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A parábola da bola – Ed René Kivitz

http://edrenekivitz.com/blog/2010/12/a-parabola-da-bola/ December 9, 2010

Os dez homens importantes sentados ao redor da bola discutiam acaloradamente:


– A bola é grená, disse um.
– Claro que não, a bola é bordô, retrucou outro em tom raivoso.

Todos estavam fascinados pela beleza da bola e tentavam discernir a cor da bola. Cada um
apresentava seu argumento tentando convencer os demais, acreditando que sabia qual era
a cor da bola. A bola, no centro da sala, calada sob um raio de sol que entrava pela janela,
enchia a sala de uma luminosidade agradável que deixava o ambiente ainda mais
aconchegante, exceto para aqueles dez homens importantes, que se ocupavam em defender
seus pontos de vista.

– Você é cego?, ecoou pela sala gerando um silêncio que parecia ter sido combinado entre os
outros nove homens importantes. Era até engraçado de observar a discussão – na verdade
era trágico, mas parecia cômico. Todos os dez homens importantes usavam óculos escuros,
cada um com uma lente diferente. Talvez por causa dos óculos pesados que usavam, um
deles gritou “você é cego?”, pois pareciam mesmo cegos.

Depois do susto, a discussão recomeçou. O sujeito que acreditava que a bola era cor de
vinho debatia com o que enxergava a bola alaranjada, mas um não ouvia o que o outro dizia,
pois cada um usava o tempo em que o outro estava falando para pensar em novos
argumentos para justificar sua verdade. Aos poucos, a discussão deixou de ser a respeito da
cor da bola, e passou a ser uma troca de opiniões e afirmações contundentes a respeito das
supostas cores da bola. A partir de um determinado momento que ninguém saberia dizer ao
certo quando, os dez homens tiraram os olhos da bola e passaram a refutar uns ao outros.
Em vez de sugestões do tipo: – A bola é vermelha, todos se precipitavam em listar razões
porque a bola não era grená, nem cor de vinho, nem mesmo alaranjada.

De repente, alguém gritou: – Ei pessoal, onde está a bola? Todos pararam de falar –
estavam todos falando ao mesmo tempo, e foi então que perceberam um alarido parecido
com aquelas gargalhadas gostosas que as crianças dão quando sentem cócegas. Correram
para a janela e viram uma criançada brincando com a bola, que parecia feliz sendo jogada de
mão em mão. Ficaram enfurecidos com tamanho desrespeito com a bola. Ficaram também
muito contrariados com a bola, que parecia tão feliz, mas não tiveram coragem de admitir,
afinal, a bola, era a bola.

Lá fora, sem dar a mínima para os dez homens importantes, estavam as crianças brincando
e se divertindo a valer com a bola que os dez homens importantes pensavam que era deles.
E nenhuma das crianças sabia qual era a cor da bola.

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