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A MISÉRIA DA SOCIEDADE FRANCESA DO SÉCULO XIX, RETRATADA EM

OS MISERÁVEIS DE VICTOR HUGO.

A MISÉRIA HUMANA.

Ó miséria humana

Que te alimenta do ódio

És dor que racha o peito

Daquele que mergulha no lodo

Para salvar o irmão do ópio.

Ó miséria humana

Que te alimenta do terror

És dor que despedaça a alma

Daquele que procura

A luz, o caminho e o amor.

Ó miséria humana

Que te alimenta na ignorância

És dor profunda

Daquele que já transpôs

Os meandros da ilusão

Numa luz em abundância.

miséria humana

Que te alimenta da separação

Não existe uma razão

Por que tu me faças sofrer,

Pois o tu e o seu não existe

Só o uno consiste

Para lá do ter.

Ó miséria humana
Espero um dia

Possas vir morrer à fome.

(Jorge Moreira)

RESUMO.

A miséria na sociedade francesa sempre acompanhou seu processo histórico,


afligindo principalmente os membros do terceiro estado (camponeses e sans-
culottes), mas é no fim do século XVIII e principalmente no século XIX, que ela
se agravara, graça ao crescente desemprego, fome, crises econômicas, entre
outros fatores, que acaba tornando o país em um barril de pólvora, detonado
nas revoltas populares que assolaram a nação no período.

É essa vida miserável que o romance de Victor Hugo Os Miseráveis virá relatar
como foco central, mostrando o panorama socioeconômico da população
francesa do período (séc. XIX).

A miséria aqui será nossa principal tema de pesquisa, mas primeiro para
entendê-la passaremos pelos processos que levou a formação desta
sociedade: revolução francesa e as de 1830 e 1848 e a vida de V. Hugo (que
conviveu e presenciou este aspecto dentro da França que mais tarde seria
transcrito no seu livro), assim teremos uma noção mais ampla da situação
miserável destes habitantes da França, e por fim um analise da mesma dentro
do território nacional.

SUMÁRIO

1.

INTRODUÇÃO.

07

2.

AS REVOLUÇÕES DE 1789, 1830 E 1848, NA FRANÇA.

13

2.1

A DIFICIL VIDA NA FRANÇA DO SÉCULO XIX.

13

2.2

A REPUBLICA FRANCESA.
21

2.3

AS REVOLUÇÕES DE 1830 E 1848.

23

2.3.1

A REVOLUÇÃO DE 1830.

23

2.3.2

A REVOLUÇÃO DE 1848.

25

2.4

CONSEQUENCIAS DAS REVOLUÇÕES.

27

3.

A ALEGRE TRISTE VIDA DE VICTOR HUGO.

28

3.1

A VIDA DE V. HUGO.

28

3.2

O POLÍTICO DÚBIO, VICTOR HUGO.

31

3.3

LUÍS BONAPARTE VERSUS VICTOR HUGO.

32

3.4

OBRAS DE VICTOR.
33

4.

A MISÉRIA NA FRANÇA DO SÉCULO XIX.

37

4.1

UMA SOCIEDADE MISERÁVEL.

38

4.2

PARIS MISERAVEL.

41

5.

CONCLUSÃO.

45

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS. 47

INTRODUÇÃO.

França, a nação européia que no final do século XVIII e no inicio e decorrer do


século XIX, modelou e ajudou a construir as estruturas das modernas
sociedades mundiais. O país, no qual seus filósofos iluministas (Voltaire,
Rousseau, Montesquieu, entre outros), foram os pilares teóricos que
possibilitaram uma revolução nos quadros políticos, sociais e econômicos da
nação francesa e demais nações do planeta.

Os filósofos e os seus dogmas iluministas (liberdade, fraternidade e igualdade,


além da divisão do poder político em três ordens, que são: Legislativo,
Judiciário e Executivo), que ajudaram na Revolução francesa e em lutas por
emancipações políticas na América e até em partes da Europa, além de ser o
motor principal na ascensão do regime democrático e burguês em nossos
paises, que esta em vigor até os dias atuais em grande parte do planeta.

Suas revoluções (revolução francesa, e as revoluções de 1830 e 1848 em


Paris), com suas ideologias e paixões que contagiaram diversas
nacionalidades e as ajudaram a conquistarem suas independências (os paises
do continente americano, influência da revolução de 1789) e outros a se
unificarem ou conquistarem suas autonomias políticas na Europa (Alemanha e
Itália entre outras, influência das revoluções de 1830 e 1848), e também a
derrubarem antigos regimes políticos desgastantes e os substituírem por outros
mais justos que se priorizam as liberdades de suas populações.

Um país e seus heróis nacionais, que até os dias atuais navegam pelo
imaginário das civilizações independente de sua origem étnica (Clovis; Carlos
Magno, Felipe o belo , Luís XIV, Napoleão, etc.), e seus poetas e romancistas
que se destacaram e repercutiram por toda sociedade (Chateaubriand; Balzac;
Victor Hugo, etc.), isso só citando alguns.

Mas apesar desta gloriosa História, a sociedade francesa passou pôr diversas
calamidades e catástrofes econômicas e sociais no decorrer de sua trajetória
histórica, mas são no final do século XIX que sua população irá ecoar
fortemente o seu sofrimento pelas diversas penúrias, ocasionadas pela
instabilidade política e uma má industrialização da economia, tais como:
miséria, fome, alto índice de criminalidade, desemprego, prostituição, crise
econômica e social, entre outras.

Isso acabava por tornar a vida da sua população injusta e deprimente, e desta
forma ocasionando diversas revoltas 1 (revoluções) civis, um exemplos são ás
de que derrubaram Luís XVI, Carlos X e Felipe Augusto o rei burguês na capital
francesa, e que suas influências se estenderam por grande parte da Europa e
América. Essas revoltas mobilizaram uma enorme quantidade populacional
independente de sua classe social.

Assim sendo o romance de Victor Hugo, intitulado de Os Miseráveis ( Les


Miserables ), vem retratar de forma crítica, este estado de sofrimento de grande
parcela do povo francês no decorrer do século XIX, além de nos mostrar todo o
esqueleto, miséria e antagonismos políticos2 de Paris deste período, também o
sofrimento e preconceitos sofridos pelos excluídos sociais de sua sociedade
(ex: Jean Valjean ex grilheta e Fantine prostituta). Relata as revoluções civis da
capital e suas repercussões dentro de todos os aspectos da sociedade e da
cidade. Isso só falando de forma resumida alguns pontos do livro, pois, (.) Les
Miserables não era apenas um romance, mas também um drama social e
histórico do século XIX, um enorme espelho que refletia a raça humana,
capturada num determinado dia de sua enorme existência. (ROBB, 2000, p.
362).

Desta forma estudaremos a sociedade da França, correlacionada com a obra


literária do maior romancista francês. Ou melhor, dizendo utilizaremos a
literatura como objeto ou fonte de pesquisa histórica.

Mas isso só se tornou possível graça aos novos paradigmas historiográficos do


século XX, que vem substituir aquela pesquisa que só via com bons olhos as
fontes escritas e oficiais, para o estudo histórico (herança da corrente iluminista
de se fazer ou escrever História), tais como: edito de reis e governadores de
provinciais; feitos de grandes homens e heróis; relatos de acontecimentos
importantes e batalhas, entre outros, no qual, não tinham como fontes de
estudos as obras culturais como: pintura, escultura, literatura, etc. desta forma
a partir do século vinte com os novos modelos de pesquisas históricas, com
suas novas fontes e objetos de pesquisas, a literatura e outras ganham espaço
dentro do conhecimento do estudo de História e para entender uma
determinada sociedade ou nação em determinado espaço temporal ou época.

Simplesmente por que obras culturais (literárias) sofrem influência na sua


produção de aspectos de seu tempo, sociedade e transformações sociais,
históricas e culturais de seu povo, ou melhor, A literatura de um povo depende
(.) das vicissitudes de sua evolução histórica, do caráter nacional, e dos usos e
costumes. (BANDEIRA, 1960, p.11). Desta forma os processos históricos de
um país influência grandemente em sua produção cultural (neste caso a
literatura), não só isso, mas também aspectos e valores sociais do autor (pois,
este transmite seus sentimentos, preconceitos, ideologias, paixões e lutas
políticas, entre outras, para sua produção, consciente ou inconsciente na hora
da escrita), e também aspectos da sociedade nacional, tais como: miséria,
fome, criminalidade, tristeza, alegrias, catástrofes bélicas e ambientais, etc.,
mas não só estas características, também as ideologias da época e do escritor,
determinam o conteúdo fictício, histórico e social da produção literária.

(.) um grupo social sem ideologias (.) seria em projeto, sem distância em
relação a si mesmo, sem representação de si. Seria uma sociedade sem
projeto global entregue a uma história fragmentada em acontecimentos
inteiramente iguais, e, pôr conseguintes insignificantes. (RICOEUR, 1977, p.
89).

O mesmo ocorre com uma obra literária, no qual sem as ideologias da sua
época em que ela esta contextualizada, a mesma não tem valor cultural,
intelectual, social e histórico, pois a mesma não representa sua sociedade e
seus anseios, nunca passara de uma ilusão óptica e mental daquela realidade.
Ou seja, ela perde todo o seu sentido cultural, social e de história.

Há outros fatores impregnados dentro destas realidades sociais de um país,


que determina o conteúdo cultural, e historiográfico em uma produção literária,
e que também ajuda a entender a sociedade e sua história na qual foi escrita.
Um desta é a luta pelo poder, pôr um determinado grupo ou classe social, e os
mesmo ao conquistarem, iram introduzir seus valores e ideologias e visão de
mundo para a sociedade e cultura (literatura), para assim justificar ou criticar as
atitudes e anseios, de um grupo social3, pois, A literatura é complementar,
compensadora da sociedade, e o esforço do artista visa dotar um dado grupo
daquilo que a realidade lhe recusa. (BANDEIRA, 1960, p.12).

Ou melhor, se expressando todas as vezes que uma classe social esta subindo
ao poder ou detém o mesmo, suas idéias e valores influenciam em uma escrita
literária e demais produções culturais para assim justificar esta dominação,
podemos observar isto desde o surgimento da sociedade e principalmente na
Idade Média (aristocracia e seus valores) e nas sociedades modernas e
contemporâneas (burguesia e seu dogmas), (.) no tempo que a aristocracia
dominava era o conceito de honra, felicidade, etc. (.) e que, no tempo em que a
burguesia detinha o poder, era o reino dos conceitos de liberdade, igualdade,
etc. (MARX, ENGELS, 1979, p.11).

Mas se estas obras culturais refletem o grupo social que esta no poder, e este
é representada dentro da sociedade pôr um modelo político e econômico (ex:
burguesia, modelo político: democrático, econômico: capitalista), e estes
também determina as produções intelectuais da sociedade, ou melhor, se
expressando, o sistema econômico de uma época exerce uma grande
interferência em uma escrita de um livro independente do gênero. Pois o autor,
sua ideologia e sua nação no qual está inserido, sofrem grandemente a
interferência do modelo econômico dominante em tal período, refletindo assim
em suas concepções e produções culturais.

Isso está claro na escrita do romance, pois, observamos que o predomínio do


modelo burguês, e as interferências do processo histórico francês que o autor
viveu ou sofreu grande influencia, ajudou-o a modelar e criar o Os Miseráveis ,
que relata a miséria da sociedade francesa.

Não podemos esquecer que, o que queremos é compreender os significados


dos aspectos (miséria) da França do século XIX, entrelaçada em Os Miseráveis
de Victor Hugo, ou melhor, os significados dos aspectos dessa população
nesta determinada época, para nós O que pretendemos compreender, não é o
evento, na medida em que é fugidio, mas sua significação que permanece.
(RICOEUR, 1977, p. 47).

Assim sendo é impossível desconsiderar as obras literárias e culturais em geral


do estudo ou da pesquisa histórica, sobre um povo ou sociedade em
determinado contexto histórico. Pois características desta mesma sociedade
interferem no processo de escrita da mesma, através de seus sistemas
políticos e econômicos, além de preconceitos, sofrimento social e ideologias.

Desta forma o romance Os Miseráveis que foi escrito no decorrer do século


dezenove, e neste período a burguesia dominava o poder na França, e também
já havia uma classe operaria se formando e com ela as idéias socialistas. O
romance acaba por refletir isso, em suas criticas sociais (miséria), políticas e
econômicas, da nação da França.

Desta forma o objetivo deste estudo é analisar a miséria na França e em


especial em Paris 4do século XIX, embasada na obra do romancista François
Maire Victor Hugo.
Mas para estudarmos esta sociedade e suas características, analisaremos
primeiro o processo que possibilitou a sua formação e de suas mazelas, pois, A
reconstrução é o caminho da compreensão. (RICOEUR, 1977, p.47).

Começaremos a partir da revolução francesa e as da metade do século XIX


(primeiro capitulo) o que pretendemos neste capitulo é relatar o estado social
francês, depois a vida e ideologias de Victor Hugo 5 (segundo capitulo), e por
fim analisaremos a miséria na sociedade francesa do século XIX, objetivo
principal do estudo (terceiro capitulo).

Mas o porquê desta cronologia? Simplesmente pelo fato do romance no seu


desenrolar passar por estes períodos históricos, e também mostra aspectos
pessoas do autor e suas concepções políticas e lutas sociais, e para assim
compreendermos as causas da miséria francesa e as calamidades sociais da
época (que não eram poucas). Ou seja, as características de uma sociedade
atual possuem fundamentos ou raízes em seu passado, e a literatura de um
povo nos permite ver e pesquisar isto de forma clara e sucinta.

AS REVOLUÇÕES DE 1879, 1830 E 1848, NA FRANÇA.

Não é a força que se iguala a sabedoria, mas sim,

é a sabedoria que se iguala a força.

(AUTOR DESCONHECIDO)

A revolução de 1789 e as barricadas de 1830 e 1848, dentro do território


francês, marcam a ascensão econômica e política da burguesia.

Mas suas causas estão principalmente na péssima condição de vida da


população de renda baixa do país, que viviam a cada dia em constante miséria.
Estes nos ideários iluministas pregados pelos burgueses, se levantam em
rebeldia contra o governo opressor e sem visão de futuro para França, no seu
aspecto econômico e social.

Acarretando na derrubada do antigo sistema político nacional, e no surgimento


dos primeiros respingos democráticos; na criação dos direitos do Homem e
cidadão; entre outros, além de mostra que a união do povo pode realizar
milagres. Mas a miséria, fome, desemprego ainda iria pressentir no território
nacional até o final do século XIX e será responsável pelas revoluções de 1830
e 1848, incorporando junto a eles, os anseios políticos e econômicos da
burguesia.

Cabendo ressaltar que a miséria, a fome e o desemprego na nação neste


período eram extremamente elevados e em 1789 ainda predominava o sistema
feudal regendo grande parte da economia, que massacrava a existência da
camada baixa da sociedade francesa e as pretensões da burguesia.
2.1 - A DIFÍCIL VIDA NA FRANÇA DO SÉCULO XVIII.

No reinado de Luís XIV, a França viveu uma remodelação política, econômica e


social. O monarca reorganizou a economia possibilitando privilégios comerciais
aos burgueses, os nobres foram domesticados no palácio de Versalhes
vivendo de renda paga pelo monarca, já para os camponeses o sistema feudal
ainda vigorava e com ele a servidão de grande parte da população, sendo
vigiados pelas leis e dogmas feudais.

O rei sol, modernizou a nação e principalmente Paris de acordo com os moldes


da época, criando espaços culturais e científicos, no qual a sociedade francesa
do período era vista como a mais culta da Europa, e seu modelo social e
cultural eram assimilados por diversas nações mundiais.

Para melhorar e remodelar a organização da sociedade, a divide em três


estamentos sociais.

1- Estado: clero (alto e baixo)

2- Estado: nobreza (de sangue e togada)

3- Estado: alta burguesia, camponeses, artesãos, entre outros.

Desta forma o primeiro e segundo estados gozavam de diversos privilégios


(como não pagar tributo) e levavam uma vida de luxo, gula e requinte, evitando
ao máximo o contato com os estamentos inferiores. Já o terceiro estado era
responsabilizados por suportar toda carga tributaria e sustentar a realeza e a
nobreza. Os camponeses, os artesãos e a burguesia trabalhavam, pagavam
impostos e não gozavam de privilégios. (FLOREZANO, 1998, p.17).

Mas nem tudo era maravilha neste contexto histórico. As manufaturas


cresceram em Paris aumentando assim os antagonismos sociais
principalmente entre o terceiro estado e a miséria da população, e não só isso,
pois, o número de miseráveis e principalmente de crianças abandonadas que
Victor Hugo chama de moleque de Paris6, tem um grande levante em
decorrência da falta de emprego e a miséria social.

Após, a morte de Luís XIV, sobe ao trono seu neto Luís XV, este período marca
a expansão dos nobres politicamente no reino, já que o monarca não foi forte
suficiente para dar continuidade ao programa político-social de seu avô, que
reduzia ao máximo a interferência da nobreza na política francesa. Desta forma
a situação da burguesia se complica, pois passa a sofrer grande oposição da
aristocracia dificultando sua ascensão, e a dos restantes do terceiro
estamentos fica drasticamente difícil, pois, a miséria cresce enormimente no
território francês.
Paris nesta época não tinha se modernizado, tendo traços da era feudal os
seus sistemas de esgoto e infra-estrutura eram péssimos (isto nos locais de
habitações dos assalariados e artesãos das manufaturas, já no local da
nobreza a realidade era bastante diferenciada). E o número de mendigos e
crianças abandonadas cresceu consideravelmente. No tempo de Luís XIV (.).
Encontrava-se um rapaz pelas ruas: bastava que tivesse quinze anos e não
tivesse onde dormir que mandassem para as galés. Sob Luís XVI, as crianças
desapareciam em Paris; a policia as levavam não se sabe para que misterioso
fim. 7 (HUGO, 2000, p. 23). Essa era a solução encontrada, para dar fim a esta
situação de calamidade social.

Já no reinado de Luís XVI, a realidade não se desenvolve muito, e em


conseqüência disto à burguesia começa a ficar revoltada, graça a atual
situação política econômica e social do país, pois, em Luís XIV e XV a sua vida
econômica era praticamente melhor, agora com Luís XVI, a aristocracia deu um
levante surpreendente no seu poder (.) desde a morte de Luís XIV, a
aristocracia a pouco a pouco foi reativando o poder de antigos tribunais que
podiam vetar editos reais e impor decisões, como os parlamentos (de Paris e
das Províncias). (FLORENZANO, 1998, p.22).

No lugar do monarca domesticar a aristocracia, o mesmo é que foi


domesticada por ela.

O descontentamento dos membros do terceiro estado era geral, causa:


enquanto todos os paises se modernizavam e se industrializavam (Inglaterra),
a França e em especial Paris detinha o seu aspecto feudal, e com
reduzidíssima força industrial; o regime de servidão a cada dia deixava o
camponês na miséria e na fome, enquanto os nobres eram sustentados por
estes através da arrecadação de impostos e direitos feudais.

Ainda para piorar a situação, o monarca arrasta a França para uma guerra
(independência Norte-americana) sem fundamento nacionalista e de proteção
de seus territórios, no fim o saldo é um divida externa de cinco (5) bilhões de
libras8, enquanto a receita do país era de 2,5 milhões de libras. Desta forma a
infração levava a miséria a níveis elevados, graça ao desemprego e alta nos
preços de alimentos.

E graça a uma má administração econômica do Estado, através de um acordo


comercial com a Inglaterra em 1786 (.) pelo qual vinhos franceses seriam
trocados por tecidos ingleses, com isenção de impostos. Isso levou várias
pequenas fabricas francesas as falências, por não suportarem a concorrência
da avança técnica inglesa no ramo dos tecidos. (TOTA; BASTO 1993, p.91).

O desemprego que já não era baixo, ganha um grande levante, deixando


assalariados e artesãos sem condição para o seu sustento. Se antes o salário
era pouco e a vida miserável, agora sem emprego e sem renumeração salarial
a vida torna-se insuportável, e a raiva em relação ao governo alcança níveis
extraordinários pela população urbana e rural.

E neste contexto a burguesia também, já se mostrava descontente com a atual


política do governo, pois, este e principalmente a aristocracia dificultava sua
ascensão econômica e política, para assim assegurar seus privilégios A
monarquia que tantos benefícios trouxeram para o desenvolvimento do
comércio e da burguesia da França, tornou-se no final do século XVIII, um
verdadeiro obstáculo para expansão dessa mesma burguesia. (TOTA; BASTO,
1993, p.91). E esta desejava só uma brecha para tentar mudar o quadro
político e econômico da nação.

No campo a situação era ainda pior, os nobres reativaram antigos direitos


feudais que reduziam grandemente a renda do camponês, deixando afundado
na miséria e na fome. E por cima, um inverno rigoroso atinge o país, e oblitera
toda a economia agrícola, levando a uma péssima colheita. Desta forma as
cidades não são abastecidas de alimentos, elevando seus preços e
aumentando o desespero e sofrimento da sociedade francesa.

O camponês além de atingidos pela fome e submetidos a incansáveis tributos


que os deixavam cada vez mais na miséria Os tributos feudais, os dízimos e as
taxas tiveram uma grande e cada vez maior proporção da renda do camponês
e a infração reduzia o valor do resto. (HOBSBAWN, 1997, p.76).

Desta forma as revoltas no campo eram freqüentes, no qual A ordem só era


mantida graça a união do conjunto das classes proprietárias e a existência de
um poderoso aparato repressivo tanto ideológico (igreja) como militar (Estado).
(FLORENZANO, 1998, p.24).

Veja a realidade geral da nação: infração, desemprego, carestia, fome,


doenças, cidade (Paris) atrasa e pobre, miséria, falta de saneamento básico e
quase inexistência de infra-estrutura nos locais mais miseráveis da nação.

Desta forma o Estado é pressionado de todos os flancos para contornar a crise,


principalmente pelos burgueses que via como sendo impossível anexar-se para
os estados superiores, então passa a exigir a substituição das instituições
vigentes por outras apoiadas nos ideários iluministas, que os favorecessem.

(.) a burguesia, sem abandonar o desejo de penetrar na aristocracia, começava


cada vez mais a aderir a novas idéias que estavam no ar, isto é, as idéias
iluministas. (.) a observação de que os filósofos iluministas foram uma das
causas da Revolução é verdadeira na medida em que elaborou a nível teórico,
um novo projeto social. (FLORENZANO, 1998, p.24).

As ideologias9 eram fundamentadas em Voltaire; Rousseau; e Montesquieu e


propunham: uma sociedade mais justa baseada em igualdade, liberdade e
fraternidade. E no desenrolar da revolução, princípios democráticos e a divisão
do Estado em três poderes (legislativo judiciário e executivo).

Como já havia dito, a burguesia esperava uma chance para colocar suas
reformas em pratica e não uma revolução, e esta aparecem quando o rei e a
aristocracia se desentendem na proposta de contornar a crise. Levando o
monarca a convocar a Assembléia dos Estados Gerais, e os burgueses com
sua destreza em um curto espaço de tempo, consegue evoluir esta Assembléia
para uma Assembléia Constituinte.

Assustada a realeza e a nobreza, tenta reverter o quadro, mas já era tarde de


mais, pois, como os mesmos não detinham o apoio de povo de Paris e de toda
a França. Esse povo maltratado, faminto, desprezado, miserável, desnutrido,
doente, mas com um grande espírito de luta com base nas pregações
iluministas por intermédio da burguesia, estereotipam sua raiva em uma revolta
popular, pois, via a revolta da burguesia como uma solução para sua atual
condição de vida. Salvando assim os burgueses de uma contra ofensiva dos
nobres e da realeza.

Desta forma a população de Paris acaba transformando a reformulação política


burguesa e uma revolução. Mas qual foi à causa de tudo isso? É simples a
precária condição de vida do povo que convivia diariamente com o
desemprego, fome, doenças ocasionadas pela falta de saneamento básico e
péssima infra-estrutura de grande parte da capital francesa, além das injustiças
sociais que os mesmos sofriam (camponeses em relação às leis feudais),
repressão religiosa, e o empurrão da ideologia burguesa junto com a visão
negativa que os mesmos tinham do Estado francês.

Assim os Sans-Culottes revoltados, em 14 de Julho de 1789 marcham sobre a


bastilha e a tomam de assalto, Em tempos de revolução nada é mais poderoso
do que a queda de símbolos. (HOBSBAWN, 1997, p.79), no qual a bastilha
representava o poder do antigo regime da França.

A revolução popular se alastra por todo o território nacional, pois, ela


possibilitou ao camponês, artesão e outros membros da camada baixa do
terceiro estado a estereotiparem seu ódio pelo sistema. O pânico toma conta
da Aristocracia (muitos nobres fogem de Paris e da França, graça ao medo),
suas casas são saqueadas e muitos exterminados. Este período entrou para
História com o nome de O grande medo.

A burguesia querendo acalmar o ânimo do povo, com medo dos mesmos se


voltarem contra eles (como já possuíam quase todo o poder através da
Assembléia Constituinte, que dava uma nova constituição a França e declarava
como forma de governo a Monarquia constitucional), propõem algumas
reformas como: abolição dos direitos feudais; as obrigações dos camponeses
ao rei e a igreja são obliterados; e aos nobres pagos em dinheiro e não mais
em produtos ou trabalho.

E também elabora a Declaração dos direitos do homem e cidadão:

Declaração dos direitos do homem e cidadão de 26 de Agosto de 1789. A


assembléia nacional reconhece e declara na presença e sob os auspícios do
ser supremo, os direitos seguintes do homem e cidadão:

Art. I Os homens nascem livres e permanecem livres e iguais em direitos.

Art. II O objetivo de toda associação política é a conservação dos direitos


naturais e imprescritíveis do homem; esses direitos são a liberdade, a
propriedade, a segurança e a resistência a opressão.

Art. III O principio de toda soberania reside na nação nenhuma corporação,


nenhum individuo pode exercer autoridade que dela não se emane
expressamente.

Art. IV A liberdade consiste em fazer tudo àquilo que não prejudica a outrem.

Art. V A lei não tem senão o direito de proibir as ações prejudiciais à sociedade.
Tudo aquilo que não é proibido pela lei não pode ser impedido e ninguém pode
ser obrigado a fazer aquilo que ela não ordena.

Art. VI A lei é a expressão da vontade geral, todos os cidadão tem o direito de


participar da sua elaboração, seja pessoalmente seja por meios dos seus
representantes; ela deve ser a mesma para todos, quer para punir quer para
proteger. (.)

Art. XI A livre comunicação de pensamento e de opinião é um dos direitos mais


preciosos do homem; todo cidadão pode falar, escrever, imprimir livremente,
devendo responder pelos abusos dessa liberdade nos casos prescritos pela lei.
(.)

Art. XVII Sendo a propriedade um direito individual e sagrado, ninguém poderá


dela ser privado, senão quando a necessidade pública, legalmente constatada,
o exige com a evidência, e sob a condição de uma indenização justa, paga
antecipadamente. (DOCUMENTO DO PATRIMONIO DA HUMANIDADE)

Apesar de esta ter um caráter cosmopolita (universal) na prática não foi


aplicado estritamente, nem antes e nem hoje em dia.

Mas a nova constituição também favoreceu em muito a burguesia, pelo fato de


propor: (.) a criação da nova administração do território, abolição da corporação
de ofício e das alfândegas internas; a constituição civil do clero (.); a abolição
dos privilégios e dos direitos feudais; o confisco das propriedades eclesiásticas
(.). (GOMES; MOURA; GONZALÉS; 1971 p. 180).
Isso estimularia o comércio e a industrialização muito atrasada na França,
aumentando o poder econômico e político dos burgueses.

Mas isso causa a indignação do monarca, que tenta fugir do país e formar uma
contra-revolução. É capturado em Varennes (Julho de 1891) e obrigado a
voltar. Ficando sob a vigilância dos membros da Gironda. 10

Neste contexto a revolução se alastra por toda a Europa, e os monarcas se


unem para dar um fim em tudo. Única forma invadir a França e colocar o rei
novamente no poder da nação. Já na França os problemas sociais e
econômicos não tinham sidos resolvidos completamente, e os miseráveis da
sociedade já estavam quase se rebelando novamente pelo agravamento da
crise econômica e da miséria, e pelo o governo ter feitos reformas, mas que
não atingiram seus anseios do dia a dia, tais como: tabelamento dos preços e
maior participação política.

Para contornar esta situação os Girondino que eram maioria no parlamento


francês tomam uma decisão. A guerra! Isso poderia resolver os diversos
problemas do país, pois (.) a guerra ajudaria a resolver os numerosos
problemas internos e canalizar para fora o descontentamento popular (.), a
guerra era um negocio vantajoso, podendo render grandes benefícios
econômicos. (FLORENZANO, 1998, p. 48-49).

Essa era a intenção da burguesia, já o monarca tinha outra bem diferente que
era perder a batalha por meio de vazamentos de informações bélicas, e
restaurar assim seu poder antigo.

A carnificina começa, e o exercito francês não é forte o suficiente, o inimigo


acaba por derrotá-lo e adentra no território nacional, graça a traição do
monarca. O governo que já não possuía o apoio dos Sans-Culottes perde o
restante. E os Jacobinos11 começam a fazer forte oposição ao governo e
ganhar a simpatia do povo, pelas suas ideologias de melhoria da nação e a
diminuição da miséria. No qual Marat um médico líder do clube jacobino, acusa
o monarca de traição e junto com Danton extingam os membros do terceiro
estado a se revoltarem contra o governo. No qual a cada dia ganham mais
força política e apoio das massas populares.

Com o assassinato de Marat12, cujo responsável foi uma membro do


Girondino, fazendo desta forma este grupo perderem o respeito por parte da
população, por terem exterminado o seu fiel porta voz.

Desta forma Robespierre assume a presidência do partido, e em 22 de


Setembro de 1792, instala-se a republica francesa. O monarca é preso julgado
e guilhotinado em 1793.

Mas a partir da fase Republicana a situação do povo francês irá melhorar?


2.2 - A REPUBLICA FRANCESA.

A tomada de poder pelos Jacobinos dá inicio a uma nova fase da revolução. No


qual o monarca já esta morto e o povo de Paris põem muita fé que estes
poderão melhorem suas condições de vida, diminuindo a miséria.

A primeira solução era acabar com a guerra. Graça ao apoio popular o inimigo
é posto para fora do território nacional, e a guerra passa a ser travada longe
das fronteiras francesas.

Robespierre para atrair a atenção do povo e diminui um pouco a sua miserável


vida e péssima condição financeira e social, faz diversas reformas.

(.) abolição da escravatura nas colônias; suspensão da prisão por divida e do


direito de primogenitura; divisão das grandes propriedades e sua venda aos
pobres; fixação de preços máximos das utilidades e perseguições dos
exploradores (.) instituição da assistência aos necessitados, bem como o
ensino primário e gratuito e obrigatório. (GOMES; MOURA; GONZALES, 1971
p. 181).

Isso acabou por melhorar a vida do camponês e da população urbana que


graça ao controle dos preços, a miséria e a fome diminuíram. O ensino gratuito
ajudou a abaixar o analfabetismo, e com isso a criação de uma classe
trabalhadora culta (mais a frente).

Mas nem tudo era maravilha, foi colocado em vigor o Período do terror13, para
proteger a França das forças contra revolucionarias e perseguir inimigos
políticos do governo. Assim sendo a liberdade quase foi extinta, qualquer
pessoa suspeita de ser contra a revolução era julgada, condenada e
exterminada. E os Jacobinos usou da guilhotina para massacrarem seus rivais
políticos.

Por causa da grande repressão a população começa a desconfiar do Estado,


mais ainda o apóia pela necessidade de guerra, pois uma revolta popular
naquele momento levaria o país a uma derrota eminente, e as conquistas
revolucionarias de ambos o setores da sociedade seriam suprimidas. A guerra
termina com a vitória francesa em Vendeia.

Desta forma a população começa a pressionar Robespierre, por sua má


política e pelas reformas não terem surtido o resultado esperado para o povo.

(.) as necessidades econômicas das guerras afastaram o apoio popular. Nas


cidades, o controle dos preços e o racionamento beneficiaram as massas, mas
os correspondentes congelamentos dos salários as prejudicaram. No campo, o
confisco sistemático de alimento (.) afastou os camponeses. As massas,
portanto recolheram-se ao descontentamento ou a passividade confusa e
ressentida, especialmente depois do julgamento e execução dos hébertistas,
os mais ardentes porta vozes dos sans-culottes. (HOBSBAWN, 1997, p. 89).

Sendo assim sem o apoio das massas populares, os Jacobinos são depostos
presos em 27 de Julho de 1794 e dois dias depois seus lideres mortos
guilhotinados.

Com isso a alta burguesia (Girondino) retorna ao poder e instaura a Convenção


Nacional14. Nela a democracia e extinta e o voto passa a ser censitário,
extingue o terror, o controle dos presos entre outros fatores.

O direito e privilégios do povo são completamente abolidos, tanto social,


econômico. E por conseqüência este governo só tinha o apoio dos membros
das classes que dominavam o Estado. Pois, os Sans-Culottes abatendo-se a
cada pôr e nascer do sol na miséria15, fome, desemprego e em sucessivas
crises econômicas, fazia uma forte oposição ao governo (Republica
Termidoriana).

As rebeliões sendo extremamente constante eram necessárias à força do


exercito para contornar a situação, isso acabaria facilitando um golpe de um
ambicioso general. Que se realiza em 9 de Novembro de 1799, seu nome
Napoleão Bonaparte. Colocando fim assim ao processo revolucionário
republicano francês, que esperaria até 1848 e depois das guerras franco-
prussianas para se concretizar.

2.3 - AS REVOLUÇÕES DE 1830 E 1848.

No império napoleônico, a França conhece um grande surto industrial


estimulado pelo imperador, o país começa a se modernizar e a economia se
estabilizar, e as conquista européia de Napoleão faz com que a força
econômica da nação ganhe um levante surpreendente.

Outro fator que ira favorecer o crescimento econômico é a estabilidade política,


causando assim a diminuição da miséria, pois o exercito a cada dia recebia
grande quantigente de soldados, muitos recrutados das camadas inferiores da
sociedade.

Mas com sua derrota em 1815 em Waterloo para o duque de Wellington, esse
apogeu econômico francês se retarda, e marca uma nova fase política no país,
a época da restauração, que logo sofreria com novas revoluções (1830 e 1848)

Estas são consideradas por muitos historiadores com uma extensão da


revolução de 1789, pelas suas causas e anseios serem bastante convergentes.

Após o Império Napoleônico, a monarquia constitucionalista é restaurada, a


França e Paris no período já possuem características em grandes aspectos de
primeiro mundo. Mas ainda a miséria e fome de grande parte da sociedade
continuam a vigorar. Mas depois de sucessivas crises econômicas e sociais, o
país se vê novamente em meio a uma nova onda revolucionaria.

2.3.1 - A REVOLUÇÃO DE 1830.

Nesta época o poder já havia retornado para as mãos da família de Orleans,


por meio de Luís XVIII. A França se modernizou e estava tendo uma expansão
industrial, graça em muitos aspectos aos incentivos do Império Napoleônico. E
também começa a se formar os primeiros núcleos e sindicatos operários e a
idéias socialistas a ter raízes, mas não possuía força ativa, fato que ira ocorrer
mais tardiamente. 16

O monarca é visto pela população como um ser boêmio e calmo, além de


gordo que lhe rende o pseudônimo de pêra . O mesmo para possuir um regime
político calmo e estável, incorpora em sua constituição algumas conquistas
revolucionarias e do período napoleônico. Mantendo assim um equilíbrio
político do país.

Paris nesta data possui um caráter moderno, e seu sistema de esgoto esta
sendo reformulado, ou melhor, modernizado17. Já o número de crianças de rua
cresce alarmantemente, mas não só isso, como também: a prostituição, a
miséria, fome, desemprego, entre outros. E Victor Hugo nos mostra claramente
em Os Miseráveis , que alguns vêem como um tumor que mata a sociedade ao
poucos.

Com falecimento do Luís XVIII, o seu irmão Carlos X passa a governar. Como
não possuía nenhuma simpatia por parte do povo e da burguesia, seu governo
é marcado por diversas tensões. Ainda por cima uma crise econômica assola a
nação francesa Ora, desde 1827, uma crise econômica inquietava o comércio e
o artesanato, tornando menos suportável os impostos (.). (NÉRE, 1988, p. 87).

Esta crise massacrava a vida social e econômica dos camponeses,


assalariados entre outros, e arruinava o comércio da burguesia e estagnava os
planos dos mesmos. E alguns atos totalitários por parte do governo, tais como:
suspensão da liberdade de imprensa, dissolve a câmara, entre outras, unidas
com o crescimento da miséria popular e o descontentamento dos burgueses,
faz com que a França entra novamente em revolta popular.

Barricadas se formam por toda Paris.

Em 27 de Julho de 1830, teve inicio um levante. Carlos X percebendo sua


impossibilidade de vencer a revolta que uniu setores da burguesia liberal,
grande parcela da população e a guarda nacional, foge para a Inglaterra. Subiu
ao trono Luís Felipe, oriundo de um ramo da nobreza de tendência mais liberal.
(TOTA; BASTO 1993, p. 106)
Desta forma a monarca não suportando a fúria da massa social, graça a sua
péssima condição de vida e da burguesia, se vê obrigado a fugir, ou melhor, se
exilar do país e do cargo de comando da nação.

Apesar da revolta a França esta se modernizando social e economicamente, e


Paris eram os principais exemplos deste processo. O seu sistema de infra-
estrutura principalmente o saneamento básico, com a construção e expansão
do sistema de esgoto tornando assim a cidade mais limpa e propicia para o
convívio. Hugo nos mostra isso claramente na segunda parte de Os Miseráveis
18.

Com a deposição de Carlos X, sobe ao trono Luís Felipe, conhecido como o rei
Burguês, por governar de acordo com os interesses da burguesia.

2.3.2 A REVOLUÇAÕ DE 1848.

Luís Felipe como novo monarca, apoiado pela burguesia financeira, ou melhor,
pelos banqueiros. Procurou um reinado calmo, agradando o povo
(assalariados, camponeses, artesão, entre outros), para assim possuir seu
apoio. Primeiro ampliou o direito de voto e deu liberdade à imprensa, etc.

Neste período em Paris, o socialismo e o sindicato dos trabalhadores tinham


grande número de membros e força. As pessoas de baixa renda já eram
instruídas tanto educacionalmente como através das experiências das
revoluções passadas.

O aspecto da cidade já era excelente, mais ainda a miséria, fome, banditismo,


crianças de rua, pobreza, injustiças sociais, preconceitos de classes e social,
discriminação, prostituição, entre outras características prevaleciam, e
acompanhavam o desenvolvimento do país.

Se a situação do povo já estava complicada, esta se agrava bastante quando a


Europa e em especial a França passa por uma terrível crise financeira, graça
as más colheita subindo o preço dos alimentos e causando a carestia, que
deixava grande parte da população ao relento da fome. As fabricas fecham as
portas e o desemprego se alastra drasticamente pelo território nacional.
Resumindo houve estagnação completa. Desta, forma, se, com o salário a vida
já era difícil, sem ele torna-se insuportável.

Entre os anos de 1845 e 1847, a situação da Europa se agravou ainda mais. A


falta de alimentos, conseqüência das colheitas mal sucedidas e das pragas que
assolaram as plantações da batata de toda a Europa exacerbou sobremaneira
a crise econômica desse país: os salários caíram em 50%, um grande número
de fábricas foi à falência em virtude de inexistência de um mercado consumidor
(.), contribuindo para piorar a condição de vida. (TOTA; BASTO, 1993, p. 107).
Com a crise generalizada, e a falta de destreza política do governo que se
desespera em face ao ocorrido, começa a sofrer grande oposição dos
banquetes 19 e de toda população. O rei para deter a oposição resolve proibir
os banquetes, e isto é visto como uma forma de ultraje à liberdade de
expressão, que foi o estopim para a revolta popular. No qual o principal culpado
esta na figura do monarca, que conviveu com o Império Napoleônico e a
revolução de 1830, e não aprendeu com os erros de seus antecessores.

(.) as manifestações proibidas de 22 de fevereiro de 1848 degeneram em rixas;


no dia 23 se constroem as primeiras barricadas no centro de Paris; até aqui
tudo nada de grave, mas no dia 23 para 24, os choques provocam uma fuzilaria
mortífera: os manifestantes colocam os cadáveres em carros e os desfilam
pelas ruas de Paris á luz de tochas; e espetáculo macabro provoca a
insurreição: uma parte das tropas confraterniza com os amotinados e, na
manhã do dia 24, a guarda nacional apude o próprio rei. Consternado, incapaz
de reagir, ele abdica ao meio dia. (NÉRE, 1988, p. 96).

Desta forma sem o apoio da guarda nacional que se aliou aos revoltosos, o rei
acaba por ser deposto.

Não podemos esquecer a importância dos trabalhadores, camponeses,


artesãos e assalariados, com fundamentação socialista, nos processos
revolucionários. As causas que levavam a revolta: sofrimento, desemprego,
carestia, fome, miséria, falta de apoio do governo e da justiça, exploração
sofrida pelo sistema e outras.

2.4 - CONSEQUENCIAS DAS REVOLUÇÕES.

Tanto a revolução de 1879, como as de 1830 e 1848, modelou os quadros


políticos e sociais de toda Europa e também da América.

Isso graça ao seu caráter cosmopolita20. A de 1789 possibilitou a luta pela


independência dos paises latinos americanos como: Argentina, Brasil, Haiti,
Paraguai, entre outros. E a declaração dos direitos do homem e cidadão, serviu
como base para toda civilização do globo terrestre, prevalecendo até os dias
atuais, e também os princípios e radiações democráticas.

Já as revoltas de 1830 e 1848, na Europa levaram alguns paises a


conquistarem sua autonomia política e outros a se unificarem graça ao
despertar o seu amor à nação (nacionalismo).

Este período é caracterizado pelo romantismo literário 21 (critica aos aspectos


sociais, políticos e econômico, entre outras características) e o histórico22
(exaltação a nação e os seus heróis, além de outras realizações).

Desta foram não só as revoluções afetaram os outros paises, mas também sua
cultura, organização social, além de princípios educacionais e éticos. As
mesmas tiveram grande influência na formação política, cultural e social, das
modernas sociedades mundiais.

A ALEGRE TRISTE VIDA DE VICTOR HUGO.

Os grandes estrategistas também sofrem seus eclipses.

(VICTOR HUGO)

Vimos no decorrer do capitulo anterior, a situação que se encontrava a


sociedade francesa em 1789, em decorrência da fome, desemprego, miséria,
entre outras, que acabou por desembocar na Revolução francesa. Este quadro
só iria ter uma melhora depois do Império Napoleônico, ou melhor, dizendo na
época da restauração (monarquia constitucional), no qual a França já se
mostrava moderna, suas cidades estão aptas (em alguns aspectos) para o
convívio social com mais qualidade. Apesar de ainda apresentar aquele câncer
(mazela) que massacrava a sua população.

É neste contexto que surge um dos maiores romancista francês, seu nome
Victor-Maire Hugo que viveu a Revolução de 1830 e 1848, sem contar o
período napoleônico. Também viu de perto o estado de Paris neste momento
histórico, tanto no aspecto de luxo, requinte e glamour, como nos problemas
sociais principalmente a miséria. Não só viu como também experimentou e
presenciou em sua vida. E este estado de calamidade social da França e em
especial de Paris foi relatada em seu livro Os Miseráveis , que levanta uma
narrativa crítica sobre a vida miserável do povo.

3.1 - A VIDA DE V. HUGO.

Victor Hugo nasceu na cidade de Besançon em 26 de Fevereiro de 1802 em


pleno Império Napoleônico. Filho de um general do imperador chamado de
Léopold Hugo e de Sofhie Trébuchet. O pai bonapartista e republicano de
carteirinha, enquanto sua mãe uma monarquista convicta, desta forma desde
muito cedo presenciou o antagonismo político da sociedade francesa de século
XIX, dentro de sua própria família (.) pai republicano, ateu, e uma mãe católica,
monarquista: lançados no mundo pela colisão dos poderosos opostos da
História moderna. (ROBB, 2000, p.17).

Sendo desta maneira, este desequilíbrio familiar, marcou sua vida


grandemente e teve influência na escrita de seus romances como em Os
Miseráveis , retratado por Marius e seu avó23.

Graça aos conflitos ideológicos o casamento de seus pais não durou muito, e
com a separação Hugo passa a viver com sua mãe, que o incentivou nos
estudos, no qual se destacou extremamente. Dominava o latim, cálculos, e
gramática. E foi neste período que seu talento para poesia se despertou
ganhando vários concursos na sua infância e juventude, no quais grandes
poetas e literários (por sua bela escrita) chegou a suspeitar de plágio por parte
de Victor.

Para se desenvolver na poesia se espelhava em seu ídolo nacional


Chateaubriand Em 1815, o herói nacional de Hugo era Chateaubriand. Já aos
quarenta e sete anos, uma grande autoridade das letras francesas (.). , e seu
desejo era de se igualar ao mestre.

Desta forma até o momento que habitou do lado de sua mãe teve uma vida
difícil e ao mesmo tempo estável, experimentando alegrias e tristezas, e se
desenvolveu bastante como um grande intelectual, era monarquista de corpo e
alma. Após o falecimento de sua mãe, Victor se aproxima de seu pai,
recebendo deste uma pequena pensão para viver e terminar seus estudos. E é
neste período conhece a miserável vida da maioria do povo francês, a miséria
(o número de pessoas nesta situação era alarmante, e a industrialização
reduzia os salários, dificultando ainda mais o processo).

Nesta fase complicada de sua vida, não reduz se talento para escrita literária. A
cada dia se desenvolve nesta área. Mas apesar dos diversos prêmios ganhos
em sua infância e juventude, o mesmo só iria ganhar espaço no meio da
academia francesa de letras, com o seu romance Han de Islândia e sua peça
teatral Hernani (marco do inicio do romantismo literário na França), que foi alvo
de grande sucesso e crítica e lhe rendeu um bom lucro (fato que ajudou a
melhor sua renda e ter sua independência financeira).

Com essas obras, Victor Hugo introduz firmemente o romantismo no meio


acadêmico e social da França O francês Victor Hugo chamou-lhe o liberalismo
na literatura. (BANDEIRA, 1954, p.222), pois, o autor tem liberdade na escrita,
não estando preso em regras estritamente lineares como na dominação do
classicismo. No romantismo leva à literatura a aproximação mais justa da
realidade e tende a dar ao escritor certa autonomia na sua produção. O
imaginário o sentimento se sobre põem a razão que passa a ter um caráter
secundário O romantismo, cujo espírito se pode definir resumidamente como a
predominância da sensibilidade e da imaginação sobre a razão, do elemento
subjetivo sobre o objetivo (.) (BANDEIRA, 1960, p.130), e também (.) é próprio
de todo espírito romântico situar em primeiro plano os valores emotivos,
sentimentais e individuais. (BANDEIRA, 1954, p.223).

Mas a imposição do romantismo não foi um fator calmo e rápido, pois, sofrera
grande oposição e discriminação dos grandes intelectuais da época, que
estavam estritamente presos nas concepções do classicismo24. Esta rixa só
iria acabar com a vitória do espírito romântico, graça ao sucesso esplendoroso
de Hernani (isso se tratando da França).

Após o sucesso da peça teatral e do romance, Hugo ganha prestigio e gloria


dentro da sociedade letrada e civil (pois, neste período histórico os folhetins,
levavam a arte escrita a preços baixos as massas populares) de toda Paris e
França.

Romances como Bug-Jagal e Notre-Dame de Paris (Corcunda de Notre-Dame)


e diversas poesias, só iria aumentar a estrondosa imagem de Victor. Victor
Hugo era uma figura nacional reverenciada: o homem que impusera o
romantismo a tendência dominante, e cujos maiores poemas eram
inseparáveis, na mente do público, e dos acontecimentos que comemoravam.
(ROBB, 2000, p. 208).

Este seu grande prestigio social e literário, o levou a carreira política, na qual
teve grande destaque, além de ter sido marcada por controvérsias ideológicas
politicamente.

3.2 - O POLÍTICO DÚBIO, VICTOR HUGO.

O seu sucesso como escrit

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