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Unidade II
5 ÉTICA
A finalidade deste item é estudar o objeto da ética, campo de atuação e relação com as outras
ciências. O objetivo da ética é a investigação do comportamento moral dos homens em sociedade.
Porém, os atos humanos diferem de acordo com o momento histórico e grupo social no qual estão
inseridos. Nesse contexto, é possível classificar a ética em três grandes esferas: filosófica, religiosa e
científica.
No senso comum, as palavras ética e moral são usadas como sinônimos. Por possuírem a mesma base
etimológica, justifica-se seu uso: ethos, em grego, significa hábito e costumes e mores, em latim, tem o
mesmo significado, diferenciando-se, porém, na aplicação: enquanto a moral lida com os problemas do
dia a dia, a ética os analisa de uma forma universal.
Lisboa (2009) conceitua moral como conjunto das normas que, em determinado meio, tem
a provação para o comportamento humano; já a ética é, para o autor, a expressão única do
pensamento correto, conduzindo à ideia da universalidade da moral; a forma ideal universal do
comportamento humano.
Tanto a ética quanto a moral têm como fundamento o estudo do comportamento humano e sua
maior diferença está em analisar os problemas e os conflitos que a vida em sociedade proporciona.
O homem é um ser histórico e gregário. Histórico, porque faz e acompanha a história, e gregário, por
necessitar, para sua própria sobrevivência, viver em sociedade. A história da humanidade nos remete a
tempos em que os homens viviam em cavernas, mas sempre em grupo.
A ética pode ser entendida como uma construção social do homem para com o homem, que busca
estabelecer, por meio de normas de conduta, padrões de comportamento que garantam a convivência
entre todos. O homem é um ser complexo, imprevisível, que, mesmo conhecendo todas as normas, a
qualquer momento pode descumpri-las. Para inibir o não cumprimento dessas regras estabelecidas pelo
e para o homem, sansões deverão ser predefinidas, caso contrário, conforme afirma Hobbes (2002), seria
a luta de todos contra todos, o que provocaria o caos.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Desse modo, o convívio social sempre estará à beira de conflitos e de problemas morais e éticos.
Os problemas morais estão nas relações cotidianas dos indivíduos entre si, como exemplifica Vázquez
(1996, p. 5): “Devo cumprir a promessa x que fiz ontem ao meu amigo y, embora hoje perceba que o
cumprimento me causará certos prejuízos?”. Trata-se, portanto, de uma questão prática, que envolve
relações efetivas entre indivíduos, e não entre toda a sociedade, como a construção de um viaduto, que
exigiria a desapropriação de diversas moradias do local.
Os problemas éticos ou teóricos tornam-se o fundamento da ética. Em outros termos, ela se interessa
pelo estudo do comportamento humano universal, cabendo à moral o estudo do comportamento
individual.
Para Vázquez (1996), a definição dos problemas éticos procura delimitar a essência ou traços
essenciais do comportamento moral, uma vez que o problema da essência do ato moral remete à outra
questão: a da responsabilidade. E, assim, completa o autor (1996, p. 8-9):
Portanto, o estudo da ética está pautado pelo estudo dos problemas teóricos ou éticos, caracterizados
pela generalidade, e não dos problemas do dia a dia ou problemas práticos, como são chamados. A linha
que separa os problemas teóricos – objeto do estudo da ética – dos problemas práticos – objeto do
estudo da moral – é tênue. Nesse sentido, as soluções de um acabam por influenciar as do outro.
O desafio da ética está em permanecer no campo teórico, caso contrário, passaria a ditar normas de
conduta – o que é certo ou errado, bom ou ruim. E, assim, estaria desvencilhando-se de seu objeto de
estudo: o comportamento humano universal.
É a partir das relações entre os homens e, conforme afirma Vázquez (1996), por meio do
comportamento moral efetivo que se desenvolvem as doutrinas éticas, atendendo cada uma das épocas
da história da humanidade. De acordo com o autor (1996, p. 235):
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Unidade II
A filosofia nasce na Grécia Antiga a partir de uma conjuntura histórica. Mattar (1997, p.7) destaca que
é a partir da “decadência da civilização dos aqueus, baseada em clãs, substituída lentamente pela polis
(cidade-estado) grega, que o poder da palavra escrita passa a ser essencial”, e assim, gradativamente, os
conceitos são substituídos. A explicação, por exemplo, do universo – kósmos –, que até então era dada
pelos téos (deus, divindade), busca-se agora no próprio universo, ou seja, é a razão que passa a dar conta
de tudo, substituindo-se a explicação divina – gonia – pela científica – logia.
E assim nasce a filosofia, a busca do saber de todas as coisas, que obriga que a teogonia e a
cosmogonia cedam seu lugar à cosmologia. Ou seja, conforme relatam Aranha e Martins (1986, p.13):
[...] a crença na origem divina e mítica do mundo foi substituída pela busca
da arché, do princípio material e também regulador da ordem do mundo.
Essa busca da arché, do princípio ou fundamento das coisas, transformou-se
na questão central para os filósofos pré-socráticos.
Observação
De acordo com os escritos, é o pensamento racional ou filosófico que busca, além da explicação
da totalidade, também comandar as ações humanas, atribuindo ao homem, no lugar dos deuses, a
responsabilidade por seu comportamento.
Dentro da cronologia da história da humanidade, Vázquez (1996) destaca a ética grega (ou ética
filosófica), a cristã medieval (ou ética religiosa) e a moderna e contemporânea (ou a ética científica).
É a partir do nascimento da filosofia que o homem torna-se o centro de uma organização social – a
polis (cidade-estado) – e é por ela responsável, tanto na construção quanto no bem-estar de todos, ou
seja, o bem comum acima do individual, o público se sobrepõe ao privado. E esta manifestação só ocorre
a partir do autoconhecimento, como defendia Sócrates, por meio dos escritos de Platão (seu discípulo). É
o início de uma sociedade fundamentada na razão humana e princípio da ética grega, que por analogia
ao corpo humano cria um estado-modelo que deveria possuir, assim como o homem, cabeça, peito e
baixo-ventre, ou seja, governantes, sentinelas e trabalhadores. Em termos gerais, o homem é o fim em
si. Os principais precursores da ética grega ou filosófica são: Sócrates, Platão e Aristóteles.
Desse modo, como aponta Aguiar (2009a), Platão (leia-se também Sócrates) julgava que as partes
da alma possuíam um ideal ou uma virtude que deveriam ser desenvolvidos para seu funcionamento
perfeito. A razão deveria aspirar à sabedoria, a vontade deveria aspirar à coragem e os desejos deveriam
ser controlados para atingir a temperança. Para constituir um indivíduo harmônico, deveria haver
equilíbrio entre a razão (manifestada pela cabeça), a vontade (representada pelo peito) e o desejo
(simbolizado pelo baixo-ventre), atingindo-se, portanto, a quarta virtude, a justiça. Assim, seria também
o Estado, que só alcançaria a harmonia quando do equilíbrio manifestado pelos governantes, sentinelas
e trabalhadores em benefício de todos, ou melhor, a justiça para todos.
A ética aristotélica ou ética naturalista, por compreender a humanidade como parte da ordem
natural do mundo (daí a não aceitação dessa teoria, principalmente pela Igreja Católica, por excluir
Deus como criador do homem e de todas as coisas do universo), também defende que é o bem comum
a origem da felicidade do homem. “Assim, o homem virtuoso é aquele capaz de deliberar e escolher o
que é mais adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio
entre o excesso e a escassez” (AGUIAR, 2009, p.15).
A ética cristã medieval (ou a ética religiosa) é formada a partir “de um conjunto de verdades
reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com o seu criador e do modo de vida prática que o
homem deve seguir para obter a salvação no outro mundo” (VÁZQUEZ, 1996, p. 243). Assim, as normas
que regulamentam o comportamento humano visam seu bem-estar em outro mundo e não na polis,
conforme determinava a ética grega. O homem deixa de ser o centro da organização e Deus toma seu
lugar. O homem não é mais o fim em si, Deus é o fim.
Por meio da figura de Jesus Cristo, como representação divina, a ética passa a tê-la como parâmetro.
Ou seja, um Deus que se fez homem (ou vice-versa) torna-se referência de tudo o que se pode ou não
fazer, e uma nova concepção de vida é instalada: a caridade, a responsabilidade pela salvação de si e do
outro e também a liberdade, uma vez que todos são livres e iguais, porque são filhos do mesmo Deus e
com direito à salvação vinda de Cristo.
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Unidade II
Assim, como aponta Aguiar (2009a), a liberdade e a autonomia cedem lugar ao conceito de dever,
mas um dever de agir em conformidade com a vontade de Deus, não mais do homem, como defendiam
os gregos.
Para abordar a ética científica, Vázquez (1996) a divide em moderna e contemporânea. Seu propósito
é identificar que a partir do momento que o homem passa a dominar a natureza, por meio da razão e
da vontade representada pela ação, forma-se uma nova sociedade, voltada para o progresso científico.
Uma nova ordem social torna-se necessária. Agora o homem também domina outro homem, resultando
numa luta de classes, inevitável para este momento da sociedade.
Para Weber (1967), a partir da modernidade, o homem deixa de ser o fim (como defendiam os gregos)
para se tornar o meio de ganhar dinheiro, ou seja, é a era científica que passa a dominar o mundo por
meio do capitalismo instaurado a partir da Revolução Industrial (início do século XVIII).
Na ética moderna o homem retoma seu lugar na organização social e vai além daquela proposta
colocada pela ética grega: não é só dotado de razão, mas também da vontade que será realizada por
meio da ação. O homem passa de contemplativo para mentor de suas ações. É o processo de separação
daquilo que o unia na Idade Média. Segundo Vázquez (1996, p. 247), “a) a razão separa-se da fé (e
a filosofia, da teologia); b) a natureza, de Deus (e as ciências naturais, dos pressupostos teológicos);
c) Estado, da Igreja; e d) o homem, de Deus”. Enfim, as mudanças ocorrem nas ordens econômica,
social, estatal e espiritual. Trata-se do nascimento de um novo homem, dotado não só de razão, mas,
principalmente, de vontade concretizada na ação, o que o responsabiliza pelas suas escolhas.
Talvez a maior contribuição para a construção de uma nova ética, exigida por essa sociedade que
surge com um novo propósito, seja a liberdade do uso da razão e ao mesmo tempo a responsabilidade
dirigida ao homem pelo resultado dessa ação. Aqui, é imprescindível que façamos referência à teoria do
dever proposta por Kant (1724-1804). Como aponta Aguiar (2009a, p. 18), “o homem é livre, diz Kant,
porque não está sujeito às leis físicas da natureza, sua virtude reside na ação ao mesmo tempo voltada
para interesses individuais e universais”. Ou seja, o homem pode resistir às tendências naturais, por meio
da razão e principalmente por esta ser livre. É o próprio homem quem comanda suas ações.
Portanto, para Kant, na natureza há leis e, na ética, deveres. É pelo fato de sermos livres e de termos
boa vontade (o que Kant denomina de resistência às tendências naturais), além da preocupação com
o interesse geral, que há algo em nós que ordena uma resistência e até mesmo um combate contra a
naturalidade ou animalidade que existe em nós. Ou seja, é a voz da razão que nos guia (AGUIAR, 2009a).
De acordo com Pascal (1992), Kant denomina a voz da razão de imperativo categórico e explica:
imperativo, porque não se pode subtrair a ele, não é um conselho, é uma determinação; e categórico,
porque não se admite o contrário daquilo que está mandado, não é para se discutir, mas sim para acatar.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
A ética kantiana nos leva a agir em conformidade com o bem comum e não de acordo com os nossos
desejos; somos livres para dominar tais desejos.
É a partir de uma sociedade pautada pela razão humana (a era do Iluminismo, o homem guiado
pela razão) que surgem as mudanças. A ciência passa a comandar todas as áreas. Na economia, com
o desenvolvimento científico, surgem as primeiras máquinas, provocando a Revolução Industrial. As
fábricas substituem o trabalho artesanal, elevando a produção. Na ordem social, a burguesia surge como
uma nova classe social. O poder econômico passa a deter o domínio da sociedade, deixando de lado a
monarquia e o clero até então dominantes no período medieval. Na esfera estatal, o clero e a monarquia
sem forças cedem espaço para o poder econômico. A ideologia dominante da Igreja Católica é também
absorvida pelo poder econômico e a esfera espiritual deixa de ditar as normas de conduta aceitas no
período medieval. Está no comando uma nova sociedade: a sociedade capitalista.
A ética contemporânea surge a partir do novo sistema social advindo da sociedade moderna e
contemplado por progressos técnico-científicos que, se por um lado trouxeram desenvolvimento às
forças produtivas, por outro, colocaram a existência humana em jogo.
Para esse novo sistema social, outro comportamento humano é exigido, outra ética torna-se
necessária, no momento em que a razão passa ser direcionada para fins predeterminados que garantam
a sobrevivência do sistema. Trata-se da razão instrumental apontada por Weber (1982) e Habermas
(1988).
A razão instrumental é uma técnica de dominação sobre a natureza, necessária para a sobrevivência
do sistema capitalista. O homem passa de fim para meio, ou seja, é o sistema que deve prevalecer e não
mais o homem.
É entendido que as regras, as normas, são indispensáveis para quaisquer tipos de sociedade, quer seja
formal ou não, caso contrário, a sociedade não se mantém, uma vez que interesses individuais poderão
sobrepor-se aos coletivos.
É possível observar que as definições possuem designações comuns, por exemplo: interesse, atividade
e normas.
Lembrete
Srour (2005) inicia sua explanação sobre a ética nas organizações afirmando que toda organização
depende de uma ética para a própria sobrevivência. É o cumprimento da ética imposta pelos próprios
membros da organização que permitirá o alcance do objetivo determinado por essa organização.
É possível afirmar que há dois tipos de normas e suas respectivas aplicabilidades em uma organização:
as normas jurídicas e as normas morais. Enquanto as normas jurídicas são representadas pelas leis e
regulamentos, as normas morais ditam o que é certo ou errado. No entanto, ambas regulamentam as
relações sociais.
As relações sociais só existem a partir dessas normas. Enquanto as normas morais exigem uma
adesão ideológica, as jurídicas são impostas e, caso não sejam cumpridas, os agentes sociais sofrerão
sanções externas. Ao observamos as normas morais, caso essas não sejam cumpridas, os agentes sociais
igualmente não estarão isentos de penalidades, sofrendo coerções internas. Srour (2005, p. 270) assim as
resume: “as normas morais são simbólicas e animam as relações de saber (hegemonia e conformidade);
as normas jurídicas são políticas e expressam as relações de poder (dominação e sujeição)”.
As palavras ética e moral sofreram, ao longo do tempo, modificações em sua aplicabilidade, embora
etimologicamente as duas signifiquem costumes ou normas e regras utilizadas por um sociedade. A
própria sociedade passou a utilizar tais palavras com finalidades diferentes, colocando a moral como
normas individuais, enquanto a ética passou a atender a uma coletividade. A ética é uma ciência e
seu objeto de estudo é a moral (a busca da melhor forma do agir coletivamente, aprovando ou não
os costumes). A ética é construída a partir de um objetivo comum, independente de sua classificação:
filosófica, religiosa ou científica.
No caso da ética empresarial, sua base está na ética científica, ou seja, a ética construída a partir de
interesses racionais focados num objetivo previamente estabelecido para esta sociedade – a sociedade
empresarial.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
A empresa, segundo Aguiar (2009a), necessita acima de tudo sobreviver. Assim, ações concretas
precisam ser estabelecidas em conjunto com seus integrantes internos e externos. Citam-se os seguintes
exemplos de ações éticas aplicadas pelos agentes empresariais:
• Balanço social: é um relatório elaborado pela empresa para divulgar sua política de gestão de
pessoas e suas aplicações no processo produtivo, bem como informar aos envolvidos, parceiros
internos e externos, sua gestão social e ambiental, inclusive a implantação e/ou andamento de
programas sociais e o retorno/resposta dos beneficiários do programa.
• Compromisso social: uma vez a empresa inserida na comunidade ao seu redor, o reconhecimento
por parte dela é visível, por se tratar de interesses comuns: a empresa se desenvolve, bem como a
população da qual geograficamente faz parte.
• Códigos éticos de empresas: a função dos códigos de éticas elaborados pelas empresas é
promover a igualdade entre seus participantes; independente do nível hierárquico exercido, todos
devem seguir as regras de conduta estabelecidas pela empresa durante o período de trabalho. Por
serem essas pessoas os maiores representantes da empresa, sua conduta reflete a da instituição,
podendo, em caso negativo, comprometer a imagem da organização perante a sociedade.
Modelos surgem a fim de medir a ética nas empresas. Aqui, toma-se como ilustração o modelo
desenvolvido pelo consultor norte americano Frank Navran, intitulado “Indicadores de Clima Ético nas
Empresas”, que foi publicado na RAE, por meio de um artigo elaborado por Arruda (2000) com o mesmo
título. A apresentação está condensada, porém sem comprometer o modelo em si.
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Unidade II
Indicadores Medidas
Regras e manuais?
1. Sistemas formais
Sistemas de controle?
2. Mensuração Sistema de avaliação?
3. Liderança Políticas escritas e mensagens?
4. Negociação Acordos?
5. Expectativas Sistema de seleção, promoção e correção?
6. Consistência Palavras e ações da organização?
Lançamento de produto?
7. Chaves para o sucesso Auxílio a um mentor?
Experiência em posições-chave?
Contato com clientes?
8. Serviço ao cliente Manifestação de cortesia?
Treinamentos?
Comunicação de regras?
Informação, orientação e reforço?
9. Comunicação Esclarecimento de dúvidas?
Rapidez, precisão e punição em relação ao cumprimento das
normas?
Sistema informal de comunicação e educação?
10. Influência dos pares Apoio dado aos colegas?
Apoio recebido dos colegas?
Relações pessoais?
Assédio sexual?
11. Consciência ética
Uso dos ativos da empresa?
Pagamentos facilitadores?
As regras são indispensáveis para o convívio social e a empresa constitui uma das organizações
sociais. Logo, no modelo de Frank Navran, apontado por Arruda (2000, p. 29), estabelece-se que
“os sistemas formais da organização correspondem aos métodos, às políticas e aos procedimentos
que claramente identificam qual o negócio, quando, como, onde e por que ele se realiza”. Os
sistemas formais permitem que os funcionários tenham uma expectativa correta sobre a empresa
e o quanto deles será exigido, principalmente em termos de comportamento, caso contrário os
funcionários ficariam totalmente dependentes de seus valores pessoais e do comportamento
observado pelos outros. Assim, os sistemas formais padronizam o comportamento dos funcionários
dentro da organização.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Indicador 2: Mensuração
Só implantar os sistemas formais não é suficiente para garantir o seu cumprimento. As pessoas,
como relata Frank Navran (apud ARRUDA, 2000), “tendem a prestar mais atenção àquilo que é avaliado
e medido, pois é justamente o mensurável que a organização traduz em recompensa”. Logo, os sistemas
formais dependem não só de mensuração, mas também de uma clara definição de responsabilidades
(por pessoa e ou equipe).
Indicador 3: Liderança
O modelo estabelecido por Frank Navran mostra que as ações e o comportamento dos líderes são
mais representativos que as próprias regras estabelecidas, uma vez que o sucesso da organização
depende diretamente da liderança por ela designada. Os líderes são os representantes da empresa junto
aos funcionários.
Indicador 4: Negociação
A negociação dentro e fora da empresa permite resolver assuntos conflitantes de uma maneira
saudável por não ter a competição como foco, mas sim o atendimento dos envolvidos de modo que não
haja perdedor ou ganhador. Dentro da empresa, a negociação interna, na maioria das vezes, envolve
interesses dos funcionários, como a disputa do período de férias ou a entrega de um determinado
relatório. Já a negociação externa poderá envolver a operação com um cliente e aqui os sistemas formais
(procedimentos) poderão ser utilizados como limitadores.
Indicador 5: Expectativas
Se as empresas têm suas exigências formais e informais para alcançar o sucesso, tais exigências
se tornam expectativas em relação aos seus empregados e estes em relação à empresa, uma vez
que tanto suas capacidades pessoais quanto suas percepções estarão em jogo, logo, quanto mais
explicitas e congruentes forem as exigências da empresa, maior a possibilidade de alcançar o
sucesso.
Indicador 6: Consistência
“Quando a organização é inconsistente, o funcionário não tem certeza do que deve pensar e como
deve agir”, conforme aponta Arruda (2000, p. 31). A consistência das ações por parte da empresa precisa
ser aplicada a qualquer momento. Os sistemas formais devem ser seguidos, caso contrário o medo e a
autoproteção serão instalados, comprometendo a empresa como um todo.
Toda empresa tem sua chave para o sucesso, que deve ser acessível a todos, caso contrário, o conflito
e a insatisfação passarão a tomar conta do ambiente, comprometendo o próprio sucesso.
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Indicador 9: Comunicação
É a comunicação que irá levar aos empregados as expectativas criadas pelas empresas em
relação ao seu desempenho, logo, a comunicação torna-se o elo entre a organização e seus
parceiros. Assim,
A influência dos pares significa dizer que “quando a organização falha em comunicar adequadamente
seus padrões éticos e suas expectativas, os funcionários compensarão essa falha aumentando sua
confiança no apoio dado pelos colegas de trabalho”, de acordo com o estudo elaborado por Arruda (2000,
p. 33). O apoio dos colegas torna-se um fator positivo, quando influenciado pela própria organização,
provocando a informalidade, que venha a aderir aos padrões éticos em busca das metas almejadas pela
empresa.
Arruda (2000) declara que mesmo que esse indicador não esteja no Modelo de Navran, sua
construção veio da parceria da CENE – Centro de Estudos de Ética nas Organizações, da EAESP/FGV
– com a Consultoria da qual Frank Navran é diretor, a Ethics Resource Center (Washington/EUA).
O indicador foi criado especificamente para o Brasil, levando-se em consideração, principalmente,
os aspectos culturais do nosso país. Assim, influências pessoais, políticas em muitos casos, são
premissas para obtenção de cargos de decisão em comparação com o conhecimento técnico
exigido. Na relação chefe/subordinado, o abuso de autoridade pode levar ao assédio sexual.
Ademais, propinas, presentes e favores também podem comprometer a imagem da organização e,
consequentemente, a sua sobrevivência.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
A ética é o estudo do comportamento humano em determinada sociedade, bem como das regras
que todos devem seguir, a fim de garantir e preservar o seu bem-estar.
Sendo assim, tanto a ética profissional quanto a ética empresarial têm a responsabilidade de fazer
cumprir as normas estabelecidas, por estar exatamente em jogo o alcance do objetivo proposto por
uma classe profissional. No caso do não cumprimento de tais regras pelos membros dessa sociedade
profissional, sanções devem ser aplicadas, pois, para a ética, o interesse universal prevalece em relação
ao particular, e para ética profissional não seria diferente.
Outras necessidades surgem com a concepção de uma nova sociedade, a partir do Iluminismo (séc.
XVIII), uma vez que o homem torna-se o centro do universo – até então, a Igreja Católica era quem
dirigia as ações humanas durante o período medieval. Para atender a essas novas necessidades, iniciam-
se atividades empresariais e profissões que dependem de normas e sanções que as harmonizem.
Segundo Lisboa (2009), é o exercício pleno dos valores éticos da sociedade a qual a profissão atende
que sustentará sua atuação. Em outras palavras, seja qual for a profissão exercida, somente terá sua
legitimidade quando respeitar os valores éticos da sociedade na qual se insere, caso contrário, a profissão
passa a ser ilegítima, como o traficante de entorpecentes: o fruto desse trabalho contraria os valores
éticos sociais, portanto, a sua atuação torna-se maléfica para o desenvolvimento da coletividade.
Aguiar (2009a) demonstra que a ética profissional foi construída pelos precursores da profissão e
ensinada para aqueles que nela ingressavam, com a preocupação de estabelecer a sua perpetuação.
Todavia, algumas profissões, devido à evolução tecnológica, deixaram de existir, surgindo outras que
atendessem a uma realidade diversa. Desse modo, foi necessária a criação de novas normas para esses
profissionais. É possível citar como exemplo os profissionais da área de informática, que, assim como
tantos outros profissionais, têm no seu código de ética a base para o exercício de sua profissão.
É importante salientar que o fiel cumprimento das normas estabelecidas em todo código de ética
não é suficiente para fazer com que o profissional atinja o sucesso, Aguiar (2009a) destaca que é a
competência para o exercício profissional que fundamenta o alcance da ética. Em outras palavras:
[...] ser competente é saber fazer bem o dever. Ao dever articulam-se, além do
saber, o querer e o poder. É fundamental um saber, o domínio dos conteúdos
específicos das atividades profissionais, mas esse saber perde seu significado
se não estiver ligado à vontade política (o sentido de vida em sociedade), a
um querer que determina a intencionalidade do gesto para com o outro no
espaço do trabalho (AGUIAR, 2009a, p. 44).
Como seres sociais, todos os nossos valores foram construídos a partir dos ensinamentos recebidos
ao longo da vida. Logo, a competência profissional, que, de acordo com o autor, é um valor ético
profissional, foi ensinada durante toda a modernidade pelas gerações de profissionais anteriores à
carreira que escolhermos.
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Unidade II
Em termos gerais, Lisboa (2009, p. 62) define um código de ética como “um corpo de princípios que
relaciona as principais práticas de comportamento permitidas e proibidas no exercício da profissão”, ou
seja, são as normas ali contidas que darão o embasamento para o profissional exercer suas funções dentro
do ambiente empresarial. Contudo, o não cumprimento dessas normas, além de comprometer o objetivo
determinado pela organização empresarial, levará o profissional a responder civil e criminalmente,
quando for o caso, pelas práticas não atendidas.
Para Aguiar (2009a), a ética profissional está relacionada a um conjunto de normas que impulsionam
o indivíduo à aquisição de hábitos e à formação do seu caráter de tal maneira que passe a agir em
conformidade com o tipo de profissional que a sociedade construiu ao longo da história. Esse indivíduo
é dotado de direitos e deveres que contribuam para uma vida profissional harmoniosa, respeitando
tanto os profissionais da mesma classe quanto a sociedade a que servem.
De acordo com as definições apontadas por Lisboa (2009) e Aguiar (2009a), podemos entender
que o código de ética para o profissional de Contabilidade visa atender às exigências que a
sociedade espera dele, uma vez que tal profissional é o responsável pela mensuração e avaliação
do patrimônio empresarial, por meio de informações geradas pelas operações praticadas nessa
mesma organização.
Para tanto, como demonstra Aguiar (2009a), o código de ética profissional dos contabilistas
especifica alguns dos tipos de trabalhos que podem ser exercidos pelo profissional de Contabilidade,
como contador, perito, auditor ou árbitro.
Embora cada atuação possua características próprias, um ponto é comum a elas: a geração de
informação, um dos mais preciosos (se não for maior) bens da sociedade empresarial atual. É a informação
que levará a tomada de decisões internas e externas às organizações empresariais, como o momento
mais adequado para lançamento de um produto, aquisição de novos equipamentos, junção de empresas,
enfim, são as informações que movimentam os negócios empresariais e consequentemente a economia
local e mundial.
É a partir desse parágrafo – a informação gerada pela área contábil, e sendo o profissional de
Contabilidade seu maior representante – que vamos ao encontro do objeto do presente material: a
informação é formada com base nas operações simplesmente geradas pelas organizações ou é
construída a partir de operações programadas pela entidade empresarial que toma como fim a essência
do capitalismo, ou seja, a criação e acumulação de riqueza? Então, o profissional de Contabilidade, a
partir do código de ética, contribuirá com a perpetuação do sistema capitalista?
As respostas para essas perguntas são amplas e complexas. Neste livro-texto, nós as buscamos na
razão instrumental, ou seja, uma razão elaborada a partir de um fim específico, que leva o homem a
comportamentos predeterminados, por meio de regras e sanções, tirando, portanto, seu maior bem, a
liberdade de pensar e agir.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Sendo a razão considerada um instrumento, conforme aponta Horkheimer, seu pensar e agir é
dirigido por quem e para quem?
O autor aponta a modernidade como responsável pela mudança no homem, ou seja, o homem
deixa de ser o fim para torna-se o meio de alcançar objetivos que não mais lhe pertencem. É o sistema
capitalista que deve prevalecer e o homem passa a ser esse meio, o instrumento de alcance. É a formação
e a acumulação de riqueza que deve sobrepor-se ao homem, abrindo mão de seu bem-estar, de sua
liberdade, como defende Kant na razão crítica.
Cita-se:
Cita-se:
Saiba mais
A seguir, iremos estudar o “Código de Ética Profissional do Contador”, que é uma aplicação dos
conceitos de ética estudados até então ao universo da profissão contábil:
Capítulo I – Do Objetivo
Art. 1º. Este Código de Ética Profissional tem por objetivo fixar a forma pela qual se
devem conduzir os Profissionais da Contabilidade, quando no exercício profissional e nos
assuntos relacionados à profissão e à classe.
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TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Art. 5º. O Contador, quando perito, assistente técnico, auditor ou árbitro, deverá:
Art. 6º. O Profissional da Contabilidade deve fixar previamente o valor dos serviços, por
contrato escrito, considerados os elementos seguintes:
Art. 9º. A conduta do Profissional da Contabilidade com relação aos colegas deve ser
pautada nos princípios de consideração, respeito, apreço e solidariedade, em consonância
com os postulados de harmonia da classe.
Art. 11. O Profissional da Contabilidade deve, com relação à classe, observar as seguintes
normas de conduta:
Art. 12. A transgressão de preceito deste Código constitui infração ética, sancionada,
segundo a gravidade, com a aplicação de uma das seguintes penalidades:
Para este artigo outros três itens são relacionados, mais Parágrafo 1º e outros três itens
e para completar este artigo há também o Parágrafo 2º e mais dois itens.
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Unidade II
Art. 15. Este Código de Ética Profissional se aplica aos Contadores e Técnicos em
Contabilidade regidos pelo Decreto-Lei nº 9.295/46, alterado pela Lei nº 12.249/10.(6)
(1) Alterado pela Resolução CFC 819/97, de 20.11.97, publicada no DOU de 13.01.98.
(2) Alterado pela Resolução CFC 942/02, de 30.08.02, publicada no DOU de 04.09.02.
(3) Alterado pela Resolução CFC 950/02, de 29.11.02, publicada no DOU de 16.12.02.
(4) O artigo 14 deste Código foi regulamentado pela Resolução CFC 972/03.
(5) Os artigos 6º e 7º deste Código foram regulamentados pela Resolução CFC 987/03.
(6) Incluídos/Alterados pela Resolução CFC 1307/10, publicada no Diário Oficial da União
de 14.12.2010, e republicada em 10 de janeiro de 2011.
Observação
Considerando-se que o Art.1º do Capítulo I – Do Objetivo , Este Código de Ética Profissional tem
por objetivo fixar a forma pela qual se devem conduzir os Profissionais da Contabilidade, quando no
exercício profissional e nos assuntos relacionados à profissão e à classe compreendemos que temos, no
mínimo, três situações envolvidas: a)um objetivo predeterminado; b) um percurso predeterminado e c)
um agente responsável em alcançar esse objetivo.
118
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Lembrete
Por fim, entendemos que o papel da Ciência é suprir as necessidades humanas em todas as
circunstâncias e, no momento em que elas mudam, a Ciência também precisa mudar. E é, portanto,
nesse contexto que se encontra o profissional de Contabilidade. Especificamente, o Código de Ética do
Contador é fruto de uma razão instrumental, conceito apresentado por Horkheimer, ou seja, uma razão
elaborada a partir de um fim específico, levando o homem a comportamentos predeterminados, por
meio de regras e sanções.
Saiba mais
A seguir, convidamos você a realizar um exercício sobre ética com comentários dos autores deste
livro-texto:
119
Unidade II
Para piorar as coisas, a União Europeia e os Estados Unidos estavam prestes a realizar
uma intervenção militar no Oriente Médio caso as negociações diplomáticas falhassem.
Países importantes como Egito, Síria, Israel, Líbano, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes
Unidos estavam vivendo um dos momentos mais tensos nos últimos anos. Na televisão,
os jornalistas comparavam a situação com a crise dos mísseis de 1962 em Cuba, quando o
mundo quase viu o início de um conflito militar.
Alheio a isso tudo, João Augusto calmamente tomava o seu café da manhã. Ele também
estava preocupado, mas os motivos eram outros...
João Augusto era separado e a cada duas semanas tinha em seu apartamento a
companhia de sua filha de 10 anos, a Bela Karina, uma menina que adorava ir para a escola
e fazer teatro. Talvez essa menina seja uma atriz no futuro, ou uma jornalista. João Augusto
pensou bem e sussurrou para si mesmo:
— Minha filha jornalista? Não, de jeito nenhum! Não quero que ela
passe uma noite numa calçada fria para conseguir umas poucas palavras
de um funcionário qualquer do governo, que nem esse pessoal aí. Mas
atriz... bem, hoje eu vou ligar para uma escola de teatro, acho que ela vai
gostar de fazer um curso...
João Augusto
— Bom dia Angélica, já viu a CRVEND. Nem te dei bom dia direito,
mas...
120
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Angélica
— EEEEEEEEEEEEEEEEBA!
João Augusto
Angélica
João Augusto
— Que bom! Então, gente, vamos continuar nos vendo! Uns não vão
gostar, mas, teremos nossos empregos firmes. Agora, vamos trabalhar,
antes que coloquem uma meta inatingível também para nós aqui na
Contabilidade!
121
Unidade II
(Em tom de ironia, uma vez que sabia que a ameaça da matriz, na
França não era séria).
Angélica
João Augusto
— Tô subindo!
No caminho para a sala da presidência, João Augusto se encontra com o Sr. Talhes, o
Diretor de Vendas, um homem de idade avançada, que tinha dificuldades de respirar e que
sem querer deu um banho de água gelada no pobre contador:
Talhes
João Augusto
Talhes
João Augusto
(Visivelmente consternado).
A porta do elevador abriu-se e estavam na antessala alguns diretores que João Augusto
já não via há muito tempo. Cumprimentou a todos, mas não conseguia ver felicidade. O
clima era de velório. A secretária, Dona Maria José veio ao seu encontro e, com um sorriso
no rosto, (como se João Augusto fosse a última solução) convocou-o para entrar na sala do
Sr. Pierre.
122
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Maria José
Ao entrar na sala vazia do Sr. Pierre, que de tão grande ocupava quase todo o andar,
sentou-se na gigantesca mesa de reuniões. Havia alguns apetitosos lanchinhos, mas como
essas coisas têm muito sal estava proibido de comer aquelas delícias. Então, para se distrair,
ficou olhando demoradamente para a foto das fábricas de Cuiabá e Catalão, em um lindo
pôster na parede, próximo ao telão. De repente, leva um susto com um tapão nas costas.
Pierre
João Augusto
Pierre
Pierre
— Sei que naum gosta de fazer isso, mas o emprego de dois mil
funcionários está em jogo. Me altera os valores de vendas brutas
no sistema em mais 40% nos próximos dois meses? Só dois meses?
Depois a gente compensa isso de algum jeito. E se der problema com a
auditoria eu assumo.
— O que me diz?
Exemplo de aplicação
- De acordo com o Pronunciamento Conceitual Básico, do CPC, qual deve ser a atitude do Contador
João Augusto ao enfrentar uma situação desse tipo?
- O que poderia ter sido feito antes, para evitar essa situação e esse diálogo entre o Sr. Pierre e o
José Augusto?
Resolução do exercício:
O Sr. Pierre, presidente da subsidiária francesa de uma multinacional procura o José Augusto,
contador dessa subsidiária, e propõe que seja realizada uma fraude para justificar alguma ação, criar um
argumento ou ajudar a reverter uma decisão de finalizar as atividades dessa subsidiária no Brasil.
O Sr. Pierre faz isso visivelmente em uma situação de desvantagem. Está enfrentando uma
concorrência ou, como os americanos chamam, “fogo amigo”, em que um de seus colegas, o presidente
de outra subsidiária no exterior deseja, talvez por ambição ou vontade de servir, assumir as operações
da subsidiária brasileira.
No entanto, essa é uma situação na qual vemos que ninguém tem razão (no sentido de ter uma
prevalência na decisão), todos estão buscando por sua felicidade. Certamente, Pierre quer manter o seu
cargo. O Sr. Jesus Calderron, no Chile, também. O José Augusto gosta de trabalhar nessa empresa e quer
continuar.
Pierre, sentindo a enorme responsabilidade de manter os empregos de duas mil pessoas, pensou
naquele momento em realizar uma fraude. Provavelmente, em sua concepção, se mentisse e apresentasse
bons números, poderia reverter uma decisão ou fazer com que os executivos pensassem de outra forma
e talvez abandonassem a ideia sugerida pelo Sr. Jesus Calderron. Apesar de todos trabalharem na mesma
empresa, criou-se um ambiente nocivo e indesejável de competição.
124
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Nesse sentido, o que está ocorrendo aqui é o que Aguiar (2009a, p. 15) afirma quando defende
que é o bem comum que traz a felicidade para o homem: “Assim, o homem virtuoso é aquele capaz de
deliberar e escolher o que é mais adequado para si e para os outros, movido por uma sabedoria prática
em busca do equilíbrio entre o excesso e a escassez”.
Como o presidente Pierre pediu a colaboração do José Augusto, em vez de ter comunicado uma
determinação ou ter dado uma ordem, pediu-lhe ao mesmo tempo uma sugestão. Para resolver o
problema, Pierre pensou em fazer a fraude, mas será que é apenas isso que ele poderia fazer? Como
José Augusto é o contador da empresa, talvez tenha condições de oferecer outra solução ou de ter um
conselho que leve a essa outra solução.
Assim, de acordo com o comportamento ético que se espera do José Augusto, de acordo com o
Código de Ética do Contabilista, dos princípios de Contabilidade geralmente aceitos e também do
Pronunciamento Conceitual Básico, ele deve manter-se completamente neutro. Não deve ajudar o
presidente Pierre em seu propósito de fraudar os números.
Todavia, com um sentimento de promover o bem comum, José Augusto deve buscar entender melhor
a situação, as expectativas dos executivos na França e também do presidente da subsidiária do Chile e
oferecer um caminho. Talvez, por exemplo, a subsidiária brasileira tenha uma ótima potencialidade, ou
uma oportunidade de sinergia com a própria subsidiária chilena. Certamente os executivos da matriz na
França também estão trabalhando para um bem comum.
Com humildade, José Augusto (ou seja, o contador) deve de forma neutra oferecer as informações
que estiverem ao seu alcance e todas as condições que são importantes para que uma decisão seja
tomada e aguardar pela decisão, mesmo que ela não seja favorável. Os contadores não podem resolver
todos os problemas e, se a solução encontrada for o fechamento da subsidiária, que seja feito. Se houver
outras possibilidades de que a subsidiária se mantenha, que seja feito.
De qualquer forma, bem antes de surgir essa situação (e talvez outras de igual ou maior complexidade),
o contador José Augusto deveria manter uma Contabilidade o mais adequadamente possível, para que
suas informações façam diferença no exato momento em que se façam necessárias!
7 A CIÊNCIA ATUARIAL
Outro tópico importante para o “novo contador” é a área de seguros ou, mais especificamente, as
ciências atuariais.
125
Unidade II
Já comentamos que atualmente o contador é um profissional que “não pode ficar isolado em sua
sala”, precisa interagir com demais profissionais, em uma atitude interdisciplinar. É correto também
dizer que frequentemente os contadores são envolvidos em aspectos duvidosos de uma empresa, sobre
os quais precisa dar uma opinião, realizar uma “provisão”. Ou seja, saber viver com as incertezas, os riscos
inerentes a um negócio.
É certo que todos os negócios estão expostos a riscos. É o que nos diz Assaf Neto (2010, p. 193):
Entende-se que, quando identificados, os riscos podem (e devem) ser gerenciados, permitindo que a
empresa tenha uma ação planejada caso eles ocorram. Esse trabalho de identificação de riscos permite
também ao contador que prepare provisões (se for o caso), atendendo aos princípios de Contabilidade
geralmente aceitos e sob um nível de conservadorismo condicional adequado à situação.
Observação
Conforme estudamos anteriormente, a área ambiental, por exemplo, pode trazer vários riscos às
empresas. Uma empresa que lida com petróleo ou combustíveis pode vir a ter um vazamento. As operações
de uma empresa poderão colocar em risco a vida de animais silvestres, entre outras possibilidades.
Estudamos que, para essas situações, devemos realizar estimativas e contabilizar, registrar as provisões
nos livros contábeis da empresa e não apenas gerenciar os riscos.
Nesse plano de ação, o PMI indica três estratégias para se lidar com as ameaças ou riscos do projeto.
São as seguintes:
126
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
• Mitigar: atos que visam reduzir o impacto das ocorrências dos riscos, levando-os para níveis que
possam ser considerados aceitáveis.
Como um exemplo de prevenção a riscos, tem-se o serviço de manutenção que, se for feito de forma
regular, antes que uma falha ou defeito ocorra, irá proporcionar o perfeito funcionamento.
Como exemplo de transferir riscos, temos os seguros, em que os riscos são transferidos a outra
empresa, normalmente seguradoras, que se responsabilizarão caso algo ocorra realmente.
Lembrete
Se caso um serviço regular, já contratado, não atender a uma demanda ou enfrentar dificuldades
e/ou falhas, há a possibilidade de contratar outro para entrar em ação. Esse é um exemplo de mitigação
de riscos.
Observe que, na atividade de transferência de riscos, surgem os seguros atuando como parceiros das
empresas. Esse será o objeto do nosso estudo. Além dos seguros, é cada vez maior a preocupação das
pessoas e das empresas em proporcionar a seus funcionários a possibilidade de acesso a uma previdência
privada. Dentro dos departamentos de recursos humanos das empresas, é cada vez maior a demanda
por previdência privada.
Dessa forma, é importante ao contador conhecer noções de ciência atuarial para entender
melhor esses aspectos da vida empresarial e poder interagir com profissionais dessa área. Conhecer
os métodos usados na Ciência Atuarial pode ajudar o contador a lidar com valorações, riscos e
incertezas.
Observe que por essa definição o atuário é um profissional que também precisa de interação com a
área contábil e de finanças, estando dentro das chamadas “ciências sociais aplicadas”.
Também segundo o IBA (2013), a história e a evolução da ciência atuarial ocorreu ao longo do tempo
da seguinte forma:
Nos primórdios da civilização já se podia observar a ideia de uma garantia mútua, coletiva
e social de indivíduos. Nos anos de 4500 a.C. o papiro “Les Tailleurs de Pierre de la Basse –
Egipte” registrou uma “caixa” com o objetivo de socorrer vítimas de certos infortúnios, como
entre os operários que construíram o primeiro grande templo dos judeus em Jerusalém
na Idade Média e, ainda, o monopólio da caridade assumido pela Igreja com os soldados
pós-guerra. No período de 753 a 510 a.C., ou seja, no Império Romano, já se notava a
preocupação em registrar os nascimentos e as mortes ocorridos entre os habitantes de
algumas regiões, e foi Domitius Ulpiames, prefeito de Roma, que deu os primeiros passos
para o desenvolvimento do “seguro de vida”, pois, considerado o maior economista de sua
época, interessou-se pelo assunto e estudou documentos sobre “nascimentos” e “mortes”,
sendo que suas observações concorreram para o progresso da atuária, daí o título de “o
primeiro atuário da História”.
A base matemática necessária havia sido estabelecida no mesmo século por Pascal e
Fermat, na França, idealizadores do cálculo da probabilidade. De Witt, na Holanda, Graunt e
Halley, na Inglaterra, estudaram o problema levando em conta as leis da probabilidade e a
longevidade humana, deduzida esta dos registros de nascimentos e óbitos.
relatório durante dois séculos. Por outro lado, o relatório completo de Halley, matemático e
astrônomo, descobridor do cometa que leva seu nome, publicado em 1693, recebeu ampla
publicidade e tornou-se a pedra angular da nova ciência, posteriormente chamada de
“matemática atuarial”.
Vemos por esse histórico que o cálculo atuarial permeia um aspecto importante da vida das
pessoas, a minimização dos seus riscos e a sua aposentadoria ou “pensão”. Normalmente, quando
somos mais jovens e temos muitas opções, não costumamos prestar atenção ou sequer pensar em
uma aposentadoria. O que temos é o medo de perder um bem por conta de um sinistro (acidente).
Assim, temos a tendência de comprar prêmios de seguros ou administrar os riscos pessoais sem
ter despesas. No entanto, ao longo do tempo e à medida que a idade avança, maior fica o temor
das pessoas em não ter dinheiro para usar nos últimos (e belos, como muitos confirmam) anos da
vida. É nesse aspecto sensível da vida das pessoas em que trabalha o atuário.
Por outro lado, nas empresas onde as decisões costumam ser mais racionais, o atuário é um
grande parceiro, calculando um valor de seguros justo e adequado ao risco que se apresenta nas
atividades de rotina. Um bom relacionamento com o atuário significa prover de informações
adequadas. Assim, a colaboração plena entre o contador e o atuário tende a gerar bons resultados
para ambas as partes, a empresa seguradora e também a empresa tomadora dos seguros.
Mais do que isso, os contadores podem também encontrar eventuais necessidades que para o atuário
seria impossível de detectar. Conforme comentamos anteriormente, o contador conhece a empresa em
profundidade ou, em outras palavras, ele próprio atua pela empresa, o que o faz conhecer detalhes
únicos.
Lembrete
É claro que os atuários podem detectar a mesma necessidade em várias empresas e produzir
serviços atuários simplificados (e é o que geralmente fazem), mas também é possível produzir serviços
129
Unidade II
personalizados, com soluções adequadas ao cliente em específico, o que muitas vezes não é possível
porque falta o contato com o contador, ou mesmo o preparo desse contador para com a questão atuária.
Exemplo de aplicação
Imagine-se com 78 anos e alguém lhe diz que, devido a “problemas técnicos” ou “porque falta
determinada coisa”, cancela-se o rendimento que você estaria esperando! O que você faria?
Assim, Cordeiro Filho (2009, p. 36) comenta que: “A esperança é o fenômeno possível de acontecer.
A esperança matemática é o fenômeno tecnicamente possível de acontecer tecnicamente calculado.” O
autor então questiona: qual seria a diferença entre um jogo e um seguro?
A resposta a essa pergunta está na esperança que a pessoa tem ao realizar essas duas atividades:
Em um jogo, que deve ser honesto (equilibrado), as chances devem ser iguais para ganhador ou
perdedor. Todos devem ter a esperança de ganhar. Como assevera Cordeiro Filho (2009, p. 36), “num
jogo, temos a esperança de algum ganho ao apostar. Ninguém aposta num jogo com a esperança de
perder”.
Em um seguro, não se deve multiplicar pela probabilidade do ganho. O autor (CORDEIRO FILHO,
2009, p. 36) nos diz que no seguro “temos a esperança de não perder ou equilibrar. O seguro deve ser
justo no preço em relação ao esperado. O ganho esperado deve ser justo para equilibrar o acontecimento
decorrente do fenômeno tecnicamente calculado”.
Assim, Cordeiro Filho (2009) nos esclarece que ambos, jogo e seguro, “tecnicamente” são muito
semelhantes. Em um jogo (normalmente, excetuando-se aqui eventuais doenças e patologias clínicas
que podem influenciar na vontade e motivações de uma pessoa), o interesse do apostador é o de ganhar
dinheiro, lucrar. Está mais associado aos sentimentos saudáveis de ambição ou prosperidade, ou mesmo
de ganância, o gosto pelo prazer de ter dinheiro.
Já no seguro, o interesse do cliente é o de, caso ocorra um acidente, um sinistro, que haja um ganho
esperado, que deve ser justo para equilibrar o acontecimento decorrente do fenômeno tecnicamente
calculado. Os seguros estão ligados ao sentimento de precaução, prevenção. Ou seja, se algo ocorrer,
haverá uma reparação em dinheiro que será suficiente para que as consequências negativas de um fato
venham a ser minimizadas e equilibrar o patrimônio.
130
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Observação
Como os objetivos do jogo e do seguro são diferentes, as equações matemáticas utilizadas no seguro
acompanham esse raciocínio. Cordeiro Filho (2009, p. 36) nos diz que:
E = Q. P. vt
A seguir, temos um exemplo de aplicação dessa fórmula, conforme sugerido por Cordeiro Filho
(2009, p. 37)
Exemplo de aplicação
Um clube resolve fazer sorteio de um automóvel no valor total de 30.000,00 unidades monetárias
(u.m.), o qual será sorteado seis meses após a venda de todos os 3.000 bilhetes, ou seja, quando do
recebimento total do recurso.
Cada bilhete de sorteio custará, então, o valor de 9,42 u.m. É o preço matemático do “risco” e 3.000
bilhetes deverão ser vendidos.
No caso de seguros, o risco é 30.000,00 u.m. e 3.000 pessoas irão se agrupar para pagar esse risco.
Fonte: Cordeiro Filho (2009, p. 37).
Se uma pessoa demonstrar esperança e decidir gastar um determinado valor nessa esperança, esse
valor receberá o nome de “aposta” se for para um jogo. Mas, se essa esperança for para um seguro,
recberá o nome de “prêmio”.
É muito importante comentar, adicionalmente, que o jogo em alguns indivíduos pode representar
uma doença. Esteja sempre atento a sua saúde física e mental e das pessoas que conhece.
Saiba mais
<www.genab.org>.
Segundo Cordeiro Filho (2009, p. 37-41), temos algumas definições importantes em atuária, que
serão estudadas a seguir.
Cordeiro Filho (2009, p. 38) cita a definição de Hemard (apud VILA NOVA, 1969, p. 15) para seguros, a seguir:
Seguro é uma operação pela qual uma das partes, o segurado, obtém a
promessa de outra parte, o segurador, mediante pagamento de uma
remuneração, o prêmio em seu favor ou no terceiro, no caso de verificar o
risco, uma prestação com que o segurador, fazendo uso de um conjunto de
riscos, indenizar-lhe-á de acordo com as leis estatísticas.
132
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Afirma Cordeiro Filho (2009, p. 37) que o prêmio comercial é o prêmio puro (conforme estudado
anteriormente) “acrescido das despesas de carregamento, quais seriam: administração das despesas
operacionais, comissões externas, comissões internas, cobrança, lucro dos acionistas, impostos e outras”.
Segundo Cordeiro Filho (2009, p. 38), “Na prática, o risco é calculado em função de informações
estatísticas obtidas pelo método retrospectivo e os prêmios são acrescidos de despesas de carregamento
ou sobrecarga”.
De acordo com Cordeiro Filho (2009, p. 38), “[...] aos acréscimos aos prêmios puros, chamamos
de carregamento ou sobrecarga, que podem ser despesas de administração, operacionais, cobrança,
comissões internas, externas e outras, que determinam, ao final, o valor comerical do preço do seguro.
Para que se determine o preço ou o valor de um prêmio comercial, são necessários alguns passos
precedentes de caráter técnico”.
Cordeiro Filho (2009, p. 39-40) explica que, com todos esses conceitos, é possível calcular o prêmio
estatístico PE da seguinte forma:
Com esses dados em mãos poderemos então partir para o cálculo do prêmio
estatístico que será o produto do valor matemático do risco pelo custo
médio por sinistro.
Esse valor representará a grandeza para que tal tipo de risco seja suportado.
Vejamos seu cálculo:
Prêmio Estatístico = (PE) = VMR x CMS = 0,04 x 2.500 = 100,00 u.m. O que
representa esse valor?
Se o custo médio por sinistro foi de 2.500,00 u.m. e o prejuízo total foi de
1.000.000,00 u.m., sabemos que:
100 x 10.000 PE x NOER IS x VMR
Importância Segurada (IS) = = ou PE =
0,04 VMRR NOER
134
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Conhecidos esses conceitos e uma vez com os dados em mãos, o atuário irá realizar o Cálculo do
Prêmio Comercial (Pc).
Cordeiro Filho (2009, p. 40-41) nos oferece então um exemplo completo desse cálculo:
É o prêmio puro acrescido das despesas de carregamento, quais sejam: administração, despesas
operacionais, comissões externas, comissões internas, cobrança, lucro dos acionistas, impostos e
outras. Vejamos o procedimento para cálculo do prêmio comercial (Pc):
Como sabemos, existem duas possibilidades de cálculo. Uma sobre o custo puro e a
outra sobre o preço de venda.
Pc = Prêmio Comercial Pc = PE + PE x i
PE = Prêmio Estatístico = 12.000 Pc = 12.000 + 12.000 x 0,38
Taxa de Carregamento = ic = 0,38 Pc = 12.000 + 4.560, portanto,
Pc = R$ 16.560,00
135
Unidade II
Pc = R$ 19.354,84
Os valores de Pc (A) ou Pc (B) são à vista. Caso haja a possibilidade de fazer o parcelamento
do prêmio, ele deverá ser considerado como “valor atual” ou “valor presente” de uma renda
(postecipada ou antecipada), acrescida da remuneração financeira de mercado no prazo que
a seguradora e segurado acordaram ou o máximo que a lei permitir à época.
Se, por exemplo, o valor de Pc = R$ 19.354,84 for pago com uma parcela mensal no ato
e mais nove seguintes iguais, o valor parcelado será de:
Cordeiro Filho (2009, p. 75) afirma que há diversas definições de seguro, ou melhor, que é possível
classificar os seguros de duas formas:
• seguros de pessoas;
• seguros por sobrevivência.
Observação
Estudaremos os seguros de pessoas e os seguros por sobrevivência mais
adiante.
136
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Para a legislação brasileira existem diversas definições de seguros. O Código Civil Brasileiro oferece
esclarecimentos aos contratos de seguros. Como essa legislação é bem ampla, os autores da área
de seguros costumam ater-se a alguns aspectos, sendo que Cordeiro Filho (2009, p. 75) destacou e
considerou como mais importantes os seguros que envolvem riscos de pessoas, que por sua vez são
classificados em diversos tipos como riscos de:
• vida individual;
• vida em grupo;
• saúde;
• educação;
• invalidez;
• acidentes pessoais.
Cordeiro Filho (2009, p. 75-76) analisa alguns aspectos do Código Civil brasileiro quanto a seguros e
em alguns casos traz o texto literal do Código Civil:
137
Unidade II
Observação
Cordeiro Filho (2009, p. 76-77) resume o funcionamento dos seguros e previdência da seguinte
forma:
Seguro e previdência
Proba- Taxa de
bilidade de juros
danos
Despesas administrativas
Comissões de angariação
Outras comissões que podem ser agregadas aos preços finais tarifados
138
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Ainda de acordo com Cordeiro Filho (2009, p. 77), para os fundos de pensão, que “[...] têm tratamento
jurídico diferente daquele dado às entidades de seguros e previdência, embora, sob a ótica atuarial, [deve
haver] tratamento matemático assemelhado”. São regidos pela Secretaria de Previdência Complementar
(SPC). Os fundos de pensão são chamados de entidades de previdência fechada.
Cordeiro Filho (2009, p. 77) explica que os estudos que envolvem os cálculos matemáticos dos seguros
de vida são norteados pela taxa de juros. Esta, por sua vez, incidirá nos cálculos e nas probabilidades de
sinistro conforme a idade do segurado.
Observação
Dessa forma, Cordeiro Filho (2009, p. 77) diz que, para a área de seguros e previdência, a taxa de
juros é imprescindível, de alta importância porque se entende que deve sempre ser a mesma durante
todo o tempo do seguro. Como há seguros de longa duração, esse aspecto é muito sensível, uma vez
que a economia das nações está em constante modificação, ora apresenta momentos de prosperidade,
ora momentos de depressão e crise. Mesmo assim, a taxa de juros deve sempre ser a mesma porque sua
modificação, por conta de posteriormente descobrir-se que seria inadequada, pode levar a consequências
desastrosas para ambas as partes.
Então, como nos diz Cordeiro Filho (2009, p. 77), para bem lidar com essas incertezas ligadas à
economia e ao comportamento humano, os atuários utilizam “tábuas de sobrevivência” com dados
sobre demografia e idade que as pessoas estão vivendo.
139
Unidade II
Cordeiro Filho (2009, p. 77) comenta que lidar com esses aspectos traz complexidades aos cálculos
atuariais porque
[...] é obvio que, atualmente, existem milhares de pessoas com uma mesma
idade que fazem parte da carteira de seguros de vida de uma entidade e,
além disso, há experiências passadas por essas empresas durante muitos
anos, o que fornece certa segurança a elas e consequentemente aos seus
segurados. A essas complexidades some-se o fato de que outros aspectos
atuariais afetam os cálculos puros baseados em bases técnicas que são as
despesas operacionais, de corretagem, agenciamento ou angariação e, se for
o caso, custos de publicidade.
O autor (CORDEIRO FILHO, 2009 p. 77) comenta ainda que matematicamente, como um princípio
ou tese, deve existir o conceito de que não se deseja lucro, ou seja, as obrigações futuras dos segurados
deverão ser iguais às obrigações futuras da seguradora, pois o princípio básico – no caso do seguro – é
cobrir perdas e não lucrar com sinistros.
Lembrete
Assim, Cordeiro Filho (2009, p. 77) reforça esse pensamento ao dizer que
Cordeiro Filho (2009) comenta que seguros e previdência têm dois pilares, um deles são os juros,
que estudamos anteriormente. E o outro são as probabilidades, que, por sua vez, desenvolveram a
matemática atuarial.
Precedendo a matemática atuarial, vemos os estudos de demografia (de demos = povo e graphê
= descrição), que, segundo Cordeiro Filho (2009, p. 1-2), de acordo com o estatístico francês o Achille
Guillard, é a “descrição da população”. Já para Whipple, demografia é o conjunto dos estudos de diversas
ciências, conforme podemos ver a seguir:
141
Unidade II
- as quantidades de falecimentos
- a taxa de mortalidade específica
- a probabilidade de falecimentos
- a probabilidade de sobrevivência
- a esperança de vida.
O autor (CORDEIRO FILHO, 2009, p. 12) comenta que muitas empresas, governos e seguradoras
voluntariamente montaram suas próprias tábuas de mortalidade. Por conta de vários interesses,
desenvolveram-se ao longo do tempo diversas tábuas, em vários países, sobretudo na Alemanha, nos
EUA e na Inglaterra. Essas tábuas, por sua vez, não eram consideradas adequadas para uso no Brasil, por
estarem fora da realidade brasileria.
Cordeiro Filho (2009, p. 12) mostra que “[...] até 1960/1970 se usava a tábua da experiência americana
a juros de 4% ao ano. A tábua CSO-58 e a CSO-80 foram muito utilizadas e autorizadas pela legislação
brasileira de seguros”. Os fundos de pensão costumavam utilizar tábuas que favoreciam os cálculos em
prol do patrimônio dos segurados, pois entendiam que assim estariam fortalecendo o próprio fundo e
os interesses de seus participantes.
Observação
As primeiras tábuas de mortalidade foram produzidas ainda antes do estudo atuarial ou mesmo da
estatística, segundo Cordeiro Filho (2009, p. 15), por “John Graunt, Halley, além de outros, como Smart.
Deparcieux, Duvillard, Wargentin, Price, Sussmilch, Farr, Finlaison, Quetelet, Kersseboon, Wittstein”.
No Brasil, temos tábuas brasileiras do IBGE e a expectativa é que tábuas mais bem elaboradas sejam
disponibilizadas em breve.
142
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
0,8
Probabilidades
0,6
0,4
0,2
0
1 5 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97
Idades
Cordeiro Filho (2009, p. 16) expõe que em demografia e atuária é necessário definir simbologias ou
notações que serão utilizadas. Seguem alguns símbolos e suas origens:
• Número de sobreviventes – será representado por l, de live em inglês, que significa vidas, ou de
living, que traduzindo é vivendo ou sobrevivendo.
143
Unidade II
Observação
Cordeiro Filho (2009, p. 17) sugere que com esses elementos simbólicos é possível montar um modelo
modesto de tábua simples de sobrevivência e mortalidade como vemos a seguir:
X Ix dx = lx - lx+1
0 lo D0 = L0 - l1
1 l1 d1 = l1 - l2
2 l2 d2 = l2 - l3
3 l3 d3 = l3 - l4
. . .
. . .
. . .
X lx dx = lx - lx+1
X+1 lx+1 dx+1 = lx+1 - lx+2
“ “ “
“ “ “
“ “ “
W-1 lw-1 dw-1 = lw-1 - lw
W-1 lw= 0 mas lw = 0
Além dessas notações, temos as seguintes, de acordo com Cordeiro Filho (2009, p. 17):
• Chamaremos de w-1 a “idade extrema” da tábua, ou seja, os sobreviventes que não conseguem
chegar à idade w, ou seja, lw = 0.
• Chamaremos de “raiz” da tábua de lo, ou seja, lo representa o número de pessoas vivas com idade
inferior a um ano.
144
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Cordeiro Filho (2009, p. 18) nos mostra que, na Roma antiga, nos tempos do imperador Severus e por
ordem dele, um dos prefeitos da cidade, que se chamava Ulpianos, elaborou uma tabela de esperança de
vida da população, que é a seguinte:
Menos de 20 30
De 21 a 25 28
De 26 a 30 25
De 31 a 35 22
De 36 a 40 20
De 41 a 50 De 10 a 19
De 51 a 55 9
De 56 a 60 7
Mais de 60 5
Cordeiro Filho (2009, p. 18) revela que a tábua de Ulpianos, que nada tem de base científica,
curiosamente fornece uma ideia dos anos adicionais de vida das pessoas de certa idade, sendo que “[...]
tinha relação direta com o valor de uma vida e o empréstimo de juros. Esses fatos e constatações eram
proibidos na época”.
O autor (CORDEIRO FILHO, 2009, p. 18-20) nos mostra que uma das formas próximas dos seguros de
renda aconteceu entre os séculos XIII e XVIII na Holanda, Inglaterra e Itália.
Entre 1630 e 1685, uma renda vitalícia (pagamento durante toda a vida) paga pelo governo francês,
que, precisando de recursos, tomou empréstimos da população e pagou o mútuo na forma de um
modelo elaborado por Lorenzo Tonti, que previa a amortização do débito até a morte do credor. Quanto
menor o grupo de vivos, mais a renda aumentava.
Esses títulos foram chamados de Tontinas. Não havia relação com a idade do credor. Eram ao portador.
Obviamente, tais títulos foram passados de pai para filho, favorecendo os herdeiros.
No século XVII, John Graunt, em Londres – berço dos estudos demográficos e das tábuas de
mortalidade ou sobrevivência –, fez um estudo sobre a mortalidade de homens e mulheres, suas causas,
145
Unidade II
trabalhos de risco e falecimento de pessoas jovens, e demonstrou que a “esperança de vida” de uma
pessoa de 36 anos é muito parecida com as tábuas atuais.
Posteriormente, Sussmilch, baseado nas tabelas de Graunt, adaptadas por Halley, confeccionou
uma tábua, que é reproduzida a seguir com uma coluna de dados atualizados por tábuas atuais, com
o objetivo de fazer comparações e estudos mais avançados e concluir que há grandes aproximações
apesar da antiguidade da análise.
Tabela 4
Tábua de Sussmilch
Idade Pessoas Vivas Esperança de Vida
O 1.000 23,7
5 494 40,3
10 416 42,5
15 403 38,7
20 396 34,4
25 381 30,7
30 356 27,6
35 328 24,7
40 299 21,9
45 271 18,9
50 238 16,2
55 203 13,6
60 164 11,2
65 125 8,9
70 83 7,1
75 45 6,1
80 20 5,6
Tabela 5
Tábua de Halley
Idade Pessoas Vivas Esperança de Vida
O 1.000 33,5
5 732 41,6
10 661 40
15 628 36,9
20 598 33,6
25 567 30,4
146
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
30 531 27,4
35 490 24,5
40 445 21,8
45 397 19,2
50 346 16,8
55 292 14,5
60 242 12,1
65 192 9,7
70 142 7,5
75 88 6
80 41 5,7
Cordeiro Filho (2009, p. 20) cita ainda o caso específico das tábuas de Deparcieux, de 1746, uma das
primeiras conhecidas. Essa tábua:
[...] foi muito pouco utilizada. Sua tábua partia de observações de 1.286 vidas
e sua última idade é de 95 anos, cujo gráfico comporta retas, ou seja, não
era uma tábua com função definida fora da linearidade. Ele não conseguiu
desenvolver e ajustar uma função contínua de grau superior que não fosse
uma reta. Mesmo as funções de sobrevivência não são representações
matemáticas perfeitas.
dx = l x - l x+1
Saiba mais
O IBA disponibiliza gratuitamente um livro muito interessante sobre
tábuas de sobrevivência:
OLIVEIRA, M. de et al. Tábuas biométricas de mortalidade e sobrevivência:
experiência do mercado segurador brasileiro – 2010. Rio de Janeiro:
Funenseg, 2012. Disponível em: <http://www.atuarios.org.br/docs/eventos/
palestra/Livro_Tabuas_Portugues.pdf>. Acesso em: 5 set. 2013.
147
Unidade II
7.8.3 As probabilidades
Cordeiro Filho (2009, p. 33) explica que as probabilidades foram desenvolvidas ou concluídas com
base nas teorias do matemático Jacob Bernoulli, que, entre outros trabalhos, desenvolveu um tratado
sobre a teoria das probabilidades, o Ars conjectandi (A arte da conjectura). Os pesquisadores, de posse
das tábuas de sobrevivênica, concluiram as probabilidades iniciadas por Benoulli. Essas probabilidades
são demonstradas a seguir:
Simbologia: P x
Simbologia: qx
Cordeiro Filho (2009, p. 30-33) comenta que, atualmente, no Brasil as tábuas a serem utilizadas
devem ter o aval do IBA, SUSEP e SPC. Há padrões estabelecidos entre idades e mortalidade
para disposições tarifárias. Segundo ele diz, as tábuas são “[...] instrumentos para mensurar as
probabilidades de vida ou de morte e mostram o número de pessoas vivas, da mesma idade, ano
a ano”.
148
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Esse autor (CORDEIRO FILHO, 2009 p. 71) diz que a Secretaria de Previdência Complementar (SPC)
é um órgão vinculado ao Ministério da Previdência Social, “acompanha e publica os padrões mínimos
para avaliação dos planos de benefícios, dentre eles a expectativa de vida mínima a ser considerada, nas
idades de 55, 60 e 65 anos, idades geralmente exigidas como requisitos para aposentadoria” .
Segundo Cordeiro Filho (2009, p. 71), as tábuas de mortalidade que apontam expectativa de vida
abaixo da mínima não serão aceitas, salvo estudo que comprove a sua aplicabilidade.
Tabela 6
As mais utilizadas para os planos denominados de abertos são AT49, AT-83 e AT-2000. Para os planos
fechados, dos fundos de pensão, são AT-49, AT-83 e UP-84.
Qualquer manipulação nessas tábuas pode levar a situações de queda sensível no valor atual das
rendas a pagar, por isso, existe forte fiscalização das autoridades públicas. A seguir, modelos de tábua
com as funções biométricas estudadas.
149
Unidade II
150
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
151
Unidade II
152
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
153
Unidade II
154
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Saiba mais
8 A PREVIDÊNCIA PRIVADA
Segundo o site da MPAS (<http://www.mpas.gov.br/>), o Brasil tem uma história de 90 anos de uma
previdência social aos trabalhadores. Já na época do império houve iniciativas no sentido de conceder
aposentadorias a alguns grupos profissionais como os professores, operários dos Ministérios da Fazenda,
do Arsenal de Marinha, entre outros. Em 1919 surge o seguro contra acidentes do trabalho e em 1923,
a partir da sanção da lei Eloy Chaves, foram concedidas aposentadorias e pensões para os trabalhadores
rodoviários. Contudo, na década de 1930, por imposição de Getúlio Vargas, foi criado um dos maiores e
mais amplos sistemas de previdência do planeta.
155
Unidade II
Apesar disso, as aposentadorias e pensões da Previdência Social têm valores baixos, que
muitas vezes não suprem as necessidades das pessoas. Mas é inegável que vem atendendo com
sucesso aos trabalhadores brasileiros, oferecendo um valor de aposentadoria que, se não é alto,
é um valor digno.
Devido a esse aparente sucesso do sistema brasileiro de previdência pública, a previdência privada ou
os seguros privados que oferecem rendas vitalícias nunca tiveram espaço para crescer no Brasil. Ainda
hoje vemos que existe, apesar de boas iniciativas isoladas, uma preferência das pessoas pelo sistema
público de previdência privada e uma apatia com os sistemas privados.
No Brasil, país assolado por uma ditadura militar e por um período de inflação astronômica e que
durou décadas, as empresas nunca tiveram interesse em oferecer serviços financeiros e atuariais de
longo prazo. Mesmo no sistema bancário atual, quase não existe financiamento de longo prazo privado
no Brasil. O mesmo vale para os seguros.
Lembrete
Parte da apatia ou falta de interesse na procura vem do fato de que há descontos realizados
compulsoriamente nos salários dos trabalhadores que são destinados diretamente para a previdência
156
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
pública. Por isso mesmo, a previdência privada é chamada de “complementar” no Brasil, porque entende‑se
que a pessoa irá se aposentar pelo sistema público, receber sua aposentadoria e complementar a sua
renda com um serviço de seguro. É vedado aos brasileiros optarem por uma previdência privada ou
pública.
Na região dos bairros de Pinheiros, Brooklin Novo, Morumbi e Chácara Santo Antônio, da cidade
de São Paulo, foram construídos gigantescos prédios de escritórios, residenciais e instalações
comerciais (shopping centers) que são de propriedade de fundos de pensão, conforme podemos
ler em Fix (1999).
Cordeiro Filho (2009, p. 77) comenta que, após as seguradoras constatarem e terem uma “quase
certeza” de que a Inflação no Brasil estava sob controle, lançaram produtos de previdência, basicamente
de dois tipos a seguir:
Em comum, esses dois produtos são mistos de elementos financeiros e poderão também ser elementos
de riscos. Cordeiro Filho (2009, p. 77) explica que a intenção é a de complementar a aposentadoria da
Previdência Social quando da “elegibilidade”, ou seja, a data em que a pessoa pode (dentro da lei e dos
regulamentos) aposentar-se ou receber sua renda ou pecúlio para complementação de sua aposentadoria
do INSS. Cordeiro Filho (2009, p. 77) explica que o prazo em que a pessoa efetua os depósitos é chamado
de diferimento.
157
Unidade II
Cordeiro Filho (2009, p. 72) atribui ao papel dos fundos de pensão ou entidades de previdência um
“lado ativo”, como está sendo considerado em todo mundo devido a “[...] volumes imensos de capitais
aplicados nas mais diversas atividades, tais como títulos das mais variadas origens, bolsa de valores,
imóveis e outros”.
Ao mesmo tempo em que são um fenômeno que chama a atenção justamente pelo seu “lado ativo”,
Cordeiro Filho (2009, p. 31) adverte que há aspectos ruins nos fundos de previdência.
Cordeiro Filho (2009, p. 31) cita uma situação muito ruim que ocorreu no passado:
Em relação aos aspectos ruins dos fundos, Cordeiro Filho (2009, p. 32) lamenta o fato de que:
[...] um dos grandes dilemas dos fundos atualmente é que algumas dessas
instituições desejam terminar com o benefício definido – que é um tipo de
plano que tem aderência nos salários-teto da preivdência social –, criado
por elas mesmas em seus regulamentos há anos para atrair clientes. Muitas
dessas empresas, nos últimos anos mudaram os contratos e seus regulamentos
mediante liberação de reservas constituídas – ou parte delas – ou créditos de
excedentes financeiros e conduzem os participantes a migragem para planos de
benefícios diferidos onde não haja comprometimento perfeitamente definido
no futuro. Ou seja, o mercado de previdência – aparentemente – não deseja
correr riscos, e sim transformar o bojo previdenciário num grande mercado
financeiro. Dessa forma, não há necessidade de criteriosos estudos atuariais e
nem de atuários evidentemente, mas de experts em finanças. Em resumo, os
fundos de previdência, abertos ou fechados, desejam correr riscos menores e,
por esse motivo, oferecem migrações para planos absolutamente financeiros.
158
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
E, nessas migrações, segundo Cordeiro Filho (2009, p. 32), as tábuas de mortalidade podem gerar
valores de rendas de aposentadoria muito menores, embora ele reconheça que os órgãos reguladores,
como a SPC, já observam com rigor o uso dessas tábuas justamente para evitar essa ameaça.
Nesse sentido, os fundos de pensão e previdência privada são contratos que serão válidos por toda
a vida de um segurado, até sua morte. Se um indivíduo viver até os 80 anos, a seguradora irá lhe pagar
uma renda até os 80 anos. Mas se esse mesmo indivíduo viver até os 120 anos, terá que continuar a
oferecer uma renda por 40 anos! Por isso, recebe o nome de por sobrevivência.
Cordeiro Filho (2009, p. 78) explica que “[...] a palavra ‘dotal’ sugere ‘dote’, ato ou efeito de ‘dotalizar’,
converter em dote, tornar dotal, valor que poderá ser transformado em renda destinada à manutenção
de pessoa”.
159
Unidade II
Esquematicamente: |-------------------------------------------------------------|
idades/início/final idade x período n idade x + n
pessoas vivas
Início/final Ix Ix+n
Prêmio/Capital a receber
Início/final P c
o prêmio (P) a ser pago deverá ser igual ao “capital (C) futuro atualizado” a uma “taxa
de juros” adotada, multiplicados, ambos, pela “probabilidade de alguém de idade x de um
grupo de pessoas (grandes números) chegar vivo à idade x + n”.
lx +n
Matematicamente: P = C.vn nPx, sabemos que nPx = , que substituindo fica:
lx
lx +n
P = C. vn. ,Tal formulação demonstra o equilíbrio financeiro que deve reger os
lx
seguros já comentados, ou seja, obrigações atuais dos segurados deve ser igual às obrigações
futuras da seguradora.
C.vn .lx +n
Em resumo: Obrigações Atuais = Obrigações Futuras → lx .P =
160
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
prêmio único puro da unidade de capital que deve ser pago por uma pessoa de idade
x, para garantir uma unidade de capital pagável a essa pessoa caso sobreviva à idade x+ n,
ou, o prêmio único puro que deverá ser pago por uma pessoa de idade x, para ter direito de
receber a unidade de capital se completar a idade x + n.
lx +n
Ax : n 1 = C.vn , ou obtemos para sobrevivência: Ax : n 1 = vn . nPx’ se considerarmos
lx
que o capital é unitário ou igual à unidade.
Conforme já comentamos, há autores que denominam o prêmio único (P) como nEx
e o capital de Q (quantia segurada), ao invés de C, mais utilizado quando nos referimos à
esperança matemática.
8.4 Rendas
Cordeiro Filho (2009, p. 82) nos explica que “[...] tem esta denominação porque não dependem de
nenhuma eventualidade externa. Em matemática financeira, é uma das matérias mais relevantes”.
161
Unidade II
Nesse sentido, o autor (CORDEIRO FILHO, 2009, p. 83) conceitua renda da seguinte forma:
162
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Veja a descrição e classificação das rendas proposta por Cordeiro Filho (2009, p. 83).
Postecipadas*
Imediatas
Antecipadas*
Temporárias
Postecipadas*
Termos Diferidas
Constantes
Antecipadas*
Perpétuas (idem temporárias)
Certas Postecipada*
Imediata
Antecipada*
Termos Em PA 1
Variáveis
(Lei Matemática) Diferida (idem imediata)
Em PG (idem PA)
Rendas
• Diferida: quando a renda é paga após certo tempo decorrido. Esse dado deve fazer parte da
apólice combinada entre as partes.
• Imediata: quanto o segurado inicia o recebimento logo após o término do primeiro período de
tempo, também acordado entre as partes na apólice, ou seja, não há diferimento.
• Temporária ou limitada: quando houver um tempo definido em apólice que determine um tempo
limite para pagamento pela empresa seguradora, mesmo estando vivo o segurado. As rendas
também podem ser chamadas de anuidades.
• Cordeiro Filho (2009, p. 84) esclarece que os seguros de sobrevivência são seguros para se “receber
em vida” e, atualmente, no Brasil esse tipo de benefício está adstrito às entidades de previdência.
163
Unidade II
Quando alguém recebe o seguro por morte do segurado, esse alguém denomina-se beneficiário.
No caso dos seguros por sobrevivência, beneficiário e segurado se confundem.
Segundo Cordeiro Filho (2009, p. 84), é a renda anual que uma pessoa deverá receber no final de cada
ano, desde que esteja viva. É uma pensão-renda até a data do seu falecimento. Também é conhecida
como renda vencida. Qual o valor que deverá dispor o segurado para que tenha esse direito? Esse valor,
ou capital, chamar-se-á então prêmio puro ou prêmio matemático, ou ainda atuarial.
Esquematicamente:
1 2 3 4 5 6 7 ...
|---------|---------|---------|---------|---------|---------|......
Cálculo do prêmio
Digamos que esse segurado tenha a idade x. Chamemos de αx o prêmio que ele deverá
pagar de uma só vez e de i a taxa de juros utilizada naquele momento para efeito de
atualização de capital.
Por hipótese, vamos completar ainda que o segurado vai viver n anos (com n tendendo
a além de w). (n → w) quando a renda é vitalícia.
Simbologia ou notação: αx
αx então será o valor atual da renda que vamos calcular. Cada pessoa do grupo segurado
pagará αx de prêmio único e o total de pessoas daquela idade é Ix’ então o total a ser pago
será: Ix . ax’
Como a renda é vitalícia, por sobrevivência, a empresa seguradora deverá pagar a cada
ano a todos os sobreviventes do grupo de idade x o valor de unidade de capital, até que
todos faleçam. Ao fim do primeiro ano, a empresa seguradora efetuará o pagamento do
valor acima aos sobreviventes, que no ano seguinte serão de lx + 1 pessoas. Portanto, o valor
total devidamente atualizado pela taxa de juros já comentada a ser pago pela seguradora
postecipadamente às lx + 1 pessoas será: v . lx + 1·
Cada um desses termos nada mais é do que o somatório de vários prêmios puros, ou
dotais puros.
Tal formulação representa os dotais puros ao longo do tempo, que não temos como
saber; todavia, sabemos que a última idade da tábua de sobrevivência é w, o que, em tese,
nos diz que seria o último dotal puro, ou seja, nEx’ com n igual a w - w.
165
Unidade II
No caso das rendas antecipadas o somatório dos dotais puros será representado por um
trema sobre a letra α → ἃx . A representação é idêntica àquela utilizada em matemática
financeira.
1
Se desejarmos simplificar a última formulação de somatório de αx , podemos colocar
lx
1 n→w→ n n→w→
em=
evidência e fica α x = ∑ v .lx+n ou α x
lx n=1
∑ vn .nPx .
n=1
Resumo
166
TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL
Dizem que uma aula tem um início, mas nunca tem fim, não acaba.
Nesse sentido, o objetivo do estudo de Tópicos de Atuação Profissional
não é esgotar o assunto, mas sim que você se sinta preparado e inspirado
167
Unidade II
Exercícios
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: não se pode afirmar que a charge oferece informações acerca do desrespeito às relações
profissionais.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: da conversa entre os personagens não se pode afirmar que estão tratando de questões
econômicas.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: não há estratégia de convencimento na fala dos personagens, mas sim algo que remete
à promessa.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa correta.
Justificativa: como um dos personagens supõe, algum dia, poder abrir mão de suas convicções,
denota que os princípios morais sejam frágeis.
Questão 2. Considerando a demografia como um dos pilares dos seguros e previdência, assinale a
alternativa que corresponda à ciência que estuda a hereditariedade sob o ponto de vista científico:
A) Genealogia.
B) Eugenia.
C) Biometria.
D) Antropometria.
E) Patometria.
169
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 2
JANCOVICI, J. M. What was there in the famous “Report to the Club of Rome”? 2011. Disponível em:
<http://www.manicore.com/anglais/documentation_a/club_rome_a.html>. Acesso em: 30 ago. 2013.
Figura 3
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. p. 22.
Figura 4
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. p. 85.
Figura 6
Figura 8
Figura 10
Figura 11
Figura 12
Figura 13
170
Figura 14
Figura 15
PAIVA, P. R. Contabilidade ambiental: evidenciação dos gastos ambientais com transparência e focada
na prevenção. São Paulo: Atlas, 2003. p. 27.
Figura 16
Figura 17
KASSAI, J. R. et al. Balanço das nações: uma reflexão sob o cenário das mudanças climáticas. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 15., 2008, Curitiba. Anais... Disponível em: <http://www.
negociosustentavel.com/imagens/editor/negocio_140605.pdf>. Acesso em: 3 set. 2013. p. 2.
Figura 18
MILLER G. T.; SPOOLMAN, S. E. Ecologia e sustentabilidade. São Paulo: Cengage Learning, 2012. p. 22.
Figura 19
KASSAI, J. R. et al. Balanço das nações: uma reflexão sob o cenário das mudanças climáticas. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 15., 2008, Curitiba. Anais... Disponível em: <http://www.
negociosustentavel.com/imagens/editor/negocio_140605.pdf>. Acesso em: 3 set. 2013. p. 10.
Figura 20
KASSAI, J. R. et al. Balanço das nações: uma reflexão sob o cenário das mudanças climáticas. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 15., 2008, Curitiba. Anais... Disponível em: <http://www.
negociosustentavel.com/imagens/editor/negocio_140605.pdf>. Acesso em: 3 set. 2013. p. 24.
Figura 21
KASSAI, J. R. et al. Balanço das nações: uma reflexão sob o cenário das mudanças climáticas. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 15., 2008, Curitiba. Anais... Disponível em: <http://www.
negociosustentavel.com/imagens/editor/negocio_140605.pdf>. Acesso em: 3 set. 2013. p. 24.
171
Figura 22
KASSAI, J. R. et al. Balanço das nações: uma reflexão sob o cenário das mudanças climáticas. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CUSTOS, 15., 2008, Curitiba. Anais... Disponível em: <http://www.
negociosustentavel.com/imagens/editor/negocio_140605.pdf>. Acesso em: 3 set. 2013. p. 24.
Figura 24
CORDEIRO FILHO, A. Cálculo atuarial aplicado: teoria e aplicações. Exercícios resolvidos e propostos.
São Paulo: Atlas, 2009. p. 16.
Figura 25
Figura 26
CORDEIRO FILHO, A. Cálculo atuarial aplicado: teoria e aplicações. Exercícios resolvidos e propostos.
São Paulo: Atlas, 2009. p. 83.
REFERÊNCIAS
Audiovisuais
PAUL Bunyan. Dir. Les Clark. Califórnia, USA: Walt Disney Pictures, 1958. 17 minutos.
Textuais
ADONIS, L. A produtividade de Paul Bunyan. Revista Melhor Gestão de pessoas. 2013. Disponível em:
<http://www.revistamelhor.com.br/textos/189/artigo221355-1.asp>. Acesso em: 30 ago. 2013.
AGUIAR, R. M. Ética geral e profissional. Livro-texto. São Paulo: Universidade Paulista – UNIP
Interativa, 2009a.
___. Ética profissional para contabilistas do século XXI. São Paulo: Baraúna, 2009b.
BARBIERI, J. C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011.
BARKS, C. A monstruosa máquina Paulo Bunian. (Revista em quadrinhos). Disney, 1959. Disponível em:
<http://coa.inducks.org/story.php?c=W+US+++28-01>. Acesso em: 30 ago. 2013.
BRADBURY, J.; CHRISTENSEN, D. Paulo Bunian. (Revista em quadrinhos). Disney, 1959. Disponível em:
<http://coa.inducks.org/story.php?c=W+SS++++9-01>. Acesso em: 30 ago. 2013.
BRAGA, C.; RODRIGUES PINHO, D. A Evidenciação contábil ambiental. In: BRAGA, C. Contabilidade
ambiental: ferramenta para a gestão da sustentabilidade. São Paulo: Atlas, 2010. p. 67-71.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Constituição Federal da República Federativa do Brasil
1988. Brasília, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm>. Acesso em: 30 ago. 2013.
___. Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens,
direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei;
cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9613.htm>. Acesso em: 28 ago. 2013.
___. Ministério do Meio Ambiente. Resolução 237, de 19 de dezembro de 1997. 1997b. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html>. Acesso em: 4 set. 2013.
___. Câmara dos Deputados. Lei Complementar 108, de 29 de maio de 2001. Dispõe sobre a relação
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Exercícios
180
181
182
183
184
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000