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A Ilusão temporal

(Dave Hunt)

“PORTANTO, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está
assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra;
porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que
é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória”.
(Colossenses 3:1-4).

Fico fascinado com as linhas do tempo. Elas me dão uma idéia dos eventos que aconteceram
na história, de como eles se relacionam sabiamente com os outros eventos e se ou não os
eventos passados podem ter influenciado os posteriores. Aprecio, especialmente, os eventos
bíblicos. Em geral, eles principiam com os eventos da criação e terminam com os do futuro
Reino Milenial de Jesus Cristo, em Jerusalém, suprindo uma porção de detalhes entre os
mesmos. Porém, considerando a sua natureza temporal, eles dão apenas um relance da
eternidade, a qual é infinita e para a qual nossa vida aqui na Terra é simplesmente uma
preparação.

A linha do tempo apresentada na capa desta “newsletter” é apenas uma tentativa de lembrar,
simbolicamente, pelos eventos, de que passar uma eternidade com Jesus é a nossa única razão
de ser, ou seja, a razão de nossa existência.

Por que estou falando deste assunto? Porque o mundo e, infelizmente, a maior parte da igreja
caíram na ilusão temporal, apegando-se a esta Terra em vez de ansiar pelo céu. Enganar o
mundo faz parte da estratégia de Satanás, a fim de construir o seu reino. Durante milhares de
anos, ele tem seduzido tanto os cristãos professos como os verdadeiros cristãos, no sentido de
unirem forças, com o objetivo de construir a sua própria religião, a qual será liderada pelo seu
próprio governante fantoche, o Anticristo. À medida em que cresce a intensidade deste
programa, nestes últimos dias, particularmente dentro da Cristandade, o levedo da apostasia
tem sido colocado em todos os campos teológicos: carismáticos, calvinistas, conservadores,
liberais, pentecostais, batistas, cristãos de esquerda, mantenedores do movimento da igreja
emergente, promotores do evangelho social... etc.

Em sua forma mais simples, trata-se de uma atitude de desprezo ao que Paulo admoestou em
Colossenses 3:2: “Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra”. Embora, até
mesmo os que amam realmente o Senhor Jesus possam se esforçar algumas vezes no sentido
de conservar a sua afeição por Ele, existem outros que professam Cristo e afirmam seguir a
Sua Palavra; porém, continuam na tentativa de estabelecer o Seu reino aqui na Terra, antes de
Sua volta. Este objetivo não bíblico, conhecido como Teologia do Domínio e Reino-
Dominionismo, tem assumido muitas formas, desde o princípio da história da igreja.
Um exemplo antigo foi o do Sacro Império Romano. A ideia do mesmo era que
“piedosamente” (isto é, em apoio ao papa) os imperadores iriam levar o mundo a se tornar o
rebanho de Cristo. Quando não funcionou, o papa tomou o controle, passando a governar a
maior parte do mundo, naquele tempo. Conforme descreve um historiador: “A ICAR
[governando o mundo medieval] possuía todo o aparato do Estado: leis comuns, leis judiciais,
impostos e coletores de impostos, na grande máquina administrativa, com o poder da vida e
da morte sobre os cidadãos da Cristandade e os seus inimigos dentro e fora... o papa
afirmando o exclusivo direito de iniciar e liderar guerras contra os incrédulos. Eles levantaram
exércitos, coordenaram campanhas e fizeram tratados de paz, em defesa dos seus interesses
territoriais”. (1). Como a maior parte dos dogmas e práticas da ICAR, isto era contrário ao que
Jesus havia ensinado, conforme João 18:36: “O meu reino não é deste mundo; se o meu reino
fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus;
mas agora o meu reino não é daqui.”

O Amilenialismo era a crença teológica da época, a qual firmava que o reino de mil anos
de Cristo já estava acontecendo, embora espiritualmente. Os sucessos mundiais da ICAR
pareciam confirmar esta visão, tendo perdurado até o seu fracasso, em razão dos próprios
excessos e corrupção. Embora a Reforma fosse uma reação contra os abusos do Catolicismo
Romano, os reformadores conservaram a Escatologia Amilenialista, junto com muitos dos
ensinos e práticas [não bíblicos], como o batismo infantil e a Teologia da Substituição (a crença
de que Israel fora substituída pela igreja). Versos da Escritura que falavam de bênçãos para
Israel foram espiritualizados para se encaixarem à igreja, enquanto os versos relativos aos
castigos foram ignorados.

João Calvino tentou fazer da cidade de Genebra (Suíça) um modelo do Reino de Deus, e,
pelo seu esforço controlador, ele ganhou o título de “O Papa Protestante”. Embora o seu
objetivo fosse admirável, os resultados de sua implementação foram diferentes do que ele
havia projetado. O historiador Will Durant escreveu: “O novo clero... tornou-se, sob Calvino,
mais poderoso do que o sacerdócio em Israel. A verdadeira lei do estado cristão, dizia Calvino,
deve ser a Bíblia, os clérigos são os intérpretes da lei, os governos civis ficam sujeitos a esta lei
e devem reforçá-la, conforme interpretada” (2).

Outro historiador escreveu: “Classificados por eles mesmos, havia os crimes contra
Calvino: era crime rir durante os sermões de Calvino; era crime argumentar com Calvino na
rua; entrar numa controvérsia com Calvino podia se transformar num crime enorme” (3).
Dificilmente, portanto, Genebra era o céu na Terra, embora fosse esta a intenção. “Por
exemplo, uma superabundância de pratos sobre a mesa, um penteado mais elevado, uma
excessiva mostra de adereços [N.T: Aqui, eu estaria frita!], uma roupa de cores mais ousadas,
tudo isto poderia ser motivo de punição” (4) e nunca se sabia quando o consistório (polícia
eclesiástica) faria uma visita à casa. Dentro de apenas um ano, 400 cidadãos foram indiciados
por ofensas morais e dentro de 60 anos, 160 pessoas acusadas de heresias foram queimadas
na estaca.

A sociedade civil cristianizada por Calvino era simplesmente não bíblica, tendo substituído
a graça pela lei. Além disso, ela era inconsistente com a própria teologia de Calvino. Como
poderia alguém cristianizar os de Genebra que não estivessem entre os eleitos de Deus?
Caracterizados como “totalmente depravados” e sem a habilidade de corresponder
corretamente, por não ter-lhes sido concedida a “graça irresistível”, os “não eleitos” jamais
poderiam ser os cidadãos que Calvino exigia que fossem.

O Reino-Dominionismo tomou nova forma nos anos 1940, em Saskatchewan, Canadá. Um


suposto reavivamento espiritual eclodiu, dando origem aos “Manifestos Filhos de Deus" ou
mais comumente, ao “Movimento Latter Rain”. A Escatologia deste movimento proveio da
visão dispensacionalista, do arrebatamento da igreja, seguido por sete anos de tribulação,
terminando com o Armagedom. O movimento produziu um cenário mais positivo, até mesmo
triunfante, à espera de que Deus derramasse o Seu Espírito, num grande reavivamento
mundial, o qual iria produzir os “Manifestos Filhos de Deus”, ou seja, o "Exército de Joel”. Estes
seriam os crentes continuamente cheios do Espírito, os quais iriam manifestar os mesmos
sinais e maravilhas que Jesus operou, e julgariam e conquistariam o mundo, à medida em que
agissem, durante os mil anos do Reino de Cristo.

Um dos líderes do movimento disse: “O povo de Deus vai começar a exercer o governo e
exercer o domínio sobre o poder de Satanás... como a vara (de Deus), a força sairá de Sião,
para mudar a legislação. Ela vai extirpar o diabo da face da Terra e o povo de Deus... vai
realizar os propósitos de Deus e o Reino de Deus” (5). Contudo, este movimento incorreu nos
mesmos problemas que prejudicaram Calvino em Genebra. Os tais “Manifestos Filhos de
Deus” não conseguiram viver na prática, conforme os piedosos modelos morais, muito embora
restritas medidas (leiam-se abusivas) conhecidas como apascentamento fossem aplicadas.

O Dominionismo do Movimento Latter Rain se espalhou amplamente entre os


pentecostais e carismáticos. Vejamos citações de homens, cujos nomes podem ser
reconhecidos:

“Sim, pecado e doença, morte espiritual, pobreza e tudo mais o diabo já usou contra nós.
Mas agora, graças a Deus, nós os governamos... pois este é o tempo de Deus” (falecido
Kenneth Hagen). “Os do Exército de Joel terão uma espécie de unção... (de Cristo), uma
espécie de poder... Qualquer um que tentar prejudicá-lo, deve morrer!” (John Wimber).
“Os Manifestos filhos de Deus (são) os vencedores”, os quais se tornarão aperfeiçoados e
alcançarão a imortalidade, a fim de estabelecerem o reino de Deus na Terra “ (George
Warnock). O Movimento foi primeiro produzido pelo bispo Earl Paulk, o qual ensinava que
Cristo “será detido no céu”, até que o seu Corpo, a igreja, se purifique e purifique o mundo.
Contudo, Paul tem problemas com a própria purificação, com uma longa história de
imoralidade sexual, pela qual foi indiciado e, mais tarde, por perjúrio, nos anos 1980. Sob a
liderança de Paulk, a teologia carismática do Reino uniu forças com a teologia calvinista
dominionista, também chamada Reconstrucionismo, ou Teonomia. O Reconstrucionismo
cristão foi popularizado por Rouças Rushdoony e seu genro, Gary North. Os reconstrucionistas
acreditam que, ao aplicarem as leis do Velho Testamento e os princípios do Novo Testamento,
o mundo será moralmente transformado pelos cristãos. Isto, eles afirmam, levaria as pessoas a
Cristo. Sua Escatologia é Posmilenialista, o que significa que esperam que Cristo volte somente
após os mil anos (vistos por alguns como número simbólico, significando que pode ser um
tempo mais longo, para haver uma colheita bem sucedida do fruto produzido pela aplicação da
lei). Desde 1890, até o século 20, o grupo reconstrucionista chamado Coalizão sobre o
Reavivamento (COR) influenciou grandemente os evangélicos conservadores, no sentido de
transformar os EUA numa nação orientadamente cristã, usando o processo político.
Embora os reconstrucionistas e os carismáticos proponentes do "Reino Agora" muito
discordassem teologicamente, as crenças dominionistas fizeram com que se unissem. Gary
North observou que esta surpreendente cooperação faz sentido de outro modo: “... Unimo-
nos aos cristãos reconstrucionistas posmilenialista e aos carismáticos da ‘Confissão Positiva’;
com os primeiros, prevendo as anotações, a teologia e as manhas da ação política; e aos
últimos, com dinheiro, audiência e tecnologia de satélite (exemplo, a TBN e a CBN)” (6).
Muitos anos atrás, um amigo meu se sentou durante uma reunião de reconstrucionistas e
indagou se, de fato, eles pretendiam aplicar as leis bíblicas do Velho Testamento, tais como o
apedrejamento e outros castigos capitais, ao que um líder nacional do Movimento respondeu:
“totalmente!” Parece que os reconstrucionistas calvinistas pouco aprenderam do fracasso da
experiência totalitária de Calvino, em Genebra. O Movimento do Reino-Dominionista
prossegue, até hoje, especialmente entre os carismáticos. Jack Hayford, George Otis e C. Peter
Wagner promoveram uma forma de Teologia do Reino, a qual envolve reaver o domínio que
Adão e Eva perderam no Jardim do Éden. Um dos líderes do Movimento explica: “Jesus nos
deu esta autoridade e... devemos reclamar, restaurar, organizar e governar a Terra... Não
apenas no sentido espiritual como também na reforma econômica, política, educacional e
social. Aqui, vemos porque as mesmas pessoas nos dizem que, como cristãos, devemos colocar
em uso a autoridade que Deus nos ordenou: “Jesus ficaria no céu, até que todas as coisas
sejam sujeitas sob os Seus pés. Ele não há de querer nem poderá, fisicamente, retornar à
Terra, até que a igreja (tenha trazido) uma medida da autoridade governadora de Deus de
volta à Terra”. (7). Esta forma de Reino-Dominionismo é propagada através de métodos,
rituais e técnicas, que devem ser seguidos, a fim de se exercer o controle. Os livros de C. Peter
Wagner - Banking Strongholds in Hour City. - e Confronting the Power - contêm o que ele
chama "metodologia do estado-da-arte espiritual para exercer o domínio": identificando os
"espíritos territoriais", jornadas de oração, mapeamento espiritual, luta com estratégia a nível
espiritual, arrependimento, identificativa, direção à reconciliação, transformação da cidade,
marchas de louvor, redenção da cultura, tomando nossas cidades, locais de trabalho e escolas
para Cristo, etc. Eu, pessoalmente, experimentei a implementação destas técnicas durante o
‘heyday’ da estratégia a nível espiritual de Wagner: ‘quando alguns estudantes tentaram
tomar a nossa escola secundária local para Cristo’. Eles fincaram cruzes no campo de futebol e
ungiram as janelas da escola com óleo. Eles não apenas tomaram nossa escola secundária,
como quase conseguiram que toda a organização de estudantes cristãos fosse deletada do
campus. C. Peter Wagner é o chefe das operações por trás de tudo isso e os métodos
que ele afirma receber de Deus parecem ser intermináveis. Ele foi quem levou John Wimber ao
Seminário Fuleira, para ensinar ‘Sinais e Maravilhas’ e ‘Crescimento da Igreja’, mais tarde,
denominados ‘The Miraculous and Church Grouth, do qual Wagner foi o co-autor. Wagner foi
também o mentor acadêmico que supervisou as dissertações de doutorado de Rick Warren, no
Fuleira. Jack Hayford passou anos se encontrando com Lloyd Olgivie e outros pastores
locais na Hollywood Presbiteriana Church, quando aplicaram várias técnicas espirituais, a fim
de transformar Los Angeles da Cristo ????. Hayford, mais tarde, admitiu, candidamente, o
fracasso: “minha cidade de gangsteres e assassinatos, poluída pelo homossexualismo e
pornografia, no lado escuro, e sufocada pelo orgulho e pelo autocentrado esnobismo, no lado
show... (isto é o) suficiente para a sua autodestruição”. (8). Todos estes movimentos da
história da igreja tiveram isto em comum: estão ligados à Terra. Focalizados no desejo de
estabelecer o reino de Deus aqui na Terra, antes, ou a fim de apressar a volta do Senhor, todos
eles têm um sério problema. Conforme as Escrituras, o próximo reino que virá à Terra será o
do Anticristo, o qual vai governar durante sete anos. Os verdadeiros crentes em Cristo não têm
parte neste reino. Eles terão sido removidos deste planeta pelo Senhor Jesus Cristo e levados
ao céu. Este evento chamado arrebatamento (João 14:1-3; Filipenses 3:20; 4:16-18; Hebreus
9:28; 1 Coríntios 15:51-52; Colossenses 3:4; 1 Tessalonicenses 1:10; 1 João 3:2-3; Tito 2:13; 1
Timóteo 6:14; Apocalipse 3:10, 2 Timóteo 4:8 e Lucas 12:35, 37, 40). Conforme Dave
Hunt tem observado no seu 'What Ever Has Happened To Heaven?', "a grande sedução é
fazer-nos voltar a atenção do céu para a Terra; de Deus para nós mesmos; da negação do ego
para a auto-aceitação, o auto-amor e a auto-estima; da verdade de Deus para a mentira de
Satanás. No âmago da sedução, estão as crenças de um enganoso apelo espiritual, o qual, em
verdade, nos afastará do amor a Cristo e do seu reaparecimento, para as ambições terrenas de
tomar uma sociedade e reformar este mundo, transformando-o no paraíso que Adão e Eva
perderam" (p. 38). Muito do que foi aqui apresentado são as sementes históricas de um
Dominionismo ligado à Terra, as quais têm sido semeadas no Cristianismo, durante os últimos
mil anos. Elas ganharam raízes e estão invadindo a igreja no início deste século. Na parte 2
desta série, se Deus permitir, estaremos mostrando o que está sendo promovido no
Cristianismo de hoje, na tentativa de desviar a Noiva (os crentes em Cristo) de ansiar pela
vinda do Noivo, a fim de conduzi-la às bodas, no céu. Vamos questionar se os esforços da
igreja (Movimento ecológico; Movimento ecumênico; esforços na evangelho social; ativismo
político; técnicas de redenção da cultura, a fim de resolver os problemas mundiais, através do
plano global P.E.A.C.E., etc.), podem ser respaldados pela Palavra de Deus.TBC Setembro,
2010 - The Temporal Delusion - Part 1Traduzido por Mary Schultze - www.maryschultze.com -
Em 07/09/2010.

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