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São Paulo
2010
1º Quadrimestre
Resumo
Este artigo mostra a importância da gestão do estoque para evitar a obsolescência de tecidos
no setor de confecção de homewear. Neste setor trabalha-se por coleção, isso faz com que sua
matéria prima tecido seja perecível, por se tratar da tendência da moda. Na empresa onde esse
estudo foi realizado os processos de tingimento, tecelagem e acabamento são externos e cada
fornecedor tem um lote mínimo para programação. O artigo discutirá as causas, ações
preventivas e corretivas do estoque de tecidos obsoletos afim de reduzir o mesmo, sem
prejudicar os prazos de produção e vendas.
Pode-se notar no decorrer do artigo, os problemas com o planejamento e comunicação interna,
além da falta de organização e sequência de como proceder desde o início da coleção, no
desenvolvimento, até o término da mesma.
1. Introdução
Hoje no Brasil o setor têxtil e de confecção nacional, geram mais de 1,65 milhões de
empregos e está entre os cinco principais países produtores de confecção (ABIT – Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção-19/03/10).
Nos últimos cinco anos segundo dados da MTE/CAGED-ABIT, o Brasil teve um aumento de
aproximadamente 32% no quadro de empregos formais, gerado através da cadeia têxtil,
conforme Gráfico 1.
A empresa que será analisada neste artigo, tem 15 anos no mercado nacional, conta com uma
equipe de 120 colaboradores. Atua, no segmento de confecção de homewear, inovando o
antigo pijama para a confortável roupa de ficar em casa, ganhando espaço nas vitrines dos
mais importantes Shoppings do Brasil. Com suas características marcantes e respeito aos seus
clientes, esta empresa apesar dos seus problemas internos, continua competitiva por fazer
exatamente o que seus clientes desejam.
O mais difícil neste setor tende a ser a concorrência desleal, como por exemplo, oficinas de
fundo de quintal que não pagam impostos e a pirataria.
O fator predominante e não favorável neste mercado, além da tendência da moda é o clima,
pois todos os tecidos derivam do algodão.
A empresa esta passando por um processo de transição organizacional, onde está saindo de
uma empresa de pequeno porte familiar, para uma estrutura organizacional de médio porte,
onde o foco principal é o Resultado da empresa.
Hoje a maior motivação em fazer este trabalho, é mostrar que é possível diminuir a
obsolescência no estoque sem prejudicar os prazos de produção e vendas. Como foco neste
artigo será abordado o estoque de itens obsoletos de tecidos.
O público alvo da empresa são as classes A e B, pois ainda no Brasil são poucas as pessoas
que tem o hábito de usar pijamas, mesmo porque os preços no caso desta confecção não são
acessíveis para as demais classes sociais, devido ao padrão de qualidade e o alto custo até sua
produção final.
Um das alternativas que deve ser discutida nesse artigo é a ampliação dos mercados
potênciais, com a confecção de pijamas mais simples e com matérias primas reprocessadas,
visando sempre a satisfação do cliente e a diminuição do estoque de tecidos obsoletos.
2. Revisão Bibliografica
Abaixo serão apresentadas as referências utilizadas como base para a elaboração deste artigo.
2.1 Estoques
Segundo Slack et al (1999), entende-se por estoque qualquer quantia de produto, objeto ou
material armazenado, seja de produto acabado, matéria prima, material em processo, insumos,
manutenção, entre outros.
Slack et al, diz que estoques têm valores, finalidades e administração diferentes, de acordo
com sua utilização na empresa. Pode-se apontar também alguns motivos para se manter
estoques, entre eles: evitar a interrupção da produção, assim evita perdas de pedidos de
vendas por falta de produtos. Os estoques servem como segurança para os casos como perdas,
oscilações na produção, quebra de máquinas, falta de funcionários e vendas imprevistas.
Conforme Ballou (2004), se a demanda for previsivel não é necessário manter estoques, isto é,
quanto mais percisa for a previsão de demanda, mais simples de controlar os estoques. No
entanto, como praticamente não existe previsão de demanda exata, as empresas utilizam de
estoques para reduzir os efeitos causados pelas variações de oferta e procura.
Para Correa, Gianesi e Caon (2001), o conceito de estoque é um elemento gerencial essencial
na administração das empresas. Após buscar durante muito tempo baixar seus estoques a
níveis maximos, as empresas enfrentaram grandes problemas, e acabaram compreendendo
que a estratégia é chegar a um consenso de que realmente precisa-se de estoque para trabalhar
sem comprometer seus processos.
Já para Dias (1993), os estoques na empresa podem ser de matérias primas, produtos em
processo, produtos acabados e peças de manutenção, no caso específico desse artigo o tipo de
estoque é de matérias primas. O autor define estoques de matérias primas como sendo os
materiais básicos e necessários para a fabricação do produto final, tendo seu consumo
proporcional à quantidade produzida. Em outras palavras, todos os materiais agregados se
tornam produtos acabados.
Ainda para Dias (1993) para a organização de um setor de estoques é necessário:
A falta de eficiência na gestão de estoque provoca duas situações criticas nas empresas:
estoques obsoletos e ruptura de estoques. Neste artigo o foco é estoque obsoleto, por este
motivo a situação de ruptura de estoques não será citada.
Estoque obsoleto é aquele estoque que fica parado, sem movimentação, ou seja, é a perda da
utilidade da matéria prima ou produto. No caso da Confecção de Homewear, existem excessos
de estoques em diversos graus. È um grave problema no gerenciamento dos estoques de
matérias primas.
Marullo (1997), surgere duas opções para reduzir os estoques obsoletos: redução de preços ou
doações dos produtos para instituições de caridade. Se optar pelas doações, a empresa pode
conseguir uma redução dos impostos para seus custos de inventário.
Conforme Chaneski (2000), mercadorias que não tiverem nenhum uso em dezoito meses e
não tiver pedidos em abertos, cinquenta por cento dos estoques desses produtos devem ser
descartados do inventário. Acrescenta que a implantação de qualquer programa de redução de
estoques obsoletos deve atender às necessidades específicas de cada tipo de empresa. Porém,
qualquer que seja o programa de redução adotado, esse será certamente melhor que não adotar
nenhum programa.
Conforme citações dos autores Rosenfield (1989), Marullo (1997) e Chaneski (2000), este
artigo mostra cinco alternativas de ação corretiva para a redução do estoque obsoleto, sendo:
Segundo Ballou (2006), há três classes gerais de custos importantes para a determinação da
política de estoque: os custos de aquisição, de manutenção e de falta de estoques.
Seguindo a definição de Slack (2007), “Se escolhermos uma política de pedidos que envolve
pedidos de quantidades muito grandes, que significará que os itens estocados permanecerão
longo tempo armazenados, existe o risco de que esses itens possam torna-se obsoletos ( no
caso de uma mudança de moda, por exemplo) ou deteriorar-se com a idade ( no caso da
maioria dos alimentos, por exemplo).”
No caso de uma empresa de confecção, onde a matéria prima tecido passa a ser perecível
depois que recebe beneficiamento (tingimento), o estoque tem que ser muito bem
administrado e o planejamento é fundamental para que seja evitado itens obsoletos. Há na
verdade um quebra cabeça na hora de fazer o planejamento de compras de tecidos, pois os
consumos são diferentes e cada fornecedor trabalha com um lote mínimo de tingimento ou
acabamento do tecido.
Segundo Ballou (2006), o problema logístico de qualquer empresa é a soma dos problemas de
cada um dos seus produtos. A linha de artigos de uma empresa típica é composta por produtos
variados em diferentes estágios de seus respectivos ciclos de vida, e com diferentes graus de
sucesso em matéria de vendas.
Conforme Slack (2007), em qualquer estoque que contenha mais de um item em estoque,
alguns serão mais importantes para a organização do que outros. Alguns itens por exemplo,
podem ter uma taxa de uso muito alta, de modo que, se faltassem, muitos consumidores
ficariam desapontados. Outros itens podem ter valores particularmente altos, de modo que
níveis de estoque excessivos seriam particularmente caros.
Uma das ferramentas utilizadas para a gestão de estoque, é a Curva ABC, também conhecida
como lei 80/20, a lei de Pareto que estabelece a importancia de cada item no estoque de
acordo com sua movimentação de valor.
Itens classe A, são os 20% de itens de alto valor que representam cerca de 80% do valor total
do estoque.
Itens classe B, são aqueles de valor médio, usualmente os seguintes 30% dos itens que
representam cerca de 10% do valor total.
Itens classe C, são os itens de baixo valor que, apesar de compreender cerca de 50% do total
de tipos de itens estocados, provavelmente representam somente cerca de 10% do valor total
de itens estocados.
Conforme Lustosa (2008), o modelo do lote econômico foi originalmente concebido por Ford
Harris, em 1913, nos primórdios da Engenharia de Produção. Muitas variantes do modelo
básico surgiram desde então, procurando uma maior generalização de suas fórmulas, para
incluir alguns casos de demanda e suprimentos variáveis.
Bowersox e Closs (2001, p.236) definem o LEC da seguinte forma: "é a quantidade de
pedido de ressuprimento que minimiza a soma do custo de manutenção de estoque e emissão
e colocação de pedido”.
3 - Desenvolvimento
A empresa que foi analisada nesse artigo, é uma confecção de homewear, nacional de
pequeno porte, que precisa urgentemente de uma gestão de estoque eficaz e eficiente para
evitar o aumento dos itens obsoletos.
3%
5%
6%
Flanela
35%
12% Flanela
37% Meia Malha
Suedine
M.malha listrada
Rugby
13%
Rib
Punho
27%
Comparando os estoques de itens obsoletos e itens usado na coleção de inverno, pode-se notar
no Gráfico 4, que é imprescindível a gestão de estoque urgentemente nesta empresa.
Estoque Obsoleto x Estoque Coleção
25000
20000
15000
Qtde Obsoleto
Qtde. Coleção
10000
5000
0
Flanela Meia M.malha Rib Punho Rugby Suedine
Malha listrada
6,00
5,43
5,00
4,00
3,00
2,00
1,24
0,96
1,00 0,74 0,73
0,34
0,07
0,00
Punho Rib Meia Malha Flanela M.malha Rugby Suedine
listrada
Para um melhor entendimento e desenvolvimento do trabalho, será feito a análise nos itens
flanela, meia malha e meia malha listrada, também conhecida como meia malha fio tinto.
A flanela que representa 35% no valor total do estoque, é fácil seu planejamento de compras,
pois este item já é comprado beneficiado e passa apenas por um fornecedor. Porém segundo
levantamento de dados na empresa o motivo dessa obsolescencia é o planejamento atrasado,
pois o lead time de fornecimento é de 60 dias, e vendas trabalha com este item somente até
maio. Passando deste mês dificilmente o mercado aceita esse tipo de tecido, e muitas vezes a
empresa recebeu este material já no final do inverno, o que contribuiu para esse estoque.
Pode-se notar que o custo da meia malha não é o mais alto para o estoque, por tratar-se de
uma matéria prima que sofre apenas um beneficiamento, e passa apenas por dois
fornecedores, o que fornece a meia malha crua e o que tingi nas cores determinadas pela
empresa, mesmo assim esse tecido representa 33% do estoque de itens obsoletos. O motivo
deste estoque, é que a meia malha faz parte da confecção de homewears que utilizam flanelas
e meia malhas listrada.
Referente a meia malha listrada, que representa 11% no valor total do estoque, seu
planejamento de compras é o mais complicado de todos os demais tecidos, devido seu
processo de tecelagem passar por quatro fornecedores. O primeiro fornecedor do fio cru
(pronto para tingir), o segundo a tinturarira que tingi o fio, o terceiro a tecelagem que tece a
malha e o quarto e último fornecedor faz a parte de acabamento da malha (lavar e ramar). Esta
é a programação mais problemática numa confecção, pois conforme já citado cada fornecedor
trabalha com um lote minimo, por este motivo muitas vezes a meia malha listrada não chega
de acordo com a necessidade da empresa e há sobras e outras vezes faltas.
3.1 - Tratamento
Ações Corretivas
Uma das estratégias para reduzir este custo de R$ 471.890,35 é tornar o estoque de obsoletos
em itens usáveis, porém somente é possível fazer esta transformação nos tecidos de cores
únicas, por se tratar de um único processo de beneficiamento. Segundo levantamento as cores
de maior giro nesta confecção são: Azul Marinho, Marfim e Branco, que são cores usadas em
todas as coleções e por todos os clientes.
Com a venda dos tecidos obsoletos, a empresa ganha espaço fisico para montar mais celulas
de trabalho, amortiza a divida junto aos investidores que hoje cobram juros de 2,5% ao mês,
referente aos emprestimos de capital de giro da empresa.
Com o reprocessamento, a empresa terá um retorno de 55% sobre o custo de seus produtos,
sendo composto do custo de reprocessamento e da margem de lucro que a empresa aplica.
No caso dos tecidos que impossíveis de reprocessar, como no caso do meia malha fio tinto e
flanela, pode-se vender, fazer homewear para saldão ou até mesmo doar esses tecidos para
alguma instituição.
Ações Preventivas
Cada fornecedor, trabalha com um lote minimo de produção, quanto maior o lote, menor o
lead time de entrega. Esse é outro fator que contribuiu com o aumento do estoque de tecido
obsoleto. São necessários dois ou mais tipos de tecidos para a confecção do produto.
4 - Análise de Resultados.
A empresa estudada, optou no primeiro momento em fazer homewear para pronta entrega
(saldão), mesmo com a capacidade produtiva sobrecarregada e os funcionários precisando
fazer horas extras para atender em tempo hábil a entrega dos pedidos já aceitos por vendas.
A confecção de homewear para saldão, foi bem sucedida, pois a empresa consegui reduzir em
apenas 3 meses, aproximadamente 57% do estoque de itens obsoletos, o que representa o
valor de R$ 202.259,87.
Na Tabela 6 é mostrada a situação do estoque de itens obsoletos, após a utilização do mesmo
para a confecção de homewear para saldão.
5 - Conclusão
Com esse artigo conclui-se que é há diversas maneiras de gerenciar os estoques de uma
empresa, indepedente do tipo de produto e ramo de atuação. O gestor tem o dificil papel de
planejar o correto e surgerir melhorias se o processo não está adquado.
Foi possível observar que na empresa analisada, os maiores problemas que geraram o estoque
de itens obsoletos foram, o planejamento e a falta de sincronização entre os departamentos.
Devido a empresa estar em fase de mudanças organizacionais, acredita-se que será mais fácil
a implementação de ferramentas e indicadores para um melhor gerenciamento nos estoques.
Neste artigo foi mencionado apenas a matéria prima tecido, por ser a matéria prima principal
para a confecção do homewear e a de maior custo no estoque.
O trabalho para a redução do estoque de itens obsoletos levará em torno de 12 meses, porém
de nada adianta as ações corretivas para reduzir a obsolescência, se não tiver as ações
preventivas para evitar um planejamento inadequado.
A empresa conseguiu reduzir 57% do estoque de itens obsoletos, usando apenas uma das
estratégias citadas nas ações corretivas. No decorrer dos proximos 9 meses a empresa
continuará trabalhando para conseguir atingir 100% de redução do estoque de obsoletos,
sendo em último caso descartar o que não conseguir utilizar, vender ou doar.
Conforme Dias (1993), deve se manter a acuracidade e avaliar a situação dos estoques com
inventários rotativos, identificando materiais obsoletos e danificados. Isso evita que a empresa
acumule estoques desnecessários e já tome alguma ação corretiva imediatamente, afim de
evitar maiores prejuízos no futuro.
Bibliografias
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DIAS, Marco Aurélio P. Administração de materiais: uma abordagem logística. 4. ed. São Paulo:
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