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CONTEÚDO

PROF. ASSAID
20 CABANAGEM
A Certeza de Vencer KL 311008

assaid2@hotmail.com
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A Cabanagem foi um movimento de revoltas sociais ocorrido, arbitrários, tratavam com descaso os problemas que afligiam a
entre os anos de 1835 e 1840. Uma de suas principais maior parte da população paraense.
características foi a grande participação popular. Por isso, ela é
considerada, por muitos, como o mais importante movimento
social ocorrido na Amazônia durante o período imperial, e um
dos mais importantes do Brasil.

A Memória da Cabanagem
São de relativamente pouco tempo as homenagens oficiais à
Cabanagem na cidade de Belém. Elas datam apenas da década
de 80 do século passado, com a construção do Memorial ds
Cabanagem, no Entroncamento. Por incrível que pareça, antes
disso, uma das lembranças registradas na cidade é o nome da
travessa 13 de maio, que muitos pensam tratar-se de uma
homenagem à abolição da escravidão. Ledo engano: trata-se do
dia que os cabanos saíram derrotados de Belém, tendo que
entregar o governo ao enviado da Regência, o comandante
Soares Andrea.
Ainda no século XIX, a Cabanagem não trazia boas
lembranças às elites paraenses. Ela era vista como uma eclosão
de violência da ralé contra as famílias de bem. Numa das mais
importantes publicações sobre a Cabanagem, o político e
historiador vigiense Domingos Antônio Raiol, o Barão do
Guajará, assim escreve em certo trecho de sua obra.
“Requinta então a perversidade moral. O sentimento sedicioso desperta os maus
instintos da plebe, eleva a escória social, assanha os malfeitores, produz abominá-
veis cenas de sangue e aviltamento! Homens, mulheres, propriedades, lar domésti-
co, tudo foi sacrificado ao furor satânico dos sicários que infestaram a cidade e re-
petiram depois nas vilas e povoações as mesmas violências e atrocidades da capi-
tal! Era o triste desenlace do drama começado nos anos anteriores, sob a influência
direta das classes superiores a que pertenciam os protagonistas primitivos.” (RAIOL,
Domingos Antônio. Motins Políticos, p. 804. Belém, Ufpa, 1970)
Mas nem todas as pessoas tinham essa imagem negativa da
Cabanagem. Observe o que o historiador José Maia Neto afirma
em outra obra.
“(...) houvera com certeza pessoas que lembravam a Cabanagem como um impor- A tela de Alfredo Norfini, que reproduzimos acima, é uma invenção de seu
tante momento de suas vidas, no qual puderam lutar pelas mudanças sociais que autor e dos homens de sua época Fazia sentido nos idos da década de
melhorassem a sua sorte, enquanto pessoas pobres livres ou escravas, ainda que 1930 e 1940 descrever um "tipo ideal” de cabano, pois, naquela época,
muitos intelectuais e políticos estavam envolvidos com o Estado Novo. Ha-
houvessem sido derrotadas. Quais seriam estes setores sociais que recordavam a via toda a problemática da identidade regional e nacional sendo remodela-
Revolução Cabana com tanta simpatia? Os homens livres e libertos pobres, geral- da. Getúlio Vogas e Magalhães Barata procuravam encontrar feições ideais
mente negros e mestiços de variados tons; os índios e tapuios amazônidas, os es- para o trabalhador brasileiro, o homem simples, o lavrador ou o operário,
que devera ser educado e informado pelo governo, em uma típica discus-
cravos e outras pessoas livres remediadas e até mesmo abastadas que, sendo ex-
são da política estadonovista e depois populista.
cluídas da participação política na direção dos negócios do governo provincial, No entanto, hoje é possível afirmar com segurança que o cabano de Norfini
também pegaram em armas contra a ordem estabelecida.” (BEZERRA NETO, José Mai- representava uma parte e não todos os cabanos. Se em Belém e arredores
a. A Cabanagem: A Revolução no Pará. p. 74. in ALVES FILHO, Armando. SOUZA JR., José Al- os mestiços poderiam ser a cara de cabano mais vista e revista em 1835,
ves de. e BEZERRA NETO, José Maia. Pontos de História do Pará. Belém, Paka-Tatu, 2001)  em outras localidades e em muitas situações este rosto seria de um negro
de um branco e até de um estrangeiro. Havia tribos indígenas inteiras que,
Como se vê, as visões sobre a Cabanagem são com ousem vestimentas, aliaram-se ora aos cabanos, ora aos não-
diversificadas. E retratam a participação de cada um, ou de cabanos. Assim, nem todos os cabanos usavam o típico chapéu ou anda-
grupos, no cenário da revolta. vam descalços, ou ainda vestiam roupas rasgadas. É preciso valorizar a
população da Amazônia em sua diversidade, distribuição territorial e núme-
Uma situação já conhecida ro.” (RICCI, Magda. Op. Cit.)
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Sabe-se que uma enorme distância separava o Grão-Pará do


Rio de Janeiro, que era a capital do Brasil. De acordo com a
Diversidade social, Pobreza e Opressão
Constituição de 1824, as autoridades eram nomeadas
Como já estudamos, a população do Pará era muito variada.
diretamente pelo poder central, sem consulta à população da
As camadas pobres e sofridas ocupavam terrenos alagadiços,
Província. Como se sabe, a maior autoridade era o Presidente da
morando em pequenas cabanas humildes, quase todas cobertas
Província, seguido do Comandante-de-Armas. E essas
de palha. Muitos historiadores afirmam que é daí que provém o
autoridades, por vezes, acabavam por se aliar às elites que há
muito dominavam a província. Além de serem considerados
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nome Cabanagem. E foi essa população mestiça e pobre que “Meus patrícios e irmãos de luta, vencemos.
formou a base do grande movimento da Cabanagem. O tirano governador que tanto perseguiu os paraenses está morto. Portanto, temos
Mas engana-se quem pensa que apenas essas camadas
participaram da Cabanagem. Além deles, participaram negros, agora o dever de saber governar a nossa província. Precisamos governar bem.
livres e escravos. Havia também pessoas das camadas médias e Precisamos restabelecer a ordem e agir com prudência. Nossa primeira providência
até das elites. Estes, em geral, foram excluídos da participação é escolher entre nós, companheiros de luta, um governador que governe em nome
de cargos na direção da província. da liberdade, da justiça e do povo. Um governador paraense que respeite os
A Eclosão da Cabanagem paraenses e possa estabelecer a ordem e a paz aqui em Belém e em todo o interior
Com o fim do governo de Pedro I e o início do período das da Amazônia. Este deve ser o primeiro motivo desta reunião.”
regências, criava-se uma espectativa de que novas autoridades
provinciais fossem mais sensíveis aos interesses dos paraenses. Os Governos Cabanos
Afinal, a saída do Imperador deveria corresponder à queda do Ao tomar o poder, os cabanos colocaram na presidência da
Partido Português do poder. Aqui, dois grupos digladiavam pelo província um antigo aliado de Batista Campos, Félix Malcher, que
poder. De um lado, os Caramurus, ligado às elites lusitanas. De era um rico fazendeiro. Ao se desentender com lideranças
outro, os Filantrópicos, federalistas liderados pelo arcipreste populares, especialmente com Francisco Vinagre, acabou
Batista Campos. Ao sabor dos acontecimentos, esses grupos deposto e assassinado.
podiam se aliar aos presidentes enviados ou lhes fazer oposição. Malcher foi substituído pelo próprio Francisco Vinagre, que
Em 1833, com a chegada do novo presidente, o bacharel assumiu o governo em um momento de incertezas. A situação
Bernardo Lobo de Souza, e do Comantande de Armas José da era tão complicada que foram realizadas as eleições. para a
Silva Santiago, houve uma aproximação entre as novas Assembléia Legislativa Provincial, que estava prevista pelo Ato
autoridades e os Filantrópicos, chegando Batista Campos a Adicional de 1834. Por ela, o deputado mais votado, no caso
assumir mesmo a redação do jornal do presidente, o Correio Ângelo Custódio, deveria assumir a presidência. Mas acabou não
Oficial Paraense. assumindo, provocando uma grande resistência à Cabanagem a
Em pouco tempo, entretanto, começoun a ser acusado de ser partir de Cametá.
tão autoritário como tantos outros governantes, passando a Vinagrem entretanto, para vdescontentamento de muitas
sofrer oposição, especialmente do cônego Batista Campos. O lideranças cabanas, acabou entregando poder para as forças
religioso deixou a redação do jornal oficial e acusava o imperiais que haviam sido enviadas pelo governo do Rio de
presidente de pertencer à Maçonaria, A reação de Lobo de Janeiro.
Souza foi perseguir e tentar prender Batista Campos, que fugiu Ora, mas se os cabanos lutaram tanto para tomar o poder,
para a região do Acará. As tropas foram enviadas para prendê-lo por que Francisco Vinagre entregou de volta esse mesmo poder?
e protagonizaram cenas de violência, inclusive praticando É que, como os participantes da Cabanagem vinham das mais
assassinatos covardes. Isso fez crescer o espírito de revolta diversas camadas sociais, os interesses acabavam por se
entre as camadas mais baixas e entre pequenos proprietários de chocar. Francisco Vinagre e outros participantes, ao que parece,
terras. queriam apenas lutar contra governantes autoritários. Feito isso,
Em meio à perseguição, e já doente, Batista Campos morreu era como se o objetivo do movimento tivesse sido alcançado.
no dia 31 de dezembro de 1834. A notícia de sua morte foi a gota Mas havia ainda muitos interesses em jogo. Podemos listar
d’água para uma situação de revolta que não se sustentava alguns:
mais.
Através de lideranças populares, como a dos irmãos Vinagre • Havia pessoas das elites que viam no movimento uma boa
e de Eduardo Angelim, uma parte da população, os chamados oportunidade para assumir cargos importantes no governo.
cabanos, começaram a se organizar e, no dia sete de janeiro de • Os pobres queriam se livrar de vez da opressão dos
1835, invadiram Belém, mataram o presidente Lobo de Souza e poderosos e da exploração dos ricos comerciantes, em geral,
tomaram o poder. portugueses.
• E os escravos, obviamente, queriam a liberdade.
“Ainda no dia 7 de janeiro de 1835, dia da tomada de Belém pelos cabanos, o
Muitos cabanos, inconformados com o fato de Vinagre ter
primeiro tenente Joaquim Manoel de Oliveira e Figueiredo, um conhecido oficial entregado o governo a um representante do governo do Rio de
da Marinha de Sua Majestade Imperial, passou por maus pedaços em meio ao le- Janeiro, retiraram-se em direção ao interior. Mas organizaram um
vante cabano. Ele relatou a seus superiores que acordou às três da manhã do novo ataque e tomaram novamente Belém. Os governantes
dia 7 com "o alarma que na cidade havia". Lembrava que sendo sua casa situa- fugiram.
Organizou-se então um novo governo cabano. Desta vez, o
da no Largo do Palácio, apressou-se pela rua da cadeia para atingir a ponte da jovem Eduardo Angelim assumiu o governo. Era o terceiro
Alfândega e ali embarcar na escuna Alcântara. Na passagem pela guarda da ca- presidente cabano. Veja só. Ainda era agosto de 1835. Tudo isso
deia perguntou-lhe uma sentinela quem ele era, ao que respondeu "patriota". ocorreu em apenas oito meses de revolta.
Esta era a senha cabana que o oficial ouvira de um vulto que estava à sua frente. Eduardo Angelim, com o apoio de alguns religiosos, buscou
estabilizar a situação. Mas a situação era muito difícil, pois a
As ruas estavam repletas de "patriotas". Pelas mesmas ruas, encontrou ainda o cidade foi assolada por doenças, como a varíola. Além disso, foi
primeiro tenente Joaquim Manoel "muitas pessoas armadas", que diziam umas sitiada pelas forças imperiais.
às outras "que já era tempo de sacudira jugo em que os tinha posto o déspota Sem contato com o mundo exterior, a população acabou
do presidente". Mais adiante, o mesmo primeiro tenente foi preso e na cadeia sendo vítima da fome. e essa situação foi agravada pela agitação
provocada por grupos armados que proliferavam pela cidade.
um conselheiro lhe explicara o sentido que os levantados davam ao seu movi-
mento. Para este homem, que havia sido preso "ao pé do palácio", tudo era te- O fim do movimento em Belém
mor, pois "receava muito ser assassinado", lá que "a revolução era contra o Em abril de 1836 chegou uma nova esquadra para reprimir a
governo e os maçons, por serem, diziam os conspiradores, inimigos da religi- Cabanagem. Depois de se juntar a outros militares que
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participavam do cerco a Belém, eles decidiram retomar a cidade.


ão".” (RICCI, Magda. Do Patriotismo à Revolução: História da Cabanagem na Amazônia. In Con- Sem condições de resistir, Angelim e outros cabanos
tando a História do Pará.) abandonaram a cidade, que foi retomada pelas forças imperiais
em 13 de maio de 1836.
Após a tomada do poder, um dos principais líderes cabanos, Mas o movimento ainda prosseguiu com muita violência pelo
Eduardo Angelim, assim pronunciou-se: interior, até 1840, já penetrando pelo atual estado do Amazonas.

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