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Tese de Doutorado
Rio de Janeiro
Agosto de 2008
Doris Clara Kosminsky
Ficha Catalográfica
CDD: 700
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
Palavras-chave
Design; olhar; cultura visual; modernidade; modernização; tecnologia.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
Abstract
Key-words
Design, vision, visual culture, modernity, modernization, technology.
Sumário
1. Introdução 31
<http://www.newseum.org/berlinwall/commissar_vanishes/7_8.htm> (26/11/06). 76
Figura 27. Fotografia de 1940. Stalin, acompanhado do jovem comissário
Nikolai Yezhov, removido da fotografia à direita. Imagens obtidas no
site Newseum, the interactive museum of news. . Disponível em:
<http://www.newseum.org/berlinwall/commissar_vanishes/1_2.htm> (26/11/06). 76
Figura 28. Fotos de Evgen Bavcar . . Disponível em: <http://www.fotografya.gen.tr/issue-
9/index.html e http://www.elpais.es/suple/eps/?d_date=20060416> (1/08/06). 77
Figura 29. Andreas Vesalius De humani corporis fabrica libri septem.
Basileae : Ex officina. Oporini, 1543. 80
Figura 30. Página do livro. Andreas Vesalius. De humani corporis fabrica
libri septem. Basileae : Ex officina I. Oporini, 1543.
Copyright © 2006 University of Leeds Library/ 80
Figura 31. Câmera escura de Sir Joshua Reynolds, manufaturada na
Inglaterra entre 1760-1780. Retirado de Science & Society Picture Library,
<http://www.scienceandsociety.co.uk> (29/08/06). 85
Figura 32. Mesmo modelo da figura anterior, fechado. Retirado
<http://www.scienceandsociety.co.uk> (29/08/06). 85
Figura 33. Figura de Ars Magna Lucis Et Umbrae, por Athanasius Kircher
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Figura 35. Câmera escura portátil. Istituto e Museo di Storia della Scienza.
Retirado de <http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=100063> 27/0806). 87
Figura 36. Câmera escura 1770-1775. Encyclopedie Raisonnèe des
Sciences, des Arts et des Metiers. . Disponível em:
<http://www.kunstogdesign.no/camera_obscu.html> 27/0806). 87
Figura 37. Ilustração do telescópio gráfico e seus principios óticos. Do
Magazine of Science, And School of Arts, 1840. Whipple
Museum of the History of Science, University of Cambridge.
Disponível em:<http://www.hps.cam.ac.uk/whipple/explore/astronomy/
artandastronomy/graphictelescope/> (29/08/06). 89
Figura 38. Diagrama da câmera lucida, que permitia cópia à luz do dia.
Inventado por W. H. Wollaston em 1806. Disponível em:
<http://www.scienceandsociety.co.uk> (29/08/06). 89
Figura 39. Espelho de Claude. Inglaterra, século XVIII. Retirado de Victoria and
Albert Museum: <http://www.vam.ac.uk> (29/08/06). 89
Figura 40. Ilustração do século XIX. Duas crianças olham uma imagem
projetada pela câmera escura. De E. Atkinson's, Natural
Philosophy. Retirado de <http://www.scienceandsociety.co.uk> (29/08/06). 90
Figura 41. Claude Lorraine Glass. Em PIKE, Benjamin Jr: Pike's Illustrated
Descriptive Catalogue of Optical, Mathematical and
Philosophical Instruments. Gravuras dos aparatos vendidos
pelo autor, com os preços dos produtos. New York 1856
Retirado de <http://vision.mpiwg-berlin.mpg.de/vision_coll/elib/claudeglass> (29/08/06). 90
Figura 42. Prospecto de anúncio de câmera escura, cerca de 1819.
Retirado de <http://www.scienceandsociety.co.uk> (29/08/06). 90
Figura 43. Um centenário científico. Faraday (de volta). "Muito bem,
Senhorita Ciência! Meus parabéns! Você conseguiu um
progresso maravilhoso desde o meu tempo!" Punch, or The
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Figura 55. A cidade, 1919. Fernand Léger. Óleo sobre tela. Philadelphia
Museum of Art. 126
Figura 56. Manufatura com trabalhadoras mulheres na seção de
polimento de penas para canetas. Illustrated London News,
1851. <http://www.victoriantimes.org> (4/06/07) 127
Figura 57. Imagem ilustrativa de um debate 127
Figura 58. Interior de fábrica com tear mecânico.
Illustrated London News, 1844. 127
Figura 59. “Capital e Trabalho”. “O capitalista vive paparicado
enquanto, abaixo dele, os trabalhadores labutam em
terríveis condições”. 127
Figura 60. Excursão esperando pelo trem. The Illustrated London News,
4 de setembro de 1880. The Illustrated London News Picture
Library. <http://www.ilnpictures.co.uk> (17/09/07) 129
Figura 61. Movimentação de bagagens na plataforma de trens. The
Illustrated London News, 6 de junho de 1846. The Illustrated
London News Picture Library. <http://www.ilnpictures.co.uk> (17/09/07) 129
Figura 62. Pai Tamisa (Father Thames) apresenta sua descendência à
formosa cidade de Londres. Punch, or The London Charivari, 3
de julho de 1858. <http://www.victoriantimes.org> (8/08/08). 130
Figura 63. E. Hull. Obras de represamento do Tamisa entre a ponte
Charing Cross e Westminster, 1865. Museum of London.
In: NEAD, Lynda. Victorian Babylon. People, streets and images
in nineteenth-century London. New Haven & London: Yale
University Press, 2000. p. 54. 132
Figura 64. Seção do represamento do Tamisa mostrando (1) o metrô,
(2) os esgotos, (3) Ferrovia Metropolitana e (4) Ferrovia
Pneumática. Illustrated London News, 22 de junho de 1867.
<http://www.old-print.com> (8/08/08) 132
Figura 65. Mapeamento oficial da cidade de Londres e seus arredores
(Skeleton Ordnance Survey of London), 1851. Folha 20,
metade direita. 66 x 97,5 cm. Sourthampton: Ordnance Map
Office, 1851. NEAD, Lynda. Victorian Babylon. People, streets
and images in nineteenth-century London. New Haven &
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impressão fotográfica, 1855. The British Library Board. Disponível em: 237
Figura 158. Conjunto de esculturas. Palácio de Cristal. Philip Henry
Delamotte, imp. fotográfica, 1855. The British Library Board. Disponível em:
<http://www.collectbritain.co.uk/> (17/03/08) 237
Figura 159. Palácio de Cristal. Philip Henry Delamotte, impressão
fotográfica, 1855. The British Library Board. Disponível em: 237
Figura 160. Detalhe da Figura 159 237
Figura 161. O transepto central. Palácio de Cristal. Philip Henry
Delamotte, impressão fotográfica, 1855. The British Library Board.
Disponível em: <http://www.collectbritain.co.uk/> (17/03/08) 238
Figura 162. All the World Going to See the Great Exhibition of 1851,
George Cruikshank (1792-1878), 1851. Disponível em:
<http://www.museumoflondon.org.uk/archive/exhibits> (3/06/07). 240
Figura 163. Agricultores na Exibição. In: The Illustrated London News
(19 July 1851): 101. Disponível em: The Victorian Web
<http://www.victorianweb.org/> (22/03/08) 240
Figura 164. Londres em 1851. The Great Exhibition. John Johnson
Collection. Bodleian Library. University of Oxford.
Disponível em: <http://www.bodley.ox.ac.uk/johnson/exhibition> (21/06/07) 241
Figura 165. Manchester em 1851. The Great Exhibition. John Johnson
Collection. Bodleian Library. University of Oxford.
Disponível em: <http://www.bodley.ox.ac.uk/johnson/exhibition> (21/06/07) 241
Figura 166. “Quadro feito a bico de agulha...” Recordações da Exposição
Nacional de 1861. Reprodução do álbum de 1861. Rio de
Janeiro: Confraria dos Amigos do Livro, 1977. 246
Figura 167. O Brasil na Exposição Internacional de Londres. Recordações
da Exposição Nacional de 1861. Reprodução do álbum de
1861. Rio de Janeiro: Confraria dos Amigos do Livro, 1977. 246
Figura 168. Pavilhão do Brasil no Campo de Marte e Torre Eiffel.
Exposição Universal de Pariz. 1889. Exposição Brazileira.
Álbum da Coleção Iconográfica. Palácio do Itamaraty,
Rio de Janeiro. 248
Figura 169. Vitória Régia. Pavilhão do Brasil. Exposição Universal de
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W. J. T. Mitchell
The innocent eye is blind
O OLHAR INOCENTE É CEGO 31
1.
Introdução
1
KOSMINSKY, Doris. A imagem da notícia: panorama gráfico do telejornal brasileiro. Análise dos selos do
Jornal Nacional. Orientador: Luiz Antonio Coelho. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 2004. Dissertação.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 32
2
Para Bourdieu, habitus são estruturas mentais de percepção, através das quais os agentes apreendem e
interiorizam o mundo social. As pessoas não vivem suas vidas de acordo com tomadas de decisões livres, mas
ao contrário, se encontram submetidas às limitações do habitus e das condições objetivas do campo social.
Assim, o habitus tende a reproduzir o sistema de condições onde é produzido. Não se trata simplesmente da
ação e produção de práticas, mas, também, de um sistema de percepções e apreciações - conscientes e
inconscientes - dessas práticas. Em outras palavras, as práticas convencionais são construídas socialmente,
mas elas não são coerções exteriores aos sujeitos. Ao contrário, elas são desenvolvidas, ensinadas,
aprendidas, codificadas e decodificadas dentro de um determinado ambiente social. Seus co-autores
obedecem aos seus desígnios coletivamente ao mesmo tempo em que têm o poder de rejeitá-las ou
transformá-las. Ver BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Editora Perspectiva:
2004 e O poder simbólico. São Paulo, Editora Bertrand Brasil: 2005.
3
SCHORSKE, C. E. Viena fin-de-siècle. Política e cultura. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p. 13.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 33
4
Ibid., p.5.
5
CRARY, Jonathan. Suspensions of perception: attention, spectacle and modern culture. Massachusetts: The
MIT Press, 2000.
6
Victor Fournel, Ce qu’on voit dans les rues de Paris (O Que se Vê nas Ruas de Paris), Paris, 1858, p. 263,
(L’odyssée d’um flâneur dans les rues de Paris)”. In: BENJAMIN, Walter. O flâneur. Obras escolhidas III.
Charle Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. 3ª edição. 2ª reimpressão.
p. 202.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 34
7
CRARY, Jonathan. Géricault, the Panorama, and Sites of Reality in the Early Nineteenth Century : Grey
Room (New York), v. 9, p. 5-25, Fall 2002.
8
Ibid., p. 8.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 35
9
Ibid., p. 11.
10
CLARK, T. J. A pintura da vida moderna: Paris na arte de Manet e de seus seguidores. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004. p. 22.
11
Ibid., p. 19.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 36
12
SANTAELLA, Lucia. Comunicação e Pesquisa. São Paulo: Hacker Editores, 2001. p. 147.
13
CHIZZOTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991. p. 9 apud
SANTAELLA, L. op. cit., p. 143.
14
SANTAELLA, L. op. cit., p. 143.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 37
15
ROSE, Gillian. Visual Methodologies. London: Sagge Publications, 2001. p. 11-12.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 38
16
BIRAN, Maine de. Influence de l’habitude sur la faculté de penser [1803]. Paris: Ed. P. Tisserand, 1953,
pp. 56-60. apud CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: on vision and modernity in the nineteenth
century. Massachusetts: The MIT Press, 1992. p. 73.
17
CRARY, J. op. cit., p. 149.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 39
2.
O olhar ciclópico e a verdade da imagem
18
CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: on vision and modernity in the nineteenth century.
Massachusetts: The MIT Press, 1992. p. 6.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 42
19
KEMP, Martin em carta para o autor. HOCKNEY, David. O conhecimento secreto – redescobrindo as
técnicas perdidas dos grandes mestres. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. p. 232.
20
ARENDT, Hanna. A condição humana. Rio de Janeiro e São Paulo: Editora Forense Universitária, 2005. p.
285.
21
Ibid., p.271.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 43
olhar? Em sua deleitável história das listras, Michel Pastoureau levanta a hipótese
de que o caráter depreciativo e pejorativo em relação às listras, identificado em
documentos a partir do século XII, poderia ser justificado por alguma
problemática visual22. De acordo com esta hipótese, a sensibilidade do homem da
Idade Média era abalada pela aparência de uma estrutura onde figura e fundo
pareciam indistinguíveis - o que provavelmente acontecia na observação de
tecidos listrados. Para Pastoureau, o olho medieval era particularmente “atento à
leitura por planos”: toda imagem lhe parecia como que recortada em camadas,
dando a idéia de uma superposição de planos sucessivos. Assim, uma figura era
observada pelo homem medieval a partir do plano de fundo; o olhar atravessaria
todos os planos sucessivos e intermediários para terminar no plano frontal. Este
modo de olhar o ambiente provocaria situações de desconforto na visualização de
figuras com superfícies listradas ou axadrezadas.23 O incômodo seria causado pelo
“diferente”, o fora do padrão. Algo tão valorizado pela arte e pelo design do nosso
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22
PASTOUREAU, M. O pano do diabo. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. p. 15-16.
23
Id.
24
Ibid., p 38-39.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 45
25
ELIAS, N. O processo civilizador. Vol. 1. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. p. 84
26
GOMBRICH, E. H. Arte e Ilusão. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p.3-4.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 46
Não nos parece improvável que os egípcios vissem o mundo de uma forma
diferente da nossa, mas isso não nos parece configurar uma explicação exclusiva
para o fato de eles representarem o mundo que viam de forma própria. Rudolf
Arnheim observa que a “inaturalidade” das figuras egípcias para um observador
moderno ocorre porque este julga as obras egípcias por padrões diferentes dos que
foram utilizados na sua realização29. Esse argumento encontra eco em Mitchell: “o
estereótipo do ‘mesmo’ que projetamos nos egípcios é na verdade o reflexo de
nossas convenções”.30 Deste modo, se nos parece fato que os egípcios possuíam
um modo próprio de ver o mundo, isso não se passava a partir dos mecanismos
sugeridos comicamente pelo cartum de Alain. As características de observação e
as convenções utilizadas para a reprodução da natureza observada por uma
determinada cultura e época se encontram intimamente relacionadas ao modo
como esta cultura representa a sua visão de mundo. A idéia de representação está
diretamente ligada a uma forma de olhar – embora o modo como esta relação se
estabeleça apresente variações, principalmente a partir da segunda metade do
27
Ibid., p.60-61.
28
MITCHELL, W. J. T. Picture Theory: Essays on Verbal and Visual Representation. Chicago: The
University of Chicago Press, 1995. p.44.
29
ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1986. p.105.
30
MITCHELL, T. op. cit., p.45.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 47
século XIX. Mas, em que medida a imagem pode ser compreendida como
“representação”?
Nosso ponto de partida se encontra na compreensão da imagem como algo
além da representação. A imagem pode não vir a ser uma representação, mas será
sempre apresentação. Representações são artefatos e podem ser parcialmente
definidos a partir do propósito de seus produtores, principalmente em relação ao
funcionamento específico do artefato. A representação nos fala de uma identidade
e seus signos, mas a vinculação direta com o olhar de sua própria época deve ser
cuidadosa na medida em que sua construção material e simbólica pode estar mais
relacionada ao passado do que ao contemporâneo. Indique-se a propósito, a
afirmação de Crary em relação à pintura modernista dos anos 1870 e 1880 ser
vista, em seu trabalho, como sintoma tardio ou conseqüência de um processo
iniciado por volta de 182031. De outra maneira, a apresentação relaciona-se com
presença e, portanto, com o self e o tempo presente. Neste sentido, a idéia de
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31
CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: on vision and modernity in the nineteenth century.
Massachusetts: The MIT Press, 1992.
32
Veja a idéia de “fabricação”, a partir do conceito de tática desenvolvido por de Certeau. CERTEAU,
Michel de. A invenção do cotidiano. 1. Artes de fazer. Petrópolis: Editora Vozes, 2005.
33
A língua portuguesa coloca uma grande dificuldade na substituição do termo representação. O idioma
inglês conta com a palavra representing para simbolizar, descrever, e, claro, representar. O termo picturing se
coloca para descrever, mas também para sentidos mais literais como pintar, desenhar e, possivelmente,
visualizar. Não encontrei nenhuma equivalência no português. Acredito que o termo “desenhar” seja bastante
restritivo, não correspondendo ao “descrever” do picturing. Por este motivo, encontrei dificuldades em evitar
a utilização do termo “representar” em um modo que a Teoria de Goodman repele, ou seja, a partir da
semelhança.
34
GOODMAN, N. Languages of Art. Indianapolis: Hackett Publishing Co, 1976. p. 30.
35
Ibid., p.3 et seq.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 48
36
Goodman utiliza o termo “objeto” de forma indiferente para qualquer coisa que a imagem possa
representar, “seja uma maçã ou uma batalha”. Do mesmo modo, o termo “símbolo” é usado em um sentido
geral, incorporando letras, palavras, textos, imagens, diagramas, mapas, modelos etc., sem carregar
implicações de sentidos oblíquos ou ocultos.
37
Ibid., p. 5.
38
RAMME, Noeli. Arte e construção de mundos. Rio de Janeiro, 2004. Tese (Doutorado em Filosofia) -
PUC-Rio. p. 32.
39
SEARLE, Joh R. Las Meninas and the paradoxes of pictorial representation. In: MITCHELL, W. J.
Thomas (ed.). The Language of images. Chicago: The University of Chicago Press, c1980. p. 251.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 49
40
GOODMAN, N. op. cit. p.6.
41
RUSKIN, John. The elements of drawing. London: The Waverley Book Co., [1920?]. p. 4.
42
Ibid. p. 4.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 50
43
Ibid. p. 272.
44
GOODMAN, N. Languages… p.8-9. Destaque nosso.
45
ARNHEIM, R. op. cit. p. 41.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 51
desenvolvimento do habitus.
46
Veja por exemplo NICOLAÏDES, Kimon. The natural way to draw. London: André Deutsch Limited,
1979., publicado originalmente em 1941 e, mais recentemente, EDWARDS, Betty. Drawing on the right side
of the brain. Los Angeles: J. P. Tarcher, Inc., 1979. Neste último, a autora sugere exercícios como, por
exemplo, virar a imagem a ser copiada de ponta cabeça para “enganar” o lado esquerdo do cérebro,
responsável pela “tradução” das formas observadas em signos verbais.
47
MATTELART, Armand e Michéle. História das teorias da comunicação. São Paulo: Edições Loylola,
2001. p. 37.
48
Considere-se, por exemplo, a psicologia das massas de Le Bon, o behaviorismo surgido por volta de 1914,
as teorias do russo Pavlov sobre o condicionamento e ainda os primeiros estudos da psicologia social, que
sustentavam que somente certos impulsos primitivos, ou instintos, poderiam explicar os atos dos homens e
dos animais, vinculando o comportamento às forças biológicas.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 52
49
BOSI, Alfredo. Fenomenologia do Olhar. In: NOVAES, Adauto et al. O Olhar. São Paulo: Companhia das
Letras, 2003. p. 74.
50
PANOFSKY, Erwin. Perspective as Symbolic Form. New York: Zone Books, 1997. nota na p. 75.
51
Ibid., p. 27.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 53
tratado sobre pintura que sobreviveu e que parece ter circulado amplamente entre
os humanistas52, Alberti escreve: “desenho um retângulo que para mim é uma
janela aberta, através da qual vejo o que será pintado” 53. O conceito da janela de
Alberti pode ser observado em gravuras da época – ou posteriores – sendo as mais
conhecidas as de Albrecht Dürer. (Figura 6 e Figura 7), onde o que “será pintado”
é observado através da moldura.
As gravuras de Dürer (Figura 6 e Figura 12) e de Vignola (Figura 14)
apresentam aparatos que demarcam a posição exata do olho do pintor. O conceito
de pirâmide visual pode ser observado na
Figura 8, onde vemos uma linha reta, que atravessa a janela em direção ao
objeto, estabelecendo uma ligação entre o olho e um ponto específico no objeto.
Uma corda é esticada entre o alaúde e a parede. Este último ponto marca o ponto
de vista do pintor. O cruzamento de outras duas cordas, presas à moldura, registra
o ponto do alaúde que será transferido para a tela. A operação é repetida ponto a
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ponto até que as formas sejam definidas em um processo trabalhoso que requer a
participação de duas pessoas. Estas gravuras apontam tentativas de mecanização
no processo de construção de imagens. No entanto, não é possível estabelecer, de
forma absoluta, se essa tecnologia visual era de fato empregada ou se a gravura
apenas ilustra uma metáfora do conceito descrito por Alberti. Os noventa anos
entre as publicações de Alberti e Dürer parecem ampliar esta dúvida e existem
questionamentos em relação aos conhecimentos teóricos de Dürer em relação à
perspectiva. Kemp aponta que uma análise mais detalhada é capaz de mostrar
algumas limitações no controle da perspectiva54. William Ivins considera que
Dürer, apesar de possuir conhecimento do método, não tinha domínio total de sua
compreensão55. Para Ivins, foi apenas em 1630, quando o matemático Girard
Desargues desenvolveu a geometria descritiva a partir da perspectiva, é que esta
última, de fato, desenvolveu-se. De qualquer forma, não deixa de ser uma notável
demonstração de uma tentativa - ou aspiração - de produção de artefatos visando a
mecanização de um processo. Esse conceito reforça a aproximação entre arte e
“cientificidade”, a partir da sugestão de uma doutrina de conhecimento do mundo
52
BAXANDALL, Michael. O olhar renascente: pintura e experiência social na Itália da Renascença. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 191-192.
53
IVINS, William M. On the rationalization of sight. New York: Da Capo Press, 1975. p.22.
54
KEMP, Martin. The science of art. Optical themes in westerna art from Brunelleschi to Seurat. New Haven:
Yale, 1990. p.54
O OLHAR INOCENTE É CEGO 54
55
IVINS, W. op. cit.,. p.10.
56
Texto de Cristofaro Landino, citado por BAXANDALL, M. op. cit.. p. 191.
57
JAY, Martin. Downcast Eyes. The denigration of vision in twentieth-century french thought. Berkeley:
University of California Press, 1994. p. 53.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 55
58
PANOFSKY, E. op. cit., nota da p. 76.
59
De artificiali perspectiva, livro de Viator, publicado em 1505. cf. IVINS, W. op. cit., p.14.
60
PANOFSKY, E. op. cit., p.27.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 56
Figura 12. Dürer, Il velo, rete o graticola. Homem desenhando uma mulher reclinada.
De Unterweysung der Messung, Nuremberg, 1538.
61
Ibid., p. 41-43.
62
ARNHEIM, R. op. cit., p.271.
63
Alpers observa que a arte italiana determinou, em grande parte, o estudo da arte e de sua história e
estabelece como um contraponto para a “arte do norte”, a “arte do sul”, ou seja a arte holandesa. Ela utiliza o
termo albertiano para designar um modelo que criou uma tradição. Ver ALPERS, Svetlana. A arte de
descrever. A arte holandesa no século XVII. São Paulo: Edusp, 1999.
64
ARNHEIM, R. op. cit., p. 252.
65
Ibid., p.247.
66
PANOFSKY, E. op. cit., nota na p. 29.
67
GOODMAN, N. Languages… p.13.
68
Id., p.19.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 57
imóvel, Goodman afirma que o olho fixo é quase tão cego quanto o olho inocente
e menciona a realização de experimentos que demonstram o movimento dos olhos
na observação do que é visto69. Deste modo, a varredura do olhar seria um
movimento inerente ao olho, necessária à visão normal. Estes movimentos
mínimos dos olhos são conhecidos como sacádicos (microsaccades). Pesquisas
recentes indicam que eles constituem a base de nossa capacidade de visão e
podem até revelar atrações e interesses inconscientes.70
69
Id., p.12.
70
MARTINEZ-CONDE, Susana. MACKNIK, Stephen L. Windows on the mind. Scientific American. Vol.
297, Issue 2, p56-63, Aug. 2007.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 58
71
KUBOVY, Michael. The Psychology of Perspective and Renaissance Art. Cambridge University Press,
1986. p. 1-14.
72
SNYDER, Joel. Picturing Vision. In: MITCHELL, W. J. Thomas (ed.). The Language of images. Chicago:
The University of Chicago Press, 1980. p. 246.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 59
Figura 16. Andrea Mantegna. Archers Shooting at Saint Christopher (1451-5). Fresco, Ovetari
Chapel, Eremitani Church, Padua. Detalhe da flecha. Retirado de KUBOVY, M. The Psychology of
Perspective and Renaissance Art. p. 2 e 3.
devemos excluir dos apreciadores das obras de arte do século XV uma grande
parcela da população, como os camponeses e os cidadãos pobres, para nos
concentrar nas pessoas cuja reação às pinturas era de importância para o artista, ou
seja, a classe dos comitentes. Dentre estes encontramos “os comerciantes e os
profissionais que operavam na qualidade de membros de confrarias ou
individualmente, os príncipes e seus cortesãos, os membros superiores de ordens
religiosas”.73 No entanto, mesmo na classe dos comitentes encontram-se variações
que suplantam a individualidade, mas variações relativas a grupos ou profissões,
cujo pertencimento torna-se fator influente na formulação de um determinado
olhar. Um médico, por exemplo, poderia dispensar uma atenção particular às
relações existentes entre os membros do corpo humano, na medida em que este
tipo de observação fazia parte de suas ações de diagnóstico.74 De forma menos
específica, todas as atividades desempenhadas pelo homem do século XV, o
capacitavam à observação de uma pintura. Este homem tratava de negócios,
freqüentava a igreja e tinha uma vida social, onde respeitava uma hierarquia e,
embora pudesse ser mais ou menos brilhante nos negócios ou mais ou menos
ligado à religião, todas essas atividades lhe eram influentes no sentido em que
constituíam a base da cultura da época.
73
BAXANDALL, M. op.cit., p. 47.
74
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 60
Por outro lado, dentre essas pessoas havia poucas que, sendo ou não
pintores tinham a capacidade de desenvolver o que hoje poderíamos chamar de
observação crítica. Provavelmente devido ao raro acesso à pouca literatura
disponível sobre arte à época, a maior parte das pessoas para quem o pintor
trabalhava possuía algumas poucas categorias para qualificar os quadros:
“escorço”, ultramarino a dois florins a onça, a “roupagem”75 e, talvez, uma ou
outra expressão sobre as figuras religiosas representadas. Lembrando ainda que a
maior parte desses termos freqüentava a “literatura” dos contratos que precediam
a execução da obras.
Um outro fator importante da construção da cultura renascentista era a
educação comercial que constituía a base da formação escolar laica do século XV.
A formação educacional secundária da época era voltada para práticas úteis no
comércio, valorizando técnicas matemáticas, como métodos de medição e a regra
de três.76 Até o século XIX, as mercadorias não eram transportadas nem
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75
Ibid., p.45.
76
Ibid., p.177.
77
Ibid., p.168.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 61
psicológico para o espaço matemático, constituído por três dimensões físicas 81.
Hanna Arendt traduz muito bem este contexto ao afirmar que “nada que possa ser
medido pode permanecer imenso”.82 A perspectiva se estabelece, então, como
prática reguladora desta visão que começa a se apartar da teologia.
A existência de uma série de procedimentos capazes de reproduzir a
realidade “tal como ela é” implica na experiência de “um modo correto de ver” e
na existência – ou na crença de existência – de uma realidade que pode ser
reproduzida. Neste sentido, a capacidade dos órgãos do sentido e, principalmente
do olhar, de captar o mundo “real” irá se apoiar em um sistema de “procedimentos
científicos”. A perspectiva garante a adequação da capacidade de observação, ou
seja, a possibilidade de estabelecer uma relação com a verdade do que é
observado - desde que certos princípios sejam adotados.
Através da implementação de regras de controle, a técnica da perspectiva
estabeleceu um elo entre arte e ciência – que, na entrada da era Moderna,
começam a se constituir como tais. Ao pintor-cientista cabe o aprimoramento do
78
HAUSER, Arnold. Maneirismo. São Paulo: Ed. Perspectiva / Ed. Universidade de São Paulo, 1976. p. 43
79
BERGER, John. Modos de Ver. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p.18.
80
Como forma de evitar o confronto com a Igreja, os filósofos,que já supunham o mundo infinito, evitavam
usar este termo. KOYRÉ, Alexandre. Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro: Editora Forense
Universitária, 2006.
81
PANOFSKY, E., op. cit., p.66.
82
ARENDT, H., op. cit., p.262.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 62
Meninas?84
83
HAUSER, A. op. cit., p.36
84
cf. FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes, 19-. p. 17-33, SEARLE, J.
op. cit., p. 247-258 e DAMISCH, Hubert. The origin of perspective. Cambridge, London: The MIT Press,
1995. p. 425-432.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 63
perspectiva pode ser uma faca de dois gumes85, porque impõe ao fenômeno
artístico as regras estáveis da matemática, ao mesmo tempo em que torna este
fenômeno contingente ao indivíduo. Assim, se por um lado, as regras referem-se
às condições psicológicas e físicas da impressão visual, de outro lado, a utilização
dessas regras se submete à livre escolha de posicionamento do “ponto de vista” do
sujeito, assinalando uma subjetivação e um jogo de paradoxos.
85
cf. PANOFSKY, E. op. cit., p. 67.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 64
86
BALTRUSAITIS, Jurgis. Anamorphoses ou magie artificielle des effets merveilleux. France: Olivier
Perrin, 1969. p. 5.
87
Citado por Daniel Barbaro, em sua Pratica della Perspettiva, 1559 apud BALTRUSAITIS, J.op. cit., p.34.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA O OLHAR INOCENTE É CEGO 65
88
No desenho de um olho, incluído no Codex Atlanticus. Ver JAY, M. op. cit., p.48 e BALTRUSAITIS, J.
op. cit. p.36
89
BALTRUSAITIS, J. op. cit., p.5.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 66
apresentava figuras humanas. Também existem relatos que sugerem o quadro ter
sido executado visando um posicionamento específico de onde – em determinado
ponto – se poderia ver o crânio em perspectiva correta.90 Baltrusaitis observa que
o tratamento anamórfico dado ao crânio funciona sugerindo não uma, mas duas
composições, cada uma com seu próprio ponto de vista, justapostas sobre o
mesmo quadro91. A utilização de uma mesma técnica produzindo duas e diferentes
ordens visuais sobre um único plano parece expressar de modo diferente a ordem
espiritual e a material. Mas, por outro lado, se a caveira tivesse sido pintada do
mesmo modo que os outros elementos do quadro, “sua conotação metafísica teria
desaparecido: se tornaria um objeto como os demais, uma simples parte de um
mero esqueleto, pertencente a um homem que por acaso já teria morrido”.92
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90
Veja BALTRUSAITIS, J. op. cit.. p.104-105. para a narrativa da instalação da pintura no palácio de Polisy
e sua mise em scène: “Em lugar do esplendor humano, ele [espectador, visitante] vê o crânio. Os personagens
e todo seus apetrechos científicos se desvanecem e em seu lugar surge o signo do Fim. A peça está
terminada”.
91
Ibid. p.104
92
BERGER, J. op. cit. p.93.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 67
93
JAY, M. op. cit. p.48
94
GOMBRICH, E. H. op.cit. p.260.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 68
95
BALTRUSAITIS, J. op. cit. p.61-70.
96
Ibid. p.62.
97
Ibid. p.69.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 69
98
JUDOVITZ, Dalia. Vision, representation and technology in Descartes. p.65.
99
DESCARTES, René. Discurso do método. Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 2005. p. 70.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 70
100
Vale observar que, como caráter essencial dos corpos físicos, estes são dotados de três dimensões: altura,
largura e profundidade.
101
MASSEY, Lyle. "Anamorphosis through Descartes or perspective gone awry.”
Renaissance Quarterly 50.n4 (Winter 1997): 1148(42). InfoTrac OneFile. Thomson Gale. CAPES. 2 Aug.
2006. <http://find.galegroup.com/itx/infomark.do?&contentSet=IAC-
Documents&type=retrieve&tabID=T002&prodId=ITOF&docId=A20759978&source=gale&userGroupName
=capes57&version=1.0>.
102
DESCARTES, R. op.cit. p.54.
103
JAY, M. op. cit., p.69 et seq.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 71
104
BOSI, A. op. cit., p.76.
105
PANOFSKY, E. op.cit., p.31-36.
106
MASSEY, L. op.cit., p.3.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 72
107
Id.
108
Landino, 1529 apud ELKINS, James. The Poetics of Perspective. Ithaca and London: Cornell University
Press, 1994. p. 263.
109
ELKINS, J. op. cit., p. 263.
110
Ibid. p. 265.
111
ARNHEIM, R. op. cit. p. 271.
112
Ibid. p. 105.
113
GOMBRICH, E. H. op.cit. p. 269.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 73
114
Ibid. p. 268.
115
Ibid. p. 272.
116
Ibid. p. 39.
117
MITCHELL, W. J. T. Iconology… p.80. et. seq.
118
Ibid. p.83.
119
PANOFSKY, E. op. cit. passim.
120
GOODMAN, N. Languages… p. 14.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 74
121
Ibid. p. 38.
122
SNYDER, J. op. cit. p. 223.
123
BERGER, J. op. cit. p.18.
124
MITCHELL, T. Iconology… p.90.
125
GOODMAN, N. Languages… p.39
O OLHAR INOCENTE É CEGO 75
126
MITCHELL, T. op. cit.. p. 37.
127
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 76
onde eles nunca estiveram. É claro que a manipulação das imagens não é
exatamente uma novidade. No primeiro grupo de “manipulações”, encontramos
por exemplo a fotografia de Hitler no Triunfo da vontade (Figura 25), tirada
debaixo, mostrando o céu acima da cabeça de um líder que, deste modo, parecia
mais alto e heróico129. Do outro lado, encontram-se os exemplos anedóticos da
retirada das imagens de “inimigos do comunismo” de fotos tiradas em épocas em
que estes ainda não eram considerados inimigos, como foi o caso de Trotsky,
dentre outros (Figura 26 e Figura 27).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
Figura 26. Lênin e Trotsky na celebração do segundo aniversário da Revolução Russa. À direita, a
mesma foto, sem Trotsky. Imagens obtidas no site Newseum, the interactive museum of news. Disponível em:
<http://www.newseum.org/berlinwall/commissar_vanishes/7_8.htm> (26/11/06).
Figura 27. Fotografia de 1940. Stalin, acompanhado do jovem comissário Nikolai Yezhov, removido
da fotografia à direita. Imagens obtidas no site Newseum, the interactive museum of news. . Disponível em:
<http://www.newseum.org/berlinwall/commissar_vanishes/1_2.htm> (26/11/06).
128
Id.
129
BURKE, Peter. Eyewitnessing: the uses of images as historial evidence. New York: Cornell University
Press, 2001. p.73.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 77
130
ARNHEIM, R. op. cit. p.37.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 78
símbolo que não pudesse ser exatamente duplicado ou que sofresse modificações
de sentido ao longo de sua repetição também seria de pouca utilidade. Como
também acabam sendo de uso limitado e de pouco valor para a racionalização,
certos sistemas de símbolos incapazes de seguir esquemas lógicos, seja na sua
inter-relação e combinação, seja na sua correspondência com fatores externos.
Ainda, segundo Ivins, no início da história humana, os homens já haviam
descoberto, na sua habilidade de produzir imagens, um método de simbolização
de sua consciência visual. Diferentemente dos símbolos puramente convencionais,
os símbolos pictóricos deveriam ser capazes de produzir enunciados acurados e
precisos mesmo que – a eles próprios – faltassem definições. Mas, em lugar disso,
a imagem pictórica permaneceu por muito tempo como a mais ineficiente classe
de símbolos. Ivins aponta duas grandes razões para essa situação: em primeiro
lugar, a duplicação exata de uma imagem era algo muito difícil e, em segundo
lugar, não havia nenhuma regra ou esquema combinatório que garantisse a relação
lógica dentro do sistema de símbolos pictóricos ou, ainda, uma lógica recíproca de
131
Veja a associação entre Ivins e visual culture em MANOVITCH, Lev. The Mapping of Space: Perspective,
Radar, and 3-D Computer Graphics. http://www.manovich.net/TEXT/mapping.html. Acesso em 2 de agosto
de 2006 às 10:19h.
132
Manovitch utiliza o termo cultura visual aos se referir às preocupações com as técnicas e tecnologias de
representação visual disponíveis em uma sociedade em determinado período, e o papel que desempenham na
formulação de diversos aspectos desta sociedade. Id.
133
IVINS, W. M. op. cit., p.7 et seq.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 79
134
Ibid., p.9.
135
Id.
136
IVINS Jr., William M. Prints and Visual Communication. Cambridge: The MIT Press, 1973. p.1-20.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 80
137
MANOVITCH, L. op. cit.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 82
138
ANDREW, J. Dudley. Concepts in film theory. Oxford: Oxford University Press, 1984. p. 30-31.
139
ARNHEIM, R. op. cit., p.273.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 83
permaneceu por muito tempo, até o século XIX, como modelo do funcionamento
da visão, de acordo com este texto do século XVIII:
Os raios de luz que partem dos objetos exteriores, após entrarem na pupila e
atravessarem o humor cristalino [...] prosseguem para a retina que se encontra no
final do olho [...]. A conseqüência disso é que, a alma, por meios até agora para nós
desconhecidos, recebe a imediata inteligência dos raios e passa a ver os objetos.
Mas, esta grande operação da natureza, a descoberta que foi reservada para o nosso
tempo, poderia ter permanecido como uma curiosidade da física se não tivesse sido
colocada a serviço do pintor. A máquina construída para este propósito é
constituída por lentes e um espelho dispostos [...] de tal modo que a imagem possa
ser contemplada sobre uma folha limpa de papel. Este olho artificial, chamado de
câmera óptica ou escura [...] apresenta uma imagem de inexplicável força e brilho.
Para não falar na exatidão de sua perspectiva e do claro-escuro.140
140
Encyclopædia Britannica; or, a dictionary of arts, sciences, &c. On a plan entirely new: ... The second
edition; greatly improved and enlarged. Illustrated with above two hundred copperplates. ... Vol. 8.
Edinburgh, 1778-83. 10 vols. Eighteenth Century Collections Online. Gale Group.
http://galenet.galegroup.com/servlet/ECCO
141
SNYDER, J. op. cit., p.231.
142
Ibid., p.232.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 84
143
Id.
144
Hockney sugere o seu uso a partir de 1430. Confira HOCKNEY, David. O conhecimento secreto –
redescobrindo as técnicas perdidas dos grandes mestres. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. p. 13.
145
Aparentemente, Della Porta não visava às finalidades artísticas, na medida em que sua obra é dirigida a
amadores, que não sabiam desenhar. Veja SNYDER, J. op. cit., p. 233.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 85
146
CAMEROTA, Filippo. Looking for an artificial eye: on the borderline between painting and topography.
Early Science and Medicine 10 (2). Leiden: Brill Academic Publishers, 2005. p. 265.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 86
147
CRARY, J. op. cit., p. 27 e p. 39.
148
Ibid., p.27.
149
Verbete retirado da Encyclopédie ou dictionnaire des sciences, des arts et des métiers, Paris, 1753. apud
CRARY, J. op. cit., p. 28-29.
150
Ibid. p. 33.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 87
151
Encyclopædia Britannica; or, a dictionary of arts, sciences, &c. On a plan entirely new: ...
The second edition; greatly improved and enlarged. Illustrated with above two hundred copperplates. ...
Vol. 4. Edinburgh, 1778-83. 10 vols. Based on information from English Short Title Catalogue. Eighteenth
Century Collections Online. Gale Group. http://galenet.galegroup.com/servlet/ECCO. p. 2477 et seq,
O OLHAR INOCENTE É CEGO 88
rapidamente ou, ainda, ter a sensação de que uma pessoa está “afundando” no
piso.152
152
SMITH, Godfrey. The laboratory; or, school of arts: containing a large collection of valuable secrets,
experiments, and manual operations in arts and manufactures, ... Compiled originally by G. Smith. Sixth
edition, with a great number of additional receipts, corrections, and amendments; . Vol. 2. London, 1799. 2
vols. Eighteenth Century Collections Online. Gale Group. http://galenet.galegroup.com/servlet/ECCO. p. 168
153
SNYDER, J. op. cit., p.233.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 89
<http://www.scienceandsociety.co.uk> (29/08/06).
154
COLEÇÃO BRASILIANA FUNDAÇÃO ESTUDAR NA PINACOTECA DO ESTADO. Vistas do
Brasil. São Paulo, 2003-2004. Catálogo de exposição. 1 CD-ROM
O OLHAR INOCENTE É CEGO 91
pinturas de Lorrain.155 No auge do seu uso, entre o final do século XVIII e o inicio
do XIX, o espelho de Claude era encontrado em gabinetes de curiosidade, lojas de
óptica e círculos artísticos. Era utilizado porque produzia uma visão pitoresca e
diferenciada. Ao contrário deste aparato, que se apoiava sobre espelhos, o vidro de
Claude (Claude Lorraine Glass - Figura 41) era um conjunto de lâminas coloridas
transparentes, utilizadas para a observação de eclipses, nuvens e paisagens. O
vidro de Claude reforça o conceito de mono-visão surgido com a perspectiva. Em
conjunto, com o espelho de Claude, parece sugerir a delimitação do campo de
visão, a área que deve ser de fato observada, como na proposta da janela de
Alberti. Neste sentido, ambos são colaboradores da construção de um olhar em
um movimento de enquadramento, metafórico e literal, onde o campo de visão do
observador é limitado a partir da intermediação entre o observador e o que é
observado. Outros aparatos visuais ainda podem ser diretamente relacionados à
reprodução de objetos e paisagens. Neste último grupo encontramos a câmera
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lúcida (Figura 38) e sua variante, o telescópio gráfico (Figura 37), patenteado em
1811 por Cornelius Varley.
Talvez não seja desnecessário lembrar que a câmera escura constituiu-se em
uma ferramenta de trabalho e, analogamente ao que acontece hoje com a
computação gráfica, o seu uso, por si só, nunca pode ter sido garantia de qualidade
da obra produzida. Um desenhista medíocre não conseguiria extrair da câmera
escura, ou de nenhum outro aparato óptico, uma operação miraculosa. Mas, apesar
disso, o seu emprego como auxiliar na produção de imagens ou pinturas não era
algo de que o artista pudesse vangloriar-se. De maneira geral, os artistas
costumam ser reticentes em relação aos seus métodos, e não devem ter sido muito
diferentes no passado. Esse é um dos argumentos utilizados por David Hockney
na sua proposição de que os artistas “escondiam” o uso de auxílios óticos ou de
seu domínio secreto, como sugere o título de seu livro: O conhecimento secreto156.
Nesse livro, Hockney defende a tese de que a partir do século XV, muitos artistas
usaram a óptica, ou seja, espelhos e lentes ou uma combinação de ambos, para
criar projeções sobre as quais pudessem reproduzir imagens fiéis.
155
DUPRÉ, Sven. The Claude Glass: Use and meaning of the black mirror in Western Art by Arnaud Maillet.
Institute for Research in Classical Philosophy and Science. Resenha.
156
HOCKNEY, David. O conhecimento secreto – redescobrindo as técnicas perdidas dos grandes mestres.
São Paulo: Cosac & Naify, 2001.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 92
157
HOCKNEY, D. op. cit., p.12.
158
Ibid. p. 131.
159
Ibid. p. 71-72.
160
SCHECHNER, Sara J. Between knowing and doing: mirrors and their imperfections in the renaissance.
Early Science and Medicine 10 (2). Leiden: Brill Academic Publishers, 2005.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 93
antes do século XVI. Além disso, há uma grande distância entre o saber e o fazer.
O conhecimento de princípios físicos não é e nunca foi garantia de existência de
um sistema que se utilize dele e, como vimos anteriormente, os conhecimentos
que levaram à invenção da câmera escura lhe precederam em muitos séculos.
Além disso, assim como Leonardo da Vinci chegou a desenhar um helicóptero,
mas nunca se pensou que ele poderia ter sobrevoado a Toscana, existia uma
grande distância entre os textos sobre ótica e a produção artesanal de espelhos e
lentes do final da Idade Média.161
Deste modo, embora os artistas possam ter utilizado espelhos para ajudá-los
a fazer auto-retratos, na produção de desenhos em perspectiva ou, ainda, na
observação de outras obras, é improvável que os tenham utilizado como
equipamentos de projeção antes da invenção da câmera escura. Não existem
evidências técnicas neste sentido, tanto em relação às peças sobreviventes, quanto
de acordo com as condições materiais e técnicas da produção de espelhos no
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161
Id.
162
Ibid. p. 162.
163
KEMP, Martin em carta para o autor. HOCKNEY, D. op. cit., p. 246.
164
http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=200601
165
ARENDT, H. op. cit.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 94
Neste sentido, Galileu não pode ser considerado um revolucionário. Mas, foi
apenas com a “visão” da imensidão do espaço que teve início uma nova ciência.
Assim, se a invenção do telescópio é fundadora da ciência moderna e a
técnica da perspectiva pode ser considerada como um elemento fundamental na
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
166
D. J. Warner, “What Is a Scientific Instrument, When Did it Become One, and Why?” British Journal for
the History of Science, 23 (1990), 83-93. Apud MALET, Antoni. Early conceptualizations of the telescope as
an optical instrument. Early Science and Medicine 10 (2). Leiden: Brill Academic Publishers, 2005. p. 244.
167
ARENDT, H. op. cit., p.260.
168
Ibid. p. 261.
169
CRARY, J. op. cit., p. 30 et seq.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 95
século XIX, Mitchell critica a metáfora de ideologia desenvolvida por Marx sobre
este aparato.173 Segundo Mitchell, Marx emprega esta imagem para ridicularizar
as ilusões da filosofia idealista no momento em que o daguerreótipo surge para
preservar as “imagens perfeitas da natureza”. A câmera escura, anteriormente
empregada como sinônimo de empirismo, de observação racional e de reprodução
direta da visão natural, é utilizada por Marx como um mecanismo para a criação
de ilusões, de “fantasmas”, “quimeras” e “sombras da realidade” que ele atribui
aos seguidores da ideologia alemã. Deixando de lado a possibilidade de este
emprego tratar-se de um “erro de juventude”, Mitchell atém-se ao fato de que, à
época de Marx, a câmera escura e a fotografia, como seu desenvolvimento, não
eram celebradas apenas por encarnar o modo natural, científico e realístico de
representação do mundo visível. Ao lado da reputação de instrumento científico, a
câmera escura mantinha a reputação de “lanterna mágica” e produtora de “ilusões
ópticas”, como descrito acima. O fato é que Marx, provavelmente, via a invenção
da fotografia como mais uma falsa “revolução” burguesa, um brinquedo para a
classe abastada. Deste modo, Marx procurou ilustrar a idéia de ideologia como um
170
Ibid. p. 29.
171
KOFMAN, Sarah. Camera obscura de l’idelogie. France: Éditions Galilée, 1973. p. 37.
172
Ibid. p. 47-49.
173
MITCHELL, W. J. Thomas. Iconology… p. 168-172.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 96
174
Este argumento é bem desenvolvido por KEMP, Martin. The science of art. Optical themes in western art
from Brunelleschi to Seurat. New Haven: Yale, 1990. p.53
O OLHAR INOCENTE É CEGO 98
175
Chicago Manual Style (CMS): convention. Dictionary.com. Online Etymology Dictionary. Douglas
Harper, Historian. <http://dictionary.reference.com/browse/convention> Acessado em 29 de maio de 2007.
176
GREENBERG, Clement. Convenção e inovação. In: ___. Estética Doméstica. São Paulo: Cosac & Naify,
2002. p. 98
177
Ibid., p. 100.
178
Este conceito de Bonsiepe foi extraído da apresentação de Maristela Mitsuko Ono e Maria Cecília
Loschiavo dos Santos da Universidade de São Paulo, na 5th European Academy of Design Conference em
Barcelona entre os dias 28 e 30 de abril de 2003. As autoras não informam a procedência da citação.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 99
pelo domínio das convenções de domínio público, muitas vezes pensadas como
percepções humanas naturais. Por outro lado, a utilização de uma convenção não é
garantia de compreensão do receptor, detentor de uma subjetividade própria.
Além do mais, o conhecimento das convenções necessárias para determinada
fruição artística, simbólica ou estética, pode se alterar com o passar o tempo. O
fundamental na avaliação deste estudo é o papel que as tecnologias acabam
cumprindo na estruturação de convenções relacionadas à visualidade e como esta
relação foi crescentemente sendo estruturada sobre o conceito de formas de
espetáculo. Discutiremos estas questões no próximo capítulo, a partir dos eventos
ocorridos na segunda metade do século XIX.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
O OLHAR INOCENTE É CEGO 100
3.
O olhar panorâmico e “mil coisas para ver”
179
O momento atual tem sido analisado segundo diferentes perspectivas. Há o reconhecimento de um
deslocamento de processos institucionais em direção a uma centralidade na informação que parece abalar o
sistema moderno, baseado na manufatura de bens materiais. Muitos autores, a partir do da idéia do fim da
grande narrativa apresentada por Jean-François Lyotard em 1979, se apóiam sobre o termo “pós-
modernidade” para sugerir um estado de coisas em finalização. Embora considerando que a utilização de
rótulos possa ser reducionista e limitar algumas análises a partir da demarcação rígida de limites, a nossa
tendência é adotar a expressão “pós-modernidade” como indicadora de um momento seqüencialmente
posterior e não um momento “após” uma modernidade que, em nosso ponto de vista, não foi concluída. Neste
sentido encontramos apoio na afirmação de Giddens, para quem, vivemos em um “período em que as
conseqüências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas do que antes”. Para
Giddens a percepção dos contornos de uma nova ordem “pós-moderna” é algo distinto do que é chamado por
muitos de “pós-modernidade”. GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Editora
UNESP, 1991. p. 13.
180
HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Edições Loyola, 2003. p. 97.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 101
181
Segundo Marvin, estes produtos são proto-mass media. MARVIN, Carolyn. When old technologies were
new. New York: Oxford University Press, 1990. p.3.
182
HEILBRONER, Robert L. Do Machines Make History? Technology and Culture, Vol. 8, No. 3. (Jul.,
1967), pp. 335-345.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 102
183
DEBRAY, Régis. Vida y muerte de la imagen. Historia de la mirada en Occidente. Buenos Aires:
Editorial Paidós, 1994. p. 38.
184
Pesquisas recentes mostraram que jovens bretões, entre 15 e 24 anos têm dispensado 30% menos de tempo
para a leitura de jornais desde o surgimento da internet. Anunciantes e tiragens parecem minguar e há quem
arrisque o ano de 2043 como data para o último suspiro do jornal impresso. Dados extraídos de The
economist. Este mesmo periódico cita a data acima a partir do livro de Philip Meyer, The Vanishing
Newspaper. THE ECONOMIST. Who killed the newspaper? United Kingdom: The economist group, August
26th 2006.
185
MATTELART, Armand e Michéle. História das teorias da comunicação. São Paulo: Edições Loylola,
2001. p. 37.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 103
“fabricar” uma nova visualidade a partir das imagens que vivenciou.187 Assim, a
produção de uma cultura visual de cada época, com a qual o receptor de imagens
estabelece contato, irá influenciar diretamente nas suas “escolhas” posteriores –
nas relações com o que será observado e como. A interação dinâmica entre uma
forma de olhar o mundo e a própria constituição deste mundo através da
organização de convenções e percepções relacionadas à cultura visual.
186
Considere-se, por exemplo, a psicologia das massas de Le Bon, o behaviorismo surgido por volta de 1914,
as teorias do russo Pavlov sobre o condicionamento e ainda os primeiros estudos da psicologia social, que
sustentavam que somente certos impulsos primitivos, ou instintos, poderiam explicar os atos dos homens e
dos animais, vinculando o comportamento às forças biológicas.
187
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 1. Artes de fazer. Petrópolis: Editora Vozes, 2005. p.
93.
188
PEREIRA, Margareth Campos da Silva. A participação do Brasil nas exposições universais. Projeto:
Revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial, construção, n. 139, pp. 83-90, mar. 1991.
p. 83.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 104
talvez as últimas, a passar por isso.192 O turbilhão que é, de fato, uma figura para
definir a “modernização”193, tem sido alimentado pelas inúmeras descobertas nas
ciências, pela industrialização e sua transformação de conhecimento científico em
tecnologia e pela aceleração do crescimento urbano e do ritmo de vida, dentre
outros fatores. O termo “modernização” é encontrado a partir do século XVIII
relacionado a modificações na habitação, na ortografia, no modo de vestir e no
comportamento. A partir do século XIX seu emprego se generaliza194.
A sensação de efemeridade e fragmentação produzida pelas mudanças
caóticas e muitas vezes abruptas, mas que se insinuavam – ainda que
momentaneamente – com a certeza e a racionalidade oferecidas pelo Iluminismo,
passou a expressar-se estética e culturalmente a partir do século XIX. Se a
paisagem da modernização é algo que conseguimos identificar, a sua relação com
a modernidade nem sempre é algo facilmente definida. De fato, moderno e
modernidade não remetem a conceitos claros e fechados, nem a periodicidades
definidas, como ainda parecem apresentar variações de sentido conforme o idioma
189
BAUDELAIRE, Charles. O pintor da vida moderna. In: ______. Poesia e prosa: volume único. Rio de
Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1995. p. 859. O texto original foi publicado em 1863.
190
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Ed. Schwarcz, 2001. p. 15.
191
The Marx-Engels Reader. Norton, 1978. p. 475-6. apud Ibid., p. 20.
192
Ibid., p. 15-16.
193
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 105
194
WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave. Um vocabulário de cultura e sociedade. São Paulo: Boitempo
Editorial, 2007. p. 282.
195
COMPAGNON, Anton. Os cinco paradoxos da modernidade. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003. p. 15.
196
SCHORSKE, Carl E. Viena fin-de-siècle. São Paulo: Ed. da Unicamp e Cia. das Letras, 1988. p. 13.
197
BAYLY, Christopher Alan. The birth of the modern world 1780-1914: global connections and
comparisons. USA, UK and Australia: Blachwell Publishing, 2004. p. 10.
198
Id.
199
Datas estabelecidas pelo estudo autor em seu estudo. Id.
200
Ibid., p. 11.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 106
201
Ibid., p. 10.
202
KERN, Stephen. The culture of time and space. 1880-1918. Cambridge, Massachusetts: Harvard
University Press, 1994. Seventh Printing.
203
SMIL, Vaclav. Creating the Twentieth Century. Technical Innovations of 1867-1914 and their Lasting
Impact. New York: Oxford University Press, 2005.
204
HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. O breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Editora Schwarcz,
2003.
205
BAYLY, C. A. op. cit.
206
KERN, S. op. cit., p. 1.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 107
1914207 como um período único na história, não apenas pelo âmbito extensivo das
inovações, mas também pela rapidez dos avanços obtidos no período. Bayly208
inicia o mundo moderno mais cedo, em 1780, empreendendo um longo século
XIX, com destaque para sua fase final entre 1890 e 1914, quando tem lugar o que
ele denomina “a grande aceleração” das transformações, uma definição que
relacionamos perfeitamente ao nosso estudo sobre as mudanças ocorridas na
visualidade. Embora apoiando o pensamento de Tom Gunning, para quem a
“modernidade” é menos um período histórico do que uma mudança na
experiência209, nós compreendemos a modernidade como uma temporalidade
histórica que ecoa até o presente.210 Deste modo estabelecemos como marco
inicial do nosso estudo sobre as mudanças ocorridas na cultura visual moderna, o
ano de 1851, quando se realizou a primeira Exposição Universal em Londres.
Como detalharemos adiante, existem fatores que apontam para certa
homogeneidade no período que se encerra com o início da primeira Guerra
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Mundial. Deste modo, este período, que de fato se encerra na segunda década do
século XX, encontra-se ainda dentro da formulação cultural e epistemológica da
segunda metade do século XIX.
207
A data de 1867 foi escolhida por Smil por ser o ano da formulação da segunda lei da termodinâmica, da
criação da dinamite por Alfred Nobel - como um sinal de grande contradição - a invenção da máquina de
escrever e da publicação do Capital por Karl Marx, dentre outros eventos. SMIL, V. Creating…p 10.
208
BAYLY, C. A. op. cit.
209
GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In
CHARNEY, Leo e SCHWARTZ, Vanessa (orgs). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac
& Naify, 2001. p 39.
210
BAYLY, C. A. op. cit., p. 11.
211
Esta divisão é apresentada por HENDERSON, W. O. A Revolução Industrial 1780-1914. São Paulo:
Editora Verbo, Editora da Universidade de São Paulo, 1979. p. 7-8.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 108
212
Cf. “industrialização” e “revolução” em OUTHWAITE, William e BOTTOMORE, Tom. Dicionário do
Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1996.
213
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Vol. 1.
São Paulo: Editora Paz e Terra, 2000.
214
TEMIN, Peter. Two views of the British Industrial Revolution. The Journal of Economic History, vol. 47,
No. 1 (Mar, 1997).
215
SMIL, V. Creating…, p. 43.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 109
216
Ibid., p. 13.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 110
217
BAYLY, C. A. op. cit. p. 170.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 111
218
A este respeito cf. SMIL, V. op. cit., p 261 et. seq.
219
BOMFIM, Gustavo Amarante e ROSSI, Lia Mônica. Moderno e pós-moderno, a controvérsia. Design &
Interiores. Ano 3, no. 19. São Paulo: Projeto Editores Associados Ltda., 1990.
220
CHANDLER Jr., Alfred D., Fin de siècle: industrial transformation. In: TEICH, M. and PORTER, R. Fin
de Siècle and its Legacy. Cambridge Univ. Press. P. 28-41.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 112
221
HESKETT, John. Desenho Industrial. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998. p. 29.
222
HEILBRONER, Robert L. Do Machines Make History? Technology and Culture, Vol. 8, No. 3. (Jul.,
1967), p. 343.
223
HESKETT, J. op. cit., p. 70-71.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 113
esta dúvida como fora de questão. Para ele seria equivalente a questionar se o
vírus da varíola ou as armas de fogo seriam, em si mesmos, bons ou maus - seu
valor dependendo da forma como seriam utilizados.224 De acordo com McLuhan
todas as tecnologias de comunicação atuam diretamente na construção do nosso
pensamento e de nossa percepção, independente do conteúdo e do contexto social.
Em nosso ponto de vista, as conclusões de McLuhan parecem excessivamente
deterministas (a mensagem seria apenas encontrada nos meios?). Sua rejeição às
análises de conteúdo e às questões de recepção enfraquece e limita o seu
posicionamento. Além do quê, nos perguntamos, como ficaria a sua análise sobre
os meios frios e quentes a partir das mudanças, fusões e alterações que
freqüentemente sofridas pelos próprios meios. A HDTV, televisão de alta
definição, por exemplo, continuaria a ser considerada um meio frio como a antiga
televisão em preto e branco?
Apesar das nossas críticas em relação ao posicionamento de McLuhan,
consideramos que o determinismo tecnológico não chega a constituir um
problema na medida em que ele é matizado. Deste modo, consideramos que a
presença ou implantação de uma determinada tecnologia de comunicação pode ser
224
McLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Ed. Cultrix,
1969. 15a. reimpressão. p. 25.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 114
225
FINNEGAN, Ruth. Literacy and Orality: Studies in the Technology of Communication. Oxford: Basil
Blackwell, 1988. apud CHANDLER, Daniel (1995): Technological or Media Determinism
http://www.aber.ac.uk/media/Documents/tecdet/tecdet.html Acesso em 12 de fevereiro de 2008 às 16:07.
226
Embora reconheçamos grandes valores a quem são atribuídas importantes “invenções”, em nosso ponto de
vista, uma tecnologia surge mais como o resultado de um longo processo de estudos científicos anteriores.
Seria algo como a pessoa certa estar corretamente preparada, no lugar e na hora certos.
227
A sugestão desta imagem foi obtida a partir de SMIL, V. op. cit..
O OLHAR INOCENTE É CEGO 115
muito diferente. De modo que, o resultado que temos em mãos nos sugere uma
mudança impactante gerada pelo desenvolvimento de uma tecnologia específica -
a eletricidade - capaz de “imprimir” alterações na própria face da Terra.
228
MAUPASSANT, Guy de. Clair de Lune, Paris, 1909, p. 222. apud BENJAMIN, Walter. A fotografia.
Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. p. 613. [T 5,1].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 116
229
MARVIN, Carolyn. When old technologies were new. New York: Oxford University Press, 1990. p. 129.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 117
230
L’Illustration Française . Paris: 17 nov. 1855. p. 335. PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições
universais. Espetáculos da Modernidade do século XIX. São Paulo: Editora Hucitec, 1997. p. 90
231
FABIEN, Jacques. Paris em Songe. Paris: 1863, pp. 96-98. apud BENJAMIN, W. Passagens... p. 610. [T
3,1].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 118
232
FORTY, Adrian. Objetcts of Desire. Design & society form Wedgwood to IBM. New York: Pantheon
Books, 1986. p. 183.
233
Ibid., p. 184
O OLHAR INOCENTE É CEGO 119
Dois recursos foram considerados para mudar este quadro: a eficiência dos
artefatos, ressaltando a importância do design, e a utilização de propaganda. Neste
contexto, a eletricidade chegou a ser tratada como “o maior presente da ciência
para o mundo” e o “combustível do futuro”. Neste sentido, o texto de Condulack,
mostra, a partir da análise de representações da eletricidade (e seus raios
luminosos) em impressos das últimas duas décadas do século XIX, como esta
tecnologia associou-se à divulgação de uma vida urbana moderna.235 É
interessante observar em exemplos contemporâneos a continuidade de uma
solução gráfica vinculada à glorificação de uma tecnologia, então, recente.
234
Ibid., p. 185
235
CORDULACK, Shelley Wood. A Franco-American Battle of Beams: Electriciy and the Selling of
Modernity. Journal of Design History. Summer 2005; 18: 147-166.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 120
236
HALL, Stuart. Reflexões sobre o modelo de codificação/decodificação: uma entrevista com Stuart Hall.
In: Da Diáspora: identidades e mediações culturais. Org. Liv Sovik. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003a.
p. 357.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 123
que acompanharam este processo. No entanto, a cidade moderna não pode ser
simplesmente compreendida como uma aldeia que cresceu. Ela é composta por
uma entidade complexa e sujeita a influência de diversos fatores. Max Weber
observa que a dimensão do aglomerado urbano não constitui atributo suficiente
para analisar o conceito de cidade.239 Além disso, prossegue o autor, as
características econômicas, de produção ou consumo também não facilitam a
compreensão, na medida em que as cidades são normalmente constituídas por um
misto de atividades e que, portanto, “não podem ser classificadas em cada caso
senão tendo-se em conta seus componentes predominantes”.240 Uma cidade não
pode ser simplesmente considerada como um conjunto de casas e nem mesmo
como uma associação econômica com propriedade territorial própria. Para Weber,
a cidade “tem que se apresentar como uma associação autônoma em algum nível,
como um aglomerado de instituições políticas e administrativas especiais”.241 De
maneira semelhante, Castells, ao abordar a sociedade urbana, observa que não se
trata de uma questão de forma espacial, mas de um “certo sistema de valores,
237
CASTELLS, Manuel. op. cit. p. 55.
238
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: Obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política.
São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 226.
239
WEBER, Max. Conceito e Categorias da Cidade. In: VELHO, Otavio Guilherme. (org.) O fenômeno
urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. p. 69.
240
Ibid., p. 73.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 124
normas e relações sociais” que possuem uma especificidade histórica e uma lógica
própria de organização e transformação.242 Embora considerando a extensão da
dimensão espacial na construção de um novo modelo de olhar, a nossa análise da
influência da cidade moderna mostra-se inseparável de um conjunto amplo de
mudanças filosóficas, sociais e ocorridas na organização do trabalho.
A partir da segunda metade do século XVIII, a queda do índice de
mortalidade aliada à mudança na estrutura de produção, conduziu camponeses e
artesãos em direção aos empreendimentos industriais. Estes estabelecimentos
concentravam-se nas proximidades dos cursos de águas e, posteriormente, com a
invenção da máquina a vapor, perto das jazidas de carvão, mas, sobretudo, ao
redor das cidades que passaram a crescer mais rapidamente do que outras
regiões.243 Se a energia mecânica para a produção necessitava de água e carvão, o
processo industrial requisitava ainda de uma concentração de mão de obra
disponível e renovável e um mercado consumidor e a cidade poderia fornecer
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estas condições.
Embora considerando a vinculação entre a aceleração industrial e a cidade
moderna, temos a convicção de que esta relação não deva ser simplificada no
sentido de tentar compreender as cidades européias sendo alçadas do seu torpor
pela industrialização. De fato, o desenvolvimento industrial encontrou suporte em
uma rede urbana construída a partir do início da Idade Moderna e que conectava
diversas cidades em um sistema de interação comercial.244 Também existem
referências ao emprego da palavra “cidade” na língua inglesa para distinguir as
áreas urbanas das rurais a partir do século XVI245, embora tenha sido apenas no
século XIX que este termo passou a ser empregado com a conotação moderna que
conhecemos hoje. Por outro lado, foi apenas em meados do século XIX que a
crescente industrialização, o desenvolvimento correspondente e a expansão da
vida urbana fizeram da capital, Londres, o primeiro centro a fazer jus à utilização
da palavra “cidade”, conduzindo a Inglaterra à primeira sociedade da história
mundial a ter a maior parte de sua população vivendo em centros urbanos.
241
Ibid., p. 76.
242
CASTELLS, Manuel. A Questão Urbana. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 127
243
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 2005. p. 551.
244
DE VRIES, Jan. The industrial revolution and the industrious revolution. Journal of Economic History.
Vol. 54, No. 2, (1994), p. 252.
245
WILLIAMS, R. op. cit., p. 76.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 125
246
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Editora Perspectiva, 2005. p. 551.
247
LOWE, Donald. History of bourgeois perception. Chicago: The University of Chicago Press, 1982. p. 36.
248
U. S. Bureau of the Census, 1980 Census of the Population, Washington, D. C..: Government Printing
Office, 1980, tabela 3. apud SINGER, Ben. Modernidade, hiperestímulo e o início do sensacionalismo
popular. In CHARNEY, Leo e SCHWARTZ, Vanessa (orgs). O cinema e a invenção da vida moderna. São
Paulo: Cosac & Naify, 2001. p 142.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 126
Figura 59. “Capital e Trabalho”. “O capitalista vive paparicado enquanto, abaixo dele, os
trabalhadores labutam em terríveis condições”.
Punch Magazine, 1843. <http://www.victoriantimes.org> (4/06/07)
século XIX. A partir deste período, tiveram início algumas interferências diretas
sobre este ambiente. Neste contexto observa-se o aumento no suprimento de água
potável e da rede de esgoto, a popularização dos conceitos de higiene, a
industrialização dos modos de circulação de pessoas e bens a partir do emprego de
trens, bondes e bicicletas e o desenvolvimento das comunicações. Este processo
de modernização aconteceu de diferentes formas e em momentos específicos em
diversas cidades ocidentais como Paris, Londres, Viena e, mais tarde, no Rio de
Janeiro. Para analisar como a cidade moderna e a vida cotidiana contribuíram na
formulação de uma nova maneira de olhar ateremo-nos a alguns processos que se
desenrolaram em Londres e em Paris. Esta última pode ser compreendida como
paradigma de um novo modelo urbano, tendo sido definida como a capital do
século XIX por Walter Benjamin.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
249
CERTEAU, Michel de. Práticas do espaço. In: _______. A invenção do cotidiano. 1. Artes de fazer.
Petrópolis: Editora Vozes, 2005.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 129
250
Ibid., p. 171.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 130
251
NEAD, Lynda. Victorian Babylon. People, streets and images in nineteenth-century London. New Haven
& London: Yale University Press, 2000. p. 54.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 132
252
Esta questão foi analisada por NEAD, L. op. cit., p. 15-56.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA O OLHAR INOCENTE É CEGO 133
Figura 65. Mapeamento oficial da cidade de Londres e seus arredores (Skeleton Ordnance Survey
of London), 1851. Folha 20, metade direita. 66 x 97,5 cm. Sourthampton: Ordnance Map Office,
1851. NEAD, Lynda. Victorian Babylon. People, streets and images in nineteenth-century
London. New Haven & London: Yale University Press, 2000. p. 20.
Figura 66. Londres vista de um balão. John Henry Banks and Co., 1851. Mapa dobrável, 60,8 x
102,4 cm. Guildhall Library. Corporation of London. NEAD, Lynda. Victorian Babylon. People,
streets and images in nineteenth-century London. New Haven & London: Yale University Press,
2000. p. 21.
253
NEAD, L. op. cit., p. 21-22.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 135
254
Ibid., p. 22.
255
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 136
256
TEXIER, Edmond. Tableau de Pairs, 1:75, citado em Haussmann: “Préfet de Paris”, de G.-N. Lameyre
apud CLARK, T. J. A pintura da vida moderna: Paris na arte de Manet e de seus seguidores. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004. p. 71.
257
L. Marie, De la décentralisation des Halles, citado em Histoire de l’urbanisme, de Lavedan, p. 403. apud
CLARK, T. J. op. cit., p. 69.
258
Id.
259
DU CAMP, Maxime. Paris, ses organes, ses fonctions et as vie dans la seconde metié du XIXe siècle.
Paris, 1869, vol. 6, p. 253. apud. BENJAMIN, Walter. Sobre alguns temas em Baudelaire. Obras escolhidas
III. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 85.
260
BAUDELAIRE, Charles. O cisne. As flores do mal. Poesia e prosa: volume único. Rio de Janeiro: Editora
Nova Aguilar, 1995. p. 173.
261
CLARK, T. J. op. cit., p. 74.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 137
262
CHEVALIER, Louis. Laboring Classes and Dangerous Classes: Paris in the First Half of the Nineteenth
Century. New York: Howard Fertig, 1973. apud BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar.
São Paulo: Ed. Schwarcz, 2001. p. 146.
263
CLARK, T. J. op. cit., p. 69.
264
Ibid., p. 77.
265
BARTHÉLEMY, M. Le Vieux Paris et le Nouveau Paris. Paris, 1861. p. 8. apud BENJAMIN, Walter.
Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. p. 185. [E 12a,1].
266
CLARK, T. J. op. cit., p. 74.
267
Dubech / D’Espezel. Histoire de Paris. Paris, 1926. p. 416-425. apud BENJAMIN, W. Passagens... p.
172. [E 5,6].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 138
estética de Haussmann: “Então o barão ansiava por longas linhas retas e ‘pontos
de vista’ impressionantes, e seus críticos, por aventuras em perspectiva!”.268 A
observação de Clark nos chama a atenção para a discussão em torno da
perspectiva. Não parece haver dúvida que as avenidas parisienses trouxeram
novos pontos de vista e novas perspectivas e uma grande profundidade de campo.
No entanto, isso não parecia ser compreendido pelos contemporâneos forçados a
ver a cidade e o mundo de outro modo. Havia perspectiva, claro, mas o morador
da cidade que havia sido sujeitado a morar em um grande canteiro de obras,
parecia sentir falta das pequenas perspectivas, das narrativas encontradas em cada
dobrar de esquina. Talvez por isso, as vistas amplas e as perspectivas
monumentais tenham demorado a mostrar-se na pintura, o que aconteceu apenas
na década de 1890, ano em que Pisarro exibiu “um ponto de vista plenamente
haussmaniano de uma ponta a outra da Avenue de l’Opéra”269 (Figura 67).
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
Figura 67. Camille Pissarro, Avenue de l’Opéra, soleil, matin d’hiver, 1898.
268
CLARK, T. J. op. cit., p. 75.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 139
269
CLARK, T. J. op. cit., p. 60.
270
ABOUT, Edmond. L’Homme à l’oreille cassée. p. 196. apud CLARK, T. J. op. cit., p. 74.
271
BENJAMIN, W. Passagens... p. 174. [E 5a,8].
272
FOURNIER, Édouard. Chroniques et Légendes des Rues de Paris. Paris, 1864. p. 16. apud BENJAMIN,
W. Passagens... p. 179. [E 9,1].
273
LEVASSEUR, Histoire des Classes Ouvrières et de l’Industrie en France, II. Paris: 1904, p. 775.
BENJAMIN, W. Passagens... p. 164. [E 2,1].
274
LE CORBUSIER, Urbanisme. Paris, 1925. p. 250. apud BENJAMIN, W. Passagens... p. 166. [E 2a,1].
275
Ibid., p. 149. apud Ibid., p. 173. [E 5a,6].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 140
276
CLARK, T. J. op. cit., p. 76.
277
BUCK-MORSS, Susan. Dialética do Olhar. Walter Benjamin e o Projeto das Passagens. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2002. p. 120.
278
Daly, “Etude générale”, p. 33. apud CLARK, T. J. op. cit., p. 84.
279
Ferry. Les Comptes fantastiques apud Id.
280
CLARK, T. J. op. cit., p. 85.
281
Charles Yriarte, “Les Types parisiens – les clubs”, em Paris-Guide 2 (1867): 929. apud Id.
282
Dubech / D’Espezel. Histoire de Paris. Paris, 1926. p. 427-428. apud BENJAMIN, W. Passagens... p.
169. [E 3a,6].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 141
lado, e o interior das casas e as ruas de outro. Neste contexto, o flâneur se torna
parte da multidão: “O coletivo é um ser eternamente inquieto, eternamente
agitado, que, entre os muros dos prédios, vive, experimenta, reconhece e inventa
tanto quanto os indivíduos ao abrigo de suas quatro paredes”.289
Em O homem da multidão de Edgar Allan Poe, a inquietação e o incógnito
têm origem no crescimento urbano iniciado no século XIX. No conto, transcorrido
na Londres do século XIX, o narrador convalescente, na sua volta às ruas, vive
uma excitação que é exatamente o oposto do tédio. Sente-se atraído por tudo o que
lhe passa à frente, “ora os anúncios, ora observando a promíscua companhia
reunida no salão, ora espreitando a rua através das vidraças enfumaçadas”. Como
uma criança, nos lembra Baudelaire, que vê tudo como novidade290, o narrador
permanece sentado à janela de um café londrino, primeiro observando a multidão
que flui compacta, depois passa a prestar atenção às figuras, trajes, portes e
283
CLARK, T. J. op. cit., p. 91.
284
BAUDELAIRE, Charles. O Pintor da Vida Moderna. In: Poesia e prosa: volume único. Rio de Janeiro:
Editora Nova Aguilar, 1995. p. 854.
285
A pedido do próprio Constantin Guys, Bauldeire tem a intenção de manter-lhe o anonimato, de forma que
passa a descreve-lo como C. G.
286
BAUDELAIRE, C. op. cit., p. 855.
287
Ibid., p. 857.
288
Ibid., p. 857.
289
BENJAMIN, Walter. O Flâneur. In: Obras escolhidas III. Charle Baudelaire: um lírico no auge do
capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 194.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 142
290
BENJAMIN, Walter. Paris do Segundo Império. In: Obras escolhidas III. Charle Baudelaire... p. 18.
291
Ibid. p. 45.
292
BENJAMIN, Walter. Sobre alguns temas em Baudelaire. In: Obras escolhidas III... p. 121.
293
BENJAMIN, Walter. O Flâneur. In: Passagens... [M 12a,2], p. 484.
294
BENJAMIN, Walter. O Flâneur. In: Obras escolhidas III... p. 202.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 143
295
Ibid., p. 69.
296
Ibid., p. 202.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 144
297
Ibid., p. 186.
298
Speaking to the Eye. Illustrated London News, 24 de maio de 1851. pp. 451-2. apud NEAD, Lynda.
Victorian Babylon. People, streets and images in nineteenth-century London. New Haven & London: Yale
University Press, 2000. p. 57.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 145
299
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras escolhidas. Magia
e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 166-167.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 146
300
Sigmund Engländer, Geschichte der französischen Arbeiter-Associationen, Hamburgo, 1864, vol. II, pp.
279-280. In: BENJAMIN, W. Passagens... p. 213. [G 3,1].
301
BENJAMIN, W. Passagens... p. 215. [G 4,1].
302
Eduard Kroloff, Schilderungen aus Paris, Hamburgo, 1839, vol II, p. 57 apud BENJAMIN, W.
Passagens... p. 214. [G 3,3].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 147
seus objetos no momento da revista para o embarque nos aeroportos (Figura 76)
ou, ainda, ao ser examinado no consultório médico (Figura 77).
Figura 75. Anúncio de programas da rede CBS, Figura 76. Anúncio em bandeja de revista de
carimbado em ovos distribuídos em todo o país. bagagem em aeroporto. Retirado de STORY,
Retirado de STORY, Louise. Anywhere the Eye Louise. Anywhere the Eye Can See, It’s Likely to
Can See, It’s Likely to See an Ad. New York See an Ad. New York Times, 15 de janeiro de
Times, 15 de janeiro de 2007. 2007.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
Figura 77. STORY, Anúncio de Tylenol infantil em sala Figura 78. Anúncio de bebida no
de exame pediátrico. Retirado de Louise. Anywhere the símbolo de banheiro masculino.
Eye Can See, It’s Likely to See an Ad. New York Times, Retirado de STORY, Louise.
15 de janeiro de 2007. Anywhere the Eye Can See, It’s
Likely to See an Ad. New York
Times, 15 de janeiro de 2007.
classe trabalhadora eram vendidas a um penny (Figura 79; Figura 80) ou mesmo
meio penny (Figura 81). O grande número de títulos evidencia a popularidade
deste material voltado tanto para a informação quanto para o entretenimento. Nas
figuras aqui reproduzidas, vemos a reprodução de um folheto do periódico
Moonshine (Figura 80) que incluía ilustrações e comentários políticos organizados
de uma maneira próxima ao que hoje classificamos como comics. O anúncio
publicado no Penny Illustrated (Figura 81) divulga o lançamento de um jornal
com sete edições diárias ao custo de meio penny. O texto do anúncio destaca a
enorme pretensão do novo jornal londrino em ser o jornal “da casa”, “dos
trabalhadores”, “dos políticos”, “dos amantes do esporte”, “dos que procuram
diversão”, “dos que procuram negócios”, enfim, dos que se ocupam e dos que
procuram lazer.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 151
Figura 79. Folheto de Figura 80. Folheto de Figura 81. The evening times. Sete edições
propaganda do periódico propaganda do comics diárias. Penny Illustrated, 29 de outubro de
The Million. Evanion Moonshine. Evanion 1910. The British Library.
<http://www.collectbritain.co.uk> (2/12/07)
Collection of Ephemera. Collection of Ephemera.
The British Library. The British Library.
<http://www.collectbritain.co.uk> <http://www.collectbritain.co.uk>
(2/12/07) (2/12/07)
303
LUPTON, Ellen. Pensar com tipos. São Paulo: Cosac Naify, 2006. p. 23.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 153
ramo.
Um exemplo particularmente curioso de produto para “gerar força e vigor”
aparece no anúncio de Bovril, um extrato de carne criado por um açougueiro de
Edinburgh. O nome foi obtido a partir da combinação de “bos”, palavra latina para
boi e “vril”, termo criado por Bulwer Lytton no seu livro de ficção científica The
Power of the Coming Race. A obra, publicada em 1871, tratava de uma sociedade
utópica que habitava as profundezas da Terra e dominava uma misteriosa força
vital. O anúncio aqui reproduzido (Figura 86) apresenta um grupo de figuras
humanóides erguendo o globo terrestre. Eles têm braços e pernas, mas no lugar do
tronco e da cabeça têm um frasco de Bovril. A relação com a ficção científica
parece estreitar-se nas figuras dos Homens-Bovril e demonstra uma aproximação
estreita entre a cultura popular e a produção industrial de alimentos. Outro dado
interessante nesta peça gráfica é a utilização de letras soltas e embaralhadas no
slogan do produto: “supports the world” – uma utilização tipográfica com tons de
ousadia.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 154
Figura 92. Anúncio do sabão em pó Hudson, 1880. Figura 93. Anúncio do sabão em pó
Evanion Collection of Ephemera. *The British Library. Hudson, 1889. Evanion Collection of
<http://www.collectbritain.co.uk> (14/12/07) Ephemera. The British Library.
<http://www.collectbritain.co.uk> (15/12/07)
Figura 94. Anúncio do sabão Figura 95. Anúncio do sabão Figura 96. Anúncio do sabão
Price, 1880. Evanion Brooker, 1889. Evanion em pó Glover, 1881. Evanion
Collection of Ephemera. The Collection of Ephemera. The Collection of Ephemera. The
British Library. British Library. British Library.
<http://www.collectbritain.co.uk> <http://www.collectbritain.co.uk> <http://www.collectbritain.co.uk>
(2/12/07) (2/12/07) (2/12/07)
ditar o ritmo urbano da metrópole, inclusive com a falta de tempo que faz com
que os habitantes procurem simplificar os seus modos de alimentação, moradia e
higiene.
A produção de impressos em grande escala ao lado da diversidade dos
produtos desenvolvidos especificamente para os moradores urbanos confirmam o
enorme fluxo de informações visuais sugerido pelas representações de muros
cobertos por impressos e apontam, também, para o avanço da industrialização em
setores tão diversos como editoração, produtos de limpeza e alimentos pré-
prontos.
As cidades saturadas de imagens colocam-se ao mesmo tempo como um
“complexo de representações e um lugar de circulação de representações”; o
efeito de cada um destes processos é articulado e retrabalhado sobre o outro.304
Em um mundo onde tudo e todos se movimentam surge um novo tipo de olhar a
partir da dinâmica surgida entre os espaços urbanos, as novas tecnologias e sua
influência sobre o aparecimento da profusão de imagens. A visão abandona a
postura contemplativa e o ponto de vista único da perspectiva para tornar-se
304
TAGG, John. The Discontinuous City: Picturing and the Discursive Field. In: BRYSON, Norman,
HOLLY and MOXEY (eds.). Visual Culture: Images and Interpretations. Hanover and London: Wesleyan
University Press, 1994. p. 85. apud apud NEAD, Lynda. Victorian Babylon. People, streets and images in
nineteenth-century London. New Haven & London: Yale University Press, 2000. p. 57.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 159
305
SINGER, Ben. Modernidade, hiperestímulo e o início do sensacionalismo popular. In CHARNEY, Leo e
SCHWARTZ, Vanessa (orgs). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. p
116.
306
Id.
307
SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otavio Guilherme.(org.) O fenômeno urbano.
Rio de Janeiro : Zahar, 1976. p. 12.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 160
vida rural extrai”.308 Opondo os ritmos de vida urbano e rural, observa que na
última “o conjunto sensorial de imagens mentais flui mais lentamente, de modo
mais habitual e mais uniforme.309 O cidadão urbano sujeito a estímulos
contrastantes acaba por adotar uma atitude blasé. “Uma vida em perseguição
desregrada ao prazer torna uma pessoa blasé porque agita os nervos até seu ponto
de mais forte reatividade por um tempo tão longo que eles finalmente cessam
completamente de reagir”.310 Esta manifestação fisiológica consiste “no
embotamento do poder de discriminar”.311 Os objetos são percebidos como
“destituídos de substância” e aparecem à pessoa blasé num tom uniformemente
plano e fosco, sem grandes relevâncias. “Objeto algum merece preferência sobre o
outro”.312 O excesso de estímulos faz como que a atitude blasé surja como uma
forma de autopreservação. O resultado é que para que venha a interagir com
objetos ou imagens, o homem moderno irá precisar de estímulos cada vez
maiores. Já em 1910 o termo “hiperestímulo” aparece associado ao novo ambiente
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308
Id.
309
SIMMEL, G. op. cit., p. 12.
310
Ibid., p. 16.
311
Id.
312
Id.
313
DAVIS, Michel M. The explotation of pleasure. Nova York: Russel Sage Foungation, 1911 p. 33-36,
apud SINGER, B. op. cit., p 119.
314
A questão da experiência aparece em diversos textos de Benjamin. Cf. BENJAMIN, Walter. Sobre alguns
temas em Baudelaire.... p. 104 a 149.
315
BARBOSA, José Carlos Martin, redator técnico, citando KONDER, Leandro. BENJAMIN, W. Sobre
alguns temas em Baudelaire... p. 146.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 161
316
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 162
317
WOOLSTON Howard B. The Urban Habit of Mind. American Journal of Sociology. V. 17, n. 5, mar.
1912. p. 602 apud SINGER, B. op. cit., p 139.
318
Em referência a Woolston cf. SINGER, B. op. cit., p 140.
319
SINGER, B. op. cit., p 133.
320
Ibid., p 136.
321
VAUDAL, Jean, Le Tableau Noir. BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 151. [D 5,6].
322
BENJAMIN, W. Passagens... p. 152. [D 5a,5].
323
Ibid. p. 89. [A 6,2].
324
SIMMEL, Georg. Philosophische Kultur, Leipzig, 1911, p. 41. apud BENJAMIN, W. Passagens... p. 115.
[B 7a,1].
325
BENJAMIN, Walter. Parque Central. In: Obras escolhidas III... p. 169.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 164
326
BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 104-105. [B 2,4].
327
Ludwig Börne, Schilderungen aus Paris, 1822 e 1823, VI (“Die Läden”), in: Gesammelte Schriften,
Hamburgo / Frankfurt a. M., 1862, III, pp. 46-49. apud, BENJAMIN, W. Passagens... p. 99-100. [A, 12a].
328
Benjamin aponta o nascimento das três lojas francesas a partir de 1852. BENJAMIN, W. Passagens.. p.
89. [A 6,2].
329
Souvenir of the Bon Marche, Paris. Impresso por The Bon Marche by Imprimerie Lahure, 9, rue de
Fleures, a Paris. Lipinsky Family Collection, D.H. Ramsey Library Special Collections, UNCA, USA. In:
<http://toto.lib.unca.edu/findingaids/books/booklets/bon_marche/default_bon_marche.htm> Acesso em
21/07/2007 às 11:00.
330
George d’Avenel, “Le mécanisme de la vie moderne: Les grands magazins”, Revue de Deux Mondes,
Paris, 1894, pp. 335-336; 124 tomos” apud BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 98. [A 12,1].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 165
331
LE BON MARCHÉ RIVE GAUCHE - press release new edition October 2004. p. 6.
332
Au Bon Marché. Résumé du réglement général ; en Institutions philanthropiques en faveur du personnel /
Au Bon Marché, nouveautés, Maison Aristide Boucicault,... Publication: Paris: Maison A. Boucicaut, 1894.
In: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k1050508.notice> Acesso em 25/07/2007 às 20:15.
333
History of Le Bon Marché. <http://www.lebonmarche.fr/anglais/indexbis.htm> Acesso em 25/07/2007.
334
TIERSTEN, Lisa. Marianne in the market: envisionig consumer society in fin-de-siècle France. Los
Angeles: University of California Press, 2001. p. 26.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 166
335
Souvenir of the Bon Marché, Paris. Impresso por The Bon Marche by Imprimerie Lahure, 9, rue de
Fleures, a Paris. Lipinsky Family Collection, D.H. Ramsey Library Special Collections, UNCA, USA. p. 4.
In: http://toto.lib.unca.edu/findingaids/books/booklets/bon_marche/default_bon_marche.htm. Acesso em
21/07/2007 às 11:00.
336
CLARK, T. J. op. cit., p. 101. O número citado é o de saias disponíveis no Bon Marché.
337
“The system of selling everything at a small profit and of a perfectly reliable quality”. Souvenir of the Bon
Marche, Paris. Impresso por The Bon Marche by Imprimerie Lahure, 9, rue de Fleures, a Paris. Lipinsky
Family Collection, D.H. Ramsey Library Special Collections, UNCA, USA. p. 3. In:
http://toto.lib.unca.edu/findingaids/books/booklets/bon_marche/default_bon_marche.htm. Acesso em
21/07/2007 às 11:00.
338
CLARK, T. J. op. cit., p. 102.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 167
339
Esta análise da obra de Picasso foi sugerida em HARRISON, Charles et alli. Primitivismo, Cubismo,
Abstração. Começo do século XX. São Paulo: Cosac & Naify E., 1998. p. 95-98.
340
POGGI, Christine. Mallarmé, Picasso and the newspaper as commodity. P. 150 apud HARRISON,
Charles et alli. Primitivismo, Cubismo, Abstração. Começo do século XX. São Paulo: Cosac & Naify E.,
1998. p. 97.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 169
341
PLUM, Werner. Exposições mundiais no século XIX: espetáculos da transformação sócio-cultural. Bonn :
Friedrich-Ebert-Stiftung, 1979. p. 125.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 170
duas imagens, nos atemos à diferenciação do ambiente urbano nos dois exemplos.
No primeiro, todas as pessoas parecem se conhecer e não se percebem ameaças no
ambiente. No segundo a multidão é a ameaça. A algazarra faz a rua do segundo
quadro parecer pequena para tantas pessoas e a multidão parece esconder diversas
“camadas” de figuras.
342
TOCQUEVILLE, Aléxis de. De la démocratie en Amérique. apud PLUM, W. op. cit., p. 126.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 171
343
BRANTLINGER, Patrick. Mass Media and Culture in Fin-de-Siècle Europe. In Fin de Siècle and its
Legacy. Ed. TEICH, M. and PORTER, R. Cambridge Univ. Press, 1990. p. 98-124.
344
Baudelaire apud BENJAMIN, Walter. Paris do Segundo Império. Obras escolhidas III. Charles
Baudelaire. Um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 37.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 172
345
BARTHES, Roland. Linguagem e vestuário. In: Inéditos, vol 3: imagem e moda. São Paulo: Martins
Fontes, 2005. p. 284-5.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 173
Figura 110. Vendedora de Figura 111. Show de rua. Figura 112. Paneleiro.
fósforos. BURBY, Thomas Artista ambulante. BURBY, BURBY, Thomas Lord,
Lord, gravador. Costume of the Thomas Lord, gravador. gravador. Costume of the lower
lower orders of the metropolis. Costume of the lower orders of orders of the metropolis.
London: T. L. B., 1820. ID: the metropolis. London: T. L. London: T. L. B., 1820. ID:
1168475 NYPL Gallery. B., 1820. ID: 1168477. NYPL 1168476. NYPL Gallery.
<http://digital.nypl.org> (25/11/07) Gallery. <http://digital.nypl.org> <http://digital.nypl.org> (25/11/07)
(25/11/07)
não precisa enrubescer diante de ninguém”.346 Como destaca Benjamin, por outro
lado, a massa atua protegendo o anti-social contra seus perseguidores, escondendo
quem deseja esconder-se.347
Para Ben Singer, apesar de ter-se passado um século, a população ainda não
se encontrava plenamente adaptada à modernidade urbana e a metrópole “ainda
era percebida como opressiva, estranha e traumática”.348 A assimilação do
comportamento urbano não se realizou de forma natural e alguns gêneros
literários se propuseram a abrir este caminho. Em meados do século XIX,
surgiram as “fisiologias” que compunham um gênero literário específico, em
formato de bolso, onde os tipos da vida parisiense apareciam retratados. Estes
fascículos descreviam de forma simplista “desde o vendedor ambulante do
bulevar, até o elegante no foyer da ópera”349, tipos urbanos que eram apresentados
como seres amistosos, cônscios do seu papel na sociedade. O texto sobre o
trabalhador da indústria, por exemplo, imputa-lhe uma alegria ao trabalho,
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
346
SCHMIDT, Adolphe. Tableaux de la révolution française. Leipzing, 1870. p. 337. apud BENJAMIN,
Walter. Obras escolhidas III. Charle Baudelaire... p. 38.
347
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III. Charle Baudelaire... p. 38.
348
SINGER, B. op. cit., p 133.
349
BENJAMIN, W. Sobre alguns temas em Baudelaire... p. 34.
350
In: Fisiologia da Indústria Francesa, de Foucauld, apud BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III.
Charle Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 37.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 177
351
Ibid., p. 36.
352
SEKULA, Allan. The Body and the Archive. In: BOLTON, Richard (ed). The Contest of Meaning Critical
Histories of Photography, MIT Press, Cambridge Mass., 1992. p. 347.
353
Ibid., p. 348.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 178
Figura 115. Frente do folheto publicitário do Figura 116. Verso do folheto publicitário do
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
354
SEKULA, A. op. cit., p. 352.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 179
355
SEKULA, Allan. Op. cit., p. 362.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 180
356
O “sistema americano” de fabricação, apresentado na Exposição Universal de Londres em 1851, foi
desenvolvido na indústria de armamentos americana e consistia na produção em larga escala de produtos
padronizados, com partes intercambiáveis.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 181
de GUNNINGS, op. cit., p. 62. Figura 120. Quadro de característica físicas de Bertillon.
Musée des Collections Historiques de la Préfecture de
Police. National Library of Medicine. . Disponível em:
<http://www.nlm.nih.gov/visibleproofs/galleries/technologies/bertillon.h
tml> (23/09/07)
357
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Editora Vozes, 2006. pp. 14.
358
Ibid., pp. 16-17.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 182
seu emprego pela polícia. Esta dificuldade teve origem nas próprias características
dos primeiros momentos da fotografia. As baixas velocidades de exposição
requeriam que o fotografado permanecesse imóvel pelo tempo necessário para a
gravação de sua imagem. Alguns acusados procuravam aproveitar esta
especificidade para distorcer o próprio rosto de forma a garantir seu anonimato
(Figura 122). Embora este problema, algumas vezes considerado com um ar
caricatural, não tenha se prolongado por muito tempo, chama a atenção para a
impossibilidade do corpo rejeitar sua entrega à captura da lente. Outro fator de
dificuldade para o emprego da fotografia como agente regulador pode ser
apontado no seu próprio sucesso e no desejo moderno de fazê-la arte. A fotografia
passou a atuar diretamente no processo administrativo de controle. Para a
criminalística foi uma invenção tão importante quanto à imprensa para a
literatura360. Vestígios duradouros e inequívocos dos seres humanos puderam a ser
registrados em uma tentativa de demolir a incognoscibilidade da multidão nas
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
cidades, onde “ninguém é para o outro nem totalmente nítido nem totalmente
opaco”.361
359
A fotografia foi inventada em 1839.
360
BENJAMIN, Walter. Paris do Segundo Império. Obras escolhidas III. Charles Baudelaire. Um lírico no
auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 45.
361
BENJAMIN, Walter. Paris do Segundo Império... p. 46.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 183
362
GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In
CHARNEY, Leo e SCHWARTZ, Vanessa (orgs). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac
& Naify, 2001. p 51-52.
363
M’CLAUGHRY, R. W. Police Protection at the World's Fair. The North American review. Vol. 156, Issue
439. p. 714. http://cdl.library.cornell.edu/cgi-bin/moa/moa-cgi?notisid=ABQ7578-0156-88
364
Id., p. 711.
365
Id., p. 712.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 184
sugerem que o próprio Bertillon possa ter estado presente à exposição (Figura
123, Figura 124). De qualquer forma, não há dúvida que seu sistema tenha sido
apresentado como uma ênfase do progresso obtido graças à ciência e às novas
técnicas, no caso exemplificado pela fotografia e sua organização sistemática.
366
BAUDELAIRE, Charles. Salão de 1859. Poesia e prosa: volume único. Rio de Janeiro: Editora Nova
Aguilar, 1995. p. 803.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 185
367
GUNNING, T. op. cit., p 45-46.
368
BENJAMIN, Walter. O Flâneur. In: Passagens... [M 16a 4], p. 490.
369
GUNNING, T. op. cit., p 66.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 186
3.3.1. As ferrovias
370
HARVEY, D. op. cit., p. 238.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 187
371
Nadar, Quand J’étais Photographe, Paris, p. 281, apud BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 129. [C 3a,4].
372
LOWE, Donald. History of bourgeois perception. Chicago: The University of Chicago Press, 1982. p. 38.
373
SCHIVELBUSCH, Wolfgang. The Railway Journey: the Industrialization of Time and Space in the
Nineteenth Century. Berkeley: University of California Press, 1986. p. 34.
374
LARDNER, D. Railway Economy. London, 1850 apud SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 33.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 188
375
Quarterly Review, vol. 63, 1839. p. 22., apud SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 33.
376
LARDNER, D. Railway Economy. London, 1850 apud SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 36.
377
GREENHOW, C. H. An exposition of the danger and deficiences of the present mode of railway
construction with suggestion of its improvement. London: George Woodfall and son, 1846. p. 2.
378
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 189
379
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1992. p. 69.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 190
380
HARVEY, D. op. cit., p. 240.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 191
381
BAXTER, Sylvester, Economic and Social Influences of the Bicycle, The Arena, Outubro de 1982, apud
KERN, Stephen. The culture of time and space : 1880-1918. Cambridge: Harvard Univ., 1983. p. 111.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 192
tinham mais “alma” do que as mais recentes que pareciam, muitas vezes,
desenvolver vida própria tal o modo com que produziam influência sobre a
percepção humana.
Em relação ao ambiente físico, as ferrovias transcendem a possibilidade de
aproximação a novos lugares. Se, de um lado, elas incorporam novos espaços,
antes inacessíveis pela distância e o tempo necessário para alcançá-los, de outro,
elas suprimem os espaços entre os pontos de partida e o de chegada. A viagem
torna-se uma travessia por um espaço intocado. A eliminação do espaço entre os
dois pontos é observada significativamente por John Ruskin. Em um texto de
1849, Ruskin comenta que a ferrovia transforma o viajante em um “pacote
vivo”383, na medida em que é levado de um lugar ao outro sem que desempenhe
alguma participação neste processo. No pensamento de Ruskin, a viagem de trem
deixa de acrescentar experiência ao viajante. Sua crítica encontra alguma
sustentação na medida em que a ferrovia pode ser colocada em relação às viagens
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382
DU PASQUIER, Ch. Le Plaisir d’aller à bicyclette, Revue Scientifique, ser. 4, vol. 6., Paris, 1896, p. 144-
145. Disponível em http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k215125w, acesso em 5/6/2007 às 16:10 hs.
383
RUSKIN, John. The seven lamps of architecture. London: Adamant Media Corporation, 2005. p. 210.
384
RUSKIN, John. The works of John Ruskin. Vol 36. Longmans, Green, and co., 1909. p. 62.
385
GREENHOW, C. H. An exposition of the danger and deficiences of the present mode of railway
construction with suggestion of its improvement. London: George Woodfall and son, 1846. p. 6.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 193
386
SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 55.
387
Ibid., p. 57.
388
RUSKIN, John. Modern Painters. Vol. 3. Of many things. Adamanta Media Corp. 2000. p. 310.
389
Ibid., p. 311.
390
Entre 16 e 19 km.
391
RUSKIN, J. Modern Painters… p. 311.
392
BENJAMIN, Walter. A fotografia. Passagens... p. 715. [Y 1a,5].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 194
393
Railway Readings. Oxford: J. Vincent, 1848. p. 3.
394
SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 55.
395
GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In
CHARNEY, Leo e SCHWARTZ, Vanessa (orgs). O cinema e a invenção da vida moderna. São Paulo: Cosac
& Naify, 2001. p 41.
396
SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 56.
397
BAILEY, Samuel. Letters on the philosophy of the human mind. London: Longman, Brown, Green and
Longmas, 1855.
398
The Influence of Railway Travelling on Health reprinted from The Lancet. Hardwick, London. In:
BIDWELL, W. H. (editor and proprietor). Eclectic Magazine for foreign literature, science, and art. vol. LX.
New York: September to December, 1863. p. 424-426.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 195
estabilidade fornecida pelos trilhos. Por outro lado, a maior velocidade permitia o
desfrute de um grande número de paisagens, mesmo em uma viagem curta. O
próprio cansaço da alternância do movimento dos olhos entre os dois planos se
mostrou, com o tempo, algo que poderia ser aprendido e gerenciado. O fato
inequívoco é que uma nova percepção visual se formava. As viagens de trem têm
alguma responsabilidade nesta mudança na medida em que os “passos” de
observação anteriores não mais se prestavam à apreensão panorâmica do que
podia ser visto pela janela do trem.
viagens que se estendiam por muitos dias. Neste contexto, a expectativa da longa
convivência com outras pessoas, estimulava a criação de laços entre elas. Com o
trem, esta relação foi completamente alterada. Em primeiro lugar o trem era mais
democrático. Em lugar de um único compartimento, haviam diversos, além de
uma grande área para a terceira classe. Os passageiros dos trens trocaram a
conversa pelo embaraço. Além disso, as inúmeras paradas traziam uma sucessão
de novas faces, o que também não estimulava contatos interpessoais. A conversa,
praticamente, fluía apenas quando se encontravam conhecidos. A leitura nestes
veículos parece ter surgido mais como uma forma de superar o desconforto da
situação de estar frente a frente com desconhecidos do que uma forma de passar o
tempo. George Simmel, no começo do século XX, considerou que as
conseqüências da introdução de novas tecnologias de comunicação e transporte
foram sentidas diretamente no surgimento de novas formas de relacionamento.
Segundo Simmel, “as relações recíprocas dos seres humanos nas cidades se
distinguem por uma notória preponderância da atividade visual sobre a auditiva.
Suas causas principais são os meios públicos de transporte. Antes do
desenvolvimento dos ônibus, dos trens, dos bondes do século XIX, as pessoas não
O OLHAR INOCENTE É CEGO 196
399
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III. Charles Baudelaire... p. 36.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 197
Mancha, via trem rápido, em apenas três horas e meia”, “trem expresso quatro
vezes ao dia”. Ambos os cartazes trazem imagens das paisagens importantes de
cada local.
Figura 130. Estrada de ferro du Figura 131. Estrada de ferro du Figura 132. 'Cook's Tours
Nord. Boulogne sobre o mar. Nord. Le Tréport-Mers. pela Escócia e Irlanda. Capa
Temporada de 1889. Temporada de 1889. de folheto publicitário, sem
<http://gallica.bnf.fr/> (25/09/07) <http://gallica.bnf.fr/> (25/09/07) data. Thomas Cook
Archive/The ILN Picture
Library. <
http://www.ilnpictures.co.uk>
(17/09/07)
400
MARX, Karl. Grundisse. Apud SCHIVELBUSCH, W. The Railway Journey: the Industrialization of
Time and Space in the Nineteenth Century. Berkeley: University of California Press, 1986. p. 40.
401
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era ... p. 170.
402
SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 42.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 199
403
CASSOU, Jean.Du Voyage au tourisme. Communications,10(1967):25-34. apud KERN, S. op. cit., p. 352.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 200
404
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1992. p. 33.
405
URRY, John. The tourist gaze. London: Sage Publications, 2002. p. 127.
406
SONTAG, Susan. Ensaios sobre a fotografia. Rio de Janeiro, Ed. Arbor, 1981. p. 55.
407
Ibid. p. 56.
408
SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 131.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 201
Figura 133. Acidente de trem em Kentish Town, na Figura 134. Acidente de trem na Ferrovia
junção da linha Hampstead. The Illustrated London Chester, com estragos na ponte Dee.
News, 7 de setembro de 1861. ILN Picture Library. The Illustrated London News, 12 de junho
<http://www.ilnpictures.co.uk/> (17/09/07)
de 1847. ILN Picture Library.
<http://www.ilnpictures.co.uk/> (17/09/07)
409
SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 131.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 202
1912?”.
mecânico que incluía não apenas a locomotivas, mas os seus carros e, também, as
estradas férreas. Neste contexto, com o fim de evitar acidentes e choques, muitas
vezes, uma ou mais pessoas tinham a tarefa de observar à frente a linha do trem
para divisar obstáculos no caminho. No trem da Figura 137 vemos alguns homens
imediatamente atrás da locomotiva, provavelmente cumprindo esta função. Na
mesma figura do trem dos correios, vemos à direita um homem com um
sinalizador luminoso. As três luzes na parte da frente indicam tratar-se de um trem
expresso. Como se pode perceber a partir da simplicidade deste sistema de sinais,
a sinalização ferroviária não se mostrava satisfatória. Os primeiros sistemas óticos
e acústicos que foram projetados para este fim, provavam-se pouco efetivos no
escuro, na neblina, em condições de ruído excessivo e, ainda, na passagem por
túneis.410 Foi justamente nas passagens por túneis que o telegrafo apresentou a sua
primeira aplicação prática. O sistema, primeiramente constituído para túneis e
depois expandido ao longo de toda a linha, consistia na divisão da linha em
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410
SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 30.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 204
411
Railway Readings. Oxford: J. Vincent, 1848. p. 8.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 205
412
WARD, Matthew E. English Items or, Microcosmic Views of England and Englishmen. Liverpool, 1830.
pp. 47-8 apud SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 60.
413
Id.
414
GASTINEAU, Benjamin. La Vie en chemin de fer. Paris, 1861. p. 31. apud SCHIVELBUSCH, W. op. cit.,
p. 60.
415
Ibid., pp. 37-38. apud BENJAMIN, W. Passagens... p. 631 [U 10a,1].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 206
ferrovia pode expor à vista toda a França, desenrolando diante dos nossos olhos
“um panorama infinito, uma vasta sucessão de quadros charmosos, de novas
surpresas”.416 De uma paisagem podemos ver uma vista geral: “não pergunte
sobre os detalhes, mas por um todo vivo. Depois de termos nos encantado com
suas habilidades pictóricas, ele [o trem] repentinamente pára e, simplesmente,
deixa-nos descer aonde queremos chegar”.417
Um outro autor, Dolf Sternberger, utiliza o conceito de panorama para
descrever a tendência de olhar os elementos individuais e descontínuos de forma
indiscriminada, um modo de percepção ocidental, predominantemente européia,
surgida no século XIX. “A paisagem profundamente transformada do século XIX
permanece visível até hoje, pelo menos em seus rastros. Ela foi formada pela
estrada de ferro”.418 Para Sternberger, a vista das janelas da Europa haviam
perdido sua profundidade e os objetos transfiguraram-se em meras partículas de
um único mundo panorâmico que nos envolve como uma superfície pintada419.
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416
CLARÉTIE, Jules. Vouages d’un parisien. Paris, 1865. p. 4. apud SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 61.
417
Id.
418
STERNBERGER, Dolf. Panorama, oder Ansichten vom 19. Jahrundert, 3rd. ed. Hamburgo, 1938. pp. 34-
35. apud BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 520. [N 12a,2].
419
Ibid,. p. 50. apud SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 62-63.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 207
vivência real. Considere-se a este propósito, a fase final dos panoramas, na virada
do século XIX para o XX, em um momento em que a visão panorâmica já podia
ser considerada completamente naturalizada.
420
Id. Ibid., p. 62.
421
SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 64.
422
Id.
423
As linhas de Paris para Orléans e Rouen passaram a operar a partir de 1843. SCHIVELBUSCH, W. op.
cit., p. 62.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 208
424
MILLER, Angela. The Panorama, the Cinema, and the Emergence of the Spectacular. Wide Angle.
Summer, 1996. p. 43.
425
COMMENT, Bernard. The Panorama. London: Reaktion Books, 1999. p. 19.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 209
alguns anos, era vendida para outras rotundas em outras cidades inglesas, na
Alemanha, França ou Holanda. Não poucas vezes, pintava-se o novo tema sobre a
antiga tela. Até desaparecer em 1861, o Panorama de Londres punha em
exposição uma ou duas novas mostras a cada ano, tendo exibido não menos de
que 126 obras.426
Os panoramas fizeram um grande sucesso em dois períodos distintos. O
primeiro período durou de sua invenção, na virada dos séculos, até 1820 e contou
com uma audiência estimada entre trinta mil e cinqüenta mil visitantes por ano. A
partir da década de 1820 o número de visitantes diminuiu para 15 mil por ano.427
Embora não tenhamos dados que corroborem a nossa hipótese, verificamos que
este período corresponda à invenção dos aparelhos de visualização, de uso
individual, que mereceram um estudo detalhado de Crary em relação às
modificações ocorridas na visualidade.428 Ao longo da segunda geração de
panoramas, no último quarto do século XIX, a média de espectadores aumentou
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426
Ibid., p. 25.
427
Ibid., p. 115.
428
CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: on vision and modernity in the nineteenth century.
Massachusetts: The MIT Press, 1992.
429
COMMENT, B. op. cit., p. 115.
430
MILLER, A. op. cit., p. 36.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 210
cicloramas, um panorama dramático. “Em nossa época, tão rica em pano-, cosmo-,
neo-, mirio-, kigo- e dioramas.”431
431
M. G. Saphir no Berniler Courier, 4 mar. 1829, cit. em Erich Stenger, Daguerres Diorama in Berlin,
Berlim, 1925, p. 73. BENJAMIN, Walter. Panorama. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG, São Paulo:
Imprensa Oficial, 2006. p. 569. [Q 1,1].
432
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas II. Rua de Mão Única. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 76.
433
BENJAMIN, Walter. Panorama. Passagens... p. 572. [Q 2,3].
434
BAUDELAIRE, Charles. Salão de 1859. Poesia e prosa: volume único. Rio de Janeiro: Editora Nova
Aguilar, 1995. p. 840.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 211
435
MILLER, A. op. cit., p. 41.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 212
436
In: RHODE, Eric. A History of the Cinema: From its origins to 1970. New York: Hill and Wang, 1976. p.
8. apud MILLER, A. op. cit., p. 44.
437
MILLER, A. op. cit., p. 44.
438
EBERHARDT, J. A., Handbuch des Aesthetik, 1807. apud COMMENT, B. op. cit., p. 97.
439
COMMENT, B. op. cit., p. 97.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 213
XVII, foi apenas no século XIX que eles passaram a ser produzidos em massa e
com peças intercambiáveis.440 A utilização cada vez mais utilitária do mecanismo,
mais do que uma necessidade da época evidencia a crescente importância de um
tempo objetivo e impessoal sobrepondo-se ao tempo pessoal e subjetivo do
indivíduo. O historiador alemão Karl Lamprecht observou nas últimas décadas do
século XIX um crescente aumento na produção e importação de relógios de bolso
(ele estima 12 milhões de relógios importados para uma população alemã de
aproximadamente 52 milhões). Ao mesmo tempo, as pessoas passaram a prestar
maior atenção aos pequenos intervalos de tempo.441 A crescente utilização de
relógios é ao mesmo tempo causa e conseqüência do aumento do senso de
urgência, de um maior desejo de velocidade através de uma maior compreensão
da pontualidade. Já em 1900, Simmel afirmava que “pontualidade,
calculabilidade, exatidão são introduzida à força na vida pela complexidade e
extensão da existência metropolitana e não estão apenas muito intimamente
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440
LOWE, D.,op. cit., p. 35.
441
KERN, S. op. cit., p 110-111.
442
SIMMEL, G. op. cit., p. 15.
443
PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido. Vol. I: No caminho de Swann. Rio de Janeiro: Ediouro,
1992. p. 55-56. A tradução reproduzida aqui é a de BENJAMIN, ibid., p. 106.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 214
França apresentavam quatro horários diferentes. Por outro lado, já em 1890 havia
máquinas que registravam o horário de entrada e saída dos seus empregados de
forma a determinar o tempo trabalhado e o pagamento a receber447. Deste modo, a
industrialização também foi fundamental para a necessidade de implantação de
um tempo coletivo, com precisão de menores segmentos e que dispensasse a
referência do mundo natural. Em 1880, o “tempo ferroviário” foi adotado como
padrão na Inglaterra, seguido pela Alemanha em 1893. Na Exposição Universal de
Paris, realizada em 1889, um dos congressos internacionais realizados discutiu a
unificação do tempo.448 Neste mesmo ano, os Estados Unidos foram divididos em
quatro zonas de tempo ligadas às ferrovias, o que já era uma excelente
padronização para quem, trinta anos antes, possuía 80 diferentes horários
relacionados às ferrovias. Apenas em 1918, estas zonas passaram a ser
compreendidas como faixas de horário seguidas até os nossos dias. A fotografia
de 1908 da Figura 139 ilustra o funcionamento do sistema de horário das
ferrovias. Cada seção do painel representa uma hora, subdividida em intervalos de
444
Um conceito desenvolvido por Durkheim. Ver em KERN, S. op. cit., p. 19.
445
KERN, S. op. cit., p. 12.
446
KERN, S. op. cit., p. 12.
447
Kern descreve um artigo de 1893 na Scientific American que descreve esta máquina. KERN, S. op. cit., p.
15.
448
SCHROEDER-GUDEHUS, Brigitte et RASMUSSEN, Anne. Les fastes du progrès. Le guide des
Expositions universelles 1851-1992. Paris: Flammarion, 1992. p. 118.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 215
449
HARVEY, D. op. cit., p. 225
450
HALL, S. op. cit., p. 70.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 216
4.
A pedagogia de uma nova visualidade
história do design, quando, de fato, deveria ser o ponto de partida para uma
história crítica do design na medida em que o que era discutido era mais
interessante e novo do que o que era apresentado.451 De qualquer forma, a ligação
entre as Exposições e o campo do design amplia a consideração de Bürdek de que
estas mostras eram capazes de revelar o estágio de desenvolvimento do design à
época.452 Além da oportunidade dada às pessoas comuns de conhecer máquinas
em funcionamento e produtos produzidos industrialmente, a primeira Exposição
permitiu que designers, artistas, críticos e industriais tivessem acesso ao estado da
arte do que era produzido em diversos países. Se isto não era traduzido em muitas
inovações formais, certamente ressalta discussões capazes de fundamentar uma
crítica do ornamento e do design, o que aponta para mudanças na forma de olhar o
que era produzido.
451
GREENHALGH, Paul. Ephemeral Vistas: The Expositions Universelles, Great Exhibitions and World’s
Fairs, 1851-1939. Manchester: University Press, 1994. p. 143.
452
BÜRDEK, Bernhard E. História, Teoria e Prática do Design de Produtos. São Paulo: Ed. Edgard Blücher,
2006. p. 21.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 219
453
KUSAMITSU, Toshio. Great Exhibitions before 1851. History Workshop. n. 9. (Spring 1980): 70-89.
apud The Books of the fairs. p. 5. http://microformguides.gale.com/Data/Introductions/10020FM.htm.
Acesso em 25 de fevereiro de 2007 às 12:57h.
454
BRIGGS, Asa. Exhibiting the Nation. History Today, January 2000. p. 18
455
Cf. PLUM, Werner. Exposições mundiais no século XIX: espetáculos da transformação sócio-cultural.
Bonn : Friedrich-Ebert-Stiftung, 1979. e REBERIOUX, Madeleine. Approches de l’histoire de expositions
universelles à Paris du Second Empire a 1900. Bulletin du Centre d’histoire économique et sociale de la
région lyonnaise, n. 1, pp. 1-17, 1979.
456
BARBUY, Heloisa. A exposição universal de 1889 em Paris. São Paulo: Edições Loyola, 1999. p. 24.
457
Ibid., p. 17.
458
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 220
459
REBERIOUX, M. op. cit. p. 3.
460
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2004.
461
Ibid., p. 17.
462
DEBORD, Guy. Comentários sobre a sociedade do espetáculo. In: A sociedade do espetáculo. Rio de
Janeiro: Contraponto Editora, 2004. p. 168-169.
463
BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do século XIX. <Exposé de 1935>. In: Passagens. Belo Horizonte:
Editora UFMG, São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. p. 44.
464
CLARK, T. J. A pintura da vida moderna: Paris na arte de Manet e de seus seguidores. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004. p. 42-43.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 221
465
Ibid. p. 43-44.
466
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Editora Vozes, 2006. p. 178.
467
BENNETT, Tony. The Exhibitionary Complex. In: DIRKS, N. B., ELEY, G. e ORTNER, Sherry B. (ed.)
Culture / Power / History. New Jersey: Princeton University Press, 1994. p. 130.
468
DAVISON, Graeme. Exhibitions. Australian Cultural History (Canberrra: Australian Academy of the
Humanities and the History of Ideas Unit, A. N. U.), no. 2 (1982/3) 7. apud BENNETT, T. op. cit., p. 128.
469
Citado por HARRIS, Neil . Museums, merchandising and popular taste: The struggle for influence. In
QUIMBY, I. M. G. (ed) Material Culture and the Study of American Life. New York: W. W. Norton, 1978. p.
144. apud BENNETT, T. op. cit., p. 132.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 222
470
MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações. Comunicação, cultura e hegemonia. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2001.
471
BENNETT, T. op. cit., p. 123.
472
Id.
473
Ibid. p. 124.
474
NEVES, Margarida de Souza. As vitrines do progresso. Rio de Janeiro: Centro de Ciências Sociais PUC-
Rio, 1986. (datilografado). p. 26.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 223
475
DUMAS, F. G. (org.); FOUCARD (red.). Revue de l’Exposition universelle de 1889. Paris: Motteroz/
Baschet, 1889. v. 1. p. 222. apud BARBUY, H. op. cit., p. 70. (grifo nosso)
476
BENJAMIN, W. Passagens... p. 236. [G 16,6].
477
GIEDION, Sigfried. Bauen in Frankreich. Leipzig e Berlim, 1928. p. 37. apud BENJAMIN, W.
Passagens... p. 211. [G 2,3].
478
BUCK-MORSS, Susan. Dialética do Olhar. Walter Benjamin e o Projeto das Passagens. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2002. p. 116.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 225
479
BOURDIEU, Pierre et PASSERON, J. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982. p. 121. Os autores mencionam violência simbólica e inculcação em
contraponto à noção de um aprendizado intuitivo e ingênuo.
480
REBERIOUX, M. op. cit., p. 10.
481
BARBUY, H. op. cit., p. 54.
482
GREENHALGH, P. op. cit., 19.
483
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 226
por exemplo, o guia oficial da Exposição de Londres afirmava que o objetivo das
exposições não era simplesmente atrair as massas, mas promover “a instrução do
público em arte, ciência e manufatura” através da exposição de objetos
selecionados.484 A preocupação com a educação, presente em todas as exposições,
apontava em diversas direções. De um lado, o caráter didático-pedagógico de
formar, instruir, levar ao novo, aproximar das descobertas técnicas e científicas e
incutir ideais de cidadania, trabalho e modernidade. De outro lado, surgia também
a preocupação com a habilidade técnica e o aprimoramento do profissional da
indústria. Em paralelo a este último ponto, buscava-se também o direcionamento
do gosto do público no sentido de um “refinamento”, assim como também dos
designers e dos demais envolvidos no processo industrial a partir da visualização
em termos comparativos com o que era produzido em todo o planeta.
O elemento educacional que apoiava a realização das Exposições favoreceu
a ocorrência de diversos congressos e conferências paralelas, algumas acadêmicas
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
484
London International Exhibition 1874. Official Guide (Illustrated). London, J. M. Johnsons and Sons,
1874. apud GREENHALGH, P. op. cit., p. 19.
485
PLUM, W. op. cit., p. 85.
486
SCHROEDER-GUDEHUS, Brigitte et RASMUSSEN, Anne. Les fastes du progrès. Le guide des
Expositions universelles 1851-1992. Paris: Flammarion, 1992. p. 100.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 227
487
Ibid., p. 117.
488
BARBUY, H. op. cit., p. 34.
489
Id. Cf menção ao relatório do Congresso.
490
Ibid., p. 54.
491
L’Exposition de Paris, 1889, v. 3/4:98. apud BARBUY, H. op. cit., 54.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 228
492
BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do século XIX... p. 44.
493
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Exposições universais. Espetáculos da Modernidade do século XIX. São
Paulo: Editora Hucitec, 1997. p. 178.
494
Le Correspondant. Paris, 25 jul. 1867, p. 621. apud PESAVENTO, S. op.cit., p. 129.
495
ALTWOOD, John. The Great Exhibitions. Londres, Studio Vista, s. d., p. 34. apud PESAVENTO, S. op.
cit., p. 129.
496
L’Illustration Française. Paris, 24 abr. 1867, p. 264. apud PESAVENTO, S. op. cit., p. 129.
497
BUCK-MORSS, Susan. Dialética do Olhar. Walter Benjamin e o Projeto das Passagens. Belo Horizonte:
Editora UFMG, 2002. p. 118.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 229
nova cultura visual. Além disso, abria-se espaço para a diversão como uma nova
espécie de consumo, fundamentada na visualidade. É neste contexto que se
compreende porque a organização de exposição de Nova York, de 1853, tenha
sido entregue a Phineas Barnum, que havia se tornado conhecido a partir de seus
shows de variedade e, principalmente, do circo.498 De fato, o entretenimento de
massas mostrou-se logo um grande negócio. A Torre Eiffel, em menos de um
ano, já havia pagado os seus custos de construção e começava a dar lucro.499 É
com esta moldura, formulada a partir da contradição entre o educacional e o
lúdico, que devemos analisar a participação das Exposições Universais na fixação
de uma cultura visual moderna construída ao longo do século XIX.
498
BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 224. [G 9,1].
499
Ibid. p. 220. [G 6a,2].
500
WAINWRIGHT, Clive. The making of the South Kensington Museum II. Collecting modern
manufactures: 1851 and the Great Exhibition. Journal of the History of Collections. 14. no. I (2002). London:
Oxford University Press. p. 26
O OLHAR INOCENTE É CEGO 230
Figura 142. Desenhos originais do Palácio de Cristal por Figura 143. Levantando a viga mestra
Joseph Paxton. 11 June 1850. do corredor central. Construção do
Disponível em: The Victorian Web
<http://www.victorianweb.org/history/1851/8.html> (17/03/08)
Palácio de Cristal. The Illustrated
London News, 1851. Disponível em
<http://www.victorianweb.org/
history/1851/40.html> (17/03/08)
501
GREENHALGH, P. op. cit., p. 150-151.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 231
502
The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry, Open University A100 course material
by Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press, 1971. p. 51-53.
503
BENJAMIN, W. Passagens... p. 213. [G 2a,8].
504
Ibid. p. 212. [G 2a,7].
505
A garantia de retirada do prédio ao final do evento, buscava atender às queixas e petições impetradas
contra a localização do evento em uma área exclusivamente residencial da cidade.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 232
506
PEVSNER, Nicolaus. High Victorian Design. A study of the Exhibits of 1851. London: Architectural
Press, 1951. p. 15.
507
Segundo Pevsner, baseado em uma palestra dada por Paxton no inverno de 1850-1851, foram 6.024
colunas de 15 pés de comprimento, 3.000 vigas de sustentação das galerias, 1.245 vigas em ferro forjado e
1.073.760 pés quadrados de vidro. PEVSNER, N. op. cit., p. 15.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 233
de Cristal e seu entorno o Hyde Park (Figura 149). George Baxter, autor do
trabalho, obteve a patente do processo que utilizava tinta a óleo sobre blocos de
madeira ou metal em relevo. A seqüência de impressão era realizada sobre uma
base pré-gravada em metal ou litografia. No exemplo aqui reproduzido, foram
utilizados dez blocos de tinta. As reproduções eram vendidas em um estande na
própria Exposição.509
Figura 149. The Great Exhibition. Impressão em óleo por G. Baxter. Disponível em:
<http://spencer.lib.ku.edu/exhibits/greatexhibition/fairy.htm> (17/03/08).
508
Journal of Design and Manufactures, vol. 4, 1850/1851, p. 30 apud PEVSNER, N. op. cit., p. 15.
509
Crystal Palace http://spencer.lib.ku.edu/exhibits/greatexhibition/fairy.htm. Acesso em 18 de março de
2008 às 10:47h.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 234
Nations não se propunham a ser afixadas como um quadro, mas proporcionar uma
visão panorâmica do evento para quem se propusesse a desenrolar a peça.
Figura 150. "Grand Panorama of the Great Exhibition of All Nations". Illustrated London News.
1851. Friends of the Library Fund, Cooper-Hewitt, National Design Museum Library. Disponível
em: Smithsonian Institution Libraries. <http://www.sil.si.edu> (17/03/08)
510
ALMEIDA, Cícero Antônio F. de, VASQUEZ, Pedro Karp. Selos postais do Brasil. São Paulo:
Metalivros, 2003. p. 30.
511
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III. Charle Baudelaire... p. 43.
512
BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 261. [I 7,6].
513
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas III. Charle Baudelaire... p. 43.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 235
Figura 154. Navalha Sheffield Town. Produzida por Hawcroft & Sons para a Exposição de
1851, com o propósito de demonstrar a habilidade dos artesãos da companhia. O Palácio de
Cristal aparece reproduzido na lâmina. The Crystal Palace Exhibition Illustrated Catalogue,
London 1851. Fac-símile, reimpressão. New York: Dover Publications, 1970. p. 222
514
Julius Lessing, Das halbe Jahrhundert der Westausstellungen, Berlim, 1900, pp. 6-10 apud BENJAMIN,.
Passagens... p. 219-220. [G 6; G 6a,1].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 237
Figura 157. Galeria superior. Palácio de Cristal. Figura 158. Conjunto de esculturas. Palácio de
Philip Henry Delamotte, impressão fotográfica, Cristal. Philip Henry Delamotte, imp.
1855. The British Library Board. Disponível em: fotográfica, 1855. The British Library Board.
<http://www.collectbritain.co.uk/> (17/03/08) Disponível em: <http://www.collectbritain.co.uk/>
(17/03/08)
515
Apud PEVSNER, Nicolaus. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo: Martins Fontes,
2001. p. 13.
516
http://spencer.lib.ku.edu/exhibits/greatexhibition/sydenham.htm. Acesso em 22/7/2002 às 9:45 h.
517
Apud PEVSNER, N. Origens... p. 11.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 239
518
RUSKIN, John. The opening of the Crystal Palace. In: SCHARF, Aaron et al. (ed.). Industrialisation and
Culture. 1830-1914. London: The Open University Press, 1970. p. 298.
519
PESAVENTO, S. op. cit., p. 120.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 240
Figura 162. All the World Going to See the Great Exhibition of 1851, George Cruikshank
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
520
Museum of London. World city. Did people visit the Great Exhibition?
http://www.museumoflondon.org.uk/archive/exhibits/worldcity/level4.asp?i=sm&shop=5&sub=95&baseqs=i
%3Dsm
521
Hippolyte Adolphe Taine (1828 - 1893), crítico e historiador francês em citação apresentada por
BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do século XIX... p. 43
O OLHAR INOCENTE É CEGO 242
522
Le Temps. Paris, 14 février 1887.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 243
523
Id.
524
PEREIRA, M. op. cit., p. 84.
525
SCHROEDER-GUDEHUS, B. op. cit., p. 60.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 244
fundamento da riqueza do país, era nela que a nação investia. A cultura moderna
pretendida era voltada para o desenvolvimento de base agrícola529, deste modo, a
busca pela renovação tecnológica voltava-se para métodos, fabricação de
instrumentos e máquinas para a agricultura. De fato, empreendimentos como a
agricultura e a criação de gado eram considerados indústrias, assim como as
atividades extrativas ou de coleta. À época, o sentido do termo indústria era amplo
e compreendia “toda e qualquer forma de atividade humana, independente do grau
de beneficiamento, do emprego de tecnologia ou das relações sociais
subjacentes”.530 Deste modo, no Brasil, o desejo de melhoramento dos “processos
industriais” desconsiderava questões como a divisão de tarefas e produção em
massa, levando em conta a produção de café e açúcar. Além disso, o fato do Brasil
contar com um reduzido mercado de mão-de-obra livre reforçou uma série de
diferenças em relação às Exposições européias como, por exemplo, a preocupação
em seduzir a elite local para “os novos caminhos que se abriam com o progresso
técnico e que reverteriam em vantagens econômicas concretas”.531 Em outras
526
Auxiliador da Indústria Nacional, n. 23, jul. 1855 – jan. 1856, p. 320. Nota 1. apud PESAVENTO, S. op.
cit., p. 97.
527
PESAVENTO, S. op. cit., p. 99.
528
Ibid., p. 100.
529
Ibid., p. 102.
530
Ibid., p. 105.
531
Ibid., p. 107.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 245
532
Ibid., p. 108.
533
Ibid., p. 109.
534
Catálogo dos productos nacionaes e industriaes remetidos para a Exposição Universal de Londres. In:
Recordações da Exposição Nacional de 1861. Rio de Janeiro, Confraria dos amigos do livro, 1977. p. 125
O OLHAR INOCENTE É CEGO 246
Em 1873 uma outra exposição nacional foi realizada com o mesmo objetivo
de selecionar produtos para a Exposição Universal, desta vez a ser realizada neste
mesmo ano em Viena. Este evento deixou claro que mesmo a Exposição Nacional
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
não refletia a realidade do que era produzido no país. Se, por um lado, a pequena
indústria não encontrava estímulo para participar do evento, de outro lado, a maior
parte dos produtos expostos jamais era encontrada no mercado e pareciam ser
produzidos unicamente para a exposição.535 Neste contexto, as Exposições
Universais aparentam vincular-se mais ao imaginário da indústria do que à própria
indústria.
As excentricidades da participação do Brasil nas Exposições Universais
atingem seu ápice em 1889, na Exposição Universal de Paris. A comemoração dos
cem anos da Revolução Francesa e de seus valores de liberdade, igualdade e
fraternidade, levou o Império do Brasil, assim como as demais monarquias, à
recusa em uma participação oficial. No entanto, isso não excluiu uma participação
oficiosa com a iniciativa privada recebendo subsídios financeiros.536 Mas, isso não
significa que a decisão de levar o Brasil à Exposição tenha sido simples. Ao
contrário. De um lado, argumentava-se que esta participação seria um luxo
desnecessário, envolvendo grandes gastos para um evento que privilegiava
maquinarias, técnicas e produção fabril, setores incipientes no Brasil. De outro,
535
PESAVENTO, S. op. cit., p. 143.
536
GOMES, Angela de Castro. O 15 de novembro. In: GOMES, A. C.; PANDOLFI, D. C.; ALBERTI, V. A
(coord.). A República no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, CPDOC, 2002. p. 25.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 247
537
PESAVENTO, S. op. cit., p. 189.
538
Ibid., p. 191.
539
LES MERVEILLES DE L’EXPOSITON DE 1889. Paris: Librairie Illustrée, 1890. p. 483.
540
GOMES, A. op. cit., p. 26.
541
As fotografias aqui reproduzidas foram tomadas pela autora no Palácio do Itamaraty. As manchas de
envelhecimento das mesmas foram reproduzidas do mesmo modo que foram captadas. A autora optou por
não realizar nenhum tipo de restauro no material, tendo usado apenas um filtro que acentuasse o contraste. No
entanto, algumas fotografias que apresentavam partes muito comprometidas foram cortadas em um
enquadramento que favorecesse a visualização dos itens expostos.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 248
Figura 169. Vitória Régia. Pavilhão do Brasil. Exposição Universal de Pariz. 1889.
Exposição Brazileira. Álbum da Coleção Iconográfica. Palácio do Itamaraty, Rio de
Janeiro.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 249
Figura 171. Estante com compoteiras. Ao Figura 172. Vitrine com itens de perfumaria.
fundo, vitrine de mate e cestaria. Exposição À direita, moringas e cerâmicas. Exposição
Universal de Pariz. 1889... Universal de Pariz...
O OLHAR INOCENTE É CEGO 250
Figura 174. Estante e vitrines com produtos químicos e Figura 175. Detalhe de estante
farmacêuticos. Exposição Universal de Pariz... com compoteiras. Exposição..
A presença do Brasil foi marcada por 838 expositores que receberam 579
prêmios.542 A grandeza territorial era exaltada com imponentes estátuas que
representavam os rios do Império, dispostas em volta do pavilhão. Uma pequena
galeria conduzia a uma coleção de orquídeas. Os três andares do prédio
apresentavam, além do café, borracha, cacau, madeiras de construção e tintura,
pedras minerais, prata e diamante, mate, frutas e cereais. Também se exibiam
algodão, esponjas, produtos farmacêuticos, móveis, quadros e aquarelas de
paisagens pitorescas do Brasil. Um enorme bloco de ferro e níquel em forma de
542
SCHROEDER-GUDEHUS, B. op. cit., p. 114.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 251
Figura 176. Vista da nave leste, Palácio de Cristal, 1851. Aquarela e guache
sobre papel por John Absolon (1815-95). A estátua original em bronze, de
autoria de Eugène Simonis, encontra-se em frente ao Palácio Real de
Bruxelas. Ao pé da cópia em gesso, vê-se pequenas esculturas em mármore
do mesmo autor. Victoria and Albert Museum, London.
Disponível em: <http://www.vam.ac.uk> (12/4/08).
543
PEREIRA, Margareth Campos da Silva. A participação do Brasil nas exposições universais. Projeto:
Revista brasileira de arquitetura, planejamento, desenho industrial, construção. n. 139, mar. 1991. p. 86.
544
The Crystal Palace Exhibition Illustrated Catalogue, London 1851. Fac-símile, reimpressão. New York:
Dover Publications, 1970. p. 61.
545
Para uma visão geral das esculturas como elemento decorativo, ver daguerreótipo da Figura 146.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 253
546
The Official Catalogue of the Great Industrial Exhibition, Dublin 1853. Dublin, 1853. apud
GREENHALGH, P. op. cit., p. 13
547
Reports on the Paris Universal Exhibition, 3 Volumes, presented to both Houses of Parliamente, 1856,
apud GREENHALGH, P. op. cit., p. 14
548
GREENHALGH, P. op. cit., p. 15
O OLHAR INOCENTE É CEGO 254
Figura 177. Pavilhão austríaco. Ilustração do Figura 178. Pavilhão austríaco. Ilustração do
segundo volume de Dickinson's segundo volume de Dickinson's comprehensive
comprehensive pictures of the Great pictures of the Great Exhibition of 1851, com
Exhibition of 1851, com trablhados de Nash, trablhados de Nash, Haghe e Roberts RA, 1854.
Haghe e Roberts RA, 1854. In collection of: In collection of: Science Museum Library
Science Museum Library. Disponível em: Disponível em: <http://www.ingenious.org.uk> (2/09/07).
<http://www.ingenious.org.uk> (2/09/07).
549
BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 219. [G 6; G 6a, 1].
550
BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 212-213. [G 2a,7].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 255
Figura 181. The Great Exhibition, Main Avenue. In: History and description
of the Crystal Palace, and the Exhibition of the World's Industry in 1851.
Gravura em metal a partir de desenhos originais e daguerreótipos. London e
New York, John Tallis and Co., 1852. Disponível em:
<http://spencer.lib.ku.edu/exhibits/greatexhibition/exhibits.htm> (3/06/07).
551
GREENHALGH, P. op. cit., p. 142.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 257
552
Id.
553
REDGRAVE, Gilbert R. Manual of design. Compiled from the writings and addresses of Richard
Redgrave, R. A. London: Chapman and Hall, 1890. p. 6.
554
O Museu Victoria e Albert (VAM) foi fundado como Museu de South Kensington em 1852, abrigando
muitos dos objetos expostos na Exposição de 1851. É hoje considerado o maior museu de arte decorativa e
design do mundo.
555
REDGRAVE, G. op. cit., p. 7.
556
The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry, Open University A100 course material
by Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press, 1971. p. 59-60.
557
É interessante observar um aparente contraste entre a indústria e “missão civilizadora” inglesa no seu
posicionamento na luta contra a escravatura e pela abolição do comércio de escravos, demonstrado na
Exposição com a exibição de esculturas de escravos algemados. Cf. PLUM, W. op. cit., p. 135.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 258
jóias e o que mais se possa imaginar.558 O catálogo oficial ilustrado foi impresso
em três grossos volumes.
A maioria dos objetos observados no catálogo do Art Journal559 nos parece
excessivamente ornamentado e formalmente distante da construção em vidro e
ferro do Palácio de Cristal. Em alguns casos, a abundância de ornamentos e o
emprego de elementos da natureza (animais, flores e plantas) chegam a dificultar a
nossa apreensão visual do objeto, ainda mais se considerarmos que esta rápida
análise é feita a partir de gravuras da época.
O estilo no ornamento seria a expressão de certa individualidade e do gosto
de cada época ou nação, mesmo que sobre influência externa. Sob este ponto de
vista, o texto de Ralph Nicholson Wornum, “A Exposição como uma lição de
gosto”, que recebeu a premiação do Art-Journal de melhor ensaio sobre o evento,
coloca que, apesar das inúmeras variedades de estilo existentes, as características
principais permitiam estabelecer nove variações que influenciaram a civilização
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410914/CA
européia: três antigos (egípcio, grego e romano); três da Idade Média (bizantino,
560
sarraceno e gótico) e três modernos (renascentista, Cinquecento e Luís XIV) .
Na visão historicista de Wornum, um posicionamento comum à época e que
permaneceria praticamente inalterado até o final da Primeira Guerra, todos os
estilos existentes seriam uma cópia ou combinação destes descritos. Em sua
análise da Exposição de Londres de 1851, Wornum considera que não havia nada
novo em termos de “design ornamental” e estende suas considerações sobre a
inferioridade das peças inglesas – voltadas para a produção em escala –
principalmente em relação às francesas – mais luxuosas e, em geral, vistas como
exemplo a ser seguido. A não observância à utilidade do produto, o excesso de
detalhes e a irregularidade de execução também são listadas como itens
problemáticos.
Não temos a intenção de nos aprofundar sobre as discussões de estilo, no
entanto, optamos por reproduzir aqui algumas das peças, dentre as analisadas por
Wornum que se encontram no catálogo da Exposição, como forma de explicitar o
contraste dos objetos expostos às formas proto-modernas do Palácio de Cristal,
558
The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry, Open University A100 course material
by Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press, 1971. p. 61.
559
The Crystal Palace Exhibition Illustrated Catalogue, London 1851. Fac-símile, reimpressão. New York:
Dover Publications, 1970.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 259
560
WORNUM, Ralph Nicholson. The Exhibition as a Lesson in Taste. The Crystal Palace Exhibition Art
Journal Issue, London 1851. Fac-símile, reimpressão. New York: Dover Publications, 1970. p. II***.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 260
Figura 190. Carruagem. Mr. Clapp & Son, Boston, Estados Unidos.
The Crystal Palace…
561
The Crystal Palace Exhibition Illustrated Catalogue, London 1851. Fac-símile, reimpressão. New York:
Dover Publications, 1970. p. 166.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 262
562
WORNUM, R. op. cit., p. I***.
563
GREENHALGH, P. op. cit., p. 144.
564
REDGRAVE, G. op. cit., p. 17.
565
Ibid., p. 18.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 263
566
Ibid., p. 36.
567
Ibid., p. 34.
568
Ibid., p. 56.
569
REDGRAVE, Gilbert R. Manual of design. Compiled from the writings and addresses of Richard
Redgrave, R. A. London: Chapman and Hall, 1890. p. 38.
570
“Ornamento e crime” é um texto de 1908 escrito por Adolf Loos que considera o ornamento incompatível
com a evolução cultural. LOOS, Adolf. Ornamento e Crime. Lisboa: Edições Cotovia, 2004. pp. 223-234.
571
OTTOMEYER, H. ; ALBRECHT, K. A.; WINTERS, Laurie. Biedermeyer. The invention of simplicity.
Milwaukee, Vienna, Berlin: Hatje Cantz Publishers, 2006. p. 52
O OLHAR INOCENTE É CEGO 264
noção de que a arte Biedermeier seria voltada para a classe média e, por isso,
realizada rapidamente e com baixo custo.572 Ao contrário, suas peças foram
encomendadas por membros da corte e da aristocracia e apresentam, na sua pureza
formal, uma simplicidade refinada. Segundo Ottomeyer, o culto da simplicidade
desenvolveu-se à época como princípio de beleza e em contraste ao estilo luxuoso
do século XVIII.573 Este ideal estético de refinamento marca também o momento
de ascensão de uma cultura ligada à domesticidade. Os espaços domésticos
começaram a ser vistos como lugar de refúgio e eixo da vida pessoal e familiar.
“O século XIX, como nenhum outro, tinha uma fixação pela moradia”.574 O
Biedermeier é um estilo voltado para a casa e o individualismo do lar em oposição
aos espaços coletivos ou públicos.
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Figura 195. Pintura de Stephanie von Fahnenberg. Figura 197. Cadeira. Áustria, cerca de
Living Room de Alexander von Fahnenberg at 1820. In: OTTOMEYER, H., op. cit. p.
Wilhelmstrasse 69. In: OTTOMEYER, H., op. cit. 128.
p. 155.
572
Estes estudos foram realizados por Christian Witt-Dörring e Hans Ottomeyer, enquanto trabalhavam de
forma independente, respectivamente, em Viena e Munique. Cf. OTTOMEYER, H.op. cit. p. 37.
573
Ibid. p. 83
574
BENJAMIN, Walter. Passagens… p. 225. [I 4,4].
575
GODSEY, apud OTTOMEYER, H.op. cit. p. 62.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 266
dentre eles Gustav Klimt, Koloman Moser e o arquiteto Josef Hoffman, encarava
como prioritária esta união das artes que, em última instância, mantinha a tradição
aristocrática e seu desejo por luxuosos objetos artesanais. Deste modo, observa-se
uma conexão seqüencial entre a Secessão e a Wiener Werkstätte (Oficinas de
Viena), fundada em 1903 por Josef Hoffmann e Koloman Moser, então
professores da Vienna Kunstgewerbeschule (Escola de Artes Aplicadas). A
companhia estabeleceu o padrão da nova arte vienense através da produção e
venda de modernos artigos têxteis, móveis e, eventualmente, roupas.576
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576
HOUZE, Rebecca. From Wiener Kunst im Hause to the Wiener Werkstätte: Marketing Domesticity with
Fashionable Interior Design. In: Design Issues: Massachusetts Institute of Technology. Volume 18, Number 1
Winter 2002. p. 1.
577
OTTOMEYER, H. op. cit. p. 63
578
A frase completa, de 1894, é "O único ponto de partida possível para a criação é a vida moderna. Todas as
formas devem estar em harmonia com as novas exigências do nosso tempo. Nada que não seja prático poderá
ser belo”.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 269
581
REDGRAVE, G. op. cit., p. 7.
582
GREENHALGH, P. op. cit., p. 143.
583
VEBLEN, Thorstein. The theory of the leisure class. New York: Penguin Books, [1899] 1994. p. 115-166.
584
The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry, Open University A100 course material
by Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press, 1971. p. 28.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 271
produção, embora de outra forma, não mais produzindo o objeto do início ao fim.
Neste contexto, as imperfeições do objeto produzido manualmente, de que fala
Veblen, além de não prestar-se como garantia de um produto totalmente artesanal,
parece mais corresponder aos desejos de uma cultura aristocrática que vinha sendo
acuada pela ascensão de uma nova cultura, a cultura moderna. Entenda-se aqui
que as aspirações aristocráticas não se referem exatamente aos desejos de galgar
uma determinada classe social, mas a uma condição simbólica que relaciona
gostos, anseios e padrões a um ideal almejado.
É no contexto deste jogo simbólico que se colocam questões relacionadas ao
emprego de materiais que, apesar de não serem exatamente novos, utilizavam uma
mecânica de produção capaz de alcançar resultados muito diferenciados. Dentre
os materiais identificados nos objetos da Exposição de 1851 encontram-se a guta-
percha, o papier-mâché e o próprio ferro.
A guta-percha é uma espécie de látex assemelhado à borracha, mas sem a
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acabamento das peças nos permite compreender a sua exibição dentro de vitrines
no Palácio de Cristal. Na aquarela de Pidgeon (Figura 211), vemos uma vitrine
poligonal, no canto direito da imagem, que guarda objetos em papier-mâché da
manufatura Spiers & Son de Oxford. Esta forma de exibição confirma a idéia de
uma mostra “apenas para os olhos” onde o público não tinha a possibilidade de
tocar os objetos de uso diário, exibidos como obras de arte da indústria.
585
The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry, Open University A100 course material
by Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press, 1971. p. 28.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 274
Figura 209. Pote para chá. Tea Caddy. Papier- Figura 210. Caixa para trabalhos manuais.
mâché. Manufatura Jennens & Bettridge, Papier-mâché. Manufatura Jennens & Bettridge,
Birmingham, Inglaterra. 1851. Victoria and Birmingham, Inglaterra. Ca. 1850. Victoria and
Albert Museum, London. Disponível em: Albert Museum, London. Disponível em:
<http://www.vam.ac.uk> (12/04/08). <http://www.vam.ac.uk> (12/04/08).
O OLHAR INOCENTE É CEGO 275
586
RUSKIN, John. A economia política da arte. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004. p. 126-127.
587
Id.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 276
588
BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 191. [F 1a,2].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 277
589
The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry, Open University A100 course material
by Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press, 1971. p. 93.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 278
590
RUSKIN, John. Lecture in Manchester, 1857. Apud The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art
and Industry, Open University A100 course material by Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press,
1971. p. 93.
591
The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry…p. 93.
592
Ibid., p. 106.
593
Ibid., p. 93.
594
Ibid., p. 93.
595
ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1985. p. 114.
596
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. In: Obras escolhidas.
Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 187-188.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 279
597
Ibid., p. 192.
598
BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 824. [i 1,8].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 280
599
BAUDELAIRE, Charles. Salão de 1859. Poesia e prosa: volume único. Rio de Janeiro: Editora Nova
Aguilar, 1995. p. 801.
600
BAUDELAIRE, Charles. Exposição Universal (1855). Belas-Artes. Poesia e prosa: volume único. Rio de
Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1995. p. 775.
601
BAUDELAIRE, Charles. Exposição Universal (1855)... p. 775.
602
BENJAMIN, W. Passagens... p. 212. [G 2a, 4].
O OLHAR INOCENTE É CEGO 281
603
NEVES, M. op. cit.
604
BARBUY, H. op. cit., p. 18.
605
BENJAMIN, Walter. Passagens... op. cit., p. 236. [G 16,7].
606
PESAVENTO, S. op. cit., p. 73.
607
The Exhibition of 1851. The Speech of H.R.H. The Prince Albert, K.G., F.R.S., at The Lord Mayor's
Banquet, in the City of London, October 1849. The Illustrated London News, 11 October 1849. [1849-10-11]
http://pages.zoom.co.uk/leveridge/albert.html acesso em 1 de fevereiro de 2008 às 21:19h.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 282
608
Le Livre des Expositions Universelles. 1851-1989. Paris, Ed. Des Arts Décoratifs/Herscher, 1983
(Journal”Récits et Témoignages, 1851, p. 17. apud PESAVENTO, S. op. cit., p. 73.
609
The Exhibition of 1851. The Speech of H.R.H. The Prince Albert, K.G., F.R.S., at The Lord Mayor's
Banquet, in the City of London, October 1849. The Illustrated London News, 11 October 1849. [1849-10-11]
http://pages.zoom.co.uk/leveridge/albert.html acesso em 1 de fevereiro de 2008 às 21:19h.
610
Id.
611
PLUM, W. op. cit., p. 61.
612
PESAVENTO, S. op. cit., p. 82.
613
PESAVENTO, S. op. cit., p. 83.
614
BOURDIEU, Pierre. Campo do Poder, Campo Intelectual e Habitus de Classe. A economia das trocas
simbólicas. São Paulo, Editora Perspectiva: 2004. p. 183-202.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 283
615
MARX, Karl, ENGELS, Friedrich, Werke, vol. 7. Berlim, 1969. p. 431. apud. PLUM, W. op. cit., p. 21.
616
HARVEY, D. op. cit., p. 240-241.
617
PLUM, W. op. cit., p. 65.
618
REBERIOUX, M. op. cit., p. 3.
619
AINÉ, Armengaud. Traité theorique et pratique des moteurs a vapeurs. Paris: A. Morel et Ge. Libraires,
1862. p. 111.
620
PLUM, W. op. cit., p. 91.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 284
exposição serão vistas por milhões de olhos, estudadas e comentadas por milhões
de inteligências”.621
621
LAVOLÉE, C. Les expositions de l’industrie et l’exposition universelle de 1867. Paris, Hachette, 1867
(Conferences populaires faites à l’asile imperiale de Vincennes). p. 47. apud PESAVENTO, S. op. cit., p.
125.
622
BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do século XIX. <Exposé de 1935>. In: Passagens... p. 43.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 285
5.
Considerações finais
623
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da História. In: Obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política.
São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 226.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 286
624
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 2004. p. 17.
625
Ibid., p. 14.
626
DEBORD, Guy. Comentários sobre a sociedade do espetáculo. In: A sociedade do espetáculo. Rio de
Janeiro: Contraponto Editora, 2004. p. 168-169.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 290
6.
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