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Os amantes eram irmãos...

Contudo, Carlos não aceita este facto e mantém


abertamente, a relação – incestuosa – com a irmã.

incesto
Embora a definição de parentesco possa variar, as relações sexuais
incestuosas (entre parentes, ou familiares próximos) são proibidas e
condenadas nas diversas sociedades.
Ao longo dos tempos, esta proibição aparece representada em mitos,
em códigos e em regras não apenas das religiões mas também da vida
em sociedade. E se há casos específicos das sociedades antigas em
que, para legitimar o trono e continuar uma dinastia, o incesto podia
acontecer com irmãos ou parentes muito próximos, a sua prática foi
sempre limitada e mesmo condenada.
O tema do incesto surge em diversas obras, desde a antiguidade. Já na
tragédia grega o encontramos no Rei Édipo de Sófocles (495-405 a.
C.). Nessa obra, Édipo torna-se rei de Tebas e casa com Jocasta, mas
vem a descobrir que matara Laio, seu pai, e que a mulher com quem
vive é a sua própria mãe. Cega-se, num ato de desespero, e Jocasta
suicida-se.
O psicanalista Freud, no início do século XX, designou por complexo
de Édipo "o conjunto das fortes emoções e impulsos da primeira
infância, que se concentra em torno dos pais", isto é, a pulsão
inconsciente ou apego erótico da criança por alguém, do sexo oposto,
que a gerou ou a ela está ligada, mas de que houve um recalcamento
por condições culturais ou outras que levaram, ao mesmo tempo, ao
amor, ao ódio ou ao medo. O termo "complexo" designa a ligação
inconsciente entre pulsões (impulsos primários de ordem fisiológica) e
interdições de ordem cultural, também inconscientes.
O incesto está integrado na vida do imaginário e é, com frequência,
resultado deste complexo de Édipo não resolvido, mas a sua aceitação
apresenta-se como tabu, na medida em que há um interesse sexual
erótico, considerado ilícito, entre parentes consanguíneos. A verdade é
esta, para mim a dois tipos de incesto: Voluntário e involuntário.
Acho que isso se aplica a tudo na vida.
Em Os Maias, de Eça de Queirós, o incesto entre Carlos e Maria
Eduarda conduz à catástrofe inevitável. Embora de forma
inconsciente, pois nenhum sabia da existência do outro, os dois irmãos
apaixonam-se e vivem uma intensa relação como amantes. Só Carlos
acaba por conscientemente praticar o incesto depois de descobrir a
verdadeira identidade de Maria Eduarda e ao não resistir aos seus
encantos, quando tem o propósito de pôr fim a essa relação.
O incesto

Muitos antropólogos têm abordado nos seus estudos a questão do incesto nas
civilizações mais antigas.
Na mitologia grega o incesto era praticado sem acusação moral sendo uma
maneira de colocar as divindades acima do nível do comum dos mortais. Foi o
caso de Zeus com a sua irmã Deméter e do rei Tias com a filha Mirra. Sófocles
abordou o tema do incesto na sua obra o Rei Édipo ao descrever as relações
incestuosas deste com a sua mãe Jocasta.
O incesto entre irmãos era praticado entre os familiares reais como, por
exemplo, nas primeiras monarquias do antigo Egipto e no Império Inca.No
império romano a história revela casos de incesto entre Nero e sua mãe
Agripina e de Calígula com as suas irmãs.
O incesto tem sido também questionado em obras literárias , em alguns
filmes e em peças de teatro. Nos Maias, Carlos e Maria Eduarda vivem um amor
pleno e intenso mas incestuoso. Bernardo de Santareno na sua obra António
0 Marinheiro faz renascer o mito de Édipo.
Há alguns dias foi publicada num jornal uma notícia segundo a qual na
Alemanha um irmão e uma irmã vivem uma relação sexual da qual já
nasceram quatro filhos. O Código Penal germânico pune as relações sexuais
entre irmãos e irmãs adultos com uma pena máxima de três anos de prisão.
Por isso, os dois irmãos foram julgados e condenados a uma pena de dois anos
e meio de prisão. Durante o julgamento os advogados qualificaram de "relíquia
histórica" o preceito legal na base do qual os dois réus foram condenados.
Não se conformando com a condenação vão recorrer para o Tribunal
Constituicional alemão por considerarem que esse artigo do Código Penal
constitui uma violação do direito à liberdade de cada cidadão escolher
livremente o seu parceiro sexual.
A propósito do tema do incesto o Jornal Nouvel Observateur publicou em 1983
um artigo dedicado ao problema em França. Logo no início é colocado em
evidência o facto de que o incesto, embora seja uma realidade inegável, tem-se
mantido encoberto resistindo à grande maré da permissividade.
Entretanto os valores culturais e morais de cada sociedade sofreram
profundas alterações em quase todos os países ocidentais e as questões que no
passado eram consideradas tabu passaram a ser motivo de discussão pública e
de controvérsia.
No caso em questão irá o Tribunal decidir a favor dos recorrentes com base nos
argumentos que estes defendem ou, pelo contrário ,vão rejeitar a sua
pretensão invocando razões de natureza ética, cultural ou qualquer outra que
constitua uma limitação às liberdades individuais?
Em minha opinião é provável que o Tribunal dê razão aos recorrentes muito
embora a relação incestuosa possa ser passível de uma censura de índole
moral.

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