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LEGISLAÇÃO E ÉTICA PROFISSIONAL

ÉTICA PROFISSIONAL PARA A EDUCAÇÃO


FÍSICA
Carine Ferreira Costa

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Olá!
Você está na unidade Ética Profissional para a Educação Física. Conheça aqui um pouco sobre as principais

questões que envolvem o conceito de ética e moral na sua perspectiva filosófica e sua aplicação na demanda

contemporânea da Educação Física. Além disso, debateremos sobre a deontologia para a Educação Física, sua

origem e perspectiva histórica ao ser aplicada no campo de atuação da área. O conteúdo é denso, mas de extrema

utilidade para um futuro profissional.

Bons estudos!

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1 Ética e moral: aspectos filosóficos
A história da ética e da moral está vinculada à perspectiva filosófica e à sua contribuição para a sociedade.

Devido a isso, aqui, contextualizaremos sinteticamente como esses dois conceitos são caracterizados na história

da filosofia, de maneira que seja possível localizá-los e entender a contribuição de ambos para o campo de

atuação da Educação Física.

Figura 1 - Ética e moral


Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem mostra duas mãos com o mesmo peso na balança. Entendamos, aqui, a necessidade de

compreender ética e moral caminhando lado a lado com o mesmo grau de importância.

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1.1 Filosofia da ética

A palavra ética, etimologicamente, tem sua origem na palavra grega éthos que, em tradução literal, significa

caráter. A filosofia debruçou-se sobre a ética, principalmente, em sua fase iluminista e, portanto, os principais

colaboradores do debate em torno da ética são filósofos que compactuam com essa perspectiva.

O entendimento e a necessidade de se compreender a ética varia de acordo com o ponto de vista adotado quanto

à busca pela felicidade como na relação do homem e da natureza, do bem e do mal, do certo e do errado à luz da

estrutura cultural em que o fato acontece e, consequentemente, a que lugar o sujeito em questão pertence.

Atualmente, muitos pesquisadores tendem a compreender a ética e a moral como sinônimos, no entanto, não os

são. A moral é uma categoria analítica que surge dos estudos e da contribuição social da ética, mas possui forma

e problematizações específicas que fazem com que os conceitos tenham autonomia perante o outro. De acordo

com Pedro (2014, p. 485),

[u]ma das razões para tal acontecer reside no facto de existirem duas palavras para mencionar o

domínio valorativo da ética e da moral através da sua origem grega e latina, de raiz etimológica

distinta: assim, o termo ética deriva do grego ethos, que pode apresentar duas grafias – êthos –

evocando o lugar onde se guardavam os animais, tendo evoluído para ‘o lugar onde brotam os actos,

isto é, a interioridade dos homens’ (Renaud, 1994, p. 10), tendo, mais tarde passado a significar, com

Heidegger, a habitação do ser, e – éthos – que significa comportamento, costumes, hábito, caráter,

modo de ser de uma pessoa, enquanto a palavra moral, que deriva do latim mos, (plural mores), se

refere a costumes, normas e leis, tal como Weil (2012) e Tughendhat (1999) referem.

Além disso, os filósofos iluministas desvincularam os estudos da ética da perspectiva religiosa e do estudo da

metafísica, de maneira que os esforços para a ampliação do debate estão expressos nos estudos históricos, tais

como Certeau (2011, p. 151-152) aponta:

Nos séculos XVII e XVIII ocorreu uma ruptura depois declarada, entre religião e moral, que tornou

efetiva sua distinção problemática sua conexão ulterior. Mudou a experiência e as concepções que

delas haviam tido as sociedades ocidentais. Ao sistema que fazia das crenças o quadro de referência

das práticas, se substituiu uma ética social que formula uma ‘ordem’ das práticas sociais e relativiza

as crenças religiosas como um “objeto” a utilizar.

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A relação filosófica entre ética e moral também é expressa como umas das preocupações para os estudos

históricos, desatrelando-se as categorias das perspectivas religiosas do tempo em questão, tendo em vista que,

de acordo com Certeau (2011, p. 153),

[c]om a ética, a prática social se torna o lugar em função do qual se elabora uma teoria das condutas.

Ao mesmo tempo, a doutrina de ontem se transforma num fato de ‘crença’; é uma ‘convicção’ (quer

dizer, uma opinião combinada como uma paixão), ou uma ‘superstição’, em suma, o objeto de uma

análise articulada por critérios autônomos. Dito de outra maneira, ética representa o papel

antigamente outorgado à teologia. Uma ‘ciência dos costumes’, de agora em diante, julga a ideologia

religiosa e seus efeitos, lá onde a ‘ciência da fé’ classificou os comportamentos em uma subseção

intitulada ‘teologia da moral’, e hierarquiza as condutas segundo os códigos da doutrina.

Nesse ínterim, Durant (1996, p. 27), em seus estudos, defende que a ética é um dos campos da filosofia ao

afirmar que “(...) especificamente, filosofia significa e abrange cinco campos de estudo e discurso: a lógica, a

estética, a ética, a política e a metafísica”.

Sendo a ética um dos campos de estudo da filosofia, Abbagnamo (1996, p. 27), em seu dicionário, a retrata como

“(...) o estudo da conduta ideal; o mais elevado dos conhecimentos, dizia Sócrates, é o conhecimento do bem e do

mal, o conhecimento da sabedoria e da vida”.

Existe uma variedade de estudos sobre o conceito de ética, mas não cabe aqui lista-los, mas sim entender, que a

ética e a moral estão intrinsicamente ligadas de maneira abrupta, que faz com que, no estudo de ambas, sejam

confundidas como sinônimas. É importante, ressaltar alguns fatos em síntese: o estudo da ética como campo da

filosofia ultrapassa as relações de cunho religiosos com a sociedade, sendo a moral um dos seus objetos de

estudo.

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1.2 Filosofia da moral

Figura 2 - Limites culturais


Fonte: Alexander Limbach, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem mostra grupos separados por limites físicos. Entendamos, através dessa imagem,

sociedades separadas por seus limites culturais.

A moral, como objeto de estudo da ética, é modelada também pelos filósofos iluministas. Entendamos, aqui, que

o Iluminismo foi um período histórico que também é conhecido como o século das luzes, pois foi um momento

em que se defendia o estudo da razão em detrimento dos estudos da fé, ou daqueles metafísicos oriundos dos

princípios religiosos, difundidos, principalmente, pela igreja católica.

Na prática, o período iluminista teve início a partir do século XVII e, por isso, ele não é representado por um

movimento único, mas, sim, por um conjunto de contribuições científicas que proporcionaram os avanços da

humanidade. Nomes como Isaac Newton (1946-1727), o pai da teoria da gravidade, fizeram parte dessa época,

de maneira que esse período se caracteriza por uma forma diferente do que até então se tinha com respeito à

analise e compreensão da humanidade e suas relações.

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A relação entre o entendimento de ética e moral é bastante intensa, pois enquanto a ética, ao desvincular-se de

significados religiosos, expressa a conduta do sujeito individual, a moral ao seguir o mesmo caminho, trata da

conduta coletiva e dos hábitos sociais, isto é, da conduta de uma sociedade perante suas relações.

Dessa forma, a moral é dialeticamente mutável, pois ela não tem sentido único, já que seu sentido varia de

acordo com a cultura local, sendo o entendimento sobre a moral alterado, uma vez que ele reflete os hábitos

daquela sociedade.

Um exemplo tácito seria definir a moral perante os hábitos e costumes de um país ocidental e um país oriental.

Pensemos sobre o controle de natalidade chinês por exemplo, no qual o Estado define a forma e a quantidade de

filhos que uma família pode ou não gerar. Para os cidadãos chineses, que já nasceram nessa estrutura social, o

fato é tratado com naturalidade, mesmo já se sabendo que muitas famílias, ao não conseguirem manter a

quantidade de filhos definida pelo Estado, acabam entregando os filhos, entendidos pelo Estado como

‘excedentes’, à adoção. Atualmente, por exemplo, a definição de um filho por família já avançou para dois filhos e,

assim, a sociedade chinesa entra num processo de mutação devido à necessidade coletiva no presente momento.

Agora, imagine esse hábito, ou melhor, essa determinação, por parte do Estado brasileiro, e como as relações e a

conduta do país seriam alteradas diante de tal imposição. Ou, até mesmo, pensemos em pautas mais polêmicas

ainda, como o aborto e a pena de morte.

Alguns países de primeiro mundo possuem, em sua legislação, o aborto e a pena de morte como práticas

legalizadas pelo poder judiciário, mas, no Brasil, elas são temas constantes de debates acalorados que perpassam

por questões não só éticas, como religiosas e fisiológicas, como, por exemplo, a questão da autonomia da mulher

sobre o seu corpo.

Enfim, o que esperamos materializar com esses exemplos é que a moral sempre tratará da conduta conjunta de

uma sociedade, seja ela de aceitação ou não do indivíduo.

Assista aí

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2 Ética e moral na atualidade
Entender como a ética e a moral se apresentam na sociedade contemporânea é fundamental para identifica-las

em campos de atuação específicos. A sua apresentação histórica reflete sua contribuição para a atualidade,

considerando a sua atuação em sociedades, como é o caso da sociedade brasileira, organizadas pelo modo de

produção capitalista.

Figura 3 - Ética e moral na atualidade


Fonte: 3D generator, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem mostra placas com diferentes adjetivos sociais que indicam caminho distintos. Uma

representação analogamente pensada para a compreensão de como a ética e a moral são construídas na

atualidade.

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2.1 Princípios históricos

A sociedade brasileira é estruturada na perspectiva de um estado democrático e, por isso, a liberdade de

expressão, a liberdade ir e vir e o direito ao livre arbítrio são elementos fundamentais para que as relações sejam

estabelecidas, bem como para o bom funcionamento da nação na esfera dos poderes legislativo, judiciário e

executivo.

Além disso, as relações econômicas presentes no Brasil estabelecem a perspectiva capitalista. O modo de

produção capitalista é soberano nas relações econômicas brasileiras, mesmo o país sendo classificado como uma

nação de terceiro mundo e em desenvolvimento, no qual o livre comércio e as relações de trabalho assalariadas

fazem parte da manutenção da vida na histórica dos cidadãos.

Atualmente, o capitalismo pressupõe uma lógica neoliberal e as relações de trabalho autônomas. Sem a

segurança das leis trabalhistas, fizeram com que a população se debruçasse em outro segmento de trabalho,

como o da prestação de serviços por aplicativos, por exemplo, o que faz com que as relações econômicas estejam

em constante mudança e sejam a pauta de muitos debates.

Nessa conjuntura, o estabelecimento das relações é estruturado por uma padronização das condutas dos

profissionais, de maneira com que a atuação seja sempre adequada ao padrão socialmente aceito pela maioria.

No entanto, o entendimento sobre ética e moral na realidade concreta ainda é tomado como sinônimo e a

questão de valores ainda é atrelada a esses conceitos. Tal atitude, socialmente reproduzida, dificulta não só a

compreensão, mas também os avanços necessários para a sociedade continuar se desenvolvendo de acordo com

as transformações sociais. Sobre essa questão, Pedro (2014, p. 484) afirma que

[f]requentemente, assistimos ao uso ambíguo de palavras que estabelecem uma associação

terminológica por sinonímia de ‘moral e ético’, ‘moralidade e ética’, ‘valores e ética’, ‘valores e

norma’, ‘axiologia e ética’, e ainda, ‘filosofia moral e ética’ que se empregam em vários contextos do

quotidiano como se de sinónimos se tratassem, resultando daqui, não raras vezes, uma enorme

confusão para quem necessita de as utilizar, dificultando, deste modo, a comunicação e a elaboração

do pensamento.

Esse hábito equivocado é refletido nas esferas sociais e nas relações de trabalho de forma abrupta, dificultando,

inclusive, as interpretações e, até mesmo, a elaboração de documentos como o código de ética de determinados

profissionais. Considerando que esses documentos são fundamentais não só no seu dia a dia, como também em

situações em que eles são julgados por suas atitudes, segundo Pedro (2014, p. 485),

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[h]á quem considere, no entanto, que não faz qualquer sentido estabelecer estas distinções, pois

todas acabam por referir-se ao mesmo universo; contudo, não é bem essa a nossa opinião por

considerarmos estar subjacente à identificação e delimitação destas diferenciações terminológicas

um modo de agir e de pensar interrogativo e reflexivo distintos daquele que sucederia, caso não as

reconhecêssemos como tal.

Dessa maneira, é importante ressaltar que, historicamente, o entendimento da ética e da moral são entrelaçados

e, muitas vezes, confundidos pela sociedade. No entanto, faz-se necessário o debate acerca do tema, bem como o

esclarecimento para os profissionais que atuam na nossa sociedade, assim como para os poderes executivos e

legislativos, uma vez que uma das principais funções dos debates e produções científicas é o esclarecimento

sobre a humanidade e sobre seus elementos influenciadores.

2.2 Influência na sociedade brasileira

Figura 4 - Desigualdade social


Fonte: Fred Cardoso, Shutterstock, 2020.

#PraCegoVer: a imagem mostra, de um lado, uma favela, e, de outro, prédios de classes mais abastadas,

ilustrando a desigualdade presente no Brasil.

A relação da sociedade brasileira com a ética e a moral é intrinsicamente ligada às relações de cunho religiosos,

influenciadas, inicialmente, pelo cristianismo catolicista e, atualmente, pela perspectiva protestante do

cristianismo que resultou numa série de vertentes representadas por diferentes doutrinas e formas de

manifestação da fé.

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Além disso, ela corrobora com a perspectiva da colonização recebida, tendo os europeus, negros e índios

representados em algumas esferas sociais específicas, de modo que, conforme Pedro (2014, p. 486),

[a] ética é essencialmente especulativa, não se devendo dela exigir um receituário quanto a formas

de viver com sucesso, dado que se preocupa, sobretudo, com a fundamentação da moral; a moral, é

eminentemente prática, voltada para a ação concreta e real, para um certo saber fazer prático-moral

e para a aplicação de normas morais consideradas válidas por todos os membros de um determinado

grupo social. Por outro lado, a ética não é um conjunto de proibições nem a moral algo definível

somente num contexto de ordem religiosa (Singer, 1994, p. 11; Dias, 2006; Gontijo, 2006).

Dessa forma, é preciso entender que ética e moral, para nossa sociedade, são elementos da instituição burguesa,

capitalista e, por isso, devem ser tratados como agentes históricos dessas relações.

Não se trata, aqui, de criticar ou avaliar como certo ou errado, porém é preciso entender que, na sociedade

brasileira, a lei do mercado sempre será determinante nas relações éticas e morais dos profissionais. Dessa

forma, devemos buscar a ação ética no sentido mais radical do termo nas relações que estabelecemos, pois existe

uma variedade imensa de elementos a serem analisados sobre a ética e a moral dentro de uma sociedade. De

fato, segundo La Taille (2010, p. 109),

é grande a variedade e riqueza de temas humanos tratados em nome do que estamos chamando de

plano ético: a harmonia do universo e sua relação com o homem, a natureza humana, o papel do

conhecimento no alcance da felicidade, as mazelas e virtudes das paixões, o egoísmo e o altruísmo, a

convergência social de interesses, a evolução histórica e o porvir do homem etc., e, também, a justiça,

a benevolência, a coragem, a fidelidade, ou seja, um conjunto de virtudes que também interessam à

reflexão moral.

Diante disso, é essencial lembrar que as relações éticas e morais, na sociedade brasileira, são relativamente

interdependentes e é dessa forma que devemos entende-las num movimento contínuo e necessário. Ainda

utilizando os estudos de La Taille (2010), faz-se necessário deixar as polêmicas em relação aos conceitos que

definem os termos, de forma que seria preciso, então, exercitarmos a reflexão sobre qual seria a função do

exercício deles na nossa sociedade. Ainda mais no caso do Brasil, uma nação culturalmente vasta, mas

igualmente desigual, o que faz com que o entendimento sobre ética e moral seja submetido às condições dos

sujeitos dentro das suas relações.

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Fique de olho
Um dos principais pesquisadores sobre a questão da ética e da moral na sociedade brasileira é
o filosofo Mário Sérgio Cortella. A sua obra de mais destaque na última década é Educação,
convivência e ética.

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3 Ética e moral para a Educação Física brasileira
A apresentação da ética e da moral para o mercado da Educação Física e para os profissionais que nele atuam

possui características e elementos históricos próprios que definiram a construção do código de ética da profissão

após a sua regulamentação, bem como determina a conduta e a forma com que os profissionais são vistos na

nossa sociedade.

3.1 Código de ética do profissional de Educação Física

Figura 5 - Teoria e prática


Fonte: Nokz, Shutterstock, 2020 (adaptada).

#PraCegoVer: imagem mostra uma mão segurando uma linha, tendo escrito “teoria” e “prática” em cada uma

das suas extremidades. Isso representa a teoria e a prática na mesma balança como tendo o mesmo peso.

A ética e a moral prevista para a conduta profissional dos educadores físicos perpassam uma relação histórica

densa perante a sua identidade no contexto brasileiro.

A profissão ganhou notoriedade profissional ainda na primeira metade do século XX, de maneira que os cursos

de formação em nível de graduação foram se expandido em solo nacional e esses profissionais eram levados,

predominantemente, à atuação dentro das instituições de educação básica.

Nesse momento, então, a relação das práticas corporais ainda era relacionada aos interesses políticos, com fins

voltados à medicina preventiva de cunho higienista e ao exercício físico contínuo e sistematizado, além de

servirem ao entretenimento da população perante as competições de alto rendimento, que fomentavam a

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vontade de aprender determinados esportes, como o futebol, por exemplo, tendo em vista os títulos

conquistados nas copas do mundo.

No entanto, a atuação dos professores de educação física no sistema da educação formal não recebia a devida

importância perante a sociedade, por ser considerada um componente curricular essencialmente prático e não

colaborativo à evolução da teoria da ciência.

Nesse cenário, as demandas específicas da categoria foram sendo unificadas pela Associação Brasileira dos

Professores de Educação Física (ABPEF), que, mais tarde, fundou a Federação Brasileira dos Professores de

Educação Física (FBPEF) que, por sua vez, levou as demandas dos professores de educação física para o debate

nacional, através dos espaços proporcionados pelo congresso da Federação das Indústrias do Paraná (FIEP).

Este não só disponibilizou os espaços durante o evento para os debates, mas, por se tratar de uma instituição

com abrangência nacional, também possuía congressistas e/ou representantes de todos os estados do Brasil que

puderam servir de multiplicadores dos debates e das pautas em todo território brasileiro.

Esse evento da FIEP, atualmente, já tem caráter internacional e é caracterizado como um congresso latino-

americano. Ele acontece anualmente, no mês de janeiro, na cidade de Foz do Iguaçu, no estado do Paraná.

Uma das principais demandas dos professores da área surge também, já no final do século XX, com uma

perspectiva do capitalismo neoliberal se estabelecendo nas relações comerciais do Brasil e abrindo novas

vertentes de atuação para esses profissionais, como as academias com o segmento de musculação e ginástica,

clubes, eventos com recreação e como personal trainer, a vertente mais difundida atualmente.

Dessa forma, o debate sobre a Educação Física ser uma área do conhecimento educacional ou da saúde tomou os

espaços dos profissionais da área e a saída para tal embate foi, inicialmente, a regulamentação da profissão,

materializada na lei número 9696/1998, que teve como um dos seus principais resultados a criação do sistema

Conselho Federal de Educação Física/Conselho Regional de Educação Física (CONFEF/CREF).

Foi o sistema CONFEF/CREF que, ainda nos espaços do congresso da FIEP, iniciou os debates sobre o código de

ética do então profissional de Educação Física. Nas diretrizes do CONFEF é estabelecido, então, que o código de

ética será um documento a ser construído e repensado sempre que necessário devido às demandas sociais para

a atuação dos profissionais da área estarem em constante mudança.

A regulamentação da profissão gerou, também, insatisfação em parte da comunidade dos profissionais de

educação física, principalmente naqueles ligados às instituições de educação básica e superior, que organizaram

o movimento contra a regulamentação da profissão que existe até os dias atuais.

Uma das pautas de maior dificuldade para consenso (e, ainda hoje, não há acordo sobre isso) foi a divisão do

curso de graduação em educação física entre licenciados e bacharéis, sendo que a discrepância das opiniões faz

com que, até hoje, o próprio sistema CONFEF/CREF não atue com unidade para o segmento de ambos.

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No entanto, o código de ética do sistema CONFEF/CREF data sua última versão em 2015 e esse documento, em

alguns momentos, tende a exercitar o equilíbrio entre os dois segmentos de atuação, embora ainda tenda a

contemplar mais as demandas dos bacharéis do que as dos licenciados.

Conceitualmente, ao tratar ética e moral, o documento perpassa a lógica dos profissionais da saúde, no trato

respeitoso e responsável com o corpo e na difusão da importância da prática de exercícios físicos contínuos

prescritos com fundamentação teórica de acordo com a população que irá ser atendida.

Os profissionais registrados no conselho federal ainda se responsabilizam em zelar eticamente pelo documento

para si e para os outros, de maneira que existem penalizações legais para quem não o cumprir.

Fique de olho
O código de ética homologado pelo sistema CONFEF/CREF está em constante mudança e essas
alterações estão todas disponíveis no site oficial do conselho. É importante sempre estar
atento e dar a sua contribuição.

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3.2 Ética dos professores de educação física escolar

Os profissionais de educação física que atuam na escola encontram-se numa perspectiva de conduta diferenciada

no que se trata da regulamentação da profissão. A legislação que os profissionais licenciados em educação física

e os licenciados plenos em educação física são submetidos é orientada pelo Ministério da Educação (MEC) e

segue as mesmas diretrizes para todos os educadores que atuam na educação básica.

Dessa forma, não há obrigatoriedade desses professores serem filiados ao sistema CONFEF/CREF, de modo que

não há obrigatoriedade legal desses profissionais terem registro no conselho federal, o que, consequentemente,

não acarreta na obrigação do cumprimento do código de ética ou das demais diretrizes da instituição.

É fato que existe um compromisso dos professores de educação física escolar que perpassa, também, a lógica da

difusão dos benefícios do exercício físico para a população, a prática de exercício orientada e a difusão da cultura

corporal já produzida pela humanidade, de maneira a respeitar a cultura corporal de cada um dos alunos que

atendem na escola.

Para além das demandas específicas da educação física, assim como os demais professores dos outros

componentes curriculares que atuam na escola, os profissionais da educação devem ter compromisso ético no

exercício da cidadania, dos princípios democráticos, da liberdade de expressão e no cumprimento das exigências

previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/1996), bem como do plano curricular

que a sua instituição é submetida e o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola na qual atua, que deve ser

reflexo de uma construção coletiva da comunidade escolar, composta pelos professores e funcionários, pais e

alunos.

Algumas tentativas de padronizar ou, até mesmo, de refletir sobre o exercício da ética do conjunto dos

componentes curriculares e dos profissionais responsáveis por desenvolvê-los foram descritos num documento

homologado no final do século XX denominado como PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), no qual se

estabelece um trabalho didático da educação para a cidadania em que a ética foi estabelecida como um dos

temas transversais, tendo quatro princípios básicos para o seu desenvolvimento: respeito mútuo, justiça,

solidariedade e diálogo.

Para ser promovido um trabalho didático que fomente a ética, entendendo, aqui, a reflexão sobre a ética e a

moral como sendo indicadores que acabam sendo normas de conduta a serem seguidas pelos professores da

educação básica, além de documentos oficiais, existem também programas de abrangência nacional sendo

divulgados pelo próprio Ministério da Educação (MEC), tal como o Programa Ética e Cidadania – Construindo

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valores na Escola e na Sociedade, que objetiva, segundo Brasil (2020), “consolidar práticas pedagógicas que

conduzam à consagração da liberdade, da convivência social, as solidariedade humana, da promoção e inclusão

social”.

Diante disso, entende-se que o professor de Educação Física escolar, em sua prática diária, não está desconexo

com o código de ética do sistema CONFEF/CREF, mesmo que não seja legalmente submetido a ele, uma vez que

suas atribuições perante a ética profissional perpassam não só pelo exercício contínuo na sua atuação, bem como

pela promoção do debate sobre o tema de forma articulada com os seus estudantes, sendo, assim, parte da

engrenagem responsável por fomentar esse debate para além da execução dos padrões éticos e morais da

sociedade brasileira.

Assista aí

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4 Deontologia para a sociedade contemporânea
A deontologia é a ciência ou área do conhecimento que estuda a conduta moral e sua aplicação na sociedade.

Considerando as variáveis que o conceito de moral abrange para ser estabelecido perante a cultura que está

diante de si, apresentaremos brevemente os aspectos históricos da sua formação.

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4.1 Definição de deontologia

Para compreendermos o significado da deontologia, utilizaremos como base a contribuição científica de

Camargo (2011), que se debruçou sobre o complexo repertório acerca do tema voltado às especificidades da

área de Educação Física.

Nesse ínterim, Camargo (2011, p. 37) entende que a deontologia é “a ciência do dever profissional”, expressão já

utilizada por Jeremy Berthan, filósofo considerado pai da deontologia.

Assim, trata-se de uma área do conhecimento da filosofia ética contemporânea, que atua como um agente da

forma segundo a qual os deveres, conforme a moral, devem ser difundidos. Seria o espaço em que se deliberaria

o que é moralmente necessário para a conduta social, que, ao ser definido, serve como um indicador de

direcionamento sobre o que deve ser feito, gerando, assim, uma pseudocobrança nos sujeitos, pois, não agindo

de acordo, será cobrado por isso também.

Outra forma de conceituar a deontologia é entendê-la como segmentada por profissões, uma vez que ela tem sua

origem na filosofia contemporânea. E, sendo pensada conforme as profissões ou segmentos de atuação no

mercado de trabalho, ela significaria um conjunto de condutas que determinaria a forma de agir, definindo, dessa

forma, deveres, a fim de regular o exercício de cada profissão. Assim, esse conjunto de condutas também pode e,

normalmente, acaba sendo expresso em documentos norteadores, sendo o código de ética de cada profissão o

mais comum deles.

O código de ética, por sua vez, expressa o que a sociedade espera do profissional em questão e, considerando que

ele deve ser cumprido na íntegra, é o principal argumento de acusação no julgamento, quando os profissionais

possuem condutas inapropriadas aos olhos da sociedade.

A deontologia não pode ser pensada ou, até mesmo, avaliada como uma consequência da filosofia clássica.

Quando se traz à luz da ciência contemporânea elementos da filosofia clássica, a interpretação sempre considera

a conjuntura na qual aquelas linhas analisadas foram produzidas.

No caso da deontologia enquanto área do conhecimento que visa estudar e/ou definir um conjunto de condutas

apropriadas para os profissionais, é preciso ressaltar que ela é produto da sociedade atual, na qual cada

instituição e cada ciência que visa regular a conduta profissional se transforma de acordo com os interesses

daquela sociedade. Sendo que, no nosso caso, esses interesses perpassam sempre pelos interesses de quem

detém maior poder econômico, que visa sempre a manutenção do status quo, o que significa manter as funções

sociais de cada sujeito da forma com que estão, sem alteração desses papéis.

Outro elemento importante de se destacar é que a deontologia recebe um caráter quase profissional, sendo que

muitas profissões já a encaram dessa forma. Um outro fato comum também é que, por caminharem juntas, a

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deontologia, a ética e a moral acabam atuando como pilares centrais da conduta e seu entendimento social passa

a ter similaridade, embora não seja possível entendê-las como sinônimas.

Dessa forma, para pensarmos a deontologia profissional da sociedade brasileira, precisaremos entender e

considerar os aspectos determinantes para a constituição do perfil cultural dessa sociedade que percorrem uma

estrutura econômica, política e ideológica própria. O Brasil, por ser um território vasto e com diferentes culturas

determinadas pela colonização recebida, sendo exemplificado pela distribuição do que hoje conhecemos como

estados (que eram províncias em um primeiro momento), é determinado por variações nas condutas morais do

povo que o habita.

Se considerarmos apenas a divisão em regiões do Brasil, já veremos diferenças na forma de exercitar o conjunto

de condutas definidos por cada profissão. O que não significa que os documentos tidos como os códigos de éticas

são respeitados mais ou menos por profissionais de um lado ou de outro, somente que as definições ocorrem em

nível nacional, mas a execução e os seus meios não são determinados no código de ética, de maneira que os

aspectos culturais são respeitados e a individualidade de cada profissional também, pois ao final do processo o

importante é que se chegue ao mesmo fim.

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4.2 Aspectos históricos

Antes de chegarmos à deontologia da filosofia ética contemporânea, é importante ressaltar que o desenrolar

dessa área do conhecimento é denso e longo, possuindo a contribuição de alguns marcos históricos na sua

constituição.

Alguns historiadores, como o filósofo inglês William Richtie Sorley (1855-1935), salientam que, até a segunda

metade do século XVIII, a Inglaterra não possuía o pensamento filosófico dentro das escolas.

Somente com a contribuição de grandes nomes da filosofia do período anterior, como Francis Bacon (1561-

1626), Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1752), foram fomentadas ideias para a filosofia, porém

eles não deixaram discípulos que continuassem seu legado, de maneira que essa conjuntura só foi alterada no

final do século XVIII por um grupo de cientistas adjetivados como utilitaristas, que defendiam o debate sobre a

obra de um filósofo, em especial, chamado Jeremy Bertham.

O pai da deontologia foi uma criança prodígio e algumas fontes, como a Coleção Os pensadores, publicada e

traduzida em língua portuguesa no ano de 1979 no Brasil, relatam que ele nasceu em Londres e, entre os três e

quatro anos de idade, já lia em grego e latim, fazendo com que, aos cinco anos de idade, sua família já o chamasse

de Jeremy “o filósofo”.

Nascido em 1848, aos 12 anos de idade, ingressou na Quens’s College de Oxford e, em 1963, já tinha obtido o

título de bacharel em filosofia. Nesse mesmo ano, iniciou seus estudos em Direito para seguir a mesma profissão

do pai, tendo ido trabalhar no fórum quatro anos depois. De acordo com Baraúna e Civita (1979, p. 6),

[a]pesar do direito ser sua maior preocupação teórica, Bentham jamais praticou a profissão.

Motivado por profunda insatisfação, não só com que observara como estudante nas cortes de justiça

mas também com as justificações teóricas de comentadores ingleses como sir William Blackstone

(1723-1780), autor dos Comentários sobre as Leis na Inglaterra, Bentham dedicou-se a elaborar um

sistema de jurisprudência e a codificar e reformar tanto o direito civil como o penal.

Nesse ínterim, Jeremy Bertham publicou algumas obras ao longo de sua carreira como Um fragmento sobre o

governo (1776), Teoria dos castigos e das recompensas (1781), O fundamento racional da recompensa (1825), O

fundamento racional do castigo (1830) e Defesa da usura (1787), tendo publicado essa última já como um

discípulo do economista político Adam Smith.

- 21 -
Ao estabelecer uma conexão com a economia política, Bertham dedicou seus trabalhos posteriores a uma lógica

orientada pela escola liberal, defendendo um liberalismo econômico que considerava que o mercado deveria ser

norteado de forma exclusiva pela lei da oferta e da procura.

O autor dedicou seus estudos ao estabelecimento da moral apenas a partir de 1788 quando, segundo Baraúna e

Civita (1979, p. 8),

[d]edicou-se, então, ao estudo da legislação, pretendendo descobrir seus princípios. Em 1789,

publicou sua maior obra teórica, Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação, além de

inúmeros panfletos, nos quais criticava a lei de difamação, o segredo dos jurados, o juramento, as

extorsões de declarações legais, a Igreja estabelecida.

E assim, Jeremy Bertham deu o pontapé inicial para o aprofundamento nos estudos sobre a moral e a conduta

profissional com base legal. Ele ainda foi um dos fundadores, juntamente com um grupo especial de amigos, do

Westminster Review, em 1823, a fim de garantir um espaço para a difusão das suas ideias.

Veio a falecer em seis de junho de 1836, aos 84 anos de idade, cercado de amigos e discípulos que continuaram a

desenvolver o utilitarismo proposto por ele, tendo, como um dos seus resultados, a reforma constitucional na

Inglaterra, sendo que as áreas do conhecimento perduram até os dias de hoje, tendo a deontologia como

responsável pelos debates sobre as condutas dos profissionais baseadas nos aspectos legais da sociedade.

- 22 -
5 Deontologia da Educação Física brasileira
A organização da ética e da moral para a Educação Física brasileira carrega consigo influências típicas de uma

sociedade capitalista e de uma profissão que luta pelo reconhecimento social. Nessa conjuntura, nos

debruçaremos sobre os aspectos gerais expostos no código de ética dos profissionais de Educação Física do

sistema CONFEF/CREF.

- 23 -
5.1 Aspectos gerais

Em linhas gerais, a constituição do sistema CONFEF/CREF gerou muitas dificuldades no debate da categoria,

juntamente com a discussão sobre a regulamentação da profissão.

A falta de unidade histórica entre a categoria faz com que cada ação do sistema CONFEF/CREF seja alvo de

críticas, principalmente, por parte dos professores licenciados que conta com uma parcela considerável que não

se sente contemplada com a regulamentação e com as diretrizes defendidas pelo sistema.

Por outro lado, uma parcela dos licenciados atua paralelamente à perspectiva defendida pelo conselho federal,

além de que algumas ações do sistema CONFEF/CREF também são alvos de críticas dos bacharéis, por

considerarem que, muitas vezes, o sistema se ocupa de tratar dos interesses das pessoas jurídicas e não físicas

que ele atende.

De qualquer forma, não há grandes dificuldades no entendimento do código de ética da categoria, uma vez que

há consenso da necessidade de se sistematizar os elementos gerais em torno da forma de atuação dos

profissionais de educação física.

A última versão do código de ética, que é entendido pelo conselho federal e seus filiados como um documento

que estará em constante mudança sempre que a categoria e o sistema CONFEF/CREF julgar necessário, está

representado na resolução número 307/2015 e considera-se que ele contempla a conduta ética dos seus

beneficiários, sendo esse o indivíduo ou a instituição que utilize os serviços dos profissionais de educação física

e, ainda, o profissional de educação física em si.

Além disso, o sistema CONFEF/CREF estabelece o reconhecimento como profissional da Educação Física o

“profissional identificado consoante as características da atividade que desempenha nos campos estabelecidos

da profissão”, de acordo com CONFEF (2015).

O código também define os princípios e diretrizes que norteiam o desenvolvimento do documento já no seu

segundo capítulo, sendo os princípios para o exercício profissional:

• Princípio 1

O respeito à vida, à dignidade, à integridade e aos direitos do indivíduo.

• Princípio 2

A responsabilidade social.

• Princípio 3

A ausência de discriminação ou preconceito de qualquer natureza.

- 24 -
• Princípio 4

O respeito à ética nas diversas atividades profissionais.

• Princípio 5

A valorização da identidade profissional no campo das atividades físicas, esportivas e similares.

• Princípio 6

A sustentabilidade do meio ambiente.

• Princípio 7

A prestação, sempre, do melhor serviço a um número cada vez maior de pessoas, com competência,

responsabilidade e honestidade.

• Princípio 8

A atuação dentro das especificidades do seu campo e área do conhecimento, no sentido da educação e

desenvolvimento das potencialidades humanas, daqueles aos quais presta serviços.

Já as diretrizes estabelecidas pelo código de ética são voltadas aos órgãos e entidades que atuam no segmento e

atividade profissional, sendo elas:

Diretriz 1

Comprometimento com a preservação da saúde do indivíduo e da coletividade, e com o desenvolvimento físico,

intelectual, cultural e social do beneficiário de sua ação.

Diretriz 2

Aperfeiçoamento técnico, científico, ético e moral dos profissionais registrados no sistema CONFEF/CREFs.

Diretriz 3

Transparência em suas ações e decisões, garantida por meio do pleno acesso dos beneficiários e destinatários às

informações relacionadas ao exercício de sua competência legal e regimental.

Diretriz 4

Autonomia no exercício da profissão, respeitados os preceitos legais e éticos e os princípios da bioética.

- 25 -
Diretriz 5

Priorização do compromisso ético para com a sociedade, cujo interesse será colocado acima de qualquer outro,

sobretudo do de natureza corporativista.

Diretriz 6

Integração com o trabalho de profissionais de outras áreas, baseada no respeito, na liberdade e independência

profissional de cada um e na defesa do interesse e do bem-estar dos seus beneficiários.

Nos atemos a apresentar os princípios e diretrizes do código de ética, a fim de mostrar que, em linhas gerais, eles

estabelecem o compromisso dos profissionais de educação física e dos espaços, tidos como entidades e órgãos

que prestam serviço nesse segmento, estabelecendo um vínculo de comprometimento deles com a sociedade e

com a natureza, prezando sempre pela liberdade e independência profissional com a garantia de qualidade no

serviço prestado.

- 26 -
5.2 Importância e principais características

Apesar da disputa por perspectivas ideológicas dentro da categoria dos profissionais de educação física, a

oportunidade de se discutir sobre as demandas dos educadores físicos em âmbito nacional foi um dos grandes

trunfos do século XX.

O movimento da regulamentação da profissão, bem como o seu principal resultado que foi o sistema CONFEF

/CREF (mesmo que repleto das postas contradições), atualmente, faz com que existam esses espaços para que o

debate aconteça.

É fato que a perspectiva neoliberal do capitalismo que se instalou em solo brasileiro, ainda no final do século XX,

abriu uma vertente de segmentos de atuação para os profissionais de educação física que ainda são alvo de

disputa, inclusive, com outros profissionais com ou sem formação universitária, como é o caso daqueles da área

de recreação, por exemplo.

Além disso, a regulamentação da profissão trouxe consigo a divisão de formação inicial em nível de graduação

em cursos de bacharelado e licenciatura, que também pressupõe uma conduta já previamente estabelecida na

formação dos profissionais, uma vez que o curso de bacharel tende a se preocupar com as disciplinas da saúde

enquanto o curso de licenciatura estabelece um vínculo com os debates educacionais. Obviamente, essa ação

também foi, e ainda é, um palco de disputa e debates fervorosos dentro da comunidade acadêmica.

Alguns pontos do código de ética podem expressar, por exemplo, a importância do debate no sentido de definir

os deveres e responsabilidades dos profissionais, expressão denotativa da deontologia.

Entre os deveres dos profissionais de educação física, o código de ética prevê:

promover a Educação Física no sentido de que se constitua em meio efetivo para a conquista de um estilo de vida

ativo dos seus beneficiários, através de uma educação efetiva, para promoção da saúde e ocupação saudável do

tempo de lazer;

zelar pelo prestígio da profissão, pela dignidade do profissional e pelo aperfeiçoamento de suas instituições;

assegurar a seus beneficiários um serviço profissional seguro, competente e atualizado, prestado com o máximo

de seu conhecimento, habilidade e experiência;

elaborar o programa de atividades do beneficiário em função de suas condições gerais de saúde;

oferecer a seu beneficiário, de preferência por escrito, uma orientação segura sobre a execução das atividades e

dos exercícios recomendados;

manter o beneficiário informado sobre eventuais circunstâncias adversas que possam influenciar o

desenvolvimento do trabalho que lhe será prestado;

- 27 -
renunciar às suas funções, tão logo se verifique falta de confiança por parte do beneficiário, zelando para que os

interesses do mesmo não sejam prejudicados e evitando declarações públicas sobre os motivos da renúncia.

O código também prevê a conduta do profissional de educação física perante os seus pares, a instituições em que

trabalha e os seus colegas. A competitividade presente em muitos locais de trabalho ainda é uma das principais

dificuldades para que seja estabelecida uma conduta ética dos profissionais, principalmente no segmento de

atuação autônoma.

Por isso, diante desse cenário, o principal avanço histórico para a categoria é ter um documento para se discutir

e o entendimento de que ainda existem elementos a serem analisados e desenvolvidos. Considerando-se que a

primeira versão do código de ética foi disponibilizada no ano 2000, para uma profissão da área da saúde, os

debates, por mais amplos que sejam, ainda possuem um caráter preliminar diante das demais profissões da área,

por exemplo, e até mesmo dos demais especialistas que atuam nas instituições escolares da educação básica.

Esperamos que você tenha apreciado se aprofundar sobre elementos filosóficos que, no senso comum, parecem

tão distantes da educação física, mas que, na prática, estão presentes no dia a dia.

Assista aí

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é isso Aí!
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer princípios básicos da filosofia clássica que envolvem os conceitos de ética e moral;
• analisar elementos da atual conjuntura social no entendimento de moral e ética na sociedade brasileira
e, especificamente, para o campo de atuação da educação física;
• ter acesso a indicadores determinantes sobre a constituição da ética e da moral na atualidade;
• saber mais sobre fatores históricos que envolveram a construção do código de ética dos profissionais de
educação física;
• identificar as principais características da deontologia, bem como seu conceito;
• familiarizar-se sobre a história de Jeremy Bertham, considerado o pai da dentologia;
• informar-se sobre os princípios norteadores do código de ética dos profissionais de educação física;
• saber sobre a importância política do código de ética dos profissionais de educação física.

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Referências
ABBAGNO, N. Dicionário de filosofia. 5 ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2007.

BARAÚNA, L. J.; CIVITA, V. Os pensadores – Jeremy Berthan: uma introdução aos princípios da moral e da

legislação. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

BRASIL. Programa ética e cidadania. 2020. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/pnaes/195-secretarias-

112877938/seb-educacao-basica-2007048997/13607-programa-etica-e-cidadania. Acesso em 25/03/2020.

CAMARGO, S. M. A importância do ensino da deontologia na formação do profissional de educação física

frente às influências do paradigma educacional emergente. São Paulo: FAHUD – Faculdade de Humanidades

e Direito, Universidade Metodista de São Paulo, 2011. Dissertação de Mestrado. Disponível em: http://tede.

metodista.br/jspui/bitstream/tede/1183/1/DISSERTACAO_FINAL_SERGIO.pdf. Acesso em 22/03/2020.

CERTEAU, M. A escrita da história. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2011.

CONFEF. Código de ética dos profissionais de educação física. 2015.

DURANT, W. A história da filosofia. Rio De Janeiro: Editora Nova Cultural, 1996.

LA TAILLE, Y. Moral e ética: uma leitura psicológica. Revista Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 26, n. especial, p.

105-114, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a09v26ns.pdf. Acesso em 22/03

/2020.

PEDRO, A. P. Ética, moral, axiologia e valores: confusões e ambiguidades em torno de um conceito em comum.

Revista Kriterion, Belo Horizonte, n. 130, p. 483-498, dez. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/kr

/v55n130/02.pdf. Acesso 22/03/2020.

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