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VEREDAS E “ATALHOS”
Março/ 2010
Dissertação submetida à avaliação do Mestrado em
2
“A História é um cemitério de aristocracias.”
- Vilfredo Pareto
de rester soi.”
- Jules Michelet
3
Resumo
2011. Investigam-se os diversos tipos de recursos utilizados como forma de capital político e as
Abstract
Sergipe, focusing on the 16th legislature of Sergipe State's congress, taking place between
2007-2011. It researches the various types of political resources used as political capital and the
logics that link them on the insertion processes on the political field. In this way, the main
subject are the resources used for admittance and support of the power structures, the forms of
4
LISTA DE SIGLAS
AL – Assembléia Legislativa
DEM – Democratas
PP – Partido Progressista
PR – Partido da República
PV – Partido Verde
Sergipe
6
ÍNDICE DE QUADROS
geográfico.................................................................................................................................. 20
ÍNDICE DE GRÁFICOS
7
SUMÁRIO
Resumo / Abstract................................................................................................................... 04
Agradecimentos....................................................................................................................... 09
Introdução................................................................................................................................ 11
Considerações finais................................................................................................................ 88
Bibliografia.............................................................................................................................. 92
Anexos......................................................................................................................................100
8
Agradecimentos
Este trabalho foi marcado por muitas pausas. Cada retomada era sempre muito
difícil. Mais difícil, porém, era a idéia de desistir, quando outras urgências se apresentavam. E
nesses momentos em que se fazia difícil até caminhar, não faltaram mãos para me ajudar a
orientador, Prof. Ernesto Seidl, que me apresentou uma nova perspectiva de análise dentro da
horizonte intelectual, mas também, pela cortesia, sempre; pelas críticas e, sobretudo, pela
Sou grata também aos professores Paulo Neves, Ulisses Rafael e Rogério Proença,
os quais, mais do que lições de sociologia, ensinaram, muitas vezes, lições de vida.
E como não poderia deixar de ser, agradeço sinceramente, a todos aqueles que
colaboraram para tornar este projeto uma realidade, especialmente a Tarciso Menezes, pelo
deputados André Moura e Mardoqueu Bodano, pela atenção, receptividade e boa vontade, que,
Dedico esse trabalho à minha filha, Emily Clark, por respeitar o meu tempo, como
poucas crianças fariam; e ao meu irmão Marcelo Bahia Gomes (in memorian), que embora
9
fosse sempre o outro lado da moeda, me fazia lembrar o quão importante é continuar. Sim,
10
Introdução
seleção de elites políticas em Sergipe, com foco na 16ª legislatura da Assembléia Legislativa do
múltiplos recursos em capitais políticos, bem como as lógicas que conectam esses recursos nos
Segundo Seidl (2008: 7 – 9), a renovação do interesse nas Ciências Sociais pela
temática das elites deve-se, sobretudo, ao reposicionamento desses estudos sob um novo
referencial, no qual as “elites” ou grupos dirigentes passam a ser apenas um ponto de partida
para a análise das estruturas de dominação e de poder em lugares e tempos diversos, suas
formas de legitimação e lógicas de ação. Essas lógicas peculiares a espaços sociais dotados de
múltiplas dimensões assumem orientações e princípios específicos a cada uma delas, revelando
muito mais que a caracterização de uma elite, mas as suas bases sociais e os caminhos
Embora a definição da noção seja imprecisa, são tomados como “elites” os grupos
que exercem funções importantes no topo das hierarquias sociais – independente do campo de
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homogêneo (notadamente no caso de uma ditadura)”. (SAINT
MARTIN: 2008; 48-49).
A observação dessa pluralidade permite à sociologia estudos que vão além da mera
que circunscreve a 16ª legislatura. Estas lideranças foram escolhidas pelo papel representativo
que exercem na política local. O eventual afastamento dos titulares por motivos pessoais ou
profissionais, bem como as renúncias aos cargos em função das vitórias nas eleições municipais
no município de Lagarto – não alteraram o seu escopo. A pesquisa foi efetuada a partir de
determinado período histórico. Vista como uma ferramenta auxiliar aos métodos quantitativos,
recrutamento e seleção que definem suas trajetórias sociais (HEINZ; 2006: 9). Pela definição
de Lawrence Stone:
“A prosopografia é a investigação das características comuns do
passado de um grupo de atores na história através do estudo coletivo
12
de suas vidas. O método empregado consiste em definir um universo
a ser estudado e então a ele formular um conjunto de questões
padronizadas – sobre nascimento e morte, casamento e família,
origens sociais e posições econômicas herdadas, local de residência,
educação e fonte de riqueza pessoal, ocupação, religião, experiência
profissional e assim por diante (...). O propósito da prosopografia é
dar sentido à ação política e ajudar a explicar a mudança ideológica
ou cultural, identificar a realidade social, descrever e analisar com
precisão a estrutura da sociedade e o grau e natureza dos movimentos
que se dão em seu interior”. (STONE, apud HEINZ, op.cit.).
que está em jogo, mas o desempenho desses atores políticos diante das interpretações e
Para isso, utilizou-se como fonte de pesquisa as trajetórias de vida, levantadas por
escritos por terceiros e publicados em jornais locais. Através desse material é possível analisar
recrutamento e seleção dos respectivos parlamentares de acordo com suas trajetórias políticas.
Infelizmente, não pudemos contar com material de campanha – salvo os jingles dos então
candidatos a deputados Gilmar Carvalho e Prof. Wanderlê – o que teria sido de grande valia,
pois este tipo de material mostra-nos como o candidato se apresenta a algumas bases
específicas ou ao eleitorado como um todo, posto que as campanhas eleitorais são tidas como
um momento de recomposição das conexões entre o campo social e o campo político, com o
acordo com os partidos e assessores, todo material de campanha é utilizado na campanha, “até
atual elite parlamentar, considerando ser este um quadro dinâmico e, por isso, mutável, ainda
13
que nesta mutabilidade sejam deixadas bases de herança. A partir deste recorte, a primeira fonte
de pesquisa foi a ficha de inscrição de candidatura, disponibilizada pelo TRE, na qual constam
forma linear e constante, a observação dos indivíduos partícipes de determinado grupo, permite
perceber as diferentes modalidades de recursos que possibilitam a entrada na política local, não
da AL-SE.
recrutamento e seleção de elites políticas em Sergipe. Embora o estudo sobre “elites” não seja
âmbito local, está na orientação teórica a qual ele se filia, cuja abordagem privilegia a análise
das diferentes lógicas de ação social que legitimam essas elites, fundamentada na noção de
1
A idéia de campo emerge como uma configuração de relações dadas socialmente. Através da distribuição das
diversas formas de capital os agentes participantes em cada campo obtém as capacidades adequadas ao
desempenho das funções e à prática das lutas que o atravessam. As relações existentes no interior de cada campo
definem-se independentemente da consciência humana. Na estrutura objetiva do campo (hierarquia de posições,
tradições, instituições e história) os indivíduos adquirem um corpo de disposições, que lhes permite agir de acordo
com as possibilidades existentes no interior dessa estrutura objetiva.
14
compreender o problema das formas de legitimação social através da reconversão de recursos
diferentes elites políticas; Seidl, cujo olhar volta-se sobre as elites militares e eclesiásticas do
Rio Grande do Sul; Reis, que analisa carreiras construídas sobre repertórios ligados à “luta
Na ausência de estudos sobre o mesmo tema, tomou-se como referência – para fins
(1985-2000)” de Ibarê Dantas (2002), o qual faz uma rica descrição das dez eleições ocorridas
nesse período, com o intuito de perceber como se deu o processo de construção da democracia
no Estado após o fim do regime autoritário. De acordo com seu relato é possível perceber um
processo muito lento, marcado pela emergência de duas forças políticas conservadoras, antes
alvistas (ligados a João Alves Filho) e os franquistas (ligados à Família Franco), apontados
políticos de oposição2, não raras eram as alianças com os grupos situacionistas. O fenômeno da
2
No pleito de 1985, Jackson Barreto (PMDB), considerado então “a personalidade da oposição combativa de
maior destaque na capital” lançou-se como candidato da Aliança Democrática (PFL, PMDB, PCB, PC do B e
MR8), mesmo sendo pressionado por setores da esquerda a disputar a eleição em uma faixa própria, pois estes não
viam com bons olhos uma aliança com o governo do PFL. (DANTAS, 2002: 30-31)
15
O pleito de 1989 foi marcado pelo fortalecimento do grupo ligado aos Franco, que
apoiou o candidato eleito para a presidência, Fernando Collor de Mello, com destaque para a
atuação do senador Albano Franco, o qual viria a se tornar presidente da CNI no governo
Collor. No ano seguinte, os dois grupos rivais mais fortes do Estado viriam a se aliar,
garantindo mais uma vez a manutenção do status quo até as eleições de 1994, quando, segundo
avalia Dantas, o quadro político local passou por uma renovação significativa, em função da
Antonio Carlos Valadares (PP) e José Eduardo Dutra (PT) e três deputados federais: Jerônimo
Reis (PMN), Bosco França (PMN) e Marcelo Deda (PT); apesar da eleição de Albano Franco
para o governo do Estado, com o apoio de João Alves. Em 1996, as eleições municipais
surpreendem, não só pela penetração dos grupos esquerdistas no interior, como também pela
aliança do PT com o PFL no segundo turno das eleições, agravando as diferenças internas no
Partido dos Trabalhadores. Os desgastes e cisões ocorridos entre os oposicionistas nesse pleito,
entre outros fatores, tornaram a derrota do governador Albano Franco mais difícil, o qual foi
reeleito em 1998, trazendo consigo a terceira geração dos Franco, um para a Câmara dos
Deputados e outro para a Assembléia. Finalmente, em 2000, Marcelo Déda (PT) assume a
Do período estudado pelo historiador Ibarê Dantas ao período que marca o recorte
desta pesquisa há um lapso de sete anos, durante os quais novos agentes passaram a atuar no
heterogeneização das elites políticas não representa a extinção dos antigos mecanismos de
reconversão política, mas uma diversificação de recursos de entrada, seja para estabelecer-se
como membro dessa elite, seja para manter sua condição diante das transformações intrínsecas
A grande dificuldade imposta na fase da pesquisa empírica foi a realização das en-
trevistas com os parlamentares. A impossibilidade de acesso foi agravada pelo momento políti-
co. A fase inicial da pesquisa de campo coincidiu com o período pré-eleições municipais. Com
parlamentares que nesse momento dispuseram de um tempo em sua agenda para auxiliar essa
pesquisa com a narrativa de suas trajetórias por eles mesmos. Passado o período eleitoral, logo
gabinetes tenham sido contactados mais de uma vez, por diversos canais, em sua grande
maioria, o acesso ao deputado foi dificultado ou inviabilizado. Muitas vezes foram necessárias
várias visitas para conseguir contato tão somente com assessores, alguns dos quais
entrevista. Houve ainda recusas peremptórias em colaborar, sob o argumento que a pesquisa
não interessava ao deputado. A ausência da entrevista, sobretudo as inúmeras idas e vindas sem
diz respeito ao levantamento dos dados. Obviamente, um trabalho que se pauta em trajetórias é
enriquecido com o olhar em primeira pessoa. A falta da entrevista, entretanto, não inviabiliza a
pesquisa. Sendo figuras públicas, muitos dos parlamentares, em algum momento de suas vidas,
importantes, em alguns de seus discursos, acerca dos caminhos trilhados por eles mesmos.
se trabalhar uma base de dados para análise, muitas vezes, incompletos e com informações
limitadas, sobre questões que, a priori, parecem óbvias. Há ainda o problema da codificação das
17
O trabalho está dividido em quatro partes. No primeiro capítulo a pesquisa se volta
serviram de capital político possibilitando essa empreitada. O segundo capítulo volta-se para o
tem contribuído como um atalho para o triunfo eleitoral. O terceiro capítulo visa analisar a
militância estudantil e sindical como recursos de entrada no campo político e seus efeitos na 16ª
legislatura da AL. A última parte apresenta algumas considerações acerca do perfil da 16ª
abertura para novos questionamentos, pois este trabalho não tem a menor pretensão de oferecer
um tratamento completo ou definitivo do assunto. Escrever sobre política, tomando como base
a progressão de carreira de agentes políticos que ainda estão atuando e construindo essas
carreiras, com dados muitas vezes fragmentados, constitui-se numa tarefa extremamente
complexa. O que importa, acima de tudo, é a possibilidade de que as questões aqui suscitadas
18
Capítulo I – Herdeiros na política: entre “vocações” e construções.
acesso a vagas para todos os cidadãos dentro do aparato político do Estado, na medida em que a
escolha desses representantes é feita mediante voto popular. Diferente de outros regimes
democracia abre espaço para uma luta de caráter simbólico acerca do sentido das coisas,
emergem dentro de condições peculiares, sob certos determinantes econômicos e sociais, onde
inativos.
vida política pode ser descrita segundo a lógica da oferta e da procura, um lugar onde são
gerados, na concorrência entre os agentes que estão envolvidos, produtos políticos, problemas,
programas, análises, conceitos, acontecimentos, aos quais os cidadãos comuns, devem escolher
instituições, através de redes sociais tecidas a partir de múltiplos recursos. Mas o que leva
determinados indivíduos a acreditar que estão aptos para desempenhar esta tarefa? Que
19
representantes do povo, reafirmando suas posições nas suas diversas esferas de atuação, tendo
como fim o uso político dos recursos sociais de cada uma dessas esferas. O voto, que segundo
Palmeira (1992 e 1996) tem, para o eleitor, o significado de adesão, isto é, de posicionamento
social; é caracterizado por Gaxie (apud GRILL: 2008), numa analogia entre o mercado político
e o mercado econômico, como uma transação condicionada pelas disposições sociais dos
agentes em disputa.
acumulados por grupos familiares emergem como um trunfo eleitoral, através da valorização de
geográfico:
Parentes na Política
Capital 04
Interior 11
Capital + Interior3 02
Sem vínculo c/ parentesco 09
Total 26
3
A projeção política de uma família em dois espaços distintos, simultaneamente, pode ser justificada pela
quantidade de membros atuantes na política diacronicamente, como é o caso da família Franco. Entretanto, o
segundo caso apontado, revela uma dinâmica diferente, de construção de uma nova “tradição familiar” com uma
base eleitoral no interior do Estado. Essa dinâmica, cada vez mais freqüente, implica disputa do poder executivo
de determinado município após o agente ter alcançado um posto de maior destaque como Deputado Estadual.
20
No universo da 16ª legislatura da Assembléia Legislativa de Sergipe, 65,3% dos
parlamentares estiveram imersos em uma ambiência política dentro do domínio familiar, fator
Patriat (apud GRILL: 2008), a “herança política” é uma forma de atuação política que se
sustenta sobre vínculos de parentesco consangüíneo ou por aliança. A projeção dessa herança
pode tanto ter um alcance mais amplo, atingindo todo o Estado, como se organizar,
contrário, antes de se lançar numa disputa em nível estadual, 76,4% deles precisam reafirmar
sua força política em âmbito local, considerando as peculiaridades de cada disputa municipal,
porque nem sempre essas famílias possuem hegemonia política no seu município, o que implica
no enfrentamento com outros grupos ou famílias que lhes polarizam na instância local.
que permitem incutir nos agentes sociais disposições duráveis, competências treinadas,
inclinações estruturadas para pensar, sentir e agir de determinada maneira, influenciando suas
respostas às coações e requisições do meio social em que vivem – sendo perceptível através de
elementos como profissão dos pais, nível de escolaridade, a rede de relacionamentos e o lugar
eleições um caráter personalista, segundo o qual, ser natural de outra localidade (“forasteiro”,
determinada região não basta como garantia de elegibilidade. Segundo Palmeira (1996: 46-47)
favor/ajuda não representa necessariamente uma promessa explícita de voto, mas sim um
21
vínculo tácito criado com o eleitor, que faz com que a sua resposta emocional seja votar
rança política baseiam-se na reputação coletiva familiar e nos alicerces de fidelidade acumula-
das pelo grupo familiar, como é possível perceber através da fala da deputada Susana Azevedo:
“Na primeira vez em que disputou eleição no ano de 1988 pelo PFL, foi eleita
em 6º lugar. Reconhece que esta conquista deve muito a seus pais, ao tio Gui-
do Azevedo e aos amigos. ‘Poucas pessoas me conheciam. Eu era a filha de
Tertuliano Azevedo. O nome da família pesou muito na primeira eleição’”.
(Depoimento da Deputada Susana Azevedo em entrevista concedida ao jorna-
lista Osmário Santos, publicada no Jornal da Cidade em 12/03/1995).
ras. Segundo Bourdieu (2001), os efeitos sociais da ação familiar, das lógicas impostas pelas
censuras veladas e pelas afirmações categóricas também determinam a divisão de trabalho entre
os sexos, a partir de ações educativas, que influenciam de forma preponderante a busca do reco-
nhecimento.
ocupadas por mulheres na Assembléia Legislativa aumentou de 15,38% em 1999 para 23% em
22
Gráfico 01. Distribuição de parlamentares por gênero:
25
22
20 20
20
15
HOMENS
MULHERES
10
6 6
5 4
0
14ª LEGISLATURA 15ª LEGISLATURA 16ª LEGISLATURA
conviviam com uma ambiência política no espaço doméstico. Dentre essas últimas, duas
possuem irmãos também políticos; uma tem no irmão – falecido cedo – uma referência
histórica de militância, embora não sejam propriamente contemporâneos; outra possui apenas
última, era a filha mais nova em uma família com 16 filhos, cujo pai é qualificado por ela como
feminista4.
berço. Ela se apresenta como resultado de um processo seletivo interno, pois ao assumir a
familiar, mas também os deveres para com a perpetuação da tradição. A tradição nesse caso não
está relacionada a ideologias ou projetos políticos, mas sim à permanência da família nas
4
.“Ele queria que nós, mulheres, suas filhas, tivéssemos uma profissão e que nos interessássemos por arte,
literatura e que fossemos independentes. Nos incentivou a ter opinião própria e defendê-las. Ele era um feminista,
defendia e incentivava um papel de destaque para as mulheres. Ele adorava a vida, era um otimista, deixou essa
herança". Dep. Dep Tânia Soares (op. cit.)
23
esferas do poder. O processo seletivo, que começa na família, privilegia os membros mais aptos
à disputa, de acordo com as qualidades tidas como critérios de valor para a concorrência com
“Na casa dos seus pais, política sempre esteve em todas as refeições,
no respirar e no transcorrer dos dias. Desde cedo, ajudando o pai em
campanhas políticas, deu os primeiros passos fundamentais para a
decisão de disputar eleição para a Câmara dos Vereadores. Para se
candidatar, teve que ser, inicialmente, aprovada em convenção
familiar. ‘Tinha duas irmãs que estavam querendo, mas fui eleita
porque acharam que eu era a mais extrovertida, mais
comunicativa’” (Depoimento da Deputada Susana Azevedo em
entrevista concedida ao jornalista Osmário Santos, publicada no
Jornal da Cidade em 12/03/1995).
numa tarefa ainda mais complexa para os agentes que são recebidos na família através da união
matrimonial com um de seus membros, considerando que o neófito na família não recebeu os
mesmos estímulos passados para os filhos e, sendo genro, também não dá continuidade ao so-
brenome familiar. Nesses casos, o respaldo da família extensa tem quer ser conquistado através
zerra.
“Minha esposa vem de uma família política, então, quando nos casa-
mos, comecei a trabalhar, nas minhas escolas, o nome dessas pessoas
que eram nossos parentes através de minha esposa. Eram deputados,
prefeitos do interior do estado, de Tobias Barreto. (...) Meu gosto
pela política surgiu do intuito de ajudar os familiares. Foi quando
chegou um momento em que me vi tão envolvido, que resolvi dispu-
tar um mandato político. No início foi difícil, porque as pessoas que
estavam sempre ligadas à política eram da família da minha esposa,
não da minha família, então eu tive certa restrição. Da primeira elei-
ção (1986), eu participei sem chance nenhuma. Só participei para ver
como era o quadro, sem ter grandes respaldos políticos.” (Depoimen-
to do Dep. Augusto Bezerra, concedido em entrevista no dia
18/11/2009, para essa pesquisa).
As virtudes tidas como características do perfil político não são meramente apresen-
tadas aos possíveis herdeiros. Ao contrário, o processo de construção do indivíduo político pas-
24
sa por um processo não-mecânico5 de repetições de disposições transmitidas e herdadas em
consonância com os sentidos práticos no que tange às regras dos jogos sociais e suas recompen-
sas simbólicas.
familiares é quase sempre evocado como uma disposição natural de “carisma” e “vocação”,
diante do qual a transmissão de poder, objetivamente, não tem papel representativo. Os legados
que dão sustentabilidade a esses grupos, é o reconhecimento de um status social. Esse status
um recurso político implica na construção de uma nova identidade social, embora o nascimento
de um novo agente político dentro de uma família de políticos seja sempre apontado como uma
5
Segundo Bourdieu, o processo de inculcações de disposições não ocorre de forma mecânica, pois estas passam
por uma série de ajustamentos infinitesimais necessários a uma trajetória social. O destaque é dado pelo autor para
evitar a interpretação da noção de habitus por meio de uma representação mecanicista da aprendizagem, que pode
ver no conceito uma variante social do que se entendia por “caráter”: um destino fixo e imutável. (BOURDIEU;
2001)
25
“A ‘vocação política’ é, então, o produto do encontro entre disposi-
ções, investimentos e coações referentes ao espaço político que se
define pela aquisição de uma libido social. As recompensas simbóli-
cas provenientes da adesão ao universo político dependem da crença
no jogo e da predisposição em agir em nome da satisfação em jogá-
lo.” (GRILL, 2003: p.119 - 120).
Segundo Bourdieu (2001: p. 200), o processo de formação pelo qual alguém se tor-
mesmo quando sancionado por ritos de passagem. Começa na infância, em alguns casos antes
do nascimento, mobilizando o desejo socialmente elaborado dos pais e prossegue sem grandes
conflitos, na maior parte das vezes. Nos relatos dos parlamentares, um ponto em comum, acer-
ca de suas relações de parentesco, não raro os caminhos pelos quais a família enveredou são
destacados pelos mesmos não como uma influência sobre a decisão de trilhar a mesma senda,
mas sim, como se esta fosse a estrada natural por onde deveriam seguir. O relato do Dep. An-
família, como forma de garantir a coesão e a unidade política por um período sem contestação.
de problemas, logo assume um caráter regionalista, neste caso, abrangendo todo o sertão
transmissão hereditária, no caso francês, como uma possibilidade dos filhos da nobreza,
grandes proprietários rurais perpetuarem a condição de status familiar. O ponto em comum com
o caso local é que, assim como os nobres franceses em seus “feudos”, os filhos de políticos do
interior do Estado, notadamente proprietários de terra, costumam ter uma boa votação em sua
“região”. Dogan aponta ainda para um outro tipo de “vocação hereditária”, distinta das
republicana. É possível fazer uma analogia deste com outro fenômeno: a emergência de uma
profissionais liberais, envolvidos direta ou indiretamente nas lutas pela democratização do país,
geracional” por agentes que ingressaram na política nos movimentos de contestação ao regime
6
José Eunápio dos Santos, também conhecido como “Gato”, vereador do município de Aquidabã, foi o
emancipador do município de Graccho Cardoso, antes Povoado do Tamanduá. Ele foi também o primeiro prefeito.
Também foram prefeitos do município seu irmão Humberto (pai do Dep. João das Graças); seus sobrinhos: Moisés
dos Santos, João, Erílio e Eunápio; e o marido de sua sobrinha, Gisélio. Em referência ao político-fundador, esse
agrupamento político é conhecido em Graccho Cardoso como “os Gatos”.
27
militar manifesta-se como a apropriação desses repertórios de mobilização, com o fim de
dinâmica de reformulação exigida pelo momento de crise, aliado à expansão do espaço dos
uso do passado como trunfo eleitoral. Enquanto os “herdeiros” usam o passado através da
que reivindicam esse “pertencimento geracional” buscam com isso a sua legitimação como
ou não, incorporada nos discursos políticos dos que avocam para si a bandeira oposicionista,
configurações históricas. O caso da Dep. Ana Lúcia, cujo irmão, o poeta Mário Jorge – já
falecido – foi preso e torturado durante o regime militar pode ilustrar uma conjuntura histórica
28
“Da infância, muitas marcas ligadas à política. Seu pai foi cassado
pelo Golpe Militar de 1964 e houve a necessidade de mudança de
cidade. ‘Tivemos que nos mudar para o Rio de Janeiro, onde tudo
era difícil, porque ninguém oferecia emprego a um comunista’”. 7
(SANTOS, 2002, p. 750).
Uma forte influência familiar foi relatada de forma emotiva pela Dep. Tânia Soares.
Mergulhando nos espaços e nas experiências do meio familiar, ela reconstrói a sua bagagem de
heranças:
"Papai verdadeiramente era um intelectual, um sonhador, um
humanista, um comunista. Foi dirigente do "Partidão" em Estância:
Prestes e Gregório Bezerra contaram com sua ajuda para se
esconder e fugir da repressão quando passaram por Sergipe. Por sua
vez, papai contou com a ajuda de grandes empresários, seus
amigos, para ajudar a seus companheiros em fuga. Sempre fugindo
da repressão, papai chegava se esgueirando nas fazendas da família
da minha mãe para fugir nos mangues da fazenda do meu avô, ou
nos Pilões da minha tia Nininha, irmã da minha mãe. (...) Ele foi
preso em 54 [sic] e ficou na carceragem da Marinha, ali na Rua da
Frente, na mesma cela que seu Bittencourt, ferroviário comunista e
muito meu amigo hoje. Eu tenho muito orgulho da herança que
meu pai me deixou: a sua visão de mundo, uma visão universal, de
igualdade, de solidariedade, de amizade, de desprendimento e de
gostar de todos sem distinção. Ele me deixou a certeza de que o
mundo estava sempre em evolução e que o nosso papel era lutar
para construir esse mundo novo. A maior alegria do meu pai foi eu
ter entrado pro PC do B, ainda em 1982. Ele queria que nós,
mulheres, suas filhas, tivéssemos uma profissão e que nos
interessássemos por arte, literatura e que fossemos independentes.
Nos incentivou a ter opinião própria e defendê-las. Ele era um
feminista, defendia e incentivava um papel de destaque para as
mulheres. Ele adorava a vida, era um otimista, deixou essa herança"
(Depoimento da Deputada Tânia Soares em entrevista concedida ao
jornalista Osmário Santos, publicada em 07/02/2006, no portal
Infonet).
de um grupo, em diversos espaços, lógicas e contextos. Nesse sentido merece algum destaque o
7
Depoimento da Deputada Susana Azevedo em entrevista concedida ao jornalista Osmário Santos publicada no
Jornal da Cidade em 12/03/1995 e posteriormente no livro Memória dos políticos de Sergipe do século XX.
Grifo do autor.
29
Filha de Manoel do Prado Franco e Maria Ribeiro Franco, Celinha Franco sempre
esteve “cercada de personalidades políticas”. Seu pai foi por três vezes prefeito de
Laranjeiras, município de Sergipe. Seus tios paternos, Albano e Walter Franco, ocuparam
diversos cargos eletivos de destaque na arena política. O primeiro foi presidente da CNI
Governador do Estado de Sergipe. O segundo foi Senador e Deputado Federal. Por sua vez, o
seu avô, Augusto Franco, foi deputado federal (1967-1971), senador (1971-1979) e governador
Segundo Ibarê Dantas (2002: 212), a família Franco tem como prática a
possível atribuir à família Franco uma projeção no espaço político local e nacional e,
promover reconversões favoráveis à trajetória política de seus descendentes, aos quais cabe a
tarefa de atualizar este capital, por mais que a família possua um notório reconhecimento e
trânsito nas esferas de poder. A construção da tradição política exige algumas pré-condições,
tais quais a aceitação desses agentes como referência no campo político, ainda que local; a
acúmulo das diferentes espécies de capitais: capital econômico, escolar, cultural, social, poder
estreito círculo das elites é necessário aquilo que não se pode adquirir, o tempo”. (SAINT
8
Dantas aponta para a ida de Antônio Carlos Franco para o PMDB em 1997, “formando um aglomerado
heterogêneo de políticos circunstancialmente juntos para fins eleitorais” (DANTAS; 2002: 212).
30
De acordo com Grill (2008: 129), a constituição de heranças políticas se baseia em
não só como uma benesse, mas também como um ônus, devido ao montante de deveres
impostos pela tradição do nome que carrega. Barros Filho (2007: 33-34) ressalta a natureza
familiar nos filhos, seja na instituição escolar, seja na interiorização dos gostos específicos,
parentesco, não são um dado natural, nem mesmo um dado social, mas sim, o resultado de um
pelos pais dos parlamentares da 16ª legislatura, é possível perceber a ampliação dessas redes
sociais por estes últimos através do acúmulo de diferentes recursos em sua trajetória. Dentro
do universo das informações levantadas acerca da atividade profissional dos pais [22 de 26
parlamentares], embora apenas 18% tenham exercido algum cargo político eletivo, 59% deles
eram homens de posses, cuja rede de relações sociais estendia-se também ao campo da
política. Os outros 41% é composto de agentes dispostos nas camadas economicamente menos
abastadas, cuja principal preocupação era poder sustentar suas famílias, ainda que houvesse
ligeiras mudanças no padrão de vida, definindo a preocupação de alguns como maiores que a
de outros.
31
Gráfico 02. Origem dos parlamentares: Profissão dos pais:
5 5
5
4
4
2 2 2
2
1 1 1 1 1
1
O
AL
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O
L
O
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TÔ
LÍ
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LI
PO
PR
AU
PO
centralizar a tarefa de dona de casa, quer possuam uma atividade profissional ou não,
compõem um grupo de análise mais homogêneo. Dentro do quadro levantado, 68,18% delas
dedicavam-se apenas a cuidar de suas famílias; já 31,82% conciliaram a tarefa de mãe e dona
de casa, com uma atividade profissional; sendo que 13,63% eram professoras. Segundo Brito
(2004: 96) famílias com parcos recursos, a limitação da oferta escolar – particularmente em
cidades do interior – além das desvantagens sociais ligadas ao gênero, conduziam as mulheres
político, além das habilidades herdadas, em paralelo com todo o investimento escolar e
32
processa a formação do indivíduo, o treino social e as atitudes que lhes são mais úteis no dia-a-
dia também são socialmente incorporadas, como os saberes e o savoir-faire, que interferem no
rendimento escolar e nas escolhas futuras. Os mesmos saberes não exprimem as mesmas
atitudes e não estão ligados aos mesmos valores: enquanto para uns esses saberes provém da
aprendizagem escolar, para outros, aqueles advêm em primeiro lugar do meio familiar. O
depoimento do Dep. Antônio Passos revela a valorização da formação acadêmica como recurso
a ser reconvertido em capital político, ainda que o exercício da política não fosse empreendido
cultura, a religião, a tecnologia e a política, nos quais tomam lugar as diversas experiências,
sistema escolar provoca uma eliminação tanto maior, quanto mais se caminha para as classes
9
Grifo nosso, para destacar a fala do jornalista Osmário Santos, da fala do deputado Antônio Passos.
33
etc.) que favorecem a estruturação dos grupos, a constituição de
redes e a aprendizagem de modos de gestão das relações e do
exercício da autoridade”. (SAINT MARTIN: 2008; 52)
7 7
7
6
6
5
5 MUNICIPAL
ESTADUAL
4 PARTICULAR
FEDERAL
3
3
1
1
0 0
0
PRIMÁRIO E GINÁSIO CIENTÍFICO / TECNICO OU PROFISSIONALIZANTE
O levantamento e confirmação dos dados escolares foi uma tarefa difícil, uma vez
que a maioria dos dados foi “garimpado”. Dentro do universo levantado [15 de 26], tanto no
escolas públicas. Alguns fatores contribuem para esse fato: 1) a época em que os parlamentares
fizeram os seus estudos: 88,46% dos deputados têm mais de 40 anos de idade. Para essas
exemplo do Colégio Atheneu Sergipense, durante muito tempo o centro formador da “elite
intelectual” sergipana. Apenas um dos parlamentares não concluiu o ensino médio, optando
10
Respectivamente, antigos primário + ginásio e científico.
34
Gráfico 04. Idade dos parlamentares – 16 ª Legislatura
12
10
8
6
4
2
0
Idade 21 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 Acima de
60
maioria dos quais a educação básica e o ensino fundamental do primeiro ciclo são cursados em
considerado o colégio estadual modelo durante várias décadas; três em escolas particulares
Federal. Um traço comum da maior parte desses deputados, no que tange à trajetória escolar, é
superior, dos quais 20,07% deram continuidade aos estudos: 15,38% fizeram cursos de
especialização em suas respectivas áreas e somente um, o Dep. Rogério Carvalho concluiu os
“discurso de autoridade” dentro de cada área do saber. Isso é potencialmente válido no que
tange a questões específicas, voltadas, por exemplo, para a área da saúde ou da educação.
GRAU DE ESCOLARIDADE
20
18
18
16
14
12
10
4
4
3
2
1
0
SUPERIOR COMPLETO SUPERIOR CURSANDO SUPERIOR INCOMPLETO MÉDIO COMPLETO
36
Gráfico 06. Titulação acadêmica dos parlamentares – Cursos da 1ª graduação:
3 3
2 2
1 1 1 1 1
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AT
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IM
EN
U
Q
A elevada titulação em Direito chama a atenção para a idéia comumente difundida
cumpre notar que do universo de parlamentares formados em direito 50% exerceu a profissão,
ainda assim por pouco tempo, antes de serem alçados a cargos de chefia na burocracia estatatal
ou eletivo, como é o caso de Antonio Passos e Venâncio Fonseca. Antônio Passos resume
37
no setor jurídico, mas passamos alguns dias, pois fomos eleitos prefeito da
cidade de Ribeirópolis’
Anos depois, volta ao Ipes na condição de procurador. Em 1993, foi diretor de
Patrimônio do Estado e no ano de 1994 assume a diretoria financeira da
Deso”. (Depoimento do Deputado Antônio Passos em entrevista concedida ao
jornalista Osmário Santos, publicada em 03/05/2006, no portal Infonet).
Venâncio Fonseca, por sua vez, ainda que contasse com uma longa tradição
política familiar, inicialmente dedica-se à posição de procurador do Estado, cargo do qual está
licenciado para exercer seu mandato. Já os deputados Armando Batalha e Susana Azevedo
nunca exerceram a profissão. A opção de Susana Azevedo pela titulação em Direito é oriunda
em capital político, levou o deputado Gilmar Carvalho – que não teve na juventude a
reconversão dão lugar a deslocamentos no espaço social, através, oras do abandono de posições
onde a presença de membros do seu grupo era pouco significativa. Estas estratégias dependem,
econômicos, culturais, sociais e simbólicos que os diversos grupos procuram reproduzir; além
legislatura11. Segundo Charle (1987: 55), este dado é tanto mais simples, quanto o mais
da expectativa de vida, investimento nos estudos para consolidar ou chegar a uma nova
posição) assim como sua trajetória. A idade de admissão seria variável de acordo com a
16ª AL, ainda que os agentes mais jovens sejam notadamente “herdeiros políticos”. A
estratégia adotada pelas famílias é a tentativa de ocupar o maior número possível de cargos
11
Vide gráfico na página 33.
39
Gráfico 07. Idade de entrada na política eletiva – 1º mandato
12
10
10
6
6
5
4
4
2
1
0
ATÉ 25 26-30 31-35 36-40 41 +
Fonte: ALESE
parlamentares ter se elegido para o primeiro mandato com mais de 41 anos, isso não quer dizer
que já não tivessem entrado no campo político anteriormente, seja através da militância, de
atuações nas reivindicações sindicais ou das relações profissionais12, revelando uma opção ou
está inserida na dinâmica de lutas eleitorais, a opção pelo ingresso no metier político por parte
do Dep. Arnaldo Bispo deu-se de forma tardia, não por uma influência, mas pela “necessidade
de ser o quarto colégio eleitoral de Sergipe, com quase 60 mil eleitores13, no qual, no último
pleito, Luciano Bispo foi eleito para o seu quarto mandato com 52,92% dos votos. A
disposição do Dep. Arnaldo Bispo em entrar para o jogo da política se manifesta de acordo
com uma necessidade conjuntural, segundo a estratégia corrente de situar o maior número
político. Assim, o agente neófito faz o seu debut na política contando com a influência da
família, que visa angariar o maior número de apoios possíveis, traduzidos em votos. O neófito,
após a sua entrada, utiliza recursos próprios para arregimentar o seu próprio capital político, a
fim de garantir, através das relações atualizadas, a sustentação parlamentar exigida pela
poder municipal através de acordos políticos, reiterados nas redes sociais de apoios externos e
para o município. Por outro lado, é o apoio local que assegura a eleição no âmbito estadual.
estabelecidos entre deputados e prefeitos são frágeis e podem ser facilmente dissolvidos,
13
Dados da Estatística Eleitoral de Sergipe, divulgada em 2008 pelo T.R.E. – Sergipe.
41
manter o maior número de cargos possíveis dentro da família evidencia-se como estratégia de
Segundo Bezerra (1999) um dos aspectos que levariam à ruptura dos laços entre
também quanto aos benefícios que proporciona pode levar à quebra do compromisso, em
descumprimento de acordos. A situação inversa também pode ocorrer, embora não tenha sido
identificado nenhum caso nesse trabalho. Em todo caso, esse também não é o foco da
dificilmente utilizaria de novo os recursos de suas bases para a eleição desse parlamentar.
Um caso de “herança política” por aliança é ilustrado pelo ingresso do Dep. Luiz
Garibaldi na disputa por cargos eletivos. Após o projeto AGLURB (1986), responsável pela
melhoria dos transportes coletivos em Aracaju, Garibaldi foi convidado a assumir a diretoria
técnica da EMURB (1989), onde conheceu Almeida Lima, à época, presidente do órgão. Em
1994, quando Almeida Lima assumiu a Prefeitura de Aracaju, foi convidado a ocupar a
presidência da EMURB, permanecendo no cargo até ser apresentando por Almeida Lima como
seu candidato à Prefeitura de Aracaju. Embora não tenha sido eleito, sua votação foi uma boa
medição de popularidade nas urnas, o que o incentivou a disputar o pleito seguinte, no qual foi
eleito deputado estadual. Embora a sua entrada na política tenha ocorrido pelas mãos do ex-
prefeito Almeida Lima, a transferência de votos – sempre limitada e provisória, ainda que
passível de ser renovada em diferentes pleitos – não pode ser vista como o principal recurso
política é possível perceber uma combinação maior desta forma de capital com outros recursos,
42
como o uso dos títulos escolares e participação bem sucedida na administração pública, a
Embora os símbolos familiares sejam fenômenos tão intrínsecos à tarefa de classificação dos
capitais políticos. Esse esforço representa, sim, uma nova dinâmica de recrutamento e seleção,
43
Capítulo II – Do exercício profissional à política como profissão
somatória de diversos recursos e experiências proporciona uma maior desenvoltura dos agentes
na arena política. O uso das relações estabelecidas no exercício profissional como recurso
passível de se estabelecer como uma liderança sem precisar, necessariamente, ser inserido
dentro do campo político por um agente que já atua no mesmo, graças ao reconhecimento de
competências tidas como necessárias ou válidas para o campo político (CORADINI: 2001a).
Embora determinadas profissões sejam vistas como proeminentemente políticas, a exemplo das
carreiras nas áreas jurídicas, em função da arte da oratória; e das carreiras ligadas ao
concorrência no mercado político privilegia agentes que desempenham múltiplos papéis. Desta
forma, o exercício profissional por si não é suficiente para assegurar sua conversão em capital
o tipo de devoção afetiva evocada por lideranças que manifestam dons intelectuais ou de
profissões no campo da política, ainda segundo o mesmo autor, em A Política como Vocação.
44
Embora o capital profissional, em muitos casos, não seja o principal recurso social utilizado no
campo político, ele representa um trunfo significativo na somatória de capitais. Segundo André
Marenco (1997), a atuação profissional representa um trunfo na medida em que abre um espaço
estabelecer negociações.
advogados, que estabelecem com seus “pacientes” e “clientes” uma relação baseada no
confiança também é fundamental quando o problema é metafísico e a solução passa pelas mãos
agentes.
Há ainda, dentre essas profissões, aquelas que embora não estabeleçam um contato
direto com seus “clientes”, conseguem uma grande repercussão de sua imagem. Por estarem
utilizar-se da sua atuação no exercício profissional como recurso eleitoral, por serem
mandato dos parlamentares da 16ª legislatura, nos oferece a seguinte composição de profissões
auto-declaradas: 15,38% de professores [7,69% destes são sindicalistas, ao passo que 3,84%
atuam como empresário do ramo educacional]; 11,53% são médicos [destes 3,84% atua como
empresário no ramo da saúde]; 30,76% são empresários de outros ramos, incluindo pecuaristas;
11,53% são formados em direito, mas apenas 7,69% declaram advocacia como profissão;
operário, embora sua principal função profissional antes do primeiro mandato, fosse
representação sindical.
PROFISSÕES
10
9
9
3 3 3
3
2 2
2
1 1 1 1
1
0
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EM
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M
AD
capacidade de falar e serem ouvidos possibilita um sem número de negociações, muitas delas
travadas por meio do discurso. Em função dessas negociações, pela própria natureza de seu
46
trabalho, os jornalistas estabelecem constantemente uma ampliação e atualização de redes
sociais, não apenas como uma estratégia de jogo, mas como uma necessidade intrínseca à sua
existência profissional, parte da regra do jogo. A consolidação dessa rede de relações sociais
permite o acesso à notícia, traduzido em ascensão profissional, quanto maior a sua rede de
relações, pois estas são incorporadas como uma forma de competência profissional. Esta
seus recursos profissionais em capital político de acordo com as redefinições dos mecanismos
como esta escolha está intimamente relacionada a um projeto de reconversão futura, construído
angariar simpatizantes a movimentos e causas eram as principais forças motrizes dos jornais
que se insere a entrada de Tânia Soares na categoria jornalista. Tendo concluído o científico,
abdicou de cursar Ciências Sociais na Universidade da Paraíba – onde havia sido aprovada no
comunicação:
47
da Deputada Tânia Soares em entrevista concedida ao jornalista
Osmário Santos, publicada em 07/02/2006, no portal Infonet).
redefinição das relações com a própria profissão, como observa Coradini (2006a: 76), na
medida em que o candidato é apresentado como uma liderança ligada a determinados grupos
É possível apreender também aqui uma perspectiva apontada por Oliveira (2008;
111) em seu estudo sobre elites culturais, militantismo e defesa de causas ambientais, acerca da
importância dada por esses agentes em colocar a formação escolar e acadêmica à serviço do
engajamento político ligado a diversos tipos de movimentos sociais como base para sua
bases sociais, a força do rádio tem sido utilizada por alguns de seus profissionais como um
trampolim para a conquista do êxito nos pleitos eleitorais. A rede de relações constituídas ao
48
longo de anos, no exercício dessa profissão, tem se mostrado em diversos casos um eficiente
imagem construída a partir da relação diária com milhares de ouvintes durante anos. Imagens
não funcionam ou quando o ouvinte não sabe os caminhos a seguir pra encontrar as soluções
que precisa, no que concerne a questões com o Estado. E o radialista, por conseqüência, passa a
ser o “herói” das camadas populares, aquele que fala sem medo de retaliações, que “mata a
A identificação com as camadas mais populares não param por aí. Em se tratando
dos dois parlamentares-radialistas que ocupam cadeiras na AL, Adelson Barreto e Gilmar
Carvalho, é comum, em seus discursos, enfatizarem suas origens sociais por serem egressos
das camadas sociais mais populares. As dificuldades enfrentadas são expostas como troféus,
marca da identificação com as camadas populares. Adelson Barreto encarna o papel do homem
humilde, que não esquece as suas origens. Embora sua prática seja criticada por Gilmar
Assim como Gilmar, Adelson Barreto também vem de uma família desprovida de recursos
materiais e também começou a trabalhar ainda criança para ajudar em casa. Entretanto, ainda
14
Bordão utilizado pelo jornalista Fernando José em seu programa de televisão, eleito prefeito de Salvador em
1988 pelo PMDB. Já o bordão do deputado-radialista sergipano, Gilmar Carvalho, é “o cancão vai piar”, em
alusão ao pássaro (considerado o observador da caatinga), que pia ao menor sinal de algo estranho para avisar os
outros animais.
49
que ambos tenham posições políticas bastante distintas, um ponto comum se destaca: o uso
“‘Para se ter uma idéia, minha família era tão pobre que de
madrugada eu já estava acordado para buscar frutas para alimentar
meus pais e seus oito filhos. Recebia algumas frutas que não
passavam pela seleção dos feirantes. Frutas manchadas,
amadurecidas demais, mas todas elas eram indispensáveis em nossa
casa diante da situação de pobreza de nossa família’. De tanto ir à
Ceasa acabou conquistando um emprego para vender frutas aos 12
anos de idade. ‘Eu chegava em casa da escola por volta da meia-
noite, ia dormir à 1 hora, acordava às 3h para estar na Ceasa às 4h
para vender frutas’(...) ‘Como não tinha recurso, minha mãe no
quintal da nossa residência plantou cidreira. Quando um filho
estava com dor de cabeça, cidreira... cortou o pé, cidreira... dor de
barriga, cidreira.... Todo tipo de doença o mesmo chá: cidreira,
porque era o remédio que a minha mãe tinha. É por isso que as
pessoas não entendem o fato de eu entrar na vida pública e
amparar, sobretudo, as pessoas carentes. Alguns condenam’”15.
(Depoimento do Dep. Adelson Barreto concedido em entrevista ao
jornalista Osmário Santos, publicado em 03/04/2006 no Portal
Infonet).
também radialista. A projeção do seu trabalho levou-o a ser convidado a fazer parte da equipe
social”, apresentada por Adelson Barreto que visitava famílias com dificuldades em suas casas
e conclamava a sociedade a ajudar. O programa recebia doações que eram repassadas para os
15
http://igc.infonet.com.br/imprimir.asp?codigo=12422&catalogo=5&inicio=24
50
“Nós fazíamos o programa chamado Rede Cidade. Bareta fazia a
parte de polícia e eu a parte social. Isso em 1995”. Em 1996 se
candidata a vereador de Aracaju pelo PFL. Não tinha carro, equipe
na rua, não tinha santinhos. Recebia 500 santinhos do partido e
pedia aos colegas que tirassem cópias. “Pensava que daria para uma
campanha toda. Que nada, começamos pela manhã e por volta das
9h não tinha mais nada. Me lembro que teve uma grande
quantidade de pessoas que tive de colocar o meu número em uma
das mãos para servir de lembrete no dia da eleição. Para a minha
surpresa, fui o vereador mais votado de Aracaju. Ganhei o primeiro
lugar da eleição municipal de 1996. Para se ter uma idéia, naquela
época um vereador se elegia com 1.200 votos. Nós tivemos 4.600
votos. Dava para eleger três vereadores. Trabalhei tanto que na
última semana amanhecia o dia trabalhando. A eleição foi no
domingo e no domingo desmaiei. Fui internado no Hospital São
José e quando acordei, na quarta-feira, fui saber do resultado”
(Depoimento do Dep. Adelson Barreto concedido em entrevista ao
jornalista Osmário Santos, publicado em 03/04/2006 no Portal
Infonet).
cadeiras de rodas ou quaisquer benefícios ligados à saúde ou que tirem o necessitado de uma
situação de risco, não são “pagos” com o voto apenas pela lógica da retribuição. O sentido do
o do poder público – para assistir mais pessoas. O agente, cujas virtudes são tidas como
necessárias para um representante do povo se faz presente no cotidiano desse cidadão além do
tempo da política; fora do tempo das promessas. Segundo Moacir Palmeira, “a lealdade
política, a lealdade do voto é adquirida via compromisso: (...) a lealdade política tem a ver
51
Pó sua vez, Gilmar Carvalho conta do primeiro trabalho aos 12 anos como feirante;
dos fretes que fazia com carrinho de mão na frente do supermercado; da venda de picolés aos
domingos no campo de futebol até o primeiro contato com o rádio, no serviço de som da
cidade de Itabaiana:
Impacto, que o alçou à Rádio Jornal e em seguida à Rádio Liberdade, ambas em Aracaju, cujo
camadas mais carentes do eleitorado une-se também ao ideário do “self-made man”, aquele
que emergiu da pobreza graças ao seu talento, disciplina, persistência e, sobretudo, do trabalho
árduo e honesto. Segundo Pierre Bourdieu (2000: 61), o poder das palavras se estabelece na
relação entre um corpo social encarnado na imagem do porta-voz, cujo discurso de autoridade
16
Depoimento do Dep. Gilmar Carvalho concedido em entrevista ao jornalista Osmário Santos.
17
Depoimento do Dep. Gilmar Carvalho concedido em entrevista ao jornalista Osmário Santos.
52
é reconhecido pelos agentes socialmente moldados para reconhecê-lo como autoridade e como
seus representantes. Daí a importância de centrar-se no ethos do cidadão digno e honesto ser
uma vantagem significativa no plano retórico, construir uma imagem de trabalhador sob os
mesmo tempo em que vincula a sua imagem a valores como “liberdade de imprensa”,
sobretudo, liberdade de expressão. Tal imagem se fortalece diante da difusão de notícias como
até ser vista como uma estratégia circunstancial, reafirmando a riqueza daquilo que pode vir a
histórico-sociais.
53
Cabe aqui observar um episódio específico envolvendo o Dep. Gilmar Carvalho.
No referido episódio, o deputado foi indiciado pela polícia e denunciado pela Promotoria de
Justiça, sob a acusação de ter arquitetado a compra de um Chevette e ateado fogo no veículo
urbana no final de 2004, gestão do governador João Alves Filho18. O deputado optou pela
renúncia do seu mandato na Assembléia para poder disputar as eleições de 2006, a ser
João Alves Filho, qualificando-a como “cassação branca” 20. O discurso do vitimizado passa a
ser, mais uma vez, utilizado na arena política sergipana21, como recuso a fim de compadecer o
eleitorado:
como vítima de um governo despótico, perseguido por defender o povo, evocando memórias
“Não tenho a menor dúvida [de que seria cassado pela Comissão de
Ética], ia apenas cumprir a formalidade, nós estamos num tribunal
político, num tribunal de exceção (...) O que nós temos nesse país
são verdadeiros tribunais de exceção”. (Idem; fl. 13)
utiliza-se de toda a polêmica instaurada em torno de sua renúncia como recurso eleitoral, num
22
O deputado foi inocentado pelo STJ, o qual decidiu pelo trancamento da ação penal movida pelo MP, declarando
a nulidade das provas apresentadas. O julgamento ocorreu em 18/11/2008. Fonte:
http://www.nenoticias.com.br/lery.php?var=1238667007
23
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=LjGyYdx4DSA
55
demarcando tanto os princípios da ordem política estabelecida, quanto a zona limítrofe de
momentos emergem.
centro do seu discurso eleitoral. Tendo sido “vítima” de uma injustiça, de uma “cassação
branca”, o radialista trazia no discurso a lógica da “justiça” a ser feita pelo eleitorado a fim de
continuar a tarefa à qual fora incumbido pelo povo e impedido de executar. Simbolicamente,
sua reeleição seria a resposta do povo aos desmandos dos governantes. Na dubiedade do jingle
– que dá margem à interpretação do fato julgado como uma ocorrência verídica – está a
Alves e sua política de segurança pública e da incompreensão das camadas menos esclarecidas
de como atear fogo num bem de sua propriedade poderia se constituir um crime.
A polêmica utilizada como recurso político, pode vir associada a diversos outros
hostis em relação ao adversário em votos. Esse tipo de capitalização foi estudado por Irlys
Barreira, num cenário político um tanto mais mórbido. Em “Campanhas em família: as veias
abertas das disputas eleitorais” (2006), Barreira evidencia o luto utilizado como recurso
eleitoral, após o assassinato do prefeito de Acaraú. Toda a polêmica foi gerada em torno do
como solidariedade, justiça, fé, liberdade de expressão, encontram um terreno fértil para
multiplicar adesões eleitorais na identificação daquilo que a sociedade projeta como ideal.
56
“Os sentimentos, como matéria de investigação não restrita ao
plano das investigações psicológicas, oferecem perspectivas
relevantes à análise, considerando-se o contexto cultural de sua
ocorrência e o papel que ocupam na dinâmica dos conflitos
simbólicos que atravessam o campo da política. Os sentimentos
podem ser vistos como dimensão expressiva da teatralidade política,
com seus espaços e estratégias de aparecimento público, entre os
quais emerge o momento específico das campanhas eleitorais. (...)
A conversão dos sentimentos em retóricas da denúncia aciona
também valores coletivos, (...) sendo o “julgamento do povo”,
através do voto, a afirmação dos mecanismos de credibilidade
política. A eficácia política dos sentimentos estaria, portanto, na
capacidade de recuperar fortemente as regras de fidelidade e
pertença social” (BARREIRA: 2006; 315-316).
se não na forma material, mas de assistência profissional, não é um recurso único. Segundo
Coradini:
“As relações estabelecidas no exercício de determinadas profissões são
equivalentes ou afins com a política eleitoral e, em segundo lugar, (...) a
natureza dessas relações poderiam ser apreendidas enquanto eleitorais ou
‘políticas’, seja pelo profissional em pauta, seja pelos seus eleitores em
potencial. É nesse sentido que esse tipo de relação se torna interessante,
enquanto um problema no exame da formação prévia de liderança para sua
reconversão em recursos eleitorais, visto que se constitui num caso limite
que, pelo menos à primeira vista, dispensaria outras formas de mediação e
inserção social para o ingresso na ‘política’”. (CORADINI: 2001; 20)
lógicas que os subsidiam, isso não quer dizer que as ações sejam empreendidas pelos
agentes de forma objetiva e consciente. No que diz respeito aos médicos, em alguns casos,
57
É o caso da dep. Angélica Guimarães e do Dep. Luis Mitidieri, os quais
Por outra via trilhou o Dep. Rogério Carvalho, constituindo uma rede de recursos
diferenciada dos seus colegas de legislatura. Embora sua estrada para a política também
classista, sua trajetória é marcada por um investimento efetivo em capitais escolares, dando
Apesar da leitura feita pela maioria dos autores acerca da facilidade de reconversão
possível perceber no caso sergipano, apesar de 15,38% dos parlamentares terem formação
acadêmica em direito, todos exerceram pouco ou nada esta profissão; tendo sido logo alçados a
posições de comando em órgãos públicos, em função das redes sociais estabelecidas através
2.3. Os professores:
eminentemente classista, não fosse esse um bloco tão heterogêneo. Mesmo os dois agentes
recursos tão diversos. Enquanto a dep. Ana Lúcia mantém as suas bases no movimento
sindical, o dep. Prof. Vanderlê atua principalmente, tendo em vista a manutenção de suas bases
24
A atuação em cargos técnicos da burocracia estatal será tratada com mais detalhamento num item específico.
58
municipalistas, em São Cristóvão, enquanto espraia suas relações para organizações não-
militantismo ambientalista pode ser percebido como uma estratégia de reconversão profissional
possibilidades.
A Dep. Conceição Vieira, por sua vez, estende seus recursos a organizações não-
Apesar das relações dos professores com causas de diferentes setores da sociedade, minorias
Educação25.
seus colégios, chegava a ofertar bolsas de estudo de até 100%. Em seu discurso, valoriza a
para que o jovem carente de recursos financeiros pudesse concluir o Ensino Médio com
modelo favor/ajuda fora de período eleitoral cria uma relação personalizada de lealdade, que se
reafirmará no “tempo da política” em forma de voto, porque este se estabelece como uma
posicionamento social do eleitor, que tende a votar espontaneamente no seu benfeitor, sem que
25
Ana Lúcia foi Secretária de Educação do município de Aracaju; Conceição Vieira, Secretária de Educação do
município de Japaratuba e Prof. Vanderlê, Secretário de Educação do município de São Cristóvão, vide anexo.
59
isso se configure, necessariamente em “compra de votos”. Em outro depoimento, desta vez
cedido para esta pesquisa, o Dep. Augusto Bezerra reconhece a relação personalizada
administradores, este aspecto não costuma ser destacado em seus discursos, dentro ou fora do
significa levantar questões e disputas ideológicas baseadas nas teorias de classes, que põem
diferentes grupos – frutos da lógica da representação – num campo dos embates; a qual
apresentam como empresários têm sua imagem associada a “grupos de pressão” ou “grupos de
interesses”.
“Se as relações com o mundo empresarial são tidas como politicamente
importantes, eleitoralmente ou como elaboração de imagem há uma espécie
de minimização dessa condição de empresário em seu sentido mais estrito. Ao
contrário, outros tipos de candidatura tendem a ressaltar a condição social de
origem e os vínculos com a mesma como recurso eleitoralmente importante”.
(CORADINI; 2001a: 96)
60
2.5. Os líderes religiosos:
categoria profissional, essa decisão foi tomada em cima das formas como os próprios agentes
declararam suas categorias profissionais antes da entrada na política eletiva. Ainda que existam
pastores que digam “pastor não é uma profissão” (Cf. Coradini: 2001; 134), já que as igrejas
evangélicas possuem alguma flexibilidade em relação à esta atividade, pois não requerem
Bodano, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, é o único membro das lideranças
de determinado membro, exige, primeiramente, que ele não seja um neófito na instituição. Esse
membro deve contar com o reconhecimento dos fiéis, como também deve atuar na mídia. A
identificação com o candidato-pastor por parte dois fiéis, embora não seja garantia de vitória
nas eleições. O carisma institucional, aliado ao uso massivo dos meios de comunicação
campo religioso repercute positivamente no campo da política, graças ao poder simbólico que
se estabelece na relação de cumplicidade entre aqueles que falam e aqueles que ouvem. “O
poder das palavras só se estabelece sobre aqueles que estão dispostos a ouvi-las e a escuta-
considerado negativo em períodos de campanha política, pois denotaria a falta de vínculo com
o local. Entretanto, era detentor das demais virtudes compreendidas pela IURD como
fundamentais para um mediador entre as leis dos homens e a lei de Deus. Em primeiro lugar,
está a empatia com os fiéis, os quais guardam consigo um forte sentimento de identificação
61
relativo às suas origens sociais. A “origem humilde” traduz-se não só como uma trajetória de
mas, sobretudo, como um reflexo da sua ‘redenção’, da ‘ação do Senhor’ sobre a sua vida,
caracterizando-o como o ungido ou escolhido, não só pela Igreja, mas por Deus. Em seguida, o
suporte midiático permite a difusão da mensagem, permitindo uma exposição de longo alcance
da Igreja.
“Após esse período, a liderança da igreja – pelo trabalho que
realizei nos estados por onde passei e principalmente nos dois
períodos em que estive em Sergipe, onde fui o pastor líder do
Estado na parte primeiro espiritual e administrativa; pelo trabalho
para que o candidato da igreja viesse a ser eleito pelo povo do
Estado, com a ajuda do povo da igreja; pelo trabalho executado em
meios de comunicação como rádio e televisão – veio ao Estado e
executou um levantamento: ‘Se tivéssemos que colocar uma pessoa
para ser candidato a um cargo de deputado estadual, quem seria
apoiado e indicado pelos pastores e auxiliadores da Igreja? ’. Na
época (2000), foi indicado pela maioria que eu voltasse para cá. Eu
estava muito bem no Rio de Janeiro, mas me enviaram de volta a
Sergipe para me candidatar a Deputado Estadual. Até então eu não
tinha nenhuma pretensão política, pelo contrário, em 1998 recebi
uma incumbência da igreja: “Escolha o nome de uma pessoa que é
filho da terra”. Até então a igreja não havia lançado nenhum
candidato ao cargo de deputado estadual, e temiam que houvesse
rejeição a uma pessoa de fora. Assim sendo, indiquei o pastor
Heleno (...), auxiliei na sua candidatura, percorrendo o estado em
campanha. Ele não era conhecido de nome e graças a Deus naquela
época ele competiu no partido PTB e obteve 7.736 votos. Assim
pude ter um respaldo porque nunca tendo trabalhado com política
conseguimos eleger um candidato pastor e membro de uma igreja
evangélica que não era conhecido. Esse foi um dos maiores
motivos para me trazerem de volta ao Estado. (...) Comecei a
trabalhar nas cidades, nas igrejas e em 2002 meu nome foi lançado
para deputado estadual.” (Depoimento do Dep. Mardoqueu
Bodano, concedido em entrevista para esta pesquisa).
relação entre pastor e sua congregação, baseada no carisma, fortalece o vínculo de dependência
dos fiéis convertidos. Segundo a Igreja, o testemunho do seu líder leva a ‘Verdade Revelada’.
62
modalidade de legitimação fundada na ética religiosa, na acumulação de bens simbólicos no
entrada na política eletiva revela sua compatibilidade de códigos e lógicas sociais. Tal fato se
torna ainda mais evidente na medida em que a administração é bem sucedida. A relação com o
governo também pode funcionar como um trunfo político a depender da circunstância histórica
em que está inserido, mas a condição de evidência em que o cargo coloca o agente é um
diferencial significativo entre ser um técnico, cujo mérito é reconhecido apenas inter pares ou
um técnico a quem compete decisões políticas, cuja competência está submetida ao crivo da
população, que embora não possua o know how das soluções, é capaz facilmente de identificar
estadual.
63
Quadro 02. Cargo de ingresso na carreira política
a porta de entrada para a política eletiva. De acordo com Grill (2008: 37) a combinação desses
dados com os registros da idade em que os agentes ingressaram no campo político, são
gradual. Dentro do universo dos agentes que ingressaram na política pública através da
ocupação de cargo público, metade atingiu esse espaço utilizando – entre outros recursos – a
político de que dispõem na busca de um novo mandato. 88,46% dos parlamentares da 16ª
legislatura já exerceram mandato por cargo eletivo pelo menos uma vez, possuindo experiência
64
Quadro 03. Número de mandatos anteriores à 16ª legislatura na AL
poucos agentes e a permanência dos mesmos em cargos eletivos por vários mandatos. (GRILL,
2008). Tomando como base apenas o cargo de deputado estadual tem-se 63,38% dos
conquistaram o seu primeiro cargo eletivo com menos de 35 anos de idade, um número
“feitos” dos fundadores, valorizando-os como benfeitores locais; 2) Marca a distinção entre os
Moura, cuja precocidade foi estimulada pelo contato direto com o metier político na esfera
26
Vide Quadro 03. Número de mandatos anteriores à 16ª legislatura na AL – pág. 62.
27
Vide Gráfico 06. Idade de entrada na política eletiva – 1º mandato
66
doméstica; 3) Por uma conseqüência natural a essas modalidades de recursos, dado o
burocracia pública e ainda aos órgãos de imprensa são facilitados em função do potencial de
possível observar que, em Sergipe, 53,85% dos parlamentares estrearam na política com menos
de 35 anos; 23,07% entre 26-30 anos e apenas 7,69% com menos de 25 anos. Apesar da sutil
diferença, pode-se dizer que os parlamentares sergipanos iniciaram suas carreiras relativamente
jovens.
8
8
6 6
6
4
4
2
2
0
ATÉ 25 26-30 31-35 36-40 41 +
Fonte: ALESE
pelos agentes nos setores sindicais, estudantis ou de movimentos sociais, visto que a ascensão
estadual (PT e PC do B), propiciou uma abertura para a estréia de militantes já experimentados
67
na retórica política como novos agentes na burocracia estatal e, posteriormente, nas campanhas
eleitorais.
Fonte: ALESE
maioria dos parlamentares iniciou a sua carreira eletiva na Assembléia Legislativa. Tomando
este universo de deputados estaduais que iniciaram a sua ocupação de cargos no topo há
hierarquia política, é possível perceber que 66,7% deles exerceram um cargo político por
sobre as eleições.
“Quando se observam os percursos políticos seguidos pelos agentes
que iniciaram suas carreiras em posições periféricas (principalmente
vereador) e alcançaram posições de destaque na política estadual
(como é o caso do cargo de deputado federal), evidencia-se um
espaço político mais competitivo e aberto. Quando prevalece o
“ingresso por cima” na carreira política eletiva, quer dizer,
diretamente pela ocupação de cargos mais altos na hierarquia
política, o controle e a seleção prévia por parte dos agentes já
estabelecidos ou das máquinas políticas se mostram decisivos”.
(GRILL: 2008; 40)
No caso do Rio Grande do Sul – embora o período estado seja maior que o nosso
68
tendência à ampliação do acesso à “elite” política, ao passo que no Maranhão o acesso à aleite
prévia parece indicar a cristalização de certos pré-requisitos para o ingresso nesse espaço
reflexo de uma oportunidade provocada pelo calendário eleitoral. O vereador que se candidata
a deputado corre poucos riscos políticos, pois, caso derrotado, preserva seu mandato. O mesmo
É importante lembrar a observação de Coradini (2001): para que o uso dos cargos
públicos como critério de legitimação seja possível, faz-se necessário um critério de seleção
prévio no qual uma série de recursos como origens sociais, vinculações locais, militância
agente o fortalecimento de diversas bases sociais e acessos que não teria se não tivesse
investido num cargo eletivo. Contudo, é possível perceber ainda uma atuação no sentido não só
da manutenção dos cargos, mas do seu monopólio. Observando o quadro abaixo é possível
parentes que construíram carreiras na política eletiva. Nesse conjunto, 42,30% possuem
ascendentes que exerceram ou exercem cargos políticos; 15,38% possuem membros da família
extensa – entendendo-se como família extensa os parentes pela via matrimonial: sogros,
cunhados, genros, marido de sobrinhas, etc. – que atuam ou atuaram em cargos públicos;
3,85% possuem descendentes exercendo um cargo público e 30,77% têm membros da mesma
69
Traçando um comparativo com os dados apresentados por Grill acerca do
monopólio de cargos eletivos nas “famílias de políticos” no Rio Grande do Sul e no Maranhão,
cargos políticos é maior que nos outros dois estados da federação acima citados,
Rio Grande do Sul e 22% no Maranhão; já o número de membros da mesma geração tem um
administrativa, ainda que esta prática esteja impregnada de uma conotação negativa,
Quadro 05. Parlamentares com parentes que atuam ou atuaram na política eletiva
lideranças na medida em que se avança na construção de uma carreira política, pois representa
pelo alcance a diversas esferas sociais – acesso a uma ampla rede de relações sociais passíveis
71
Capítulo III – Militância Estudantil e Sindicalismo: Um trampolim para política eletiva
agente em questão, isto é, sejam estas suas ocupações da carreira, a área do saber a que se
dedicou, sua titulação escolar, o patrimônio financeiro ou mesmo a filiação partidária. Dentro
fizeram uso do capital associativo-sindical como recurso político, o Dep. André Moura possui
72
uma peculiaridade em seu vínculo com o movimento estudantil. Ao passo que Tânia Soares,
André Moura viria a fundar o “PFL Jovem” em Sergipe ao lado de João Alves Neto, neto do
parlamentares com mais elevada titulação acadêmica da Assembléia, contando apenas duas
exceções sem titulação universitária. O exame dos itinerários permite a abertura de uma
(sociais, econômicos, políticos e culturais) possuídos pelos diferentes agentes sociais. Segundo
SEIDL (2009), a expansão do acesso a programas de estudo, beneficiando camadas mais baixas
reconhecimento social.
momento de suas vidas políticas de movimentos sindicais ou estudantis, quatro estrearam suas
carreiras em posições periféricas, como vereadores, a saber, Conceição Vieira, Tânia Soares,
Outrossim, ainda que este último tenha passagens na militância estudantil, este não pode ser
convertido como capital político, já que seu primeiro cargo eletivo foi como chefe do executivo
28
Embora consideremos as prefeituras de municípios do interior do Estado como uma posição periférica dentro da
hierarquia política, é importante ressaltar a importância desses prefeitos para consolidação das bases dos
parlamentares, tanto no âmbito estadual, quanto federal, como explicita Marcos Otávio Bezerra no livro “Em
nome das ‘bases’: política, favor e dependência pessoal”. (1999).
73
do município de Pirambu, seguindo os passos de seu pai, atualmente conselheiro do TCU,
Reinaldo Moura.
associada a uma origem humilde (GRILL: 2008), um fato distintivo em relação aos demais
política, está diretamente relacionado à conjuntura política local. Dentre os sete, seis são
situacionista, à época do pleito que elegeu a 16ª legislatura da AL. As eleições de 2006
alternância política entre os grupos situacionistas liderados pelos grupos ligados a João Alves e
Albano Franco, embora este último, o então governador na época da disputa eleitoral,
compusesse o bloco aliado do PT. Junto à eleição de Marcelo Déda para governador em 2006
fazia-se necessária uma maioria qualificada na Assembléia Legislativa, para assegurar a base de
sustentação do governo. Tal cenário político de eleição envolta num clima de mudança,
Fonte: ALESE
está diretamente fundado nas competências e práxis militantes, podendo ser definido como:
radicais da década de 1960 era feito por agentes cujas mães, professoras primárias, possuíam
implicando num superinvestimento intelectual, como também numa grande enorme cobrança
primeira geração de cursos superior na família. Toda a liderança militante mineira deste
“Grande parte das lideranças dos anos 1960, debutou na política dentro da
Faculdade de Ciências Econômicas e na Escola Estadual Central de BH,
criada em 1968 com uma bela arquitetura de Niemeyer. Estas duas escolas
representam um caso limite de engajamento na medida em que podem ser
consideradas ao mesmo tempo um viveiro de militantes e um lugar de
acumulação de fatores contraditórios da super seleção escolar”. (CANEDO,
2008: 8 – 9).
Assim como no caso mineiro estudado por Canedo, o investimento escolar foi
75
superior em suas famílias. O investimento em titulação é consequentemente acompanhado por
função destas beneficiarem e serem beneficiadas por um espaço social marcado pela fluidez
entre os domínios sociais, permitindo uma maior mobilidade entre diferentes meios para os
virou coordenador do grupo da pastoral universitária, o que lhe propiciou o encontro com o
Em 1990 disputou a eleição para o DCE, mas a chapa se retirou por suspeita de
movimento estudantil setorial e foi eleito secretário de políticas educacionais da UNE, membro
da executiva da UNE.
levou-o à decisão de sair da executiva e mudar-se para São Paulo, onde fez residência na
Secretário Geral no Congresso de Médicos Residentes. Três meses depois foi eleito presidente
Em 1997, foi aprovado no concurso para médico fiscal. Depois de aprovado começou a
76
sindicato, que estava terminando o mandato, participou da chapa, elegendo-se presidente do
Sindicato dos Médicos em Campinas com 70% dos votos dos filiados. Em 1999, foi eleito
presidente da Federação dos Médicos do Estado de São Paulo pelos sindicatos, reeleito em
2000. Em 2001, Marcelo Déda ganhou a eleição para a Prefeitura de Aracaju e o convidou para
Como Secretário de Saúde, aplicou o projeto “Aracaju: Saúde todo dia”, que fora
Rogério Carvalho na Saúde Municipal obteve reconhecimento. Considerando que tudo que se
pública concede ao agente a possibilidade de uma avaliação pública diferenciada nos pleitos
eleitorais em relação aos candidatos que não possuem uma base de sustentação ou parâmetro
de comparação.
Ciências Sociais, para se dedicar à luta política, auxiliando o partido na área de comunicação,
29
Depoimento da Deputada Tânia Soares em entrevista concedida ao jornalista Osmário Santos, publicada em
07/02/2006, no portal Infonet.
77
ponto de partida para mais adiante fazer jornalismo na FIT – Faculdades Integradas Tiradentes.
Em 1984, com apoio de integrantes da UNE, fundou a UJS. Em 1996, foi convidada a fundar
movimento feminista. A partir daí surgiu a UBM – União Brasileira de Mulheres. Após
terminar a faculdade, nesse mesmo ano, ingressou no funcionalismo público estadual, logo
Sergipe como dirigente sindical. Em 1996, disputou o cargo de vereadora de Aracaju pelo PC
avocam o pertencimento geracional a uma época marcada por “lutas contra a ditadura”.
Segundo REIS (2008), a hierarquização é estabelecida a partir dos tipos de recursos utilizados
causas, a participação em ações arriscadas que culminaram em prisões, torturas, exílios, etc.
ingresso da Dep. Ana Lúcia na política eletiva. Filha de uma família de classe média desfrutou
de um ambiente intelectual fecundo no âmbito familiar: o tio e padrinho, Osman Hora Fontes –
a sua formação intelectual, como a do seu irmão, Mário Jorge Vieira Menezes30, poeta e
30
Mário Jorge foi o primeiro poeta concretista de Sergipe. Em função da publicação de ‘Revolição' (1968) –
primeiro e o único trabalho publicado em vida, Mário Jorge foi encarcerado e torturado, no período do regime
78
estudante de direito, que foi preso e torturado durante o regime militar. O pai, Claudomir
Andrade Vieira, atuava no campo social, através do Lions Club. Ana Lúcia estudou em escolas
particulares a maior parte de sua vida escolar, tendo optado por ser professora aos 13 anos de
idade. A decisão teria sido motivada pela expulsão do seu irmão, Mário Jorge, do Colégio
envolvimento de Ana Lúcia na política intensifica-se somente após 1979, durante o processo
sindical.
disposições dos agentes para determinadas escolhas, que se refletem nos investimentos em
adesões a causas, bens culturais e títulos escolares (REIS, 2008). A utilização da titulação
escolar tem um valor significativo, sobretudo, quando inscrito no movimento sindical classista
de professores. Entretanto, este recurso torna-se muito mais eficiente quando associado a um
Durante o processo de redemocratização do país, assumiu sua opção partidária, período em que
conheceu os professores Diomedes Silva, Ruy Belém e Varjão, cuja opção política era de
junto com estes professores criou o CEPS - Centro de Profissionais de Ensino de Sergipe - que
dava a condução política ao movimento dos educadores. Em 1990, após uma grande greve
contra a suspensão dos salários dos professores, a antiga Associação do Magistério tornou-se o
SINTESE, do qual Ana Lucia viria a se tornar presidente dois anos depois. 63.4% dos votos da
militar. Mário Jorge faleceu em 1973, num acidente de carro e virou o marco dessa geração em Sergipe.
79
Secretaria Municipal de Educação – colocando em prática o projeto Escola Aberta – na qual
Os usos das biografias como recursos políticos são muito mais evidentes no caso
diferentes movimentos sociais, em alguns casos, ainda, ressaltando a humilde origem social:
Conceição Vieira, Francisco Gualberto, Ana Lúcia, Tânia Soares e Prof. Wanderlê. Em seu
vida, a ênfase nos movimentos de ações sociais insere o agente num debate acerca do processo
de construção da democracia, voltado para uma agenda de “problemas sociais”. Compõe esse
quadro de identificação com o eleitorado a sua origem social pobre. O elevado investimento
questões étnicas e de gênero corroboram com a sua posição de representante dos movimentos
A origem social humilde também é apresentada por Francisco Gualberto, ainda que
este enfatize as dificuldades encontradas em sua trajetória, com intuito não só de encontrar
mesmo tempo em que incorpora a imagem de “self-made man” em seu repertório. Em seu site
31
http://www.conceicao.vieira.nom.br/principal.jsp?page=8&sessao=biografia
81
manutenção das estradas pelo Nordeste. Em uma das passagens por
Sergipe, José Gualberto conheceu a mãe de Francisco Gualberto,
Josefa Marques da Conceição. O trabalho, no entanto, considerado de
alta periculosidade, rendeu ao pai de Gualberto uma forte asma que o
levou à morte apenas cinco anos depois do nascimento do filho. Dois
anos depois, Gualberto perdeu a mãe devido a uma doença até hoje
não identificada. “Estes fatos praticamente me obrigaram a começar
muito cedo minha vida operária”, recorda” (...)
A busca pela sobrevivência desde cedo, as lutas contra a
desigualdade social e a ditadura militar fizeram Gualberto se
envolver com o mundo da política logo cedo. Aos 18 anos, Gualberto
já era filiado ao MDB, partido de oposição à Arena, que governava o
Brasil com mãos de ferro, sem democracia. ‘Naquela época, eu já
entendia que não podia estar ao lado dos poderosos. Pelo contrário,
precisava reagir. Junto com o pessoal do PCB e do PC do B, que na
época existiam clandestinamente, participávamos de movimentos
populares’, recorda.
Foi na época da fábrica de tecidos da indústria Pedro Amado, em
1971, que Francisco Gualberto teve seu primeiro contato com o
sindicalismo. Para lutar pela causa da categoria, ele se filiou ao
Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Têxtil, na cidade de São
Cristóvão. ‘Em 1976, ajudamos a eleger Lauro Rocha, o primeiro
prefeito de oposição no Estado. Passei a trabalhar na prefeitura, mas
no final de 1979 fui processado por um atrito que tive com o defensor
da Arena, que quase me levou à morte. Pressionado por aqueles que
defendiam a ditadura militar naquela ocasião, fui obrigado a vir para
Aracaju’, disse.
A vinda para a capital sergipana, no entanto, não afastou Francisco
Gualberto da política. Pelo contrário. Sempre ligado ao mundo
sindical, ele passou a participar do núcleo dos petroquímicos da
Nitrofértil e, junto com os companheiros sindicalistas, começou a
discutir a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) em Aracaju,
em 1980. ‘Naquela época já éramos bem organizados. Tanto que,
depois da fundação do PT, passamos a contribuir com o partido.
Mensalmente, uma parcela dos nossos salários na fábrica era
destinada ao fortalecimento do PT”, afirma Gualberto que,
curiosamente, apesar de fundador do partido na capital, só foi se filiar
ao PT no dia 14 de abril de 1983’.”. (Fonte: Site Oficial do Dep.
Francisco Gualberto32).
Central Única dos Trabalhadores em Sergipe, entidade que viria a presidir anos depois, por
duas oportunidades, tendo presidido também o Sindicato dos Químicos de Sergipe. Em função
1992, do qual o núcleo de petroquímicos da Nitrofértil - grupo do qual Gualberto fazia parte –
32
Fonte: http://www.franciscogualberto.com.br/historico.htm
82
discordava, desligou-se do partido e, em 2003, o grupo decidiu trazer o Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado (PSTU) para o Estado, com o objetivo de estabelecer uma alternativa
de esquerda mais radical. Assim, 54 pessoas dissidentes do PT, incluindo Francisco Gualberto,
trocaram o PT pelo PSTU. Em 2000, de volta ao Partido dos Trabalhadores, elege-se vereador
No âmbito dos movimentos sociais, insere-se o Prof. Wanderlê. Ainda que este se
através dos movimentos ambientalistas e da atuação municipalista, que Wanderlê hoje visa
capitalizar novos recursos sociais para sua legitimação política. Filho de família humilde,
nasceu na Vila Operária da Fabrica Têxtil Pedro Amado, município de São Cristóvão, onde o
avô , o pai, a mãe e as tias trabalhavam. Estudou em escolas públicas até terminar o curso
ginasial, dando continuidade aos estudos na Escola Técnica Federal, após aprovação no exame
de seleção para o curso de Eletrônica. Concluído o curso na E.T.F (atual CEFET), prestou
vestibular na Universidade Federal de Sergipe em 1981, sendo aprovado em quarto lugar para
o curso de Licenciatura em Matemática. Sua trajetória é assim descrita pelo jornalista Osmário
Santos:
83
educador. Hoje nos orgulha o fato de que muita gente formada que
participou desse cursinho, inclusive com doutorado’.
Em 1983, ainda estudando na universidade, consegue o primeiro
emprego em São Cristóvão, dando aulas na Escola de Primeiro e
Segundo Graus Elisio Carmelo, nos cursos de Contabilidade e
Magistério. ‘Após um ano e meio fui demitido, juntamente com os
saudosos professores Diomédes, Cláudio Miguel (do Grupo
Cataluzes), Amaral, e as professoras Teresa Cristina, Betezabel,
Valdice (do Grupo Imbuaça), além de vários outros. O motivo foi a
organização da primeira greve de professores na cidade. Nesse
momento, reunimos os professores para fundar a Associação dos
Profissionais de Ensino de São Cristóvão (Apesc), cuja principal
bandeira era ter direito a receber o salário mínimo e o contracheque,
por incrível que possa parecer’.
Participa também da elaboração do Estatuto do Magistério de São
Cristóvão. ‘Por essa atuação fiquei dois anos sofrendo perseguições
políticas, sendo impedido de trabalhar em qualquer escola’.
Só em 1986, com a aprovação no concurso para professor da
Prefeitura de Aracaju, volta a trabalhar. ‘Nesse momento me
envolvi fortemente no movimento sindical, através da então Apema,
Associação dos Profissionais de Ensino do Município de Aracaju
(que deu origem ao atual Sindipema)’”. (Depoimento concedido ao
jornalista Osmário Santos e publicado no site Infonet em
08/03/2007).
São Cristóvão, em 1986. Em 1988 foi candidato a vereador, mas não foi eleito. Em 1990, foi o
função dos problemas de saúde de sua esposa, afastou-se da luta política, tendo retornado
apenas em 1996, após o seu falecimento, com o intuito de ajudar a coordenar a campanha do
irmão Zezinho da Everest para prefeito, fato que se repetiu em 1998 e 2002 quando o mesmo
candidatura de Prof. Wanderlê, então filiado ao PMDB, para deputado estadual veio no pleito
seguinte, sob a alegação da necessidade de São Cristóvão ter um deputado estadual que
Zezinho da Everest. Esse apelo à população, evidenciado no jingle da campanha, foi, segundo
84
o deputado, compreendido pela população em sua importância. O jingle da campanha de Prof.
Wanderlê consistia tão somente na exaltação de suas qualidades morais e do seu vínculo com o
município:
“Eu voto em Prof. Wanderlê
Sou amigo de São Cristóvão
Prof. Wanderlê é um amigo, é um homem da gente (...)
É de garra, coragem, homem de valor
Nesse eu acredito, posso confiar
Sou amigo de São Cristóvão, em Wanderlê vou votar
O meu voto é consciente (...)
Pra ver São Cristóvão mais forte, Professor Wanderlê (...)
Pra Sergipe melhorar (...)
Como esse não existe igual
Meu Deputado Estadual”
(Jingle de Campanha do Dep. Wanderlê em 2006 33).
eletiva, Prof. Wanderlê precisou recompor o seu repertório de recursos sociais, atualizando-os
de acordo com a agenda de “problemas sociais”, assim como a Dep. Conceição Vieira. A
fundadas nos atributos que possuem e nas percepções apreendidas – ou assim desejado – pela
disputas eleitorais à sua apresentação como o “Al Gore Sergipano34” reitera a renovação dos
recursos sociais utilizados como recurso político pelo deputado, enfatizado no blog do site
oficial do deputado:
33
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=M7bN5N3wphE
34
Embora o texto “Nós também temos o nosso ‘Al Gore’” tenha sido escrito por Edmilson Araújo, a publicação do
mesmo na página oficial do deputado obviamente não se deu sem o aval do Deputado e sua equipe de assessores.
85
olharmos para trás e percebermos o quanto ele estava certo em suas
convicções. As ironias de que ele é vítima por parte de chamados
“políticos experientes”, que afirmam que o meio ambiente “não dá
voto”, só poderão ser avaliadas com o resultado das próximas
eleições. E não me perguntem pelo seu partido, perguntem-me pelas
suas atitudes. Para mim, é motivo de alegria perceber que nós temos,
sim, o nosso “Al Gore”, que responde pelo nome de Professor
Wanderlê. Isto é bom para Sergipe e para o mundo!” (ARAUJO,
Edmilson. In. Nós também temos o nosso “Al Gore”! – texto
publicado no blog do site oficial do Dep. Prof. Wanderlê em
30/09/2009. 35)
vinculado – no caso de Sergipe, um Estado que não possui um pólo industrial considerável,
policiais militares, profissionais ligados à rede de saúde pública e ainda, a empresas públicas.
“classista”.
Segundo Coradini (2001b), é nesse ponto que a liderança sindical se confunde com
defensor não apenas de uma categoria, mas de uma problemática social. Esse basicamente tem
sido o mote do sindicato dos professores de nível fundamental e médio da rede pública de
ensino, que na última eleição, além de eleger Ana Lúcia para a Assembléia Legislativa,
coloca a categoria profissional num outro patamar, pois suas lutas – ao requererem melhores
35
Fonte: http://professorwanderle.com.br/?p=814
86
condições de trabalho, se confundem com a “causa da educação”, reconhecidamente uma das
vínculo a uma “causa”, seja ela social ou de classe, posto que causas sociais e discussões
classistas oferecem aos agentes a possibilidade de reconhecimento das suas ações de forma
em capital político.
87
Considerações finais:
através de ações e estratégias nem sempre conscientes, muitas vezes acionadas como uma re-
ação natural. Novas formas de legitimação política têm sido incorporadas nos processos de
grupos familiares, ainda que novos grupos tenham conseguido se estabelecer no cenário
político, buscando não só formas de assegurar sua perpetuação nas esferas do poder político de
forma diacrônica, como também, procurando alastrar esse poder através do controle do maior
Se por um lado o uso eleitoral das origens sociais, ainda que a posição social
ocupada não guarde mais vínculos com a origem, é bastante presente, buscando levar o eleitor
à identificação, atuado como agente dotado de conhecimento de causa das necessidades sociais
da população; por outro a sua omissão faz-se de fundamental importância como forma de
tornar a imagem do candidato mais próxima daquela que compõe a sua base social. Nesse
sentido, outro recurso bastante presente são os apelos municipalistas, através dos quais, os
não se faz só na forma de discursos, mas também e principalmente, no esforço para captação
88
A atuação profissional como recurso, também estabelece relações com as origens
sociais, especialmente na medida em que se inserem na esfera dos movimentos políticos, seja
investimento cultural e, mais especificamente, à titulação escolar. Vista por esse prisma, a
especialmente fora do período eleitoral, momento no qual se estabelece um elo afetivo com o
representam, juntos, a principal via de acesso à vida política através dos cargos políticos da
burocracia estatal.
ampliação das bases. Essa pode se dar a partir da representação de grupos e da associação de
sua imagem a causas sociais, tendendo a definir a ação política como global e angariar a
simpatia de setores distintos da sociedade. Diferentes esferas parecem dar lugar à conversão de
recursos socais em capitais políticos, desde o uso das emoções à apresentação meramente
fazer política.
da 16ª legislatura, revelando no perfil desses agentes, escolhas e práticas profissionais que
é bastante representativo, ainda que não exista a pretensão de exercer a profissão, ao ponto de
A 16ª legislatura da AL, apesar de não trazer muitos agentes novos para esta casa,
na sua composição, pode ser considerada uma formação relativamente jovem, diferente da
se deu na ocupação de cargos da burocracia pública. Nesse sentido, a ocupação prévia funciona
validação bem sucedida, quando combinada com os diversos recursos sociais adquiridos ao
longo de suas trajetórias, permite uma ampliação expressiva das bases políticas do agente. O
exercício de cargos eletivos também funciona como recurso, neste caso, associado às
produziram na esfera da política sergipana? Em que medida a trajetória política da “elite” atual
legitimação política afeta essas possíveis mudanças? A resposta para essas perguntas
compreender os diferentes aspectos das veredas que levam à política – ou seus atalhos – em
momentos singulares.
respostas, neste trabalho, para estas questões – destacamos a importância que a lógica
36
Conferir obra de Ibarê Dantas.
90
estratégias, como também sobre o surgimento de novas formas possíveis de legitimação, que é,
91
BIBLIOGRAFIA:
Revista Novos Estudos n° 74 Novos estudos - CEBRAP, São Paulo, n. 74, 2006 b.
BEZERRA, Marcos Otávio. Em nome das “bases”: política, favor e dependência pessoal.
governo federal segundo o ponto de vista de políticos municipais. In. PALMEIRA, M. &
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