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Sobre o cânon bíblico

O cânon das Escrituras compõe todos os 66 livros aceitos como inspirados por Deus. O
cânon protestante do AT é o mesmo cânon hebraico, embora com divisão e ordem de
livros diferentes. O cânon católico, que possui livros a mais, foi compilado no século
III, originado da Vulgata latina.

Segundo Grudem (1999), em sua Teologia Sistemática, a coleção mais antiga das
palavras de Deus eram os Dez Mandamentos. Essa coleção constitui o início do cânon
bíblico. Aos poucos, a palavra do Senhor foi sendo registrada por outras pessoas que
tinham autoridade, como Josué e os profetas. O conteúdo do cânon continuou
aumentando até que em meados de 435 a.C. o Espírito Santo cessou em falar, sendo
Malaquias o último profeta. O livro de Malaquias foi escrito quase na mesma época que
os livros de Esdras, Neemias e Ester. Embora haja outros livros com histórias sobre os
judeus, nenhum destes outros escritos reivindica para si a autoridade daqueles que
constituem o cânon hebraico. Inclusive o livro de Macabeus, escrito por volta de 100
a.C., relata um trecho em que o povo judeu esperava um profeta que pudesse falar com
autoridade divina, o que leva a crer que não havia mais profetas em meio aos judeus,
portanto, já não mais existia a Palavra do Senhor. Outras declarações sobre a espera de
um profeta também são registrados em Baruc e na oração de Azarias, relatados em
livros apócrifos. Por isso, os judeus consideravam desde aquela época somente como
livros canônicos, inspirados por Deus, os escritos até meados de 435 a.C., tendo como
último profeta Malaquias. É também importante dizer que Jesus Cristo nunca discordou
do cânon hebraico e fez centenas de citações do AT. Contudo, Jesus nunca citou nada
que estivesse relatado em outros livros fora do cânon judaico, ou seja, Ele rejeitou os
apócrifos.

Anglada (1998) diz que o cânon católico foi escrito com auxílio da Septuaginta, que foi
a tradução dos livros judaicos para o grego por volta de I a.C., para incluir a história dos
judeus na biblioteca de Alexandria, no Egito. Os tradutores que escreveram a
Septuaginta não se importavam em traduzir os livros canônicos, mas todos os livros
sobre a história dos judeus. Os reformadores puderam redescobrir as doutrinas básicas
do evangelho ao se depararem com o verdadeiro cânon hebraico do AT.

Há também a questão de que Jerônimo, que traduziu a Bíblia para a igreja Católica
(Vulgata Latina), deixou claro que os livros apócrifos, que hoje estão no AT da bíblia
católica, não faziam parte do cânon hebraico e serviam apenas para serem “livros de
igreja”, proveitosos para os cristãos. Somente em 1546, a Igreja Católica, no Concílio
de Trento, afirmou que os livros apócrifos eram a Palavra de Deus, mas isto ocorreu
como uma resposta à Reforma Protestante, pois nos livros apócrifos os católicos
encontram respaldo para suas doutrinas de salvação pelas obras e oração pelos mortos.

Os escritos do NT só foram considerados Escrituras Sagradas porque os apóstolos


tinham tanta autoridade divina quanto os profetas do AT. Jesus Cristo falou aos seus
discípulos que “o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome,
esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito”
(Jo.14:26). Deus capacitou os apóstolos para receberem as Palavras de Deus através de
seu Espírito. Contudo, a igreja primitiva também reconhecia como Escritura os livros de
Lucas e Atos (cujo autor é o próprio Lucas) porque Lucas tinha aproximação grande
com o apóstolo Paulo, e Paulo, em 1Tm. 5:17-18 faz menção de uma passagem de
Lucas 10:7, citando a expressão “o trabalhador é digno de seu salário” como sendo
Escritura Sagrada (frase relatada somente por Lucas, e não pelo AT). A igreja primitiva
também aceitou a carta de Judas por ser irmão de Jesus e ter relações com Tiago. O
evangelho de Marcos também foi considerado inspirado por causa da aproximação de
Marcos com Pedro e a carta aos Hebreus foi aceita por causa do seu conteúdo.

Além dos livros e cartas do NT serem registrados por apóstolos e discípulos de Jesus, o
conteúdo de todos os escritos foram analisados para poderem entrar no cânon. Além
disso, temos que entender que o Espírito Santo concedeu capacidade para a igreja
primitiva aceitar os livros inspirados por Deus através de diversos fatores: a autoridade
apostólica, a coerência com as Sagradas Escrituras (AT) e a própria percepção do
Espírito Santo que levou toda a igreja a entender como divinas as Palavras registradas
(mesmo critério que levou os judeus a aceitarem os livros do AT como inspirados por
Deus).

Referências: ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura: a doutrina reformada das Escrituras. 1ª


ed. São Paulo: Os Puritanos, 1998.
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo: Vida Nova,
1999.

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