Arede 003

Apresenta
A Rede
Novela de:
Evana Ribeiro
CAPÍTULO 03
TV DESTINO . A REDE . CAPITULO 03 2
CENA 01 – BARNET – INT – TARDE

Continuação da seqüência final do capítulo anterior. Minerva
continua esperando o que o homem desconhecido tem a dizer. Sua
respiração é ofegante.
MINERVA (off) – Meu Deus, o que eu tô fazendo? Tô dando ouvidos a

um sujeito que eu nem sei quem é!
Minerva desliga o telefone. Geysa se aproxima.
GEYSA – Oi... Acabou meu tempo. Eu já tinha pago antes, tá?
MINERVA – Ok.
GEYSA – Fala pra Miranda que depois eu passo aqui de novo.
MINERVA – Certo.
GEYSA – Você tá bem?
MINERVA – Tô! Tô sim... Eu tive uma crise de soluço, só isso.
GEYSA – Ah, tá...
Geysa sai. Sozinha, Minerva olha fixamente para o telefone,

esperando que ele volte a tocar. Ele não toca.
MINERVA – Só pode ter sido um trote.
O telefone volta a tocar. Ela atende. Antes que possa dizer ‘alô’, o
mesmo homem da ligação anterior comece a falar.
VOZ MASCULINA (off) – Antes de desligar de novo, me escute. Eu sei

que você é filha do Emílio, conheci pela voz.
MINERVA – Dá pra dizer seu nome?
VOZ MASCULINA – Não posso. Só quero que você saiba e deixe todos de
sobreaviso... Gilson roubou vocês.
MINERVA – Como é?
VOZ MASCULINA – A papelaria, ela não é mais de vocês, é dele.
MINERVA – Ai, meu Deus! Mainha vai se matar com essa...
Mick entra.
MICK – Cheguei!
Minerva, nervosa, desliga o telefone rapidamente e fica olhando

para o irmão, muito séria.
MICK – Minerva, aconteceu alguma coisa?
MINERVA – Não...
MICK – Então por que tá me olhando com essa cara?
MINERVA (brava) – Que cara, Mickey? Que cara?
MICK – Esquece. Valeu por ter ficado um pouco aqui, tá?
MINERVA – Qualquer coisa, tô lá em casa.
MICK – Valeu, mas acho que não vou mais precisar encher teu saco.
Minerva sai.
MICK – Que será que deu nessa menina? (t) Eu devia ter apertado um
pouco, aí com certeza ela falava.
CORTA PARA
CENA 02 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MINERVA – INT –

TARDE
Sonoplastia: É tão difícil mudar de nota – Mula Manca e a
Triste Figura.
Minerva entra no quarto e se joga em sua cama. Esconde seu
rosto no travesseiro, depois olha para uma parede qualquer, confusa.
MINERVA – Isso deve ser mentira. Uma coisa dessas não se diria por
telefone... Diria? Se bem que eu nunca achei o Gilson de confiança,
mas...
Amélia abre a porta repentinamente, assustando Minerva.

AMÉLIA – Falando sozinha, minha filha?
MINERVA – Não.
AMÉLIA – Mickey disse que você não tava se sentindo muito bem, aí vim
ver se precisava de alguma coisa. Passou tão escondidinha...
MINERVA – É que eu não queria conversar, tô cansada. E esse Mick

aumenta tudo... Eu tô bem, mãe.
Minerva e Amélia ficam em silêncio por alguns instantes.
AMÉLIA – Mesmo?
MINERVA – Mesmo. Eu só quero dormir um pouquinho.
AMÉLIA – Está certo. Depois vou dar um puxão de orelha no seu irmão
por me deixar alarmada!
Amélia dá um beijo na filha e sai. Minerva se levanta e vai até o

espelho do guarda roupa.
MINERVA – Com essa cara, não admira que todo mundo estranhe. Eu
tenho que sair daqui e descobrir se essa tal história é verdade.
Minerva se ajeita melhor em frente ao espelho e sai, apressada.
CORTA PARA
CENA 03 – CASA DE EMÍLIO/SALA – INT – TARDE

Amélia entra, vinda da cozinha, comendo uma maçã. Minerva

passa por ela correndo. Amélia segura a garota pelo braço.
AMÉLIA – Você não disse que ia dormir?
MINERVA – Mudei de idéia.
AMÉLIA – E vai aonde, com essa pressa toda?
Minerva se desvencilha da mãe e sai correndo.
AMÉLIA (corre atrás dela) – Não vai sair assim não, dona Minerva! Volte
agora!
Michelle esbarra em Amélia.
MICHELLE – Mãe, o que é isso?
AMÉLIA – Minerva está estranha demais. Primeiro chega sem ninguém

ver, depois seu irmão liga e diz que ela tava se sentindo mal, ela diz q
tá bem e quer dormir, e agora me passa nas carreiras sem dizer pra
onde vai! Isso tá certo por acaso?
MICHELLE – Vindo dela é estranho mesmo. Quer que eu vá atrás?
AMÉLIA – Acho que você não alcança...
MICHELLE – Não custa tentar.
Michelle sai correndo.

CORTA PARA
CENA 04 – RECIFE/RUA – EXT – TARDE

Minerva ainda está esperando o ônibus. Michelle a vê e consegue
alcançar.
MICHELLE – Menina!
MINERVA – O que foi?
MICHELLE – Mamãe tá preocupada contigo. O que aconteceu?
MINERVA – Nada. Ainda.
MICHELLE – Dá pra parar de falar em código?
MINERVA – Se eu contar, você jura que não conta pra ela?
MICHELLE (impaciente) – Pelo amor de Deus...
MINERVA – Ligaram pra lan dizendo que o Gilson tomou a nossa

papelaria.
MICHELLE – Como?
MINERVA – É, e eu preciso saber se é verdade. Mas por favor, não conta

nada pra mãe agora!
MICHELLE – Mas uma hora ela vai ter que saber.

MINERVA – Não agora!
MICHELLE – Sim, claro. Pode ser um boato e a gente não vai alarmar
ninguém por isso. Quer ajuda?
MINERVA – Seria bom.
MICHELLE – Então vamos juntas. Eu ligo pra mãe no caminho, pra

tranqüilizar.
MINERVA – Vou te contar tudo.
Minerva e Michelle conversam, fora de áudio.
CORTA PARA
CENA 05
Tomada de Nova York.
CORTA PARA
CENA 06 – NY/CASA DE ALIENA/QUARTO DE TERESA – INT –

TARDE
Teresa separa algumas roupas em pilhas sobre a cama. Olga e
Maria entram sem bater.
MARIA – Tetê?
TERESA – Oi, meninas.

OLGA – Por que você não foi almoçar?
TERESA – Tava sem fome. Tô aqui, arrumando as malas pra nossa

viagem.
OLGA – Mamãe vai?
TERESA – Não. Eu tentei, mas... Whatever. Vamos só nós.
OLGA – Você não foi almoçar porque tá com raiva dela, não é?
TERESA – Não, que é isso...
OLGA – Foi sim. Não precisa mentir, Teresa.
TERESA – É, fiquei aborrecida com ela. (t) Se bem que ela não é
culpada, coitada. A culpa é toda desse cara, desse Edward Stevens.
OLGA – A gente nem conhece ele...
TERESA – Queria que Ali não tivesse conhecido!
CORTA PARA
CENA 07 – NY/CASA DE ALIENA/SALA DE ESTUDOS – INT –

TARDE
Sonoplastia: Sranila Koleshko – Natalia Bannova.
Aliena está sozinha, no computador, lendo uma notícia qualquer.

Está muito séria. Permanece assim por alguns instantes. Depois, levanta
e sai.
CORTA PARA

TARDE
Teresa continua separando as roupas que vão na mala. Maria e
Olga a ajudam. Aliena entra.
ALIENA – Posso falar com você?
TERESA – Claro!
ALIENA – Meninas, por favor, saiam só um pouquinho. Daqui a pouco

vocês voltam, ok?
Olga e Maria saem do quarto sem dizer uma palavra.
ALIENA – Eu mudei de idéia sobre a viagem. Vou com vocês.
TERESA (sorrindo) – Puxa, que bom! Não ia ter muita graça sem você.
(t) O que te fez mudar de idéia?
ALIENA – Nada especial, eu só... Fiquei pensando um pouco.
TERESA – Fico feliz que tenha mudado de idéia.
ALIENA – Vou arrumar as minhas malas, então.

Teresa dá um beijo no rosto de Aliena, que sai em seguida.
CORTA PARA
CENA 09 – NY/CASA DE ALIENA/SALA DE ESTUDOS – INT –

TARDE
Olga e Maria estão sozinhas. O computador está ligado. Maria vê
Aliena passando para o seu quarto.
MARIA – Olga, mamãe já saiu. Vamos voltar?
OLGA (olhando para o monitor) – Vai você, eu vou jogar um pouquinho.
MARIA – Tá bom.
Maria sai. Olga vai para o computador e em vez de iniciar o jogo,

fica lendo o conteúdo da página que Aliena havia deixado aberta.
Destaque para o nome Edward Stevens.
CORTA PARA
CENA 10
Tomada aérea de Recife.
CORTA PARA
CENA 11 – AP. DE WALTER/QUARTO DE JÉSSICA – INT – TARDE

Jéssica está sozinha, diante do espelho, penteando os cabelos, já
pronta para sair. Beth entra sem bater.
JÉSSICA (brava) – Dá pra bater a porta antes?
BETH – Que novidade é essa, menina? Eu nunca bati na porta pra entrar
aqui.
JÉSSICA – Tá na hora de começar.
BETH (só então reparando nas roupas de Jéssica) – Vai sair, é?
JÉSSICA – Vou.
BETH – Onde?
JÉSSICA – Vou estudar na casa da Gabi.
BETH – Devia ter me avisado antes. Tinha planos pra nós hoje.
JÉSSICA – Planos?
BETH – Quero que você vá fazer umas compras no shopping comigo.
JÉSSICA – Desculpa aí, mãe, mas eu marquei com a Gabi primeiro.
BETH – Tivesse me avisado antes!
JÉSSICA – Isso vale pra senhora também!
BETH – Eu sou sua mãe!

JÉSSICA – E só por isso pode ficar arrumando coisas pra eu fazer sem
me avisar?
Júnior entra no quarto.
JÚNIOR (aborrecido) – Dá pra vocês pararem de brigar por um dia?
JÉSSICA – E vou continuar brigando enquanto ela não parar de me

encher.
BETH – Encher você! Menina, olha só o teu tamanho! Enquanto for

menor de idade, eu decido por você e tenho que ficar por dentro de
todos os seus passos, mocinha!
JÚNIOR – É melhor eu arrumar outro lugar pra estudar.
Júnior sai.
JÉSSICA – Quando eu tiver idade, vou fazer igual a tia Tetê e dar o fora
dessa casa!
Jéssica se tranca no banheiro.
BETH (bufando de raiva) – Sempre ela! Sempre essa Teresa! Tá longe,

mas não deixa de fazer estrago.
CORTA PARA
CENA 12 – AP. DE WALTER/SALA DE ESTUDOS – INT – TARDE

Walter está sozinho, lendo um texto qualquer. Ouve batidas na

porta.
WALTER (sem desviar da leitura) – Pode entrar!
JÚNIOR (entrando) – Posso estudar aqui, pai?
WALTER (olha para o menino e sorri) – Claro!
JÚNIOR – É que lá no meu quarto não dá pra ser. Jé e a mãe tão

brigando de novo, e o barulho me desconcentra.
WALTER – E qual é o motivo dessa vez?
JÚNIOR – Parece que a mãe queria que a Jé fosse fazer uma coisa, mas
a Jé tinha combinado de ir estudar... E as duas ficaram lá gritando
porque a Jéssica diz que a mãe enche, e a mãe dizendo que tem que
mandar...
WALTER – O de sempre.
JÚNIOR – Por que elas só vivem brigando?
WALTER – Ah, Júnior... O problema da sua mãe é que ela não sabe
falar. E a sua irmã não sabe ouvir. Depois eu converso com elas. Agora
vamos continuar estudando, certo?
JÚNIOR – Certo. Ah, tô estudando português, qualquer coisa te

pergunto, tá?
Walter acena afirmativamente com a cabeça. Os dois retomam as

atividades.
CORTA PARA
CENA 13 – RECIFE/RUAS – EXT – TARDE

Um ônibus pára, e dele desce Jéssica, com uma mochila nas
costas. Anda ligeira até entrar no Recife Antiquariu’s.
CORTA PARA
CENA 14 – ANTIQUÁRIO – INT – TARDE

O movimento é fraco. Jéssica passa apressada pelos clientes e
começa a subir a escada que leva ao primeiro andar do prédio. Danilo
sobe atrás dela e a alcança no meio da escada.
DANILO – Ei, baixinha! Vai onde?
JÉSSICA – Ia atrás de você.
DANILO – Pronto, tô aqui. Mas por que essa carreira toda atrás de mim,
hein, dona Jéssica?
JÉSSICA – Preciso conversar.
DANILO – Suas amiguinhas não ajudam?
JÉSSICA – Elas tão por fora da família que eu tenho!
DANILO – Então vamos lá pra cima. Tio Danilo é todo ouvidos.

Os dois continuam a subida.
CORTA PARA
CENA 15 – APARTAMENTO DE DANILO/SALA – INT – TARDE

Eles entram no apartamento, um quarto-e-sala em cima da loja.
DANILO – Pronto, dona Jéssica. Ainda tem bolo aqui, quer um pedaço?
JÉSSICA – Não, obrigada...
DANILO – Então pode começar a falar.
JÉSSICA – Briguei com a mãe de novo.
DANILO – Por que dessa vez?
JÉSSICA – É que ela fica cheia das invenções! Eu disse que ia estudar lá
na Gabi e ela me inventa de ir pro shopping, e quer que eu vá com ela,
e faz um escândalo!
DANILO – Mas você também, né?
JÉSSICA – Agora a culpa é minha?
DANILO – Não foi isso que eu quis dizer, Jéssica. (t) É que, com a sua
mãe, não dá pra bater de frente, entendeu?
JÉSSICA – Eu sei, mas não consigo! Parece que ela faz as coisas só pra
me irritar, de propósito mesmo. (t) Eu queria sair de lá...
DANILO – De novo essa história, Jéssica?
JÉSSICA – Será que eu não podia vir morar com você, tio?
DANILO – Já sabe que não. Primeiro, porque eu moro nesse cubículo

aqui onde mal cabe uma... Uma pessoa deitada. E segundo, porque nem
seu pai, muito menos a sua mãe iam gostar dessa história.
JÉSSICA – Porcaria.
DANILO – Menina... Você tem é que aprender a moderar esse espírito

socialista.
JÉSSICA – Como é?
DANILO – É isso mesmo. A senhorita anda briguenta que nem militante

de partido de esquerda. Sei como é, já fui assim também.
Jéssica ri.
DANILO – Agora vamos esquecer esse negócio de partidos, certo? Vou

buscar bolo pra gente.
Danilo sai.
CORTA PARA
CENA 16
Tomada de Nova York à noite.
CORTA PARA

NOITE
Teresa está sentada na cama, jogando com um Gameboy. Olga
entra.
OLGA – Oi...
TERESA – Oi!
OLGA – Não vai comer de novo?
TERESA – Já tô indo. (pára de jogar) Já sabe que a sua mãe resolveu ir,
né?
OLGA – Sei. (t) E até sei por quê.
TERESA – Por quê?
OLGA – É. É que lá em Vermont vai ter um congresso de empresários...

Algo assim. E eu vi que na lista dos participantes tinha o nome do
Edward Stevens. (t) Esse é o nome do namorado dela, né?
TERESA – É. (t) Então é isso...
OLGA – Você vai falar com ela?

TERESA – Não. (t) Pelo contrário, acabei de ter uma idéiazinha.
OLGA – O que é?
TERESA – Já que ela mudou de idéia porque esse tal de Edward também
está lá, é a hora da gente finalmente ver a cara do sujeito.
OLGA – Como?
TERESA – Ainda não sei. Mas amanhã, quando estivermos a caminho,

eu vou pensar nisso. Agora vamos jantar!
Olga e Teresa saem do quarto.
CORTA PARA
CENA 18
Tomada aérea de Recife.
CORTA PARA
CENA 19 – CASA DE Mª EDUARDA/SALA – INT – NOITE

Jacqueline, Maria Eduarda e Pedro estão na sala, assistindo a um
programa qualquer. O telefone toca.
JACQUELINE – Deixa, eu atendo. (atende) Alô?
RODRIGO (off) – Oi, minha linda.

JACQUELINE (surpresa) – Hã?
RODRIGO (off) – Te acordei?
JACQUELINE – Na... Não! Não... Eu tava vendo televisão aqui.
RODRIGO (off) – Tô ligando só pra dar um beijo de boa noite e dizer

que tô morrendo de saudades. Agora tenho que correr. Um beijo na sua
boca.
JACQUELINE – Beijo...
Jacqueline desliga o telefone e cai na gargalhada.
PEDRO – Menina, pára com esse escândalo!
Mª EDUARDA – Tá rindo tanto assim por quê?
JACQUELINE – Nada, mãe... É besteira!
Jacqueline sai, ainda rindo muito.
PEDRO – Essa Jacqueline voltou muito estranha, viu...
Mª EDUARDA – Pra mim tá igualzinha.
Eloíse entra, vinda da rua.
ELOÍSE – Oi, mãe, oi, pai. O Rodrigo ligou?

Mª EDUARDA – Não. O telefone tocou uma vez só e sua irmã atendeu,

depois saiu daqui rindo que nem uma doida.
ELOÍSE – Ah, tá... Então vou tomar um banho.
PEDRO – Depois vem pra cá assistir o filme com a gente. Tá bem no

comecinho.
ELOÍSE – Tá bom.
Eloíse sai. Seus pais continuam vendo TV.
CORTA PARA
CENA 20 – CASA DE Mª EDUARDA/QTO DE ELOÍSE E JACQUELINE

– INT – NOITE
Sonoplastia: Jacqueline – Kostars.
Jacqueline está deitada na cama de Eloíse. Já não está mais
gargalhando, mas está sorrindo.
JACQUELINE – Hmm... Ele me confundiu com ela! Que romântico...
Close em Jacqueline, sorridente.
CORTA PARA
CENA 21 – AP. DE WALTER/SALA – INT – NOITE

Walter e Beth estão sentados juntos no sofá, muito sérios, como
se esperassem algo. A campainha toca. Os dois se levantam para
atender.
WALTER – Pode sentar, deixa que eu vou.
Walter abre a porta e dá de cara com Danilo e Jéssica.
DANILO – Pronto, tá entregue.
WALTER – Ela tava com você?
DANILO – Pra variar.
BETH (brava) – E vocês nem pra avisar, né?
DANILO (sério) – Achei que fosse meio óbvio...
BETH – Pois não foi.
WALTER – Estávamos preocupados...
DANILO – Pois não se preocupem mais. Ela estava comigo o tempo todo
e agora tá aqui, sem nenhum arranhão.
JÉSSICA – Vou tomar um banho e dormir. Com licença.
Jéssica sai.
DANILO – Walter, posso falar contigo rapidinho?
WALTER – Tudo bem. Vamos lá dentro.

Danilo e Walter saem, deixando Beth sozinha. Ela fica em pé,

olhando para o nada.
CORTA PARA
CENA 22 –AP. DE WALTER/SALA DE ESTUDOS – INT – NOITE

Walter e Danilo entram e se acomodam em poltronas.
WALTER – Qual é o assunto?
DANILO – É que a Jéssica andou reclamando muito da Beth, da mania

que ela tem de controlar, dominar tudo.
WALTER – Ela é assim mesmo, mas a Jéssica também exagera um

bocado.
DANILO – Mesmo?
WALTER – Beth só está tentando ser uma boa mãe.
DANILO – Certo... E ela tem sido uma boa mulher?
WALTER – Como?
DANILO – Só perguntei se ela anda dando conta do recado como

esposa.
WALTER – Que pergunta, hein?

DANILO – Se não quiser responder, não responde. Mas fica pensando

nisso. (t) Você tá feliz?
WALTER – Eu...
DANILO (interrompe) – Não responde agora. Fica só pensando. Vou lá,

meu velho.
Danilo dá um tapinha no ombro de Walter e sai.
CORTA PARA
CENA 23 – AP. DE WALTER/SALA – INT – NOITE

Danilo entra na sala, sozinho. Encontra Beth sentada com um
laptop no colo. Sem que ela perceba, ele pára atrás dela e fica vendo o
que ela faz no computador: está navegando em um site de compras.
DANILO – Cunhadinha!
BETH (assustada) – Ainda não foi embora?
DANILO – Tô indo agora. Vim só me despedir. Não vai gastar o salário

do Walter todo aí, hein?
Beth o ignora. Danilo vira a cabeça dela e dá-lhe um selinho.
DANILO (piscando para ela) – Até mais, cunhadinha.
Danilo sai. Beth, desconcertada, volta ao site.

CORTA PARA
CENA 24 – CASA DE EMÍLIO/SALA – INT – NOITE

Michelle e Minerva entram, muito cansadas e chateadas.
MINERVA – Queria tanto que isso não fosse verdade... Tanto!
MICHELLE – Agora a gente vai ter que contar pra eles.
MINERVA – Contar? Ai, meu Deus...
MICHELLE – A gente não vai poder ficar escondendo o tempo todo que
estamos falidos!
MINERVA – Também não exagera... Tem a lan house, né?
MICHELLE – O Mick, com aquele coração de manteiga, e a Miranda,

doida pra dar, ficam fazendo fiado pra quem pede! A gente tem mais
prejuízo que lucro ali dentro.
MINERVA – Só tô pensando na mãe e no pai... Tão cuidando da

papelaria desde sempre! A gente nasceu e ela já tava lá.
MICHELLE – Agora não tá mais. Tudo por causa daquele... Daquele

tarado idiota. Vou chamar eles pra cá, pra gente contar tudo.
MINERVA – Não, agora não... Eu quero ir lá em cima antes, tomar um

banho...
MINERVA – Tá. Mas pelo amor de Deus, não vai contar nada pros teus
amiguinhos virtuais, tá? Não dá pra confiar nessa gente.
Minerva não diz mais nada e sobe as escadas.
CORTA PARA
CENA 25 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MINERVA – INT - NOITE

Sonoplastia: É tão difícil mudar de nota – Mula Manca e a
Triste Figura.
Minerva, em vez de ir tomar banho, está na frente do pc,
conversando com sua amiga virtual, Mariângela. Está muito triste
enquanto digita. Michelle entra e lê a conversa.
MICHELLE – Minerva! Ia tomar banho, né?
MINERVA (vai se levantando) – Eu ia, mas precisava desabafar...
MICHELLE (alterada) – Desabafa com as paredes, com os ursinhos,

desabafa comigo! Mas esses estranhos não!
MINERVA (no mesmo tom) – Não são estranhos! São meus amigos!
MICHELLE – Eu não acredito nesses relacionamentos.
MINERVA – E nem podia, seu trabalho é achar que esse mundo não
presta!
MICHELLE – Não distorce as coisas, menina! Eu só não quero que você

fique contando por aí que nossa família perdeu tudo, tá? Muito menos
pra pessoas que nunca viu na vida.
Amélia entra e olha para as garotas, como quem acaba de

compreender tudo.
CORTA PARA
CENA 26 – CASA DE EMÍLIO/SALA – INT – NOITE

Toda a família reunida. O clima é pesado, após a revelação.
EMÍLIO – Por que vocês me esconderam isso?
MINERVA – Pai, a gente ia contar! Mas não antes de saber se era

verdade... Eu não ia acreditar numa ligação anônima!
MIRANDA – E agora, o que a gente faz?
EMÍLIO – Eu vou atrás daquele... Daquele ladrãozinho de meia tigela.
MICHELLE – Pai, não é melhor a polícia cuidar disso?
EMÍLIO – Você é a polícia, tá fazendo o quê aqui parada?
MICHELLE (levanta, nervosa) – Eu já vou!

Michelle sai correndo. Emílio vai até a porta e antes de sair olha
muito sério para a mulher e os filhos, que permanecem nos mesmos
lugares, sem reação nenhuma.
EMÍLIO – É melhor vocês não esperarem por mim.
AMÉLIA – Emílio, deixa isso com a Michelle...
EMÍLIO (interrompe, rude) – Não, eu também quero ir atrás daquele

salafrário. E só volto com ele de volta, vivo ou morto!
Emílio sai batendo a porta.
MIRANDA – Mainha... Será que ele teria coragem de matar o Gilson?
AMÉLIA – Seu pai não mata nem formiga!
MINERVA – Eu vou subir. Não tô pra ninguém.
MICK – Eu também.
Os dois sobem juntos. Minerva se aproxima da mãe.
MIRANDA – Se a gente não tiver mais a papelaria, a gente vai ter que
se virar com a lan house, né?
AMÉLIA – Justamente o que eu temia.
CORTA PARA
CENA 27
Sonoplastia: Naked eye – Luscious Jackson.
Tomada aérea de Recife à noite.
CORTA PARA
CENA 28
Tomada aérea de Nova York pela manhã.
CORTA PARA
CENA 29 – APARTAMENTO DE ED/SALA – INT – DIA

Ed entra, vindo do quarto, todo arrumado para sair. Encontra
Bradley lendo algum jornal na Internet, rindo muito.
ED – Excelente dia pra você, Brad! O que tem de tão bom aí?
BRADLEY (falando português com muita dificuldade) – Estou vendo a

programação de um congresso de empresários em Vermont, hoje.
Venha ver.
Ed se aproxima, lê ligeiramente e começa a rir.
ED – Ah, o homônimo! Eu já sabia dele. (t) Tudo o que um cara como

eu precisa... (sorri)
BRADLEY – Uma pena que eu não tenha essa sorte...

ED – É, nem todos nasceram com uma estrela na testa. Mas você tem
talento, o que já é algo admirável.
Bradley fuzila Ed com o olhar, mas logo volta a olhar para o

monitor.
ED (colocando uma gravata) – Acho que vou demorar a voltar hoje.
BRADLEY – Golpe novo?
ED – Não, golpe velho. E o meu querido homônimo vai me ajudar um

pouco nisso.
BRADLEY – Boa sorte.
ED – Thank you, sir.
Ed sai.
CORTA PARA
CENA 30 – CASA DE ALIENA/SALA – INT – DIA

As garotas estão prontas para viajar. Teresa entra, vinda do
quarto, carregando a última mala.
TERESA – Agora podemos ir. (t) Vermont, aí vamos nós!
Teresa olha para Aliena, que está com Irina no colo e sorri. Esta
devolve o sorriso, pouco confiante. Elas saem.
CORTA PARA
CENA 31 – NY/RUA – EXT – DIA

Aliena coloca Irina na cadeirinha própria para bebês. Maria e Olga
sentam no banco de trás, enquanto Teresa coloca as malas no porta-
malas. Depois, Teresa vai para o lugar do motorista e Aliena para o do
carona.
A tela divide-se em duas, mostrando Teresa e Ed, que dão a
partida em seus carros ao mesmo tempo.
FIM DO CAPÍTULO 03

Arede 003

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CENA 01 – BARNET – INT – TARDE

MINERVA (off) – Meu Deus, o que eu tô fazendo? Tô dando ouvidos a

Minerva desliga o telefone. Geysa se aproxima.

GEYSA – Oi... Acabou meu tempo. Eu já tinha pago antes, tá?

GEYSA – Fala pra Miranda que depois eu passo aqui de novo.

GEYSA – Você tá bem?

MINERVA – Tô! Tô sim... Eu tive uma crise de soluço, só isso.

GEYSA – Ah, tá...

Geysa sai. Sozinha, Minerva olha fixamente para o telefone,

MINERVA – Só pode ter sido um trote.

VOZ MASCULINA (off) – Antes de desligar de novo, me escute. Eu sei

MINERVA – Dá pra dizer seu nome?

VOZ MASCULINA – A papelaria, ela não é mais de vocês, é dele.

MINERVA – Ai, meu Deus! Mainha vai se matar com essa...

Minerva, nervosa, desliga o telefone rapidamente e fica olhando

MICK – Minerva, aconteceu alguma coisa?

MICK – Então por que tá me olhando com essa cara?

MINERVA (brava) – Que cara, Mickey? Que cara?

MICK – Esquece. Valeu por ter ficado um pouco aqui, tá?

MINERVA – Qualquer coisa, tô lá em casa.

CENA 02 – CASA DE EMÍLIO/QUARTO DE MINERVA – INT –

Amélia abre a porta repentinamente, assustando Minerva.

AMÉLIA – Falando sozinha, minha filha?

MINERVA – É que eu não queria conversar, tô cansada. E esse Mick

Minerva e Amélia ficam em silêncio por alguns instantes.

MINERVA – Mesmo. Eu só quero dormir um pouquinho.

Amélia dá um beijo na filha e sai. Minerva se levanta e vai até o

Minerva se ajeita melhor em frente ao espelho e sai, apressada.

CENA 03 – CASA DE EMÍLIO/SALA – INT – TARDE

Amélia entra, vinda da cozinha, comendo uma maçã. Minerva

AMÉLIA – Você não disse que ia dormir?

MINERVA – Mudei de idéia.

AMÉLIA – E vai aonde, com essa pressa toda?

Minerva se desvencilha da mãe e sai correndo.

Michelle esbarra em Amélia.

MICHELLE – Mãe, o que é isso?

AMÉLIA – Minerva está estranha demais. Primeiro chega sem ninguém

MICHELLE – Vindo dela é estranho mesmo. Quer que eu vá atrás?

AMÉLIA – Acho que você não alcança...

MICHELLE – Não custa tentar.

Michelle sai correndo.

CENA 04 – RECIFE/RUA – EXT – TARDE

MINERVA – O que foi?

MICHELLE – Mamãe tá preocupada contigo. O que aconteceu?

MINERVA – Nada. Ainda.

MICHELLE – Dá pra parar de falar em código?

MINERVA – Se eu contar, você jura que não conta pra ela?

MICHELLE (impaciente) – Pelo amor de Deus...

MINERVA – Ligaram pra lan dizendo que o Gilson tomou a nossa

MINERVA – É, e eu preciso saber se é verdade. Mas por favor, não conta

MICHELLE – Mas uma hora ela vai ter que saber.

MINERVA – Não agora!

MINERVA – Seria bom.

MICHELLE – Então vamos juntas. Eu ligo pra mãe no caminho, pra

MINERVA – Vou te contar tudo.

Minerva e Michelle conversam, fora de áudio.

CENA 06 – NY/CASA DE ALIENA/QUARTO DE TERESA – INT –

TERESA – Oi, meninas.

OLGA – Por que você não foi almoçar?

TERESA – Tava sem fome. Tô aqui, arrumando as malas pra nossa

OLGA – Mamãe vai?

TERESA – Não. Eu tentei, mas... Whatever. Vamos só nós.