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A CRIAÇÃO DO PSD E O RISCO PARA OS CANDIDATOS EM 2012

A criação de uma nova agremiação partidária, como intento


legítimo salvaguardado pelo regime democrático vigente, deve ser
precedido do atendimento das exigências legais a fim de que se revista da
legitimidade inerente à representação política.

Nos últimos dias temos acompanhado pela grande mídia o


movimento de criação do PSD (Partido Social Democrático), sob a liderança
do Prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, referido partido nasce como a
maioria das agremiações havidas após a constituição de 1988, sem
identidade ideológica, mas amalgamada por algum conteúdo programático
e, sobretudo pelo pragmatismo de políticos com espaços de poder limitados
em suas agremiações originais.

O novel partido nasce com uma peculiaridade, a maioria de


seus futuros membros buscam uma brecha para burlar o entendimento
esposado pelo Tribunal Superior Eleitoral e confirmado pelo Supremo,
quanto à vinculação do cargo ao partido pelo qual o candidato foi eleito,
culminando com a declaração da perda do mandato por aqueles que
trocarem de partido, ressalvadas as hipóteses de incorporação ou fusão do
partido, mudança substancial ou desvio reiterado do programa partidário,
grave discriminação pessoal ou ainda a criação de um novo partido. Sendo a
última hipótese a tabua de salvação abraçada pelos fundadores do PSD.

Ocorre que, a efetividade da criação de um partido político, a


fim de que o mesmo usufrua de suas prerrogativas constitucionais,
mormente a possibilidade de lançar candidatos nos pleitos eleitorais,
constitui tarefa árdua a demandar logística bem articulada de modo a
cumprir os requisitos legais. Quanto a tal legitimidade diz o art. 7º da lei
9.096:

Art. 7º O partido político, após adquirir personalidade jurídica


na forma da lei civil, registra seu estatuto no Tribunal
Superior Eleitoral.

§ 1º Só é admitido o registro do estatuto de partido


político que tenha caráter nacional, considerando-se como tal
aquele que comprove o apoiamento de eleitores
correspondente a, pelo menos, meio por cento dos votos
dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados,
não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos
por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de um
décimo por cento do eleitorado que haja votado em cada um
deles.

§ 2º Só o partido que tenha registrado seu estatuto no


Tribunal Superior Eleitoral pode participar do processo
eleitoral, receber recursos do Fundo Partidário e ter acesso
gratuito ao rádio e à televisão, nos termos fixados nesta Lei.

O Tribunal Superior Eleitoral, regulamentou o processo de


registro dos partidos políticos através da Resolução TSE nº. 19.406/1995.

Da referida resolução destaca-se que o passo inicial para a


constituição da nova sigla partidária é a obtenção do registro civil em
cartório da Capital Federal, o que demanda a assinatura de ao menos 101
eleitores com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço dos Estados
brasileiros, isto é nove Estados, sendo que a estes fundadores caberá:
Elaborar o Programa e o Estatuto do Partido e Eleger, na forma do Estatuto,
os dirigentes nacionais provisórios.

A fase inicial para a constituição do partido se mostra a


menos complexa, em face da seguinte e imperiosa necessidade de
apoiamento mínimo de eleitores, isto porque só é admitido o registro do
estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-se
como tal aquele que comprove o apoiamento mínimo correspondente a pelo
menos meio por cento dos votos dados na última eleição geral para a
Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos,
distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de um
décimo por cento do eleitorado que haja votado em cada um deles.

A prova do apoiamento mínimo é feita por meio de


assinaturas, em listas organizadas pelo partido, para cada Zona Eleitoral,
contendo o nome completo do eleitor e número do título eleitoral, a
veracidade das assinaturas e dos números dos títulos constantes destas
listas serão atestados pelo Chefe de Cartório da respectiva zona eleitoral.

Obtido o apoiamento dos eleitores, tem-se por


definitivamente constituído, na forma do estatuto, os órgãos de direção
municipais, regional e nacional, etapa na qual o presidente regional do
partido solicitará o registro no respectivo TRE.

Registrados os órgãos de direção regional em, pelo menos,


um terço dos Estados, o presidente do partido solicitará perante o Tribunal
Superior Eleitoral o registro do estatuto partidário e do respectivo órgão de
direção nacional (art. 20, incisos I, II, III e IV da Resolução/TSE n°
19.406/95).

Somente o registro do estatuto partidário perante o TSE


garante ao partido político sua participação no processo eleitoral, além do
recebimento de recursos do Fundo Partidário, acesso gratuito ao rádio e à
televisão, assim como assegura a exclusividade da denominação, sigla e
símbolos.

E é na obtenção do registro definitivo que reside o grande


risco para os futuros candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereadores que
abraçarem a causa da novel agremiação, isto porque, inobstante o possível
êxito na manobra para burlar a fidelidade partidária, corre-se o risco de não
obtido o registro do estatuto partidário perante o TSE, tornarem sem efeito
os registros dos órgãos de direção municipais e regionais, na dicção do art.
26 da resolução 19.406/95 do TSE: “Art. 26 - Ficarão automaticamente sem
efeito, independentemente de decisão de qualquer órgão da Justiça
Eleitoral, os registros dos órgãos de direção municipais e regionais, se
indeferido o pedido de registro do estatuto e do órgão de direção nacional.”

Frustrado o registro do estatuto, diante da não configuração


do caráter nacional do partido, ou mesmo do não atendimento a algum dos
requisitos de constituição, inexistente é o partido e seus filiados que
pretendam concorrer às eleições vindouras não gozarão de prazo hábil para
uma nova filiação, que lhes permitam preencher a condição de elegibilidade
referente ao prazo de filiação partidária.

Tal constatação é corolário de uma simples equação, havida


entre o número de assinaturas necessárias para a caracterização do apoio
popular ao partido, as impugnações que tanto as assinaturas, quanto o
próprio registro irão sofrer e o prazo necessário para a análise dos pedidos
de registro, tanto em nível de Tribunais Regionais Eleitorais quanto perante
o TSE, apenas para ilustrar a hercúlea tarefa dos construtores da nova sigla,
eis uma tabela1 com os quantitativos de assinaturas necessárias em cada
estado:

ESTAD VOTOS VÁLIDOS PARA 0,5% DOS ELEITORES MÍNIMO DE


O A CÂMARA FEDERAL VOTOS VOTANTES ASSINATURAS NO
(2010) VÁLIDOS ESTADO (0,1%)
AC 343.721 1719 363.570 364
AL 1.415.349 7077 1.583.844 1.584
AM 1.530.906 7655 1.621.948 1.622
AP 311.656 1558 357.792 358
BA 6.684.011 33420 7.486.735 7.487
CE 4.258.443 21292 4.699.435 4.699
DF 1.406.083 7030 1.550.765 1.551
ES 1.886.271 9431 2.083.045 2.083
GO 2.897.710 14489 3.329.636 3.330
MA 3.043.352 15217 3.285.100 3.285
MG 10.348.101 51741 11.838.442 11.838
MS 1.281.235 6406 1.392.464 1.392
MT 1.504.718 7524 1.655.212 1.655

1
Dados referentes ao quantitativo mínimo de assinaturas que atualmente deverão
ser colhidas para fundação de um partido político, nos termos do § 1º, do artigo 7º,
da Lei 9.096/95: assinaturas de eleitores correspondente, no mínimo, a meio por
cento (0,5%) dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados
(2010), não computados os brancos e nulos, que deverão estar distribuídas em pelo
menos nove Estados, sendo que em cada um deles deverá ser observado, no
mínimo, um décimo por cento (0,1%) da votação para a Câmara Federal apurada no
Estado (Resolução-TSE n. 19.406/96, art. 20, parágrafo único).
PA 3.422.655 17113 3.754.672 3.755
PB 1.952.737 9764 2.232.261 2.232
PE 4.450.200 22251 5.041.936 5.042
PI 1.668.005 8340 1.813.324 1.813
PR 5.687.044 28435 6.347.623 6.348
RJ 7.997.327 39987 9.572.486 9.572
RN 1.653.375 8267 1.877.681 1.878
RO 788.012 3940 846.351 846
RR 222.696 1113 233.616 234
RS 6.165.335 30827 6.902.902 6.903
SC 3.471.076 17355 3.900.064 3.900
SE 1.028.489 5142 1.184.869 1.185
SP 21.914.327 109572 25.310.267 25.310
TO 728.049 3640 772.644 773

BRASI
L 98.060.883 490304
Fonte: TSE 2011

Como já dito, não constitui tarefa fácil, mormente porque o


prazo fatal para filiação daqueles que pretendem concorrer nas eleições
vindouras é o dia 07 de outubro de 2011, o que implicaria na conclusão de
todo o procedimento anteriormente relatado em 06 meses, a fim que os
novos filiados estivessem seguros de sua opção partidária.

Exemplo notório da frustração de um projeto eleitoral, em


razão da não obtenção de registro do partido político, se deu nas eleições
presidenciais de 1989, onde a candidatura de Silvio Santos foi barrada,
dentre outras coisas, pela não obtenção do registro do Partido Municipalista
Brasileiro.

À época, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro


(PMDB) e o Partido da Frente Liberal (PFL) – mesmo sendo os dois maiores
partidos políticos do país - não conseguiram impulsionar suas candidaturas,
mal ultrapassando o percentual de 5% nas pesquisas divulgadas.

No entanto, a menos de um mês da realização do primeiro


turno, setores do PFL planejaram lançar a candidatura do empresário Silvio
Santos, filiado à legenda desde 1988, por outra agremiação: o Partido
Municipalista Brasileiro (PMB), cujo candidato, Armando Correia, dispunha-
se a renunciar.

Anunciada a candidatura de Silvio Santos, o impacto na


disputa eleitoral foi notável e imediato, visto que dezoito pedidos de
impugnação questionaram a legalidade da nova filiação partidária de Silvio
Santos, a renúncia dos candidatos substituídos e a regularidade do registro
do PMB.

De fato, embora o registro provisório do PMB tivesse sido


deferido em 14 de outubro de 1987, o partido deveria, em um ano, atender
às exigências legais para a obtenção do registro definitivo. Esse prazo foi
prorrogado por mais doze meses por força do art. 6º, parágrafo único, da Lei
nº 7.664/88, aplicável somente às eleições de 1988, encerrando-se em 15
de outubro de 1989.

Após o encerramento do prazo da Lei nº 7.664/88, o PMB


solicitou o registro definitivo sem, contudo, cumprir as exigências da Lei nº
5.682/71 (até então Lei Orgânica dos Partidos Políticos), uma vez que não
comprovou a realização de convenções regionais em pelo menos nove
estados e convenções municipais em um quinto dos respectivos municípios.

O Tribunal Superior Eleitoral declarou, incidentalmente no


processo de registro de candidatura (RCPR nº 31 de 09/11/89), extintos os
efeitos do registro provisório do PMB, o que constituiu óbice à candidatura
pretendida, dado que a caducidade do registro provisório acarretava a
incapacidade jurídica eleitoral do partido para indicar candidatos.

Assim, o Tribunal Superior Eleitoral indeferiu, em 9 de


novembro de 1989, por unanimidade, o pedido de registro dos candidatos
do Partido Municipalista Brasileiro.

Diante da insofismável previsão da lei bem como do


exemplo dado pela historia, o mergulho no escuro quando se trata de
política não é das atitudes mais aconselháveis, como diz o adágio popular
“Antes cautela que arrependimento”.

Referências:
BRASIL. Lei no 9.096, de 19 de setembro de 1995,
Dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os arts. 17 e 14, § 3º, inciso V, da Constituição Federal. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9096.htm >. Acesso em: 04 abr. 2011. [formato HTML]

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Resolução nº 19.406, Brasília, DF, 5 de dezembro de 1995. Disponível em:
< http://www.tse.jus.br/internet/jurisprudencia/index.htm >. Acesso em: 10 out. 2008. [formato PDF]

BRASIL. Lei no 7.664, de 29 de junho de 1988,


Estabelece normas para a realização das eleições municipais de 15 de novembro de 1988 e dá outras providências. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1980-1988/L7664.htm >. Acesso em: 04 abr. 2011. [formato HTML]

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Julgados Historicos, Brasília, DF, 9 de novembro de 1989. Disponível em:
< http://www.tse.gov.br/internet/jurisprudencia/julgados_historicos/1980/silvio_santos-4.htm >. Acesso em: 04 abr.
2011. [formato imagem]

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