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UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA

METALOGRAFIA E TRATAMENTOS TÉRMICOS II


FERRO FUNDIDO

PAULO AUGUSTO OSÓRIO CARNEIRO

RIO DE JANEIRO
2005
FERRO FUNDIDO

Segundo CHIAVERINI, “ferro fundido é a liga ferro-carbono-silício, de teores de


carbono geralmente acima de 2,0%, em quantidade superior à que pode ser retida em
solução sólida na austenita, de modo a resultar carbono parcialmente livre, na forma de
veios ou lamelas de grafita”.
Para maior entendimento sobre Ferros Fundidos é necessário o estudo de seu
diagrama de equilíbrio. Verdadeiramente o diagrama Fe-C (figura 1) não é um diagrama de
equilíbrio, uma vez que o composto formado – carboneto de ferro (Fe3C) – não é uma fase
de equilíbrio. A cementita (Fe3C) pode se decompor em fases mais estáveis de ferro e
carbono (grafita). Na maioria das situações práticas a cementita é bastante estável.

DIAGRAMA DE EQUILÍBRIO Fe-C


°C
A
1534
δ X Y
d

E
1147 F
E CC
γ
G
910

723 a
K
α PP S S

α+ γ

0,8 2,0 3,0 4,3 5,0 6,7 %C

Figura 1
Ligas com teor de carbono de 4,3% a 1148°C (ponto C), são chamadas de ligas
eutéticas. São as ligas de menor pondo de fusão ou solidificação. Ferros fundidos com teor
de carbono variando entre 2,0 a 4,3 % são denominadas de hipoeutéticas, teores de carbono
superiores a 4,3% são características dos ferros fundidos hipereutetóides.
Ao se resfriar lentamente uma liga eutética, a solidificação ( a 1148°C) se procede
havendo equilíbrio de duas fases, austenita e cementita (Fe3C) . Este cristalizado é chamado
ledeburita, e constituído de um fundo de cementita (6,7% C) e cristais dentríticos de
austenita ( 2,0% C).
Continuando o resfriamento, verifica-se uma diminuição do teor de carbono da
austenita até a 727° C e com 0,8%C (ponto S). Ao ultrapassar a a linha PSK, a austenita se
transforma em perlita. A ledeburita será constituída de glóbulos de perlita sobre um fundo
de cementita.
Analisando um ferro fundido hipoeutético de 3,0% de teor de carbono (linha X),
resfriando a liga, à medida que esta se aproxima da linha solidus, cristais de austenita se
formam em quantidades cada vez maiores, diminuindo a quantidade da fase líquida. Ao
atingir a linha solidus, estarão em equilíbrio a fase austenita com 2,0% de carbono e
ledeburita com 4,3% de carbono, esta constituída de austenita e cementita.
Mantendo o resfriamento, a concentração de carbono da austenita isolada e da
austenita da ledeburita diminuirá, percorrendo a linha SE, até a temperatura de 727°C.
Abaixo desta temperatura, a liga será constituída de cristais de perlita envolvidos por
ledeburita, que é formada por glóbulos de perlita sobre um fundo de cementita.
Uma amostra de ferro fundido hipereutético com 5,0% de carbono (linha Y),
solidificará ao atingir 1148°C, apresentando as seguintes fases em equilíbrio: cementita e o
eutético ledeburita. Continuando o resfriamento, cementita permanecerá a mesma e a
austenita da ledeburita sofrerá diminuição do seu teor de carbono (linha SE) transformando-
se em perlita a 723°C. A partir desta temperatura a liga estudada terá duas fases
constituíntes: cristais alongados de cementita e um fundo de ledeburita.

EFEITO DO SILÍCIO
A principal influência do silício na composição do ferro fundido é o deslocamento
da composição do eutético. O ponto eutético é formado com porcentagem menores de
carbono à medida que o teor de silício aumenta. Devido a presença do silício a reação
eutética ocorre num intervalo de temperatura.
Surge o conceito de carbono equivalente. Dependendo do teor de silício, a liga se
comporta como se tivesse um teor de carbono diferente do real.(figura 2)
C.E. = %C + 1/3 %Si
Por exemplo, uma liga com 3,6%C e 2,3% Si, terá como resultado de carbono
equivalente, C.E. = 4,3%. Assim esta liga se comportam mecanicamente como uma liga
eutética.
Do ponto de vista da estrutura e de propriedades mecânicas, o silício também
influencia na grafitização, ou seja, promover a decomposição do Fe3C em ferro e carbono.
Usando um ferro fundido hipoeutético de 3,0% C e 2,3 % Si, como exemplo, a 1150°C o
líquido remanescente solidifica com teor de carbono de aproximadamente 3,6 %, neste
momento ocorre grande parte da grafitização. No curto período que ocorre a solidificação
final fica estabelecida a quantidade , forma e a distribuição da grafita.

2,3 % Si
α + L

γ +L

γ + Fe3C

3,6% C
Figura 2

A velocidade de resfriamento e a presença de elementos de liga são relevantes


nesta decomposição.
Analisando a composição química, percebe-se que o teor de carbono determina a
quantidade de grafita a ser formada, o silício favorece a decomposição do carboneto de
ferro, é o elemento grafitizante. Por outro lado, o manganês tem efeito oposto ao silício,
este estabiliza a cementita (Fe3C ). O fofosro é um estabilizador de carboneto de ferro, atua
na estrutura do material formando com o ferro e com o carbono um composto de naturaza
eutética.
Examinando a velocidade de resfriamento, verifica-se que seções espessas
relaciona-se com resfriamento lento, ocorrendo grafitização. Formando estrutura que
confere ao material baixa dureza, excelente usinabilidade e boa resistência mecânica.

FERRO FUNDIDO BRANCO


Praticamente todo carbono se apresenta na forma combinada de carboneto de
ferro, mostrando uma superfície de fratura clara. Devido a grande quantidade de cementita,
apresentam elevada dureza e resistência ao desgaste.
A produção de ferro fundido branco é baseada na adequação da composição
química – teores de carbono e silício – e na velocidade de resfriamento. O coquilhamento é
um sistema usado, que consiste em resfriamento do metal líquido em moldes nas condições
apropriadas reduzindo bastante o efeito da grafitização.
Estes materiais são empregados em revestimento de moinhos, rodas de trem,
cilindros para laminação e britamento de minério entre outas.
Nos ferros fundidos brancos é usual fazer tratamentos térmicos para reduzir as
tensões decorrentes das diferentes velocidades de solidificação através das seções da peça.
A uniformização da estrutura é fundamental quando essas peças são sujeitas a esforços
mecânicos de choque.

FERRO FUNDIDO CINZENTO


Nestes materiais parte do carbono está sob a forma de grafita, o aspecto da fratura
é escuro, o que origem ao nome.
Suas principais características são:
- fácil fusão e moldagem;
- boa resistência mecânica;
- excelente usinabilidade;
- boa resistência ao desgaste;
- boa capacidade de amortecimento.

As propriedades mecânicas e estrutura do ferro fundido cinzento está intimamente


ligada devido à presença de carbono livre (grafita). A forma, distribuição e dimensões dos
veios de grafita são determinantes no comportamento do material.
É possível determinar as propriedades mecânicas do ferro fundido cinzento em
função de sua composição química, espessura das peças e forma de apresentação da grafita.
O tratamento térmico nos ferros fundidos cinzentos têm por objetivo melhorar suas
propriedades, os mais comuns são: alívio de tensões ou envelhecimento artificial;
recozimento, para melhorar as usinabilidade; normalização e têmpera com revenido,
atuando na resistência à tração e dureza melhorando a resistência ao desgaste.

FERRO FUNDIDO MALEÁVEL


É um material derivado do ferro fundido branco através de um tratamento térmico
– maleabilização – que torna a liga mais tenaz, dúctil e aliado às propriedades iniciais do
material, amplia sua aplicação.
O processo de maleabização consiste em aquecimento prolongado, em condições
de temperatura, tempo e meio adequadas, provocando a transformação total ou parcial do
carbono combinado em grafita.
Sua característica principal é sua ductilidade, podendo ultrapassar a 10% do
alongamento. Este material é intermediário entre o aço e o ferro fundido branco.
O ferro fundido maleável é empregado em conexões para tubulação hidráulicas,
conexões para linhas de transmissão elétrica, sapatas de freios, etc.

FERRO FUNDIDO NODULAR


As estruturas contendo grafita em veios são indesejáveis sob o ponto de vista de
algumas propriedades mecânicas. A adição de pequenos teores de elementos como Mg, Ca,
Ce a um ferro fundido comum produz grafita em forma de nódulos quase esféricos. O
magnésio retarda a formação inicial de grafita, o ferro fundido branco solidifica com a
formação de cementita. Depois da açõs do magnésio, a cementita se decompõe e a grafita
se desenvolve por igual em todas as direções.
Estes materiais caracterizados pela ductilidade, tenacidade, e resistência mecânica,
destacando o elevado limite de escoamento.

TRATAMENTOS TÉRMICOS
De modo geral o principal motivo dos tratamentos térmicos em ferros fundidos é o
alívio de tensões decorrentes do processo de fundição.
Nos ferros fundidos brancos é usual fazer tratamentos térmicos para reduzir as
tensões decorrentes das diferentes velocidades de solidificação através das seções da peça.
A uniformização da estrutura é fundamental quando essas peças são sujeitas a esforços
mecânicos de choque.
O tratamento térmico nos ferros fundidos cinzentos têm por objetivo melhorar suas
propriedades, os mais comuns são: alívio de tensões ou envelhecimento artificial;
recozimento, para melhorar as usinabilidade; normalização e têmpera com revenido,
atuando na resistência à tração e dureza melhorando a resistência ao desgaste.
O recozimento consiste no aquecimento do material até acima da zona crítica,
seguido de esfriamento lento e geralmente dentro de fornos. Visa devolver propriedades
normais que foram alteradas em tratamentos mecânicos anteriores. O tempo de encharque
depende da quantidade de grafitização desejada. O recozimento grafitizante, emprega-se a
ferros fundidos que apresentam carbonetos maciços. A normalização – recozimento com
esfriamento à temperatura ambiente – visa obter matriz homogênia com eliminação de
carbonetos maciços.
Na têmpera, a peça é aquecida acima da zona crítica e esfriada rapidamente em
água ou óleo visando aumentar a dureza, limite de escoamento e resistência à tração.
O revenido consiste em reaquecer a peça temperada até a uma temperatura
adequada abaixo da zona crítica e esfria-la novamente. Visa corrigir os efeitos da têmpera
quando se manifesta dureza e tensões internas excessivas e perigosas.
Os gráficos abaixo relacionam a temperatura que a peça é levada e a velocidade de
esfriamento dos tratamentos térmicos supra citados.
RECOZIMENTO TÊMPERA REVENIDO

°C °C °C

Zona Crítica Zona Crítica Zona Crítica

Tempo Tempo Tempo


CONCLUSÃO
Com o desenvolvimento do estudo a respeito de ferros fundidos, estes materiais
tem aumentado seu emprego, uma vez que apresentam propriedades mecânicas adequadas.
A substituição, quando possível, do aço pelo ferro fundido é do ponto de vista econômico
relevante para a indústria. O ponto de fusão ou solidificação do ferro fundido é inferior ao
do aço.
BIBLIOGRAFIA

CHIAVERINI, Vicente. Aços e Ferros Fundidos – ed. ABM


ROTHERY, Hume W. Estrutura das Ligas de Ferro – ed. Edgard Blucher
COLPAERT, Humbertus. Metalografia dos Produtos Siderúrgicos Comuns – ed. Edgard
Blucher

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