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br – Informativo de Jurisprudência Nº 01 – Fevereiro/2011

Informativo de
Jurisprudência
Trabalhista
Elaborado a partir das notícias do
Direito Individual do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho (TST)

Sétima Turma garante indenização a professor aconteceu a comunicação da despedida. Se for mantido o
demitido nas férias escolares entendimento de que deve ser considerada a projeção do aviso
prévio, quando a rescisão ocorrer nas férias do primeiro período
A projeção do aviso prévio para data posterior a das férias letivo (janeiro), sempre haverá a extensão para o mês de
escolares não retira do professor o direito ao pagamento de fevereiro, inviabilizando o pagamento da indenização
indenização em caso de dispensa sem justa causa, previsto estabelecida em lei.
em lei (artigo 322, §3º, da CLT). Segundo a norma, se o
professor for demitido injustamente ao término do ano letivo ou Na avaliação do ministro Manus, portanto, a finalidade da lei
no curso das férias escolares, deve receber os salários de proteger o professor demitido durante o primeiro
correspondentes ao período. período do ano letivo não seria alcançada com o
entendimento do TRT. Como a trabalhadora
perdeu o emprego num momento em que não
Por esse motivo, em decisão unânime a Preparação contínua para a se consegue outro, pois o mercado já
Sétima Turma do Tribunal Superior do Magistratura do Trabalho promoveu as contratações necessárias,
Trabalho condenou a Creche Experimental deve ser indenizada como forma de
Dinamis a indenizar uma professora
demitida em 22/01/2007. Como
GEMAT compensação, garantiu o relator. (RR-
51600-66.2007.5.01.0065 / Notícia:
esclareceu o relator do recurso de revista Resolução de questões 12/01/2011)
da trabalhadora, ministro Pedro Paulo objetivas, subjetivas e
Manus, presidente da Turma, a professora
sentenças
precisa ser compensada pela demissão em
pleno período de férias escolares, quando o www.gemat.com.br Enfermeira de município, dispensada
mercado de trabalho está fechado.
grávida, ganha indenização

Uma enfermeira, contratada temporariamente pelo


Na primeira instância e no Tribunal do Trabalho da 1ª
Região (RJ), o pedido de indenização feito pela professora município de Vila Valério (ES) e dispensada com três meses de
havia sido negado. Para o TRT, na medida em que a dispensa gravidez, conseguiu indenização substitutiva referente ao
foi formalizada em 22/01/2007, com aviso prévio indenizado, período de estabilidade provisória de gestante. A Sexta Turma
considera-se projetado o contrato de trabalho para 20/02/2007 do Tribunal Superior do Trabalho deu provimento ao recurso de
(data do término do aviso). Assim, como o ano letivo teve início revista da trabalhadora.
em 1º/02/2007, a empregada não tinha direito à indenização.
A enfermeira havia firmado contrato temporário com o município
de Vila Valério (ES) para atender situação emergencial. Ela
Na Sétima Turma, a professora insistiu no argumento de que a
alega que foi dispensada após o município tomar ciência de sua
projeção do aviso prévio não podia afastar o seu direito à
gravidez.
indenização. Requereu o pagamento dos dias restantes desde a
data da dispensa até a data de início do ano letivo. De acordo
Diante disso, a trabalhadora propôs ação trabalhista,
com a trabalhadora, a decisão do Regional desrespeitou a CLT
requerendo o reconhecimento do vínculo de emprego, o
e a Súmula nº 10 do TST que trata da matéria.
pagamento de direitos trabalhistas e a reintegração ao trabalho,
O ministro Pedro Manus concluiu que, de fato, o aviso prévio pois estaria amparada pela estabilidade provisória da gestante.
integra o tempo de serviço da trabalhadora e sua vigência tem Ao analisar o pedido da enfermeira, o juízo de Primeiro Grau
início a partir do dia seguinte ao da comunicação da rescisão não reconheceu o vínculo de emprego e consequentemente
contratual. Mas, pela análise da norma da CLT e da Súmula nº indeferiu os outros pedidos de natureza trabalhista. Segundo o
10, é assegurado ao professor o pagamento dos salários juiz, o contrato em questão foi de natureza administrativa, com
relativos ao período de férias escolares, na hipótese de ele base no artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, que não
ser despedido sem justa causa – como ocorreu no caso. gera vínculo de emprego com a administração. Esse dispositivo
constitucional autoriza o administrador público a realizar
Desse modo, afirmou o relator, a condição para recebimento da contratos temporários, sem concurso público, para atender
indenização não é a data da efetiva extinção do contrato de necessidade excepcional estabelecida em lei específica.
trabalho (término do aviso prévio), e sim a data em que

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Inconformada, a enfermeira recorreu ao Tribunal Regional do empregados de sociedades de economia mista como na
Trabalho da 17ª Região (ES). O TRT declarou a nulidade do situação analisada.
contrato de trabalho por ausência de concurso público, contudo
deferiu o pagamento do FGTS. Na avaliação do ministro Walmir, como o trabalhador foi
dispensado no período em que possuía garantia de emprego,
Com isso, a enfermeira interpôs recurso de revista ao TST, a empresa tinha a obrigação de pagar indenização
sustentando possuir o direito de receber pelo menos os salários equivalente ao tempo da estabilidade. Esse entendimento foi
concernentes ao período da licença maternidade, independente acompanhado pelos demais ministros da Primeira Turma do
da natureza do contrato de trabalho. TST.(RR-1736640-80.2004.5.09.0016 / Notícia: 19/01/2011)

O relator do recurso na Turma, ministro Maurício Godinho


Delgado, deu razão à trabalhadora. Segundo o ministro, Adicional de insalubridade deve ser pago com base
independente da validade da relação jurídica havida entre no salário mínimo até nova legislação
as partes (contrato nulo ou não), a dispensa da empregada
gestante gera o direito de indenização. Mesmo depois que o Supremo Tribunal Federal editou a
Súmula Vinculante nº 4 que proíbe o uso do salário mínimo
Isso porque, nesse caso, prevalece o direito fundamental de como indexador de base de cálculo de vantagem salarial de
proteção à vida (caput do artigo 5° da Constituição Federal), empregado, a Justiça do Trabalho continua aplicando esse
consubstanciado nos princípios da dignidade da pessoa indicador para calcular o adicional de insalubridade devido.
humana e do valor social do trabalho, ressaltou o ministro.
Foi o que aconteceu quando a Seção II de Dissídios
Assim, a Sexta Turma, ao seguir o voto do relator, decidiu, por Individuais do Tribunal Superior do Trabalho anulou decisão
unanimidade, condenar o município a pagar à enfermeira uma da Oitava Turma do próprio TST e determinou que o adicional
indenização substitutiva relativa ao período de estabilidade de insalubridade a ser pago pela Saur Equipamentos aos
provisória da gestante, compreendido entre o momento da empregados substituídos pelo Sindicato dos Trabalhadores nas
dispensa e o termo final da estabilidade. (RR-33240- Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de
84.2004.5.17.0181 / Notícia: 10/01/2011) Panambi fosse calculado com base no salário mínimo.

A empresa ajuizou ação rescisória com pedido de liminar para


suspender a execução do processo em que havia sido
Empregado demitido em período eleitoral ganha condenada pela Turma ao pagamento do adicional de
indenização insalubridade tendo como referência o salário normativo da
categoria. Alegou que a súmula do STF não autorizava o uso
Quando o empregado da Companhia de Saneamento do dessa base de cálculo, porque estabelece, expressamente, que
Paraná (Sanepar) foi demitido, sem justa causa, em 10/09/2004, o indexador não pode ser definido por decisão judicial.
faltavam menos de três meses para as eleições municipais de
03/10/2004. E de acordo com a legislação eleitoral (artigo 73, V, Na avaliação da relatora, juíza convocada Maria Doralice
da Lei nº 9.504/97), os agentes públicos não podem demitir Novaes, de fato, a súmula estabelece que “salvo os casos
sem justa causa na circunscrição do pleito, nos três meses previstos na Constituição Federal, o salário mínimo não pode
que o antecedem e até a posse dos eleitos. ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de
servidor público ou de empregado, nem ser substituído por
Por causa da dispensa abusiva, o trabalhador recorreu à Justiça decisão judicial”.
do Trabalho com pedido de reintegração no emprego.
Entretanto, o Tribunal paranaense (9ª Região) concluiu que, E se não existisse a ressalva final, assim como se utiliza o
apesar de a rescisão contratual ter ocorrido dentro dos três salário base do trabalhador para o cálculo do adicional de
meses que antecederam as eleições para prefeito, a lei eleitoral periculosidade (nos termos do artigo 193, §1º, da CLT) também
não assegurava estabilidade no emprego aos trabalhadores. seria possível a aplicação da mesma regra para o adicional de
Para o TRT, a demissão foi ato legítimo da empresa (sociedade insalubridade, uma vez que tanto a insalubridade quanto a
de economia mista), e não era caso de reintegração. periculosidade são fatores de risco para os empregados.

No recurso de revista apresentado ao Tribunal Superior do Entretanto, o Supremo decidiu não adotar nenhum novo
Trabalho, o empregado insistiu na tese de que tinha direito à parâmetro em substituição ao salário mínimo. Declarou
reintegração por força da lei eleitoral. Invocou a aplicação à inconstitucional a norma que estabelece o uso do salário
hipótese da Orientação Jurisprudencial nº 51 da Seção I de mínimo como base de cálculo do adicional de insalubridade
Dissídios Individuais do TST, segundo a qual a lei é destinada (artigo 192 da CLT), mas a manteve regendo as relações
também ao pessoal do regime celetista dos quadros de trabalhistas, na medida em que o Judiciário não pode substituir
empresas públicas e sociedades de economia mista. o legislador para definir outro critério, esclareceu a relatora.

De fato, esclareceu o relator do processo, ministro Walmir Em resumo, até que seja editada norma legal ou
Oliveira da Costa, a norma eleitoral foi desrespeitada, na convencional estabelecendo parâmetro distinto do salário
medida em que, expressamente, proíbe a demissão sem mínimo para calcular o adicional de insalubridade,
justa causa de servidores públicos no período de três continuará a ser considerado o salário mínimo para o
meses que antecedem às eleições - regra extensiva aos cálculo desse adicional.

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Por essas razões, a juíza Doralice anulou a decisão da Turma produto bruto, em sua composição plena, e não ao diluído
para determinar que o adicional de insalubridade seja calculado em produtos de limpeza habituais”.
sobre o salário mínimo, conforme acórdão do Tribunal do
Trabalho gaúcho (4ª Região). Esse entendimento foi A Sexta Turma, seguindo o voto do relator, deu provimento ao
acompanhado, à unanimidade, pelos demais integrantes da recurso do município para excluir da condenação o pagamento
SDI-2.(AR-26089-89.2010.5.00.0000 / Notícia: 07/01/2011) do adicional de insalubridade. (RR - 1968-61.2010.5.12.0000
/ Notícia: 21/01/2011)

Uso de água sanitária na limpeza não dá adicional de


insalubridade Empregada consegue integrar ao salário auxílio-
alimentação pago por terceiro
Pelo contato com água sanitária e detergentes ao efetuar a
limpeza de banheiros, uma servente que trabalhou em creches, Auxílio-alimentação suplementar pago por terceiro levou uma
escola e posto de saúde do município de Penha, no estado de empregada do Hospital das Clínicas a reivindicar a integração
Santa Catarina, não faz jus ao recebimento do adicional de daquela parcela ao seu salário. A sentença foi favorável à
insalubridade. A Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, trabalhadora, contudo, o Tribunal Regional do Trabalho da 15.ª
considerando que a atividade da trabalhadora não está entre as Região (Campinas/SP) reformou a decisão. Ela recorreu à
que se enquadram na Norma Regulamentadora nº 15 do instância superior e, por decisão da Sexta Turma do Tribunal
Ministério do Trabalho e Emprego, modificou decisão que Superior do Trabalho, deu-se o restabelecimento da sentença.
deferia o adicional.
Ao interpor seu recurso, a empregada salientou que apesar de a
Relator do recurso de revista e presidente da Sexta Turma, o instituição que lhe pagava o auxílio-alimentação, Fundação de
ministro Aloysio Corrêa da Veiga explicou que “os Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das
produtos de limpeza utilizados na higienização de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
banheiros - saponáceos, detergentes e Preto da Universidade de São Paulo - Faepa,
desinfetantes, de uso doméstico, inclusive - Estudando para Analista não ser sua real empregadora, o recebimento
detêm concentração reduzida de Judiciário? Aumente suas do benefício dava-se somente pelo fato de
substâncias químicas (álcalis cáusticos), chances com ela trabalhar para o Hospital das Clínicas.
destinadas à remoção dos resíduos, não
oferecendo risco à saúde
trabalhador, razão por que não
do GEAJU Segundo analisou o Tribunal Regional, o
benefício percebido pela empregada não
asseguram o direito ao adicional de Direcionado aos concursos advinha de ato exclusivo do empregador,
insalubridade”. do TRF, TRT e TRE pois era fornecido, em parte, pelo Estado
Saiba mais em de São Paulo e, outra parte, era oriunda da
Sem proteção www.geaju.com.br Faepa. Desse modo, o auxílio em questão
era suportado por duas pessoas jurídicas, com
A trabalhadora pleiteou o pagamento de adicional personalidades jurídicas próprias.
de insalubridade sob a alegação de que, na função de
servente/merendeira, se expunha a agentes insalubres na O TRT observou ainda que o valor pago diretamente pelo
limpeza dos banheiros, manuseando produtos químicos, tais Estado de São Paulo não excedia os 20% fixados pelo artigo
como água sanitária, detergentes, alvejante, entre outros, sem o 458, §3.º, da CLT, e o restante, além de se tratar de valor
uso de equipamentos de proteção individual. Informou, ainda, variável, advém de terceiro. Assim, no entendimento do
ter recebido o adicional até outubro de 2005 e que, apesar de Regional, a pretensão da trabalhadora estaria definitivamente
suprimido o benefício, suas atividades não sofreram alteração. rechaçada.

De acordo com laudo técnico, a servente manipulava produtos Na Sexta Turma do TST, porém, o ministro Aloysio Corrêa da
de limpeza que contêm álcalis cáusticos - água sanitária - e, por Veiga, relator do acórdão, considerou que a parcela auxílio-
essa razão, deveria receber o pagamento de adicional de alimentação paga pela Faepa aos empregados do Hospital se
insalubridade em grau médio, de acordo com o Anexo 13 da dava em decorrência do contrato de trabalho. “Trata-se, na
NR-15 da Portaria nº 3.214/78, do MTE. O município foi realidade, de valor devido pelo empregador, e meramente
condenado, em primeira instância, ao pagamento do adicional, repassado por terceiro, o que não retira a origem contratual
recorrendo, então, ao Tribunal Regional do Trabalho da 12ª da parcela”, observou. O vale-alimentação, portanto, possui
Região (SC), que manteve a sentença. natureza salarial, integrando a remuneração do empregado,
para todos os efeitos legais, concluiu a relatoria.
Para o ministro Aloysio, a jurisprudência do TST está
pacificada no sentido de não reconhecer exposição a Com esse entendimento, a Sexta Turma, unanimemente,
insalubridade na atividade de limpeza de banheiro, pela conheceu do recurso da empregada e restabeleceu a
utilização de produtos químicos na rotina de faxina, em sentença.(RR-203600-24.2008.5.15.0066 / Notícia: 27/01/2011)
relação a álcalis cáusticos. Entre os vários precedentes
citados, o relator informou um em que o ministro Luiz Philippe
Vieira de Mello Filho esclarece que a NR-15, em seu Anexo 13,
ao tratar do manuseio de álcalis cáusticos, se refere “ao

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Norma interna faz empresa pagar adicional de até breve pela Seção I de Dissídios Individuais do Tribunal Superior
150% para intervalo não usufruído do Trabalho. O colegiado deverá uniformizar a jurisprudência do
TST, uma vez que existem decisões divergentes entre as
Por norma interna da Empresa de Trens Urbanos de Porto Turmas sobre a matéria.
Alegre S.A. (Trensurb), a hora extra nos dias normais de
trabalho era paga com adicional de 100% e as dos feriados e Na Oitava Turma, por exemplo, vem sendo vitoriosa a tese de
repouso semanal com adicional de 150%. Com base nessa que é possível a contratação de empresa interposta para
norma e na jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, prestação de atividades inerentes ao serviço desenvolvido pelas
que considera o intervalo intrajornada não usufruído concessionárias de telecomunicações, na medida em que a Lei
equiparado à hora extra, a Sexta Turma do TST determinou Geral das Telecomunicações (nos termos do artigo 94, II, da Lei
que a Trensurb pague, com adicional de 100% ou 150%, nº 9.472/97) ampliou as hipóteses de terceirização.
conforme o dia trabalhado, a hora diária de descanso para
alimentação e repouso não concedida a um funcionário. Com base nesse fundamento, a relatora de um recurso de
revista da Tim, ministra Dora Maria da Costa, afastou o
Sem nenhum registro de intervalo intrajornada no período de reconhecimento de vínculo de emprego diretamente com essa
outubro de 2000 a agosto de 2001, o empregado já havia obtido empresa de trabalhadora contratada pela A&C Centro de
essa decisão na primeira instância. No entanto, ao examinar o Contatos para prestar serviços de “call center” à operadora. Por
recurso ordinário da empresa, o Tribunal Regional do Trabalho maioria de votos, a Turma restabeleceu a sentença de origem
da 4ª Região (RS) reduziu o adicional para 50%. O trabalhador, que havia julgado improcedente a ação da empregada.
então, recorreu ao TST em busca de sua pretensão.
Já o Tribunal do Trabalho mineiro (3ª Região) tinha dado razão
Ressalvas à empregada, porque considera o serviço prestado pela
empresa terceirizada de “call center” (atendimento de clientes
Relator do recurso de revista, o ministro Augusto César Leite de por telefone) ligado à atividade-fim da tomadora dos serviços - o
Carvalho frisou que, pela jurisprudência do TST, “o intervalo que tornaria ilícita a terceirização.
intrajornada não usufruído equipara-se à hora extra
propriamente dita, devendo ser remunerado como tal”. Citando De acordo com o TRT, portanto, como havia fraude na
vários precedentes nesse sentido, o ministro Augusto César terceirização dos serviços prestados pela trabalhadora, o
disse que se rendeu ao argumento, mas ressalvou seu vínculo de emprego era com a beneficiária do trabalho (Tim).
entendimento e destacou em sessão que a norma interna da Por consequência, a empregada que atuava como
Trensurb que fixa o adicional não faz menção ao intervalo coordenadora e supervisora dos serviços de “call center” tinha
suprimido. direito às vantagens previstas nos instrumentos coletivos
firmados entre a concessionária e o sindicato da categoria.
Para ele, apesar de o artigo 71, parágrafo 4º, da CLT ter fixado,
para a não concessão do intervalo, uma sanção pecuniária de Mas, ao examinar o recurso da Tim, a ministra Dora Costa
valor igual à remuneração mínima de uma hora extraordinária, observou que, enquanto não for declarada a
“os adicionais têm finalidades distintas”. O relator entende que inconstitucionalidade do inciso II do artigo 94 da Lei nº 9.472/97,
“um se destina a remunerar a hora efetivamente trabalhada e o segundo o qual a concessionária poderá contratar com terceiros
outro visa estimular o empregador a cumprir o mencionado o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou
preceito legal, além de compensar o empregado pela não complementares ao serviço, a terceirização está autorizada em
fruição do descanso a que tinha direito”. relação à atividade-fim ou inerente das empresas de
telecomunicações.
No entanto, seguindo a jurisprudência do Tribunal e havendo
norma interna da empresa assegurando a remuneração das Desse modo, explicou a relatora, é irrelevante a discussão se
horas extras com o adicional de 100% nos dias normais de a função desempenhada pela empregada enquadra-se
trabalho e de 150% nos dias de descanso semanal, o ministro como atividade-fim ou meio da Tim, tendo em vista a licitude
Augusto César concluiu que “os mesmos adicionais devem da terceirização estabelecida em lei.
ser utilizados para o pagamento do período correspondente
Durante o julgamento, a presidente da Turma, ministra Maria
ao intervalo intrajornada não gozado pelo empregado”.
Cristina Peduzzi, acompanhou o entendimento da relatora, o
A Sexta Turma, então, por unanimidade, deu provimento ao que garantiu a maioria dos votos, pois o ministro Márcio Eurico
recurso para determinar que no cálculo do pagamento do Vitral Amaro adotou opinião contrária. A trabalhadora
intervalo intrajornada não usufruído seja considerado o adicional apresentou recurso de embargos que será apreciado
de 100% para os dias normais de trabalho e de 150% para os futuramente na SDI-1. (RR-3540-87.2009.5.03.0016 / Notícia:
dias trabalhados durante o repouso semanal, como previsto na 31/01/2011)
norma interna da empresa. (RR - 107900-49.2005.5.04.0028 /
Notícia: 26/01/2011)
Santander é condenado por quebra de sigilo de conta
Turma admite terceirização no setor de
de ex-caixa
telecomunicações
O Banco Santander (Brasil) S.A. terá que pagar R$50 a uma ex-
A polêmica sobre a legalidade da terceirização de atividades
empregada por quebra de sigilo de sua conta corrente na época
inerentes aos serviços de telecomunicações será analisada em
em que trabalhava como caixa do banco. Após ser condenada

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pela Justiça do Trabalho do Distrito Federal, a empresa recorreu quais compete proceder à investigação devida, caso reputem
ao Tribunal Superior do Trabalho, mas a rejeição do agravo de necessário, de sorte que o referido dispositivo não confere
instrumento pela Oitava Turma manteve a condenação. às instituições financeiras poderes investigatórios”. Dessa
forma, concluiu que a averiguação empreendida pelo banco
Segundo a bancária, que trabalhou para o Santander por 16 caracteriza quebra de sigilo bancário de sua empregada.
anos, em dezembro de 2005 ela foi chamada à gerência geral
da agência para esclarecer se participava ou conhecia sócios de A Oitava Turma acompanhou o voto do relator e negou
uma determinada empresa de entretenimentos que tinha conta provimento ao agravo de instrumento. (AIRR - 18440-
no banco. Ela respondeu que utilizava um site daquela empresa 56.2008.5.10.0003 / Notícia: 13/01/2011)
para jogar bingo. Comentando com colegas o que acontecera,
foi informada que a tal empresa era suspeita de lavagem de
dinheiro.
Bradesco é condenado a pagar R$ 35 mil por assédio
No dia seguinte, ao ser solicitada a entregar extratos de sua moral
conta bancária pelo gerente e pelo analista da Gerência de
Operações Financeiras, ela pediu que o auditor do banco A Quinta Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu
assinasse uma declaração referente à entrega, ao que ele se (rejeitou) recurso do Banco Bradesco contra decisão do Tribunal
negou. A bancária, então, se recusou a ceder os extratos. Regional do Trabalho da 17ª Região (ES), que o condenou ao
Nesse momento, o auditor fez uma ocorrência relacionando pagamento de R$ 35 mil por danos morais. A ação foi iniciada
transferências da conta da bancária para o bingo desde por um ex-empregado vítima de assédio moral que havia
setembro de 2005. Segundo a empregada, a partir daí ela viveu conseguido comprovar o nexo de causalidade entre seus
sob um clima de caça às bruxas, sendo finalmente demitida em problemas psicológicos e os atos discriminatórios
março de 2006. cometidos pelo seu superior hierárquico.

Na reclamação trabalhista que ajuizou a Segundo o acórdão regional, o laudo técnico


Estudando para o apresentado pelo empregado foi conclusivo
seguir, a bancária pleiteou indenização por
Ministério Público Federal? no sentido de que, à época, o empregado
danos morais de R$280 mil, por diversas
Você tem mais um aliado: sofreu transtornos psicológicos
razões: acusação de suspeita de
decorrentes do tratamento discriminatório
lavagem de dinheiro, ter sido vítima de
gritos e grosserias por parte do gerente e
do auditor, vazamento de informações
GEMPF que recebia do seu superior hierárquico,
combinado com o estresse decorrente da
Grupo de Estudos para sobrecarga de trabalho a que foi
para outros funcionários e quebra de
concursos do Ministério submetido, apresentando quadro de
sigilo bancário. Inicialmente seu pedido foi
Público Federal depressão, com intensas ideias de morte
indeferido na primeira instância, motivando
seu recurso ordinário ao TRT/DF, o qual
www.gempf.com.br (suicídio). Diante disso, para o Regional, ficou
condenou o Santander a pagar a indenização de comprovado o assédio moral. O Banco recorreu
R$50 mil, por quebra de sigilo bancário, mas não ao TST.
pelas outras razões, que não foram confirmadas por provas
Para o relator do acórdão no TST, ministro Emmanoel Pereira, é
testemunhais.
dever do empregador respeitar o empregado, zelando pela
sua saúde mental e liberdade de trabalho, sua intimidade e
Foi então a vez do banco interpor recurso de revista, que
vida privada, não devendo praticar atos que exponham o
recebeu despacho de seguimento negado pela presidência do
empregado “a situações humilhantes, constrangedoras,
TRT, originando, então, o agravo de instrumento ao TST.
ridículas, degradantes, vexatórias, discriminatórias,
Pretendendo acabar com a condenação, a empresa alegou, no
tendentes a incutir na psique do trabalhador ideia de
agravo, que não repassou a terceiros as informações da conta
fracasso decorrente de uma suposta incapacidade
corrente da empregada e que o artigo 1º, parágrafo 3º, IV, da
profissional”.
Lei Complementar 105/2001 permite às instituições financeiras
o acesso aos dados contidos nas contas correntes que se O ministro observou que a Constituição de 1988 assegura a
encontram sob sua guarda quando verificada movimentação inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da
atípica que possa resultar na prática de ato ilícito. imagem das pessoas, assim como o direito à indenização pelo
dano moral decorrente de sua violação, quando comprovado o
Ao examinar o agravo, o relator, ministro Márcio Eurico Vitral
dano, o nexo de causalidade e a culpa.
Amaro, ressaltou que o despacho que denegou seguimento ao
recurso de revista analisou de forma pormenorizada todas as Segundo o ministro Emmanoel, foram demonstrados os
questões levantadas pelo banco, rebatendo, inclusive, todos os elementos configuradores do ato ilícito: o dano,
dispositivos citados como violados, e que, por essa razão, a caracterizado pelos transtornos psicológicos depressivos; o
decisão merecia ser mantida. nexo de causalidade, proveniente do tratamento desigual,
dispensado pelo superior hierárquico que levou o empregado ao
Em relação ao artigo da Lei Complementar 105/2001, o ministro
estresse; e a culpa, configurada na intensa pressão da chefia e
Márcio Eurico esclareceu que, conforme assegurou o Tribunal
ameaça de demissão. Segundo o relator, “aquele que viola
Regional, esse dispositivo somente possibilita a comunicação
direito e causa dano a outrem é obrigado a repará-lo (artigos
da ocorrência de alguma movimentação bancária suspeita
186, 187 e 927 do Código Civil Brasileiro)”.
às autoridades competentes (financeira ou policial), “às

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Quanto ao valor da indenização, questionado pelo Banco, o Eletricista que perdeu os braços ganha R$ 550 mil por
relator destacou que o Regional, ao fixar a quantia, pautou-se danos morais e estéticos
nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
(RR-31300-93.2005.5.17.0005 / Notícia: 14/01/2011) Um eletricista que perdeu os dois braços em virtude de acidente
de trabalho conseguiu indenização de R$ 550 mil. A Primeira
Turma do Tribunal Superior do Trabalho não conheceu do
Família de trabalhador alcoólatra que se suicidou recurso de revista da Companhia Paranaense de Energia
após demissão será indenizada (Copel), mantendo-se, na prática, acórdão do Tribunal Regional
do Trabalho da 9ª Região (PR) que condenou a empresa a
Infraero (Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária) pagar indenização por danos morais e estéticos ao trabalhador.
terá que indenizar a família de um empregado alcoólatra que se
suicidou meses depois de ter sido demitido sem justa causa Segundo a petição inicial, o eletricista trabalhava na
pela empresa. O valor da indenização por danos morais foi manutenção de linhas de alta tensão da empresa. Em 12 de
fixado em R$ 200 mil em decisão unânime da Primeira Turma junho de 2003, o empregado foi acionado pela equipe de
do Tribunal Superior do Trabalho. plantão para vistoriar uma linha elétrica rompida pela queda de
uma árvore. Segundo o planejamento de trabalho entregue ao
No caso relatado pelo ministro Walmir Oliveira da Costa, a trabalhador, constava a informação de que a rede de energia
Justiça do Trabalho do Paraná tinha considerado indevido o local estava desligada. Mesmo assim, o eletricista checou isso
pedido de indenização, por entender que não havia nexo de por rádio, sendo confirmado que a rede estava desativada. O
causalidade entre a demissão e o dano sofrido (suicídio). O eletricista, então, ao se posicionar com as ferramentas e o
Tribunal da 9ª Região concluiu ainda que a Infraero não tinha detector de tensão para começar o trabalho, encostou seu braço
obrigação de compensar a família do trabalhador, tendo em em um cabo energizado, sofrendo forte choque elétrico, o que
vista a legalidade do ato de dispensa. levou à amputação dos braços.

Entretanto, o ministro Walmir destacou que, desde 1967, a Diante disso, o trabalhador propôs ação trabalhista contra a
Organização Mundial de Saúde considera o alcoolismo uma Copel requerendo uma reparação por danos materiais
doença grave e recomenda que o assunto seja tratado como equivalente a uma pensão mensal no valor de seu salário até
problema de saúde pública pelos governos. Segundo a OMS, a completar 65 anos de idade e o pagamento de indenização por
síndrome de dependência do álcool é doença, e não desvio danos morais e estéticos.
de conduta que justifique a rescisão do contrato de
trabalho. Ao analisar o pedido do trabalhador, o Juízo de Primeiro Grau
condenou a empresa a pagar uma pensão mensal de 50%
Portanto, esclareceu o relator, o empregado era portador de sobre a maior remuneração recebida pelo eletricista a partir da
doença grave (alcoolismo) e deveria ter tido seu contrato de rescisão contratual até os 65 anos de idade. Quanto aos outros
trabalho suspenso para tratamento médico. De fato, o prejuízos, o juiz determinou que a empresa pagasse R$ 300 mil
alcoolismo comprometia a produção do trabalhador (ele era por danos morais e R$ 250 mil por danos estéticos. O juiz
sistematicamente advertido pela chefia e chegou a pedir conclui que, tanto pela responsabilidade objetiva (que não
demissão que foi recusada). A questão é que, ao dispensar o depende de prova, mas somente da relação entre a atividade de
empregado, mesmo que sem justa causa, a empresa risco e o dano), quanto pela responsabilidade subjetiva (a qual
inviabilizou o seu atendimento nos serviços de saúde e até depende de prova de culpa ou dolo do empregador) a empresa
eventual recebimento de aposentadoria provisória, deveria ser responsabilizada.
enquanto durasse o tratamento.
Para o juiz, a Copel teve culpa no evento. A empresa
O ministro Walmir explicou que a indenização, na hipótese, não descumpriu as suas próprias normas ao enviar uma equipe
dizia respeito ao suicídio, mas sim em razão da dispensa incompleta, sem a presença obrigatória de um encarregado; não
abusiva, arbitrária, de empregado portador de doença grave fiscalizou o uso pelo eletricista de equipamentos de proteção,
(alcoolismo). O suicídio apenas seria causa de agravamento bem como induziu a equipe ao erro ao informar que a linha
da condenação. Para o relator, na medida em que ficou estava desligada.
comprovado o evento danoso, é devida a reparação do dano
moral sofrido pela vítima, pois houve abuso de direito do Inconformada, a empresa recorreu ao Tribunal Regional do
empregador quando demitira o trabalhador alcoólatra, que Trabalho da 9ª Região (PR), alegando culpa exclusiva do
culminou com o seu suicídio. trabalhador no acidente.

Para chegar à quantia de R$ 200mil de indenização, o relator O TRT, entretanto, manteve a sentença. Segundo o acórdão
levou em conta os princípios de razoabilidade e Regional, o eletricista exercia atividade perigosa, o que atrai a
proporcionalidade, as circunstâncias do caso e o caráter incidência da responsabilidade objetiva do empregador, sendo
pedagógico e punitivo da medida. desnecessária qualquer comprovação quanto à culpa ou dolo
por parte da empresa.
De acordo com a OMS, pelo menos 2,3 milhões de pessoas
morrem por ano no mundo em conseqüência de problemas Com isso, a Copel interpôs recurso de revista ao TST, sob o
relacionados ao consumo de álcool (3,7% da mortalidade argumento de que somente poderia indenizar o eletricista se
mundial). (RR-1957740-59.2003.5.09.0011 / Notícia: tivesse agido com culpa ou dolo, o que, segundo a empresa,
14/01/2011) não ocorreu. Para a empresa, esse não era o caso de se aplicar

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a responsabilidade objetiva, ainda que a atividade fosse de jurídica, deverá antecipar o benefício ao empregado para
risco. utilização efetiva em despesas de deslocamento residência-
trabalho e vice-versa, por meio de transporte público coletivo
O relator do recurso de revista na Primeira Turma, ministro Luiz (artigo 1º).
Philippe Vieira de Mello Filho, não deu razão à empresa. Para o
ministro, nesse caso, em que o eletricista esteve sujeito a O relator ainda destacou que, conforme o Decreto nº 95.247/87,
riscos superiores aos inerentes à prestação subordinada de que regulamentou a matéria, o empregador fica desobrigado de
serviços dos demais trabalhadores do país, deve incidir o conceder o vale-transporte se proporcionar, por meios próprios
artigo 927, parágrafo único do Código Civil de 2002. ou contratados, o deslocamento dos seus trabalhadores. E para
receber o vale-transporte, o empregado deverá informar o
Este dispositivo estabeleceu que aquele que, por ato ilícito, endereço residencial e os transportes adequados ao seu
causar dano a alguém deverá repará-lo, independentemente deslocamento.
de culpa, quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos Portanto, concluiu o ministro Vieira, a legislação criou um direito
de outrem (teoria do risco da atividade, que não depende de para os trabalhadores e uma obrigação para os empregadores.
prova de culpa de quem deu causa ao evento ilícito). O empregador ficaria livre da obrigação de conceder o
benefício somente em duas situações: se fornecer o
Vieira de Mello ressaltou que o legislador ordinário, ao instituir a transporte (direta ou indiretamente) ou se o empregado
responsabilidade civil objetiva no novo Código Civil, estabeleceu optar por não utilizar o vale-transporte.
uma regra geral apta a suprir a carência do sistema de
responsabilidade civil subjetiva, quando ela for ineficaz à defesa Assim, no início do contrato de trabalho, o empregador deve
dos direitos e garantias previstos na Constituição Federal. procurar saber o local de residência do empregado e os
serviços de transporte disponíveis para permitir o deslocamento
Assim, a Primeira Turma, ao seguir o voto do relator, decidiu, do trabalhador da residência até o local de prestação dos
por unanimidade, não conhecer do recurso de revista da Copel, serviços e vice-versa. O decreto, inclusive, prevê que a
mantendo-se o acórdão do TRT que condenou a existência de falsa declaração ou uso indevido do
empresa a pagar R$ 550 mil por danos morais e benefício pelo trabalhador constitui falta grave.
estéticos ao eletricista. (RR-1022400- Estudando para a
33.2004.5.09.0015 / Notícia: 24/01/2011) Magistratura Federal? De qualquer forma, na avaliação do ministro
Conheça o Vieira, compete ao empregador guardar
as informações prestadas pelo
Vale-transporte: direito do
trabalhador e obrigação do
empregador
GEMAF empregado acerca da concessão do
vale-transporte, até para posterior
Resolução de questões utilização como meio de prova em
objetivas, subjetivas e eventual reclamação trabalhista. Como, no
De acordo com a Primeira Turma do caso, inexistia documento que isentasse a
Tribunal Superior do Trabalho, a legislação sentenças inéditas
empresa da obrigação de conceder o vale-
que disciplina o vale-transporte permite a www.gemaf.com.br
transporte, permanece a obrigação de indenizar
conclusão de que é encargo do empregador o ex-empregado. (RR-54500-28.2005.5.04.0382 /
comprovar que estava desobrigado de conceder Notícia: 17/01/2011)
o benefício, seja porque forneceu transporte para o
deslocamento do empregado da residência para o local de Empresa pode filmar empregado trabalhando, desde
trabalho (e vice-versa), seja porque o trabalhador optou por não que ele saiba
fazer uso desse direito.
Desde que haja conhecimento dos empregados, é regular o
No recurso de revista examinado pelo ministro Vieira de Mello uso, pelo empregador, de sistema de monitoramento que
Filho, a empresa de Calçados Bibi foi condenada pela Justiça exclua banheiros e refeitórios, vigiando somente o local
do Trabalho gaúcha a pagar a ex-empregado indenização efetivo de trabalho. O Ministério Público do Trabalho da 17ª
correspondente ao valor gasto por ele com passagens em Região (ES) não conseguiu provar, na Justiça do Trabalho, a
transporte coletivo para ir de casa ao serviço e vice-versa existência de dano moral coletivo pela filmagem dos
(quantia equivalente a R$2,00 por dia, no período de 15.05.2001 funcionários da Brasilcenter - Comunicações Ltda. nos locais de
a 15.05.2002). trabalho. O caso chegou até o Tribunal Superior do Trabalho e,
ao ser examinado pela Sexta Turma, o agravo de instrumento
A empresa contestou a decisão e alegou que o empregado não do MPT foi rejeitado.
provara o preenchimento dos requisitos para a obtenção do
benefício, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 215 da Os empregados da Brasilcenter trabalham com telemarketing e
Seção de Dissídios Individuais do TST, que estabelece como não há ilegalidade ou abusividade da empresa em filmá-los
ônus do empregado comprovar que satisfaz os requisitos trabalhando, pois, segundo o Tribunal Regional do Trabalho da
indispensáveis à obtenção do vale-transporte. 17ª Região (ES), a vigilância com câmera apenas no local
efetivo de trabalho, terminais bancários e portas principais não
Entretanto, o relator negou provimento ao recurso da empresa e representa violação à intimidade do empregado. O Tribunal
foi acompanhado pelos demais integrantes da Turma. O Regional chegou a questionar “o que de tão íntimo se faz
ministro Vieira esclareceu que o vale-transporte, instituído pela
Lei nº 7.418/85, prevê que o empregador, pessoa física ou

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durante seis horas, trabalhando na atividade de telemarketing, A decisão da Sexta Turma abre novas perspectivas para o
que não possa ser filmado”. trabalhador, pois, ao considerar o início do prazo prescricional
pela data da aposentadoria do autor, o colegiado do TST
Antes do recorrer ao TRT/ES, o MPT já tinha visto seu pedido afastou a prescrição pronunciada pelo Tribunal Regional do
de danos morais coletivos ser indeferido na primeira instância. Trabalho da 8ª Região (PA/AP) e determinou o retorno dos
Ao examinar o caso, o Regional considerou razoável a autos ao Regional para que aprecie o pedido do empregado. A
justificativa da empresa para a realização do procedimento, com ação pleiteando indenização por danos morais e materiais foi
o argumento da necessidade de proteger o patrimônio dela, por ajuizada em 14/05/2008. Nessa data, segundo o Tribunal
haver peças de computador de grande valor e que podem Regional, a pretensão de reparação do dano já estava prescrita,
facilmente ser furtadas. considerando-se o início da contagem a partir de 13/06/2004,
dia da agressão, classificada como acidente de trabalho.
O Tribunal do Espírito Santo destacou, ainda, que a empresa
não realiza gravação, mas simplesmente filmagem, e que não Sequelas
se pode falar em comportamento clandestino da Brasilcenter,
pois documentos demonstram a ciência, pelos empregados, a Tudo começou no dia 13/06/2004. O trabalhador exercia suas
respeito da existência das filmagens, antes mesmo do atividades no Auto Posto Azulino Ltda. quando foi agredido por
ajuizamento da ação. O TRT, então, rejeitou o recurso ordinário um policial militar que lhe deu uma coronhada no rosto. Após a
do MPT, que interpôs recurso de revista, cujo seguimento foi ocorrência, a vítima apresentou várias sequelas, inclusive um
negado pela presidência do Tribunal Regional. Em seguida, o acidente vascular cerebral (AVC), que, segundo laudo pericial,
Ministério Público interpôs agravo de instrumento, tentando decorreram da coronhada, pois o autor não tinha problemas de
liberar o recurso de revista. pressão arterial nem afastamentos do serviço anteriormente. De
acordo com o perito, a lesão ocorreu de modo desencadeado.
No TST, o relator da Sexta Turma, ministro Mauricio Godinho
Delgado, ao analisar o agravo de instrumento, confirmou, como
Em seu recurso ao TST, o trabalhador alegou que somente em
concluíra a presidência do TRT, a impossibilidade de verificar,
01/11/2007 foi concedida a aposentadoria por invalidez. E
no acórdão do Regional, a divergência jurisprudencial e a
salientou que, antes disso, não havia sido declarada
afronta literal a preceitos constitucionais alegados pelo MPT. O
oficialmente sua incapacidade para o trabalho. O autor informou
ministro ressaltou a necessidade da especificidade na
que nunca lhe foi oferecida a comunicação de acidente de
transcrição de julgados com entendimentos contrários para a
trabalho (CAT), documento que poderia servir como marco
verificação da divergência jurisprudencial. Nesse sentido, o
inicial para a propositura da ação, levando-se em consideração
relator frisou que a matéria é “de cunho essencialmente
a data do acidente, como entendeu o Regional. Destacou,
interpretativo, de forma que o recurso, para lograr êxito, não
ainda, que até a propositura da ação o benefício foi registrado
prescindiria da transcrição de arestos com teses contrárias” e
como auxílio doença, exatamente porque não era detentor da
que, sem essa providência, “não há como veicular o recurso de
CAT.
revista por qualquer das hipóteses do artigo 896 da CLT”.
TST Ao examinar o caso, o relator do recurso de revista,
O relator destacou, ainda, citando a Súmula 221, II, do Tribunal,
ministro Aloysio Corrêa da Veiga, ressaltou o caráter gradativo e
já estar pacificado no TST que “interpretação razoável de
progressivo da manifestação da lesão ocorrida com o
preceito de lei - no caso, o artigo 5º, V e X, da Constituição -,
trabalhador. O relator entende que a “contagem do prazo
ainda que não seja a melhor, não dá ensejo à admissibilidade
prescricional ocorre a partir do momento em que o
ou conhecimento de recurso de revista, havendo necessidade
empregado toma conhecimento inequívoco da doença em
de que a violação esteja ligada à literalidade do preceito”.
caráter irreversível, que nem sempre se dá com o primeiro
Seguindo o voto do relator, a Sexta Turma negou provimento ao
momento da ciência da moléstia”.
agravo de instrumento. (AIRR - 69640-74.2003.5.17.0006 /
Notícia: 18/01/2011) Nesse sentido, o ministro Aloysio citou a Súmula 278 do
Superior Tribunal de Justiça, consagrando o entendimento de
que “o termo inicial do prazo prescricional, na ação de
Agredido com uma coronhada busca indenização por
indenização, é a data em que o segurado teve ciência
sequelas
inequívoca da incapacidade laboral”. Assim, de acordo com o
A definição da data em que inicia o prazo prescricional, em caso ministro, apesar de o Tribunal Regional ter considerado que foi
de doença decorrente de acidente de trabalho, dá muita dor de em 13/06/2004 o momento em que o trabalhador teve ciência de
cabeça aos magistrados e às vítimas que buscam a reparação sua doença, “essa foi apenas a ocasião em que ele sofreu o
pelos danos sofridos. No caso de um empregado de um posto acidente de trabalho”.
de gasolina agredido por um cliente, a coronhada recebida no
O ministro frisa que “apenas pela concessão da aposentadoria
rosto acabou por gerar vários problemas de saúde que o
por invalidez é que o autor conheceu a extensão do dano
incapacitaram para o trabalho. Para a Sexta Turma do Tribunal
sofrido e, por conseguinte, a sua incapacidade para o trabalho,
Superior do Trabalho, o prazo prescricional começou a
razão pela qual deve ser considerado a partir de então o marco
contar a partir da aposentadoria por invalidez e não da data
inicial para a fluência do prazo prescricional”. Em decisão
da agressão, como definiu a instância regional, que extinguiu o
unânime, a Sexta Turma afastou a prescrição e determinou o
processo por prescrição.
retorno dos autos ao Tribunal Regional da 8ª Região para que
examine o recurso ordinário do trabalhador. (RR - 74200-
26.2008.5.08.0009 / Notícia: 25/01/2011)

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Informativo de
Jurisprudência
Trabalhista
Elaborado a partir das notícias do
Direito Coletivo do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho (TST)

Atividade comercial em feriado depende de sorveterias e bombonerias; hospitais, clínicas, casas de saúde e
autorização de norma coletiva ambulatórios; casas de diversões (inclusive estabelecimentos
esportivos em que o ingresso seja pago); limpeza e alimentação
Vale inclusive para supermercados e empresas que de animais em estabelecimentos de avicultura; feiras livres e
comercializem alimentos perecíveis a lei que determina que mercados, inclusive os transportes inerentes; porteiros e
o funcionamento aos feriados do comércio em geral cabineiros de edifícios residenciais; e serviços de propaganda
depende de autorização em convenção coletiva de trabalho aos domingos.
e cumprimento de legislação municipal. Com esse
entendimento, a Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho O Tribunal Regional entendeu que “a intenção do legislador,
julgou que as empresas Adição Distribuição Express Ltda. e quando autorizou o funcionamento do comércio de gêneros
Comercial de Alimentos SBH Ltda., de Pará de Minas (MG), não alimentícios de primeira necessidade, foi a de resguardar o
poderão mais exigir, sem que haja autorização prevista em interesse público. Por isso mesmo não é razoável sustentar que
norma coletiva de trabalho, que seus empregados trabalhem a regra contida na Lei 605/1949 e seu regulamento tivesse sido
aos feriados. revogada pela Lei 10.101/2000”. Ressaltou, ainda, que a
autorização da Lei 605/1949 também inclui o
A controvérsia teve início com a ação do funcionamento de hospitais e serviços funerários,
Sindicato dos Empregados no Comércio de “não se concebendo a possibilidade do
Preparação contínua para a
Pará de Minas, pleiteando que as empresas fechamento desse tipo de estabelecimento
Magistratura do Trabalho aos domingos e feriados”.
fossem proibidas de abrir aos feriados. O
sindicato alegou que a Lei 11.603/2007
somente permite o exercício da atividade
comercial quando há autorização em
GEMAT TST

norma coletiva e em lei municipal. Na Resolução de questões Após a decisão do Tribunal de Minas
primeira instância, o pedido dos Gerais, o sindicato dos trabalhadores
objetivas, subjetivas e recorreu ao TST. Para a ministra Dora
trabalhadores foi atendido.
sentenças Maria da Costa, relatora do recurso de
revista, prevalece a aplicação do artigo
www.gemat.com.br 6º-A da Lei 10.101/2000, que trata do
Interesse público
trabalho em feriados nas atividades do
A Adição Distribuição e a SBH, então, recorreram comércio em geral, permitindo o
ao Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (MG), funcionamento de estabelecimentos, como
que modificou a sentença, por considerar que as empresas, ao supermercados, em feriados, mediante autorização em
comercializarem alimentos perecíveis - atividade necessária à norma coletiva de trabalho e observada a legislação
população em geral -, são destinatárias de norma especial, municipal. De acordo com a relatora, a Lei 605/1949, ao
contida no Decreto 27.048/1949. Por essa razão, seu dispor sobre o repouso semanal remunerado e o
funcionamento aos domingos e feriados não está pagamento de salário nos dias feriados, é “de índole mais
regulamentado pela Lei 10.101/2000 com as alterações da Lei genérica”.
11.603/2007, que, segundo o TRT, diz respeito ao
funcionamento do comércio varejista em geral. A ministra ressaltou que, apesar de não ignorar a realidade,
quanto à urgência do atendimento às necessidades da
Porém, em relação ao comércio de gêneros alimentícios de população em dias de feriados, “não se pode também olvidar
primeira necessidade, o TRT julgou que é um ramo regido por a realidade do trabalhador, compelido a laborar em
norma especial - a Lei 605/1949 e seu regulamento. O artigo 8º feriados civis ou religiosos, sendo inconcebível admitir
dessa lei autoriza o trabalho nos dias de feriados civis e que uma lei datada de dezembro de 2007 seja solenemente
religiosos, nos casos em que a execução do serviço for imposta relegada”. Além disso, a relatora acrescentou que o TST já
pelas exigências técnicas das empresas. O Decreto 27.048/49, proferiu decisões nesse mesmo sentido, e citou precedentes de
ao regulamentar a Lei 605/1949, discriminou as atividades que relatoria dos ministros Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira,
seriam permitidas nos dias de repouso, para atendimento do Aloysio Corrêa da Veiga, Maria Cristina Irigoyen Peduzzi (atual
interesse público. presidente da Oitava Turma) e Rosa Maria Weber.

As atividades comerciais com permissão para funcionamento Ao julgar o recurso de revista, então, a Oitava Turma, por
aos domingos e feriados, listadas no decreto, são as dos maioria, modificou o entendimento regional e restabeleceu a
varejistas de peixe, de carnes frescas e caça, de frutas e sentença, julgando procedente a ação do sindicato,
verduras, de aves e ovos; venda de pão e biscoitos; varejistas determinando às empresas a obrigação de se absterem de
de produtos farmacêuticos; flores e coroas; barbearias; postos exigir ou receber trabalho de seus empregados, no todo ou em
de gasolina; locadores de bicicletas e similares; hotéis, parte, nos feriados, sem autorização prevista em acordo ou
restaurantes, pensões, bares, cafés, confeitarias, leiterias, convenção coletiva de trabalho. O voto divergente foi do

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ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, que não conhecia do Indeterminação de horários invalida acordo que
recurso, entendendo ser possível o trabalho em feriados nas amplia intervalo de almoço
duas empresas. (RR - 30600-61.2008.5.03.0148 / Notícia:
20/01/2011) A prorrogação do intervalo intrajornada de duas horas –
tempo para descanso e alimentação durante a jornada de
trabalho – pode ser autorizada por acordo coletivo, mas os
Empregador pode parcelar participação nos lucros horários de intervalo devem ser preestabelecidos, pois, do
com negociação coletiva contrário, há risco de ingerência patronal na vida privada do
empregado. Foi o que aconteceu a um motorista de ônibus do
O pagamento aos empregados de valores relativos à Paraná: em uma mesma quinzena, ele cumpriu intervalos de
participação nos lucros ou resultados da empresa pode ocorrer oito horas, jornadas com intervalos fracionados e, em outros
de forma parcelada e mensal desde que a medida tenha sido dias, nem sequer teve período de descanso. Após a rejeição,
aprovada em norma coletiva. Foi o que aconteceu no caso pela Oitava Turma do Tribunal Superior do Trabalho, do
envolvendo ex-empregado da Indústria de Veículos recurso das empregadoras quanto à questão, o trabalhador
Volkswagen. Por meio de negociação coletiva, a parcela passou receberá o pagamento, como hora extra, do tempo de
a ser paga como antecipação, na razão de 1/12 avos do valor descanso superior a duas horas.
da participação nos lucros, a fim de minimizar perdas salariais
dos trabalhadores. A decisão da Oitava Turma manteve o entendimento do Tribunal
Regional do Trabalho da 9ª Região (PR), que considerou ter
Na Justiça do Trabalho, o ex-operário da empresa questionou a ocorrido, no caso, abuso de direito das empregadoras - em
forma de recebimento da participação nos lucros. Alegou que o relação à duração do intervalo a ser cumprido pelo trabalhador -
artigo 3º, § 2º, da Lei nº 10.101/2000 estabelece que a em detrimento da limitação da liberdade do empregado. O
antecipação ou distribuição a título de participação nos lucros Regional verificou que a escala de trabalho era estipulada
deve ocorrer em periodicidade nunca inferior a um semestre ou diariamente, com variação de rotas, horários e intervalos, com
mais de duas vezes no ano cível. Como consequência, pediu a visível prejuízo ao motorista, causando-lhe extrema desordem
integração da parcela ao salário. em seus horários pessoais, diante de “longos ou curtos
intervalos, de maneira variável, dia após dia, pela vontade
O Tribunal do Trabalho de Campinas (15ª Região), apesar de patronal”. Diante disso, invalidou a autorização para
reconhecer a existência de norma coletiva tratando da questão, prorrogação das duas horas e os fracionamentos dos intervalos,
concluiu que havia divergência com o comando da Lei nº considerando o tempo excedente como horas extraordinárias.
10.101/2000. Por esse motivo, o TRT determinou a integração
da parcela paga mensalmente a título de participação nos lucros As empresas de transporte rodoviário de passageiros
ao salário do empregado - o que se refletiu no cálculo de outras recorreram ao TST, alegando a existência de acordo coletivo
parcelas devidas pela Volks. permitindo a adoção de intervalo intrajornada superior ao limite
de duas horas, mas a Oitava Turma manteve a decisão
Mas quando a natureza jurídica da parcela participação nos regional, ao não conhecer do apelo quanto a esse tópico.
lucros e resultados foi discutida na Oitava Turma do Tribunal Segundo a ministra Dora Maria da Costa, relatora do recurso de
Superior do Trabalho, a presidente e relatora do recurso de revista, apesar de o TST se posicionar no sentido da
revista da Volks, ministra Maria Cristina Peduzzi, esclareceu possibilidade de ampliação do intervalo intrajornada, “é
que a questão deve ser decidida com amparo nos princípios primordial para sua validade que haja definição do período
constitucionais da autonomia coletiva e da valorização da pela norma coletiva ou pactuação individual
negociação coletiva (nos termos dos artigos 7º, XXVI, e 8º, da complementar”.
Constituição Federal).
A relatora esclareceu que o artigo 71 da CLT, em seu caput,
Para a relatora, a decisão regional desrespeitou o princípio prevê a adoção do intervalo intrajornada superior ao limite legal,
constitucional que garante o reconhecimento das desde que haja prévio acordo escrito entre as partes ou fixação
convenções e acordos coletivos de trabalho (artigo 7º, em norma coletiva. No entanto, a ministra ressaltou que esse
XXVI), pois a cláusula que instituiu a verba indenizatória e o seu dispositivo deve ser interpretado de forma a “resguardar o seu
pagamento parcelado está de acordo com a prerrogativa objetivo legal e os princípios que regem as relações
conferida pela Constituição a trabalhadores e empregadores. O trabalhistas”.
acordo coletivo tornou realidade o direito dos empregados à
participação nos lucros ou resultados das empresas, Ao verificar os prejuízos causados ao trabalhador, submetido
desvinculada da remuneração, conforme previsto no artigo 7º, a jornadas em que havia intervalo superior a duas horas, outras
XI, do texto constitucional. com intervalos fracionados e dias sem intervalos, a ministra
frisou a importância do intervalo intrajornada, observando que
Segundo a ministra Cristina Peduzzi, a legislação ordinária se trata de norma que tem como objetivo a manutenção do
não pode ser interpretada de forma restritiva ao exercício estado físico e psíquico do trabalhador após um tempo de
das garantias constitucionais. No caso, a negociação coletiva trabalho. Por fim, a relatora destacou que “não se pode relevar
estabeleceu o pagamento de parcela constitucionalmente as normas protetivas da saúde, medicina e segurança do
desvinculada da remuneração, ainda que de maneira diferente trabalho, de ordem pública, nem mesmo por meio de
da disposição legal. Contudo, como não houve vício de negociação coletiva, como é o caso, em que a cláusula não
consentimento das partes, o acordo deve ser prestigiado e delimita o tempo de descanso do empregado”. (RR -
cumprido. 184200-70.2007.5.09.0019 / Notícia: 27/01/2011)

Nesse ponto, a relatora deu provimento ao recurso da empresa


para julgar improcedente o pedido do trabalhador de integração Convenção coletiva não pode suprimir horas
da parcela referente à participação nos lucros ao salário e foi itinerantes
acompanhada pelos demais integrantes da Turma. O
trabalhador ainda apresentou embargos de declaração que É possível, coletivamente, negociar e fixar uma estimativa
foram rejeitados pelo colegiado. (RR-48000-89.2005.15.0009 / diária, semanal ou mensal de horas referente ao tempo
Notícia: 25/01/2011) despendido no percurso da residência ao local de trabalho. No
entanto, a negociação coletiva não pode suprimir o direito. Com

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esse entendimento, a Sexta Turma do Tribunal Superior do
Trabalho reformou acórdão regional e determinou o retorno dos
autos à Vara do Trabalho de origem para que seja apurada a
quantidade de horas itinerantes - ou in itinere - gastas por um
empregado da Safi Brasil Energia S.A., empresa localizada no
Mato Grosso do Sul.

O Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região (MS) manteve a


sentença que indeferiu o pedido do trabalhador para receber as
horas itinerantes do período de 1º/5/2008 a 30/4/2009, por
verificar que havia convenção coletiva eliminando a parcela. O
TRT julgou válida a pactuação, considerando que não se tratava
de direito indisponível e que deveria ser respeitada a vontade
das partes. Ressaltou, ainda, que o sindicato, em contrapartida,
havia conquistado outros benefícios para a categoria, elencados
na cláusula que suprimia as horas itinerantes.

Inconformado com a decisão, o empregado recorreu ao TST. O


ministro Mauricio Godinho Delgado, relator do recurso de revista
julgado na Sexta Turma, explicou que a flexibilização quanto
às horas in itinere por meio de norma coletiva era válida até
19/06/2001, com o advento da Lei 10.243/01. A partir daí,
prevalece a norma legal. Segundo o relator, quando não
existia lei imperativa, mas simples entendimento jurisprudencial
- ou seja, a Súmula 90 do TST-, a flexibilização era ampla. No
entanto, com o surgimento da lei, acrescentando
dispositivos ao artigo 58 da CLT, não há como suprimir o
direito.

O relator esclareceu que a jurisprudência do TST


firmou entendimento no sentido de que, em
relação às horas itinerantes, “é possível à
negociação coletiva estipular um montante Prepare-se para o concurso
estimativo de horas diárias, semanais ou os concursos da Advocacia-
mensais, pacificando a controvérsia,
Geral da União com
principalmente em virtude de o próprio
legislador ter instituído poderes maiores
à negociação coletiva neste específico
tema”. No entanto, frisou o ministro
GEAGU
Godinho Delgado, “não é viável à Resolução de questões
negociação coletiva suprimir o direito, objetivas, peças, pareceres e
porém apenas fixar-lhe o montante dissertações
numérico”.
www.geagu.com.br
A Sexta Turma acompanhou o voto do relator e
deu provimento para condenar a empresa a pagar
ao trabalhador as horas in itinere . (RR - 1195-
80.2010.5.24.0000 / Notícia: 31/01/2011)

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Informativo de
Jurisprudência
Trabalhista
Elaborado a partir das notícias do
Direito Processual do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho (TST)

Sétima Turma: acordo judicial não impede ação de instâncias ordinárias e determinou o retorno do processo à Vara
indenização de origem para analisar o pedido do trabalhador. (RR-1601-
87.2006.5.02.0442 / Notícia: 10/01/2011)
O acordo judicial celebrado antes da Emenda
Constitucional nº 45/2004 não impede posterior ação com
pedido de indenização por danos morais e materiais
decorrentes de acidente de trabalho ou de doença IR é devido sobre o total da dívida trabalhista
profissional. Na interpretação da Sétima Turma do Tribunal reconhecida em juízo
Superior do Trabalho, até a promulgação da emenda, havia
dúvidas sobre a competência para examinar esses processos, A Seção I Especializada em Dissídios Individuais do
ou seja, se cabia à Justiça comum ou trabalhista. Tribunal Superior do Trabalho isentou o Banco Banestado do
pagamento de indenização a ex-empregada decorrente de
No caso relatado pelo presidente da Turma, ministro Pedro eventuais diferenças no valor de imposto de renda a ser
Paulo Manus, um ex-empregado da Codesp (Companhia recolhido pela trabalhadora. Em decisão unânime, a SDI-
Docas do Estado de São Paulo) firmou acordo em 1 acompanhou voto do relator dos embargos da
juízo no qual deu quitação total do contrato de empresa, ministro Lelio Bentes Corrêa.
trabalho. Posteriormente, apresentou nova Preparação contínua para a
ação, desta vez na Justiça comum, com O relator explicou que a incidência do
pedido de indenização por danos morais e Magistratura do Trabalho imposto de renda sobre o total da dívida
materiais tendo em vista suposta doença trabalhista reconhecida em juízo é
ocupacional. GEMAT determinada por lei, sendo impossível
atribuir prática de ato ilícito ao
Como a Codesp foi incorporada pela Resolução de questões empregador por efetuar o recolhimento
Turim Equipamentos, as empresas do tributo devido pela empregada. Além
alegaram que era incabível o pedido
objetivas, subjetivas e do mais, não há previsão legal que
porque o empregado havia dado quitação sentenças sustente o pedido de indenização da
plena do extinto contrato. A Vara do www.gemat.com.br trabalhadora por eventuais diferenças
Trabalho e o Tribunal Regional de São Paulo constatadas entre o valor do imposto de renda
julgaram extinto o processo, sem resolução do decorrente de condenação judicial e o que seria
mérito, por entenderem que se tratava de coisa devido caso as parcelas trabalhistas tivessem sido
julgada, ou seja, de pretensão já decidida sem pagas no momento certo.
possibilidade de recurso.
O Tribunal do Trabalho do Paraná (9ª Região) tinha condenado
No entanto, pela avaliação do ministro Pedro Manus, à época o banco a pagar indenização pelos prejuízos causados à
em que o empregado firmou o acordo na Justiça do Trabalho, empregada na apuração dos valores a serem recolhidos de
ainda não tinha entrado em vigor a EC nº 45/2004 – tanto que a imposto de renda. Para o TRT, se as quantias devidas pelo
ação de reparação foi ajuizada na Justiça comum (só mais tarde empregador tivessem sido quitadas nas épocas próprias, os
os autos foram encaminhados à Justiça trabalhista). Até a descontos seriam menores, logo a atitude da empresa
emenda, portanto, prevalecia o entendimento de que a provocara dano ao patrimônio da empregada.
competência para examinar situações dessa natureza era da
Justiça comum. No recurso de revista apresentado pelo banco ao TST, a
discussão sobre o cabimento de indenização à trabalhadora em
Assim, somente com a nova redação dada pela emenda, o decorrência da retenção do imposto de renda sobre o valor total
artigo 114, IV, da Constituição previu expressamente a dos créditos oriundos de condenação judicial nem chegou a
competência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar “as acontecer na Segunda Turma. O colegiado concluiu que não
ações de indenização por dano moral ou patrimonial, estavam presentes os requisitos do artigo 896 da CLT para
decorrentes da relação de trabalho”. O ministro Manus também autorizar o julgamento do mérito do recurso.
observou que o Supremo Tribunal Federal, ao decidir a
questão, adotou como marco temporal para fixação da Na SDI-1, o banco alegou que não havia base jurídica para
competência da Justiça do Trabalho a promulgação da imputar somente ao empregador o encargo de proceder ao
emenda. recolhimento do imposto de renda e, menos ainda, o dever de
indenizar a trabalhadora. A empregada, por sua vez, insistiu na
Nessas condições, o relator concluiu que não é possível tese de que, se os créditos salariais tivessem sido pagos no
admitir que, por meio do referido acordo, o empregado tempo certo, o encargo tributário seria menor (alíquota menor) –
tenha dado quitação de parcelas que poderiam ser daí a obrigação do banco de indenizar.
postuladas na Justiça comum. Por consequência, o ministro
afastou a declaração de coisa julgada manifestada pelas Contudo, o ministro Lelio Bentes esclareceu que a

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responsabilidade civil (objetiva ou subjetiva) pressupõe a
configuração da prática de ato ilícito que ocasione dano a O ministro Walmir ainda esclareceu que a IN nº 18 do TST
terceiro (nos termos dos artigos 186 e 927 do Código Civil). Na entende válida, para fins de comprovação do depósito recursal
hipótese, como a conduta do banco não contrariou o na Justiça do Trabalho, a guia com o nome das partes, número
ordenamento jurídico ao efetuar o recolhimento do imposto do processo, designação do juízo por onde tramitou o processo
de renda sobre o valor total da condenação, descabe e a explicitação do valor depositado, desde que autenticada
qualquer pedido de indenização. pelo banco recebedor.

Segundo o relator, ainda que seja razoável a alegação de Como, na hipótese examinada, é possível identificar o processo,
prejuízo sofrido pela empregada (dano patrimonial), não existe as partes e o valor, e o Banco Rural compõe a Rede
responsabilidade civil do empregador e a ocorrência de ato Arrecadadora (segundo a Secretaria da Receita Federal), a
ilícito no caso, pois a incidência do imposto de renda sobre o exigência de recolhimento das custas e do depósito recursal na
valor total fixado em sentença condenatória é prevista em lei. CEF ou Banco do Brasil fere o direito de ampla defesa da parte
assegurado pela Constituição (artigo 5º, LV), concluiu o relator.
O desconto fiscal tem por fato gerador a existência de (RR-157500-87.2005.5.03.0021 / Notícia: 13/01/2011)
sentença condenatória e a disponibilidade para a
trabalhadora dos valores definidos. Desse modo, afirmou o
ministro Lelio, quando a lei determina que o tributo seja retido Primeira Turma decide quórum mínimo para
na fonte, deixa claro que a incidência ocorrerá sobre a julgamento de agravo de petição
totalidade da quantia recebida. Por conseqüência, a
contribuição a encargo do trabalhador deve ser retida pelo A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho autorizou o
empregador – exatamente como havia feito o banco. processamento de um recurso de revista do espólio de ex-
empregado das Lojas Americanas para examinar o quórum
Por fim, o relator destacou que os juros de mora e a correção mínimo necessário no julgamento de agravo de petição. Em
monetária têm caráter indenizatório, porque são decisão unânime, o colegiado acompanhou voto do ministro
equiparados a perdas e danos, conforme o artigo 404 do Walmir Oliveira da Costa e deu provimento ao agravo de
Código Civil, o que significa que essas parcelas não sofrem instrumento apresentado pela parte.
a incidência da contribuição fiscal.
A família do trabalhador recorreu ao TST depois que o Tribunal
A decisão da SDI-1 foi unânime com ressalva de entendimento do Trabalho da 1ª Região (RJ) rejeitou um agravo de petição
do ministro Augusto César Leite de Carvalho. (RR-1255600- que contestava a execução da sentença. No próprio TRT, a
30.2002.5.09.0011 / Notícia: 11/01/2011) parte alegou a nulidade do julgamento por falta de quórum
mínimo para deliberação, pois o colegiado era composto por
três juízes e apenas dois participaram, uma vez que o terceiro
Custas podem ser pagas em banco da Rede declarou-se suspeito.
Arrecadadora de Receitas Federais
Mas, para o Regional, o artigo 672, §1º, da CLT estabelece a
A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho considera imprescindibilidade da presença de três juízes para deliberação,
válido o recolhimento das custas processuais e do depósito não obrigatoriamente que haja decisão por parte de todos eles.
recursal feito em instituição bancária diversa da Caixa Ou seja, a presença de três juízes é quórum mínimo para o
Econômica Federal e do Banco do Brasil, desde que integrante funcionamento da Turma (quórum de presença), e não para
da Rede Arrecadadora de Receitas Federais. a decisão dos processos (quórum de deliberação). O
quórum mínimo de votos necessários a uma deliberação é o de
O colegiado acompanhou, à unanimidade, voto de relatoria do dois juízes, concluiu o Regional.
ministro Walmir Oliveira da Costa no sentido de afastar a
deserção decretada pelo Tribunal do Trabalho mineiro (3ª Já no entendimento do ministro Walmir, de fato, a deliberação
Região) e determinar o julgamento de um recurso ordinário do da Turma do TRT com apenas dois juízes contaminou o
Banco Rural contra sentença favorável a ex-empregado da julgamento do agravo de petição, pois houve desrespeito ao
empresa. comando constitucional que garante o contraditório e a ampla
defesa aos litigantes (artigo 5º, LV) e dispõe sobre as condições
O Regional tinha entendido que o recurso da empresa estava do exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho (artigo 113).
deserto, porque o pagamento das custas processuais e do
depósito recursal havia sido feito em agência do próprio Banco Ainda na avaliação do relator, o TRT violou o direito de defesa
Rural, e não como deveria, ou seja, na CEF, no Banco do Brasil da parte ao proferir julgamento com menosprezo do quórum
ou em outra instituição autorizada. Na avaliação do TRT, o mínimo de três juízes e o princípio do juiz natural - quando
recolhimento, nessas condições, constituiria abuso do poder devem ser observadas as normas de organização judiciária. Por
econômico e não observava a finalidade do depósito recursal. essas razões, o ministro Walmir admitiu o agravo de
instrumento do espólio do trabalhador para que, em outra
No entanto, o ministro Walmir observou que, no caso de sessão da Primeira Turma do TST, a questão possa ser
recurso, basta que as custas sejam pagas no valor rediscutida em recurso de revista da parte. (AIRR-190240-
estipulado na sentença e fique comprovado o recolhimento 66.1984.5.01.0029 / Notícia: 21/01/2011)
dentro do prazo recursal (artigo 789, §1º, da CLT). De acordo
com o relator, a Instrução Normativa nº 20 (item IV) do TST
exige apenas que as custas e os emolumentos sejam recolhidos Oitava Turma desautoriza levantamento de depósito
nas instituições financeiras integrantes da Rede Arrecadadora recursal de 60 salários mínimos
de Receitas Federais.
Um ex-vendedor do Ponto Frio - cuja razão social é Globex
Quanto ao depósito recursal, a IN nº 26 do TST estabelece que Utilidades S.A. - terá mesmo que esperar pela fase de execução
o pagamento pode ser feito em agência da Caixa ou banco do processo para receber o que lhe é devido pela empresa.
conveniado, sendo pacífico o entendimento de que o Apesar de lhe ter sido facultado pelo Tribunal Regional do
convênio independe de prova, por ser fato notório (Súmula Trabalho da 3ª Região (MG) o levantamento do depósito
nº 217 do TST). recursal no limite de 60 salários mínimos, a Oitava Turma do

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Tribunal Superior do Trabalho reformou a decisão do TRT e do Trabalho, não há irregularidade quando ocorre a penhora do
desautorizou o saque. dinheiro nessas situações, porque, ao manter uma conta
conjunta, as partes assumiram o risco.
Para o ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, relator do recurso de
revista, a decisão do Tribunal Regional ofende os artigos 128 e O relator do caso julgado na Turma, ministro Vieira de Mello
460 do CPC. Ao esclarecer os motivos da decisão da Oitava Filho, explicou que, numa conta conjunta, os dois correntistas
Turma, o relator citou que o Tribunal Regional, aplicando o podem usufruir livremente dos depósitos, sem a necessidade de
artigo 475-O do CPC, facultou ao trabalhador o levantamento do autorização do outro. Portanto, uma conta corrente dessa
depósito recursal sem o correspondente pedido do autor. Além natureza não torna irregular a penhora realizada para garantir a
disso, o relator destacou que o TST “firmou entendimento no execução de débito reconhecido em sentença judicial.
sentido de que o dispositivo em questão – artigo 475-O - é
inaplicável no processo do trabalho”. Um aposentado que possuía conta conjunta com a sócia de
uma empresa que estava sendo executada recorreu ao Tribunal
O ministro Márcio Eurico concluiu então que, “se o instituto em do Trabalho de São Paulo (2ª Região) com o argumento de que
questão não é aplicável no processo do trabalho, muito menos não podia ter a conta penhorada, uma vez que nem mesmo
sem o correspondente pedido do autor”. Para o ministro, ficou participara da ação que originou a dívida. Alegou que a conta
demonstrado o julgamento extra petita - ou seja, fora do pedido tinha natureza salarial e juntou comprovante de que o dinheiro
formulado na reclamação, o que resulta em nulidade do depositado era proveniente de causa ganha em ação
julgamento. trabalhista.

Fundamentação do TRT Para o TRT, entretanto, era impossível separar os valores


de cada um dos correntistas. Concluiu que existiam riscos
O trabalhador obteve reconhecimento na Justiça do Trabalho de nessa modalidade de conta, como agora verificado pelo
Minas Gerais de direito a verbas relativas, entre outras, a aposentado, sendo inútil a discussão sobre a origem dos
intervalo intrajornada e adicional de 100% das horas extras. valores depositados. Assim, o Regional negou seguimento ao
Além disso, nessa fase de conhecimento do processo, o recurso de revista da parte para o TST.
TRT/MG, considerando a natureza alimentar do crédito
trabalhista, possibilitou ao autor levantar, do depósito que existe Com o agravo de instrumento apresentado ao TST, o
nos autos, a quantia de até 60 salários mínimos, e aposentado tentou rediscutir a questão. Insistiu na
declarou a hipoteca judicial sobre os bens da tese de que os valores depositados na conta
empresa, no valor suficiente para garantia da conjunta eram benefícios de aposentadoria,
execução. Estudando para Analista por ser funcionário público estadual, e que os
Judiciário? Aumente suas créditos possuíam caráter alimentar.
De acordo com o Regional “recursos e chances com
mais recursos processuais retardam e até Mas a Primeira Turma acompanhou o
inibem a concretude da
jurisdicional”. Dessa forma, o TRT
tutela

entendeu que seria aplicável ao processo


GEAJU voto do relator, ministro Vieira de Mello
Filho, e negou provimento ao apelo.
Segundo o relator, o ato de penhora não
do trabalho, subsidiariamente, a regra do Direcionado aos concursos desrespeitou as garantias constitucionais
artigo 475-O do CPC, “impondo-se o do TRF, TRT e TRE do contraditório e da ampla defesa da
levantamento pelo empregado, a Saiba mais em parte (artigo 5º, LIV), nem o direito de
requerimento ou de ofício, da importância até www.geaju.com.br propriedade ou o princípio de que ninguém
o limite de 60 salários mínimos, porque se trata será privado de seus bens sem o devido
de crédito de natureza alimentar e o estado de processo legal (artigo 5º, XXII e LIV).
necessidade do empregado possui presunção
absoluta, pois essa sua condição está na estrutura do Direito do De acordo com o ministro Vieira, a jurisprudência do TST
Trabalho, de modo que negá-la é negar o próprio Direito do (conforme a Orientação Jurisprudencial nº 153 da Seção II de
Trabalho”. Dissídios Individuais) considera a conta corrente destinada ao
recebimento de salários impenhorável, nos termos do artigo
Incorformada com a decisão, a empresa recorreu ao TST, 649, IV, do CPC. Contudo, na hipótese examinada, não é
insurgindo-se, entre vários pontos, contra a declaração de possível aplicar esse dispositivo, na medida em que a conta
hipoteca judicial e a determinação de levantamento de depósito pertence também à sócia de empresa executada, não se
recursal pelo autor, alegando que estava na fase de destinando ao recebimento de verbas relativas ao trabalho do
conhecimento do processo e não havia nenhum pedido, nessa aposentado.
fase recursal, pela aplicação do artigo 475-O do CPC de forma
subsidiária. Na avaliação do relator, de fato, é irrelevante, como afirmou o
TRT, a discussão quanto à origem do dinheiro, pois os valores
A Oitava Turma não conheceu do recurso quanto aos outros de benefícios previdenciários ou de salários são
temas, examinando no mérito somente a questão de julgamento impenhoráveis até o momento em que a pessoa os deposita
extra petita do levantamento do depósito recursal, por violação em conta - depois esses valores perdem a natureza
dos artigos 128 e 460 do CPC, desautorizando o levantamento alimentar ou de salário e assumem a condição de valor de
do depósito recursal existente nos autos. Impedida, no investimento ou aplicação comum. O ministro Vieira observou
julgamento do processo, a ministra Maria Cristina Irigoyen ainda que a parte também não tem direito de reivindicar 50% do
Peduzzi. (RR - 5100-06.2009.5.03.0003 / Notícia: 17/01/2011) valor da conta corrente penhorado. (AIRR-229140-
84.2008.5.02.0018 / Notícia: 26/01/2011)

Primeira Turma não vê irregularidade em penhora de


conta conjunta

A pessoa que tem conta conjunta com sócio de empresa


executada pode sofrer penhora dos valores depositados. Pelo
entendimento unânime da Primeira Turma do Tribunal Superior

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