vida. demos aqui a explicação. Assim compreende-se não só o signifi-
O problema surge com o tipo de uso que ele faz desta oferta. cado e o escopo da onda inicialmente favorável, mas também da-
A vida lhe dá essa oportunidade porque aquele jovem possui al- quela posteriormente desfavorável. A vida volta a investir, quan-
gumas qualidades para subir. Mas ele não compreende o signifi- do o indivíduo possui qualidades positivas, que ela não quer dei-
cado dela. Não se trata de gozar a vida sem se importar com os xar inutilizadas e que o tornam educável. A potência usada na
meios, por ter saído de um destino de pobreza, nem de fazer jus ação corretiva por parte da vida é proporcional à quantidade de
36 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
negatividade que ela deve vencer, para realizar a correção da tra- Assim, ela chegou à pensão do marido, onde, de outro mo-
jetória errada, de modo a poder sempre triunfar, endireitando-a. do, não teria ido, se o seu carro não tivesse quebrado. Este era o
Eis que o reinicio salvador, constituído de novas provas, autori- fato que a obrigava a pedir emprestado o carro dele, para voltar
za-nos a pensar que, no caso agora tomado para exame, assim para casa. O marido chegou logo depois, acompanhado de sua
como em todos os casos nos quais aquele reinício ocorre, o defei- amante. A separação foi então decidida. Mas ele devia acompa-
to é sanável, sendo possível então, depois de um novo período de nhar a mulher até à casa dela, porque ela estava a pé. Chegaram
ensino e do correspondente exame, prever o bom resultado de to- à garagem na periferia, onde ela havia deixado o carro defeituo-
do este trabalho. Mas estas previsões somente são possíveis so. Então ela simplesmente ligou o motor e o carro funcionou!
quando se conhece a técnica funcional do fenômeno. Não havia nenhum defeito. Ela voltou para casa com o seu pró-
◘◘◘ prio carro, que funcionava perfeitamente, enquanto ele voltou à
Depois de termos visto o caso dele, observemos agora quem pensão com o dele. Assim, silenciosamente e fatal como um
era ela e qual era seu comportamento. Inteligente, trabalhadora, destino, com meios mínimos, mas bem coordenados em direção
correta e autossuficiente, ela concebia o matrimônio como uma a um mesmo fim, tudo se encaminhou para realizar a separação.
união com direitos e deveres iguais para ambas as partes. O velho Quem combinou com exatidão cronométrica todos os pequenos
sistema ditatorial, do machão e da mulher sujeita a ele por direi- acontecimentos, para levá-los a este resultado?
to, justamente pela própria inferiorização da mulher, era para ela Uma primeira observação. A Lei funciona por pequenos
inconcebível. Neste ponto, sendo ele, para sua própria comodi- movimentos, exatos e oportunos, sem nenhum desperdício de
dade, seguidor dos velhos métodos de vida, nasceu o dissídio. tempo e trabalho, sempre com o máximo rendimento para atin-
Ele entendia o matrimônio de outro modo. Assim, transferindo-se gir o fim desejado. Por exemplo: para fazer andar um trem de
para a capital, começou a gozar a vida, gastando consigo mesmo Roma para o Norte ou para o Sul, basta estabelecer-se, na esta-
os seus ganhos e deixando a mulher com a família dela, a quem ção de partida, um movimento de poucos centímetros na dire-
ele reservava apenas as sobras de seu tempo. Porém ele não havia ção dos trilhos. Isso é suficiente para definir a rota que o com-
entendido que a capacidade de resignação de uma mulher que boio depois seguirá. Aquele movimento mínimo é decisivo, to-
trabalha e ganha não é a mesma da mulher submissa de outrora. davia, no momento em que ele acontece, ninguém se dá conta.
Mas ela teve paciência. Enquanto o marido, bem seguro de Mas o chefe da estação, tendo sob os olhos o mapa de todas as
si, usava o velho método, decidido a praticá-lo definitivamente, linhas ferroviárias e conhecendo os efeitos daquele movimento,
ela observava e esperava. Avisou-o, acenando com a separação. pode percebê-lo. Assim também faz a Lei, que sabe o que fazer
Ele arrependeu-se, fez promessas e recomeçou tudo de novo. e por que fazer, para realizar seus fins, segundo seus planos.
Ela queria evitar um rompimento e não o aceitaria senão cons- Então ela os desenvolve com movimentos simples, mas não di-
trangida. Por isso evitava provocá-lo. Enquanto isso, ela proje- vergentes, e sim convergentes em direção ao ponto desejado,
tava montar a casa própria para viver em família. O marido fin- sem erros e sem desperdícios, movidos no mesmo sentido, com
gia consentir, mas nada fazia depois. A mulher começou a per- uma direção única e decisiva. Estamos nos antípodas do siste-
ceber o entrave que representaria para a sua sistematização ter ma humano das tentativas, feito de incertezas, com enorme
consigo um indivíduo que se propunha a outros fins. Ele come- desperdício de meios, porque não se sabe usá-los como se deve.
çava a se tornar um empecilho do qual era urgente se livrar. En- Continuemos a analisar o caso aqui em exame. Narramos os
tretanto o tempo passava, perdido nestas tergiversações, em fatos como eles aconteceram. Resta agora compreender por que
prejuízo dela, que queria trabalhar e construir para si uma posi- eles ocorreram assim. A primeira coisa que salta à vista é a esco-
ção. O momento era crítico e impunha-se uma solução. Mas ela lha de elementos de natureza variada, mas cada qual colocado em
desejava ser honesta e não provocá-la. Como resolver o pro- seu devido lugar, com referência ao fim a ser atingido, manifes-
blema? O jovem estava decidido a continuar seu caminho, ilu- tando uma cooperação de movimentos que cumprem cada um a
dindo a mulher com promessas não mantidas. Ela, porém, não sua função no momento devido, tendo sempre em vista aquele
tinha o dever de se sacrificar somente para prolongar um estado fim. Para se realizarem oportunamente, eles acontecem em uma
de fato que, se era cômodo para um, prejudicava o outro. Neste dada ordem e velocidade, razão pela qual somos levados a pensar
momento, a Lei, por seu princípio de ordem, foi obrigada a in- que o seu desenvolvimento seja dirigido por uma mente que quer
tervir, resolvendo o caso. Observemos como ela funcionou. executá-lo segundo um plano preestabelecido. O fenômeno se
Narremos primeiro o fato, para depois explicarmos a técnica. manifesta decisivamente construído deste modo, fato cuja expli-
Por um senso de dever que a levava a não provocar uma se- cação não pode ser atribuída ao acaso. O cálculo das probabilida-
paração, ela adiava sua decisão, procurando evitar uma solução des não permite senão uma possibilidade ínfima de que todos
neste sentido. Mas as leis da vida sabiam que ela não merecia aqueles elementos tão díspares se combinem ao mesmo tempo,
ser sacrificada. Quem havia falhado no exame e tinha necessi- ligando-se como componentes de um mesmo fenômeno, para
dade de experimentar uma prova corretiva não era ela, mas sim convergir em direção à mesma solução. O fim a ser alcançado,
ele. Então era necessário isolar os dois destinos, para que cada em função do qual o fenômeno se move, é tipicamente positivo,
um, obtendo o tratamento merecido, andasse pelo seu caminho, correspondendo aos princípios de lógica, retidão e bondade, so-
os quais eram neste momento diferentes demais um do outro bre os quais se baseia a lei que rege as construções realizadas pe-
para poderem coincidir. A vida seria contraditória, se houvesse la vida. A mente diretriz sabe o que faz e sabe como fazê-lo. Isto
favorecido a negatividade em prejuízo da positividade. não só prova a sua presença, mas também a sua superioridade,
Vejamos o que aconteceu. inteligência e capacidade de realização. Assim, se quisermos ex-
Numa tarde, ela, guiando seu automóvel, ia de sua pequena plicar os fatos que temos constatado, não nos resta alternativa,
cidade à capital vizinha. Chegando a um primeiro subúrbio, o senão admitir tudo isto. Devemos reconhecer então que tais fe-
automóvel parou. Devia haver um defeito. Isso aconteceu exa- nômenos não somente são dirigidos por uma inteligência que sa-
tamente próximo de um posto onde ela costumava reabastecer o be os objetivos antepostos aos fatos, mas também estão submeti-
carro. O carro foi então empurrado e colocado num estaciona- dos a uma vontade que busca atingir estes fins, sendo preparados
mento. Mas, agora, como ela iria à cidade, estando assim dis- para isso segundo uma técnica funcional apropriada.
tante, na periferia? Era noite avançada. Ela pensou: “Táxi é di- A sabedoria desta mente é demonstrada pelo rendimento de
fícil, e onde poderia encontrar um?”. Mas, quando olhou, viu a tal técnica, que permite obter, com os mínimos meios, o máxi-
poucos passos um táxi vazio. O motorista estava no bar vizi- mo resultado, alcançando o produto máximo utilitário do esfor-
nho, e ela o chamou. Tudo ficou pronto e partiram. ço. Isso corresponde a um inteligente princípio de economia, no
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 37
qual é suprimido o gasto inútil de energias, que, ao invés de se Fechemos o exame deste caso com algumas observações.
dispersarem na desordem, são mantidas dentro da ordem, para Em nossa vida quotidiana, estamos imersos nestas combinações
convergirem em direção ao fim devido. de fatos, porém não os analisamos nem levamos em conta sua
Do exame destas constatações derivam importantes conse- estrutura íntima e seu funcionamento. Paramos na superfície,
quências práticas. Se cada acontecimento ocorre segundo um deixando de ver o pensamento que, escondido no interior, dirige
desenvolvimento lógico, planejado com antecedência, e é orien- estes fatos com uma técnica sutil. Cada elemento é avaliado,
tado em direção a um determinado fim, eis que, conhecendo a controlado e coordenado com os outros elementos do fenômeno,
técnica do fenômeno, é possível prever o seu resultado. O pro- de modo que todos juntos cooperam para alcançar o mesmo fim.
blema é compreender qual é o tipo das forças em movimento e Trata-se de fatos simples, desprovidos de aparato dramáti-
a conclusão para a qual, por conseguinte, a inteligência da vida co e de importância histórica. Tais acontecimentos, por serem
deseja levá-las, dados os antecedentes que esta encontra à sua mais comuns em vez de grandes e excepcionais, estão próxi-
disposição como material de construção do acontecimento. Eis mos de nós, razão pela qual os escolhemos para examinar
que possuímos os elementos para tentar uma futurologia racio- aqui, pois, apesar de corriqueiros e variados, adquirem, se
nal e entender a vida de outra maneira. compreendidos na sua substância, o significado de momentos
Outra consequência está no fato de que, sendo possível pre- do desenvolvimento lógico de um destino. Vemos desse modo
ver os efeitos das próprias ações, pode-se viver um tipo de vida que as grandes leis da vida se manifestam também nas coisas
planificado, e não mais ao acaso. Pode nascer assim um novo mínimas, às quais não damos importância. O que decide o êxi-
modelo de ética, baseado sobre outros princípios. Então o pro- to não é o volume das forças colocadas em movimento, mas
blema da luta pela sobrevivência pode ser enfrentado de três sim a sua qualidade, segundo a qual se forma a corrente posi-
formas: 1) A primeira, a mais antiga e involuída, representada tiva e favorável ou, no caso oposto, negativa e desfavorável.
pela ética da força, com base no direito do vencedor através da As leis da vida são universais e, por isso, permanecem verda-
violência (guerra e assalto – nível material); 2) A segunda, me- deiras e operantes em todas as dimensões.
nos antiga e mais evoluída, é representada pela ética da astúcia, Outra observação. Vimos que, sabendo-se qual o tipo das
com base no direito do vencedor através do logro (força da forças em ação, pode-se conhecer a direção que elas tomam e a
mente – nível intelectual); 3) A terceira, cujo uso ainda não é conclusão à qual devem chegar. Mas isto não basta. Pergunta-
comum, pois é mais evoluída, pertence ao futuro e é represen- mos, agora, quando e como acontece o estabelecimento do im-
tada pela ética da retidão, com base no direito do melhor como pulso resolutivo do acontecimento? Qual é o fato que determina
valor social, enquadrado na ordem coletiva (estado de vida or- o movimento catalisador, encarregado de cumprir a função de
gânico, segundo a Lei – nível espiritual). fechar o percurso da trajetória? Ao longo de seu desenvolvi-
É nesta terceira fase de seu desenvolvimento moral que a mento, nota-se uma tendência de concentração crescente da
humanidade hoje, fatalmente, prepara-se para entrar, levada até convergência dos movimentos das forças em ação, até elas al-
este ponto pela evolução. A violência é o desencadeamento es- cançarem uma posição conclusiva, não mais de causa, e sim de
túpido e cego do ignorante primitivo. A astúcia já é um funcio- efeito. Este ponto de chegada representa o ponto de partida para
namento da inteligência, mas, em sua fase elementar, impregna- o lançamento de uma nova trajetória, e assim por diante. O tra-
da ainda da negatividade do involuído. A retidão significa a jeto de cada acontecimento representa, portanto, apenas uma
compreensão das leis da vida, sendo esta a fase do homem ilu- fase do fenômeno maior, que se percorre por concatenação cau-
minado, em que ele, pelo fato de ter compreendido, colocou-se sa-efeito, dando origem ao desenvolvimento de um destino ou a
na ordem e, funcionando com ela, funde-se na organicidade, pe- uma série deles, que formam a história do mundo.
la qual se torna mais protegido na sua luta pela sobrevivência. É No caso exposto, vimos os elementos em jogo predisporem-
assim que o conhecimento pode produzir consequências hoje in- se na ordem necessária para concluir cada um segundo suas
críveis, pois, induzindo-nos a viver de forma diferente, correta- qualidades, isto é, de negatividade para o jovem e de positivi-
mente orientados em relação ao funcionamento do todo, ele nos dade para a jovem. Mas, enquanto não se verificar uma preva-
permite obter todas as vantagens que tal condição nos oferece. A lência, o tipo do caso não é passível de definição, não sendo
vida nos dará tudo, desde que nós mereçamos, dando garantia de possível saber em que posição ele se resolverá. Certamente, o
sabermos usá-lo para o nosso bem, e não para o nosso mal. fenômeno não pode permanecer para sempre num ponto inter-
É necessário compreender que, nesta nova ordem, a força mediário, no qual a positividade e a negatividade se equilibram
do indivíduo está em coordenar seus movimentos com os de um em medidas iguais. Ele deverá, portanto, chegar a uma preva-
grande organismo, e não em contrariá-los com o seu individua- lência num sentido ou noutro. Neste ponto, o movimento catali-
lismo. Será a força da união que estabelecerá o poder dos novos sador atinge o momento crítico de saturação, resultante da pre-
regimes, pelos quais serão superados os antigos, exaustos pelos valência dos elementos de um tipo ou de outro, como vimos no
atritos oriundos dos contrastes entre aqueles que não sabem co- caso dos dois jovens. Isso significa que o fenômeno, quando se
ordenar-se para cooperar. Então nos moveremos de acordo com forma uma prevalência de elementos positivos, fica saturado de
a Lei e, assim, em vez do dano de sua resistência, teremos a positividade e, então, resolve-se neste sentido, com todas as
vantagem de seu apoio. consequências relativas. Quando, porém, acontece o contrário,
No caso agora observado, a Lei é a favor da esposa, ajudan- o fenômeno fica saturado de negatividade e, então, resolve-se
do-a por esse motivo, mas é contra o esposo, razão pela qual neste outro sentido. Observamos aqui o caso de uma saturação
lhe coloca obstáculos. Aqui podemos assistir à vitória do méto- no sentido negativo, porque o fenômeno se torna mais evidente.
do defensivo com base na retidão sobre aquele apoiado na força Mas como é possível estabelecer mais exatamente o mo-
e na astúcia, que se mostra menos potente, pois, dada a sua in- mento crítico no qual o fenômeno se precipita para a sua con-
volução, é de qualidade inferior. Assim se explica como foi clusão? Quando uma torre, por defeito de fabricação, pende
que, em vez do jovem explorador e provido de astúcia, pôde além de um dado limite, ela, pela lei da gravidade, tomba. As-
vencer a jovem, que era movida pelos princípios da retidão e sim, quando o resultado das forças que compõem um aconteci-
não contava com outro recurso além desta. A revolução hodier- mento é uma impregnação de negatividade além de uma dada
na consiste nesta troca do método de luta pela sobrevivência, medida, então ele, por um princípio de ordem, resolve-se pelo
para alcançar um sistema com base num princípio mais evoluí- negativo. O desequilíbrio somente é tolerado dentro dos limites
do e, portanto, mais vantajoso, que fatalmente prevalecerá. estabelecidos por aquela ordem, levando à ruptura tão logo a
◘◘◘ negatividade, isto é, a posição contrária às leis do equilíbrio,
38 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
prevaleça. Assim como se pode calcular antecipadamente em A mente diretriz do tecelão (a Lei) deixa que o operário traba-
que momento a torre desmoronará, também é possível, conhe- lhe negativamente, a seu modo, mas reservando-se o direito de
cendo-se os elementos do fenômeno, estabelecer como e quan- destruir o trabalho realizado, para obrigar o indivíduo a refazê-
do o caso se resolverá. Se não estiver impregnado e corroído lo corretamente, tudo de novo. Isso para o bem do aluno que,
pela negatividade, então, assim como a torre não desmorona, o por sua ignorância, foi levado a errar.
acontecimento não se precipita. Mas por que este sistema? Porque aqui se trata de uma esco-
O acúmulo dos impulsos negativos, contrários à estabilidade la onde, conforme a analogia feita, deve-se aprender a tecer ta-
e causadores de desequilíbrio, é lento. Forma-se com o abuso, o peçarias bem feitas, com um desenho correto. É necessário,
assalto, o desfrute e toda forma de injustiça. No caso de nosso portanto, permitir ao aluno a possibilidade de errar, mas para
jovem, o movimento catalisador do fenômeno verificou-se ensiná-lo a não errar mais, deixando-lhe a liberdade de lançar
quando ele, com a sua conduta, saturou-o de negatividade além trajetórias erradas, para ele endireitá-las depois, aprendendo as-
dos limites suportáveis, rompendo o equilíbrio estabelecido pe- sim a corrigi-las e a lançar corretamente as novas trajetórias. Se
las leis da vida. Assim, aquele jovem avançava triunfante à cus- os fios de que o aluno dispõe representam as qualidades de sua
ta da família da esposa, sem compreender que estava contrain- personalidade e se o desenho da tapeçaria, resultado da combi-
do débito com a justiça (lei de equilíbrio) e que, quanto mais nação deles, expressa a construção da sua personalidade, reali-
aquela família o ajudava por bondade dela, tanto mais crescia o zada até aquele momento, eis que o trabalho atual de aprendi-
crédito adquirido por ela perante aquela mesma justiça. Quanto zagem serve para a construção de novas e sempre melhores
mais se estica o elástico no sentido da injustiça, tanto mais ele qualidades, com a técnica realizada pela transmissão ao sub-
tende a voltar atrás no sentido da justiça. Isso porque, quanto consciente ou assimilação das provas.
mais um indivíduo se expande à custa dos outros, tanto mais es- Que acontece, então, quando a iniciativa do operário preva-
tes são lesados em seu direito à vida. lece, levando a uma construção errada, que necessita de corre-
Assim, o desequilíbrio foi aumentado, até ocasionar um ção? A Lei toma aquele feixe de forças indisciplinadas e as re-
acerto de contas, com o retorno à posição de equilíbrio, imposto põe em ordem. Expressando-nos segundo os termos da analogia
pela justiça. A violação do jovem não podia deixar de chegar a aqui apresentada, a vida não deixa mais os fios livres para se
um ponto de ruptura, no qual a Lei restabelecia sua ordem, sen- entrelaçarem a seu modo, mas faz cada um deles passar e avan-
do a injustiça do violador vencida pela justiça da Lei. Isso signi- çar aprisionado entre dois dentes de um pente, segundo o qual
fica que o mal feito devia recair sobre os ombros de quem o ha- deve seguir sem escapatória um percurso obrigatório, corres-
via feito, e não sobre o de terceiros inocentes. Isto prova que pondente ao desenho correto. Assim, seja qual for o caso, o re-
somos livres para praticar o mal, mas somente enquanto a Lei o sultado finalmente obtido é aquele desejado pela Lei.
permite, não nos sendo possível praticá-lo até subverter a ordem, Uma primeira observação se refere a conhecer a realidade
que retoma a superioridade, tão logo sejam superados os seus que há por trás desta imagem de fios espremidos entre os den-
limites de tolerância. Assim, em cada acontecimento, é sempre tes de um pente. Surge o problema de saber como a mente di-
necessário fazer as contas não apenas com a nossa vontade e retriz da vida pode levar o indivíduo a agir do modo que ela
atos mas também com a Lei, que é a força diretriz do fenômeno. deseja. Pode-se pensar em uma influência por parte da mente e
Cabe a ela a última e resolutiva palavra, não sendo possível ja- da vontade da Lei sobre a mente e a vontade do indivíduo, de
mais a vontade de desordem vencer definitivamente, o que ame- modo a induzi-lo a um dado comportamento, realizando de-
açaria o êxito da obra e a consecução dos fins da vida. Portanto terminadas ações, das quais deriva a construção de aconteci-
tem necessariamente de chegar o momento no qual o violador mentos específicos. Mas aqui podemos somente expor o pro-
deve pagar seu débito para com a justiça e a vítima deve receber blema, porque nossas indagações ainda não nos oferecem os
o seu crédito. No caso agora examinado, esta é a razão pela qual elementos para resolvê-lo, de vez que se trata de um campo
isto aconteceu. De fato, no momento resolutivo narrado acima, a novo e imenso, ainda a ser explorado.
vida tornou-se para ele uma série de provas e dificuldades, en- Outra observação se refere ao fato de que, para facilitar a
quanto para ela aconteceu o contrário. Esta mudança de rumo compreensão do caso tomado para exame, imaginamos a Lei
não se explica senão pela intervenção por parte da Lei. numa forma antropomórfica, como um indivíduo que pensa,
Tudo isso nos faz ver quão importante é conhecer a Lei e tê- age e, consequentemente, é capaz de intervir no fenômeno, tudo
la em conta na própria conduta, porque é a sua vontade, e não isso, porém, apenas como uma concepção ideológica. Certa-
somente a nossa, que pesa na solução do acontecimento. O re- mente a Lei afirma, mas somente enquanto estabelece aquilo
sultado depende de ambos os impulsos, que estão ativamente que o homem deve fazer e este a nega, querendo agir a seu mo-
empenhados. Para facilitar a compreensão, explicamos o fenô- do. Quem de fato inicia e realiza o movimento é somente o in-
meno através de uma comparação simples. A vida, para atingir divíduo, uma vez que a Lei não se move, mas apenas mantém o
seus fins, costuma seguir um esquema próprio, assim como o ser ligado às consequências de suas ações. Trata-se, portanto,
desenho feito por um tapeceiro. Mas, para fazê-lo, ela dispõe de uma colaboração entre duas posições contrárias, opostas e
apenas de alguns fios, com formas e cores diferentes, que o in- complementares. O indivíduo lança uma trajetória, e a Lei esta-
divíduo, seu operário, quer trançar a seu modo, para formar o belece os resultados do percurso. O ser, porque é ignorante, de-
desenho. Cada um destes fios representa uma das qualidades do ve aprender, movendo-se por tentativas. A Lei, porque sabe e
sujeito, com as quais ele construirá o acontecimento, assim co- quer fixar as normas segundo as quais o homem deve movi-
mo se constrói uma tapeçaria. O desenvolvimento de cada linha mentar-se, permanece imóvel.
corresponde a uma força que avança no feixe a que pertence, Façamos uma comparação. A Lei é a estrada que estabelece
combinando-se com todos os outros fios, para construir o tecido o percurso, e o homem é o automóvel que a percorre. Este pode
da tapeçaria ou o desenho do acontecimento. lançar-se na direção que desejar, mas, se não seguir o percurso
Também escolhemos o caso apresentado aqui, feito de ne- que a estrada lhe traçou, acabará batendo quem sabe onde. A es-
gatividade e situado em posição de conflito com a Lei, porque trada não se move nem faz nada, somente define o caminho.
este contraste o torna mais evidente e facilmente analisável, Mas, se o carro comete um erro, é a estrada que estabelece qual
quando comparado à condição na qual o indivíduo vive segun- o erro cometido, que, segundo a natureza deste, o carro deve pa-
do as leis da vida e faz sua vontade coincidir com a dela. Qual é gar. Trata-se de duas vontades bem definidas, das quais uma se
então a técnica do fenômeno, quando há oposição entre as duas expressa de forma passiva e a outra de forma ativa. A primeira
vontades, cada uma querendo executar um esquema diferente? não faz nada, mas apenas afirma: “Eu sou a estrada”. O homem
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 39
move-se nela, encontrando as normas que devem regular seus dos de repouso na paz dos campos. Quando se ausentava, este
movimentos. Vemos o primeiro elemento representado pelos seu amigo o deixava como dono da casa e com meios para vi-
mandamentos de Moisés e o segundo, pelo povo dos crentes. ver, não obstante encontrar-se em um momento de grandes
Ora, quando o indivíduo se move de acordo com a estrada, preocupações financeiras.
seguindo-a, tudo vai bem. Quando, porém, ele faz o contrário, Em uma destas ausências, verificou-se um defeito na insta-
então sai fora dela e se arrebenta. Não é a estrada que o arre- lação hidráulica, coisa facilmente sanável, especialmente para
benta, mas é ele que se arrebenta ao sair fora dela. Não se trata um mecânico como era aquela pessoa. Paremos um momento
de punição ou vingança por parte da Lei, mas sim de uma con- para observar a posição dos vários elementos que constituíam
sequência da própria má conduta. A Lei não julga, ela sim- aquele caso. Havia surgido um problema. Aquele indivíduo de-
plesmente estabelece. Quem a viola fica automaticamente con- via resolvê-lo e, para isto, tinha de escolher entre as duas estra-
denado aos tristes efeitos de sua violação, assim como quem a das possíveis. Por um lado, ele podia se propor a atingir um re-
segue fica ligado aos efeitos benéficos de sua obediência. sultado próximo e com um fim egoístico, preocupando-se so-
Movemo-nos em um mar de leis e, se não as observamos, mente com a sua vantagem imediata. Por outro lado, ele podia
o prejuízo é nosso. Quando perdemos o equilíbrio e caímos, resolver o caso, visando um resultado longínquo, para vanta-
ninguém pensa que isso seja devido a uma punição. No entan- gem não apenas exclusivamente de si mesmo, mas também do
to somos levados a imaginar o fenômeno sob esta forma, por- amigo que o hospedava. Em outras palavras, ele podia sim-
que ela corresponde aos nossos hábitos mentais. Tende-se a plesmente ir embora, deixando o defeito intacto, abandonado a
atribuir à Lei qualidades humanas, semelhantes às nossas pai- si próprio, de modo que o amigo, quando chegasse cansado do
xões e estados emotivos, enquanto ela, em substância, é abs- trabalho, encontraria a bela surpresa de ter de se submeter à fa-
trata e impessoal. Nas páginas precedentes, para facilitar a diga de consertar tudo, ou então, em vez de não se importar
compreensão, usamos a forma humanizada. Mas agora, para com a sorte do amigo, ele mesmo podia fazer este trabalho, que
evitar mal-entendidos, devemos colocar em foco aqueles con- o dever de piedade e também de gratidão lhe impunha, porque
ceitos com mais exatidão. estava descansado e com tempo à disposição, tratando-se, por-
Agora, podemos compreender melhor aquilo que aconteceu tanto, de trabalho pouco penoso.
ao jovem no caso aqui tratado. Ele simplesmente saiu da estra- Esta escolha devia acontecer no momento em que, aconte-
da, tendo sido o resultado uma salutar lição para voltar a ela. O cendo o defeito, surgia o problema de consertá-lo. Porém tal
movimento catalisador do fenômeno foi uma mudança de dire- decisão dependia de um fato precedente a ela, cujos efeitos le-
ção forte demais. Deste momento em diante, ele não permane- vavam a desenvolvê-la em suas consequências. O fato prece-
ceu mais livre, de modo que seus movimentos indisciplinados dente era a forma mental que aquela pessoa possuía, tal qual ela
foram obrigados a se desenvolver ordenadamente, engrenados se tinha construído em seu passado, estabelecendo seu tipo de
na disciplina da Lei. A jovem, pelo contrário, uma vez que personalidade e qualidades relativas. Os efeitos eram conse-
permaneceu na estrada, não foi obrigada a voltar a ela. Eis em quência de seu comportamento, dado por esta forma mental.
que consiste a intervenção da Lei nos acontecimentos humanos. Os dois caminhos andavam em duas direções, levando a
Foi assim que o rapaz usou e abusou da liberdade, subvertendo- dois pontos diversos, que assinalavam o ponto de chegada em
a. Agindo contra a Lei, sua liberdade foi substituída pela força direção ao qual se movia aquele desenvolvimento de forças.
de coação, através do que ele redimiu-se, assumindo os encar- Nesta concatenação de fases no desenvolvimento do fenômeno,
gos da família. Para a jovem, ao contrário, pelo fato de não se as primeiras causas ligavam-se aos últimos resultados.
ter desviado, não lhe foi exigida qualquer correção, tendo ela Que aconteceu então? Aquela pessoa, segundo a sua nature-
permanecido livre, como era desde o início. za egoísta, pensou somente em si mesma e em sua própria van-
tagem imediata, buscando não ter aborrecimentos e desinteres-
V. SEGUNDO CASO sando-se das consequências. Assim a trajetória daquele indiví-
duo, naquele momento decisivo, no qual podia realizar uma
Observamos agora um caso no qual se pode depreender que correção em vantagem própria, iniciou, pelo contrário, um novo
o mal recai sobre quem o faz. Trata-se de um episódio comum impulso negativo na trajetória em que se encontrava, que foi
da vida, tão simples, que pode parecer banal. Porém é exata- lançada avante. Deste momento em diante, as consequências ao
mente esta sua simplicidade a razão pela qual o escolhemos, longo desta linha se desenvolveram fatalmente.
pois, despojado de acessórios que complicam e distraem, per- Se aquela pessoa fosse de outro tipo, ela teria consertado o
mite-nos ver com maior evidência não só a sua estrutura e sig- defeito e o amigo não se teria assustado com tal hóspede, que,
nificado, mas também o funcionamento da Lei. vendo as coisas erradas, abandonou a casa sem preocupar-se
A Lei funciona em todos os lugares e dimensões, tanto nas com elas e retornou tranquilamente à cidade, pensando somente
grandes como nas pequenas coisas, desde o campo moral até em si mesmo. Assim, alguns dias depois, o amigo voltou ao
ao físico e dinâmico. E é exatamente esta sua potência de pe- campo, encontrando a casa vazia e com os utensílios de uso do-
netração até nas mínimas coisas que demonstra a sua univer- méstico mais urgente não funcionando. Ele havia chegado com a
salidade. A Lei não nos aparece como um Deus sentado sobre família à tardinha, já anoitecendo, cansado do trabalho de toda a
o trono com cetro e coroa, segundo a representação que se fa- semana. E não havia àquela hora, com facilidade, operários para
zia do poder na Idade Média. Também esta imagem se demo- consertar o defeito, sendo preciso procurá-los. Em vez de cear e
cratizou hoje, despindo-se de seu grandioso aparato, mas mos- repousar, era necessário pôr-se a trabalhar sozinho e naquelas
trando-nos em compensação um Deus intensamente vivo, pre- condições. Pesava assim mais uma fadiga, quando já estava can-
sente e operante também nos mais simples e mínimos detalhes sado de outra tarefa. Além disso, ainda havia o temor de que
de nossa vida. Portanto, ao invés de abandonarmos os peque- houvesse despesas a serem feitas, trazendo assim novas preocu-
nos casos, crendo que eles não possam revelar a Lei, como se pações naquele momento de dificuldades financeiras.
fossem separados do funcionamento do todo, buscamos neles Aquele era o presente que, por fazer da casa do amigo sua
exemplos de sua atuação. própria comodidade, a pessoa generosamente hospedada lhe
Eis o fato. Uma pessoa costumava passar algumas semanas havia deixado, sem nem ao menos pensar, depois de haver pro-
de férias hospedada numa casinha de um seu amigo. Pagava o vocado aquele defeito, em fazer qualquer tentativa de consertá-
favor, executando alguns trabalhos. Para ele, obrigado a viver lo. Assim formou-se fatalmente, no ânimo do amigo benfeitor,
sempre recluso na cidade, eram muito agradáveis estes perío- em relação a esta pessoa, a imagem de um indivíduo perigoso e,
40 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
com isto, um impulso de legítima defesa, levando a uma neces- xarão cair tantas vezes quantas forem necessárias para ele
sidade urgente de se livrar dele. A ação não podia produzir se- aprender sozinho. Neste caso, inocência significa somente igno-
não uma reação do mesmo tipo. Os efeitos foram da mesma na- rância, com todas as suas consequências.
tureza das causas que os puseram em movimento. Isto significa Assim se explica por que a nossa vida é uma série de pro-
que, se ele tivesse se comportado de maneira oposta, também vas. A razão para isto é que ela é uma série de coisas a apren-
opostos teriam sido os resultados. Assim ele foi rapidamente li- der. O fato de não sabermos é exatamente o que nos leva à ne-
quidado, perdendo a amizade e os descansos campestres. Caí- cessidade de aprender, para chegar a conhecer. E, se não sabe-
ram-lhe sobre os ombros todas as desvantagens. Se este homem mos, deveremos continuar a pagar por nossos erros, até não er-
fosse diferente e tivesse escolhido a outra estrada, teria aconte- rarmos mais. Assim, se alguém faz o mal, é porque não com-
cido o contrário, tudo em sua vantagem. A contração egocêntri- preende que, com isso, está simplesmente atirando sobre si
ca não se teria produzido na mente do benfeitor, se o beneficia- mesmo o mal praticado, que depois o atingirá. Se compreendes-
do não a tivesse provocado com uma correspondente contração se isto, não o faria. A eliminação do mal, então, não se pode
egocêntrica em sua própria mente. Se, em vez de pensar somen- conseguir senão através do conhecimento, cuja conquista cons-
te em si mesmo, ele tivesse pensado também no seu amigo, este titui assim trabalho fundamental da vida.
teria de igual modo pensado nele e não teria sido induzido a se Concluímos aqui, recapitulando a série das fases interiores
tornar egoísta. Assim o impulso retornou intacto ao emitente. do fenômeno em seu desenvolvimento. Aquela pessoa era
Isto é o que acontece tanto no bem como no mal. Então, a um constituída por um tipo próprio de personalidade, que, dadas
mesmo estímulo cada um responde do seu próprio modo e co- as suas qualidades, não podia funcionar senão como de fato
lhe as consequências do seu tipo de resposta. funcionou. Ao aparecer um problema, esta pessoa o resolveu
Se atentarmos somente ao fato, veremos que não há propor- pela única maneira que lhe era possível, segundo sua própria
ções entre aquele incidente tão pouco importante e o efeito re- natureza. Representando esta uma construção não aderente
sultante do seu desfecho. Mas o que vale neste caso não é o fato aos princípios da Lei, os efeitos alcançados então, em vez de
em si mesmo, e sim o mecanismo da Lei, que ele nos faz ver benéficos, foram maléficos, recaindo sobre o autor daquele
funcionar, mostrando-nos como ela realiza os seus princípios mal. A corrente de forças negativas de um indivíduo é canali-
também nas pequenas coisas, fato pelo qual se comprova a sua zada apenas dentro de seus limites, não podendo mudar a cor-
presença universal. O que levou ao rompimento entre os dois rente de forças positivas do outro, que, se não semeou o mal,
não foi o defeito, caso banal e comuníssimo na vida, mas sim o não pode ser prejudicado. Enquanto o defeito é rapidamente
tipo de conduta com a qual aquela pessoa resolveu o problema sanado para um, cabe ao outro, por sua vez, uma reparação
proposto a ela pela vida. Ora, esse tipo de atitude, tão prejudici- definitiva. Assim o incidente encerra-se de duas maneiras
al para quem assim procede, foi justa naquele momento, porque opostas, mas recebendo cada um igualmente aquilo que mere-
se tratava de uma consequência do que aquele indivíduo havia ceu. Eis que o mesmo fato pode produzir efeitos diferentes,
feito no passado, construindo o seu próprio futuro. É necessário segundo o comportamento de cada um diante dele.
ter em mente que a vida é uma escola na qual quem ignora a Esta concatenação de passado, presente e futuro estabelece
Lei deve, à sua custa, aprender como ela funciona. Então a ino- e nos mostra qual é a linha de desenvolvimento de um desti-
cência do ignorante não é uma virtude, e sim um vazio a ser no, entendido como um futuro preestabelecido. As qualidades
preenchido com a experiência, até se alcançar o conhecimento do indivíduo determinam o seu modo de resolver os proble-
de quem aprendeu e finalmente sabe. mas e, portanto, as consequências que receberá disso. No pas-
Ora, aquela pessoa era inocente e havia cometido aquele er- sado estão as causas determinantes do presente, onde pode-
ro porque ignorava os efeitos que decorreriam dele, pois jamais mos ler qual é o futuro que ele nos prepara. Esta é a razão pe-
os havia experimentado contra si mesmo. Portanto não era cul- la qual se pode prever o desenvolvimento de um destino, pois
pado, como também não o é a criança que ainda não sabe. Mas ele nada mais é senão o desenvolvimento da semente que car-
não saber não significa que não se deva aprender. E é isso exa- regamos conosco. Nada nasce do nada. Qualquer fortuna ou
tamente o que se faz, experimentando-se à própria custa. A infortúnio nos vem do exterior, e de cada coisa não saberemos
aprendizagem, mesmo que seja forçosa e penosa, não é uma fazer outro uso senão o estabelecido pela nossa natureza. As-
punição que se aplica contra o aluno por causa de sua ignorân- sim, um destruidor, seja qual for a fortuna que tenha, fatal-
cia, mas sim a necessária fadiga para ele sair desse estado. Por mente a destruirá. Por outro lado, um construtor, seja qual for
isso a vida não nos poupa esta fadiga, ensinando-nos a lição e o infortúnio que tenha, saberá superá-lo. Vimos então, tam-
fazendo-nos repeti-la, quando não conseguimos compreendê-la. bém num caso comuníssimo da vida, como funciona a Lei e
É assim que a inocência é um defeito do qual devemos nos cor- qual a técnica do fenômeno em relação a ela.
rigir, pois ela significa a ignorância do inexperiente, estado que
implica em outros tantos erros e nas respectivas dores correti- VI. TERCEIRO CASO
vas e instrutivas. A ignorância tem seu lugar apenas como qua-
lidade do primitivo, pois a evolução, quanto mais se avança, Observemos agora um caso do mesmo tipo do precedente,
tanto mais exige conhecimento. mas com tintas mais fortes, definido por uma carga de forças
A vida quer que construamos uma consciência. Quem não a mais potentes. Também aqui, os elementos constituintes do fe-
possui avança por tentativas, experimentando nas zonas inex- nômeno são dois, dados por dois tipos de personalidade opos-
ploradas os efeitos de seus erros e, depois, pagando por eles, tos: um construtivo, que não produz senão o bem a seu redor, e
para aprender assim a não mais cometê-los. Esta consciência se outro destrutivo, que não produz senão o mal. Eles são marido
adquire depois de termos recebido o golpe, que representa a li- e mulher, ambos vivendo na mesma casa, sob as mesmas con-
ção para nos ensinar a não mais repetir o erro. Também neste dições. Porém, sendo de naturezas diferentes, cada um segue
campo moral verifica-se aquilo que acontece nas leis da matéria uma conduta diversa, alcançando resultados finais opostos, que
e da energia. Elas simplesmente funcionam para todos. O fato se resumem, para a mulher, numa vida familiar tranquila e, pa-
de ignorá-las não altera o seu funcionamento. Se o indivíduo er- ra ele, na morte. Observemos como se desenvolve este caso, o
ra porque não as conhece, elas continuam a funcionar, indepen- qual tivemos sob os olhos, para ver sempre melhor como fun-
dentemente do que lhe acontece. Ele paga o erro e assim apren- ciona o mecanismo da Lei.
de a se mover a favor daquelas leis, e não contra elas. Se ele O desenvolvimento do fato nos faz pensar que, para cada
não sabe caminhar, nem por isso elas se modificam, mas o dei- um dos dois tipos, já estivesse assinalado na partida um destino
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 41
com caracteres de fatalidade, ao qual era impossível fugir. Mas, duas filhas para criar e mais um filho doente para manter. O
como já vimos, estes caracteres de fatalidade dependem da es- marido não dava nenhuma ajuda. Aparecia em casa, à noite,
trutura da própria personalidade, que não sabe e não pode mani- bêbado, para gritar e maltratar a mulher.
festar-se senão de acordo com sua natureza, a qual impõe uma Chegaram assim à separação legal. Ele tomou o seu cami-
conduta que, depois, leva àquelas determinadas consequências. nho, para levar a vida a seu modo. Mas, sendo o marido, pre-
A premissa à qual cada um dos dois estava inexoravelmente li- tendia o valor da metade da casa. Isto significava vendê-la, para
gado era a sua própria natureza, que definia a trajetória de sua que ele pudesse desperdiçar em farras metade do dinheiro que
vida, já lançada em uma determinada direção, portanto com fosse obtido, deixando que a família fosse lançada à rua.
tendência fatal a continuar avançando naquele sentido. A fatali- Observemos a linha diferente de conduta das duas partes,
dade de um destino no desenvolvimento de uma vida é estabe- constituindo este o precedente que justifica, segundo a lei de
lecida pelo fato de que o indivíduo, seja qual for o problema a justiça e do mérito, as consequências atingidas depois. A mu-
ser enfrentado por ele, não sabe ver senão com os seus olhos, lher lutou, resistiu e salvou a casa. Nesta fase preparatória e
não pode obedecer senão aos seus impulsos e não sabe compor- determinante da conclusão, que veremos a seguir, cada um
tar-se senão seguindo a sua forma mental. É isso o que aconte- dos dois andava acumulando os respectivos impulsos. Estes,
ce, mesmo quando, tomando a direção errada, porque contra a ao chegarem num determinado ponto de saturação, tornaram-
Lei, o indivíduo é levado a se chocar de encontro à resistência se decisivos e explodiram, resolvendo o caso. Ele, descendo,
dela, que não admite ser violada. percorria decididamente o caminho do mal, que era o de sua
Este é o ponto que desejamos colocar em foco. A vontade perdição. Ela, subindo com fadiga, percorria o caminho do
da Lei é que ajamos a seu modo. Assim, quando o homem sai bem, que era o do seu bem.
da estrada, a Lei o obriga a retornar a ela. Se ele erra, porque O fenômeno caminhou assim, amadurecendo sempre mais
não tem consciência da presença dela, a Lei o obriga, à força na direção própria de cada um dos dois indivíduos, até que a
de provações, a adquirir aquela consciência. As provações que última gota fez transbordar o copo. Isso foi devido a um inci-
se devem superar no processo evolutivo têm exatamente esta dente banal, mas que funcionou exatamente como catalisador
finalidade. A técnica do fenômeno é automática. Quando se resolutivo do caso. Ele, para viver ainda mais a seu modo, ti-
comete a violação, chega a correção. A não verificação deste nha ido morar numa vila vizinha, perto dos pais, e continuava
fato significaria paralisar a evolução, o que seria a falência da a beber, piorando sempre. Andava assim perdendo cada vez
vida diante de seu fim maior. A Lei sustenta quem concorda mais o controle de si mesmo. Uma noite, dominado pelo álco-
com ela, mas resiste a quem pretende seguir uma vontade con- ol, saiu de casa, cometendo loucuras ofensivas à ordem públi-
trária à dela. É inútil procurar impor-se. A quantas leis tiveram ca. Chamaram a polícia, e os pais o entregaram a uma ambu-
que obedecer os astronautas que foram à Lua! E se uma delas lância do pronto-socorro. Então ele foi levado ao hospital e,
não tivesse sido obedecida, isto poderia significar a morte. É depois de duas horas, estava morto. Assim o caso foi resolvi-
por esta mesma razão que o indivíduo, quando quer fazer o do de modo rápido e definitivo.
mal, indo contra a Lei, expõe-se a toda espécie de dificuldades, É certo que ele não queria ir ao encontro da morte, mas sim
não tendo outra saída senão suportá-las. de seus prazeres. Para fazer isto, ele não tinha levado em conta
É esta inexorabilidade e potência da Lei, ao impor sua fér- o mal que fazia aos outros. Então, em um dado momento, en-
rea disciplina, o que mais impressiona quem chega a compre- trou em função a Lei com sua justiça. A culpa deste homem era
endê-la. Tal indivíduo, porém, conforta-se, constatando que se ignorar que, com seu egoísmo, ele arruinava uma família. Tal-
trata de um poder segundo a justiça, razão pela qual, para o vez ele não tivesse consciência de tanto mal. Porém, mesmo
homem justo, ela não representa qualquer ameaça, mas sim, que ele fosse inocente por ignorância, nem por isso a Lei pode-
pelo contrário, o conforto de uma proteção. Em suma, a Lei é ria deixar de funcionar, omitindo-se de ensinar-lhe a lição ne-
uma máquina cheia de engrenagens. Se nós nos colocarmos cessária, para que, com esta experiência, ele eliminasse a sua
no lugar devido, elas nos levarão adiante, para nossa vanta- ignorância e se tornasse, assim, consciente. Exatamente porque
gem, mas, se nos colocarmos em posição contrária ao seu mo- ele ignorava as consequências de suas obras, é que ele devia
vimento, elas nos destruirão. aprender a conhecê-las. Exatamente porque a criança não sabe
Foi isto que aconteceu no caso agora tomado para exame. caminhar, é que ela deve cair, para aprender a andar. E não se
A garantia de segurança nos é dada pelo fato de que, se pu- pode pretender que as leis de equilíbrio cessem de funcionar,
sermos os precedentes no sentido do mal, esse será por nós para impedir que a criança caia. A Lei é justa, respeitando o fa-
colhido, mas, se pusermos aqueles precedentes no sentido do to provocado pelo indivíduo e as consequências que dele deri-
bem, as consequências para nós somente poderão ser boas. vam. Se a ele adveio o mal, isto aconteceu porque ele se pusera
Compreendido o funcionamento da Lei, podemos levá-la a em uma posição errada, na qual deve aprender a não se colocar
nos dar aquilo que desejamos e que nos pertence, por o termos mais. Quando ele vier a escolher o bem em lugar do mal, nada
merecido. Ter conseguido provar experimentalmente a verda- mais lhe poderá advir senão o bem.
de deste fato, entendendo-o racionalmente, é suficiente para Aqui, podemos acrescentar que a Lei, para obrigar a apren-
dar à conduta humana algumas diretrizes novas, com resulta- der, não apenas submete à prova o inocente, que é assim por ser
dos favoráveis sem precedentes. ignorante, mas também quer que o indivíduo seja bom, pelo fa-
Mas voltemos ao caso aqui em exame. Se este difere do to de saber fazer bom uso de sua força, e não porque é um fra-
precedente pelas dimensões do fato, permanece, porém, imu- co. Então a virtude não consiste em não possuir armas, mas em
tável o princípio pelo qual tudo corresponde ao mérito, esta- tê-las e saber operá-las com uma finalidade de bem. Frequen-
belecendo-se consequências proporcionais às causas postas temente se considera bom quem é apenas inócuo, quando se tra-
em movimento pelo indivíduo. Ele, o marido, não era nada de ta de alguém que somente é assim por ser inepto. A Lei quer o
bom. Possuía uma loja que bastava para viver, mas que, devi- homem forte que faz bom uso da sua força. Não vale a bondade
do à negligência e aos erros, ele teve de abandonar. Então se dada pela impotência de ser mau, nem o pacifismo de quem não
meteu a ser barbeiro, enquanto ela trabalhava como emprega- sabe lutar. Não é virtude não fazer o mal somente por falta da
da doméstica. Mas ele era dado ao álcool, desperdiçando o força necessária para fazê-lo.
pouco que ganhava, enquanto ela trabalhava duro e economi- O que é admirável no caso que agora examinamos é ver
zava. Assim, com suas economias, ela conseguiu comprar um como, num átimo e com um só movimento, a Lei desatou defi-
terreno e construir uma casinha. Além disso, tinha a seu cargo nitivamente todos os nós do problema, segundo a justiça. A Lei,
42 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
sem coagir aquele indivíduo, deixou-o andar por si mesmo em para ele. Isso nos explica como foi exatamente que se deu o
direção à própria liquidação. Guiou assim os dois elementos acontecimento. Em sua idade, era necessário que ele tomasse
opostos – de um lado o marido, de outro lado a mulher e a famí- uma decisão. Permanecer naquelas condições significava piorar
lia dele – cada um em direção à solução que os esperava, segun- cada vez mais, até atingir a velhice sozinho, abandonado e pobre.
do a justiça. Desse modo, a Lei eliminou a presença do indiví- Se a Lei desejava salvá-lo, deveria fazê-lo imediatamente. A mãe
duo negativo e o dano que dele derivava, suprimindo este ho- envelhecia e, nas suas condições de saúde, em vez de ser um au-
mem, que não tinha direito à vida, e libertou daquele mal a parte xílio, tornava-se um peso sempre maior. Os indivíduos de seu
boa, constituída pela mulher e pela família, salvando quem tinha ambiente, aproveitando-se de sua bondade, tornavam-se cada vez
direito à vida. Desse modo, tudo foi sistematizado e a mulher mais audaciosos e maléficos em prejuízo dele, que, assim, encon-
pôde continuar em sua casa, para criar a sua família. Foi assim trava-se continuamente atacado por eles. Havia neste caso, como
que, atingido este seu escopo benéfico, a Lei resolveu o proble- nos outros também, o setor das forças do mal, mas composto de
ma, dando a cada um segundo seu mérito, como quer a justiça. grãos de poeira de elementos negativos, cada um de per si de
Estes exemplos nos mostram um ponto de fundamental im- pouca importância, mas danosos em seu conjunto. Nestas condi-
portância, dado pelo fato de que a Lei funciona obedecendo a ções, o caso se tornava cada vez mais grave para o jovem.
um princípio de justiça. É assim que, embora os casos narrados Observemos agora como funciona a Lei. Ela resolveu o
aqui por nós sejam diferentes, encontramos constantemente este problema no sentido completamente positivo, benéfico para o
fator, tanto na técnica resolutiva do fenômeno, como na espinha jovem, salvando cada coisa e satisfazendo de um golpe todas
dorsal ou fio condutor de seu desenvolvimento. Este fato se ex- as exigências, de forma adequada e em perfeita ligação com a
plica, porque faz parte da lógica da Lei, estando implícito, co- natureza do caso. Aquele indivíduo carecia de uma defesa que
mo um seu momento, no princípio de ordem que tudo rege. o protegesse na luta pela vida. Este era o ponto a ser defendi-
Sem tal princípio, tudo seria caos. É exatamente por causa deste do, e a Lei demonstrou conhecê-lo. Quando moço, ele ficou
princípio de justiça que o indivíduo, quando tiver cumprido noivo de uma moça conterrânea, parente sua, mas depois a
seus deveres perante a Lei, poderá exigir dela os seus próprios coisa, por circunstâncias várias, parou, como se quisesse ficar
direitos, porque sabe que ela é justa e os respeita. guardada para este momento, quando o noivado se reavivou e
Ainda que vagamente, o homem já percebeu a necessidade se concluiu. Então eles se casaram.
de uma justiça verdadeira e completa, que, suprindo as defici- Ela parecia feita sob medida para cumprir a tarefa para a
ências em relação à justiça humana, represente a última e re- qual a Lei a chamava. Inteligente, trabalhadora e honesta, de
solutiva fase de cada vicissitude. A mente sente instintiva- temperamento prático e bastante ativa, juntava-se no sentido do
mente que, se a injustiça devesse triunfar definitivamente, a bem às qualidades dele, enquanto as completava nos seus pon-
vida seria um fruto do mal e, por isso, invoca a mão de Deus. tos fracos. Assim, os dois elementos foram unidos por uma per-
Assim, imagina outros códigos, outras injustiças e outros tri- feita complementação, convergente em cada ponto no sentido
bunais espirituais, apoiando-se na concepção apocalíptica de positivo. Dissemos que o elemento negativo não tinha tomado
um juízo final. Mas ficamos no incerto terreno da fé das reli- um corpo definido em um só indivíduo, mas se encontrava em
giões. Teve-se assim a intuição da presença de outra justiça, estado indefinido, disperso em vários elementos mínimos sepa-
de natureza super-humana, mas não se soube analisá-la positi- rados, condição que facilitou sua liquidação. Eles, de fato, fare-
vamente, nem se descobriu a chave para fazê-la funcionar. A jando o novo ambiente, desapareceram por si mesmos, pouco a
maior revolução de nosso século é que a moral sai do campo pouco. Assim, o procedimento foi automaticamente levado
religioso e da incerteza que a caracteriza, para se tornar uma avante em pequenas doses, o que tornou desnecessário um pro-
técnica racional da ética, na qual a formação do mal é diag- vimento explícito por parte da Lei.
nosticada, prevista e estudada, permitindo evitar suas conse- Permaneceu visível em campo a vitória do bem. Sob a nova
quências, desde que as causas também sejam afastadas. Será direção, entregue à mulher, organizou-se a nova família. Ela
descoberto então que, em nosso mundo, existe igualmente juntou seu salário ao do marido com cuidadosa economia, e
uma justiça verdadeira e completa, devida à presença da lei de ambos conseguiram comprar uma casinha, elevando seu nível
Deus. Mas, para chegar a isto, é necessário ter compreendido social. Tudo mudou do mal para o bem. A Lei havia consegui-
seu funcionamento, colocando cada coisa no seu lugar. do, com uma pequena combinação de elementos preexistentes,
salvar uma posição que ameaçava atingir um final desastroso.
VII. QUARTO CASO Porque a Lei quis salvar a situação com este seu movimento?
Certamente não é possível atribuir ao acaso uma coisa assim
Vejamos agora como funcionou a Lei em outro caso. Des- tão bem feita, segundo a bondade e a sabedoria da Lei.
ta vez, não temos dois elementos opostos, onde um segue o A primeira razão que levou a Lei a operar este salvamento
caminho do bem, conseguindo um resultado para ele positivo, foi o mérito do indivíduo. Se ele tivesse merecido o contrário,
e outro segue o caminho do mal, conseguindo um resultado ela teria feito o oposto. Neste caso, então, vemos a aplicação do
para ele negativo. O caso agora é mais simples, pois temos princípio do mérito. É verdade que aquele indivíduo era fraco e
somente o primeiro elemento, aquele que termina bem, tor- devia ser corrigido neste ponto. Mas a sua fraqueza era só em
nando-se secundário o outro. favor dos outros, por excesso de bondade e altruísmo. Este seu
Trata-se de um jovem de cerca de 35 anos, que vivia só defeito, então, continha o germe de uma grande virtude, muito
com a mãe idosa, a quem era muito afeiçoado. Era trabalha- pouco comum, mas cuja aquisição será indispensável a todos no
dor, fiel e honesto, mas não sabia ser egoísta no sentido de futuro estado de coletividade orgânica, do qual a humanidade
pensar somente em si. Não se pode considerá-lo um fraco, está sempre mais se avizinhando. Então, se este era seu defeito,
apenas porque, em sua generosidade, corria primeiramente a ele já lhe havia sofrido bastante as consequências. Mas, neste
favor dos outros, antes de cuidar de si mesmo. Como resulta- caso, mais do que um defeito a ser eliminado, tratava-se de uma
do disso, qualquer um que se avizinhasse dele aproveitava-se virtude a ser desenvolvida. Foi assim que a Lei, em vez de re-
de sua bondade, utilizando-a em vantagem própria. Ele não primi-la, ajudou-a, procedendo ao salvamento do jovem. Ela fez
fazia mal a ninguém, os outros é que faziam mal a ele. Não todos os seus cálculos na avaliação das forças que se moviam no
fazia vítimas, pois a vítima era ele mesmo. fenômeno e, se funcionou da maneira que o fez, isto significa
Encontrava-se assim perfeitamente colocado perante a Lei, que, neste caso, existiam impulsos positivos, dados por valores
razão pela qual, neste caso, ela devia intervir em sentido benéfico com este sinal, que impunham uma intervenção neste sentido.
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 43
Neste ponto, vemos na Lei a presença de outro princípio apli- concebê-lo nem compreendê-lo senão ao nível de sua forma
cado por ela em sua economia: o princípio de retidão e justiça, mental emotiva, ligando-o ao prodígio e a construções mitológi-
pelo qual são protegidos e ajudados os valores que devem ser cas, que eram consideradas como realidade. Aqui enfrentamos o
respeitados, para produzirem o seu maior rendimento. O elemen- mesmo problema, mas com outra forma mental, para chegar a
to bom é um valor positivo, feito para frutificar, e não para ser resultados positivos e adquirir uma certeza que a fé, sozinha,
desperdiçado. E a Lei, por coerência, não pode deixar de aplicar não pode dar. Não queremos negar, mas sim aperfeiçoar. Substi-
este seu princípio. Ela não pode contradizer a si mesma e, por is- tuir o sonho por um conhecimento objetivo, apoiado sobre fatos,
so, quando contém uma norma, é a primeira a lhe ficar sujeita. Se é sem dúvida um progresso. Respeita-se o coração, mas contro-
assim não fosse, ela não representaria um princípio de ordem, la-se a mente. Elimina-se a elasticidade que o sistema da fé
mas sim de desordem, que, em vez de manter tudo organizado permite, suprimindo assim a possibilidade de acomodações, que
dentro de uma disciplina, terminaria por desintegrá-lo no caos. já não são mais admissíveis em um regime mental de positivida-
Isto é o que o homem desejaria fazer com seu egocentrismo. Mas de. Isto não significa negar, mas sim acrescentar e aprofundar, a
ele, quando viola a Lei, tem o poder de arruinar somente a si fim de apoiar-se em bases mais sólidas e seguras.
mesmo, e não de interromper o funcionamento dela. A vantagem que se obtém de tudo isso é descobrir algo situ-
A Lei é a primeira serva dos princípios sobre os quais se ba- ado acima de todos os valores humanos. Antigamente, a ques-
seia. Ela é a primeira a pô-los em ação, porque não pratica de tão fundamental era crer, problema que cada um resolvia a seu
modo diferente aquilo que prega. É justamente pelo fato de ser modo, podendo afirmar aquilo que quisesse, porquanto não
lei que ela se sente autorizada a exigir observância dos outros, existia nenhum controle positivo. Este fato explica a diferença
porquanto primeiramente a exige de si mesma. Cai assim com- entre as opiniões, cada uma se proclamando como a única ver-
pletamente o conceito humano de autoridade usada em vanta- dade e condenando como erro as outras. O terreno religioso é
gem de quem comanda para impor-se aos próprios dependentes, um campo minado de exclusivismos e antagonismos. É por isso
sendo substituído por outro método, no qual comandar é fazer que a visão da verdade, quanto mais se tornar objetiva, ligando-
primeiro o que se exige dos outros. Este é o novo conceito de se à realidade como faz a ciência, tanto mais poderá tornar-se
autoridade que a Lei nos ensina. única e igual para todos. Esta realidade é dirigida pelo pensa-
Esta é uma das coisas que nos diz a análise dos casos obser- mento divino, que organiza o funcionamento dela em cada
vados aqui. Estamos desmontando o mecanismo da Lei para ver tempo e lugar. Trata-se, portanto, não de um produto desta ou
como ele é feito. A diversidade dos casos nos mostra a diversi- daquela mente humana, mas sim de uma verdade objetivamente
dade dos modos pelos quais a Lei pode proceder. Porém o leitor verdadeira e universal, porque está escrita nos fatos, nos quais
deve ter notado que seu funcionamento nestas diversas posições ela pode ser lida. É a verdade da qual o homem novo tem ne-
repete-se de acordo com um mesmo princípio, segundo o qual, cessidade e que ele está procurando desesperadamente. O vácuo
o bem é ajudado a vencer, o mal leva à ruína, os valores positi- espiritual no qual ele está sendo lançado pelo desmoronamento
vos se lançam em direção oposta àquela dos negativos etc. É do velho mundo é um abismo que faz medo. Todavia é necessá-
natural que, apesar dos casos serem tantos, os princípios sejam rio ir em frente, porque se torna cada vez mais inaceitável o fa-
poucos e fundidos em unidade, repetindo-se em cada caso. to de ter que viver com a psicologia adotada no passado.
Esta é a razão pela qual, tantas vezes, pode parecer que nos Alcançando-se o conhecimento da Lei, sabe-se que há um
repetimos nesta obra. Estamos fazendo um trabalho de análise em plano e uma meta tanto para a vida individual como para o todo;
que a observação é tanto mais comprovada, quanto mais numero- sabe-se que há uma ordem, uma salvação e meios para atingi-la;
sos são os casos com os quais os princípios são postos em contato sabe-se que se pode contar com a Lei; sabe-se tudo isso não por
e confirmados pelos fatos. Eis a necessidade de repetir a observa- uma fé que oscila sempre na dúvida, mas pela segurança que de-
ção. E a cada uma delas, perguntamo-nos: mas é mesmo verdade? corre da análise do problema e do conhecimento da técnica fun-
A exposição que fazemos aqui não é de teorias filosóficas damental do fenômeno. Trata-se de uma religião que não se pode
ou religiosas, mas sim de princípios que envolvem a realidade. mais acusar de ser o ópio dos povos, pois constitui, ao contrário,
O escopo desta obra é didático, e não literário. Então fazemos o um despertar da consciência, baseado no conhecimento. Não se
leitor assistir ao nosso trabalho de pesquisa, que necessita ser trata então de uma heterodoxia, porque aqui, pelo contrário, pro-
bem controlado antes de poder ser definitivamente afirmado. curamos abrir sempre mais os caminhos do espírito, buscando fa-
Em primeiro lugar, procuramos persuadir a nós mesmos e, co- zê-lo tornar-se a grande força que nos levará a vencer na vida.
nosco, os leitores, porque as conclusões, além de serem graves, Uma demonstração clara é o único meio para evitar a descrença.
também mudam, se forem verdadeiras, o fundamento de tudo. Uma coisa é crer, outra é saber; uma coisa é a dúvida de quem
Por isso, a cada passo, voltamos a olhar sob um ponto de vista não tem certeza, outra é a segurança de quem está convencido
diferente, a fim de nos assegurarmos de sua veracidade. porque observou e compreendeu. Finalmente, uma contabilidade
Esta repetição corresponde a movimentos de sentido único clara com Deus, dotada de uma providência cujo modo de funci-
nos vários casos. Tal fato nos revela a presença de um ponto onar já se conhece e na qual se pode logicamente confiar, permi-
comum, estabelecendo uma “constante” que exprime os princí- tindo-nos provocar resultados com os quais se pode contar, por-
pios diretivos da Lei. A repetição se deve à contínua presença que nos pertencem por direito, segundo a justiça da Lei.
desta “constante”. A observação de uma casuística pode permi- Como dissemos, foi modificada não a realidade dos fatos, a
tir-nos chegar ao conhecimento do pensamento que aparece na- qual é sempre a mesma, mas sim a mente, que a vê e é capaz
quela constante. É assim que, conhecendo aquele pensamento, de compreendê-la. A lei sempre funcionou como agora a ve-
poderemos saber qual será o funcionamento da Lei para nós no mos, porém não se tinha consciência deste seu funcionamento.
futuro, prevendo os acontecimentos que virão ao nosso encon- Sempre estivemos todos imersos na ordem universal, mas nun-
tro, segundo a premissa que propusermos com nossa conduta. ca a analisamos para nos tornarmos conscientes de sua estrutu-
Estes conceitos nos colocam diante da vida em uma posição ra e sabermos nos mover nela. O que mais impressionará o
diferente daquela assumida pelo homem no passado. Isto não homem novo será descobrir esta presença universal de um
significa que a substância da verdade possa ser mudada. Esta pensamento diretivo, tocando com as mãos esta realidade, até
permaneceu a mesma de antes. O que muda hoje é o modo de chegar ao diálogo e obter resposta, para adquirir enfim consci-
vê-la, resultando numa forma diferente de enfrentar e resolver a ência de que não está, como pode parecer, perdido em um uni-
mesma questão. Frente ao problema do funcionamento da vida, verso indiferente a ele, mas que é cidadão dele, estando fundi-
a humanidade do passado, dado o seu estado infantil, não podia do e funcionando em sua organicidade.
44 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
VIII. QUINTO, SEXTO E SÉTIMO CASO pejo do intelecto, que tende a compreender como Deus desen-
volve Sua obra. Estamos observando aqui o pensamento de
Até aqui temos visto apenas alguns casos escolhidos entre os Deus, o qual se expressa para nós através do funcionamento da
muitos que observamos de perto. Veremos ainda outros. Entre Lei, na medida em que ele nos é acessível, conforme a altura de
estes, o leitor poderá encontrar elementos que se referem a ele, nosso nível mental. Isso implica que o indivíduo mais evoluído
por serem afins com sua posição. Como os casos são muitos, não poderá ler naquele pensamento muito mais coisas. E isso acon-
podemos relatar aqui todos os que examinamos. No entanto veri- tecerá no futuro, sem dúvida.
ficamos que eles também confirmam os princípios aqui expostos As experiências que executamos aqui, analisando vários ca-
na interpretação da Lei. Observamos que, na técnica de seu de- sos, são questões que propomos àquele pensamento, cuja res-
senvolvimento, há algumas características constantes. Cada caso posta nos é dada através dos fatos verificados. O acontecimento
assume um significado determinado, caminhando direto na dire- final nos expressa a conclusão de um raciocínio que, seguindo o
ção de nosso bem ou de nosso mal, segundo as premissas que desenvolvimento do caso, podemos conhecer, observando-o em
propusemos no seu início. Quando se trata de ascensão, ele se suas diversas fases. É assim que, por via experimental, apoia-
conclui com uma experiência completa no final da prova reden- dos na robustez da casuística, podemos estudar o comportamen-
tora, resultando numa conquista espiritual que nos leva mais para to seguido por este pensamento em diversas posições diferen-
o alto. Depois da fadiga, este é o momento radioso da iluminação tes, até descobrir o seu fio condutor, identificando os princípios
e da festa de libertação de uma dose de mal que nos mantinha em e os métodos seguidos por ele. É desta forma que procuramos
baixo. Neste instante, o sofrimento é premiado com alegria. executar aqui o nosso diálogo.
Temos sob observação alguns casos nos quais constatamos Na realidade, ainda que de uma forma tanto mais rudimen-
que o desenvolvimento dos mesmos vai-se verificando na tar, quanto mais se retrocede na evolução, o diálogo sempre
forma prevista. É impressionante ver a confirmação nos fatos, existiu, expressando os inevitáveis contatos com a Lei, que fa-
quando, conhecendo a técnica da Lei, verifica-se de perto que lava com os fatos, mesmo se os homens não os compreendiam.
o desenvolvimento do caso confirma as previsões deduzidas As ações e reações recíprocas eram as ideias trocadas naquele
com antecedência, por um cálculo completo e exato. Mais in- diálogo. Somente quando nos tornamos adultos e adquirimos
teressante ainda para cada um é a observação dos casos que olhos para ver, é que chegamos a perceber que Deus existe de
lhe dizem respeito, em sua vantagem ou em seu prejuízo. verdade e está realmente trabalhando ao nosso lado.
Quando atingimos a maturidade necessária para chegar a Para tornar compreensível este fenômeno, expomos no pre-
isto, sentimos que fazemos parte de uma grande engrenagem, sente livro uma progressão de casos nos quais a percepção des-
dirigida pelo pensamento de Deus; sentimos estar realmente ta presença e a nossa coparticipação em seu trabalho se faz
em suas mãos, mas vendo aquilo que elas fazem e porque o fa- sempre mais evidente. No tipo dos casos observados até aqui, o
zem. O isolamento não está na ordem das coisas, mas no ego- sujeito simplesmente se submete à Lei, pois ele apenas provoca
centrismo humano, que leva ao separatismo. E é belo constatar o funcionamento dela através das causas geradas pela sua pró-
como tudo é útil e justo para cumprir uma função, quando está pria conduta. Então é passiva a atitude do sujeito, que tem de
colocado em seu lugar. Abre-se assim a visão de um caminho aceitar o fato inevitavelmente, sem perceber a razão de tudo is-
imenso, já percorrido e ainda a percorrer. Então Deus não é so. Mas, em um nível mais avançado, o comportamento do in-
mais um mito longínquo, relegado aos céus, mas é a certeza de divíduo pode tornar-se de coparticipação ativa com a Lei, em
quem o sente presente e operante entre nós. proporção à sua capacidade, conforme o grau de evolução atin-
Neste ponto, em que se chega à sensação da Sua presença gido. Podemos assim estabelecer uma graduação ascendente de
e à constatação da Sua atividade, é possível então, como já foi casos, cujos tipos mais simples são representados pelos que ob-
mencionado (Cap. 1), estabelecer um diálogo. Cada um, po- servamos até aqui. Mas, em todos eles, a Lei permanece sempre
rém, somente sabe compreendê-lo a seu nível. O primitivo, a mesma, funcionando tal qual ela é. O que muda é a conquista
através da lenda e da fé; o mais desenvolvido, através do inte- progressiva de consciência por parte do indivíduo, com a qual
lecto. Ninguém pode usar outra linguagem senão a do seu ele conquista autonomia e poder diretivo, uma vez que muda a
plano de evolução. Mas, qualquer que seja a altura na qual o sua posição diante da Lei. Eis a graduação.
ser se encontra, restará sempre uma diferença imensa em rela- Primeiro tipo de casos – A Lei funciona, mas o indivíduo a
ção à altura do outro termo, que é Deus. A linguagem se regu- ignora. Ele se põe no caminho do bem ou do mal e sofre cega-
lará pela altura do interlocutor, permanecendo sempre ele- mente as consequências, dando para isso a explicação que melhor
mentar. Assim o diálogo será aproximativo, mas poderá efetu- lhe agrada imaginar. Ele não assume qualquer direção do fenô-
ar-se, porque em Deus estão todos os níveis de evolução e, meno, que permanece totalmente confiado à Lei. Assim, nas dire-
portanto, a possibilidade de responder na linguagem de cada tivas de sua vida, o indivíduo não alcança nenhuma coparticipa-
um. Se o menos não contém o mais e, por isso, não pode atin- ção consciente no funcionamento da Lei, que lhe é imposta com o
gi-lo em sua plenitude, o mais contém o menos e sabe expres- método da atração-repulsão, baseado em gozo-dor, prêmio-
sar-se e funcionar também nas dimensões deste. punição, paraíso-inferno etc. O conteúdo do fenômeno se reduz,
De um lado, temos o absoluto, onde está a verdade com- então, a uma simples contraposição entre o elemento positivo do
pleta e perfeita. De outro lado, temos a aproximação das infi- bem e o negativo do mal, sendo submetido à intervenção final da
nitas verdades do relativo no caminho da ascensão, em dire- Lei, que conclui com justiça, segundo o que foi merecido.
ção àquele absoluto, sua meta final. O absoluto está imóvel na Esta posição representa a fase mais elementar do fenômeno,
plenitude de todos os seus atributos, enquanto o relativo se aquela que podemos chamar de ignorância e passividade. Os
transforma continuamente, porque está caminhando para che- quatro casos até aqui observados são deste primeiro tipo.
gar àquela plenitude. A verdade humana é relativa e progres- Segundo tipo de casos – A Lei funciona, mas o indivíduo a
siva e, à força de subir, busca alcançar o absoluto, que está à conhece e, por conhecê-la, não se submete mais cegamente, em-
espera de ser por ela atingido. Dado tudo isto, eis que, com bora ainda o faça passivamente. Isto quer dizer que ele a com-
cada um falando de sua posição a linguagem de seu nível, é preende, vê o funcionamento, tem uma explicação para o acon-
possível o diálogo, cujo valor e perfeição dependem, logica- tecimento e pode até mesmo chegar a prever seu desenvolvi-
mente, do plano evolutivo atingido pelo indivíduo. mento, mas ainda não sabe intervir nele. Este indivíduo já tem
Na forma mental explicada aqui, o diálogo não é só mani- consciência da Lei, mas ainda não chegou ao ponto de poder as-
festação de sentimento e prece invocativa, mas também um lam- sumir ao lado dela uma coparticipação na direção do fenômeno.
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 45
Esta posição representa uma fase superior à precedente, norando o golpe preparado. O plano não fora levado ao conhe-
sendo própria daqueles indivíduos mentalmente mais desenvol- cimento dos dirigentes e, por isso, sua realização seria fatal. En-
vidos. Podemos chamá-la de fase do conhecimento e previsão. tão, como resolver o caso para o bem de todos, se, do lado ne-
Terceiro tipo de casos – Este representa uma posição ainda gativo, estava tudo organizado e pronto para ser cumprido?
mais avançada de compreensão por parte do indivíduo diante da Eis o que aconteceu. O visitante foi introduzido no escritó-
Lei, correspondendo a um grau mais elevado de consciência. O rio do amigo. Enquanto aguardava, seus olhos recaíram sobre
resultado lógico da evolução é, efetivamente, conquistar a ver- uma carta deixada em cima da mesa. Seu olhar fora atraído pelo
dade representada pela Lei. É assim que se avança gradativa- selo postal, que o interessava, porque era colecionador. Mas ao
mente, dando neste caso ainda um passo à frente. tocar aquela carta, observou o cabeçalho do envelope, que mos-
No primeiro tipo de casos, a técnica da Lei existe e funcio- trava a origem da mesma, indicando que ela se originava de um
na, mas o indivíduo não a conhece, e só lhe resta a alternativa dos elementos do grupo.
de segui-la. É a fase da ignorância. Então o visitante, visto que o assunto lhe dizia respeito, leu
No segundo tipo de casos, o funcionamento da Lei é conhe- a carta e encontrou descrito o plano de assalto daquele indiví-
cido e o seu desenvolvimento é previsto, mas não há qualquer duo. A campainha de alarme havia soado. A Lei intervinha no
intervenção do indivíduo na direção daquele desenvolvimento. momento preciso, para fazer tudo convergir em outra direção.
É a fase do conhecimento e previsão. O visitante levou a carta e imediatamente tomou suas providên-
No terceiro tipo de casos o indivíduo, conhece a Lei, prevê cias, interrompendo o desenvolvimento, exatamente na sua ori-
como ela funciona e sabe autodirigir-se dentro deste funcio- gem, daquela posição assumida negativamente.
namento. Então, ele não somente a conhece e prevê o seu de- Para chegar a este resultado, a Lei havia executado somente
senvolvimento, mas também provoca os resultados desejados. alguns movimentos, mas todos eles coordenados. Era necessário
Ele pode intervir no funcionamento da Lei, mas não no senti- que o visitante visse a carta. Esse era o ponto central do jogo,
do de modificá-la, e sim de comportar-se de acordo com ela, razão pela qual a Lei favoreceu uma providencial visita àquela
de modo a atingir, seguindo-lhe os princípios, os resultados casa num dia em que a carta, recém-chegada, ainda estava sobre
que deseja. Assim, estes podem ser determinados pelo próprio a mesa. Era preciso também que o amigo, depois de lê-la, não a
indivíduo, que, já conhecendo os métodos de trabalho da Lei, tivesse tirado dali, deixando-a sem querer à vista, e que o selo
coloca diante dela, com a própria conduta, as premissas cau- chamasse a atenção do visitante. Além disso, era necessário que
sais necessárias para, segundo as regras estabelecidas, aqueles esta pessoa ficasse sozinha no escritório, diante daquela mesa.
efeitos terem de se verificar. Não basta saber como funciona a Todas estas coisas deviam acontecer, cada uma exatamente sin-
Lei, é necessário segui-la passo a passo, fornecendo-lhe todos cronizada com a outra, fato que não se explica com o acaso, mas
os elementos, para alcançar o que se deseja. somente com a presença de uma mente diretriz.
Não se trata, portanto, de assaltar a Lei para curvá-la, mas Neste exemplo, trata-se de uma simples contraposição entre
sim de secundar-lhe a corrente, conduzindo-nos habilmente, ao bem e mal, com a intervenção automática da Lei para salvar o
nos colocarmos nas condições exigidas pela Lei para que sejam primeiro. Aqui, a intervenção que se verifica é totalmente des-
atingidos os resultados desejados por nós. E fazer-se valer, con- conhecida pelos elementos a favor dos quais ela acontecia. Nes-
cordando com ela, é obter o comando através da obediência, por- te caso, como nos quatro anteriormente examinados, o indiví-
que a Lei o concede a quem a obedece e o nega a quem a deso- duo em defesa do qual a Lei se move permanece em estado de
bedece. Trata-se de uma coparticipação consciente e sempre ignorância e passividade.
maior no trabalho da Lei, para o qual é necessário um desenvol- Exemplo do segundo caso. Um indivíduo de idade avançada
vimento mental correspondente, pois tal coparticipação se baseia adoeceu. O prolongamento da doença o enfraqueceu, até pro-
numa compreensão e num espírito de colaboração de que somen- vocar-lhe um colapso cardíaco. O estado de abatimento e seu
te o indivíduo evoluído é capaz. A evolução, de fato, consiste em aspecto cinéreo tornaram necessário um exame de laboratório,
um processo gradual de entrosamento do indivíduo com a Lei. para verificar se havia câncer.
Estes conceitos serão esclarecidos pelos três exemplos que O doente estava na sala de estar, à tarde, com amigos que
apresentaremos agora, um para cada caso. O primeiro nos mos- tinham ido visitá-lo. O exame devia estar pronto dentro em
trará o indivíduo em posição de inconsciência e passividade, o pouco, e um dos seus amigos se prontificara para apanhá-lo no
segundo, em posição mentalmente ativa, mas somente como instituto de análises, próximo da residência. Ele assistia o doen-
previsão do futuro, e o terceiro, em posição de intervenção na te e se interessava por sua sorte. Estava observando e refletin-
direção do desenvolvimento do fenômeno. do. Conhecia a teoria da Lei e seus métodos de trabalho. Entre
Exemplo do primeiro caso. Num trabalho de construção es- os amigos reunidos havia também um médico, que o chamou à
piritual, em sentido positivo, segundo a Lei, havia-se infiltrado parte, para infundir-lhe coragem, prevenindo-o contra o choque
um indivíduo de tipo negativo, com o propósito de desfrutar da que poderia receber ao ler o resultado positivo do exame. Os
situação em sua vantagem, para lucro pessoal. Naturalmente, outros visitantes procuravam esconder suas apreensões.
esta pessoa tinha o cuidado de esconder a sua verdadeira finali- Então o amigo enfermeiro, antes de sair, falou reservada-
dade. Mostrava-se muito ativa no seio do grupo de promotores, mente com o doente, dizendo-lhe: “Eu vou ao laboratório pegar
conquistando a confiança de alguns deles e assumindo, por ini- o resultado do exame, mas lembre-se, seja lá o que estiver es-
ciativa própria, uma diretiva imperiosa. A coisa prosseguia às crito nele, você não morrerá; já fiz meus cálculos”.
escondidas, preparada por ele, sem o conhecimento dos dirigen- E de fato, contra todas as previsões, o doente melhorou, en-
tes, trazendo complicações e prejuízos para os demais. contrando-se vivo até agora. A análise havia dado resultado ne-
Como os outros eram inocentes, a Lei, por seu princípio de gativo. Ora, quais cálculos havia feito o enfermeiro, para che-
mérito e justiça, não podia permitir que o mal vencesse o bem. gar a estas conclusões? Ele raciocinava assim: “A Lei funciona
Portanto, para se manter coerente, deveria intervir, se não qui- seguindo um princípio de mérito e justiça. Como se encontra o
sesse ir contra si mesma. E interveio de fato. Isto se verificou doente sob este ponto de vista? Ao seu destino está ligado o de
com um movimento mínimo, que bastou para inverter o curso sua família, que ficaria ao abandono, se ele morresse. Sabendo
dos acontecimentos. Uma grande tempestade estava se avizi- disto, seria para ele muito triste morrer antes de uma sistemati-
nhando, e a Lei a interrompeu com apenas um sopro. zação que se encontrava em curso. Ele não merecia esta dor, e a
Um dos dirigentes, representante da parte positiva, foi à ca- família também não merecia o dano irreparável de ficar aban-
sa de um amigo que, em sua boa fé, confiava no assaltante, ig- donada. Ora, se a Lei permitisse isso, ela violaria os princípios
46 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
fundamentais sobre os quais se baseia, porque aquela morte e o de dois modos diversos. Vejamos aonde cada uma delas,
aquele dano não eram merecidos e o caso se encerraria contra a seguindo seu caminho, chegou.
justiça. A Lei, então, se não quisesse renegar-se a si mesma, te- A diferença entre as duas partes estava no fato de colocarem
ria que intervir, para impedir que adviesse o mal”. o mesmo problema sob perspectiva diversa, seguindo métodos
Este foi o raciocínio, que teve como base uma necessidade opostos para resolvê-lo. A primeira parte conhecia a técnica
de coerência por parte da Lei, cuja intervenção em tal sentido se fundamental da Lei, sabendo lançar os precedentes causais do
fazia necessária. Aquela família já havia sofrido bastante, e não próprio triunfo, aos quais ela, por coerência consigo mesma,
havia culpas que justificassem um prolongamento da dor. Em devia corresponder, seguindo-os. A outra parte, ignorando este
razão dos componentes desta lógica, aquela desgraça não pode- mecanismo, debatia-se dentro dele, cometendo erros que lhe re-
ria acontecer sem violar os princípios da Lei, o que não era pos- caiam sobre os ombros, porque é inevitável pagá-los mais tarde.
sível. Assim, dados os elementos do caso, devia haver absoluta Se o primeiro caminho leva ao triunfo, o segundo leva à falên-
obrigatoriedade de uma intervenção favorável por parte da Lei. cia. Cada parte não poderia afastar-se de sua rota, que fora de-
Foi o conhecimento deste fato que havia dado ao enfermeiro finida em função de sua forma mental. Assim, o fenômeno de-
tanta segurança contra todas as prováveis previsões, contrarian- senvolveu-se com exatidão e fatalidade.
do até mesmo a advertência de um médico que, competente na Passaram-se os dias, e cada um continuava a trabalhar a seu
matéria, observava os sintomas anunciadores do mal. Mas o en- modo, avançando na respectiva direção. O primeiro elemento ia
fermeiro, em vez de olhar as aparências exteriores, havia visto regularmente ao trabalho, cumprindo-o honestamente e fazendo
mais profundamente, observando a realidade interior do caso e seu dever com superioridade da quantidade e qualidade da pro-
os princípios da Lei. O seu diagnóstico tinha sido um diagnósti- dução. Estas eram as forças do tipo positivo que ele lançava, os
co espiritual, no qual entram em jogo todas as forças da vida, e valores construtivos que ele punha perante a Lei, constituindo a
não só um diagnóstico clínico, que não vai além do estado do premissa que ela devia responder em sintonia. O segundo ele-
organismo físico. Foi assim que, assumindo uma base diferente mento, pelo contrário, tentava avançar pelas vias oblíquas da as-
de juízo, chegou-se a conclusões opostas. túcia, do engano e da preguiça, procurando desfrutar em vez de
Assim como no exemplo precedente, também neste caso, o produzir, prejudicando a quantidade e a qualidade do produto.
provimento por parte da Lei se torna automático, a favor de um Estas eram as forças de tipo negativo, e a estes valores destruti-
indivíduo passivo. Aqui, porém, o mecanismo da Lei não ficou vos a Lei não poderia dar resposta igual à do primeiro elemento.
oculto. O enfermeiro se apercebeu disto, porque, conhecendo o Passaram-se os dias, e o fenômeno bifronte continuava a
jogo da Lei, sabia como ela trabalha e assim podia prever seu desenvolver-se em ambos os aspectos. Com o próprio compor-
desenvolvimento. Trata-se de um exemplo representativo de tamento, o primeiro elemento continuava a colocar no compu-
uma fase mais completa do que aquela precedente. Neste se- tador eletrônico da Lei seus cartões brancos, enquanto o outro
gundo caso desaparece de fato a ignorância do primeiro, assim fazia o mesmo, mas com seus cartões negros. Estes impulsos
como no terceiro veremos desaparecer a passividade do primei- quotidianos iam-se assim somando, uma série deles em sentido
ro e do segundo caso. positivo e a outra em sentido negativo, aumentando a carga de
Exemplo do terceiro caso. Uma senhora, por cumprir seus cada uma das partes. Chegaria fatalmente o momento do com-
deveres familiares, chegara a uma idade avançada sem ter criado putador disparar, o que aconteceu na forma de desmoronamen-
uma posição que lhe desse meios de subsistência. Havia sempre to da construção feita pelas forças negativas e da consolidação
pensado nos outros em vez de em si mesma, trabalhando de gra- da construção feita de forças positivas. Este foi, de fato, o re-
ça, por senso de dever, sem nenhuma perspectiva econômica. sultado final de toda a operação.
Procedera assim, mas sabia o que fazia e conhecia o princípio de Formara-se um desequilíbrio sempre maior diante do prin-
justiça da Lei. Havendo sido fiel a este princípio e estando segu- cípio de justiça da Lei, de modo que esta, cada vez menos, po-
ra de haver cumprido fielmente seus deveres, tinha certeza de dia tolerá-lo, até chegar ao ponto no qual ela, para retificar o
que a Lei não a desampararia. Porém, segundo o critério co- erro, interveio e a parte negativa foi liquidada como merecia.
mum, isto parecia quase impossível, porque era um problema Quem havia dado devia receber a justa recompensa, mas o
muito difícil encontrar uma posição econômica para uma mulher usurpador devia ser despojado, como realmente o foi. Cada
de 50 anos e não diplomada, em terra estrangeira. Havia, porém, movimento na conduta dos dois elementos era uma frase do
um fato decisivo. Esta mulher tinha colocado, por sua vontade, e diálogo conduzido por eles com a Lei, que o concluiu com a
com plena consciência de seu empenho, os precedentes necessá- sua sentença final e definitiva.
rios para compelir a Lei, por seu princípio de justiça, a corres- A diferença entre os dois elementos consistia no fato de que
ponder a este mérito com os provimentos necessários. o primeiro sabia que era loucura pretender enganar a Lei, por-
Eis o que aconteceu. Contra todas as probabilidades huma- que, cedo ou tarde, as contas são ajustadas e cada um recebe o
nas, apareceu a solução, e na forma mais adequada possível! que mereceu, seja de bem ou de mal. O primeiro elemento se
Surgiu um trabalho que agradava muito à interessada, pois ela manteve sempre no ambiente da Lei. Antes de encontrar traba-
o fazia como se fosse um “hobby”, satisfazendo assim um de- lho, ele tinha-se comportado corretamente, por senso de dever.
sejo que jamais teria alcançado de outra forma. Todas as faci- Depois, na segunda parte de seu caso, quis fazer mais, tomando
lidades que se verificaram neste sentido confirmaram as previ- a direção do fenômeno, para estabelecer causas e provocar as
sões dela, que tinha preparado tudo isto com sua conduta pe- consequências previstas, fazendo isto com o seu conhecimento
rante a Lei. Admitida como aprendiz em um instituto técnico, da técnica funcional da Lei, por meio de um método experi-
em poucos meses aprendeu o ofício que a apaixonava, chegan- mental e racionalmente controlado. Nesta segunda fase não se
do a ser diretora daquela organização. tratava mais, como na primeira, apenas de uma previsão genéri-
Observemos sua atitude no trabalho, enquanto ela aplica- ca, e sim de um cálculo de previsões, para estabelecer as causas
va o seu método, consciente da presença da Lei e de seu fun- específicas de determinadas consequências. É esta segunda par-
cionamento. Faziam parte daquela organização também ou- te que expressa com mais evidência o 3o caso.
tros elementos, que se propunham igualmente a atingir igual O fato cujo significado desejamos focalizar melhor agora,
sucesso, mas utilizando métodos opostos, negativos, ao invés de um modo como ainda não pudemos fazer até aqui, é tão no-
de positivos. As duas partes estavam uma ao lado da outra, vo e extraordinário, que parece inadmissível. Como é possível
no mesmo ambiente, mas comportavam-se diferentemente, não só prever o futuro desenvolvimento de um caso, quando
encontrando-se diante do mesmo problema, mas resolvendo- se lhe conhecem todos os elementos, mas também determinar,
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 47
ainda com antecedência, a conclusão preestabelecida que este mentos calculáveis. Vive-se de outra maneira, não sendo levado
seu desenvolvimento irá atingir? por impulsos desconhecidos, mas tendo-se em mãos as rédeas
A primeira razão pela qual isto é possível está no fato de do próprio destino e construindo-o com conhecimento, por ter
podermos contar, com absoluta segurança, com a estabilidade calculado e introduzido nos fatos os necessários impulsos de-
da Lei. Esta é feita de ordem, isto é, de disciplina, fato que é terminantes. Se o homem conseguir compreender e utilizar tudo
indispensável em qualquer organismo e que o abrange desde a isto, ele fará uma das maiores revoluções da história, represen-
inviolabilidade de seus princípios diretivos até ao comporta- tada por um golpe antecipado e jamais realizado.
mento de cada um de seus elementos componentes. É com este Trata-se de passar das religiões do passado, do tipo emotivo-
estado de disciplina universal que podemos ter a certeza de es- fideísta, para uma do tipo racional-positivo. É claro que isto
tarmos na direção da Lei. A obrigação de cumprir o nosso de- constitui um crescimento, e não uma supressão, porque a evolu-
ver para com a Lei, obriga também a Lei a cumprir seu dever ção quer avançar, e não destruir. Isso fatalmente deverá levar, no
para conosco. O problema, então, é manter-se nas condições campo do espírito, da religião e da moral, à posse de verdades
desejadas por ela, para que se possa chegar a consequências fe- científicas demonstradas, que tomarão o lugar daquelas baseadas
lizes. Pode-se obter da Lei todo o bem ou o mal que se queira, no mito, substituindo as criações legendárias com as quais o
tudo em nossa vantagem ou em nosso prejuízo, porque sabemos homem, ansioso por saber, imaginou uma explicação para a
quais são as regras que precisamos obedecer para obtê-lo. existência, a fim de tentar suprir sua falta de conhecimento.
Quem conhece como funciona a Lei sabe o efeito correspon- Deverá acontecer aquilo que estamos tentando fazer, ou se-
dente a cada ato de seu comportamento. ja, diante das mesmas verdades, passar de um estado de incer-
Esta fatalidade na relação entre o efeito e a causa se deve ao teza e nebulosidade para um de certeza e exatidão, de modo a
fato de que, entre as leis morais, físicas e dinâmicas, há uma di- nos movermos no seio do fenômeno de nossa vida com plena
ferença apenas de grau (nível evolutivo), e não de ordem (natu- consciência da técnica de seu funcionamento e desenvolvimen-
reza). Elas estão todas em funcionamento determinístico, ao to. Hoje, os conceitos de Deus e de sua Lei são ainda vagos e
qual estão indissoluvelmente ligadas, de modo que se sabe, com distantes, de modo que o homem, porque ainda não sabe, deve
antecedência, quais efeitos devem inevitavelmente correspon- crer neles. Mas, para sua comodidade, procura evadir-se com
der a determinadas condições. Os fenômenos do campo moral uma moral que, por ainda não ser definida analiticamente, é
são determinados com a mesma fatal exatidão que se verifica cheia de escapatórias. Assim ele abusa, mas espera o perdão;
nos movimentos do campo astronômico. Em ambos os casos, comete erros, mas invoca a divina providência, para que ela re-
temos um organismo funcionando. O desastre que aconteceria solva tudo. O homem ainda se move apenas por tentativas, pois
no universo físico, se a disciplina que o rege fosse violada, desconhece a estrutura e o funcionamento da máquina dentro da
aconteceria igualmente no universo moral. qual ele vive, ignorando como fazer os movimentos adequados
para fazê-la funcionar em sua própria vantagem. É fatigante
IX. O NOVO TIPO DE EXAME DE CONSCIÊNCIA andar assim às cegas, com este sistema de erro e pagamento,
tendo de fazer e refazer. Não é possível que não haja outro mo-
O exemplo proposto representa a posição mais avançada do de viver, mais inteligente e mais útil.
que o homem pode tomar diante da Lei, condição na qual o in- Aqui não procuramos abolir os velhos princípios ainda vi-
divíduo conhece a técnica dela e traça, a partir daí, as diretivas gentes, os quais respeitamos, mas nos quais reconhecemos um
da própria vida, para guiar-lhe o desenvolvimento, com plena estado ainda infantil, sendo nossa vontade levá-los mais à
consciência e autonomia. Isto é o que queremos ensinar neste frente, para uma fase mais amadurecida. Deste modo, em vez
livro. Não se trata de elucubrações teóricas, mas sim de alcan- de ser cancelado, o passado clarifica-se, atualiza-se e confir-
çar fins práticos utilitários, no interesse de quem quiser apro- ma-se, tornando-se reforçado por um controle racional e analí-
veitá-los. Acreditamos que planejar inteligentemente a direção tico. Os conceitos básicos permanecem, mas compreendidos
da viagem da própria vida, em vez de andar ao acaso, como fo- em profundidade. Continuamos a falar com Deus, mas em um
lhas à mercê do vento, significa um grande progresso, represen- nível de consciência mais alto, com maior segurança da reali-
tando algo de novo e mais completo, que ainda não foi pratica- dade, mais iluminados na capacidade de prever e mais ativos
do no passado. Quanto mais evolui o homem e mais complexa no trabalho de planificar.
se faz a organização de sua vida individual e social, tanto mais Então chega-se a sentir a presença de Deus. Geralmente
aumenta para ele a necessidade de prever mais longe e planifi- somos levados a vê-la não próxima de nós, nas pequenas vicis-
car tudo com maior exatidão. A imprevidência é uma qualidade situdes de nossa vida cotidiana, mas somente nos grandes fatos
do primitivo. A visão longínqua do próprio futuro é uma quali- heroicos e excepcionais, que não acontecem aos homens co-
dade própria do evoluído. Antigamente, o escopo da vida era muns. Mas o leitor pôde ver que, ao contrário, os exemplos de
viver. Hoje, isto já não satisfaz mais. Deseja-se saber seriamen- casuística aqui relatados são acontecimentos simples e ao al-
te por que se vive e como atingir fins distantes. Chegando a cer- cance de todos. Através deles, pudemos ver a presença de Deus,
to grau de desenvolvimento mental, isto se torna não só uma operando com a sua Lei. Quando vistos com estes novos olhos,
necessidade psicológica da consciência mais desenvolvida, mas os fatos nos mostram como os maiores problemas da vida são
também uma necessidade prática imposta por um modo de vi- resolvidos. Esta nova visão das coisas nos faz ver como tudo é
ver muito mais complexo. Eis porque as pesquisas que efetua- conexo, revelando-nos a complexidade dos fenômenos que se
mos aqui respondem às exigências do momento histórico. escondem num acontecimento de aparência banal. Não levamos
Trata-se de começar a viver em outra dimensão, conscien- em conta tais fatores, porque não os vemos. Sem nos aperce-
tes do significado da vida. Chegando a este nível, observa-se bemos, vivemos a todo instante, mesmo nos menores aconteci-
tudo aquilo que nos sucede em redor, ao longo do caminho, es- mentos, em contato com Deus, que trabalha ao nosso lado em
tudando-se as razões pelas quais determinados fatos ocorrem todos os fenômenos, porquanto a nossa existência se desenvol-
naquele momento e prevendo-se o desenvolvimento deles em ve dentro do funcionamento da Lei. Desejamos transmitir aqui
suas fases sucessivas. Quando se chega a esta nova compreen- ao leitor a sensação desta presença de Deus, percepção esta que
são da realidade, vê-se o quanto ela é diversa daquele enten- não resulta somente da conclusão lógica de um raciocínio.
dimento do velho tipo, tão ineficiente e elástica. Em seu lugar É assim que, neste livro, apoiando-nos sobre teorias maio-
aparece, ao contrário, uma realidade mais profunda, mais exa- res, pudemos com elas ligar os pequenos fatos da experiência
tamente definida, em funcionamento constante e com movi- comum e ver o quanto eles, não obstante sua modesta aparên-
48 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
cia, eram ricos de conteúdo. Escolhemos alguns exemplos sim- nhecimento do tipo do próprio eu é fundamental para o domínio
ples e comuns, porque mais vizinhos de nós e, assim, mais sus- do desenvolvimento do fenômeno.
cetíveis de análise, para fazer o leitor ver em que imenso mun- A primeira coisa a fazer é perguntar-se: “Quem sou eu?”.
do qualquer um vive a sua vida de cada dia. Só depois de ter tudo bem assegurado, o indivíduo poderá pôr-
Encerramos aqui a casuística. Quem quiser poderá procedê- se em viagem. O problema básico é um severo exame de cons-
la por si mesmo, pois encontrará exemplos em sua própria casa ciência. O desenvolvimento de um evento, assim como de um
no dia a dia, analisando seus casos pessoais, que, por isto mes- destino, baseia-se sobre a relação entre dois elementos: a per-
mo, são mais interessantes para si. Uma vez que se tenha com- sonalidade do sujeito e a Lei. Cada um deles representa um or-
preendido a técnica explicada, pode-se aplicá-la por conta pró- ganismo de forças em ação, dirigido para uma determinada
pria, sendo possível também, depois de se ter aprendido a ver as meta, em direção à qual aquelas forças querem avançar. Quan-
coisas em profundidade, descobrir nelas um significado e valo- do se conhece o indivíduo e a Lei, conhece-se também o con-
res antes desconhecidos, capazes de dar uma orientação total- teúdo destes dois campos de forças. O êxito do desenvolvi-
mente diferente à própria vida. mento das forças da personalidade é condicionado pelas forças
◘◘◘ da Lei. Quanto mais as forças da personalidade estiverem ade-
O sucesso do trabalho de previsão e direção no desenvolvi- ridas às da Lei, porque afins com elas, maior será o êxito. E é
mento dos casos, que nos interessa examinar, depende do co- pelo cálculo desta aderência por afinidade que se pode deduzir
nhecimento e uso da técnica que já mencionamos. Tentemos se o evento terá ou não sucesso.
então aprofundar este conhecimento, focalizando melhor alguns Ora, no caso da intervenção, este bom êxito será tanto mais
pontos fundamentais. fácil, quanto mais a estrutura da personalidade permitir a intro-
No capítulo precedente, orientamos a pesquisa, aplicando-a dução de novos impulsos segundo a Lei. O caso de máximo su-
a três tipos de casos: cesso neste trabalho se dá quando a adesão do sujeito à Lei é
1) O caso de desconhecimento e passividade, no qual o su- completa, tornando-se ele um colaborador dela. O caso de má-
jeito somente sofre a ação da Lei, sem nenhuma consciência do ximo insucesso se dá quando a adesão do sujeito é nula, tornan-
fenômeno. do-se ele inimigo dela. Eis porque é necessário conhecer-se a si
2) O caso consciente e ativo, no qual o raciocínio é usado mesmo, uma vez que a solução do caso, no fenômeno da inter-
somente para a previsão do futuro, que, embora conhecido, é venção, depende da estrutura da personalidade do sujeito. Este
aceito conforme as regras da Lei, sem nenhuma intervenção pa- autoconhecimento é o primeiro fato que se deve ter em conta.
ra determiná-lo. O desenvolvimento completo do fenômeno resulta então de
3) O caso no qual o sujeito não somente sabe e prevê o de- dois momentos: 1) O referido exame de consciência, que consis-
senvolvimento do fenômeno, mas também chega ao ponto de te numa autopsicanálise, através de um ato individual de intros-
intervir e tomar a direção dele. pecção, com o qual se obtém o diagnóstico do próprio caso; 2)
Poderíamos dizer então que a interação entre indivíduo e A intervenção que, segundo os resultados obtidos de tudo isto, é
fenômeno atravessa três fases de aperfeiçoamento progressivo, possível realizar, para dirigir o desenvolvimento do fenômeno.
que leva a uma coparticipação crescente do sujeito no domínio A chave para efetuar esta intervenção tem como premissa
do acontecimento. Estas fases são: 1) Ignorância; 2) Previsão; indispensável o exame de consciência. Aqui estamos no depar-
3) Direção. Com isto, a evolução eleva o indivíduo desde a po- tamento de análises, de cuja exatidão depende o valor do diag-
sição de ignorante e inconsciente da presença da Lei até ao ní- nóstico, como acontece para o médico com os exames de urina,
vel de colaborador consciente do funcionamento dela. Tudo isto sangue etc. É do diagnóstico, portanto, que depende toda a cu-
fica contido na lógica do plano da existência. ra. Uma autopsicanálise errada conduz a profundos erros de
É evidente que, em sua terceira fase, o fenômeno atinge a avaliação, estragando todo o processo e impossibilitando o bom
posição mais avançada e que, portanto, a sua técnica alcança o êxito do caso avaliado. Dessa maneira, em vez de resolver o
mais alto nível de complexidade e exatidão. Além disso, esta problema, submete o sujeito à longa técnica de correção dos er-
terceira posição é aquela que mais nos interessa, porque nos ros, a qual já conhecemos.
ensina a assumirmos realmente a direção do desenvolvimento Portanto, se a avaliação de si mesmo não estiver correta, to-
dos acontecimentos de nossa vida e do nosso próprio destino, mando como unidade de medida a Lei, teremos como base do
permitindo-nos atingir a posição que quisermos. Analisaremos julgamento uma análise errada. Desta premissa não pode derivar
mais de perto a técnica deste tipo de casos do terceiro grau – senão um diagnóstico falso, que representará uma colocação
onde se atinge a fase de intervenção no fenômeno – porque também falsa para a intervenção diretiva no desenvolvimento do
ela representa a arte máxima da ética do comportamento, que fenômeno, comprometendo todo o processo já na partida. As vá-
consiste na sabedoria de nos dirigirmos conscientes dos pla- rias fases são ligadas, porque derivam uma das outras. Da exati-
nos da Lei, colaborando com eles, para atingir seus objetivos, dão e veracidade da psicanálise com que se faz o correspondente
em nosso próprio benefício. diagnóstico depende o valor da atitude psíquica que estabelece
Devemos então começar daquilo que, sendo seu ponto de as normas a serem seguidas para dirigir o fenômeno.
partida e de referência, é a base desta técnica. Antes de observar ◘◘◘
o fenômeno em seu desenvolvimento, devemos conhecê-lo em Resta-nos agora examinar como executar o exame de
seu momento inicial. Isto é fundamental, porque é esta primeira consciência ou autopsicanálise, ponto de partida da técnica da
avaliação que nos indica qual será o tipo dos movimentos suces- intervenção.
sivos, segundo os quais o fenômeno se dirigirá. É esta primeira Trata-se de observar e medir a si mesmo. Isso não se pode
posição que orienta as subsequentes. Se errarmos no momento fazer senão estabelecendo um confronto com o único termo de
do lançamento do míssil, toda sua rota seguirá errada, a menos comparação e unidade de medida que possuímos: a Lei. Trata-
que saibamos corrigi-la, depois de havê-lo posto em órbita. se então de pôr o próprio eu diante dela, analisando-o em rela-
O ponto de partida é o indivíduo. Isso porque o míssil que ção ao pensamento que expressa suas normas, para estabelecer
entra em órbita é o próprio eu com as suas qualidades, constitu- qual deve ser a nossa conduta.
ídas pelas forças que, ao longo do caminho e segundo sua natu- Esta ideia do exame de consciência não é nova. Para con-
reza, irão atrair e anexar outras forças de tipo semelhante, repe- firmar isso, remetemos o leitor agora para a menção feita no
lindo aquelas de tipo diferente. Uma vez que o estabelecimento princípio do Capítulo III. Vemos que tal ideia já existe nas reli-
da técnica funcional do fenômeno se faz desde a partida, o co- giões. Fala-se então em “colocar a própria alma na presença de
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 49
Deus”. Mas como cada um dos termos julga, quando os dois se ção das próprias vontades e razões, distorcendo o julgamento
encaram? Quando o julgamento provém da Lei, ele se manifes- segundo o próprio egoístico ponto de vista (v. Cap. III).
ta fazendo o sujeito em questão sofrer as consequências de seus O subconsciente representa então um perigo do qual deve-
atos. Quando, ao contrário, o julgamento é feito pelo sujeito, mos nos resguardar. Vejamos mais exatamente em que consiste
então acontece que o indivíduo julga a seu modo, porque olha este problema. Para fazer isso, devemos basear-nos em afirma-
com seus olhos e está interessado no julgamento. Isto leva a ções já demonstradas, que para nós são problemas resolvidos,
uma distorção do mesmo, o que é perigoso, pois o erro de diag- aos quais não podemos retornar. Quem quiser conhecer as res-
nóstico produz o lançamento da trajetória daquele caso em di- pectivas teorias e suas conclusões, poderá encontrá-las desen-
reção errada, levando-o a colocar-se numa posição contra a Lei, volvidas nos livros: O Sistema, Queda e Salvação e Princípios
erro que deve ser pago depois. de Uma Nova Ética. Aqui bastará o seguinte esquema funda-
No passado, para as massas ainda em estado infantil, incapa- mental, para recapitular tudo.
zes de uma penetração psicanalítica, o problema foi solucionado A psique humana pode se dividir em três zonas: subconsci-
com um código que estabelecia as regras da conduta humana, ente, consciente e superconsciente, que representam seus três
determinando uma lista do que fazer e do que não fazer. Os níveis de evolução. A existência não é estática, mas sim um
Mandamentos de Moisés, com toda a encenação do Sinai, são contínuo tornar-se. Este transformismo percorre o ciclo invo-
um primeiro exemplo. Tudo isso andou bem no passado, quando lução-evolução, o qual, partindo de um ponto que chamamos
bastava uma definição aproximativa, formando uma rede de ma- de Sistema, desce pelo caminho da involução até ao ponto
lhas largas, para impedir os erros mais graves. Porém isso se oposto, que chamamos de Anti-Sistema, para depois, a partir
torna cada vez menos adequado para a formação analítica e crí- deste ponto, elevar-se novamente pelo caminho da evolução,
tica do homem moderno, que tem necessidade de penetrar mais até ao Sistema, retornando assim ao ponto de partida. Temos,
a fundo na substância das coisas, com uma avaliação mais exata. dessa forma, um dualismo de termos opostos: positivo e nega-
Este aprofundamento se faz necessário, sobretudo quando tivo, Sistema e Anti-Sistema. A unidade do todo, porém, não
se quer usar a técnica da intervenção que propomos aqui para fica quebrada por esta estrutura bipolar, que o caminho evolu-
proceder à planificação racional dos próprios casos ou até da tivo, fazendo tudo retornar ao ponto de partida, tende a reunifi-
própria vida. Não se trata de sujeitar-se à Lei, mas sim de ad- car. Basta isso para nos orientar.
quirir uma autonomia diretiva individual no seio de seu funci- Então o subconsciente, que aparece na avaliação efetuada
onamento. Para isto, é necessário um trabalho de autopsicaná- na autopsicanálise, representa a parte mais involuída da psique,
lise exato e profundo, anteposto à ação. Trata-se de um traba- apresentando como maior perigo a sua própria involução, por-
lho executado de modo consciente e responsável, por um indi- que ela significa ignorância e impulsos inferiores, transbordan-
víduo provido de um senso moral mais agudo. Tudo isto prin- tes de animalidade em nível baixo e maléfico. Além disso, esta
cipalmente porque ele, dada sua evolução, deve ser livre e, posição involuída representa uma posição situada mais próxima
portanto, capaz de fazer tudo por si. Em tal caso, o termo de do polo negativo do ser, razão pela qual tende a se realizar na-
comparação, base da análise, não é uma simples lista de atos quela direção, seguindo para o negativo, segundo o modelo de
impostos ou proibidos, mas sim o pensamento que está contido tipo anti-Lei, que representa a queda espiritual, enquanto a re-
na Lei e que dirige o seu funcionamento. denção consiste em seguir a Lei.
Neste caso, o indivíduo não se encontra mais diante da Lei O subconsciente representa não apenas uma contribuição à
na condição de criança, que, sendo ignorante e irresponsável, psicanálise, feita de impulsos involuídos, nocivos e tenebrosos,
deve ser guiada pela mão e tem como único dever a obediência. mas também uma força para nos afastar do caminho reto, traça-
Pelo contrário, o ser assumiu a posição de adulto, que, pelo fato do pela Lei, e nos levar na via oposta, fornecendo-nos análises
de compreender, estar livre para agir e ser responsável por suas e diagnósticos realmente invertidos, que levam ao lançamento
ações, deve saber dirigir-se. Ele tem de estar consciente da Lei, de trajetórias no sentido negativo, anti-Lei. É esta tendência an-
para estabelecer diálogo com ela. É livre para errar, mas conhe- tagônica diante da Lei que constitui o segundo ponto de pericu-
ce as consequências do erro pelo qual é responsável. Sua posi- losidade do subconsciente. Trata-se realmente de um retroces-
ção, portanto, é completamente diversa. Isso não significa que a so, porque, em vez de apontar na direção da Lei, que representa
preceituação geral esteja errada, mas sim que ela consiste ape- o vértice da evolução, o subconsciente aponta para o polo opos-
nas uma fase de aproximação, já superada pelo homem moder- to, pelo qual, justamente devido à proximidade, é mais atraído.
no maduro, condição que o torna capaz de usar a técnica da in- Restam ainda outras considerações. O subconsciente, gravi-
tervenção, manejando conscientemente as forças da vida. tando pela sua qualidade de involuído em direção ao polo nega-
Temos então frente a frente os dois termos: a alma e Deus, tivo, desejaria a vitória deste sobre o polo positivo, fato pelo
ou seja, o eu e a Lei. O exame introspectivo é feito não de mo- qual expressa a sua vontade de, com sua própria lei, substituir-se
do isolado, mas sim confrontando a si mesmo com os princípios à lei de Deus. O subconsciente tem a sua própria psicologia, que
que regem o funcionamento da Lei. O indivíduo põe-se nu pe- nos revela a sua estrutura, quando a observamos. Ela exprime a
rante aquele quadro e nele se espelha. Assim, ele pode ver quais forma mental própria da zona mais involuída do ser, lançada em
são os pontos de coincidência com as linhas da Lei e quais os descida, na direção do Anti-Sistema. Resumindo, trata-se da zo-
pontos de divergência. Positivos para ele serão os pontos de na de retrocesso, onde se busca a substituição do próprio eu ao
acordo, e negativos os de desacordo. Quanto mais exato, obje- Deus-Lei, para, no lugar daquilo que está no polo positivo, colo-
tivo e correspondente à verdade for o exame, tanto maior será o car como senhor o que está no polo negativo, fazendo de um
seu valor para dirigir a técnica da intervenção. elemento que deve funcionar disciplinadamente dentro da Lei,
Observemos agora as dificuldades que devem ser superadas, um centro emborcado, independente e dominador.
para se conseguir um bom exame de consciência. A principal Eis por que o subconsciente representa um obstáculo a ven-
consiste no fato de que o órgão de juízo de si mesmo é o pró- cer, quando se busca compreender a si mesmo diante da Lei. Is-
prio eu. Sendo ele parte envolvida, são fáceis os erros de avali- to não significa que ele procure impedir-nos de vê-la. Em sua
ação na análise. O perigo se deve, sobretudo, ao fato de que a involução, ele simplesmente não a vê e, por isso, não pode in-
introspecção decorrente do exame de consciência representa dicá-la. Assim, coloca-nos perante os olhos aquilo que ele acre-
uma descida no abismo do inconsciente inferior ou subconsci- dita ser a verdade, enquanto não passa de uma ilusão de quem
ente, havendo a partir daí, vindo das suas profundezas, uma ignora o funcionamento da Lei. Esta miragem nos precipita no
emersão dele no consciente, para se fazer valer com a afirma- engano, porque temos depois de ajustar contas com ela e pagar
50 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
tudo. Trata-se de uma experiência comum a psicologia da ten- 3) Substituição. A atividade apresentada como benéfica cor-
tação que, para induzir ao mal, promete alegrias, mas depois responde a uma planificação do tipo subconsciente, significan-
não dá senão desilusões e dores. Guardemo-nos então do sub- do o uso da ética deste no lugar daquela da Lei.
consciente. Quanto mais o indivíduo cai vítima dele, mais ele é De tudo isso não se pode culpar o sujeito, porque ele, em
involuído, e este fato denota a medida da sua involução. Mas seu nível evolutivo, não pode aperceber-se quão imoral é a sua
cada ser só pode fazer o exame de consciência ao nível ético conduta, se vista de um nível evolutivo superior. Esta fase do
condicionado pelo seu grau de evolução. Pode-se então imagi- subconsciente é uma etapa do desenvolvimento psíquico huma-
nar que tipo de exame, devido à sua ignorância, possam fazer, no, na qual o indivíduo pode cometer graves erros sem se aper-
ainda que de boa fé, o involuído e o subdesenvolvido, que pen- ceber, permanecendo tranquilo e inocente, devido à sua igno-
sam ao nível do subconsciente. rância. Mas este fato não o exime das consequências de seus
Ora, se do tipo de exame de consciência depende o funcio- atos. É fácil imaginar onde irá terminar uma trajetória iniciada a
namento da técnica da intervenção e se esta representa uma partir de um exame de consciência como aquele agora observa-
técnica de alto nível, é lógico que se devam exigir qualidades do. Não se pode impedir que a vida, neste nível, seja uma dura
de evolução proporcionais nos indivíduos que pretendem usá- escola para aquele indivíduo, sempre com o saudável objetivo
la. Isto significa o domínio da parte mais evoluída do eu sobre de ensinar. Enquanto este homem tirava sua vantagem em pre-
o subconsciente, exercendo um firme controle sobre ele, para juízo dos outros, gozando os benefícios que isto lhe trazia, nin-
não deixá-lo dominar. Quem não sabe fazer isto, que permane- guém pôde convencê-lo do contrário. Acreditando que Deus es-
ça no nível preceptivo e não se arrisque na livre iniciativa, tivesse do seu lado, ele Lhe agradecia a ajuda, cheio de convic-
pois, como ainda não sabe usá-la, pode terminar no erro. Trata- ção. Assim, a seu modo e no seu nível, pode ser grato a Deus
se de dois tipos de ética em dois diversos níveis de evolução. quem, tendo sabido roubar, acaba gozando de uma boa vida.
A preceptiva é adaptada tanto ao indivíduo ignorante, que ne- Isso em nosso mundo não é excepcional, fato que nos leva
cessita de orientação, como ao recalcitrante, que precisa ser a considerar qual seja a substância das relações sociais, quando
corrigido à força. Já o método de intervenção pressupõe o in- o órgão de julgamento da conduta é do tipo subconsciente,
divíduo consciente, que sabe não apenas analisar-se a si mes- como observamos aqui. Então não se julga imparcialmente,
mo e se autodirigir sem cometer erros diante da Lei, mas tam- com base na Lei, mas o próprio eu é que faz a lei, como se ele
bém corrigi-los, quando vêm a cometê-los. fosse centro e juiz do universo. Que acontece então? O sujeito,
◘◘◘ ao invés de se referir à lei de Deus, situada acima dos indiví-
Passemos da teoria à prática. Para melhor compreender es- duos, para aceitar-lhe os juízos imparciais, formulados por ela
tes princípios, apliquemo-los a um exemplo concreto. Uma pes- segundo seus princípios, toma o lugar da Lei e substituiu seu
soa observada por nós, tendo conseguido, à custa de operações próprio julgamento ao dela.
realizadas pelo método anti-Lei, uma posição inteiramente sa- É fácil, portanto, imaginar as consequências, quando isso
tisfatória, comunica-nos estar contente com sua obra, estando ocorre em uma multidão de indivíduos deste tipo, com juízos
convencida de ter obtido tão bom êxito pelo fato de haver apli- relativos e pessoais, cada um fazendo-se lei em substituição à
cado as normas aqui expostas, que lhe foram aconselhadas co- grande Lei e julgando com o próprio eu. Então não somente eu
mo método de executar um correto exame de consciência, a fim julgo o outro e o outro me julga, mas também, assim como eu
de atingir bons resultados na direção de sua vida. faço de mim mesmo centro de meu julgamento, o outro também
Aqui nos encontramos diante de um juízo emitido pelo sub- faz de si mesmo centro de seu julgamento. Nasce desse modo
consciente, cujo modo de julgar se revela, de fato, caracterizado um regime de guerra, tornando-se necessários o escudo e a es-
pelas três qualidades já vistas: 1) Involução; 2) Inversão; 3) pada. Isso significa forjar para si próprio um escudo-cobertura,
Substituição. feito de virtudes postas à vista, e valer-se, em relação aos ou-
1) A presença do subconsciente se revela no fato de de- tros, de uma espada para abater-lhes o escudo-cobertura simi-
senvolver-se o caso num baixo nível ético, em posição invo- lar, buscando descobrir seus defeitos.
luída, anti-Lei. Disto o subconsciente naturalmente não se Suponhamos um encontro entre um avarento e um sensual.
apercebe, provando, desse modo, que não conhece a Lei. Seu O avarento tomará a atitude de um santo casto, para esconder
único interesse é satisfazer sua vontade, razão pela qual per- sua avareza, acusando o outro de erotismo. Este, por sua vez,
manece no nível da astúcia, indiferente ao problema da moral fingirá generosidade, para esconder os seus excessos eróticos,
e do conhecimento. acusando o outro de avareza. Assim cada um recebe, recipro-
2) O caso está invertido, pois é vivido às avessas, sendo camente, a lição dada pelo outro. Todos se escondem e enga-
apresentado como virtude, enquanto, perante a Lei, é errado e nam uns aos outros. “Veja de que o outro não o acusa e saberá
defeituoso. Em suma, ele é utilizado como um disfarce para es- qual é o defeito dele”. Por tudo isso vê-se quanto é difícil fazer
conder a realidade diferente que há embaixo, a qual o subcons- um verdadeiro exame de consciência, no qual aos impulsos ins-
ciente procura camuflar, pois sabe que é condenada. Mas ele tintivos do subconsciente se sobreponha a orientação iluminada
não vê a própria imoralidade, que só é percebida pelos que da mente que conhece a Lei.
atingiram um nível ético mais alto. Temos assim um subconsci-
ente anti-Lei, apresentado como vitória da Lei. X. COMO FAZER UM NOVO
3) O subconsciente, com seus métodos invertidos – do tipo an- EXAME DE CONSCIÊNCIA
ti-Lei, mas apresentados como segundo a Lei – substituiu-se à Lei.
Tal caso exprime estes três conceitos: O exame de consciência é uma constatação daquilo que so-
1) Involução. O sujeito declara a sua própria satisfação, na mos de fato, consistindo numa análise inicial, para tomar co-
qual mostra o subconsciente egoísta, que se preocupa em pri- nhecimento das nossas qualidades. A finalidade é prever as
meiro lugar consigo mesmo, não levando em consideração as consequências que derivarão daí, a direção em que lançaremos
dores que o seu bem-estar pode ter custado ao próximo. as forças de um acontecimento, a trajetória que essas forças se-
2) Inversão. O sujeito diz querer tirar deste fenômeno uma guirão e o ponto ao qual elas devem chegar. Trata-se de um
lição, estudando-lhe o mecanismo e corrigindo-lhe os erros. exame preventivo, para tomar conhecimento das causas que,
Neste caso, uma ação que nada tem de correta vem apresenta- segundo sua natureza, o nosso eu nos leva a movimentar na fa-
da como um fenômeno a ser estudado, para se extrair dele se inicial do fenômeno, permitindo a previsão de seu desenvol-
uma lição edificante. vimento como consequência daquelas causas, até ao resultado
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 51
final com o qual aquele fenômeno se conclui. A finalidade des- caminhos, abstendo-se de se lançar por aquelas rotas, mesmo
te exame, portanto, é saber, dado aquilo que colocamos em ór- que, para aqueles tipos, elas sejam as mais atrativas. Não é ne-
bita, como dirigir e corrigir o fenômeno na fase de desenvolvi- cessário experimentar pessoalmente o desastre no qual elas
mento, para levá-lo a bom termo. terminam, porque se pode constatá-lo nos outros a cada dia, ob-
De forma diferente do exame de consciência comum, neste servando quais são para eles as consequências dos atos positi-
não interessam as apreciações sobre o valor das próprias quali- vos e negativos. Então é necessário, sobretudo, controlar-se,
dades, em que se é levado a estabelecer uma comparação com não se expondo naquele ponto, no qual se é mais vulnerável. É
os outros indivíduos, tomando-se a si mesmo como modelo. Pa- algo semelhante a um calcanhar de Aquiles, que atrai as maio-
ra quem usa a técnica da intervenção, julgar não serve. É neces- res dificuldades. Mas por que exatamente naquele ponto? Por-
sário, ao contrário do que se crê, olhar somente para si mesmo, que é ali que, levados pelo impulso imoderado, o ser se excede
porque é só o próprio eu que entra em órbita durante o desen- e vai contra a Lei, errando e, por isso, devendo pagar. Trata-se
volvimento do caso. O objetivo do exame é estabelecer uma de um desequilíbrio que atrai, como força corretiva, a dor.
trajetória justa, e não vencer o próximo no cômputo de virtudes. Se naquele ponto se localiza o maior perigo, é necessário
Pode-se dizer: “Todavia devemos examinar também as nos- toda a atenção para contê-lo, dominá-lo e, enfim, submetê-lo à
sas qualidades boas”. Sim, porém, com este exame de consci- disciplina da razão. Daí a necessidade do violento se controlar,
ência, não procuramos as virtudes, mas sim os defeitos, porque do sensual se conter, do avarento ser generoso etc., reduzindo
são eles que nos levam a cometer erros, originando o sofrimen- os próprios impulsos aos limites do normal, porque, tão logo
to com o qual devemos pagá-los. E o trabalho que queremos fa- ele se exceda, o golpe corretivo está pronto a cair-lhe em cima.
zer aqui é, sobretudo, explicar como evitar aqueles erros e os O exame de consciência se prolonga por toda a vida, sendo
consequentes sofrimentos. Daí se conclui que julgar os outros necessário observar de frente toda e qualquer circunstância. A
nos leva para fora da estrada. cada ato deve-se perguntar: “Por que agi assim?”, para examinar
Se possuímos boas qualidades, ninguém pode impedir que qual é a verdadeira natureza dos impulsos que nos moveram. É
elas produzam seus bons frutos. Mas não temos de lutar por is- necessário buscar pôr a nu o subconsciente, que se esconde, en-
to, pois acontecerá automaticamente. Nossa luta deve deslocar- ganando-nos para satisfazer-se. Estamos em um campo de for-
se para o lado defeituoso, onde nasce o erro, que é a causa de ças negativas, feitas de traição. É delas que nos devemos defen-
nossas dores. A finalidade da técnica da intervenção é exata- der, e não daquelas positivas. Assim, se alguém não é ladrão, is-
mente evitar estas dores. Este é o problema que nos interessa e so não merece sua atenção, porque ele sabe que não o é, e isso
que estamos examinando aqui. basta. A oportunidade de sê-lo não lhe é perigosa e nem o atin-
Pode-se dizer ainda: “Mas deve haver um julgamento para ge. Pode ser, porém, muito perigoso para ele um defeito que ele
si mesmo, e cada um tem de enfrentá-lo”. Então quem o faz? É tenha. É o vício que nos dá o golpe contrário, não a virtude. Um
a Lei que o faz, e o homem o vê escrito no resultado obtido por homem pode ter mil virtudes, mas, se tiver um só vício, receberá
ele. O exame é o ponto inicial, o julgamento é o ponto final. A o golpe daquele vício. Ele pode triunfar no terreno de suas mil
lei fala com fatos. O julgamento da Lei será a posição boa ou virtudes, mas nada poderá impedir aquele golpe. O ponto do ví-
má na qual o indivíduo se encontrará no final da experiência. cio é o espaço doente. Se dos meus dez dedos só tenho um doen-
Tomemos um exemplo. Os cálculos que os técnicos em as- te, devo ocupar-me deste, e não dos nove sãos.
tronáutica fazem antes de lançar um foguete para a Lua são a fase Por isso é necessário uma auto análise, a fim de corrigir si
inicial, representando o exame de consciência. O que mais im- mesmo, endireitando-se. Procurar esconder-se e arranjar pre-
porta é não cometer erros, porque, depois, eles se transformam textos para justificar-se é um método desastroso, porque au-
em desastre. A fase conclusiva é o julgamento por parte da Lei, menta a culpa e a pena final, da qual não se escapa jamais. To-
que, fazendo um sucesso da experiência, nos diz que os cálculos davia este método maquiavélico foi o mais usado no passado,
ou exame de consciência foram exatos ou, por outro lado, fazen- tendo sido considerado, talvez por quem o inventou, como
do falhar a experiência com um desastre, nos diz que os cálculos uma descoberta útil e engenhosa.
ou exame de consciência estavam errados. O julgamento é evi- É preciso entender que o exame de consciência feito diante
dente e se processa segundo os métodos da Lei, pelos quais cada da lei de Deus é completamente diferente daquele que se faz
erro é pago com o próprio dano. No campo moral, a Lei age do diante das leis humanas. Estas golpeiam o indivíduo, quando
mesmo modo, porque ela é a mesma em todos os campos. ele comete um delito. A Lei também o golpeia, porém o faz
Assim como o técnico da astronáutica deve temer, sobretu- mesmo quando sua ação errada não tenha passado de pensa-
do, os erros de cálculo, que o levam a estabelecer uma órbita mento ou desejo, porque, com isso, ainda que, por ter sido im-
errada, quem se prepara para fazer o exame de consciência pedido pelas circunstâncias, não a tenha realizado, ele se de-
também deve temer, sobretudo, os seus defeitos, que levam ao monstrou capaz de praticá-la.
mesmo resultado, trazendo erros e dores. Poder-se-ia objetar O exame de consciência é um autoexame, ou seja, um exa-
então que o exame de consciência é feito em sentido negativo, me de si mesmo, feito por si mesmo, sozinho e consigo mesmo.
mas isto é lógico, uma vez que o ponto tomado como alvo é Não devemos olhar os defeitos dos outros, mas apenas os nos-
exatamente o erro e o objetivo é evitá-lo. sos, um a um, porque somente estes é que nos cabe corrigir.
Findo o exame de consciência, ponto por ponto, veremos que Podemos, porém, utilizar o julgamento de outros, pelo fato de
entre todos os defeitos há um dominante, o qual define o tipo de ser ele o mais apto a nos mostrar quais são os nossos defeitos, a
cada indivíduo. Ele pode ser o avarento, o sensual, o egoísta, o fim de conhecermos melhor a nós mesmos. Os olhos alheios,
dilapidador, o violento, o hipócrita etc. Cada um destes tipos é sendo feitos de rivalidade, são mais agudos do que os nossos,
exposto aos perigos ligados ao seu defeito. Daí a necessidade de que, pelo contrário, são levados a ver as nossas virtudes e a es-
se pôr em guarda, colocando bem em foco e vigiando seu defeito, conder os nossos defeitos.
para que ele não o leve a cometer os respectivos erros. Dado o O tipo contrário indica o nosso defeito porque ele não o
seu tipo, é natural que cada um tenda a lançar a trajetória de sua tem, de modo que isto não o atinge, pois vive em outra dimen-
vida ao longo de uma rota assinalada por excessos naquela dire- são, não sendo nosso rival. É por isso que, para nós, ele serve
ção, sendo, portanto, natural que cometa erros daquele gênero. como exemplo de um indivíduo íntegro. O tipo similar a nós,
Entende-se assim por que os indivíduos têm necessidade de encontrando-se no mesmo nível de comportamento e cometen-
se controlar, especialmente naqueles pontos fracos, perigosos do os mesmos erros, não nos indica o nosso defeito, porque ele
para eles. Compreende-se a necessidade de não entrar naqueles também o tem e, se nos acusasse, estaria acusando a si mesmo.
52 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
O termo de comparação com que nos medimos a nós mes- receber dela um tratamento favorável. A inconveniência do sis-
mos no exame de consciência não é dado por uma lista de man- tema oposto salta aos olhos, tão logo se consegue compreender.
damentos ou um código de leis, mas sim pelo resultado de nos- De fato, dado que a Lei não permite a violação da justiça, quem
so comportamento, ou seja, por um fato concreto, que, para tenta evadir-se dela acaba tendo de fazer, não espontaneamente,
quem conhece a técnica funcional da Lei, é previsível ainda an- mas à força de golpes dolorosos, tudo aquilo que o aguarda.
tes do lançamento, conforme o tipo da trajetória que for esco- Com o sistema da honestidade, faz-se o devido trabalho somen-
lhida. Mas este conhecimento, além de ser obtido por um cálcu- te uma vez. Com o sistema do engano, tem-se primeiro a fadiga
lo teórico, pode nos vir, como já foi mencionado, pela observa- de realizar a construção errada, para assistir depois o seu des-
ção de como a Lei, em dadas circunstâncias, tem funcionado moronamento, porque ela não se sustém, tendo-se ao fim de re-
em relação ao comportamento de outros. Muita gente viveu an- fazer tudo de novo, no sentido oposto e à força.
tes de nós, então basta observar como a Lei funcionou para O exame de consciência serve para adquirir conhecimento
eles. Todos nós sabemos mais ou menos como vão terminar dos erros e das futuras consequências. Então, perguntando-nos
certas atitudes. Devemos, então, evitar assumi-las, se não qui- o que estamos fazendo a cada momento, devemos examinar
sermos que a mesma coisa aconteça conosco, porque sabemos ato por ato, verificando, assim, se ele corresponde à retidão. O
que naquelas condições isto acontece. exame nos põe na presença da Lei, permitindo-nos ver se o tri-
Este exame preventivo de consciência não é, portanto, um lho sobre o qual nos colocamos nos leva para o bem ou nos le-
quebra-cabeça inútil. Nós não somos moralistas. Falamos em va para o mal. No passado, vivia-se na ilusão de que, à força
termos utilitários. Quando soubermos, com base em um correto de astúcia, era possível, depois de se ter cometido o erro, esca-
exame de consciência, lançar a trajetória de um caso ou de uma par-se às lições da dor. Acreditava-se que fosse possível esca-
vida, tomando uma rota positiva, ao invés de uma rota negativa, par sem pagar. Isso, sem dúvida, era muito cômodo. Mas,
que nos obrigará a sofrer as consequências danosas, a vantagem quando se conhece a Lei, vê-se que tal injustiça só é possível
será toda nossa. Poderemos então ter uma vida planificada, sem no cérebro de quem não compreende. Isto não significa que
golpes ou dores, porque nos moveremos na direção correta. não se saiba fazer aquele jogo, mas sim que se procura evitá-
Além disso, se as coisas andarem mal ao longo do caminho, lo, porque se vê que ele não convém.
será possível, com o nosso conhecimento do mecanismo da Lei Para melhor nos convencermos disso, condição fundamental
e da técnica da intervenção, fazer a cada passo um exame de para o nosso bem, devemos observar como este problema foi
consciência, o qual nos permitirá perceber os erros cometidos resolvido no passado. Tentou-se fazê-lo de uma forma diferente
no lançamento da trajetória e nos indicará os meios para corri- daquela apresentada aqui, fato que se explica, quando analisa-
gir a mesma. Logicamente, se conseguirmos endireitar assim a mos a razão de sua gênese. Naquela época, o homem estava
rota errada, muitas das dificuldades que lhe são consequentes preso a seus instintos, e o que mais o premia era satisfazê-los.
deverão desaparecer. Tudo isso conduz a um modo de viver Ele não levava em conta as consequências, porque ignorava a
menos doloroso do que aquele do passado. Esta correção da ro- técnica usada pela Lei ao ensinar. Então continuava impassível
ta errada é como uma redenção dos males que nos agravavam. a errar e a pagar, jogo este que, para muitos, ainda continua.
Se aquilo que nos desviava era um defeito, uma vez libertados É certo que o homem tentava resolver o problema, mas, em
dele, ficamos livres também das suas consequências. sua imaturidade, não o conseguia. Desta tentativa falida nasceu
Certamente, este é um modo de viver mais difícil, que per- a filosofia da aceitação resignada. Podemos, dessa forma, ex-
mite menos loucuras. Quando o aluno passa para a universida- plicar a presença de uma psicologia tão antivital, na qual o pro-
de, deve saber estudar por si mesmo, sem a orientação do mes- blema, em vez de ser resolvido, complica-se com um terceiro
tre, encontrando um ambiente mais intelectual. Também acon- termo, que se acrescenta aos outros dois já mencionados, de
tece assim com o exame de consciência, que dá mais liberdade modo que, em vez do binômio erro-dor, chega-se ao trinômio
e mais responsabilidade. Encontrar-se sozinho perante a própria erro-dor-resignação.
consciência é diferente de encontrar-se perante um juiz humano É interessante analisar este processo psicológico. A dor exis-
ou um código de leis. Com isso, passa-se de uma disciplina ex- tia, e não se sabia como eliminá-la. Então, não se sabendo como
terior a outra, mais exata e completa, que penetra fundo até às resolver o problema, procurou-se fugir dele, tomando-se uma via
raízes do fenômeno, alcançando o nível da motivação. Chega- lateral, que é uma tentativa de evasão não bem sucedida, na qual
se assim a uma disciplina que, pelo fato de estar dentro de nós, a dor permanece, mas o indivíduo adapta-se a ela, estabelecendo
ligando-nos ao nosso íntimo, não podemos enganar. um regime de convivência pacífica. No fundo, ela é aceita, do-
Esta interioridade da disciplina, que chega até à substância mesticada e justificada pelas filosofias sobrepostas, que procu-
de nossa conduta, corta pela raiz o sistema de escapatórias, com ram transfigurá-la, em vista da finalidade a ser alcançada por
o qual se procura burlar a Lei. Colocamo-nos então diante dela, meio dela mesma. Chega-se então quase a santificá-la, elevando-
em posição de retidão, e não de fuga, direcionados no sentido a a virtude. Assim, submetendo a dor a um processo de super-
positivo, e não às avessas, no sentido negativo. Isso significa humanização e idealização, procura-se destruir-lhe a virulência.
afinidade para ser ajudado, e não confronto para ser golpeado. O resultado disso é um compromisso, um acordo tácito entre
Vê-se como é loucura seguir este segundo método, tão desvan- o homem e a dor, pelo qual o primeiro diz à segunda: “Aceito-te
tajoso. Por isso explicamos aqui a função do exame de consci- e chego mesmo a te abraçar, porque tu me purificas e me salvas,
ência, através do qual nos podemos mover segundo a Lei. mas enquanto te deixo nascer e crescer como queres, eu conti-
É evidente que a finalidade deste exame é evitar a lição nuo a satisfazer meus desejos. Este acordo é conveniente tanto
dolorosa que se segue ao erro. Trata-se de uma aprendizagem para mim, que quero viver a meu modo, como para a Lei, que
para alunos inteligentes, que sabem raciocinar e entender, e quer ensinar-me a viver de outro”. O resultado deste sistema é
não para alunos que procedem como asnos, aprendendo só à que o homem tende a tornar sempre mais teórica a segunda parte
força de chicotadas. O fato é que todos temos de aprender, e do compromisso, para viver de fato a primeira. Em suma, ele
disto ninguém pode escapar. As evasões de nada adiantam. continua a aplicar seu sistema de astúcia também diante da Lei.
Assim, se não aprendermos de um modo, aprenderemos de Mas, como pode ele agir de outra maneira, se, naquele nível
outro, o que se torna tanto mais inaceitável, quanto mais o evolutivo, este é o seu tipo de vida? Deste modo, tudo se explica
homem evolui e compreende. e tem sua razão de ser. Justifica-se, assim, a razão pela qual, na
O exame de consciência se torna o passo inicial e decisivo Terra, o elevado ideal serve frequentemente de cobertura para
na aplicação do sistema positivo da retidão, segundo a Lei, para esconder outra realidade, que é a realmente vivida.
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 53
Construiu-se assim toda uma filosofia religiosa, que che- rente às raízes das coisas, que se esconde e foge às pesquisas.
gou ao ponto de considerar a vida terrena como uma pena a Silenciosa e invisível, ela penetra tudo e dirige tudo de dentro,
suportar, em vista da vida verdadeira no além. A primeira não estabelecendo nosso êxito ou nossos fracassos. Tê-la a nosso fa-
seria então mais do que uma prova temporária, um teste para vor significa ser o mais poderoso entre os poderosos da Terra.
decidir a segunda, eterna e definitiva. Agora, porém, devemos Quem a tem contra si, mesmo que seja o rei do mundo, está per-
admitir que, se Deus criou a vida terrena, ela deve ter uma fun- dido. Quem compreendeu a Lei, descobriu e adquiriu uma po-
ção e um desenvolvimento próprios, não sendo razoável en- tência nova, que o mundo não conhece. É no funcionamento da
tendê-la somente como condicionamento para uma única vida Lei que se encontra a explicação e a justificação de todos even-
real depois da morte. Sua função é ser uma escola, portanto tos humanos. Quantos colossos desmoronaram, cegados pelo
aqueles que se retiravam para o deserto eram alunos que fugi- próprio orgulho, porque acreditavam saber e poder tudo! E
am da escola e perdiam a ocasião de aprender. quantos, em sua inconsciência, ainda brincam com estas forças
Trata-se, todavia, de distorções mentais que não podem ser tremendas, sem compreender para onde elas os arrastarão!
condenadas, quando se pensa que foram geradas num estado Estamos chegando ao término deste livro, e o leitor poderá
de desesperação, ao qual estava reduzida a vida na Idade Mé- nos perguntar qual a finalidade que tínhamos prefixado para ele.
dia. E não se pode culpar as religiões de terem criado esta psi- Nós não imitamos aquelas potências que, para seu próprio ex-
cologia, porque elas apenas a secundaram, para servir de con- pansionismo, tentam impor a sua ordem, tornando-se o centro
forto. É necessário também distinguir os tipos de dor. Para dela e preparando-se para colidir com outros centros, a fim de
aquela dor merecida e recebida, tratando-se, portanto, de um vencê-los. Se assim fosse, seria necessário estar armado, porque
mal agora inevitável, a filosofia da aceitação e da dor-virtude se trata de egocentrismos rivais, cada um dos quais quer domi-
é ótima coisa. Então a dor é aceita porque é benéfica, consis- nar os outros. Na Terra, ainda se vive num regime de luta, e o
tindo num pagamento de débitos já contraídos, fazendo o pa- método aí vigente para estabelecer uma ordem é o do vencedor.
pel do hospital para os doentes. Mas tal sistema se torna ab- Nossa posição é completamente diversa. Não queremos im-
surdo para os masoquistas saudáveis, que devem trabalhar. É por coisa alguma, nem conquistar ninguém. Fazemos apenas
antivital procurar a dor sem uma razão, é loucura sustentar uma constatação e a apresentamos ao leitor, de onde se conclui
que o sofrimento, assim compreendido, seja virtude. que as qualidades atuantes em nosso caso divergem profunda-
Em outros livros temos sustentado o valor da dor e a sua po- mente das citadas acima. Nós simplesmente constatamos que há
tência para libertar do mal. Embora, aqui, pareça que dizemos o uma ordem divina universal, à qual ninguém pode escapar.
contrário, podemos confirmar que a dor é um meio de reden- Descrevemos seus princípios diretivos, seu funcionamento e
ção, porque ela é a chibata que nos ensina a não cometer mais o sua férrea disciplina, explicando que eles não violentam aquelas
erro. É certo que, neste caso, a dor é benéfica e positiva, porque ordens humanas, respeitando e deixando o homem livre para
nos salva. Mas, na escola da vida, ela representa o método duro desobedecer conforme desejar.
e o caminho longo. Ora, queremos ressaltar que há também o Afirmamos, porém, que os fatos nos autorizam a crer que
caminho curto, através do método da compreensão, no qual se hoje estamos nos aproximando de um momento crítico de satu-
aprende sem chicotadas. Então, em vez de sofrer, chega-se à ração, no qual seremos obrigados a fazer uma opção, de modo
compreensão refletindo, o que é muito mais conveniente. que ou o homem compreende esta ordem e consegue enqua-
Vamos insistir, agora, nesta senda. No caso do método duro drar-se nela, ou ele acabará se matando com suas próprias
e do caminho longo, a filosofia da resignação pode ser útil, mãos. É isto o que vemos escrito somente na lógica dos fatos.
porque então o mal já está feito e a dor é inevitável. Tal filoso-
fia é sempre um conforto e uma esperança. Isso significa que é CONCLUSÃO
muito mais fácil ter de suportar a dor, quando sabemos que nós
lhe semeamos as causas. Esta é a tese que o presente livro de- O problema com o qual nos defrontamos neste livro foi o de
seja demonstrar. De outra maneira, continuaremos a nos con- provar a importância de sabermos dirigir-nos dentro do funcio-
fortar com a esperança de outra vida e a sofrer as consequên- namento da Lei, sem bater a cada passo a cabeça contra ela, pro-
cias do mal realizado, justificando-as com o argumento de que longando o sofrimento. Não há razão para que o problema da
a vida é feita para sofrer. dor, quando se detectam as causas e se compreende a técnica das
Hoje a febre de criação motivada pelo momento histórico suas origens, seja insolúvel. Agora sabemos que há uma ordem,
não tolera mais aquelas posições de resignação preguiçosa, pos- à qual chamamos Lei, e que, quando a violamos, geramos com
síveis apenas em períodos de inércia. Vive-se atualmente na isso a dor. Então basta não violarmos aquela ordem, para que a
expectativa do trabalho da evolução. A humanidade deve cons- dor não surja. A civilização e a ciência vão eliminando cada vez
truir agora um mundo novo, e as virtudes do passado se fazem mais as causas próximas, mas ainda não penetraram até às cau-
cada vez mais anacrônicas. Estão surgindo novas virtudes, de sas profundas, que permanecem. E vemos de fato que o homem,
outro tipo. Hoje não se permanece na periferia dos problemas, com seus loucos métodos de vida, é ativíssimo em semeá-las.
mas procura-se resolvê-los. Compreende-se quanto custa fazer Ora, tudo isso está claro, e qualquer um poderá utilizar este
o mal e que loucura é fazê-lo. Entendemos quão sutis e podero- conhecimento. O problema que nos propomos aqui é outro, e con-
sas são as forças que colocamos em movimento com nossa siste em encontrar o homem psicologicamente maduro para saber
conduta, e quão necessário é saber manejá-las de acordo com a autodirigir-se como aqui explicamos. Este livro seria uma vã dis-
Lei. Por isso explicamos as vantagens do método da retidão e sertação filosófica, se não fosse feito para ser vivido. Mas viver
os danos do método do engano. Dissemos acima que aceitar essa nova proposta pressupõe uma consciência e um senso de res-
uma disciplina segundo a Lei é menos fatigante do que pagar ponsabilidade não comum à massa. Assim foi no passado. Porém
depois à Lei a desordem efetuada contra ela. É questão de con- já vislumbramos hoje um fato novo, que se faz cada dia mais evi-
veniência, tratando-se de um cálculo utilitário. Para quem co- dente. Tudo está transformando-se rapidamente, com um progres-
nhece a Lei e, portanto, as consequências da sua conduta, dá so sem precedentes em todos os campos. O atual momento histó-
medo ser desonesto. É preciso uma boa dose de inconsciência rico representa um salto à frente ao longo da linha da evolução,
para se fazer o mal e permanecer tranquilo. transformando a nossa vida, que é elevada a um nível biológico
Em suas vicissitudes, o homem intuiu a presença da Lei, mais avançado. Com isso, o homem está rapidamente amadure-
mas, não sabendo decifrá-la, chamou-a de imponderável, dei- cendo para chegar a compreender e se preparar para assumir uma
xando-a no estado de incógnita. Trata-se de uma força sutil, ade- nova forma mental, a fim de conceber e agir diferentemente.
54 PENSAMENTOS Pietro Ubaldi
Estamos convictos de que, em 1971, estaremos entrando rentes à própria posição de violador da ordem. E vimos como
num período febril de três décadas, que desembocará no Tercei- isto acontece. Tal sistema é um dano, e não uma vantagem,
ro Milênio, tendo amadurecido e fazendo entrar nele um ho- consistindo num método de tolos, que se autoflagelam com
mem diferente. Certamente existe e existirá ainda uma parte uma fábrica de sofrimentos, para cuja produção trabalham sem
atrasada, que não pode compreender, mas torna-se cada vez descanso. É difícil imaginar tamanha loucura!
maior a parte que o pode. E é a esta parte, formada sobretudo A transformação que se verifica hoje se deve ao fato de se
pela nova geração, que nos dirigimos. Pelo modo como ela en- ter compreendido que se comportar de tal modo é loucura. An-
frenta os novos problemas, já se vê que os quer resolver. Ela tes não se era maduro para se ver isto, nem para se reagir. Uma
representa uma corrente da vida, e nós nos inserimos nela. Nes- inteligência e sensibilidade menos desenvolvidas nos permitiam
te momento, é claro que o velho passado não satisfaz. Há uma jazer em um estado de inércia e resignação. Hoje, porém, che-
necessidade de renovação e uma procura de orientação, e aqui gamos num ponto em que o peso das consequências dos erros
está uma oferta. Os dois termos não podem deixar de se encon- tornou-se maior, e não só a paciência, mas também a margem
trar. Se a vida faz nascer neste momento esta ideia, isso signifi- para suportá-lo, tornaram-se menores. Chegamos assim a um
ca que ela deverá servir para alguma coisa. grau de saturação tal, que o sistema do passado não é mais tole-
Como se realiza este amadurecimento? O universo é dirigi- rável, fazendo o copo transbordar. O mundo está cansado de so-
do por muitas leis. O homem vê apenas aquilo que seus olhos, frer e busca um sistema mais inteligente, no qual a dor possa
definidos por um determinado grau de evolução, são capazes de ser evitada, procurando qualquer coisa de claro, de limpo, que
ver. Ora, os olhos do homem do passado não estavam bastante não o leve a tantas dificuldades. O homem começa a se aperce-
desenvolvidos para ver a ordem com a qual aquelas leis regem ber que, se os seus resultados dos velhos métodos são assim tão
tudo. Imaginaram-na, intuíram-na, mas não a viram e não a desastrosos, deve haver neles algo de errado. Ele quer descobrir
analisaram. Então a verdadeira convicção que dirigia a conduta o erro e corrigi-lo. Trata-se então de localizá-los, para encontrar
daquele homem era de que se vivia no caos. Ele acreditava que o modo de não mais cometê-los e, assim, não ter de arcar com o
não havia ordem alguma, a não ser aquela imposta ao indivíduo pagamento dos prejuízos correspondentes.
com as próprias forças, em um mundo feito de lutas. Que esta Ora, para não cometer erros, é necessário permanecer na or-
era a verdadeira convicção provava-o seu modo de comportar- dem, e isto exige disciplina. Hoje, no entanto, arrisca-se pelo
se. As solenes afirmações morais das filosofias e das teologias contrário cometer um erro ainda mais grave, entendendo que a
eram postas bem à mostra, no posto de honra, mas não eram libertação do passado significa ficar livre de qualquer disciplina.
aplicadas à realidade cotidiana. A filosofia verdadeiramente vi- Busca-se assim uma liberdade que leva ao caos. Mas uma liber-
vida era a da força para dominar e da astúcia para enganar. Isto, dade entendida no sentido de poder fazer aquilo que eu quiser,
de fato, era o que realmente acontecia. Com as aparências, pro- até mesmo cometer abusos em prejuízo de outros, significa em
curava-se esconder esta realidade, na qual verdadeiramente se contrapartida uma liberdade na qual todos podem fazer aquilo
acreditava. E era natural que assim fosse, pois aquela era a rea- que quiserem, até mesmo cometerem abusos em meu prejuízo.
lidade que o homem via com seus próprios olhos. Então se acaba toda a garantia de segurança e a vida torna-se um
Acontece, porém, pelas leis da vida, que ele, chegando a um estado de guerra contínua, de todos contra todos. É certo que a
determinado grau de evolução, constrói outro tipo de olhos, que disciplina me pesa, mas, se eu me liberto deste peso, libertam-se
veem mais profundamente. Isto significa que se desenvolve no dele também os outros, pois, se me permito todas as liberdades
homem um grau de inteligência mais avançado, capaz de en- em minha vantagem e dano para os outros, todos procedem de
tender aquilo que ele não compreendia antes. É assim que lhe igual modo em meu prejuízo. A disciplina que parece sufocar a
aparece na mente a visão da ordem estabelecida pela Lei, a qual minha expansão vital é justamente minha única defesa contra o
certamente já existia e funcionava, mas não era percebida, por- assalto da expansão vital dos outros. A disciplina me tolhe dian-
que no homem ainda não se havia formado a visão intelectual te dos outros, mas também tolhe os outros diante de mim.
necessária para enxergá-la. Na Lei, o princípio de disciplina é tão rígido, que chega ao
Hoje isto começa a ser possível, e os sintomas são evidentes. ponto de não poder perdoar a minha culpa em relação aos ou-
É difícil fazer-se uma ideia da grandeza de tal revolução em fun- tros, porque, se o fizesse, ela, por justiça, deveria perdoar tam-
ção de suas consequências. Há uma total mudança dos funda- bém a culpa dos outros em relação a mim. Isso formaria um re-
mentos, com uma nova filosofia diretora da própria conduta. Eis gime de desordem sem qualquer segurança, no qual o abuso não
então o que acontece. O homem passa a ver a realidade mais pro- seria corrigido e a impunidade tornaria a vida uma escola do
funda, que antes lhe escapava, e assim compreende que vive em mal. A Lei nos mostra que a desordem é o maior mal possível.
um regime de ordem, e não de caos. Então este homem compre- Conclui-se então que, na compreensão deste fenômeno, está o
ende o que é errado e não comete mais o erro, porque faz o se- ponto para o qual deve tender a atual experiência de liberdade,
guinte raciocínio: “Se vivemos em um regime de ordem, e não de como se fosse o remédio do passado e o novo método a seguir.
caos, e se quem dirige os eventos não sou eu, impondo-me à for- É certo, porém, que a evolução quer avançar em direção à
ça, mas sim uma Lei inteligente e justa, então o meu sistema de liberdade, mas isso em outro sentido. Tal liberdade deve signi-
querer eu mesmo dominar serve para violar esta ordem, e não pa- ficar a abolição da servidão à autoridade, que os interessados
ra me fazer vencer, de modo que, sendo ela é muito mais podero- em sua própria vantagem impões sobre seus respectivos depen-
sa do que eu, em vez de vencê-la, sou vencido por ela. Então o dentes. Mas, paralelamente, deve significar também a formação
único resultado que atingirei será ter de suportar em forma de dor de um senso de responsabilidade, pelo qual o homem se sujeita
os efeitos das ofensas que provoquei naquela ordem”. livremente a uma disciplina interior própria, que ele impões a si
Olhando-se bem, este raciocínio não é infundado, porque a mesmo, fazendo-se, assim, o construtor e o senhor daquela or-
permanência da dor na vida é um fato de fácil constatação, que dem que, antes, ele devia acatar pela vontade de outros. Só as-
não se pode explicar racionalmente, senão como o efeito de sim é possível obter a tão cobiçada liberdade em nossos dias,
uma contínua repetição de erros, que representam sua causa. Se sem cair no caos, sendo este o maior perigo que ameaça quem
não se admitisse isso, seria necessário admitir um Deus malva- impensadamente procura hoje a liberdade de abusar, em vez de
do, que criou os seres para fazê-los sofrer. uma liberdade feita de disciplina e responsabilidade.
E o raciocínio continua. Vencer quando se é forte e astuto, Infelizmente, porém, ainda domina hoje o velho conceito de
indo contra a Lei, que por sua vez é justiça, não é vencer, mas liberdade, entendida como libertação de um estado de servidão,
sim perder, porque significa atrair sobre si as dificuldades ine- não estando consolidado ainda o novo conceito, de liberdade
Pietro Ubaldi PENSAMENTOS 55
como autodisciplina segundo a Lei. Isso se deve ao fato de que os efeitos que devemos suportar hoje, como consequência do
o primeiro modo de entender a vida é próprio do nível evoluti- passado. A eles explicamos neste livro o problema, porque es-
vo inferior, no qual vigora o princípio da luta pela vida, sendo tão em condição de compreender. Trata-se de implantar a vida
este o nível em que o homem ainda está em parte situado, en- sobre um regime novo. Em relação ao passado, o que foi feito,
quanto o segundo modo é próprio do nível evolutivo mais alto, está feito. Aqui se trata do futuro. Se os jovens souberem plan-
no qual vigora o princípio da ordem da Lei, sendo este o nível tar uma boa árvore, a humanidade futura não se encontrará do-
que somente hoje o homem está prestes a atingir. Não se pode minada por ervas daninhas como a atual. Porém, se eles come-
realmente chegar à liberdade senão quando o indivíduo, em terem novos erros, terão de pagá-los. A seu tempo, a velha ge-
substituição à disciplina que lhe é imposta por um amo, conse- ração fez o seu trabalho, pertencendo agora à nova a oportuni-
gue seguir a disciplina que lhe é imposta por si mesmo. Quem dade de construir um mundo novo.
não sabe fazer isto cai fatalmente no caos, condição suficiente Cabe à geração atual dar o salto à frente. Trata-se de um
para atrair outro senhor que o domine e, assim, restabeleça a momento crítico, de grande importância, mas perigoso. Até
ordem. A liberdade em demasia leva à perda da mesma, conse- agora, a disciplina tem sido imposta por uma autoridade, e te-
quência de uma lei fatal da vida. mos visto o quanto procuramos desvencilhar-nos de ambos.
A humanidade já tende a se constituir em um estado orgâni- Ver-se-á que há uma disciplina férrea em todas as coisas, por-
co de cooperação. Em tal regime social, que se dirige cada vez que elas estão contidas na Lei, que dirige o movimento de tudo.
mais para a coletivização das funções, o separatismo e a falta de Antigamente, para persuadir, bastavam as lendas. As afirma-
disciplina se tornam contraproducentes, devendo-se eliminá-los ções não comprovadas eram aceitas por sugestão. Hoje o jogo
como um mal social. Hoje a evolução pressiona, forçando o psicológico do subconsciente, ao qual se obedecia, foi desmon-
homem a entrar neste novo regime de vida. Então a psicologia tado. Tudo é submetido a controle racional, distinguindo-se o
de luta, com base no individualismo egoísta, é substituída pela que se conhece do que se desconhece, pois, quando se sabe, sa-
psicologia de disciplina, para viver segundo a Lei. Tal trans- be-se de verdade, sem ficar mais no mundo da fantasia.
formação atinge as raízes do problema biológico fundamental: O amadurecimento é vertiginoso, e o salto é arriscado. Tra-
a sobrevivência. E este é de fato o problema mais importante a ta-se de uma mudança evolutiva para uma civilização mais ele-
resolver, sendo que, para atingir essa finalidade, é preciso pos- vada. Porém somos otimistas. O movimento é revolucionário,
suir uma arma de defesa. Como já dissemos, estas armas eram mas, se a vida o lança, isso é porque ele é destinado a se reali-
no passado a força e a astúcia. O homem tem medo de abando- zar. Se ela propôs este trabalho hoje, e não antes, isso significa
ná-las, sentindo-se inseguro em fazê-lo, pois sabe que vive em que ele lhe serve e que é possível executá-lo. A vida é uma sé-
um regime de luta, razão pela qual ele também demora em ado- rie de provas, feitas para serem superadas. Isso é demonstrado
tar o método da retidão. Os dois termos do problema, relativos pelo nível de evolução já atingido. É certo que o homem deverá
às duas posições, estão frente a frente: ou assumir como base a sofrer a sua fadiga, mas a vida colabora com ele, como em um
própria força para impor-se e dominar no caos, ou basear-se, trabalho de equipe, porque ela quer sobretudo vencer, realizan-
pelo contrário, na retidão, vivendo na ordem, segundo a Lei. O do seus planos por meio dele. Uma vez, porém, que a vida é
homem tarda em compreender que a segunda arma é mais po- econômica e utilitária, ela orienta o processo, para que não haja
tente e segura. Mas trata-se de uma técnica muito diferente da desperdício inútil do trabalho. E há neste caso uma fadiga ainda
outra, para que possa ser compreendida e aplicada de súbito. maior, que não pode ser desperdiçada. Trata-se do esforço rea-
Não mais força e astúcia, mas retidão. Tudo muda então. A lizado pelo homem para chegar a produzir o precioso fruto que
própria posição de segurança não é mais encontrada no poder é o seu atual nível evolutivo. Ora, ainda que a experiência atual
individual, mas sim na Lei. Eis aí o fato novo. Parece incrível pareça colocar em perigo uma tão grande construção, se hoje a
que a retidão possa ser uma força defensiva que assegura a so- vida propôs esta experiência, isso quer dizer que o momento é
brevivência. É assim que o homem justo se torna invulnerável apropriado e que há uma boa probabilidade de sucesso. Tais
aos ataques inimigos, porque não pode ser ferido, se não o me- movimentos não são obra do acaso, nem uma improvisação,
recer. Vive-se então uma vida baseada sobre outros princípios. mas sim movimentos preparados há séculos, através do amadu-
Compreende-se quanto era errado o método do passado. Mas recimento de todos os elementos necessários, com um trabalho
como poderia compreender isso quem estava naquele nível e proporcional à importância do acontecimento.
não tinha olhos para ver mais além? Arruinava-se, mas não via. Com este livro, aproximamo-nos de um mundo novo, que
Procedeu-se sempre assim, e a dor permaneceu fiel companhei- está à nossa espera. Olhando esse mundo, temos a impressão de
ra do homem, até que ele terminou por considerá-la um mal ne- avançar sobre um continente inexplorado, descobrindo vales,
cessário, desenvolvendo a virtude da resignação, para se adap- rios e montes. Ainda estamos apenas na costa. Que haverá mais
tar a ela, em vez de descobrir-lhe a causa, para suprimi-la. longe, no seu interior? Temos percorrido muitos caminhos atra-
Hoje o mundo se acha carregado de dificuldades, sendo es- vés de outras terras, a fim de podermos empreender agora a ex-
tas a consequência daquilo que, com tais métodos, foi semea- ploração desta nova terra, que se apresenta tão vasta. Não pre-
do no passado. A realidade é dura, por causa dos efeitos dolo- tendemos ter visto senão uma pequena orla, buscando mostrá-la
rosos, mas é fatal, pois, quando semeamos as causas, a Lei a quem ainda queira avançar por caminhos inexplorados, sob
não admite escapatória orientação da Lei, para aprofundar seu conhecimento.
Então, se falamos tudo isso aqui, é porque nos dirigimos à
nova geração, para que ela, observando os fatos e compreen-
dendo a lição, não caia no mesmo erro. Os jovens se encontram FIM
em fase de semeadura, estando, portanto, em condições de evi-
tar os precedentes com os quais nós, os mais velhos, geramos
O MISSIONÁRIO
Vida e Obra de Na primeira semana de setembro de 1931, depois da grande decisão fran-
ciscana, Cristo novamente lhe apareceu e, desta vez, acompanhado de São

Pietro Ubaldi Francisco de Assis. Um à direita e outro à esquerda, fizeram companhia a Pie-
tro Ubaldi durante vinte minutos, em sua caminhada matinal, na estrada de
Colle Umberto. Estava, portanto, confirmada sua posição.
Em 25 de dezembro de 1931, chegou-lhe de improviso a primeira mensa-
(Sinopse) gem, a Mensagem de Natal. Por intuição ele sentiu: estava aí o início de sua
missão. Outras Mensagens surgiram em novas oportunidades. Todas com a
mesma linguagem e conteúdo divino.
O HOMEM No verão de 1932, começou a escrever A Grande Síntese, a qual só termi-
nou em 23 de agosto de 1935, às 23h00min horas (local). Esse livro, com cem
Pietro Ubaldi, filho de Sante Ubaldi e Lavínia Alleori Ubaldi, nasceu em capítulos, escrito em quatro verões sucessivos, foi traduzido para vários idio-
18 de agosto de 1886, às 20:30 horas (local). Ele escolheu os pais e a cidade mas. Somente no Brasil, já alcançou quinze edições. Grandes escritores do
onde iria nascer, Foligno, Província de Perúgia (capital da Úmbria). Foligno fi- mundo inteiro opinaram favoravelmente sobre A Grande Síntese. Ainda outros
ca situada a 18 km de Assis, cidade natal de São Francisco de Assis. Até hoje, compêndios, verdadeiros mananciais de sabedoria cristã, surgiram nos anos se-
as cidades franciscanas guardam o mesmo misticismo legado à Terra pelo guintes, completando os dez volumes escritos na Itália:
grande poverelo de Assis, que viveu para Cristo, renunciando os bens materiais 01) Grandes Mensagens
e os prazeres deste mundo. 02) A Grande Síntese - Síntese e Solução dos Problemas da Ciência e do Espírito
Pietro Ubaldi sentiu desde a sua infância uma poderosa inclinação pelo
03) As Noúres - Técnica e Recepção das Correntes de Pensamento
franciscanismo e pela Boa Nova de Cristo. Não foi compreendido, nem poderia
sê-lo, porque seus pais viviam felizes com a riqueza e com o conforto proporci- 04) Ascese Mística
onado por ela. A Sra. Lavínia era descendente da nobreza italiana, única herdei- 05) História de Um Homem
ra do título e de uma enorme fortuna, inclusive do Palácio Alleori Ubaldi. As- 06) Fragmentos de Pensamento e de Paixão
sim, Pietro Alleori Ubaldi foi educado com os rigores de uma vida palaciana. 07) A Nova Civilização do Terceiro Milênio
Não pode ser fácil a um legítimo franciscano viver num palácio. Naturalmen- 08) Problemas do Futuro
te, ele sentiu-se deslocado naquele ambiente, expatriado de seu mundo espiritual. 09) Ascensões Humanas
A disciplina no palácio, ele aceitou-a facilmente. Todos deveriam seguir a orien- 10) Deus e Universo
tação dos pais e obedecer-lhes em tudo, até na religião. Tinham de ser católicos
Com este último livro, Pietro Ubaldi completou sua visão teológica, além
praticantes dos atos religiosos, realizados na capela da Imaculada Conceição, no
de profundos ensinamentos no campo da ciência e da filosofia. A Grande Sínte-
interior do palácio. Pietro Ubaldi foi sempre obediente aos pais, aos professores, à
se e Deus e Universo formam um tratado teológico completo, que se encontra
família e, em sua vida missionária, a Cristo. Nem todas as obrigações palacianas
ampliado, esclarecido mais pormenorizadamente, em outros volumes escritos
lhe agradavam, mas ele as cumpriu até à sua total libertação. A primeira liberdade
na Itália e no Brasil, a segunda pátria de Ubaldi.
se deu aos cinco anos, quando solicitou de sua mãe que o mandasse à escola, e
O Brasil é a terra escolhida para ser o berço espiritual da nova civiliza-
aquela bondosa senhora atendeu o pedido do filho. A segunda liberdade, verdadei-
ção do Terceiro Milênio. Aqui vivem diferentes povos, irmanados, indepen-
ro desabrochamento espiritual, aconteceu no ginásio, ao ouvir do professor de ci-
dentes de raças ou religiões que professem. Ora, Pietro Ubaldi exerceu um
ência a palavra “evolução”. Outra grande liberdade para o seu espírito foi com a
ministério imparcial e universal, e nenhum país seria tão adaptado à sua mis-
leitura de livros sobre a imortalidade da alma e reencarnação, tornando-se reen-
são quanto a nossa pátria. Por isso o destino quis trazê-lo para cá e aqui com-
carnacionista aos vinte e seis anos. Daí por diante, os dois mundos, material e es-
pletar sua tarefa missionária.
piritual, começaram a fundir-se num só. A vida na Terra não poderia ter outra fi-
Nesta terra do Cruzeiro do Sul, ele esteve em 1951 e realizou dezenas de
nalidade, além daquelas de servir a Cristo e ser útil aos homens.
conferências de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Em oito de dezembro do ano se-
Pietro Ubaldi formou-se em Direito (profissão escolhida pelos pais, mas ja-
guinte, desembarcaram, no porto de Santos, Pietro Ubaldi acompanhado da es-
mais exercida por ele) e Música (oferecimento, também, de seus genitores), fez-se
posa, filha e duas netas (Maria Antonieta e Maria Adelaide), atendendo a um
poliglota, autodidata, falando fluentemente inglês, francês, alemão, espanhol, por-
convite de amigos de São Paulo para vir morar neste imenso país. É oportuno
tuguês e conhecendo bem o latim; mergulhou nas diferentes correntes filosóficas e
lembrar que Ubaldi renunciou aos bens materiais, mas não aos deveres para
religiosas, destacando-se como um grande pensador cristão em pleno Século XX.
com a família, que se tornou pobre porque o administrador, primo de sua espo-
Ele era um homem de uma cultura invejável, o que muito lhe facilitou o cumpri-
sa, dilapidou toda a riqueza entregue a ele para gerencia-la.
mento da missão. A sua tese de formatura na Universidade de Roma foi sobre A
Em 1953, Pietro Ubaldi retornou à sua missão apostolar, continuou a re-
Emigração Transatlântica, Especialmente para o Brasil, muito elogiada pela ban-
cepção dos livros e recebeu a última Mensagem, Mensagem da Nova Era, em
ca examinadora e publicada num volume de 266 páginas pela Editora Ermano
São Vicente, no edifício “Iguaçu”, na Av. Manoel de Nóbrega, 686 – apto. 92.
Loescher Cia. Logo após a defesa dessa tese, o Sr. Sante Ubaldi lhe deu como
Dois anos depois, transferiu-se com a família para o Edifício “Nova Era” (coin-
prêmio uma viagem aos Estados Unidos, durante seis meses.
cidência, nada tem haver com a Mensagem escrita no edifício anterior), Praça
Pietro Ubaldi casou-se com vinte e cinco anos, a conselho dos pais, que es-
22 de janeiro, 531 – apto. 90. Em seu quarto, naquele apartamento, ele comple-
colheram para ele uma jovem rica e bonita, possuidora de muitas virtudes e fina
tou a sua missão. Escreveu em São Vicente a segunda parte da Obra, chamada
educação. Como recompensa pela aceitação da escolha, seu pai transferiu para
brasileira, porque escrita no Brasil, composta por:
o casal um patrimônio igual àquele trazido pela Senhora Maria Antonieta Sol-
11) Profecias
fanelli Ubaldi. Este era, agora, o nome da jovem esposa. O casamento não esta-
va nos planos de Ubaldi, somente justificável porque fazia parte de seu destino. 12) Comentários
Ele girava em torno de outros objetivos: o Evangelho e os ideais franciscanos. 13) Problemas Atuais
Mesmo assim, do casal Maria Antonieta e Pietro Ubaldi nasceram três filhos: 14) O Sistema - Gênese e Estrutura do Universo
Vicenzina (desencarnada aos dois anos de idade, em 1919), Franco (morto em 15) A Grande Batalha
1942, na Segunda Guerra Mundial) e Agnese (falecida em S. Paulo - 1975). 16 ) Evolução e Evangelho
Aos poucos, Pietro Ubaldi foi abandonando a riqueza, deixando-a por con- 17) A Lei de Deus
ta do administrador de confiança da família. Após dezesseis anos de enlace ma- 18) A Técnica Funcional da Lei de Deus
trimonial, em 1927, por ocasião da desencarnação de seu pai, ele fez o voto de
19) Queda e Salvação
pobreza, transferindo à família a parte dos bens que lhe pertencia. Aprovando
aquele gesto de amor ao Evangelho, Cristo lhe apareceu. Isso para ele foi a 20) Princípios de Uma Nova Ética
maior confirmação à atitude tão acertada. Em 1931, com 45 anos, Pietro Ubaldi 21) A Descida dos Ideais
assumiu uma nova postura, estarrecedora para seus familiares: a renúncia fran- 22) Um Destino Seguindo Cristo
ciscana. Daquele ano em diante, iria viver com o suor do seu rosto e renunciava 23) Pensamentos
todo o conforto proporcionado pela família e pela riqueza material existente. 24) Cristo
Fez concurso para professor de inglês, foi aprovado e nomeado para o Liceu São Vicente (SP), célula mater. do Brasil, foi a terceira cidade natal de Pie-
Tomaso Campailla, em Módica, Sicilia – região situada no extremo sul da Itália tro Ubaldi. Aquela cidade praiana tem um longo passado na história de nossa
– onde trabalhou somente um ano letivo. Em 1932 fez outro concurso e foi pátria, desde José de Anchieta e Manoel da Nóbrega até o autor de A Grande
transferido para a Escola Média Estadual Otaviano Nelli, em Gúbio, ao norte da Síntese, que viveu ali o seu último período de vinte anos. Pietro Ubaldi, o Men-
Itália, mais próximo da família. Nessa urbe, também franciscana, ele trabalhou sageiro de Cristo, previu o dia e o ano do término de sua Obra, Natal de 1971,
durante vinte anos e fez dela a sua segunda cidade natal, vivendo num quarto com dezesseis anos de antecedência. Ainda profetizou que sua morte acontece-
humilde de uma casa pequena e pobre (pensão do casal Norina-Alfredo Pagani ria logo depois dessa data. Tudo confirmado. Ele desencarnou no hospital São
– Rua del Flurne, 4), situada na encosta da montanha. José, quarto No 5, às 00h30min horas, em 29 de fevereiro de 1972. Saber quan-
A vida de Pietro teve quatro períodos distintos (v. livro Profecias – “Gêne- do vai morrer e esperar com alegria a chegada da irmã morte, é privilégio de
se da II Obra”): dos 5 aos 25 anos  formação; 25 aos 45 anos  maturação in- poucos... O arauto da nova civilização do espírito foi um homem privilegiado.
terior, espiritual, na dor; dos 45 aos 65 anos  Obra Italiana (produção concep- A leitura das obras de Pietro Ubaldi descortina outros horizontes para uma
tual); dos 65 aos 85 anos  Obra Brasileira (realização concreta da missão). nova concepção de vida.

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