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RELATÓRIO TCS – Vivência Plaza Shopping

DAYANNA DE OLIVEIRA QUINTANILHA


TURMA 210

No dia 24 de março de 2011, nosso grupo de TCS teve sua primeira Vivência.
Ela ocorreu às 14h da tarde no Plaza Shopping. Primeiro, falarei um pouco das minhas
expectativas antes de a atividade começar. Eu estava ansiosa e no fundo sentia uma
preocupação porque sempre fui muito independente e sabia que não conseguiria andar
sozinha de olhos vendados ou de cadeira de rodas sem que alguém me ajudasse. Eu iria
depender muito da ajuda de alguém e precisaria confiar bastante nessa pessoa. Também
fiquei meio apreensiva pensando em como as pessoas que eu conhecia reagiriam caso
me encontrassem durante a atividade. Mas nenhum dos meus receios superava a
vontade de saber quais sensações eu sentiria.
Comecei pela venda nos olhos. Quem me ajudou a caminhar foi o Gustavo. Foi
incrível como fechar os olhos me fez abrir os ouvidos e o nariz. Conheço muito bem o
Plaza por ser um dos shoppings que mais frequento, sendo assim eu me localizava pela
música que costuma tocar em determinada loja, o cheiro da comida, o cheiro da roupa.
Só não imaginava que pequenos ladrilhos no chão do shopping poderiam ser obstáculos
tão grandes para alguém que não enxerga, eu sempre me assustava com eles. O Gustavo
era um guia muito atencioso, me deixava ciente de cada detalhe e me passava bastante
confiança. O momento mais difícil foi na hora da escada rolante, mas ele soube me
avisar com precisão o momento certo de entrar e de sair. Aventurei-me tomando sorvete
e obviamente me lambuzei bastante. Por fim, chegou a vez de passar a venda para ele.
Guiar sem dúvidas é mais confortável do que ser guiado. Porém, algumas
situações são bastante constrangedoras. Enquanto eu estava vendada, ficava imaginando
o que as pessoas estariam pensando e como estariam me olhando. Em certos momentos
cheguei a perguntar ao Gustavo a respeito disso. Quando eu o estava guiando, pude
encarar o olhar das pessoas que era um misto de curiosidade, piedade e impaciência,
principalmente quando a gente estava obstruindo a passagem. Certa hora, o vendedor de
uma loja nos parou e perguntou o que estava acontecendo, expliquei a atividade. Ele
disse que achou que éramos um grupo de pessoas que tinham acabado de ficar cegas e
estavam em treinamento. Cada um pensa o que quer, cada um inventa uma versão para
o que está vendo, mas ficou bem claro para mim que um simples olhar pode machucar.
Essa constatação foi ainda mais forte no momento em que sentei na cadeira de
rodas. Fui fulminada por olhares piedosos. Eu fazia questão de encará-los, as pessoas
logo desviavam. Além dos olhares, também me chamou muito a atenção o fato de eu
estar em um plano diferente de altura. Pude observar decorações que antes eu nem
imaginava que existiam e me incomodava bastante ter que falar com alguém que
estivesse de pé, o pescoço doía. Quando sentei na cadeira, mudei de dupla e o William
passou a me guiar. Ele também foi atencioso, me ouvia e me ajudava. Curioso foi que
na hora de trocar e sentar na cadeira, ele foi bem resistente porque achava estranho uma
mulher empurrando um homem. Fiquei pensando, se seria incômodo para ele viver essa
experiência por alguns minutos, como seria então para um homem viver isso em sua
rotina?
E foram questionamentos desse tipo que permearam minha mente. Percebi o
quanto a experiência foi importante, pois a partir dela consegui me colocar no lugar do
paciente. Pude sentir o quanto é importante para ele ganhar sua autonomia e vi que
detalhes que para alguns podem ser insignificantes, como os ladrilhos, podem ser muito
incômodos para outros. Além disso, nunca fiquei tão feliz por existirem elevadores.
Imagina encarar escada rolante na cadeira de rodas? Vi também que com pequenas
ações, posso ajudar bastante. Da próxima vez que encontrar um cadeirante, certamente
vou procurar um ângulo favorável para me comunicar com ele. Enfim, essas vivências,
nos levam a refletir tanto a respeito de mudanças de infra-estrutura quanto de atitudes
sutis. Tudo isso nos deixa cada vez mais perto de enxergar o paciente como uma pessoa
e atender suas necessidades de forma integral.

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