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Pólo Perus

5º. Período de Ciências Sociais


Prof, Luci Praum
Rosemeire Emidio da Silva Santos

PS - Aula Magna: Violência de Gênero no Brasil Contemporâneo

Na proximidade do Dia da Mulher (08/03) podemos observar uma maior


comoção ao tratar de assuntos ligados ao tema proposto da Aula Magna. Homenagens e
declarações não mudam a realidade que encontramos em nosso país.
A violência por si só é um fato social extremamente complexo, não pode ser
observado de um único ponto de vista, sob pena de criminalizar os pobres ou
responsabilizá-los pelas patologias sociais. Apesar das dificuldades em construir um
conceito válido para todos os casos, concordamos que “há violência quando, em uma
situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça
ou esparsa, causando danos a uma ou a mais pessoas em graus variáveis, seja em sua
integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas
participações simbólicas e culturais” (MICHAUD, 1989).
Quando pensamos as relações de gênero, temos que considerar quais os papéis
sociais de homem e de mulher foram construídos em nossa sociedade. Sabemos que a
sociedade é um organismo vivo e dinâmico e seus atores estão em constante
movimento. Num país de dimensões continentais como o Brasil é de se esperar que as
construções simbólicas sejam heterogêneas e as relações interpessoais variadas.
O Mapa da Violência (http://www.sangari.com/mapadaviolencia/) realizado
pelo Instituto Sangari em cooperação com o Ministério da Justiça revela índices
preocupantes como a interiorização da violência, a regionalização e o predomínio dos
jovens de 15 a 24 anos entre as vítimas. Outro dado alarmante é o aumento das mortes
de negros em comparação com a de brancos (67,1% em 2005 e 103,4 em 2008). Os
números das estatísticas quanto às mortes violentas, separando as vítimas em gênero
masculino e feminino, mostram o predomínio dos homens nas categorias homicídio
(92,0%), acidentes de transporte (81,6%) e suicídio (79,1%).
Os números indicam que as mulheres são minoria em casos de morte violenta,
embora os casos de violência contra a mulher sejam constantes em noticiários. Casos
como o de A.P.S.V. de 31 anos, espancada e mantida em cativeiro, são comuns1. O
marido, Tiago dos Santos Ribeiro de 22 anos foi preso em flagrante. O crime aconteceu
em um bairro pobre de Bertioga, São Paulo em 28/02. Foram os vizinhos que fizeram o
chamado para a polícia, movidos pelos gritos de socorro. Interrogado quanto a causa da
agressão, a resposta desaponta os mais românticos: ciúme. O amor pode levar à
agressão? A mulher se transformou num objeto de posse que pode ser destruído ou
privado de liberdade em pleno século XXI?
A banalização da violência é um fator a considerar quando encontramos o caso
de N.V.O., 24 anos que foi agredida por seu companheiro, se é que se pode usar este
termo num caso desses, por se recusar a mudar o canal da TV. Depois de quebrar o
aparelho, agarrou-a pelo pescoço, batendo sua cabeça na parede até que, no chão foi
agredida com socos e ponta pés. 2
A reação das mulheres vítimas da agressão pode variar. Há aquelas que
denunciam e vão até as últimas conseqüências, exigindo punição, ainda que meramente
simbólica diante das lesões sofridas como no caso de Maria da Penha, aquela que deu
nome à lei, que ficou paraplégica e depois de anos de luta assistiu à condenação do ex-
marido, o professor universitário Marco Antonio Heredia Viveros, à condenação de 8
anos de prisão, dos quais cumpriu apenas 2 anos e está atualmente em liberdade. 3
Muitas mulheres agredidas fazem a denúncia à autoridade policial e mais tarde
retiram a queixa. Muitas mulheres permanecem em silêncio. As causas são múltiplas, da
falta de informação ao medo da vingança, passando pela crueldade da ameaça aos filhos
e familiares. Não está restrito a uma classe social ou a um grupo de ignorantes. A
violência perpassa todos os grupos e não se restringe ao ambiente doméstico.
Passamos de um extremo ao outro com facilidade. De vítimas de um sistema
patriarcal opressor para cúmplice do ato violento, sem compreender que as mulheres, as
crianças e os homens vivem em situação de violência. A violência de gênero é parte de

1
Mulher é espancada e trancada em casa pelo marido, em Bertioga. O marido foi detido pela polícia
e encaminhado à Delegacia da cidade onde o delegado José A. Cardia entendeu que foi violado o
artigo 148 do Código Penal, combinado com o artigo 129. Ambos os artigos tratam de cárcere
privado e lesões corporais. O agressor foi encaminhado à Cadeia Pública de Guarujá e pode pegar
pena de reclusão de 02 a 05 anos.
http://www.costanorte.com.br/index.php/editorias/cidades/bertioga/mulher-e-espancada-e-trancada-
em-casa-pelo-marido-em-bertioga

2
Mulher é espancada por se recusar a mudar o canal da TV por Jeozadaque Garcia
http://www.midiamax.com/noticias/737687-mulher+espancada+se+recusar+mudar+canal+tv.html
3
http://www.jusbrasil.com.br/noticias/11/maria-da-penha-conta-hoje-sua-historia-de-luta-na-oab-mt
um problema mais complexo. Todos nós estamos sujeitos ao trágico final nas páginas
de jornais ou diluídos em manchetes virtuais. A violência nos cerca e nos impõe padrões
de comportamento que variam do isolamento atrás de grades e muros, circuitos
fechados, vidros blindados e seguranças gigantes até o uso autorizado ou não de armas
de fogo.
A violência é uma outra face da desigualdade. A dificuldade que temos em
conviver com o diferente pode resultar no esforço para construir pontes que levem a
novos paradigmas sociais ou a construir muros que limitam e determinam até onde cada
um pode ir.
Punir agressores e responsabilizar os agentes da violência é necessário, mas não
haverá mudança significativa a não ser através da educação. Não aquela excludente e
repetidora de modelos de dominação que não nos servem mais, mas aquela libertadora e
promotora de cidadania.
E os excessos do capitalismo? Uma população consciente de seus direitos e
deveres, pode encontrar caminhos e respostas para velhos problemas.

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