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Hegel X Kant I
Hegel X Kant I
Filosóficas, §§40-46
(texto em construção)
Muito embora Kant tenha sido responsável por uma grande reviravolta no pensamento
filosófico desde a aparição da segunda edição da Crítica da Razão Pura, Hegel dirá que
uma das suas faltas graves será ter permanecido preso ao entendimento. E, dentre outras
coisas isso significará alegar que Kant reduz o conhecimento à percepção de fenômenos
os quais não se pode conhecer a essência, ou seja, o em-si. Além disso, Kant também é
acusado por Hegel, em virtude da construção do seu próprio pensamento, de ter caído
vítima de uma identidade abstrata à qual se reduz os universais. E, outra critica feita à
Kant por Hegel trata-se daquele ter maltratado os conceitos de Idéia e Razão, reduzindo-
os em virtude do conteúdo idealístico-subjetivo da Crítica da Razão pura à simples
determinações do entendimento.
Parte do conteúdo da crítica ao pensamento de Kant feita por Hegel será feita nos
parágrafos que se seguem. Todavia faz-se necessário ressaltar que tal crítica não é de
todo negativa, trazendo argumentos a favor dos avanços propostos à filosofia pelo
pensamento transcendental. Basta dizer que foi graças à Kant que se passou a observar
que o pensamento não é governado pelo seu objeto, mas o contrário. A tal asserção dá-
se o nome de giro copernicano. Esta revolução na maneira de se filosofar foi anunciada
por Kant na introdução à Crítica da Razão Pura, quando ele diz que a metafísica poderia
tentar algo semelhante ao que conseguiu as ciências particulares em relação à intuição
dos objetos. Quer dizer, a intuição não deve ser regulada pela natureza dos objetos, pois
assim seria impossível se conhecer algo a priori sobre a última. E, para que se venha a
conhecer a natureza dos objetos deve-se inverter o paradigma do pensamento e postular
que o objeto deve ser regulado pela natureza da intuição.
Mas, se para Kant o conhecimento da natureza dos objetos parte da nossa intuição e não
dos objetos mesmos, pois a intuição não possui prerrogativas que nos levem ao
conhecimento do em-si desses objetos, e, portanto somos apenas capazes de conhecer
fenômenos através de formas fundamentais de percepção, ou seja, tempo e espaço;
restando-nos apenas conhecer os fenômenos através da experiência. Logo, nós enquanto
finitos não podemos falar de conhecimento a priori ou anterior à experiência. Pois, tal
conhecimento anterior à experiência, expresso através de juízos sintéticos a priori, seria
apenas alcançado pela razão. Pois segundo Hegel, interpretando Kant, esta teria por
objeto o infinito e o incondicionado. Significando o eu abstrato do pensar, em
contraposição ao entendimento que teria por objeto o finito e o condicionado, ou seja,
aquilo que se pode conhecer pela experiência.
E, qual seria para Hegel o maior problema com a razão enquanto eu abstrato do pensar?
Ela ainda será entendimento na medida em que separa finitude de infinitude,
condicionado de incondicionado. E, conseqüentemente reduz este último a uma
identidade abstrata consigo que exclui toda e qualquer diferença. Ora, no idealismo
absoluto de Hegel a finitude, bem como a diferença não são outra coisa que momentos
da infinitude e da identidade, respectivamente. Daí porque Hegel nos diz que a Idéia é o
que há de mais concreto, pois ela é o conceito mais a sua efetivação. E, toda efetivação
de algo carrega suprassumido consigo o seu oposto. E, por isso a identidade será a
identidade da identidade com a não identidade.
Por último, segundo Hegel, Kant irá permanecer no idealismo subjetivo. Ou seja, se ao
que nos é dado a conhecer são fenômenos e esses não encontram as suas essências em si
mesmos, mas num outro. Logo os fenômenos seriam apenas para-nós ao que se
demonstra dessa maneira que assim todo conhecimento objetivo seria sempre e apenas
um conhecimento subjetivo de algo.