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O funcionário público Policarpo Quaresma, nacionalista e patriota extremado, é conhecido por todos

como major Quaresma, no Arsenal de Guerra, onde exerce a função de subsecretário. Sem muitos
amigos, vive isolado com sua irmã Dona Adelaide, mantendo os mesmos hábitos há trinta anos. Seu
fanatismo patriótico se reflete nos autores nacionais de sua vasta biblioteca e no modo de ver o Brasil.
Para ele, tudo do país é superior, chegando até mesmo a "amputar alguns quilômetros ao Nilo" apenas
para destacar a grandiosidade do Amazonas. Por isso, em casa ou na repartição, é sempre
incompreendido.
Esse patriotismo leva-o a valorizar o violão, instrumento marginalizado na época, visto como sinônimo
de malandragem. Atribuindo-lhe valores nacionais, decide aprender a tocá-lo com o professor Ricardo
Coração dos Outros. Em busca de modinhas do folclore brasileiro, para a festa do general Albernaz,
seu vizinho, lê tudo sobre o assunto, descobrindo, com grande decepção, que um bom número de
nossas tradições e canções vinha do estrangeiro. Sem desanimar, decide estudar algo tipicamente
nacional: os costumes tupinambás. Alguns dias depois, o compadre, Vicente Coleoni, e a afilhada, Dona
Olga, são recebidos no melhor estilo Tupinambá: com choros, berros e descabelamentos. Abandonando
o violão, o major volta-se para o maracá e a inúbia, instrumentos indígenas tipicamente nacionais.
Ainda nessa esteira nacionalista, propõe, em documento enviado ao Congresso Nacional, a substituição
do português pelo tupi-guarani, a verdadeira língua do Brasil. Por isso, torna-se objeto de
ridicularizarão, escárnio e ironia. Um ofício em tupi, enviado ao Ministro da Guerra, por engano, levá-o à
suspensão e como suas manias sugerem um claro desvio comportamental, é aposentado por invalidez,
depois de passar alguns meses no hospício.
Após recuperar-se da insanidade, Quaresma deixa a casa de saúde e compra o Sossego, um sítio no
interior do Rio de Janeiro; está decidido a trabalhar na terra. Com Adelaide e o preto Anastácio, muda-
se para o campo. A idéia de tirar da fértil terra brasileira seu sustento e felicidade anima-o. Adquire
vários instrumentos e livros sobre agricultura e logo aprende a manejar a enxada. Orgulhoso da terra
brasileira que, de tão boa, dispensa adubos, recebe a visita de Ricardo Coração dos Outros e da
afilhada Olga, que não vê todo o progresso no campo, alardeado pelo padrinho. Nota, sim, muita
pobreza e desânimo naquela gente simples.
Depois de algum tempo, o projeto agrícola de Quaresma cai por terra, derrotado por três inimigos
terríveis. Primeiro, o clientelismo hipócrita dos políticos. Como Policarpo não quis compactuar com uma
fraude da política local, passa a ser multado indevidamente.O segundo, foi a deficiente estrutura agrária
brasileira que lhe impede de vender uma boa safra, sem tomar prejuízo. O terceiro, foi a voracidade dos
imbatíveis exércitos de saúvas, que, ferozmente, devoravam sua lavoura e reservas de milho e feijão.
Desanimado, estende sua dor à pobre população rural, lamentando o abandono de terras improdutivas
e a falta de solidariedade do governo, protetor dos grandes latifundiários do café. Para ele, era
necessária uma nova administração.
A Revolta da Armada - insurreição dos marinheiros da esquadra contra o continuísmo florianista - faz
com que Quaresma abandone a batalha campestre e, como bom patriota, siga para o Rio de Janeiro.
Alistando-se na frente de combate em defesa do Marechal Floriano, torna-se comandante de um
destacamento, onde estuda artilharia, balística, mecânica.
Durante a visita de Floriano Peixoto ao quartel, que já o conhecia do arsenal, Policarpo fica sabendo
que o marechal havia lido seu "projeto agrícola" para a nação. Diante do entusiasmo e observações
oníricas do comandante, o Presidente simplesmente responde: "Você Quaresma é um visionário".
Após quatro meses de revolta, a Armada ainda resiste bravamente. Diante da indiferença de Floriano
para com seu "projeto", Quaresma questiona-se se vale a pena deixar o sossego de casa e se arriscar,
ou até morrer nas trincheiras por esse homem. Mas continua lutando e acaba ferido. Enquanto isso,
sozinha, a irmã Adelaide pouco pode fazer pelo sítio do Sossego, que já demonstra sinais de completo
abandono. Em uma carta à Adelaide, descreve-lhe as batalhas e fala de seu ferimento. Contudo,
Quaresma se restabelece e, ao fim da revolta, que dura sete meses, é designado carcereiro da Ilha das
Enxadas, prisão dos marinheiros insurgentes.
Uma madrugada é visitado por um emissário do governo que, aleatoriamente, escolhe doze prisioneiros
que são levados pela escolta para fuzilamento. Indignado, escreve a Floriano, denunciando esse tipo de
atrocidade cometida pelo governo. Acaba sendo preso como traidor e conduzido à Ilha das Cobras.
Apesar de tanto empenho e fidelidade, Quaresma é condenado à morte. Preocupado com sua situação,
Ricardo busca auxílio nas repartições e com amigos do próprio Quaresma, que nada fazem, pois temem
por seus empregos. Mesmo contrariando a vontade e ambição do marido, sua afilhada, Olga, tenta
ajudá-lo, buscando o apoio de Floriano, mas nada consegue. A morte será o triste fim de Policarpo
Quaresma.
 

Triste Fim de Policarpo Quaresma


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Triste Fim de Policarpo Quaresma é um romance do pré-
modernismo brasileiro e considerado por alguns o principal
representante desse movimento.
Escrito por Lima Barreto, foi levado a público pela primeira vez em
folhetins, publicados, entre Agosto e Outubro de 1911, na edição da
tarde do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro. Em 1915, também no
Rio de Janeiro, a obra foi pela primeira vez impressa em livro, em
edição do autor.
O romance discute principalmente a questão do nacionalismo, mas
também fala do abismo existente entre as pessoas idealistas e aquelas
que se preocupam apenas com seus interesses e com sua vida
comum. Com uma narrativa leve que em alguns pontos chega a ser
cômica, mas sempre salpicada de pequenas críticas a vários aspectos
da sociedade, a história se torna mais tensa apenas quando o autor
analisa a loucura e no seu final, quando são feitas duras críticas
ao positivismo e ao presidente Floriano Peixoto (1891-1894).
O autor optou por escrever a narrativa numa linguagem próxima à
informal falada entre os cariocas. Ela se desenvolve em torno de
Policarpo Quaresma, brasileiro extremamente nacionalista, e é dividida
em três partes, cada uma contendo cinco capítulos.
Índice
esconder]

1 A Epígrafe
2 Enredo
2.1 Primei
ra parte
2.2 Segun
da parte
2.3 Tercei
ra parte
2.4 Concl
usão
3 Filme
4 Ligações
externas

[editar]A Epígrafe
original em francês tradução
O grande inconveniente da vida real e que
"Le grand inconvénient de la vie réelle et
a torna insuportável para o homem
qui la rend insupportable à l'homme
superior é que, se para ela são
supérieur, c'est que, si l'on y transporte
transportados os princípios do ideal, as
les principes de l'idéal, les qualités
qualidades se tornam defeitos, tanto que
deviennent des défauts, si bien que fort
muito freqüentemente aquele homem
souvent l'homme accompli y réussit
superior realiza e consegue bem menos
moins bien que celui qui a pour mobiles
do que aqueles movidos pelo egoísmo e
l'égoïsme ou la routine vulgaire."
pela rotina vulgar.
A epígrafe do romance é retirada do vigésimo sexto capítulo de "Marco
Aurélio ou o fim do mundo antigo" ("Marc-Aurèle ou la fin du monde
antique"), último volume da obra As origens do cristianismo("Les
origines du christianisme") do escritor e pensador francês Ernest
Renan. Renan parece argumentar que os altos ideais, muito nobres, de
pouco valem no mundo real, governado por interesses e proveitos
pessoais, o que nos prepara para o fracasso final de Policarpo
Quaresma.
[editar]Enredo
 Aviso: Este artigo ou seção contém revelações sobre o
enredo (spoilers).

[editar]Primeira parte
A primeira parte da obra se desenrola na cidade do Rio de Janeiro,
logo após a proclamação d
Buscando saídas políticas, econômicas e culturais para o Brasil,
Policarpo passa grande parte de seu tempo enfiado nos livros, pelo que
é criticado por parte da vizinhança que não consegue aceitar que
alguém sem titulação acadêmica possa possuir livros - uma crítica ao
academicismo muito presente na obra de Lima Barreto , e que o critica
ainda mais quando ele decide aprender a tocar um instrumento mal
visto pela burguesa sociedade carioca da época, o violão, por
considerá-lo um representante do espírito popular do país.
E é no aprendizado do instrumento que conhece aquele que será seu
grande amigo no correr do romance, o seresteiro Ricardo Coração dos
Outros, contratado para lhe ensinar. Porém, cedo, Policarpo se
desencanta pelo violão - e pelo folclore - e parte em busca das
tradições genuinamente nacionais, e indígenas.
Tal aprendizado leva a alguns momentos cômicos - como quando
Policarpo recebe a afilhada e o compadre aos prantos - e à tragédia da
loucura: após ter sugerido à Assembleia Legislativa republicana a
adoção do Tupi como língua oficial - e ser motivo de chacota de toda a
imprensa e dos colegas de repartição -, Policarpo redige, distraído, um
documento oficial naquela língua e termina, após uma elipse temporal,
internado num manicômio.
[editar]Segunda parte
Na segunda parte, são analisados os problemas enfrentados pela
porção rural do país.
São e aposentado, Policarpo vende sua casa e compra, por sugestão
da afilhada Olga, um sítio na fictícia cidade de Curuzu,
denominado Sossego e onde ele passa a tentar provar a decantada
fertilidade do solo brasileiro.
Com a ajuda do empregado Anastácio, Policarpo luta contra saúvas,
ervas daninhas e outras pragas na tentativa de incentivar a iniciativa
agrícola em outras pessoas e ajudar no crescimento econômico do
Brasil.
A fertilidade do solo, no entanto, não se comprova na prática, e sua
plantação gerou pouquíssimos lucros. Para piorar, Policarpo viu-se
envolvido, involuntariamente, na luta política da cidade, sendo atacado
com multas e difamações por gregos e troianos, tudo por causa de sua
suspeita (para os locais) neutralidade.
Ao saber sobre a Revolta da Armada, nosso protagonista "pede
energia" em telegrama ao Presidente Floriano Peixoto e segue para
o Rio de Janeiro para dar apoio ao regime e sugerir reformas que
mudassem a situação agrária.
[editar]Terceira parte
Última e mais tensa parte do livro, narra as andanças de Policarpo pela
Capital Federal durante a Revolta da Armada e mostra sua desilusão
final. Há aqui uma crítica feroz aos positivistas que apoiavam a
Primeira República.
Chegado ao Rio, Policarpo é bem recebido por Floriano Peixoto, que,
no entanto, dá pouca atenção às suas propostas de reforma.
Decidido a lutar pela República, Policarpo é então incorporado a um
batalhão, o "Cruzeiro do Sul", com o posto de major, o que, apesar do
apelido, ele nunca fora.
Encarregado de um pelotão de artilharia improvisado com
voluntariados à força - como seu amigo Ricardo Coração dos Outros -,
Policarpo deveria rechaçar investidas dos marinheiros às praias
cariocas.
A revolta criava ao mesmo tempo tensão - devido a prisões e violências
arbitrárias - e oportunidades de ascensão social e empregatícia a
cupinchas e puxa-sacos. Policarpo, enquanto isto, percebe que suas
propostas não eram levadas a sério - é chamado, de forma um tanto
irônica, de visionário pelo indolente Marechal de Ferro Floriano Peixoto
- e desilude ainda mais quando, tendo entrado em combate, acaba por
matar um dos revoltosos.
Finda a Revolta e encarregado de cuidar de um grupo de prisioneiros,
Policarpo chega à conclusão de que a pátria, à qual ele sacrificara sua
vida de estudos, era uma ilusão.
Seu destino é selado quando, após presenciar a escolha arbitrária de
prisioneiros a serem executados, ele escreve uma carta a Floriano
Peixoto denunciando a situação: o maior patriota de todo o livro é
injustamente preso, acusado de traição.
Ricardo Coração dos Outros, inteirado da situação, procura todos os
antigos amigos e conhecidos de Policarpo para ajudá-lo, mas todos se
recusam por medo ou ganância, com exceção da afilhada, Olga, que,
no entanto, parece incapaz de fazer qualquer coisa pelo padrinho a
quem admira tanto.
No final deste livro, Policarpo, devido as suas críticas, é preso e
condenado ao fuzilamento, pela ordem do presidente Floriano Peixoto
que tinha argumentos de traição de Quaresma.
[editar]Conclusão
Policarpo teve em sua vida 3 projetos para o Brasil (nenhum dá certo):
O primeiro foi linguístico, em que ele tenta mudar a língua falada no
país para o tupi; o segundo foi agrícola, em que compra um sítio e
tenta plantar nele -já que, para ele, as terras do Brasil são as mais
férteis-, o que também não dá certo (as pragas e saúvas prejudicam
seu negócio e não há retorno financeiro suficiente para o
reenvestimento nas plantações); o terceiro, que acarretou maior
decepção, foi o político, em que ele participa da guerra, vira carcereiro
e lá vê oficiais matando prisioneiros. Policarpo, ingênuo, manda uma
carta a Floriano Peixoto e é preso e acusado de traição à pátria e isso
acarretou na sua morte injusta.
[editar]Filme
Intitulado Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, o filme de 1998 tem
roteiro de Alcione Araújo e foi dirigido por Paulo Thiago. Embora
respeitando em linhas gerais o enredo de Lima Barreto, esta adaptação
toma algumas liberdades (como criar uma relação amorosa entre
Policarpo e Ismênia e mostrar o fuzilamento final do protagonista, que
não é descrito no livro) e satiriza aspectos da política brasileira atual,
como quando um grupo de sem-terras invade o sítio do Major
Quaresma, "Sossego".

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