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[Tomás Antônio Gonzaga]

I- Escola Literária

ARCADISMO: a palavra arcádia, que dá origem a Arcadismo, é grega e designa uma


sociedade literária típica da última fase do Classicismo, cujos membros adotam
nomes poéticos pastoris, em homenagem à vida simples dos pastores, em comunhão
com a natureza.

O Arcadismo quanto à forma:

vocabulário simples

frases na ordem direta

ausência quase total de figuras de linguagem

manutenção de versos decassílabos, do soneto e de outras formas clássicas

O Arcadismo quanto ao conteúdo:

pastoralismo

bucolismo

fugere urbem

aurea mediocritas

elemento da cultura greco-latina

convencionalismo amoroso

idealização amorosa

racionalismo

idéias iluministas

carpe diem

II- Cronologia

Início do Arcadismo no Brasil: 1768 – publicação das Obras Poéticas de Cláudio


Manuel da Costa
Término: 1836 – publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves
Magalhães.

III- Biografia do autor

O poeta Tomás Antônio Gonzaga, patrono da cadeira nº 37 da Academia Brasileira de


Letras, nasceu na cidade do Porto, em Portugal, a 11 de agosto de 1744 e faleceu na
Ilha de Moçambique, onde cumprira pena de degredo, em fevereiro de 1810.

Era filho do brasileiro Dr. João Bernardo Gonzaga e de D. Tomásia Isabel Clark.
Passou alguns anos da infância no Recife e na Bahia onde o pai servia na
magistratura e, adolescente, retornou a Portugal a fim de completar os estudos,
matriculando-se na Universidade de Coimbra na qual concluiu o curso de Direito aos
24 anos.
Depois de formado exerceu Gonzaga alguns cargos de natureza jurídica, já tendo
advogado em várias causas na cidade do Porto. Candidatou-se a uma Cadeira na
Universidade de Coimbra, apresentando uma tese intitulada 'Tratado de Direito
Natural'. Em 1778 foi nomeado juiz-de-fora na cidade de Beja, com exercício até
1781. No ano seguinte é indicado para ocupar o cargo de Ouvidor Geral na comarca
de Vila Rica [Ouro Preto], na Capitania de Minas Gerais.

A permanência em Vila Rica estendeu-se até o ano de 1789, quando foi envolvido na
famosa Inconfidência Mineira. Em maio do referido ano, acusado de participação na
conspiração é detido e, sem maiores formalidades, remetido preso para o Rio de
Janeiro.

Nessa ocasião estava o poeta noivo de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, jovem
pertencente a uma das principais famílias da capital mineira, e a quem dedicava
poesias do mais requintado sabor clássico, que iriam fazer parte do livro intitulado
'Marília de Dirceu' cuja primeira parte foi publicada em Lisboa, pela Impressão Régia,
no ano de 1792.

A obra poética de Tomás Antônio Gonzaga é relativamente pequena mas suas liras
tiveram dezenas de edições.

Segundo as mais abalizadas pesquisas de natureza estilística e histórica, deve-se ao


infortunado Ouvidor de Vila Rica a autoria da famosa sátira 'Cartas Chilenas', só
editadas, em forma impressa, no Segundo Reinado. Continham-nas uma coleção
notável de versos cáusticos, em que era posto em ridículo Luís da Cunha Meneses,
Governador e Capitão-General de Minas Gerais, na década de 1780.

Na Ilha de Moçambique, para onde foi levado Gonzaga, em virtude de sua condição
no processo da Conjuração mineira, casou-se o desventurado vate com Juliana de
Sousa Mascarenhas, de quem houve um casal de filhos, cujos descendentes remotos
ainda vivem na antiga colônia portuguesa.

IV- Obras:

Marília de Dirceu

Cartas Chilenas [principal obra satírica do século XVIII, atribuída a Gonzaga]

Duas tendências coexistem nas liras de Gonzaga:

a] a contenção e o equilíbrio neoclássicos, com a utilização de todos os lugares-


comuns do Arcadismo: um pastor, uma pastora, o campo, a serenidade da paisagem
principal.

b] o emocionalismo pré-romântico, na expressão pungente da crise amorosa e,


posteriormente a prisão, da crise existencial do poeta.

O sujeito lírico é o pastor Dirceu, que confessa seu amor pela pastora Marília. Eis a
convenção neoclássica realizada, Mas é evidente que nos pastores se projeta o
drama amoroso vivido por Gonzaga e Maria Dorotéia.

A todo momento a emoção rompe o véu da estilização arcádica, brotando, dessa


tensão, uma poesia de alta qualidade.

“ Eu tenho um coração maior que o mundo


tu, formosa Marília, bem o sabes;
um coração, e basta,
onde tu mesma cabes”
V- Resumo

As partes da obra

A obra se divide em duas partes [há uma terceira, cuja autenticidade é contestada
por alguns críticos]:

1ª parte: contém os poemas escritos na época anterior à prisão de Gonzaga. Nela


predominam as composições convencionais: o pastor Dirceu celebra a beleza de
Marília em pequenas odes anacreônticas. Em algumas liras, entretanto, as
convenções mal disfarçam a confissão amorosa do amor: a ansiedade de um
quarentão apaixonado por uma adolescente; a necessidade de mostrar que não é um
qualquer e que merece sua amada; os projetos de uma sossegada vida futura,
rodeado de filhos e bem cuidado por suas mulher etc.

2ª parte: escrita na prisão da ilha das Cobras. Os poemas exprimem a solidão de


Dirceu, saudoso de Marília. Nesta segunda parte, encontramos a melhor poesia de
Gonzaga. As convenções, embora ainda presentes, não sustentam o equilíbrio
neoclássico. O tom confessional e o pessimismo prenunciam o emocionalismo
romântico..

VI- Considerações finais:

Em Minas Gerais, quatro poetas e magistrados constituem os mais importantes


cultores do arcadismo, se bem que Otto Maria Carpeaux separe Cláudio Manuel da
Costa, pelo maior racionalismo e menores “vestígios do sentimentalismo pré-
romântico”.

Grande entre todos eles, pelo sentido do ritmo e domínio artesanal, aparece Tomás
Antônio Gonzaga, autor popularizado através das “liras” que celebram os amores de
Marília e de Dirceu.

O tema do livro é amor. Amor cheio de pureza, em que se constrói um universo ideal,
o poeta encarnado em pegureiro, a sua amada em pastora, conforme o vocabulário
da escola. Os motivos são os tradicionais: da despedida, “Adeus, cabana, adeus;
adeus, ó gado”; o das excelências do tempo passado “então só inocente / era de luso
o reino. Oh! Bem perdido! / ditosa condição, ditosa gente!”; a indecisão do amante
de duas amadas, o mon coeur balance entre Alteia e Dircéia, o mesmo lema do muito
celebrado soneto de Alvarenga Peixoto: “Ou faz de dous semblantes um semblante /
ou divide o meu peito em dois pedaços.” Em Gonzaga é “Ou forma de Lavino dous
sujeitos / ou forma desses dous um só semblante”.

A versificação é pouco variada e, a par dos versos de quatro sílabas, melhor ditos,
células métricas, vêm a redondilha menor, com acentuação em 2a. e 5a. sílabas;
heróico quebrado, sempre em combinação; a redondilha maior; o decassílabo.

É possível começar com uma curiosidade, a das liras XXII e XXV [2a. parte] e II [3a.
parte], entre outras, em que a palavra final de cada estrofe é oxítona ou monossílabo
tônico, em ê de timbre fechado, salvo uma rima de timbre aberto. Na ordem, rimam:
ter, vê, tem, ofender, cruel, seu acolher, crer. Outra curiosidade é a rima interna,
posta sobre a cesura em final do soneto: “Pois quando só na idéia m’a retrata /
debuxa os dotes com que prende, vista / esconde as obras com que ofende, ingrata”.

E as figuras de repetição, sem muita pesquisa, podem ser registradas na sua


freqüência, a começar pela epizeuxe: “ganhei, ganhei, um trono” – “verás, verás,
Marília”, “eu vou, eu vou subindo a nau possante”; esta mão, esta mão que ré
parece”; “já, já me vai, Marília, braqueando”; “só foi, só foi Lucrecia”.

Mas o Gonzaga não nos oferece apenas abundante material de retórica e arte
poética; oferece, e isso é mais importante, poesia para o gosto dos eruditos e poesia
que gera popularidade: sentimento e sentimental, intelecto e sensorial melancolia e
lamentação. E, porque se trata de um grande poeta, vem sendo incluído nas histórias
literárias de Portugal e do Brasil. Nasceu no Porto; fez-se voluntariamente luso, nos
depoimentos da devassa, procurando descomprometer-se com a Inconfidência. Amou
em Vila Rica, em verdade era pela liberdade do jugo português [um homem
amedrontado não é um homem], se bem que se desdissesse ante o inquisidor.

Mas o Brasil anda na sua poesia: saudoso, recompõe o itinerário que vai do Rio à
terra de sua bem : “Procura o Porto da Estrela / sobe a serra, e se cansares /
Descansa num tronco dela”. “Toma de Minas a estrada / Na igreja nova a que fica /
Ao direito lado, e segue / Sempre firme a Vila Rica”.

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