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Gestão Económica Inventário

Gestão de Stocks

1 Introdução

As mudanças do mundo empresarial desde meados dos anos 70, despertados pela
concorrência global e inovações tecnológicas, levaram a inovações surpreendentes na
utilização da informação financeira e não financeira nas empresas. Esta nova realidade
exige uma informação mais precisa sobre os custos e a forma de se proceder na
actividade económica.
Os stocks constituem um investimento muito significativo nas empresas. Este
investimento corresponde a uma fasquia do seu capital considerável que afecta
significativamente a sua rentabilidade, porém necessário. O objectivo será reduzir ao
máximo o stock sem provocar roturas. Quem determina o que se deve produzir e quanto
produzir nos dias de hoje é o consumidor.
O ideal será criar stocks que permitam satisfazer, total ou parcialmente a procura
existente. Deste modo, a função básica de um stock é ajustar o abastecimento à procura
para que o processo de abastecimento possa funcionar quando a taxa de procura, é
superior à taxa do fornecimento e que a procura possa ser satisfatória quando o processo
de fornecimento está inactivo.

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1.1 Classificação de Modelos de Stocks

1.1.1 Regular ou Independente

É a procura que oscila ao longo do tempo sempre em torno do mesmo valor médio.
Este modelo pode ainda ser subdividido em dois grupos:

- Modelos Determinísticos: modelos de tratamentos muitos simples em que tanto as


entradas como a procura são aproximadamente constantes

- Modelos Aleatórios: em que a entrada e procura apresentam variabilidade aleatória


significativa. Nestes modelos para que não haja roturas sempre que a procura exceda o
valor usual há que criar stocks de segurança, obviamente, quanto maior for o stock de
segurança, menor será o risco de rotura. No entanto isso é conseguido à custa de um
maior investimento em stock, e portanto, de um custo mais elevado. Tem que se
procurar o equilíbrio.

1.1.2.Procura Dependente

A procura dependente aparece frequentemente associada à situação de stocks


hierárquicos e procura irregular ao longo do tempo. A procura dos componentes
depende do plano de fabricação definido podendo variar fortemente de um período de
tempo para o outro.

1.2 Objectivos dos Modelos de Gestão de Stocks

As decisões relacionadas com a gestão de stocks referem-se à definição dos


seguintes parâmetros de gestão:
- Quando devem as encomendas serem colocadas;
-
Quanto encomendar de cada vez. Ou seja, a determinação da quantidade
encomendada Q.

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Em qualquer problema de decisão, a escolha de uma solução, de entre várias


alternativas possíveis, pressupõe a existência de um critério que permita comparar a
atractividade ou eficácia dessas alternativas.
O critério de minimização de custos é, sem dúvida o mais utilizado e será
adoptado aqui. Os modelos quantitativos de gestão de stocks apresentados, permitem
racionalizar as decisões tomadas nesta área adoptando soluções de equilíbrio entre:
- Alternativas que levam à acumulação de grandes stocks, com os consequentes
custos de posse elevados;
-
Alternativas que conduzem sistematicamente a rotura de stocks com as
consequências negativas de prestação de um mau serviço ao cliente.

Os modelos que vamos apresentar destinam-se ao tratamento independente de


cada um dos artigos do inventário. No entanto não nos podemos esquecer de que na
maioria das organizações existentes centenas ou milhares de artigos aos quais os
modelos desenvolvidos deverão ser aplicados. Isso impõe que os modelos sejam tão
simples quanto possível para que a estimação dos parâmetros necessários à sua
implantação seja realizável na prática. A existência de muitos artigos constitui um factor
de escala que vai transformar pequenas economias, que possam fazer pela gestão óptima
de cada um, em grandes economias potenciais para globalidade dos artigos em stock.
Porém, a existência de muitos artigos traz também restrições de recursos globais,
tais como espaço de armazenagem ou capital, ou poderão não ser satisfeitas pelos
parâmetros obtidos pela optimização individual de cada artigo.

1.3 Custos de Financiamento do Sistema de Gestão de Stocks

Os custos de um sistema de gestão de stocks têm uma importância fundamental na


determinação dos parâmetros óptimos de gestão. Os custos que influenciam a selecção
dos parâmetros são, claramente, apenas os que variam quando os parâmetros de gestão
variam. Os mais importantes são:

Custo de Aquisição (KA),

Representa simplesmente o custo das unidades compradas (quantidade Q x preço


unitário de aquisição Ca)

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Custo de Encomenda (Kl),

Resulta de vários factores e difere sensivelmente de um sistema para o outro. Neste


custo incluí-se os custos administrativos dos serviços de compras que fazem a
colocação e o acompanhamento das encomendas e os custos de recepção quantitativa,
qualitativa e classificativa (salários, amortização de equipamentos, economato,
comunicações, etc). O valor calculado é dividido pelo número de encomendas
(considerando entregas parcelares). Quando há encomendas ao mercado nacional e
mercado estrangeiro deve-se fazer a proporção. Este custo para o mercado nacional
anda entre os 15€ e 25€, no mercado estrangeiro entre 25€ e 75€, dependendo dos
mercados abastecedores. Serão referidos como custos fixos da colocação de uma
encomenda e representados por Cl.

Custos de Posse do Stock (Ks),

Incluídos neste custo estão os custos monetários directos tais como os custos de
seguros, impostos, quebras, roubos, renda ou amortização do armazém e outros custos
de funcionamento do armazém tais como; climatização, electricidade, mão-de-obra,
segurança, e o custo de oportunidade que nunca aparecerá num balanço contabilístico,
este é o custo que resulta de ter o capital investido em stock em vez de o ter investido
numa outra aplicação. Com todos estes custos são difíceis de avaliar exactamente,
assumiremos, como é habitual que os custos de posse de stock são iguais a uma
percentagem fixa do investimento em stock. Inclui também nos custos de posse o
custo de obsolescência. Esta taxa de posse (I) anda entre os 8% -12%. Na prática o
Cs=Taxa de posse * custo unitário. Com o curto ciclo de vida que tem actualmente
alguns produtos, este custo pode assumir valores muito elevados.

Custos de Rotura (Kr),

Ao considerar os custos de rotura devem ter-se em atenção duas situações: aquela


em que o cliente aguarda pela vinda dos artigos não existentes e necessários à satisfação
da sua encomenda - esta situação é normalmente denominada por carteira de encomenda
ou cliente cativo - e aquela em que, perante a rotura, o cliente desiste dos elementos
pretendidos é uma situação de vendas perdidas. O custo unitário de rotura por unidade
de tempo é dado por Cr

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1.4 Modelos Determinísticos

Dada a sua regularidade e previsibilidade, é de notar que para o caso em que a


procura e a entrada são determinísticos, as duas variáveis decisórias – quando e quanto
– se reduzem a uma só. De facto, ao fixar o intervalo de tempo entre encomendas fixa-
se também a quantidade a encomendar: esta será tal que satisfaça a procura durante
aquele período de tempo. Ou fixando a quantidade a encomendar, o intervalo entre
encomendas será o período de tempo necessário ao consumo da quantidade
encomendada. Esta condição de equilíbrio para o caso determinísticos pode ser
representada por:
Q = T × N ×θ (1)

Em que:
Q - quantidade encomendada
T - Intervalo de tempo entre encomendas (período de renovação de existências)
N- Procura por unidade de tempo de gestão(determinística)
θ – Período de Gestão (geralmente considera-se 1 ano, que corresponde a 365
dias ou a 52 semanas)

1.5 Reposição Instantânea; Penúria não Permitida

A taxa de procura, N, é considerada determinística e constante. A quantidade


encomendada, Q, é fornecida de uma forma instantânea e intervalos fixos de tempo, T.
O nível de existências varia entre um máximo de Q e 0, nunca se verificando, portanto,
situações de escassez ou penúria.
Para que a política de gestão de stocks fique completamente definida é necessário
definir Q ou T. Face ao critério adoptado Q (ou T) deve ser determinado de forma a
minimizar os custos de funcionamento do sistema.
Procura-se, pois, relacionar estas variáveis decisionais com os custos. Dado que o
nível de existências varia de forma cíclica, começar-se-á por desenvolver a análise para
um ciclo:

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Fig.1 Reposição Instantânea, Penúria não Permitida

Stock máximo = Q
Q
Stock médio =
2
N
Número de encomendas =
Q

Custo de Encomenda (Kl),

Estes custos são formados pelos custos fixos de uma encomenda vezes o número
de encomendas efectuadas no período de gestão.

Custos de Posse (Ks),

Caso se tivesse em stock apenas uma unidade do artigo durante todo o ciclo, o
custo de posse correspondente seria CsxT, onde, Cs representa o custo de manter em
stock uma unidade do artigo durante uma unidade de tempo. Para obter o custo total de
posse basta multiplicar o custo de posse de uma unidade pelo número médio de
unidades em stock durante o ciclo. Como o nível de existências varia entre Q e 0, o
Q
nível médio de existências é dado por , vindo para o custo de posse por ciclo.
2

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(2)

Q
Cs × ×T
2

De forma mais rigorosa podemos dizer que o custo de posse por ciclo é o produto
do custo unitário, Cs, pela área abaixo da curva de existências que, sendo um triângulo
Q
de base T e altura Q, é dada por T.
2
Note-se que, atendendo a que neste caso a penúria não é permitida, não há custo
de rotura. Deste modo, o custo total por ciclo, Kt, é dado por
(3)

Q
kT = Cl + C s × ×T
2

Nesta expressão não intervém o custo de aquisição do artigo (KA=NxCa), uma vez
que se admitiu nesta análise que o custo unitário de aquisição, Ca, é independente da
quantidade encomendada. Nestas condições, qualquer que seja a unidade de tempo
considerada, a quantidade a adquirir é sempre igual à procura nessa unidade de tempo
(N), e o custo correspondente será dado por NxCa. Daí a política de gestão de stocks
óptima ser insensível a este parâmetro. A situação será diversa, no entanto, se o custo
unitário depender da quantidade a encomendar ou variar com o fornecedor. Nesses
casos há que incluir a parcela do custo de aquisição quando se comparam soluções
alternativas.
Para que soluções alternativas possam ser comparadas é necessário reduzir o custo
total a uma mesma unidade de tempo. Para tal basta dividir a expressão anterior pela
duração do ciclo, obtendo-se o custo total por unidade de tempo,
(4)

Ct Cl Q
Kt = = + CS ×
T T 2

Q
Ou, atendendo a que T = ,
N
(5)

N Q
kT = × Cl + C S ×
Q 2

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Esta expressão relaciona o custo total por unidade de tempo, K, com a variável
decisória Q. Se pretendermos determinar o valor desta que minimiza o custo, basta
calcular a derivada de K em ordem a Q e igualá-la a zero:
(6)

dKT NxC Cs
=− 2l + =0
dQ Q 2

(7)

2 × Cl × N
Q0 =
Cs

Q0 é o valor óptimo da quantidade a encomendar, isto é, aquele que minimiza os


custos totais de funcionamento.

Exemplo Prático:

Considere-se um problema ilustrativo do modelo desenvolvido com os seguintes


parâmetros: (Compra de tecido em metros)
Procura anual: N= 12000 m / ano
Custo unitário de aquisição: Ca = 20€ / m
Custo fixo de encomenda: Cl = 15€
Custo unitário de posse: Cs = 10% de Ca por ano = 2€ / m por ano

Resolução:

Cálculo do custo anual do sistema para diferentes valores de Q


12000 Q
Kt = × 15 + 2 × €/ano
Q 2

Se decidir colocar uma encomenda por mês tem-se Q = 1000 m, T = 1 mês e um


número de encomendas anual dado por N/Q, ou seja, 10. Por sua vez, o stock médio ao
longo de todo o ano será dado por Q/2 = 500m, variando as existências entre 1000 e 0.

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Se calcular a quantidade óptima de encomenda obtém-se:


2 × Cl × N 2 × 15 × 12000
Q0 = = ≅ 425m
Cs 2

A que corresponde um ciclo com comprimento igual a:


Q0 425
T* = = = 0,0352 anos = 0,0352 × 12 = 0,425 × 30 ≅ 13 dias
N 12000
E um custo mínimo de
15 × 12000 425
K* = + 2× = 848,53 €/ano
425 2

Apresenta-se na tabela seguinte os custos associados a outros valores de Q.


Repare-se que à medida que Q aumenta, o custo administrativo de colocar a encomenda
Cl × N
( ) diminui, já que o número de encomendas também diminui. O contrário se
Q
passa com o custo de posse que aumenta com Q. Repare-se para valores de Q próximos
do valor óptimo (Q= 400; Q = 500) K é apenas ligeiramente superior ao custo mínimo, e
que para valores de Q muito baixos ou muito altos K sobe rapidamente.
Na última coluna da tabela apresenta-se o custo de aquisição anual do material
C a × N , não incluído no modelo, verificando-se que esse valor é sempre igual a

240000€. De facto, o gestor de stocks tem de comprar anualmente os 12000m


necessários para satisfazer as necessidades que resultam do planeamento da actividade
da empresa, não lhe cabendo tomar decisões neste domínio. A decisão do gestor de
stocks situa-se ao nível de quanto comprar de cada vez. Isto é, ele pode decidir comprar
os 12000 m de uma só vez, mantendo existências médias muito elevadas, ou comprar
uma vez por mês, ou uma vez por semana, etc. Esta decisão não afecta o custo do
material comprado, já que se admitiu que o preço unitário de aquisição é fixo e
independente da quantidade encomendada, afectando apenas os custos administrativos
da encomenda e o custo de posse.

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Custo anual em função de Q para o modelo do lote óptimo


T (meses) Q (m) Cl × N Cs × Q €/ano (k) Ca × N
Q 2
(€/ano)
¼ 250 750 250 1000 240000
½ 500 360 500 860 240000
1 1000 180 1000 1180 240000
2 2000 90 2000 2090 240000
3 3000 60 3000 3060 240000
6 6000 30 6000 6030 240000

A inclusão do custo de aquisição do material, em K, uma parcela que, em


condições normais, é constante e muito mais elevada do que as restantes, esconderia os
benefícios de uma política óptima de gestão de stocks. Compare-se a título de exemplo:

Q = 6000 m K = 6030€ Q = 6000 m K + Ca × N = 246030€


Q0 =425 m K = 849€ Q0 =425 m K + Ca × N = 240849€

Poupança = 5181€ (86%) Poupança = 4181€ (2,1%)

No primeiro caso a poupança surge como muito significativa. No segundo,


embora igual, representando apenas 2,1% do total, surge como insignificante.

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Fig.2 Variação dos custos com Q para o modelo do lote óptimo

Custo por
unidade
de tempo K

Custo Total

K*
Custo de posse

Custo de encomenda

Q0 Quantidade a encomendar Q

Representa-se na figura um andamento típico da curva dos custos totais por


unidade de tempo, K, em função de Q, bem como as curvas dos custos parcelares
associados às encomendas e à posse do stock. Pode observar-se que:
i) A curva dos custos associados à colocação das encomendas é uma
função (não linear) decrescente com a quantidade a encomendar.
Quanto maior for o Q menor será o número de encomendas a
efectuar num mesmo período de tempo e, portanto, mesmo
frequentemente se incorrerá na despesa fixa associada a cada
encomenda;
ii) A curva dos custos de posse é uma função (linear) crescente com a
quantidade a encomendar. De facto, quanto maior for Q, maior será
também o nível médio de existências, e mais elevados, portanto, os
custos de manutenção desse stock;
iii) A curva dos custos totais é uma função convexa com um mínimo
(lote óptimo). Pode, portanto, dizer-se que esta expressão encontra
um balanço harmonioso entre investimento em stock e despesas
associadas à colocação e ao processamento de encomendas .

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1.7 Reposição Instantânea; Penúria Permitida

Considera-se agora a situação representada na figura 3, que difere da anterior por


ser admitida penúria. Admita-se que a procura que ocorre quando não há existências não
é perdida, passando a constituir uma carteira da encomendas que será satisfeita quando a
nova encomenda chegar. Por esta razão, a relação Q = T × N continua a ser válida neste
modelo. Repare-se que se passa a ter duas variáveis decisórias, Q e S a carteira de
encomendas acumulada no período de penúria.
Este modelo corresponde a uma situação em que as empresas só lançam uma
encomenda quando já têm em carteira um número razoável de pedidos de clientes que
só poderão ser fornecidos aquando da chegada dessa encomenda.

Fig.3 Reposição Instantânea, Penúria Permitida

Custo de encomenda: A
Custo de posse: este custo incide apenas sobre níveis de existências médio é
(Q − S ) . O custo de posse por ciclo baseia-se na área do triângulo de base T1 (de
2
acordo com o teorema de Talles) sendo dada por:
(9)

Cs ×
(Q − S ) × T
1
2

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Custo de rotura: admita-se que os custos de rotura são proporcionais às unidades


em falta e ao tempo de penúria. Cr representa o custo unitário de rotura, o número
S
médio de unidades em falta é . O custo de rotura por ciclo baseia-se na área do
2
triângulo de base T2 sendo dado por:
(10)

S
Cr × × T2
2

Deste modo, o custo total por ciclo é dado por:

(11)

K T = Cl ×
N
+ Cs ×
(Q − S ) × T + C × S × T
1 r 2
Q 2 2
Da figura 3 que T1 é o período que demora a consumir (Q – S) unidades, e T2 é o
período de tempo que leva a acumular uma carteira de encomendas S, à taxa de
consumo N:
(12)

T1 =
(Q − S )
N
(13)

S
T2 =
N

Substituindo T1 e T2, obtém-se


(14)

N
K T = Cl × + C s ×
(Q − S ) + C × S 2
2

2× N 2× N
r
Q

O custo total por unidade de tempo T é dada por


(15)

K = Cl ×
N
+ Cs ×
(Q − S ) + C × S 2
2

2× N ×T 2 × N ×T
r
Q

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Q
Ou, atendendo a que T = ,
N
(16)

N
K T = Cl × + C s ×
(Q − S)
2
+ Cr ×
S2
Q 2×Q 2×Q

Note-se que neste caso tem-se duas variáveis decisórias, Q e S. Aplicando


derivadas parciais e igualando a zero obtém-se o sistema de equações
(17)

∂K 2 × Cl × N C r × S 2
=0 Q2 = + + S2
∂Q Cs Cs

(18)

∂K  C + Cr 
=0 Q =  s  × S
∂S  Cs 

Este sistema, para Cr ≠ 0, tem raízes


(19)

2 × Cl × N C
Q* = × 1+ s
Cs Cr

(20)

1
S * = 2 × Cl × N × C s ×
C r × (C s + C r )

Note-se que quando o custo unitário de rotura Cr→ ∞ o segundo termo de S*


tende para 0, vindo S* = 0. Isto é, caímos no caso de penúria não permitida.
Simultaneamente, quando Cr → ∞, o segundo termo da expressão Q* tende para 1, e a
quantidade óptima de encomenda tende para a solução encontrada no caso anterior.
Substituindo os valores óptimos de Q e S em (16) obtém-se a expressão do custo
mínimo

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(21)

Cr
K * = 2 × Cl × N × C s × 1 +
Cs
Note-se que comparando esta expressão do custo mínimo com a obtida para o
modelo em que a penúria não é permitida se pode concluir que nos casos de penúria
permitida o custo mínimo será sempre inferior. Os dois custos tendem a igualar-se
quando o custo de rotura Cr tende para ∞.
Na prática, quando o custo de rotura é elevado, o óptimo corresponde a um valor
de S muito baixo o que equivale, de facto, a não haver rotura.

1.8 Reposição Não Instantânea; Penúria Não Permitida

Enquanto nos casos anteriores a reposição do stock era instantânea, para o caso
presente existe uma taxa de fornecimento finita, havendo, portanto, um período de
tempo significativo que decorre desde o início até à conclusão da entrega da
encomenda.
Esta situação ocorre frequentemente quando o stock é alimentado por produção
própria da empresa, e daí designar-se usualmente a taxa de fornecimento por taxa de
produção, que representamos por p.
Note-se que neste caso, e ao contrário dos anteriores, o nível das existências
máximo, M, não vem igual à quantidade encomendada. De facto, a quantidade
encomendada corresponde à produção total durante o período T1 (dada por pT1), mas
como durante este mesmo período, T1, há consumo (dado por rT1), o nível das
existências no final do período de produção é dado pela produção total menos o
consumo durante esse mesmo período.
(22)

M = Q – r T1
(23)

M = Q – r(Q/p)
(24)

M = Q 1 – r_
p

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Repare-se que uma vez determinado M ou Q o outro valor fica automaticamente


definido, pelo que se está perante um modelo com uma só variável decisória.

Fig.4 Reposição Não Instantânea, Penúria Não Permitida

Durante o período T2 há apenas consumo, pelo que


(25)

T2 = M = Q 1 – r_
r r p

Custo de encomenda : A

Note-se que neste caso o custo fixo de encomenda inclui, para além dos custos
administrativos, os custos de arranque de produção. Estes custos cobrem, entre outros,
as adaptações exigidas pelo processo produtivo, a preparação das máquinas e as peças
defeituosas produzidas de início;

Custo de posse:

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O nível médio de existências é M/2, pelo que o custo de manter esta quantidade
durante um ciclo baseia-se na área do triângulo de base T.

(26)

C2 M T
2

Desta forma,
(27)

CT = A + C2 M T
2

O custo total por unidade de tempo é


(28)

K = CT = A + C2 M
T T 2

Ou, atendendo a que T = (Q/r) e M é dado por


(29)

K = A2 + C2 1 – r Q
Q 2 p

Derivando em ordem a Q e igualando a zero obtém-se


(30)

2 Ar • p_
Q* =
C2 p-r

Quando a taxa de produção p tende para ∞ o segundo termo (30) tende para 1, e a
quantidade óptima a encomendar tende para a solução do caso da reposição instantânea,
como não podia deixar de ser.

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Exemplo:

Uma empresa produz um dado artigo com uma taxa de 1050 unidades por semana.
As estimativas dos custos de posse do stock (por unidade e ano) e do custo fixo de
lançamento da produção são de 1200€ e 75000€ respectivamente. A procura semanal é,
em média, de 700 unidades, e a empresa desejaria evitar rotura para valores médios da
procura. À empresa foram propostas duas políticas de gestão alternativas, G1 e G2:

G1 – Produzir até atingir um nível máximo de existências de 700 unidades com


fases de produção espaçadas de 1 semana.

G2 – Produzir até atingir um nível máximo de existências de 1400 unidades com


fases de produção espaçadas de 14 dias.

Pretende-se saber qual das duas políticas é mais favorável e se existirá uma
política preferível àquelas duas.

G1

T1 = (M / p-r) = (700 / 350) = 2 semanas

T2 = (M / r) = (700 / 750) = 1 semana

Q = (T2 + T2)r = 3 x 700 = 2100 unidades

G2

T1 = (1400 / 350) = 4 semanas

T2 = (1400 / 700) = 2 semanas

Q = 6 x 700 = 4200 unidades

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Utilizando a expressão (28), e convertendo p e r a valores anuais, obtemos o custo


anual das duas políticas:

K(G1) = 75000 x 36400 + 1200 x 700


2100 2

K(G1) = 1720000 €/ano

K(G2) = 75000 x 36400 + 1200 x 1400


4200 2

K(G2) = 1490000 €/ano

Política óptima

Q* = 2 x75000 x 36400 • ___54600____ = 3695 unidades


1200 54600 - 36400

M* = 3695 1 - 36400 = 1232 unidades


54600

K* = 75000 x 36400 + 1200 x 1232 = 1478036 €/ano


3695 2

Verifica-se que, em termos de custos anuais, a política G2 pouco difere da política


óptima, pelo que poderá ser adoptada pela empresa caso seja mais atraente, em termos
operacionais, do que a política óptima.

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1.9 Descontos de Quantidade

Os modelos desenvolvidos até aqui assumiram sempre o preço independentemente


da quantidade encomendada de cada vez. No entanto, os fornecedores oferecem
frequentemente descontos para encorajar as compras de maiores quantidades. Estas são
mais atraentes por diminuírem os seus próprios custos de stock, deslocando os stocks
mais para a frente na cadeia logística, e por diminuírem potencialmente os custos de
transporte frequente a cargo do fornecedor.
Considere-se agora uma estrutura de descontos com três patamares a que
corresponde os preços P1, P2, e P3, representando-se por Q a quantidade adquirida em
cada encomenda:

P1 0 < Q < Q1
Preço (P) = P2 Q1 ≤ Q < Q2
P3 Q ≥ Q2

O custo total, anual, do sistema de gestão de stocks de aquisição do material,


designado aqui por (KTOT), para o modelo de reposição instantânea, penúria não
permitida, será dada por:
(31)

KTOT (Q, P) = K + Pr.

Substituindo K pela expressão (5) vem:


(32)

KTOT (Q, P) = Ar + Pr. C2 Q


Q 2

O valor de C2 é usualmente função do preço de compra. Contudo, a diferença é


sempre tão pequena que, em termos práticos, não leva a alterações na solução óptima,
pelo que se admitiu que C2 é constante.
Esta função, representada na figura 5, tem três ramos conforme o valor de P e o
respectivo domínio de validade. No caso representado torna-se óbvio que o valor de Q*

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determinado pela expressão do lote óptimo é independente de P e que a solução óptima


(KTOT mínimo) corresponderia a comprar em lotes de Q2 unidades , já que o lote
óptimo Q* não é uma solução possível ao preço P3. No entanto, esta conclusão não é
generalizável.
A resolução do problema implica sempre o cálculo de Q* = 2 Ar / C2 , que é
independente de P, já que admite-se que C2 é constante. Seguidamente deve verificar-se
qual o preço de P* a que esta quantidade Q* pode ser comparada e qual o custo total
que lhe corresponde, KTOT (Q*, P*). Se P* for o menor preço, neste caso P3, a solução
óptima corresponde a Q*. Quando isto não se verifica, as únicas soluções
potencialmente melhores correspondem às quantidades mínimas a preços mais baixos.
Estes valores de KTOT têm de ser calculados para seleccionar a melhor política.

Fig.5 Evolução dos Custos de Gestão de Stock: Descontos de Quantidade

Exemplo:
Consumo: 10000 unidades / ano
Custo unitário: 3100€ / unidade Q < 2000
3000€ / unidade 2000 ≤ Q < 5000
2900€ / unidade Q ≥ 5000
Custo fixo da encomenda: 15000€
Custo de posse: 20% do custo unitário ao ano (admita-se C2 = 600€ / unidade, ano).

O algoritmo de cálculo segue os seguintes passos:

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1º Passo:

Determinar Q*:

Q* = 2 x 15000 x 10000 = 707


600

2º Passo:

Determinar o preço de compra correspondente P* e KTOT (Q*, P*)

P* = 3100€/unidade (preço mais elevado)

KTOT (707, 3100) = 15000 x 10000 + 3100 x 10000 + 600 x 707


707 2

KTOT (707, 3100) = 31424264€

3º Passo:

Determinar KTOT para as quantidades mínimas correspondentes aos preços de 3100 e


2900€/unidade:

KTOT (2000, 3000) = 30675 000 (redução de 2,4% em relação a Q*)

KTOT (5000, 2900) = 30530000 (redução de 2,8% em relação a Q*)

Neste caso a solução óptima corresponderia a encomendar 5000 unidades de cada vez,
em vez das 707 recomendadas pela expressão do lote óptimo.

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1.10 Modelos Estocásticos

Veja-se agora os casos em que as variáveis são aleatórias que são afectadas por:
i) Flutuações (aleatórias) da procura;
ii) Flutuações (aleatórias) do tempo de reposição do stock, ou seja, do
tempo que decorre entre a colocação da encomenda, para abastecimento
do stock, e a entrada do material em armazém, pronto a ser consumido.

1.11 Políticas de Stockagem

O sistema de gestão de stocks deve adaptar-se automaticamente às flutuações da


procura variando o tempo entre as encomendas ou variando quantidade a encomendar.
Estas duas possibilidades caracterizam os dois grandes grupos de políticas de gestão de
stocks descritas abaixo.
Assim, para a política do nível de encomenda a quantidade a encomendar é fixa, e
o instante em que a encomenda é colocada é determinado pelas flutuações da procura.
Para a política de revisão cíclica, pelo contrário, o intervalo de tempo entre encomendas
é fixo e a quantidade a encomendar varia com as flutuações da procura.

Política do nível de encomenda:

Uma encomenda é colocada sempre que o stock desce até um nível prefixado – M,
o ponto de encomenda. Conforme a procura é maior ou menor, assim este ponto se
atinge mais ou menos rapidamente.

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Fig.6 Política do Nível de Encomenda

Política de revisão cíclica:

As encomendas são colocadas a intervalos fixos de tempo sendo variável a


quantidade a encomendar, calculada de forma a elevar o stock-em-mão mais a
encomenda até um nível máximo M.

Quer uma política quer a outra são normalmente criados stocks de segurança, que
servem para proteger o sistema contra o tempo de reposição ou procuras superiores ao
usual.
Existem ainda políticas mistas que incorporam elementos das duas acima
indicadas.
Note-se que a política do nível de encomendas requer um conhecimento contínuo
das existências, o que implica um controlo apertado de todos os movimentos. Na
política da revisão cíclica, pelo contrário, e uma vez que o stock é inspeccionado apenas
a intervalos regulares de tempo, não é necessário controlar o sistema entre estes
instantes.

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Fig.7 Política de Revisão Cíclica

(T – duração do ciclo; t – tempo de reposição)

A escolha da política operativa tem normalmente mais a ver com as características


operacionais do sistema do que com considerações económicas de minimização de
custos.
A política de revisão cíclica, como se verá, leva à existência de maiores stocks de
segurança para o mesmo nível de serviço, sendo normalmente utilizado, por razões
meramente operacionais, em situações em que a encomenda de vários artigos ocorre
simultaneamente. É o caso típico do pequeno supermercado que coloca encomendas,
semanalmente ou com outra periodicidade, no dia da visita dos vendedores.
Como a política do nível de encomenda é a mais vulgarizada na maioria das
empresas industriais e comerciais.

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