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Para obter aprovação em um concurso público, longas horas em cima dos livros não são suficientes.
Muitas vezes, uma pessoa bem preparada pode acabar perdendo sua vaga no servidorismo público por
não conhecer bem os macetes e peculiaridades da banca organizadora que o irá avaliar. Para se dar bem
em uma prova objetiva, o candidato deve dirigir seus estudos para que o esforço não seja em vão.

Pensando nisso, o Concursos/Corr eioWeb dá início à uma série de reportagens que tentará mostrar aos
concurseiros de primeira viagem um pouco mais das especificidades de empresas responsáveis por
promover alguns dos maiores certames do pais. Começamos falando sobre o Centro de Seleção e d e
Promoção de Eventos da Universidade de Brasília, o famoso e temido Cespe/UnB.
Temer ou não temer: eis a questão.

A banca é tida como uma das mais qualificadas e respeitadas do país. Já organizou concursos de grande
porte, como os da Agência Brasileira d e Inteligência (Abin), do Instituto Rio Branco (IRBr), do Ministério
Público da União (MPU) e da Policia Federal (PF). Segundo o professor de Língua Portuguesa João
Marcos de Camillis Gil, que trabalha com provas do Cespe/UnB há cerca de vinte anos, os can didatos não
têm motivos para ficarem inseguros diante das questões cobradas pela empresa. "É bom para o aluno que
a instituição elaboradora mantenha um perfil mínimo de qualidade e de respeito ao candidato. Existe um
temor quando se fala em Cespe, mas é a melhor prova que nós temos no mercado", desmistifica o
docente.

Para João Marcos, a ideia que ainda perdura no imaginário dos candidatos, de que as avaliações da
banca são cheias de "pegadinhas" e armadilhas, não tem fundamento. "Isso fica muito mais em um plano
de mito do que da realidade. A prova do Cespe/UnB é a que menos traz questões intencionalmente
maldosas. Os enunciados são cada vez mais claros e as questões cada vez mais `honestas'. Você vê que
a avaliação mede não só o conhecimento específico das disciplinas, mas também algum preparo no
sentido de atenção e dedicação do candidato naquela tarefa temporária", explica.

O educador garante que a prova não é um monstro, mas faz questão de ressaltar que, para vencê -la, são
necessários pelo menos quatro h oras diárias de estudo: "A avaliação exige do candidato, além de um
conhecimento gramatical mínimo e de uma capacidade de compreensão e interpretação de textos, o
conhecimento de terminologia técnica, o que dificulta bastante o trabalho dos candidatos de m odo geral -
porque a maioria deles não tem uma formação específica".

Para se dar bem nas provas do Cespe/UnB, também é necessário ter um bom repertório de
conhecimentos gerais. "Um aluno bem formado, que tenha acesso à informação e que esteja sintonizado
com as mudanças diárias do mundo consegue fazer uma boa prova. Não existe uma bibliografia específica
para atualidades, é só acompanhar os grandes acontecimentos atuais: a questão do terrorismo, da miséria
africana, das relações internacionais, do capital g lobalizado e das guerras e pressões mundiais; enfim, de
toda a conjuntura sócio -político-econômica", aconselha.

Espantar o medo e o nervosismo na hora da prova também parece algo impossível. Entretanto, se um
candidato já está familiarizado com o tipo de a valiação que irá enfrentar, grandes problemas já podem ser
limados. "Se o aluno criar o hábito de fazer uma prova por semana de cada disciplina, acaba se
habituando com os enunciados, sabe qual é o conteúdo mais exigido". Ou seja, quando o candidato
domina melhor a metodologia utilizada pela empresa, mais seguro ele se sente ao responder todas as
questões.

Vossa excelência, Cespe/UnB

As provas aplicadas pela banca são divididas em três tipos distintos: de múltipla escolha, resposta
numérica e o famoso "certo ou errado". O último modelo é o mais utilizado pela empresa, fato que a
diferencia de todas as outras que atuam no mercado. Mas não é só isso: a avaliação que contém este tipo
de questões não abre espaço para que o candidato arrisque, porque há uma penal idade: uma questão
errada pode anular uma ou duas certas.

Paulo Portela, coordenador acadêmico do Cespe/UnB, afirmou ao Concursos/CorreioWeb que esta


modalidade foi criada com o intuito de coibir o "chute". "Este método se chama apenação. Trata -se de um
desconto na nota a cada questão marcada errada. Neste tipo de prova, a probabilidade de acertar por
chute é de 50%. Quando você apena e diz que o candidato vai perder um ponto a cada item errado,
aumenta-se a veracidade das respostas. Ou o candidato erra por não saber a disciplina ou acerta por
dominar aquele determinado assunto. A apenação aumenta a credibilidade do concurso", explica.

Mas nem sempre as provas da organizadora foram feitas assim. O coordenador conta que até o início dos
anos 90, a metodologia utilizada era baseada na memorização, na capacidade do candidato de "conhecer
e lembrar" o conteúdo. Entretanto, logo a técnica foi modificada. "Ocorre que as questões de memorização
não permitem que a banca avalie se um profissional tem ou não perfil par a as atribuições exigidas pelo
órgão. Ao perceber isso, o Cespe incluiu como característica principal a contextualização. O que é isso? É
você trazer para a prova situações -problema com as quais o profissional vai se deparar em seu dia -a-dia.
Você deixa de cobrar somente a memorização, que é a base do conhecimento, e pede para que o
candidato aplique aquele conhecimento, de maneira que o possa raciocinar e não apenas lembrar",
argumenta Portela.

Além da contextualização, o Cespe/UnB dá prioridade a outro po nto importante: a interdisciplinaridade.


"Isso permite que se utilize, em um determinado item, a abordagem de mais de um objeto de
conhecimento. Isso reflete o dia -a-dia do profissional, que vai juntar diferentes habilidades naquele
trabalho que vai desemp enhar". O coordenador já vislumbra planos para o futuro. "Hoje as seleções são
embasadas no perfil e nos objetos de conhecimento. O próximo passo para evolução nos concursos será,
além de apresentar um perfil, apresentar uma matriz de habilidades e de conh ecimentos".
Recentemente a organizadora lançou o edital do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que já segue essa
linha esperada para os próximos anos. São 200 vagas para o cargo de analista, divididas entre cinco
áreas de concentração. Ao invés de distribui r o conteúdo programático entre matérias de conhecimentos
gerais (como Português, Informática e Raciocínio Lógico, por exemplo) e conhecimentos da área à qual se
concorre, o edital prevê apenas tópicos específicos ligados às atribuições do cargo - o que vai filtrar mais
ainda a escolha dos novos servidores. Segundo o documento, "os itens das provas poderão avaliar
habilidade que vão além do mero conhecimento memorizado, abrangendo compreensão, aplicação,
análise, síntese e avaliação, com o intuito de valori zar a capacidade de raciocínio".

O cara que venceu a prova

Para o concurseiro Thiago Lindolpho Chaves, de 24 anos, a banca é de fato a mais conceituada do Brasil.
A metodologia utilizada pela empresa é a ideal, segundo o analista processual do Ministério P úblico da
União, aprovado em 13º lugar no último concurso, promovido pelo Cespe/UnB. "Dificilmente há problemas
na organização, ainda mais se tratando de concursos em nível nacional", alega.

O servidor público já enfrentou diversas provas da organizadora e elogia os métodos utilizados para
avaliar os candidatos: "As questões propostas são muito bem feitas. Não é uma avaliação fácil, só quem
estuda é selecionado. É muito difícil conhecer alguém que passou por sorte, pois são questões
extremamente aprofundada s".

Fique de olho nas orientações dadas pelo professor João Marcos:

1 - Reserve parte dos seus estudos para a resolução de provas recentes da banca organizadora. Faça a
avaliação, compare-a com o gabarito oficial e se aprofunde mais nas questões que você e rrou. Outra
coisa: procure nivelar por cima, ou seja, tente estudar provas de grandes concursos, com um grau maior
de dificuldade;

2 - Nas provas objetivas, não arrisque: só marque as questões em que você tem absoluta certeza da
resposta. Para o docente, é muito difícil conseguir sucesso neste tipo de prova sem ter estudado muito;

3 - Leia atentamente todos os enunciados e também todos os itens. Uma palavra que passa despercebida
pode mudar todo o contexto da questão e te induzir ao erro;

4 - Fique sempre atento às atualidades, leia jornais e revistas. Quanto mais você souber sobre
conhecimentos gerais, maior a possibilidade de que você se dê bem na prova;

5 - Fique atento aos textos que a empresa disponibiliza nos exames. "Às vezes eles parecem muito
difíceis, mas as questões não exigem que o candidato entenda toda a sua complexidade. O nível de
compreensão que o Cespe quer que o candidato tenha é mediano", alega João Marcos;
U - Na hora da dissertação argumentativa, fique de olho nos textos que antecedem as questões. As provas
da banca tendem a ser temáticas, a versarem sobre um mesmo tema. A leitura atenta pode te ajudar a
desenvolver uma redação mais emba sada e segura;

7 - Não acredite nas fórmulas mágicas de resolução de provas e nas técnicas de chute que são
disseminadas por aí. Isso não adianta nada. Se puder, estude de quatro a cinco horas por dia e tente
absorver o conteúdo listado no edital de abertu ra - não esquecendo de resolver provas. Só assim você
conseguirá sua tão sonhada cadeira em um órgão público.

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