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ESCOLA BI DE SANTA CRUZ DA TRAPA

Teste de avaliaçã o sumativa 9º ano - Turma B

Língua Portuguesa

2010/2011

Nome: Nº:

GRUPO I
Lê, com atenção, o texto A. Em caso de necessidade, consulta o glossário que é
apresentado a seguir ao texto.

TEXTO A

É sintomático, embora possa tratar-se apenas de uma coincidência, que a voz de


Gil Vicente emudeça após a representação da sua Floresta de Enganos em 1536,
precisamente o ano em que, com o estabelecimento do Tribunal do Santo Ofício, se
começa a fazer sentir entre nós a acção repressiva contra o teatro. Contra o teatro em
geral e contra o “corpus” dramatúrgico vicentino em especial: não o pouparam os
índices expurgatórios de 1551, 1581 e 1624, e desse encarniçamento se ressentiu
gravemente a Compilação editada em 1586, que o estudioso Óscar de Pratt pôde
considerar “o monumento mais mutilado da nossa literatura de Quinhentos”. Basta dizer
que apenas cinco autos (num total de 42, nove dos quais integralmente proibidos)
escaparam incólumes à sanha inquisitorial, e nos restantes são em número superior a mil
os versos cortados.

Durante três séculos, até à sua extinção em 1821 (o parêntese da Real Mesa
Censória, entre 1768 e 1795, não foi mais do que uma alteração do modelo institucional
adoptado pelo aparelho repressivo), a sombra da Inquisição obscureceu e restringiu o
horizonte do teatro português, que a custo conseguiu sobreviver-lhe. O “Index Librorum
Prohibitorum” de 1581, coordenado por Frei Bartolomeu Ferreira, o primeiro censor de
Os Lusíadas, proscreve genericamente as “comédias, tragédias, farsas, autos, onde
entram por figuras pessoas eclesiásticas, e se representa algum sacramento ou acto
sacramental, ou se repreende ou pragueje das pessoas que frequentam os sacramentos e
os templos, ou se faz injúria a alguma ordem, ou estado aprovado pela Igreja”. Observa
com toda a pertinência António José Saraiva que, perante uma tão lata prescrição,
“dificilmente se encontraria em toda a Idade Média e no século XVI peça de teatro que
ficasse fora do seu alcance”. Era exactamente o que se pretendia: aos olhos da Igreja, o
teatro era uma invenção demoníaca, uma escola de vício e depravação. Mas o poder
civil nutria por ele a mesma desconfiança: uma carta régia de 1596 proibia a realização
de quaisquer espectáculos sem que o texto e composição das comédias, farsas e autos
fossem revistos e autorizados por dois vereadores do Senado da Câmara de Lisboa e, no
resto do País, pelos corregedores, juízes e provedores, aos quais competia fixar a
duração dos espectáculos e determinar os dias defesos. Tal como entre 1927 e 1974
voltaria a acontecer: é preciso “muito cuidado com o teatro”, recomendava uma nota da
censura à imprensa, poucos meses antes de restaurada no País a ordem democrática…
Assim condicionada, a actividade teatral só em escassos intervalos pôde, ao longo de
uma história oito vezes centenária, manifestar-se em toda a sua plenitude.

História de Portugal, vol.IV (dir. Joã o Medina), CIL

Glossário:
Tribunal do Santo Ofício (l. 3) – Tribunal da Congregação da Suprema Inquisição.

“corpus” – (l. 5) – Conjunto de textos.

índices expurgatórios – (l.6) – listas de livros cuja leitura a Santa Sé proibia aos
católicos, considerando que o seu conteúdo punha em perigo a fé e os costumes dos
fiéis.

encarniçamento – (l. 6) - perseguição.

sanha – (l. 10) – ódio.

parêntese – (l.12) – Algo que interrompe uma fase.

Index Librorum Prohibitorum – (l. 15) – catálogo de livros proibidos.

dias defesos – (l.29) – dias de proibição.

Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas.
Usa a folha de respostas.

1- Para cada uma das afirmações que se seguem (1.1 a 1.5) escreve a letra
correspondente a Verdadeira (V) ou Falsa (F), de acordo com o sentido do texto.

1.1- A Inquisição exerceu acção repressiva especialmente sobre as peças vicentinas.

1.2- No total das obras vicentinas, somente cinco autos não escaparam às malhas da
Inquisição.
1.3- O “Index Librorum Prohibitorum” é um livro que condena toda e qualquer peça de
teatro.

1.4-Só a Igreja proibia a realização de peças de teatro sem revisão e autorização


superiores.

1.5- Até à implantação da democracia em Portugal, o teatro continuou a ser considerado


como arte marginal e perigosa.

2- Relê as linhas 12 a 15 do texto e indica a que se refere a partícula “–lhe” da palavra


“sobreviver-lhe”, na linha 15.

3- Para cada um dos itens que se seguem (3.1 a 3.3), escreve, na folha de respostas,
o número do item e a letra correspondente à alternativa que completa cada
afirmação, de acordo com o sentido do texto.

3.1- Na linha 17, a forma verbal “proscreve” pode ser substituída por…

a) explica.

b) proíbe.

c) envolve.

d) elogia.

3.2- Após a representação da “Floresta de Enganos” em 1536…

a) Gil Vicente continua, em força, a apresentar as suas obras.

b) Nota-se uma perseguição contra as peças de teatro , mas Gil Vicente escapa a essa
repressão.

c) A obra de Gil Vicente sofreu, significamente, a repressão do Tribunal do Santo


Ofício.

d) O Tribunal do Santo Ofício perseguiu as obras de Gil Vicente, mas tal não se fez
notar na Compilação.

3.3- O teatro era algo demoníaco…

a) para a Igreja, mas não para o poder civil.

b) tanto para a Igreja como para o poder civil.

c)só para o poder civil que lhe nutria uma grande desconfiança.

d) que a Igreja condenava, mas que estava longe de ser uma escola de vício e
depravação

Lê, atentamente, o seguinte excerto de O Auto da Barca do Inferno:


TEXTO B

Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:


Esta barca onde vai ora, haveis de passar o rio.
que assi está apercebida?
Fid. Não há aqui outro navio?
Dia.Vai pera a ilha perdida, Dia. Não, senhor, que este
e há-de partir logo ess'ora. fretastes,
Fid.Pera lá vai a senhora? e primeiro que expirastes
Dia.Senhor, a vosso serviço. me destes logo sinal.
Fid. Que sinal foi esse tal?
Fid.Parece-me isso cortiço...
Dia. Do que vós vos
Dia.Porque a vedes lá de fora. contentastes.
Fid.Porém, a que terra passais? Fid. A estoutra barca me vou.
Dia.Pera o inferno, senhor. Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me
Fid.Terra é bem sem-sabor.
ouvis?
Dia.Quê?... E também cá zombais? Respondei-me! Houlá!
Fid.E passageiros achais Hou!...
pera tal habitação? (Pardeus, aviado estou!
Dia.Vejo-vos eu em feição Cant'a isto é já pior...)
Que jericocins, salvanor!
pera ir ao nosso cais...
Cuidam cá que são eu grou?
Fid. Parece-te a ti assi!... Anjo Que quereis?
Dia. Em que esperas ter guarida? Fid. Que me digais,
Fid. Que leixo na outra vida
quem reze sempre por mi. pois parti tão sem aviso,

Dia. Quem reze sempre por ti?!... se a barca do Paraíso

Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!... é esta em que navegais.

E tu viveste a teu prazer, cuidando cá guarecer Anj. Esta é; que demandais?

por que rezam lá por ti?!... Fid. Que me leixeis embarcar.

Embarca! Hou! Embarcai! Sou fidalgo de solar,

que haveis de ir à derradeira! é bem que me recolhais.

Mandai meter a cadeira, Anj. Não se embarca tirania

que assi passou vosso pai.


neste batel divinal.
Fid. Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
Fid. Não sei porque haveis por
Dia. Vai ou vem! Embarcai prestes!
mal
Segundo lá escolhestes,
que entre a minha senhoria...
assi cá vos contentai.
Anj. Pera vossa fantesia
Pois que já a morte passastes,
haveis de passar o rio.
mui estreita é esta barca.
Fid. Pera senhor de tal marca Dia. Embarque vossa doçura,

nom há aqui mais cortesia? Tomarês um par de remos,

Venha a prancha e atavio! veremos como remais,

Levai-me desta ribeira! e, chegando ao nosso cais,

Anj. Não vindes vós de maneira todos bem vos serviremos.

pera entrar neste navio. Fid. Esperar-me-ês vós aqui,

Essoutro vai mais vazio: tornarei à outra vida

a cadeira entrará ver minha dama querida

e o rabo caberá que se quer matar por mi.

e todo vosso senhorio.


Dia.
Vós ireis lá mais espaçoso,
Que se quer matar por ti?!...
com fumosa senhoria,
Fid.
cuidando na tirania
Isto bem certo o sei eu.
do pobre povo queixoso.
Dia.
E porque, de generoso,
Ó namorado sandeu,
desprezastes os pequenos,
o maior que nunca vi!...
achar-vos-eis tanto menos
Fid.
quanto mais fostes fumoso.
Como pod'rá isso ser,
Dia. À barca, à barca, senhores!
que m'escrevia mil dias?
Oh! que maré tão de prata!
Dia.
Um ventozinho que mata
Quantas mentiras que lias,
e valentes remadores!
e tu... morto de prazer!...
Diz, cantando:
Fid.
Vós me veniredes a la mano,
Pera que é escarnecer,
a la mano me veniredes.
quem nom havia mais no bem?
Fid. Ao Inferno, todavia!
Dia.
Inferno há i pera mi?
Assi vivas tu, amém,
Oh triste! Enquanto vivi
como te tinha querer!
não cuidei que o i havia:
Fid.
Tive que era fantesia!
Isto quanto ao que eu conheço...
Folgava ser adorado,
Dia.
confiei em meu estado,
Pois estando tu expirando,
e não vi que me perdia.
se estava ela requebrando,
Venha essa prancha! Veremos esta
com outro de menos preço.
barca de tristura. Fid.Dá-me
licença, te peço,
que vá ver minha mulher.
Dia. E ela, por não te ver,
despenhar-se-á dum cabeço!
Quanto ela hoje rezou,
antre seus gritos e gritas,
foi dar graças infinitas
a quem a desassombrou.
Fid. Cant'a ela, bem chorou!
Dia.
Nom há i choro de alegria?..
Fid.E as lástimas que dezia?
Dia. Sua mãe lhas ensinou...
Entrai, meu senhor, entrai:
Ei-la prancha! Ponde o pé...
Fid. Entremos, pois que assi é.
Dia. Ora, senhor, descansai,
passeai e suspirai.
Em tanto virá mais gente.
Fid. Ó barca, como és ardente!
Maldito quem em ti vai!
Diz o Diabo ao Moço da cadeira:
Nom entras cá! Vai-te d'i!
A cadeira é cá sobeja;
cousa que esteve na igreja
nom se há-de embarcar aqui.
Cá lha darão de marfim,
Cámarchetada
lha darão dedemarfi.
dolores,
com tais modos de lavores,
que estará fora de si...
À barca, à barca, boa gente,
que queremos dar à vela!
Chegar ela! Chegar ela!
Muitos e de boamente!
Oh! que barca tão valente!
Tendo em conta o estudo que efectuaste da obra, responde de forma
completa e bem estruturada, aos itens que se seguem. Usa a folha de
respostas.

4- Relendo, com atenção, o excerto e tendo em conta a didascália da cena a


que se refere o excerto, explica o que simboliza cada um dos elementos
cénicos que acompanham o Fidalgo.

5- Identifica o destino do Fidalgo e os motivos que o fazem merecê-lo.

6- Explica as expressões:

a)” …que assi passou vosso pai.”

b) “Sou fidalgo de solar,/é bem que me recolhais.”

7- Explicita os argumentos que o Fidalgo utiliza em sua defesa.

8- Determina e caracteriza cada um dos momentos psicológicos da


personagem.

9- Identifica os recursos estilísticos presentes nas expressões seguintes:

a) “Ó poderoso dom Anrique…”

b) “Vai pêra ilha perdida…”

c) “Hou!”
Texto C

Constituição da República Portuguesa

Artigo 13º

(Princípio da igualdade)

1- Todos os cidadã os têm a mesma dignidade social e sã o iguais perante a lei.

2- Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer


direito ou isento de qualquer dever em razã o de ascendência, sexo, raça, língua,
territó rio de origem, religiã o, convicçõ es políticas ou ideoló gicas, instruçã o,
situaçã o econó mica ou condiçã o social.

1- Após a leitura atenta do Artigo 13º da Constituição da República Portuguesa, redige


um texto expositivo, com um mínimo de 70 e um máximo de 100 palavras, em que:

- explicites o que é legislado neste artigo;

- relaciones o mesmo artigo com a obra que estás a estudar ou o contexto em que
foi escrita.

GRUPO II
Responde aos itens que se seguem, de acordo com as orientações que te são dadas. Usa
a folha de respostas.

1-Faz corresponder as palavras seguintes com as suas designações:

a) euro

b) stress 1- estrangeirismo

c)champagne 2-neologismo

d)scanear
2- Atenta na lista de palavras que se segue:

- transformar - tilintar
- trazer - terrível
- tórrido
- terror
-trolha
- temível
- torrão
- tremer
- tinta
- tímido

2.1- Selecciona as palavras agudas, graves e esdrúxulas incluídas na lista.

Agudas Graves esdrúxulas

________ _________ _________

3- Dispõe numa coluna, à semelhança do que vês em baixo, os nomes e os


adjectivos que constituem a frase (na folha de respostas ):

Gil Vicente, o mais célebre e mordaz dramaturgo do país, tinha fama de eficiente,
culto e honesto.

Nomes Adjectivos

_____________________ _______________________________

4- Considera os processos de formação das palavras e classifica as


palavras apresentadas:

a) pronto-socorro;

b) selvagem;

c) reenviar;

d) anoitecer;

e) lobisomem
GRUPO III
A crítica social é cada vez mais uma prá tica corrente. As cró nicas sociais, e
os artigos de crítica sã o comuns hoje em dia.

Escreve um texto, de crítica social, correcto e bem estruturado, adequado a


uma revista, ou jornal, com um mínimo de 180 palavras e um má ximo de 240
palavras.

Não assines o teu texto.

Observaçõ es relativas ao Grupo III:

1- Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços
em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex:/di-lo-ei/). Qualquer
nú mero conta como uma ú nica palavra, independentemente dos algarismos que o constituam
(ex:/2009/).

2- Relativamente ao desvio dos limites de extensã o indicados – um mínimo de 180 e um má ximo de


240 palavras -, há que atender ao seguinte:

-a um texto com extensã o inferior a 60 palavras é atribuída a classificaçã o de 0 (zero) pontos;

-nos outros casos, um desvio dos limites de extensã o requeridos implica uma desvalorizaçã o parcial
(até dois pontos) do texto produzido.

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