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P C N N A E S C O L A
MATEMÁTICA 1
A GEOMETRIA,
AS CRIANÇAS E A REALIDADE
desses, que mais parece uma bula de remédio. Juca brinca de pega-pega, faz pipa e aviãozinho, constrói
Entretanto, era assim que se ensinava Geometria caminhõezinhos de papelão, ajuda seu irmão na construção
há cinqüenta anos. Felizmente, os estudos modernos de um carrinho de rolimã, xereta o trabalho do pai na oficina,
trouxeram idéias importantes para entender a manei- e, com brinquedos estruturados, de montar, constrói coisas
que ele copia do manual de instruções e outras que inventa.
ra pela qual as crianças aprendem. E isso mudou o
ensino de Geometria. Vamos analisar novamente: o Juca constrói coisas,
imagina objetos tridimensionais na cabeça e os mon-
Ao entrar na escola, as crianças já sabem muitas coi- ta, constrói pipas que são formas geométricas bem
sas de Geometria. conhecidas, tem consciência das diagonais da pipa,
mesmo sem saber formalmente o que é uma
Talvez você esteja se perguntando: Mas, o que tudo diagonal. Enquanto constrói aviõezinhos, faz
isso tem a ver com meus alunos e com minhas aulas? dobraduras relacionadas à simetria da construção.
Para responder, vamos ‘fazer de conta’. Pense em Taí. O Juca sabe muitas coisas de natureza geométri-
um aluno imaginário, que talvez não seja tão imagi- ca, tem muitas habilidades de natureza geométrica. É
nário assim. Vamos chamá-lo de Juca. fácil imaginar que ele seja igualzinho a seus alunos.
Ele não vai aprender melhor Geometria se a es-
Nosso Juca adora jogar futebol. No jogo, ele corre, se des- cola desprezar as coisas que ele já sabe e já faz. Ele
loca para a frente, para trás e para os lados; se orienta para não vai aprender Geometria significativa só por ou-
fugir da marcação; procura não deixar a bola passar da li- vir uma definição de hexágono, diagonal ou outra
nha lateral; reconhece as fronteiras do campo; dá chutes
qualquer. É por isso que, como dissemos, não se
em diagonal para o vizinho à esquerda; sabe que, para
aprende Geometria com os ouvidos.
marcar o gol, precisa colocar a bola dentro daquele retân-
gulo que todo mundo chama de trave; corre em direção à
meta e chuta no canto direito do goleiro; depois do gol, ele As crianças aprendem Geometria observando e fazen-
coloca a bola embaixo do braço e corre em direção ao do coisas cujo significado compreendem.
círculo central no meio do campo.
Talvez você esteja de novo se perguntando: Como
Vamos parar um pouco e analisar o que ele fez: ensinar Geometria levando tudo isso em conta?
deslocamento para a frente, para trás, para os lados, Não é difícil. O papel do professor é promover situa-
orientação, direção, linha lateral, diagonal, vizinhan- ções que levem os alunos a expressar tudo isso que eles
ça, esquerda, direita, dentro, fora, retângulo, círculo, já sabem (sem nunca ter pensado nisso), conversar a
meio do campo. Quanta Geometria junto! respeito e fazer coisas de natureza geométrica.
Diante de todo esse conhecimento geométrico do O professor ajuda a criança a organizar os conhe-
Juca e de outras crianças, só cabe recomendar aos cimentos que ela já tem para ampliá-los, refiná-los e
professores muita atenção, para reconhecer e explo- avançar para novos conceitos, mais complexos.
rar as situações da vida real, que podem contribuir Uma criança em idade escolar não precisa que os
muito para a aprendizagem. adultos lhe digam o que é um ponto, uma reta ou um
E que outras coisas faz nosso Juca? círculo. Ela já absorveu essas idéias de algum modo. O
8 Programa 2 9
plesmente, imaginar. É o espaço das coisas bem maiores Xii! Minha caixa desmontou! gritou Martinha, um
que um ser humano, como o edifício da escola, ou as pai- pouco assustada.
sagens da natureza. Você não pode pedir ao aluno para A professora, que planejara justamente explorar a
pegar ou transformar tais coisas, como um avião em ta- planificação das caixas, não perdeu a deixa: propôs
manho natural. Mas ele pode representar o que vê. que todos desmontassem as caixas, sem rasgá-las.
Considerando as diferenças entre esses dois espaços
e as possibilidades de exploração de cada um, você pode
organizar atividades em torno das ações que estão ao al-
cance das crianças em cada caso.
Creme
Creme dental Creme dental
Cremedental
dental Creme
Cremedental
dental
As crianças aprendem Geometria
• observando • manipulando • representando
dental
Cremedental
É comprida, disse Wanderléia.
Creme
Este lado é igual a este outro, mostrou Leno a sua Planta
colega Lilian, referindo-se ao fato de as faces opos- baixa
tas serem iguais. Vista frontal Vista lateral
Tem oito bicos , afirmou Rober to a seu colega A partir daquela aula, os alunos estavam aptos
Erasmo, com os dedinhos sobre os vértices. a montar e desmontar caixas em forma de bloco re-
E seis lados, complementou Erasmo, referindo-se tangular, incluindo o cubo, que estudaram de vários
às faces. modos, como por exemplo:
12 Programa 2 As crianças, seus espaços e suas ações 13
lilás
Quem diria, hem? E pensar que, à primeira vista,
as crianças apenas ‘brincaram’ com caixinhas.
Com as caixas que fabricaram, cada grupo construiu Em outro dia, a professora Cláudia organizou com
uma maquete da ‘cidade do futuro’, com ruas e edifícios. a classe uma festa para dois aniversariantes. Decidi-
Um dos grupos montou uma cidade espelhada, ram que haveria bolo, refrigerantes e bandeirinhas
isto é, cada lado de uma rua era igualzinho ao que para enfeitar. Como fazer as bandeirinhas? Todos de-
estava em frente. Após construir a maquete, desenha- ram palpites, desenhando na lousa o formato das
ram o mapa da ‘cidade do futuro’ e a planta baixa das bandeirinhas favoritas. E escolheram dois tipos de
construções. bandeirinha.
14 Programa 2 As crianças, seus espaços e suas ações 15
Entretanto, raramente vemos ladrilhos ou lajotas cujo cular? Por que algumas canetas se chamam esferográfi-
formato seja de paralelogramo. Não é difícil produzir cas? Por que a Terra é redonda? E as frutas e bolhas?
paralelogramos em escala industrial, mas é menos prá- Faça perguntas óbvias, deixe fazerem outras, esti-
tico do que produzir retângulos ou quadrados. mule uma tempestade de ‘porquês’. Não tenha receio
Mas isto não tira o mérito dos paralelogramos. Eles de ficar sem a resposta na ponta da língua. Os ‘por-
são quadriláteros especiais, pois têm como proprieda- quês’ são importantes também para os adultos.
de os lados opostos paralelos. Essa é uma propriedade Desde os tempos pré-históricos, o homem pro-
importante, do ponto de vista prático. curou imitar as formas em sua arte e em seu dia-a-
O paralelismo está presente em muitos mecanis- dia. Observou que esferas e cilindros rolam; per-
mos que nos cercam. Procure lembrar alguns, com a cebeu que a forma circular tem a propriedade de
ajuda dos alunos. Fale do vitrô, da janela basculante, ter a largura constante. E usou esses conhecimen-
das lâminas de uma persiana. Mostre que o tos para transportar blocos de pedra.
paralelismo fica garantido quando existe a estrutura Percebeu também que sobre pedaços de toras
do paralelogramo. de madeira podia transportar outras coisas. Daí, in-
As crianças podem construir paralelogramos com ventou a roda, que facilitou muito seu trabalho e
canudinhos de plástico atravessados por linha ou bar- foi o ponto de partida para outras incontáveis in-
bante, com tachinhas, com palitos de sorvete. venções.
Ao cavar um poço, o trabalhador finca uma estaca
e, com uma corda amarrada, traça uma circunferên-
cia perfeita, servindo-se de outra propriedade da cir-
cunferência: todos os pontos de sua fronteira estão à
mesma distância do centro.
E os pratos e copos, qual é o motivo de seu forma- Feito isso, diga para construírem um quadriláte-
to? Aqui, uma das idéias chave é a simetria do círculo. ro, com lados que meçam 6, 8, 10 e 12 centímetros.
Podemos colocar na boca um copo de borda redon- Conduza a conversa, levando-os a observar que
da em qualquer ponto da borda. os triângulos são formas rígidas, têm forma fixa de-
O círculo tem infinitos eixos de simetria. Qualquer pois de construídos, não é possível alterar seus ân-
reta passando pelo centro do círculo faz com que ele gulos interiores. O mesmo não acontece com o qua-
fique dividido em duas partes iguais e espelhadas. drilátero, que terá uma estrutura flexível, pois os ân-
gulos internos podem ser modificados.
Nem paralelo nem curvo Quando um marceneiro faz um portão com ripas
verticais, a estrutura não fica muito firme. Então, ele
A esta altura, você pode estar se perguntando: Sobrou prega uma ripa em diagonal, para garantir a rigidez.
para o triângulo, coitado, não serve para caixa, não ser- Ele triangula a estrutura.
ve para copo, pra que serve o triângulo?
Boa questão. Podemos finalizar nossa viagem fa-
lando da importância do triângulo.
Conclusão
Se você estiver trabalhando a Geometria na sala de
aula desse modo, despertando os olhares, as dúvidas,
os ‘porquês’ e ‘comos’ das crianças, elas vão continuar
olhando e indagando e produzindo explicações sobre
outros ‘porquês’ e ‘comos’ para o resto de suas vidas,
dentro ou fora da sala de aula. E se isto acontecer,
parabéns ! Você, educador ou educadora, está fazen-
do o que tem de ser feito. E fazendo bem.
24 Programa 4 A vida numérica na sala de aula 25
Situação 1 7 26 45 59 73
1 a série, 1 o semestre 9 19 41 56 68
Pedro: Ah, então, o último número é 1! Ditei o número 53 e, rapidinho, Márcia disse:
Paulo: Já achei dois [mostra o 41 e o 51]. Márcia: Ah! esse eu acho que sei, porque o número da
minha casa é cinqüenta e se escreve assim [escreveu 50].
Pedro: Só pode ser um deles, vamos ver qual dos dois é.
Roberto: É, mas a professora ditou cinqüenta e três,
Paulo: Eu acho que quarenta e um é este aqui [mostra
e não cinqüenta.
o 41], porque este [mostra 51] começa com 5 e, quando
a gente fala quarenta e um não parece nem um pouco Márcia: É só tirar o zero e colocar o três.
com o som do 5 [Assinalam então o 41]. Roberto: Como você sabe?
Ao passar, perguntei: Como vocês concluíram que Márcia: Porque na minha rua, o número da casa da
este é o quarenta e um? minha amiga é cinqüenta e sete e, na parede, está o nú-
Paulo contou exatamente como aconteceu. Apontei mero cinco e o sete; então, cinqüenta e três é o 5 e o 3.
para o ‘14’ e perguntei, para ver se estavam atentos à
[Procuram na cartela e encontram o 53.]
posição dos algarismos: E por que não pode ser este?
Paulo: Porque quando a gente fala quarenta e um,
Essa discussão confirmou, para mim, que é muito
o último que a gente diz é o um e não o quatro,
importante as crianças conhecerem os números re-
então é este [mostra o 41].
dondos de dezenas, centenas, unidades de mil e as-
Diante da discussão dessa dupla, percebi que eles sim por diante (10, 100, 1.000 etc.). Depois disso, con-
estavam muito ligados à ordenação da numeração fa- seguem elaborar a escrita dos números posicionados
lada. Em outras situações, eu deveria propor um tipo entre esses intervalos.
de atividade que ressaltasse novas características do
sistema: por exemplo, o valor posicional do número. Nesse jogo de bingo, percebi que poucas duplas
Em outra dupla, com Márcia e Roberto, a discus- sabiam isso. Resolvi então preparar outras atividades,
são foi diferente. A cartela era esta: para que todos os alunos se apropriassem desses co-
nhecimentos. Pensei em um bingo de dezenas e cen-
tenas exatas, ou em pedir para preencherem alguns
B I N G O números (as dezenas exatas), usar a fita métrica, jogo
da memória (confeccionar cartões com dezenas) e as-
15 18 39 53 65 sim por diante.
2 25 34 48 70 Situação 2
4 22 X 47 67 2 a série, 1 o bimestre
13 Mesmo sendo de 2 a série, minha sala ainda precisa
29 36 55 74
resolver algumas questões referentes ao sistema de
7 21 31 60 73 numeração. A maioria dos alunos diz: É o primeiro
quem manda; ou então: O maior número é aquele que
28 Programa 4 A vida numérica na sala de aula 29
tem mais algarismos. No entanto, não têm uma com- Quando perguntei às crianças qual achavam que
preensão mais profunda da organização do sistema, estava certa, a maioria respondeu que o registro de
ou seja, ainda não estabeleceram a relação entre os Fernanda era o certo. Algumas justificaram:
critérios elaborados e o valor de cada algarismo em Acertou, Fernanda acertou, olha aqui! [e explicavam,
termos de ‘dezes’ ou ‘cens’. escrevendo também, 20, 7, e falando: vinte, sete].
O Rodrigo esqueceu que quando a gente escreve
Para quem não conhece a escrita convencional, escre- números, não pode ter letra. Letra é para escrever e
ver números é uma atividade altamente significativa número é para contar, e não tem letra.
e carregada de desafios.
Perguntei a Maria por que escrevera 27 daquela
forma e ela explicou:
Propus, então, um ditado de números. Para come- Eu olhei no calendário da parede e contei até o 27.
çar, cada um escreveria em seu caderno os números Diante do argumento de Maria, os demais ficaram
que eu ditava. Depois, a classe toda discutiria os re- um pouco confusos, pois sabiam que no calendário
gistros feitos. os números sem dúvida estavam escritos de forma
Ao observar a solução dos colegas e perceber o correta.
registro de diferentes escritas, eles poderiam desen- Percebi que estavam aceitando a escrita de Maria
volver hipóteses e ampliar sua compreensão do sis- apenas por estar apoiada no calendário, mas sem
tema de numeração. Ditei: 27; 100; 78; 821; 1.100; 725. entender o que estava por trás disso. Ao dizer que
D u ra n t e o d i t a d o, a s c r i a n ç a s s e m o s t rar am estava mesmo certa, pedi para descobrirem por que
muito concentradas e manifestaram grande empe- essa era a forma correta. Algumas justificativas:
nho. A cada novo número ditado, elas iam pensan-
• Já sei, a gente tira o zero, porque zero significa
do, organizando as idéias e colocando suas hipó-
‘nada’, então não precisa colocar.
teses no papel.
Chamei na lousa três crianças e pedi para escre- • Não pode mesmo ter três números, porque cem
verem o número 27 exatamente como tinham escrito tem três números e é muito maior que vinte e sete.
na folha. Obtive as seguintes soluções:
Situação 3
3 a série, 2 o bimestre
Comecei a aula de Matemática de um jeito diferente.
207 20 E 7 27 Coloquei em dúvida as afirmações corretas de meus
alunos e, com isso, eles responderam às minhas per-
guntas e me mostraram claramente o que sabem a
série até o mil, e assim por diante. No entanto, bem Jogo de batalha
antes de ingressar na 1 a série, as crianças já sabem
muitas coisas acerca de numeração. Prepare um baralho com números até 40. Forme du-
O sistema de numeração aparece nas revistas, em plas e distribua as cartas do baralho entre os joga-
etiquetas de preços, nos calendários, nas regras de jo- dores.
gos, nas embalagens, nos anúncios, nos endereços das Explique as regras:
pessoas e assim por diante. • Sem olhar as cartas, cada jogador faz uma pilha, com
O ensino fragmentado e outros recursos didáticos as cartas viradas para baixo.
(como o trabalho com as diferentes bases) não facilitam • Simultaneamente, os dois jogadores abrem a pri-
em nada a compreensão do sistema de numeração e de meira carta de sua respectiva pilha.
sua organização. Os famosos ‘vai um’ e ‘peço empresta- • O jogador que virar a carta maior fica com as duas.
do’, por exemplo, não fazem o menor sentido e ainda le- • Vence o jogo quem, no final, tiver o maior número
vam as crianças a cometer erros elementares. de cartas.
Constatando tais limitações dos métodos tradicio- Para variar, você pode confeccionar um baralho com
nais, os pesquisadores decidiram procurar uma abor- numerais maiores. Ou mudar a regra, fazendo o joga-
dagem do ensino do sistema de numeração que fa- dor que virar a carta menor ficar com as duas.
vorecesse uma compreensão mais profunda e
operacional da notação numérica.
Quanto maior a quantidade de
O que as crianças pensam algarismos, maior é o número
Que conclusões podem tirar as crianças a partir de seu Sem conhecer os nomes dos números, Fernando e
contato cotidiano com a numeração escrita? Que in- Ivan explicam suas decisões no jogo de batalha:
formações relevantes obtêm: Fernando: Este [mostra o 23, porém não o nomeia,
34 Programa 5 Sistema de numeração 35
pois desconhece sua denominação oral] é maior, Paulo [depois de afirmar que 21 é maior que 12]:
porque tem dois números e tem mais. Já este [mos- Porque aqui [mostra o 12] o um é primeiro e o dois
tra o 5] tem só um número. é depois. Mas aqui [aponta o 21] o dois é que fica
primeiro e o um está no fim.
Ivan: O maior é este [mostra o número 12], porque
tem mais números do que este [mostra o 6]. Nádia [justificando que 43 é maior que 28]: Quem
manda é o primeiro número. Quatro é maior que
Neste caso, o critério de comparação das crianças se
dois, então este [mostra o 43] é maior que este [in-
baseou na quantidade de algarismos, pois elas não co-
dica o 28].
nhecem o nome dos números que estão comparando. Na
comparação oral, elas também recorrem ao lugar que Guilherme [para explicar que 21 é maior que 12]: Os
cada número ocupa na seqüência de contagem: dois têm os mesmos números. Só que aqui [21] o dois
está antes e aqui [12] está atrás. O maior é o que fica na
Quando eu conto, eu falo primeiro 6, e só depois
frente. O dois é maior, então este [o 21] é maior.
vem o 12; então, 6 é menor que 12.
Estas crianças já descobriram que, além do víncu-
O último número é maior lo entre a quantidade de algarismos e a magnitude do
número, existe outra característica: o valor que um al-
Comparando dois números para decidir qual era o
garismo representa, apesar de ser sempre o mesmo,
maior, os alunos argumentaram:
depende do lugar em que está localizado em relação
Paula [comparando 29 e 52]: O maior é 29, porque aos outros que constituem o número. A isso chama-
9 é maior que 2. É diferente no 52. mos valor posicional.
Henrique [entre 1.110 e 999]: Este [aponta o 999] é Elas sabem também que, se compararem dois
maior, porque este [aponta o 1.110] tem números números de igual quantidade de algarismos, o maior
muito baixinhos. tem o primeiro algarismo maior. Por isso podem afir-
mar que “o primeiro é quem manda”.
Essa hipótese, na qual as crianças relacionam o va- Sabem ainda que, quando o primeiro algarismo
lor numérico ao valor absoluto de cada numeral, é fa- das duas quantidades é o mesmo, é preciso apelar ao
cilmente descartada quando elas começam a prestar segundo para identificar o maior.
atenção na quantidade de algarismos. Torna-se claro O critério de comparação baseado na posição dos
que, entre as duas hipóteses, a quantidade de alga- algarismos não se constrói de uma só vez. Antes de
rismos pesa muito mais que qualquer consideração generalizar, a criança precisa superar certos obstácu-
vinculada ao valor absoluto. los. É o que nos mostra Mariana; em outras situações
apresentadas em classe, já aplicou o critério do valor
O primeiro é quem manda posicional de forma adequada. Mas se confunde dian-
Ao comparar números com a mesma quantidade de te de uma situação nova.
algarismos, os argumentos das crianças mostram se No jogo de batalha, a carta de Mariana é 25, e a
elas já descobriram que a posição dos algarismos de Ariel é 16. Quando a professora pergunta quem
cumpre uma função relevante. Observe: ganhou o jogo, ambos respondem:
36 Programa 5 Sistema de numeração 37
Mariana: O Ariel.
Escrevo como falo
Ariel: Não, foi ela que ganhou!
Para elaborar conceitos a respeito da escrita dos nú-
Mariana: Foi ele, porque este [o 25] tem um dois e meros, as crianças se baseiam nas informações da
um cinco, e este [o 16] tem um número um e um numeração falada e no que já sabem, na escrita con-
seis. Seis é um número a mais que cinco. vencional, a respeito das dezenas e centenas exatas.
Ariel: Não! O que conta é o primeiro. Para produzir os números cuja escrita convencional
não dominam, as crianças misturam os símbolos que já
conhecem e procuram fazê-los corresponder com a or-
Números especiais: os zeros denação dos termos na numeração falada.
Veja este exemplo. A professora faz um ditado de
A apropriação da escrita convencional dos números pe- numerais e os alunos comentam e justificam a escrita
las crianças não segue a ordem da série numérica. Elas que produziram:
manipulam em primeiro lugar a escrita de números
• Márcio escreve 725 assim: 700205. Fica claro que
com zeros – dezenas, centenas, unidades de mil –, e só
ele escreveu o número exatamente como se fala:
depois elaboram a escrita dos números posicionados
setecentos e vinte e cinco.
nos intervalos entre eles.
A professora propôs um jogo. Os alunos for ma- • Paula escreve 6 para o 100 e explica: Olha, quando
riam duplas e cada aluno deveria escrever o maior se fala cem, começa com cê, então é esse seis.
número que soubesse. Em seguida, iria compará-lo • Bruno escreveu 109, quando a professora ditou
com o do colega; ganharia o jogo quem escrevesse o 19. Ele justifica: Olha dez e nove, fala rápido que
maior número. Observe os comentários: dá dezenove.
Ivo: Eu acho que ganhei, porque fiz mais mil. • João, para 2.000, escreveu 2 1.000 (dois mil).
João: Mas eu fiz mais cens. Na escrita de João, pode parecer que ele usou o
Ivo: Mais cens? Eu fiz mais mil e mil é maior que fator multiplicativo, mas, na verdade, ele se apoiou
cem. exclusivamente na fala (2 e 1.000).
A hipótese segundo a qual a escrita numérica é o
Francis: Eu não sei o nome deste número, só sei que resultado de uma correspondência com a numeração
precisa de muitos zeros. falada conduz as crianças a elaborar notações não-
As respostas das crianças sugerem que, na escrita convencionais. Por que isso ocorre?
convencional, elas se apropriam em primeiro lugar da Ao se sentir em conflito diante do número que
potência de base 100 e que a escrita dos outros zeros escreveu, a criança reage com perplexidade e insatis-
correspondentes a essa potência é elaborada a partir fação. Tal insatisfação a leva a efetuar correções, pro-
desse modelo. curando ‘diminuir’ a escrita, ou interpretá-la atribuin-
do-lhe um valor maior. Porém, essas correções so-
mente são possíveis depois da escrita dos números.
38 Programa 6 39
eles situações variadas nas quais precisem operar com Para introduzir símbolos da linguagem matemá-
números: jogos que requeiram cálculos, situações coti- tica, Cláudia ensinou esta outra representação:
17 + = 31
dianas que peçam alguma contagem, comparação ou
controle de quantidades (contagem de coleções, cálculo
do total de uma compra, pontos ganhos por uma equi-
Pouco a pouco, algumas crianças começaram a utili-
pe após várias etapas de jogos), e tantas outras.
zar os sinais matemáticos para resolver os problemas
Apresentaremos a seguir algumas atividades com
propostos. Diante disso, Cláudia quis verificar quais as
problemas de enunciado; esta é uma das formas de
situações que as crianças associariam a essas operações
aproximar os alunos das ações e das idéias envolvi-
e, para isso, desenvolveu algumas atividades:
das nas operações.
Atividade 2
No entanto, nem sempre os alunos associam outras Segundo as pesquisas mais recentes na área da Didáti-
idéias às operações de adição ou subtração. Pensan- ca da Matemática, os problemas envolvendo a adição e
do em explorar novas idéias, Cláudia propôs o pro- a subtração devem ser trabalhados em conjunto, “já que
blema a seguir. guardam entre si estreitas conexões, ou seja, compõem
uma mesma família” (PCN - Matemática, p. 67).
Estou na página 64 de um livro de 80 páginas.
Quantas me faltam para terminá-lo? Se analisarmos os dois caminhos percorridos, fica cla-
Os alunos não conheciam o algoritmo da adição ou ro que as crianças do primeiro grupo se apoiaram na sub-
da subtração (as contas armadas). Precisariam resolver tração, enquanto as outras utilizaram um raciocínio aditivo.
o problema recorrendo apenas a suas próprias estraté- Se a professora tivesse identificado esse proble-
gias de cálculo. ma com uma só operação, procurando garantir que o
Alguns fizeram assim: desenharam 80 palitos, corres- grupo todo associasse o problema apenas à adição ou
pondentes ao total de páginas do livro. à subtração, estaria limitando a possibilidade de de-
senvolver novas idéias. Na realidade, os dois cami-
nhos são adequados: o problema pode ser associado
à adição ou à subtração.
Quando permitimos que nossos alunos descubram as
soluções de seu próprio jeito, constatamos que os proce-
dimentos variam muito. Se é assim, será que é necessário
apresentar cada operação como um conteúdo isolado?
Esta situação pode dar lugar a duas outras: A partir desse enunciado podemos formular estes outros:
• Paulo e João juntaram seus carrinhos e ficaram • Antônio tem 42 selos. Pedro tem 7 a menos.
com 37. Quantos eram de Paulo, se 12 eram de Quantos selos Pedro tem?
João? • Se Antônio tem 42 selos e Pedro tem 35, quantos selos
• Paulo tinha 25 carrinhos e resolveu juntá-los com Pedro precisa ganhar para ter o mesmo que Antônio?
os de João. Depois que juntaram tudo, ficaram 37.
Quantos carrinhos João tinha? Em resumo
Algumas crianças resolveram da seguinte forma: Se você perguntar como fizeram a conta 20 + 40,
talvez respondam: “Se eu sei que 2 + 4 é 6, então é só
23 = 10 + 10 + 3 46 = 10 + 10 + 10 + 10 + 6 juntar um zero, no 20 + 40, para ficar 60”.
Esta é uma propriedade do sistema de numeração
23 + 46 = 10 + 10 + 3 + 10 + 10 + 10 + 10 + 6 decimal, pois o 20 são ‘dois dez’, o quarenta são ‘qua-
OU tro dez’, e a soma dá ‘seis dez’.
10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 6 + 3 Aqui também os alunos estão utilizando proprie-
dades da adição, mesmo sem saber formulá-las.
60 + 6 + 3 = 69
Quando somam separadamente 20 + 40, e depois 3 + 6,
Ao adotar este esquema, a criança demonstra que as crianças estão aplicando a propriedade associativa
já compreende que o 23 é formado por duas vezes o da adição: a soma de várias parcelas não se altera se
número 10, acrescido do 3; e que o 46 corresponde a somarmos separadamente duas (ou mais) delas, para
quatro vezes o número 10, acrescido do 6. E assim depois juntarmos as outras.
decide que pode simplificar a operação, contando
primeiro todos os 10, para depois juntar o 3 e o 6. Haverá ainda alunos que farão o seguinte cálculo:
23 + 46 = 46 + 23 23 = 10 + 10 + 3
Ao contar primeiro todos os 10, a criança está apli-
46 + 23 = 46 + 10 + 10 + 3
cando a propriedade comutativa da adição (mesmo
sem ter conhecimento dela), ou seja, percebe que 46 + 10 = 56
pode alterar a ordem em que as parcelas serão so- 56 + 10 = 66
madas, sem que o resultado se altere. 66 + 3 = 69
Neste caso, a criança também se apoiou na decom-
Outras crianças podem fazer o seguinte:
posição decimal, mas fez isso apenas com um dos ter-
mos da adição (decompôs o 23 em 10 + 10 + 3), que
20 + 40 = 60 foi somando parceladamente ao 46 nas três últimas
—
—
>
>
3 + 6=9
Pensar matematicamente
60 + 9 = 69 Ao elaborar tais estratégias, as crianças procuram resol-
ver o problema de forma mais eficiente e menos traba-
Esta estratégia é mais elaborada que a anterior; lhosa; também se vêem diante da possibilidade de utili-
aqui, o aluno já está sabendo que o 23 é ‘formado’ zar conhecimentos que já construíram a respeito dos
pelo 20 + 3 e o 46, pelo 40 + 6. números. Criam assim novas formas de resolução.
50 Programa 7 Inventando estratégias de cálculo 51
Com soluções como essas apresentadas, nossos Depois de preenchida, a tabela ficou assim:
alunos estão utilizando os conhecimentos que já cons-
truíram a respeito do sistema de numeração decimal. Consumo de pães Quantidade
Para desenvolver tais conhecimentos, é importante
que tenham várias oportunidades de interagir com os No 1 o dia 34
números (de diferentes grandezas), discutir e trocar No 2 o dia 47
informações, ao mesmo tempo que trabalham com as
operações. Total
Mesmo quando recorrem a estratégias como es-
sas, as crianças podem cometer erros de cálculo. A A professora pediu então para as crianças calcu-
atuação do professor é fundamental: ele deve apon- larem o total de pães servidos nos dois dias. Apare-
tar o erro, mas é importante que valorize a adequa- ceram diversas formas de resolução:
ção da resposta apresentada, para que o aluno conti- 1 a forma
nue a realizar seu trabalho de forma confiante.
Nem todos os alunos farão uso de estratégias ela-
boradas. Muitos precisarão se apoiar na representa- +
ção das quantidades, uma a uma, outros procurarão
contar nos dedos. Então, como fazer para que tais
conhecimentos possam ser compartilhados por um
RESPOSTA: 8 1
número maior de crianças? Veja a seguir um exemplo.
2 a forma
Ampliação das
estratégias de cálculo
47 +
a
Uma professora de 1 série propôs a seguinte situação:
Vamos à cozinha da escola, para perguntar às cozi- RESPOSTA: 8 1
nheiras quantos pães usaram hoje para preparar a
merenda. Amanhã faremos a mesma coisa e anota- 3 a forma
remos as quantidades nesta tabela:
47 + 34 = 40 + 7 + 30 + 4
Consumo de pães Quantidade 40 + 30 = 70
No 1o dia
7 + 4 = 11
70 + 11 = 70 + 10 + 1 = 80 + 1 = 81
No 2o dia
Total RESPOSTA: 81
52 Programa 7 Inventando estratégias de cálculo 53
Além disso, com freqüência o ensino da conta ar- a) Arredondar os números envolvidos e obter uma
mada se confunde com a própria operação a que se soma aproximada. Neste caso, faríamos: 30 (‘ar-
relaciona. Ouvimos dizer que “aquele aluno já sabe redondando’ 29) mais 30 (‘arredondando’ 32).
somar”, porque ele saber fazer uma conta de adição. Portanto, 60, que seria um valor aproximado do
A operação de adição é um conteúdo bem mais am- resultado dessa conta.
plo e complexo, que envolve várias ações e vár ias b) Utilizar a decomposição decimal dos números.
idéias, não apenas uma técnica de cálculo. Neste caso, 29 se converteria em 20 + 9 e 32 ficaria
Outro ponto a ser considerado é que, para as crian- 30 + 2. Em seguida, é preciso somar as dezenas: 20
ças, é importante o contato com diferentes maneiras de (do 29) + 30 (do 32) = 50. Depois, somar as unida-
calcular e, principalmente, é importante que possam uti- des: 9 (do 29) + 2 (do 32) = 11. Por fim, basta juntar
lizar estratégias criadas por elas mesmas. Entre outras os totais parciais encontrados: 50 + 11 = 61.
coisas, as várias formas de calcular constituem um óti-
mo recurso para controlar os resultados obtidos. c) Recorrer a outras decomposições. Poderíamos
fazer o seguinte:
O algoritmo da adição 29 = 25 + 4 32 = 25 + 7
Como ainda não havia compreendido o transpor- Oferecer aos alunos a possibilidade de experimentar
te para a coluna das dezenas, somou as unidades e diferentes formas de cálculo favorece a escolha das
colocou o 12 abaixo da linha; depois, somou as deze- estratégias mais adequadas, na vida prática. O
nas e encontrou o resultado apresentado. algoritmo tradicional (ou conta armada) também é
No entanto, essa criança já realizava há algum tempo importante e precisa ser ensinado. Mas não como a
suas contas por meio da decomposição dos números; e única forma de calcular.
sabia que o resultado deveria estar próximo de 60 (pois
somou: 20 + 40 = 60, sendo o 20 do 28 e o 40 do 44). Antes Se queremos que nossos alunos tenham contato
mesmo que o professor apontasse, percebeu que seu re- com o algoritmo, mas que não o aprendam como uma
sultado não estava correto. O fato de ter acesso a diferentes série de passos sem significado, e também queremos
estratégias de cálculo ajudou-a a controlar seu resultado. que experimentem outras estratégias, é importante
Quando vamos ao supermercado e temos de so- dar-lhes tempo para pesquisar, trocar experiências
mar o total de uma compra como, por exemplo, 29 + com seus colegas e ‘inventar’ formas de calcular, an-
32, podemos: tes de aprender o algoritmo.
58 Programa 8 Desarmando as contas 59
A conta de ‘escorregar’
RESPOSTA: 34 REAIS. Uma outra maneira de realizar a conta de subtração é
aquela em que se empresta 1, mas esse 1 ‘escorrega’
É simples compreender o que ela fez, não é? Ela e é acrescentado ao subtraendo:
decompôs o 72 em 7 grupos de 10, pois sabe que o 7
do número 72 vale 7 vezes o número 10. Depois, ris- 1
cou os três grupos de 10 correspondentes ao 38. Para 72 72
3 8- 43 8-
subtrair o 8, transformou uma das dezenas restantes
em dez unidades, deixando sobrar 2 (10 - 8). Feito 34
isso, bastou contar quanto sobrou.
Como seria a conta armada para resolver esse
É bem mais difícil explicar o que aconteceu neste
mesmo problema?
caso. Por que esse procedimento dá certo? Antes de
responder, vamos observar estas subtrações:
6 1
72 72 12 - 5 = 7
3 8- 38- 22 - 15 = 7
34
14 - 7 = 7
62 Programa 8 Desarmando as contas 63
Como você vê, as três subtrações têm o mesmo re- A segunda conta envolve o conhecimento de uma
sultado. Isso se deve a uma propriedade da subtração. propriedade da subtração – “se somarmos ou subtrair-
mos um mesmo valor aos dois termos de uma sub-
Quando somamos um mesmo valor ao minuendo e tração, não alteraremos o resultado”. Não é fácil com-
ao subtraendo, não alteramos o resultado da subtra- preender isso nas séries iniciais.
ção. Esta é uma propriedade da subtração.
Para finalizar
Veja o que foi feito:
Procuramos enfatizar a importância de não tratar de
forma mecânica o aprendizado do algoritmo. Os dife-
1 a conta 12 - 5 = 7 rentes passos de seu processo de resolução têm sig-
2 a conta (12 + 10) - (5 + 10) = 7 Somamos 10 ao minuen- nificados precisos. A compreensão desses passos con-
do e 10 ao subtraendo tribui para evitar que as crianças cometam erros cria-
3 a conta (12 + 2) - (5 + 2) = 7 Somamos 2 ao minuendo dos pela incompreensão do processo e, por outro
e 2 ao subtraendo lado, permite que elas estabeleçam relações com as
propriedades do sistema de numeração.
Propor atividades nas quais as crianças têm a
Na conta armada que estávamos resolvendo com possibilidade de explorar formas pessoais de cálculo,
Juliana fizemos assim: antes de apresentar a elas o algoritmo convencional,
permite que elas tenham contato com procedimentos
variados. Isso será útil para entenderem o algoritmo
712 Este pequeno 1 junto às unidades significa que
como apenas uma, entre várias possibilidades de cal-
acrescentamos 10 ao 72 (ficou 70 + 12)
cular.
4 Este pequeno 4 junto às dezenas significa que
38 Vimos também que as estratégias de cálculo ela-
acrescentamos 10 também aqui. Em vez de 3 de- boradas pelas crianças podem ser um ótimo recurso
zenas, ficaram 4 (em vez de 38, temos 48). para que compreendam melhor o mecanismo da con-
ta armada.
Assim, somando 10 aos dois termos, o resultado Para concluir: permitir que os alunos criem suas
da subtração se mantém o mesmo. próprias estratégias contribui para valorizar sua pro-
Para os alunos das primeiras séries é sem dú- dução e para estimular uma atitude aberta ao buscar
vida bem mais fácil compreender o primeiro modo novas soluções, nas mais diferentes situações-proble-
de fazer uma subtração, ‘emprestando 1’. Fica mais ma apresentadas.
simples relacionarem as várias etapas desse mé-
todo aos conhecimentos que já construíram. Eles
sabem que, no 72, o 7 vale 70 ou 7 grupinhos de
10; que um desses grupinhos de 10 corresponde a
10 unidades, e assim por diante.