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Dimensão Trágica

Nos Maias
A tragicidade da acção
A acção de Os Maias apresenta algumas características da tragédia
clássica. São particularmente relevantes as seguintes:

O destino (Ananké)

•Guimarães simboliza o Destino, pois é ele que traz a verdade


sobre o parentesco entre Carlos da Maia e Maria Eduarda.
•Simbolicamente, Guimarães , aparece vestido de negro,
anunciando também o luto da família.
A peripécia (Peripeteia)
• Carlos da Maia vem a saber que mantém uma relação incestuosa
com Maria Eduarda.

O sofrimento (Pathos)
• Descoberta da identidade de Maria Eduarda.

A catástrofe (Catastrophé)
• Morte de Afonso da Maia;
• Separação de Carlos da Maia e Maria Eduarda.
Acção trágica
o Ao nível estrutural

O autor realiza, ironicamente, uma crítica à sociedade da


época, fustigando a apatia e a debilidade da mentalidade nacional.
Esta debilidade da mentalidade nacional, conduz as personagens a
uma certa acção trágica, pois elas são influenciadas pelo meio em
que se inserem.
o Ao nível da acção

Momento em que Afonso da Maia vê Maria Monforte pela primeira


vez, é de salientar:
Na Toca:
Maria Eduarda é influenciada pelo ambiente físico provocado
pela decoração desse espaço, sentido que o seu futuro será “confuso
e escuro”, o que leva á situação incestuosa e o sofrimento causado.

Na primeira noite de amor entre Carlos e Maria Eduarda, a


qual se dá precisamente na Toca, dá-se uma grande trovoada a
pressagiar um mau ambiente que se criaria resultante deste incesto.
o Ao nível do espaço físico

O Ramalhete
É apresentado numa primeira fase com um espaço frio e desolado,
estéril e abandonado, que ao nível simbólico, representa a ideia de
morte . Após um período de vida e de esplendor, o Ramalhete surge,
após a tragédia, como um espaço nostálgico conotado com a perda e
com a morte.

Decoração do Ramalhete
• O ramo de girassóis que ornamenta a casa simboliza a atitude do
amante, que como um girassol, se vira continuamente para olhar o ser
amado, o girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a
falta de receptividade do ser amado, ligando-se assim a Pedro e a
Carlos.

• Os móveis do escritório de Afonso estão cobertos de panos brancos


que são comparados a mortalhas com que se envolvem cadáveres,
prenunciam já a morte que se abaterá na família Maia.
 
Casa de Maria Eduarda
• “Vaso do Japão onde murchavam três lírios brancos”: as flores
que representam a morte física de Maria Eduarda Runa e de
Maria Monforte e a morte moral e espiritual de Maria Eduarda
Maia.

A decoração da Toca
• Cabeça degolada,”dentro de um prato de cobre” (Cap.
XIII, pág. 433-434). Este tipo de decoração sinistra
provocará, em Maria Eduarda um sentimento de receio em
relação á sua vida futura.

• A enorme coruja a olhar, com ar sinistro, o seu leito de


amor (a coruja é considerada uma ave de mau agoiro, que
surge aqui para pressagiar um futuro sinistro para este
amor.
o Ao nível dos discursos do narrador e de algumas
personagens

Discurso do narrador

• A conotação da palavra “Toca”, que, literalmente significa abrigo para


animais, apontando desde logo para o carácter animalesco do
relacionamento amoroso entre Carlos e Maria Eduarda.

• Através do discurso do narrador que é relevada a satisfação que


Carlos sente pela semelhança entre o seu nome e o de Maria
Eduarda, assim como a associação que este faz entre a bondade
natural do avô e a de Maria Eduarda.
Discurso das personagens

• Ega afirma que Carlos “há-de acabar numa tragédia infernal”


(Cap. VI, pág. 152);

• Comentário da ministra da Baviera (Corrida de Cavalos) a Carlos


“Méfiez-vous(…)heureux au jeu…” (Cap. X, pág. 336), ou seja,
felicidade no jogo infelicidade no amor;

• A reflexão de Carlos, em diálogo com Craft como resposta ao facto


de o inglês afirmar que algo de bom deveria ter acontecido a
Carlos. Carlos diz que “A gente, Craft, nunca sabe se o que lhe
sucede é, em definitivo, bom ou mau”, ao que Craft acrescenta:
“Ordinariamente é mau” (Cap. X, pág.344);

• Maria Eduarda, durante as conversas com Carlos, faz alguns


comentários e análises que aproximam Carlos de sua mãe.
o Ao nível da linguagem e do estilo

O advérbio de modo

Na frase pronunciada por Ega: “(…) estais ambos


insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente marchando
um para outro! “(Cap. VI, pág. 152). Traduz a irremediabilidade de
um destino que tem de ser cumprido.

O adjectivo

Na fala do narrador, focalizado em Ega: “Ega escutava-o (…) e


agora só pelo modo como Carlos falava daquele grande amor, ele
sentia-o (…) o seu irreparável destino” (Cap. XII, pág. 417).
Traduz a ideia de aprisionamento ao destino.
A Dimensão trágica nos Maias é realçada
assim pelo simbolismo, que aponta a
negatividade das personagens, no espaço físico,
na acção, nos discursos do narrador e das
personagens, da linguagem e do estilo. O que
provoca a fatalidade do destino da família Maia,
ao longo da obra.

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