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Uma das cenas mais comoventes do filme "Contador de Histórias" (Forrest Gump),
foi quando Jenny, a namorada de Forest, voltou depois de longos anos envolvida no
submundo de drogas e os dois passaram pela casa onde ela foi criada... se é que se
pode dizer que ela foi criada. Porque ela sofreu todo tipo de violência nas mãos do
pai. Quando ela vê o barraco, agora já adulta, fica totalmente abalada e todas as
lembranças da infância horrorosa voltam à mente. Ela abaixa e pega uma pedra e a
joga, com todas as forças, na direção da casa. Ela acerta uma janela que se desfaz
em mil pedaços. Depois ela pega outra, e depois outra... Ela joga todas as pedras
perto dela e depois cai no chão chorando. Forrest disse a ela: "Às vezes não há
pedras suficientes". Creio eu que ele quis dizer que às vezes o sofrimento é tanto,
que nada há que podemos fazer para aliviá-lo - que nem a vingança, nem toda
nossa raiva resolvem a dor.
Concordo. Quando sofremos, estamos magoados, nós queremos jogar todas as
pedras do mundo contra "aquele barraco" onde sofremos. Pode ser uma pessoa,
uma coisa, uma memória, mas como no caso de Jenny, nunca há pedra suficiente
para derrubar o barraco do sofrimento. De fato, o único resultado do esforço de
jogar pedras, é que caímos no chão chorando. Tem que haver uma outra solução...
Há uma mulher na Bíblia que não encontrou pedra suficiente para sua dor. Ela
não tinha pedra nenhuma em suas mãos, mas se tivesse teria jogado milhares!
Como é a história? Essa mulher fascinante, se chamava Agar. Nós a encontramos
pela primeira vez no livro de Gênesis, capítulo 16. Agar não era israelita, e nem era
cananéia. Ela era egípcia e estava morando muito longe da sua terra. Até seu nome
traduzia a sua triste realidade, pois Agar significava - fugitiva ou imigrante. Ela era
uma mulher longe do seu povo e país, servindo a uma estrangeira, Sarai.
Certamente Agar foi adquirida durante sua viagem ao Egito. Não sabemos se ela foi
dada ou comprada, mas de qualquer forma ela era uma escrava.
Sarai, como qualquer mulher hebréia sem filhos, não se sentindo realizada
entregou Agar para Abraão para que por meio dela pudesse dar-lhe um filho. O
filho que nascesse, seria contado como o filho dela. Agar não ganharia nada em
troca por sua participação nesse esquema. Ela dormiria com o marido da patroa,
ficaria grávida, daria a luz a um filho e não teria direito sobre nada. Nem seu
próprio corpo, nem a vida do filho.
Se esta história tem uma vítima, é Agar. Ninguém jamais perguntou: -Agar,
você gostaria de ter um filho com Abrão? Abrão nunca teve um relacionamento com
Agar. Ele apenas possuiu o corpo de Agar. Isso é uma violência. Por sorte dela, ela
engravidou. Finalmente nasceu o sol para ela. Ela tinha alguma coisa que sua dona
não tinha. Ela conseguiu o que Sarai, com toda sua beleza não havia conseguido.
Acho sua reação era mais que natural. Ela, no fim de contas, “estava com rei na
barriga”. Ela era superior à dona estéril. Era uma forma de jogar pedras no barraco
do sofrimento. A senhora Sarai não tem filho, mas Agar tem. Ela, de repente, virou
gente, pelo menos na sua cabeça. E diante das ordens de sua senhora, Agar ganha
coragem para dizer pela primeira vez: "- Faça você mesma!".
Isto foi o suficiente para Sarai, morrendo de ciúmes, inveja e raiva, reclamar de
Agar ao seu marido. E ter sua autorização, para se vingar de sua Serva. E segundo
o verso 6 ela a humilhou-a “segundo o costume pôs uma marca horrível de
vergonha sobre o seu corpo”. Agar, desesperada, foge - começou a correr na
direção do Egito (Sur é referência as fortificações fronteiriças do Egito). Como
qualquer mulher em apuros, ela procurou a casa dos pais.
Passados 15 anos Agar, enche novamente as mãos de pedras diante da injustiça
praticada por Sarai, ou Sara, a partir de então. Por causa de uma brincadeira
maldosa de adolescente, Sarah exige que Abraão expulse Agar e seu filho.
Novamente Agar é marcada por Sara. Agora com a marca da morte. Ela estava
marcada para morrer no deserto.
Ali, ela olha para a direita – só areia; para a esquerda - mais areia. Para frente,
para trás, ao norte, ao sul, em todas as direções, nada mais que areia. De tantos
anos de serviço não sobrara nada além de um mundo de areia e um sol escaldante.
Não há nuvem no céu, não há nada. Só o céu, o sol, a areia, uma mulher, e um
adolescente deitados, com o rosto e os lábios queimados e inchados pelo sol.
Ismael, seu filho, está gemendo porque ele está morrendo de sede. E a única coisa
que Agar pode fazer foi se afastar dele para não testemunhar a sua triste morte.
Se ela tivesse lágrimas, ela choraria, mas não tinha como derramar uma
lágrima. Ela também está ressecada. Debaixo do sol tão cruel, ela tem um coração
queimado, queimando de ódio. Ela olha para um pequeno odre que está vazio e
sente desespero total. Ela não sabe o que fazer para salvar sua vida, nem a vida do
filho. Ela está no deserto com um odre vazio e um filho morrendo de sede por
causa de uma injustiça tremenda. Para essa mulher não há pedra suficiente para
derrubar a casa do sofrimento.
Mas o que fazer quando nós estamos nesta situação? Desesperados, destruídos
por dentro diante da injustiça praticada conosco e a única vontade que nós temos é
de encher as nossas mãos de pedras e jogar nos algozes da nossa esperança?
4. Para que atirar pedras se Deus tem nos dado uma missão em nossas
mãos?
Interessante notar como Deus restabelece a vida de Agar para os trilhos da
esperança. Ele tira as pedras e coloca o filho em suas mãos. Porque, sem perceber,
em seu desespero e ódio, Agar tinha abandonado seu filho. Na primeira dificuldade
abandonara a sua patroa, agora, abandonara o seu próprio filho. Agar era afeita a
fugir das dificuldades (ver 16: 6,8). Pegar pedras sempre é mais fácil do que
olharmos para a nossa responsabilidade. As pedras não são solução, são uma fuga.
Não podemos abandonar tudo, e esquecer-nos do mundo a nossa volta quando
estamos sofrendo. Deus não nos dá licença para curtirmos nossa dor e esquecer-
nos das nossas responsabilidades. Mas Deus manda Agar tirar seus olhos do
próprio sofrimento e cuidar do filho.
Quem sabe você não está como Agar. Sem rumo, sem promessa, abandonado,
e com as mãos cheias de pedras. Mas eu gostaria de desafiá-lo a deixar Deus tirar
essas pedras das suas mãos para que você possa provar do seu amor e da sua
água viva. Não há pedra suficiente neste mundo para aliviar sua dor. Mas ele nos
disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos
aliviarei" (Mt 11.28). Agora, com suas pedras no chão, use-as para construir um
altar. Encontre o Deus verdadeiro, receba seu conforto e diga, como Agar: "Eu vi o
Deus que me vê!" Creia nisto!