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Direito Penal Fernando Capez
Direito Penal Fernando Capez
FERNANDO CAPEZ
02.02.99
- Princípio da Legalidade - está esculpido no art. 1º do CP: “nullum crimen, nulla poena sine
praevia lege”. Não há crime nem pena sem lei anterior que os definam. Não podemos confundir este
princípio com o princípio da reserva legal, pois esse esta compreendido naquele. Os 2 princípios
compreendidos dentro do princípio da legalidade são:
1. Princípio da reserva legal - somente a lei pode indicar o que é crime, pois não há crime que não
seja previsto por lei.
2. Princípio da anterioridade - só é crime fato previsto como tal em lei que já vigore anteriormente
ao seu acontecimento, pois a lei deve ser anterior ao fato, necessitando estar em vigor na data do
crime.
Histórico - surgiu na Magna Carta em 1215. O artigo 39 previa o princípio da reserva legal como
garantia do cidadão. Servia como proteção e garantia política ao cidadão, sendo na época uma
exigência dos Barões Ingleses para proteger o cidadão do poder absoluto do Monarca. Garantia:
ninguém terá sua liberdade privada ou sua vida ceifada, a não ser que pratique alguma conduta
previamente descrita como crime.
Aspecto jurídico - Karl Binding, procurando dar técnica legislativa, criou o que é hoje o tipo penal,
chamado pelos alemães de “standard”, e é um molde onde consta todas as definições do crime. Ex.:
furtar = subtrair (+) para si ou para outrém (+) coisa alheia móvel. Quem comete um crime não age
contra a lei, e sem age de conformidade com ela, com o que esta nela descrito como crime.
- TIPO PENAL -
1. Reserva absoluta da lei - a definição do tipo penal só pode ser veiculada por lei, no seu sentido
mais restrito. Devem se originar do Poder Legislativo, ou por ele ser validadas. Ex.: art. 62 da CF,
que trata de Medida Provisória - elas nascem no Poder Executivo, e devem ser convertidas em lei
pelo Congresso Nacional até 30 dias após a sua edição, cessando desta forma o vício constitucional,
de onde podemos afirmar que: a medida provisória pode veicular matéria penal, mas não terá
eficácia imediata, somente após sua conversão em lei, onde poderá então disciplinar matéria
penal. A Lei Delegada não pode veicular matéria penal, pois há proibição constitucional (art. 68,
parágrafo 1º, II da CF).
2. Conteúdo material do tipo - princípio do respeito à dignidade humana - art. 1º, III da CF - este
dispositivo é um controle. O tipo penal exerce uma função seletiva, isto é, cabe ao legislador
selecionar, dentre todas as condutas do gênero humano, as de natureza mais grave ao meio social, e
após isso descrevê-las como crime - função seletiva do tipo. O juiz só pode exercer controle
material sobre o tipo penal, quando se violar o princípio do respeito à dignidade humana. Conceito
material do crime:
“É toda ação ou omissão humana voltada à produção de uma lesão a bem jurídico e capaz
de colocar em risco valores fundamentais à sociedade.”
3. Taxatividade - o tipo penal deve descrever a conduta detalhadamente, com todos os seus elementos,
sendo vedado o emprego de interpretação extensiva em norma penal, bem como a analogia, tipos
damasiadamente genéricos. Somente quando for impossível a proteção do bem jurídico por meio de
uma descrição específica, será admitido o tipo genérico. Ex.: homicídio culposo - há várias formas
de ser matar alguém culposamente, aceitando portando os tipos abertos (são a regra dos tipos
penais). Tipo aberto - que não contem todos os elementos, não há definição completa do crime,
geralmente em delitos culposos. Os tipos dolosos, ao contrário, em regra são fechados. Exceção:
adultério, pois não define como seria este adultério.
09.02.99
- PRINCÍPIOS DO CONTROLE DE CONTEÚDO MATERIAL DA RESERVA LEGAL -
1. Princípio da Adequação Social - o poder Judiciário só pode considerar criminosas as condutas que
provoquem dano de relevância social (o crime é um fenômeno anti-social, e o não o fizer, não pode
ser considerado criminoso). Só pode sujeito ser considerado fato típico, aquilo que o senso comum
tem por correto, justo. Aquilo que conflitar com o senso de justiça; afronta ao sentimento médio
daquilo que se considera justo.
2. Princípio da insignificância - no MP é repudiado - alcança os chamados delitos de bagatela. “Os
juizes não devem cuidar das coisas insignificantes”. Devido sua insignificância, o judiciário não deve
perder tempo em apreciar seu mérito. O fato deixa de se considerado típico devido a sua ínfima
lesividade. Não confundir infração de potencial ofensivo, com potencial insignificante (não confundir
com o JEC). A diferença básica entre o princ. da insignificância e o da adequação social é que, na
insignificância, o fato é socialmente inadequado. No da adequação, fere o sentimento social de
justiça (as pessoas reputam esse fato injusto, incorreto). Na insignificância ele não é punido pelo seu
ínfimo valor social. Ambos são tipicamente considerados lesões.
3. Princípio da Alteridade - de acordo com esse princípio, as condutas meramente internas, isto é,
incapazes de ferir a outrém, são atípicas (ex.: auto-lesão - não causam lesão a outrém). Deve
esgotar-se no âmbito do próprio agente e não atingir patrimônio ou bem alheio.
- Retroatividade da norma penal - havia uma lei mais grave “lex gravior”, e após esta, veio uma lei
menos grave “lex mitior”. Quando isso ocorre chamamos de “novatio legis in mellius” (nova lei para
melhor). Após isso veio outra lei mais grave “lex gravior”, ocorrendo um “novatio legis in pejus” (nova
lei para pior).
23.02.99
- Atividade - período onde a lei produz efeitos desde seu nascimento até a sua revogação.
- Extra atividade - período onde a lei produz efeitos fora de sua vigência. Tem duas espécies:
retroatividade - produz efeitos para fatos anteriormente a sua entrada em vigor, desde que
mais benéfica;
ultratividade - produz efeitos mesmo após a cessação de sua vigência, desde que mais
benéfica.
Em caso de dúvida quanto à melhor solução para o caso (conversão em pena de multa,
pena alternativa), a melhor saída e ouvi-lo, devidamente assistido de seu representante (advogado), e
dirá qual é a melhor solução para seu caso (princípio extraído por interpretação ao Código Penal
Espanhol).
A competência para aplicar a “novatio legis in mellius” é:
se estiver em 1º Instância, é o juiz encarregado da instrução do processo(1º grau);
se estiver em 2º Instância, ou seja, em grau de recurso, o próprio tribunal “ad quem”
aplica o benefício, independente da fase em que se encontrar o recurso, sem anular a
decisão de lº grau.
Caso o réu já tenha sido condenado, com trânsito em julgado do Tribunal, e venha a
vigorar nova lei mais benéfica, há dois entendimentos sobre como se deve aplicar a “novatio legis in
mellius”:
a nova lei deve ser aplicada através de revisão criminal. Posição vedada pelo STF, não
tem mais validade.
a posição que subsiste tem diversos fatores que negam a existência da primeira:
1. aplicar lei mais benéfica não se encontra no ról de hipótese da revisão criminal (art.
621 CPP);
2. a LEP é expressa ao dizer que a competência é do juízo da Execução (1º grau), e não
do Tribunal (art. 66, I da LEP - 7210/84);
3. a admissão da revisão criminal suprimiria um grau de jurisdição;
4. no processo penal a coisa julgada se opera com a cláusula “rebus sic stantibus” - a
coisa julgada penal é imutável enquanto a situação fática permanecer inalterada (ela
permite mutações para ir se adaptando as novas posições).
Por meio da Súmula 611, o STF pacificou o entendimento do assunto, onde o juízo
competente para aplicar a “novatio legis in mellius” é o das Execuções Penais (é aplicada pelo juiz de
1ºgrau), bastando simples petição solicitando o benefício.
- “Abolitio criminis” - é uma nova lei que revoga um tipo incriminador da legislação. Segundo o art.
107, II do CP, é causa extintiva de punibilidade e sua competência também é do Juízo da Execuções (no
caso de trânsito em julgado; caso contrário é do juízo onde se encontrar).
Caso haja já uma sentença penal condenatória, com trânsito em julgado, extingue-se a
pena (que é o efeito principal da condenação) e seus efeitos secundários penais, subsistindo os efeitos
secundários extra-penais (esses não se extinguem, ou seja permanecem surtindo efeitos, como perda da
CNH, perda dos direitos políticos etc.).
No caso se lei onde exista parte benéfica e parte maléfica, encontramos duas posições:
reparte-se a lei e aplica-se somente a parte mais benéfica;
não podemos dividir a lei: ou aplica-se por inteiro ou não (entendimento do Prof.
Fernado Capez).
- Leis de Vigência Temporária - são aquelas feita para surtir efeitos durante determinado período.
Subdividem-se em:
leis temporárias - são aquelas que já trazem em seu próprio texto a data da cessação
de sua vigência. São leis que desde o início já estão marcadas para morrer;
leis excepcionais - são aquelas elaboradas para vigir durante um período de
anormalidade. Ex.: vigir enquanto o país estiver em guerra.
Ambas as espécies são auto-revogáveis e ultrativas.
02.03.99
- Norma penal em branco - é aquela cujo conteúdo permanece indeterminado, necessitando de
complementação por outra norma. Existe duas espécies:
1. Norma penal em branco homogêneas ou em sentido lato - são aquelas normas complementadas
por outras normas de igual fonte primária. É a lei complementada por outra lei. Ex.: art. 237 do CP,
que fala sobre contração de casamento sabendo que existe uma nulidade absoluta; essas nulidades
são previstas por outra lei, no caso o Código Civil, art. 183 do CC.
2. Norma penal em branco em sentido estrito ou heterogênea - ocorre quando a norma penal em
branco é aquela complementada por norma de fonte diversa, podendo ser essa norma um decreto,
regulamento, portaria etc. Ex.: na Lei de Tóxicos 6368/76, os artigos 12 a 16 tratam de porte ou
tráfico de substância entorpecente, mas a lei não diz quais são estas substâncias, sendo elas
determinadas pela portaria do Ministério da Saúde; Lei de Economia Popular, art. 2º, VI diz que
vender produtos acima das tabelas oficiais delimitadas por portaria constitui crime.
A alteração do complemento da norma penal em branco só retroage quando alterar a
estrutura típica do delito. Presume-se que em virtude de alteração feita, aquilo jamais deveria ter sido
considerado como tal, e há então uma “abolitio criminis”. Se alguma das substâncias entorpecentes for
excluída do ról, extingue-se a punibilidade. No caso das tabelas oficiais, a lei diz sobre o período de
vigência em determinada época, e uma vez cometido o delito, ele não retroage caso seja alterado
(ultratividade); mesmo que as tabelas sejam alteradas, e o valor praticado pelo comerciante agora esteja
dentro daquela, o crime continua a existir, pois não é o valor a estrutura típica do crime, e sim
desrespeitar os parâmetros estabelecidos pela lei.
- Leis de vigência temporária - sua característica é de serem ultrativas (aplicam-se mesmo após sua
revogação), consequentemente não são retroativas. Um delito praticado durante a vigência desta lei
será punido, mesmo que esta perca sua vigência. Só não será punido caso haja lei expressa dizendo.
3. NEXO CAUSAL - é um liame, um elo de ligação físico natural entre: conduta e resultado. Não
tem relação jurídica. É simples constatação de ordem fenomênica, detectáveis pelas leis da causa e do
efeito. O CPB adotou a teoria da “conditio sine qua non”, ou teoria da equivalência dos
antecedentes, onde causa é toda e qualquer circunstância que de algum modo contribua para a eclosão
do resultado.
Critério de eliminação hipotética - podemos detectar a ligação, aplicando esta regra: elimine
hipoteticamente uma conduta da cadeia de causalidade; caso desapareça a conduta típica, é porque é
a sua causa.
Concausa - não há necessidade de distinção entre causa e concausa. Essa é um tipo de causa, que
atua lado a lado com a conduta, contribuindo para a produção do resultado.
Espécies de causa - se subdividem-se em:
• causas dependentes - são aquelas que se encontram dentro da linha de desdobramento causal da
conduta. É conseqüência previsível e esperada da conduta. A conduta permanece atada ao
resultado, mantendo o elo de ligação.
• causas independentes - são aquelas que se separam da conduta, e produzem resultados por si
próprias. Não são conseqüência previsível e esperada da conduta. Não se encontram nas linhas de
desdobramento causal da conduta. É algo totalmente inusitado e para sabermos qual sua relação
com o resultado, devemos utilizar o critério da eliminação hipotética. Classificam-se em:
06.04.99
1. preexistentes - quando anteriores à conduta.
2. concomitantes - quando atuam ao mesmo tempo em que a conduta é praticada.
3. superveniente - atuam após a conduta.
As causas independentes subdividem-se em:
a. causas absolutamente independentes:
• produzem por si só o resultado;
• possuem origem totalmente diversa da conduta, não havendo qualquer relação entre causa e
resultado.
• há em todas as hipóteses a ruptura do nexo de causalidade entre a conduta e o
resultado, de modo que se a excluíssemos, ainda assim teríamos o resultado.
EXEMPLOS:
causa absolutamente independente preexistente - uma pessoa tenta matar outra por
envenenamento no jantar, porém essa morre pois foi envenenada no almoço por outra
pessoa, que foi a verdadeira causa da morte, absolutamente independente e anterior ao ato
praticado pelo agente. Rompe-se aqui o nexo causal entre conduta e resultado, e caso
fosse excluído, ainda assim resultaria na morte da vítima. Responde aqui essa pessoa por
tentativa de homicídio.
causa absolutamente independente concomitante - durante o jantar, comendo a comida
envenenada, há um assalto, onde a vítima leva tiro e morre. Também há a ruptura do nexo
de causalidade, pois independentemente da comida estar envenenada e come-la, a vítima
morreria com o tiro levado. Responde aqui o agente por tentativa de homicídio.
causa absolutamente independente superveniente - depois de ingerir a comida, mas
ainda sem surtir qualquer efeito o veneno, o lustre da sala desprende do teto e mata a
vítima. Também há a ruptura do nexo de causalidade, respondendo aqui também o agente
por tentativa de homicídio.
b. causa relativamente independentes:
• produzem por si só o resultado;
• originam-se da conduta, havendo relação de causalidade entre a conduta e o resultado.
EXEMPLOS:
causa relativamente independente preexistente - pessoa corta braço de hemofílico, de
modo que instala-se a patologia na vítima e ela morre por hemorragia aguda provocada
pelo corte. Há nexo de causalidade entre a conduta e o resultado, pois sem o corte não
teria a vítima morrido. Para imputarmos um delito ao agente devemos analisar o seguinte:
• se souber que a vítima era portadora da patologia - homicídio doloso;
• se não souber, mas deveria pois haviam meios e fatos para tal, pois era previsível - lesão
corporal doloso seguido de morte culposa (preterdosolo);
• se não sabia e não tinha como saber - lesão corporal dolosa.
causa relativamente independente concomitante - um agente pratica um assalto, não
sabendo da condição de cardíaco da vítima, e essa vem a morrer por um mal súbito e
inesperado, não previsto pelo agente. Devemos mais uma vez fazer a análise do caso:
• se percebeu que estava passando mal e continuou em sua ameaça, com finalidade de
matar a vítima - não configura latrocínio, e sim roubo combinado com homicídio
doloso.
• se a morte decorreu de culpa do agente, pois não tinha esta intenção - roubo
combinado com homicídio culposo.
• se não houve dolo nem culpa do agente - apenas roubo.
causa relativamente independente superveniente - vítima que leva um tiro, mas
ambulância capota no caminho do hospital, sendo causa da morte os ferimentos oriundos
do acidente automobilístico, e não o tiro, ainda assim há o nexo de causalidade entre
conduta e resultado, pois caso não tivesse tomado o tiro, não estaria na ambulância.
Porém aqui o legislador, pelo artigo 13, parágrafo 1º do CP, por questões de política
criminal manda desprezar o nexo causal existente, não respondendo o agente pelo
resultado, mas tão somente por sua intenção.
Podemos então distinguir dois grupos de situações relacionadas ao nexo causal:
rompe-se o nexo causal e o agente responde apenas pela intenção nos casos de:
• causas absolutamente independentes preexistentes;
• causas absolutamente independentes concomitantes;
• causas absolutamente independentes supervenientes;
• causas relativamente independentes supervenientes, por determinação legal do art. 13,
parágrafo 1º do CP (exceção).
não rompe-se o nexo causal e o agente responde pelo resultado nos casos de:
• causas relativamente independentes preexistentes;
• causas relativamente independentes concomitantes.
• tipos derivados ou circunstanciais - vem do latim “circum stare”, ou seja, aquilo que está ao
redor do tipo, e sua retirada não modifica o tipo penal. Circunstância é dado acessório que,
agregado à figura típica, tem por função influir na aplicação da pena ou sanção penal. Ex.:
furto praticado no repouso noturno - é dado que influi apenas na pena, e caso seja retirado não
altera o delito, sendo furto da mesma forma. São as causa de aumento de pena, privilégios e
qualificadoras, e estão constante nos parágrafos, salvo as figuras equiparadas. Parte da doutrina
denomina as qualificadoras de tipos derivados autônomos ou independentes, pois lá são fixados
novos limites de penas.
20.04.99
- Tipos que definem os crimes dolosos - há três teorias de dolo:
1. Teoria da vontade - dolo é a vontade. Quando o agente quer o resultado. Dolo aqui é a consciência
e a vontade de realizar os elementos do tipo legal.
2. Teoria do assentimento - o dolo não é somente querer. Ocorre quando o agente prevê a
possibilidade de ocorrer o resultado, aceitando o risco de sua ocorrência. O agente, antevendo a
possibilidade de ocorrer o resultado, não se importa com isso.
3. Teoria da representação - também chamada de teoria da previsão. É mera previsão. Somente com
o fato de o agente prever a possibilidade do resultado, há o dolo.
O Código Penal Brasileiro filiou-se a duas teorias: a da vontade e do assentimento,
conforme artigo 18, I do CP. Há o dolo sempre que o agente quiser o resultado, ou mesmo não
querendo, prevê a possibilidade de produzi-lo.
- Espécies de dolo -
dolo normativo e dolo natural:
• normativo - é a teoria clássica naturalista ou causal, não sendo a acolhida em nosso CP. O
dolo integra a culpabilidade, não pertencendo ao fato típico, possuindo como elementos da
culpabilidade a consciência, a vontade e a consciência da ilicitude. É algo que exige um
julgamento de valores, sabendo que o ato é ilícito e mesmo assim agindo conforme.
• natural - integra o fato típico, tendo como elementos apenas a consciência e a vontade. A
consciência da ilicitude passa a ser elemento autônomo da culpabilidade. É a teoria finalista.
Constata se primeiro se o agente quis o resultado, para depois avaliar-se se o que ele queria era
algo lícito ou não. É o dolo acolhido em nosso CP.
dolo geral ou erro sucessivo ou “aberratio causae” - ou erro sobre o nexo causal. Ocorre quando
o agente, na suposição de já ter consumado o crime, pratica ato que julga não mais surtir efeito, e
neste instante produz o resultado consumativo. Ex.: João após envenenar Zé, desova o cadáver em
uma represa, com uma pedra amarrada ao pé, porém a vítima ainda esta viva e sua real causa da
morte foi o afogamento. Ocorreu um erro sobre o nexo causal entre a conduta e o resultado. O dolo
abrange toda a situação. O agente produziu o efeito desejado, embora conseguido de maneira
diversa da que imaginou. Responde pelo resultado a título de dolo.
27.04.99
- Tipos que definem os crimes culposos -
Tipo aberto - os tipos que definem os crimes culposos, em regra são abertos. Não se descreve as
condutas, apenas a prevê. A culpa não é descrita na lei, não dizendo essa em que consiste a conduta
culposa, pois é impossível prever na lei todas as modalidades de culpa. A adequação típica é feita
mediante um juízo de valores sobre a conduta, comparando com a conduta do homo medius. O juiz
aplica uma valoração da conduta do agente. A culpa é elemento normativo da conduta.
• participação - consiste em concorrer para a prática da conduta principal, mas sem praticá-la
diretamente, não praticando o verbo da conduta principal prevista na norma. Logo, o crime
culposo não admite participação, pois não existe o tipo principal previsto na lei, de forma a
admitir apenas a co-autoria.
- Graus de culpa - de acordo com a intensidade do descuido do agente, e a pena será aplicada de
acordo com sua valoração, sendo:
1. grave.
2. leve.
3. levíssima.
- Compensação de culpas - não há em direito penal a compensação de culpas entre a conduta do
agente e da vítima. Somente pode-se admitir a culpa exclusiva da vítima, onde desta forma não há que
se falar em culpa do autor, uma vez que nesta hipótese ela está excluída.
- Excepcionalidade do crime culposo - se a lei foi omissa, não há crime culposo, havendo punição
somente a título de dolo. A lei deve prever expressamente que o delito pode ser punido a título de
culpa, caso contrário é incabível.
- Espécies de culpa -
a. consciente ou com previsão - é aquela em que o agente prevê o resultado. Tanto aqui quanto no
dolo eventual o agente prevê o resultado. A diferença é que no dolo eventual o agente não se
importa com a ocorrência do resultado e na culpa consciente o agente se importa com a produção
do resultado, não aceitando sua ocorrência, achando que não poderá ocorrer.
b. inconsciente ou sem previsão - o agente não prevê o resultado que é previsível.
c. indireta ou mediata - quando o agente indiretamente produz um resultado culposo. Se a causa
que produziu o resultado é relativamente independente, não que aqui o nexo causal e o agente não
responde pelo resultado. Aqui deve ser causa dependente, havendo nexo causal, ficando
constatada a culpa para com o segundo resultado, havendo nexo normativo.
- Modalidades de culpa -
• imprudência - é agir sem cuidado. É a culpa de quem age, ocorre na ação. A culpa se desenvolve
simultaneamente à ação (ao mesmo tempo, paralelamente).
• negligência - é a omissão de cuidado antes de agir. É a culpa de quem se omite. O agente não
toma o cuidado necessário antes de agir. A culpa ocorre antes da ação. Geralmente após uma
negligência sempre ocorre uma imprudência.
• imperícia - é a demonstração de falta de habilidade no exercício de uma profissão ou atividade que
exige habilitação especial. Não confundir imperícia com erro médico, podendo ocorrer em qualquer
campo que exija habilitação especial do agente. O erro médico pode decorrer também de
negligência ou imprudência.
04.05.99
- Crimes qualificados pelo resultado - é aquele em que o legislador, após descrever um crime
completo, com todos os seus elementos (crime consumado), acrescenta-lhe um resultado, cuja função é
de agravar a sanção penal. Podemos detectar aqui 2 momentos, mas há apenas um delito:
fato antecedente - quando o tipo penal se aperfeiçoou, estando completo o crime.
fato conseqüente - é o momento em que agrava a sanção penal pelo resultado ocasionado.
Há 3 espécies de crimes qualificados pelo resultado:
1. dolo no antecedente e dolo no conseqüente - ex.: latrocínio, lesão corporal + de natureza grave.
Admite a tentativa, se o resultado agravante foi pretendido pelo agente.
2. culpa no antecedente e dolo no conseqüente - ex.: omissão de socorro dolosa em atropelamento
culposo. Não admite a tentativa, por ter conduta punida a título de culpa.
3. dolo no antecedente e culpa no conseqüente - o segundo momento intensifica desnecessariamente
o resultado do delito. Ex.: lesão corporal dolosa seguida de morte (culposa); roubo seguido de
morte (culposa). É o crime preterdoloso ou preterintencional. Não admite tentativa, devido a
culpa existente.
***CONCURSO MP*** Latrocínio pode ou não ser preterdoloso, admitindo ou não a tentativa,
pois depende do resultado pretendido pelo agente.
- Crime consumado - é aquele no qual foram realizados todos os elementos do tipo penal. É
percorrido todo o iter criminis, que é o percurso do crime até chegar ao momento consumativo. As
fases deste caminho são:
1. Cogitação - pensa, idealiza a prática do crime. É um irrelevante penal, não havendo fato típico.
2. Preparação - consiste na prática de todos os atos anteriores necessários ao início da execução, ainda
não havendo fato típico.
3. Execução - começa o ataque ao bem jurídico. Os elementos do tipo legal começam a ser realizados.
4. Consumação - todos os elementos do tipo penal são realizados.
5. Exaurimento - não é mais relevante ao fato típico. É uma agressão ou uma destinação posterior à
consumação, feita contra o bem jurídico. Tem importância como regra na aplicação da pena,
podendo ser na 1º fase de fixação, como também pode se encontrar em outras fases, nos crimes que
prevêem conseqüência mais grave pelo exaurimento. Ex.: corrupção passiva - aumenta de 1/3 a pena
casa haja o exaurimento.
- Tentativa - é a não consumação de um crime, cuja execução foi iniciada, por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
Requisitos da tentativa -
1. início de execução.
2. não consumação do crime.
3. interferência de circunstâncias alheias à vontade do agente.
Espécies de tentativa -
• tentativa perfeita ou acabada - é o CRIME FALHO - ocorre quando o agente, após encerrar
a atividade executória, não produz o resultado desejado por circunstâncias alheias à sua
vontade.
• tentativa imperfeita ou inacabada - a execução é interrompida por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
• tentativa branca - quando a vítima não é atingida, não sofrendo ferimentos.
• tentativa cruenta - quando a vítima sofre ferimentos.
Aplicação da pena - aplica-se a pena como se fosse consumado o delito, reduzindo-a em seguida de
1/3 a 2/3. O critério para redução é a proximidade do momento consumativo: quanto mais
próximo o agente chegar da consumação do delito, menor será a sua redução.
- Espontaneidade - não é exigida. Se o agente desiste ou se arrepende por sugestão de terceiros, ainda
assim caracteriza-se a tentativa abandonada ou qualificada.
- Exceções - casos em que a reparação do dano extingue a punibilidade, não sendo necessária a
concessão do benefício:
1. cheque sem fundos - o pagamento do cheque é causa extintiva da punibilidade, até o oferecimento
da denúncia ou queixa - Súmula 554 do STF.
2. peculato culposo - o servidor se apropria de bem ou dinheiro público por engano. A reparação do
dano ou restituição da coisa extingue a punibilidade, até o trânsito em julgado da sentença
(exceção).
3. crimes contra a ordem tributária - se pagar a dívida até o oferecimento da denúncia ou queixa
extingue-se a punibilidade.
4. crimes de menor potencial ofensivo, nas ações privadas ou públicas condicionadas a
representação do ofendido - art. 74, parágrafo único da Lei 9099/95 - a composição civil do dano
extingue a punibilidade. Ex.: lesão corporal culposa por meio de veículo automotor, lesão leve, etc.
- Ilicitude - o tipo penal tem a missão de selecionar, entre as condutas humanas, as que sejam
reprováveis, para que sejam consideradas infrações penais. São atitudes reprovadas pela sociedade. O
tipo contém um caráter indiciário da ilicitude. Todo fato típico, em princípio também é ilícito (é a
regra). Na ilicitude estuda-se acima de tudo as excludentes de ilicitude, pois necessitamos saber quando
um agente está praticando um fato ilícito dentro de uma situação de exclusão da ilicitude.
25.05.99
- Causas de exclusão da ilicitude -
- Causas supralegais de exclusão da ilicitude - além das 4 hipóteses previstas em lei, toda vez que a
conduta estiver compreendida no costume local estará excluída a ilicitude.
CULPABILIDADE
- Teorias adotadas pelo CP - é a Teoria Normativa Pura da Culpabilidade, pois dolo e culpa não
fazem parte da culpabilidade, mas sim de fato típico. Não há aqui nenhum elemento psicológico,
apenas normativo. Para a teoria normativa pura a culpabilidade exige a presença de 3 elementos
essenciais, onde a falta de qualquer um não caracteriza a culpabilidade, sendo:
1. imputabilidade.
2. consciência da ilicitude.
3. exigibilidade de conduta diversa.
A teoria da culpabilidade comporta 2 subdivisões:
teoria extremada da culpabilidade - toda e qualquer discriminante putativa é tratada como erro de
proibição.
teoria limitada da culpabilidade - a discriminante putativa pode ser tratada ora como erro de tipo,
ora como erro de proibição, dependendo da hipótese. É a adotada pelo nosso CP.
15.06.99
- Requisitos da culpabilidade - são:
1. IMPUTABILIDADE - (identificar com a palavra capacidade). É a capacidade de entender o
caráter criminoso do fato, e de orientar-se de acordo com esse entendimento. Faltando qualquer
uma das 2 capacidades não se completa a imputabilidade.
Elementos da imputabilidade -
a. elemento intelectivo - é a capacidade de compreensão daquilo que realiza.
b. elemento volitivo - capacidade de querer agir de determinada maneira, o domínio sobre a
vontade.
Causas geradoras da inimputabilidade - retiram a imputabilidade, quando houver:
• doença mental - são todas as perturbações mentais.
• desenvolvimento mental incompleto - ocorre quando a pessoa não atingiu a plena
potencialidade, por estar em fase de desenvolvimento. Ex.: menores de 18 anos, silvícolas
inadaptados à civilização, etc.
• desenvolvimento mental retardado - está com desenvolvimento em atraso, em relação ao
que seria normal. Ex.: surdos mudos que não conseguem se comunicar, oligofrênicos (pessoas
de reduzidíssima capacidade intelectual, e se subdividem em: débeis mentais, imbecis e idiotas,
dependendo do grau).
• embriaguez - é uma intoxicação aguda e transitória, provocada pelo álcool, ou substância de
efeitos psicotrópicos (tóxicos em geral). A embriaguez é dividida em fases:
fase da excitação ou do macaco - o álcool age sobre o sujeito e retira-lhe o senso,
tornando-se inconveniente.
fase da depressão ou do leão - mal humorado, agressivo, violento.
fase do sono ou do porco - estado de dormência profunda, só podendo praticar delitos
omissivos.
Espécies de embriaguez -
1. embriaguez não acidental - não decorre de acidente, é voluntária (doloso) ou não
voluntária (culposa), podendo ser completa ou incompleta. Independente disso, jamais
exclui o delito, respondendo o agente pelo delito. Responderá pelo delito de forma
dolosa, como se não estivesse embriagado. É a “actio libera in causa”, onde presume-
se que o agente estivesse em estado normal, desprezando a embriaguez, pois tinha opção
em escolher se beberia ou não.
2. acidental - decorre de caso fortuito ou força maior (esse decorre de força externa,
como a coação moral irresistível). Não se aplica a “actio libera in causa”, não se
desprezando o estado de embriaguez. Se for completa exclui o delito, e se forma
incompleta diminui a pena de 1/3 a 2/3.
3. psicológica - alcoólatra ou dependente de drogas em geral.
4. preordenada - o sujeito se embriaga para cometer o delito. Além de não excluir o
imputabilidade, agrava a pena, conforme o artigo 61, II, “l” do CP.
Critérios de aferição da inimputabilidade - são:
a. critério biológico - só se preocupa com a existência de alguma destas causas geradoras da
inimputabilidade, não se discutindo mais nada. Não foi adotado pelo CPB como regra, mas
como exceção, no caso dos menores de 18 anos (art. 27 CP e 228 CF).
b. critério psicológico - não se preocupa com a causa, mas sim a conseqüência. Interessa saber
se o sujeito perdeu a razão no momento do crime. não foi adotado no CPB. É insuficiente
preocupar-se somente com a causa.
c. critério biopsicológico - são necessários 3 requisitos para a inimputabilidade. O artigo 26 do
CP traz este critério, sendo necessário estar presente a causa, o momento e a conseqüência.
É o critério adotado pelo CPB:
• causal - deve estar presente uma causa prevista em lei.
• cronológico - não basta a existência da causa, ela deve estar presente no momento da
prática do delito.
• conseqüência - perda total da capacidade de entender ou da capacidade de querer.
***CONCURSO MP*** Excepcionalmente foi adotado o critério biológico, em relação aos
menores de 18 anos.
22.06.99
- Semi imputabilidade - é chamado no CP de responsabilidade diminuída. Há 3 requisitos:
1. requisito causal - só é gerada por uma das causas previstas para a inimputabilidade (doença mental,
desenvolvimento mental incompleto ou retardado e embriaguez).
2. requisito cronológico - a causa deve estar presente ao tempo da ação ou omissão.
3. requisito conseqüência - é a única diferença. Aqui a conseqüência é a perda parcial (e não total)
da capacidade de entender ou querer.
- Emoção e paixão -
emoção - é um sentimento súbito, repentino, violento, intenso e efêmero (passageiro). Não exclui a
imputabilidade, mas pode funcionar:
• nos crimes dolosos em geral - como circunstância atenuante genérica.
• nos homicídio doloso e na lesão corporal dolosa - pode atuar como:
atenuante genérica - quando o agente estiver sob mera influência da emoção.
privilégio - é uma causa de diminuição de pena (1/6 a 1/3), quando o agente estiver sob o
domínio completo e quando sua reação for logo em seguida à injusta provocação.
paixão - é duradoura, permanente, formada vagarosamente no espírito. Não exclui nem diminui a
imputabilidade, nem mesmo atenua a pena.
- Erro de proibição -
inevitável - exclui a culpabilidade. Há a absolvição do réu, pois há circunstância que o isenta da
pena, porém persistindo o crime.
evitável - não exclui a culpabilidade, logo o réu deve ser condenado, no entanto terá direito a uma
redução da pena de 1/6 a 1/3.
***CONCURSO MP*** Quando o erro de proibição exclui o dolo? Nunca, pois ele exclui a
culpabilidade, não podendo excluir o dolo, que esta atras, no fato típico.
3. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA - surgiu a partir da teoria da normalidade das
circunstâncias concomitantes, onde somente pode-se julgar alguém que pratica o crime em condições
normais. Segundo o artigo 22 do CP, há 2 causas que levam a uma anormalidade de situação, e
fazem com que o réu não seja julgado. Estas causas excluem a exigibilidade de conduta diversa.
São:
a. coação moral irresistível - é o emprego de grave ameaça. Subsiste a vontade, não sendo
eliminada, sendo o fato típico e ilícito, porém sendo excluída a culpabilidade quando a
coação moral for irresistível. É aquela que um homem normal “homo medius” normalmente não
resiste. O agente não responde pelo delito, sendo excluída a culpabilidade.
• coação moral resistível - o fato é típico, ilícito e culpável, não excluindo a culpabilidade,
mas funcionando com uma circunstância atenuante genérica.
• coator - é a chamada autoria mediata. A pessoa se serve de outro ser humano, como se fosse
um instrumento seu. O crime que o coacto praticou é imputado ao coator, com a agravante
do art. 62, I do CP.
a. obediência hierárquica - é situação da anormalidade, que também exclui a culpabilidade. Para
que se configure, é necessário:
I. alguém que legalmente pode dar ordens a outro;
II. um subordinado;
III. um vínculo legal de natureza pública - não há entre patrão e empregado privados, pois
o poder hierárquico é eminentemente público;
IV. uma ordem emitida do superior para o subordinado;
V. ilegalidade da ordem - se a ordem for legal, será invocado o estrito cumprimento do
dever legal;
VI. aparente legalidade da ordem - se a ordem é manifestamente ilegal, e qualquer pessoa
média normal conseguisse perceber, responde o executor pelo delito, onde o superior
sempre responde pelo crime. Se a ordem for aparentemente legal, responderá o superior por
autoria mediata, agravando-se pelo artigo 62, I do CP.
***CONCURSO MP*** Posição para concurso do MP - não existindo casa do albergado, deve o
condenado recolher-se ao presídio, em departamento separado dos demais condenados. Posição
do STJ - o indivíduo não pode ser punido pela incúria do Poder Executivo, por não construir
casas de albergados suficientes para acomodar todos os condenados, devendo então recolher-se a
pessoa em prisão albergue domiciliar.
***CONCURSO MP*** Não havendo vaga em colônia penal, caso o regime inicial fixado seja o
semi-aberto, começará a cumprir em regime fechado.
***CONCURSO MP*** Não havendo colônia penal para início do cumprimento da pena,
começará no regime aberto.
- Regressão de regimes - é colocar o condenado a cumprir a pena em regime mais rigoroso, nas
hipóteses previstas em lei. A regressão pode ser por salto, do aberto para o fechado. As hipóteses de
regressão estão previstas no artigo 118 da LEP.
- Detração penal - é o cômputo na pena privativa de liberdade (que é a única que admite detração)
e na medida de segurança, do tempo de prisão provisória, cumprido no Brasil ou no estrangeiro.
Não é necessário que se trate do mesmo processo, podendo a pena ser descontada em outro, desde que
a prisão tenha sido posterior ao fato em que houve a condenação. Somente cabe a detração se o fato
em que haverá o desconto seja anterior à prisão.
14.08.99
- Penas alternativas - existe atualmente no Brasil 10 penas alternativas, que são quaisquer alternativas
ou opções à pena privativa de liberdade. As penas alternativas subdividem-se em:
9 penas restritivas de direitos - havendo 2 espécies:
• penas restritivas em sentido estrito - são:
prestação de serviços à comunidade.
limitação de fim de semana.
4 interdições temporárias de direito.
• penas restritivas pecuniárias - são:
prestação pecuniária.
prestação inominada.
perda de bens e valores.
1 pena de multa.
Características - são substitutivas, isto é, aplicadas em substituição à pena privativa de liberdade.
Requisitos para a substituição - são:
1. que a pena aplicada (imposta na sentença) seja igual ou inferior a 4 anos - podemos
considerar que:
• no caso de concurso material, crime continuado ou concurso formal o que interessa é o total
aplicado, na exasperação da sentença.
• se for crime culposo não importa a quantidade da pena, podendo se substituída em
qualquer quantidade.
1. que o crime seja cometido sem violência ou grave ameaça contra a pessoa - podemos
considerar que:
• violência culposa permite a substituição.
• a violência é contra a pessoa, e não contra a coisa, logo o crime de dano admite a
substituição, mesmo que a condenação seja superior a 4 anos.
• lesão leve, constrangimento ilegal e crime de ameaça admitem a substituição, pois são
infrações de menor potencial ofensivo. Como admitem transação penal, que é antes do
processo, quanto mais após o processo, na execução da pena (há corrente em sentido
contrário).
• roubo com violência impróprio (é o meio de execução que reduz a vítima à impossibilidade
de resistência) não admite a substituição, pois também é considerado violência contra a
pessoa.
• trafico de entorpecentes (3 a 15 anos) não admite a substituição, pois a Lei dos Crimes
Hediondos impõe regime integralmente fechado no cumprimento da pena. Aceitar a
substituição seria um contracenso jurídico.
1. não reincidência em crimes dolosos - após ter sido definitivamente condenado em crime doloso,
praticando outro de mesma natureza não cabe a substituição. Porém o reincidente tem direito à
substituição quando o juiz considerar seja a medida socialmente recomendável, e não se
tratando de reincidência específica. Significa que o reincidente em crime doloso tem direito à
substituição, desde que não seja específico, havendo outra posição, no sentido de que o
reincidente em crime doloso não tem direito à substituição, nem os reincidentes específicos, tendo
os demais reincidentes, à critério do juiz.
2. que as circunstâncias do artigo 59 sejam favoráveis - caso desfavoráveis, não cabe
substituição.
***CONCURSO MP*** Execução da pena de multa - a lei 9268/96 mudou as regras da execução,
sendo:
1. a multa não pode mais ser convertida em detenção - uma vez que o crime não foi punido com
pena privativa de liberdade não traz fator de grande reprovação social, tanto que foi punido
apenas com multa.
2. a atribuição para a execução não é mais do MP - e sim da Procuradoria Fiscal.
3. a competência para a cobrança é a da Vara da Fazenda Federal - e não mais da Vara das
Execuções Criminais.
4. o prazo prescricional para cobrança é o da lei fiscal, que é de 5 anos - e não mais o do CP,
que era de 2 anos.
5. as causas interruptivas e suspensivas da execução passam a ser as do legislação tributária -
e não mais da legislação penal.
6. para fins de cobrança, a multa é considerada dívida de valor - conserva sua natureza de pena,
mas para fins de cobrança é considerado dívida.
Primeiro tenta-se cobrar na Vara de Execução Criminal, com prazo para pagamento de 10 dias. Caso
não seja cumprida, envia-se à Fazenda Federal, para que proponha a ação de execução
Aplicação da pena de multa - o CP adotou o critério trifásico de Nelson Hungria. Antes de iniciar
o processo, deve o aplicador fixar os limites da pena, dentro dos quais será feita a dosagem.
Antes de mais nada, deve-se verificar se o crime é simples ou qualificado, uma vez que a
qualificadora altera os limites da pena. Em seguida parte-se do mínimo legal, em direção ao
máximo. As fases de aplicação são:
1a fase de fixação - são as circunstâncias judiciais, previstas no artigo 59 do CP. A mais
comum são os antecedentes criminais.
2a fase de fixação - são as circunstâncias agravantes (prevista nos arts. 61 e 62) e atenuantes
(previstas no artigo 65).
***CONCURSO MP*** Nestas 2 primeiras fases a pena jamais poderá ficar abaixo do mínimo e
acima do máximo. A lei não diz quanto o juiz aumenta ou diminui, sendo utilizado um critério
discricionário por parte do julgador.
***CONCURSO MP*** Circunstância atenuante inominada - está prevista no artigo 66 do CP -
se o juiz não encontrar nenhuma atenuante genérica do artigo 65, mas entende que há algum
fator dentro do contexto do crime que minimizou a conduta do agente, podendo aplicar uma
atenuante não prevista em lei, chamada de inominada.
05.10.99
3a fase de fixação - causa de aumento e diminuição de pena.
- Circunstâncias - podem ser:
judiciais - artigo 59 CP - são aplicadas na 1a fase de fixação da pena.
legais - são as elencadas no texto da lei, e podem constar da parte geral ou da parte especial,
sendo:
• genéricas - estão na parte geral do CP, e podem ser:
agravantes - artigos 61 e 62 do CP.
atenuantes - artigo 65 do CP - há também a atenuante inominada do artigo 66, onde o
juiz poderá reconhecer uma atenuante, mesmo que não prevista em lei, de acordo com o seu
entendimento, levando em consideração os aspectos subjetivos do crime (ambas são
aplicadas na 2a fase de fixação da pena).
causas de aumento e diminuição de pena - podem ser:
a. aumento - é a que aumenta a pena em quantidade predeterminada. Ex.: concurso
formal, crime continuado etc.
b. diminuição - diminui a pena em quantidade predeterminada. Ex.: tentativa,
participação de menor importância etc.
• específicas - podem ser:
causas de aumento da parte especial - são também chamadas de qualificadoras em
sentido amplo. Ex.: roubo com emprego de arma, furto em repouso noturno etc.
causas de diminuição da parte especial - são chamadas de privilégios. Ex.: homicídio
praticado com violenta emoção etc.
***CONCURSO MP*** As causas de aumento, tanto da parte geral como da parte especial são
aplicadas na 3a fase, onde a pena poderá ficar abaixo do mínimo e acima do máximo.
qualificadoras - também estão na parte especial. Ela eleva os limites da pena. Ex.:
latrocínio.
***CONCURSO MP*** Crime com 3 qualificadoras - a 1a usa-se para saber o limite mínimo e
máximo da pena, e quanto às outras 2, há 2 posições:
• as outras 2 entram na 1a fase, como circunstâncias desfavoráveis.
• as outras 2 entram na 2a fase, como se fossem agravantes - é a corrente que predomina.
***CONCURSO MP*** Na 2a fase, a jurisprudência alegar que há uma circunstância que vale
mais que as subjetivas apontada acima: o fato de haver menoridade relativa (menor de 21 anos à
data do fato).
concurso de crimes material ou real - ocorre quando o agente, mediante mais de uma conduta,
pratica 2 ou mais crimes, idênticos ou não. Subdivide-se em:
• concurso material homogêneo - quando os resultados são idênticos.
• concurso material heterogêneo - quando os resultados são diversos.
Aplicação da pena - no concurso material somam-se as penas. É o critério do cúmulo
material.
concurso de crimes formal ou ideal - ocorre quando o agente, mediante uma única conduta,
pratica 2 ou mais crimes, idênticos ou não. Subdivide-se em:
• concurso formal homogêneo - os resultados são idênticos.
• concurso formal heterogêneo - os resultados são diversos.
• concurso formal perfeito - quando os resultados derivam de um único desígnio. Ocorre
quando houver vários resultados, que derivam de um único desígnio.
• concurso formal imperfeito - ocorre quando os resultados derivam de desígnios autônomos.
Pode haver aqui o dolo eventual.
Aplicação da pena:
a. no concurso formal perfeito - aplica-se a pena mais grave, ou qualquer delas se idênticas,
aumentando-a de 1/6 até a metade, que irá variar de acordo com o número de resultados
produzidos. Este sistema é o chamado de exasperação da pena (quando pega-se uma pena
base e aumenta-a).
b. no concurso formal imperfeito - aplica-se o mesmo critério do concurso material, ou seja,
somam-se as penas. É o critério do cúmulo material.
***CONCURSO MP*** Se a pena do concurso formal perfeito for mais grave do que a soma das
penas de cada delito, prejudicando o réu, despreza-se o critério da exasperação da pena a aplica-
se a simples soma das penas cominadas para cada crime. Ocorre aqui o que a doutrina chama de
concurso material benéfico.
- Crime continuado - ocorre quando o agente, mediante mais de uma conduta, pratica 2 ou mais
crimes da mesma espécie, os quais, por semelhantes condições de tempo, lugar ou modo de
execução, devem ser havidos um como continuação dos outros.
crimes da mesma espécie - são os do mesmo tipo penal.
condições semelhantes - podem ser:
• de tempo - admite-se, pela doutrina, até 30 dias de intervalo entre os crimes da mesma
espécie.
• de lugar - aceita-se até cidades vizinhas, dentro do contexto fático.
• modo de execução - deve ser idêntico. Caso altere o “modus operandi” não há que se falar
em crime continuado, como a mudança de arma, mudança de co-autores etc.
elemento subjetivo - em relação ao crime continuado, se é necessária a presença de elemento
subjetivo, temos 2 posições:
1. é imprescindível que o agente queira aproveitar-se das mesmas facilidades e circunstâncias
do crime anterior. Continuidade delitiva não se confunde com habitualidade no crime. O
crime continuado não foi feito para o criminoso profissional ou habitual pois esse faz do
crime o seu meio de vida, mas foi criado para beneficiar o agente que, cometendo um crime,
aproveita-se das condições favoráveis para delinquir da mesma forma. É querer que o crime
seguinte seja continuação de delito anterior. Esta teoria é chamada de objetivo-subjetiva. É
corrente majoritária na jurisprudência e para ***CONCURSOS MP/MG***
2. a lei não exige o elemento subjetivo, bastando condições objetivas semelhantes. É a chamada
teoria puramente objetiva e é majoritária na doutrina.
ficção legal - o crime continuado, na realidade, consiste em vários crimes, porém a lei, por ficção,
presume existir um único delito, para fins de aplicação da pena, tanto que a prescrição começa
a correr isoladamente, a partir da prática de cada crime.
aplicação da pena - aplica-se a pena mais grave, ou qualquer delas se idênticas, aumentado-a
de 1/6 até 2/3. É o critério da exasperação da pena.
regra do concurso material benéfico - aplica-se ao crime continuado, ou seja, caso o aumento da
pena pela quantidade indicada na sentença for maior que a soma delas, de forma isolada,
utiliza-se esta última forma, de modo a beneficiar o réu.
***CONCURSO MP*** Crime continuado específico - são crimes dolosos cometidos com
violência ou grave ameaça contra a pessoa. Ex.: homicídios, latrocínios, roubos etc. Aqui
aumenta-se a pena até o triplo (e não de 1/6 a 2/3).
26.10.99
- Sursis - a pena fica suspensa. O condenado está obrigado a cumprir certas condições, e caso não
cumpra a pena é aplicada de forma integral, não se computando o tempo que cumpriu em suspenso. É a
suspensão da execução da pena privativa de liberdade, durante um determinado período de
tempo, desde que preenchidos os requisitos legais e obedecidas as condições impostas pelo juízo.
Efeitos da PPP - não importa o tipo de PPP reconhecida, os efeitos serão sempre os mesmos:
aniquilam a pretensão punitiva do Estado, extinguindo a pena, caso tenha sido aplicada em
sentença, e afasta todos os efeitos da sentença condenatória, como a reincidência, maus
antecedentes etc. Mais do que isso, afasta também os efeitos extrapenais, como o confisco de
bens, perda do produto do crime, não cabimento da ação civil etc. Por esta razão, impede o
exame de mérito no processo, que é imediatamente extinto.
***CONCURSO MP*** Pode o juiz que condenou, reconhecer a PPP? Na mesma sentença não.
Porém, se foi proferida sentença, com transito em julgado para a acusação, e havendo apelação da
defesa, o mesmo juiz, ao apreciar a apelação, verificando que ocorreu a prescrição , poderá reconhece-
la, ainda que da própria sentença que proferiu anteriormente, sem a necessidade do envio do processo
ao Tribunal.
- Causas suspensivas da prescrição PPP - são as que sustam (paralisam) a prescrição, fazendo com
que o prazo recomece a contar pelo tempo restante. O tempo decorrido é computado. As causa são:
1. suspensão do processo para ao deslinde de questão prejudicial - é questão que pré julga. Assim,
fala-se em questão cuja solução irá levar ao pré julgamento da causa. Ex.: acusado de bigamia, mas
que está com processo de anulação do casamento em trâmite. Quando a questão disser respeito ao
estado das pessoas, a suspensão é obrigatória. Quando referir-se a outra questão, a suspensão é
facultativa, podendo o juiz suspender ou não o processo. Suspenso o processo, por qualquer motivo,
suspende-se a prescrição, voltando a correr somente pelo despacho que determinar a continuação da
contagem do prazo.
2. enquanto o réu estiver preso por outro processo.
3. quando ocorrer suspensão condicional do processo - artigo 89 da Lei 9099/95, ficando suspenso
enquanto durar ao sursis processual.
4. artigo 366 do CPP - se o réu, citado por edital (citação ficta), não comparece ao interrogatório,
nem constituir advogado, não se decreta a sua revelia, suspendendo-se o processo, e
consequentemente o lapso prescricional, até ser o réu localizado e receber a citação pessoal. Porém
não fica suspenso para sempre este processo, não correndo a prescrição somente pelo período
máximo, de acordo com a maior pena cominada no tipo, voltando a corre após o decurso deste
prazo, ficando suspenso, nesta hipóteses, apenas o processo de forma permanente, mas não a
prescrição.
5. expedição de carta rogatória para citação do réu no estrangeiro - não importe se a infração á
afiançável ou não. Deve ser sempre expedida a carta rogatória, ficando a prescrição suspensa até a
juntada da rogatória cumprida aos autos do processo.
6. indeferimento de licença para processar parlamentar, ou ausência de deliberação à respeito -
fica suspensa desde a data do indeferimento, ou da data do protocolo do pedido, se não houver
deliberação.
30.11.99
***CONCURSO MP*** Incidente de insanidade mental - caso seja instaurado, suspende-se o
processo, e enquanto não resolvido o processo não volta a correr. No entanto, a prescrição
continua correndo normalmente, não se suspendendo com o processo. Se o laudo apontar que o
agente é doente mental, podemos extrair 2 situações:
se era doente ao tempo do crime - o processo volta a correr, para a aplicação da medida de
segurança. A prescrição, no entanto, continua correndo normalmente.
se ficou doente após os fatos - o processo continua suspenso até o restabelecimento do agente.
A prescrição, mais uma vez, não se suspende, continuando a correr normalmente.
- PPE na pena de multa - será sempre de 5 anos, e a execução é feita em separado, na Vara da
Fazenda Pública.
***CONCURSO MP*** A medida de segurança inicia-se após a coisa julgada. Não há medida
de segurança cautelar.
***CONCURSO MP*** Há louco na comarca, que praticou vários delitos. Contra ele não cabe
prisão cautelar, por ser inimputável, não cabendo também medida de segurança cautelar, que
não existe - deve-se proceder internação adm., em qualquer hospital, que eqüivale àquela feita pela
família. Legalmente não há o que se fazer.
***CONCURSO MP*** Substituição de prisão por medida de segurança - é possível, desde que
se trate de superveniência de doença mental (ficou louco dentro da prisão), e em única hipótese:
quando a doença mental for irreversível. Uma vez substituída, a medida de segurança passa a ser
cumprida por tempo indeterminado, e não pelo tempo restante da pena.
Requisitos da reabilitação criminal - esses requisitos são cumulativos, e devem ser provados
pelo réu, sendo:
a. decurso do prazo de 2 anos, contados do fim da pena.
b. domicílio no país.
c. bom comportamento público e privado.
d. reparação do dano, salvo impossibilidade de faze-lo.