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Duplicata virtual

MONOGRAFIA

III.1.1. EXECUTIVIDADE DAS DUPLICATAS VIRTUAIS

SUMÁRIO. I. INTRODUÇÃO. II. ABORDAGEM HISTÓRICA. II.1 A FORMAÇÃO DO

COMÉRCIO E SUAS CONSEQÜÊNCIAS. II.2. O MUNDO NECESSITA DE CRÉDITO COM

A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA. II.3. A INFORMÁTICA NO PROCESSO DE

INOVAÇÃO E A DESMATERIALIZAÇÃO DOS DOCUMENTOS. III. ASPECTOS E

PRINCÍPIOS DA DUPLICATA. III.1 CONCEITO DE DUPLICATA. III.2ESPÉCIES DE

TÍTULOS DE CRÉDITO. III. 3. PRINCÍPIOS DA DUPLICATA. III.3.1 CARTULARIDADE.

III.3.2.LITERALIDADE. III.3.3 AUTONOMIA.

III.3.3.1ABSTRAÇÃO.III.3.3.2INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES. III.3.4 PRINCÍPIO

DA INCORPORAÇÃO. III.4 ASPECTOS DA DUPLICATA. III.4.1CAUSALIDADE DAS

DUPLICATAS. III.4.2. O CRIME DE DUPLICATA SIMULADA E DUPLICATA ͞FRIA͟.

III.4.3. ACEITE. III.4.4 REQUISITOS FORMAIS DA DUPLICATA. IV.

DESCARTULARIZAÇÃO DA DUPLICATA. IV.1. DESMATERIALIZAÇÃO DOS TÍTULOS

DE CRÉDITO. IV.1.1COMÉRCIO ELETRÔNICO. IV.2. CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS.

IV.3 A RELATIVIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS APLICADOS À DUPLICATA. IV.3.1.

LITERALIDADE. IV.3.2. CARTULARIDADE. IV.4. MODIFICAÇÕES NOS ASPECTOS DA

DUPLICATA. IV.4.1. A ASSINATURA DO SACADOR E ASSINATURA DIGITAL. IV.4.2. O

ACEITE NA DUPLICATA VIRTUAL. IV.5NORMATIZAÇÃO DAS CERTIFICAÇÕES

DIGITAIS. IV.6O DOCUMENTO ELETRÔNICO COMO PROVA. IV.6 .1CONCEITO DE

DOCUMENTO ELETRÔNICO. V.6.2 AUTENTICIDADE E VERACIDADE DO

DOCUMENTO ELETRÔNICO. V.6.3 A CÓPIA DO DOCUMENTO ELETRÔNICO.

V.6.4 A IMPUGNAÇÃO DA PROVA ELETRÔNICA E O ÔNUS DA PROVA. V.7 A

LEI ATUAL E PROPOSTAS DE ALTERAÇÕES DA LEI. V.7.1. OS PROJETOS DE LEI. VI.

EXECUTIVIDADE DAS DUPLICATAS VIRTUAIS. VI.1. A VISÃO DA DOUTRINA. VI.2.


PAGAMENTO, QUITAÇÃO E INADIMPLÊNCIA. VI.2. PAGAMENTO, QUITAÇÃO E

INADIMPLÊNCIA. VI.3. PROTESTO DA DUPLICATA. VII. PEDIDO DE FALÊNCIA E

RECUPERAÇÃO JUDICIAL ATRAVÉS DA DUPLICATA VIRTUAL. VII.1

JURISPRUDÊNCIA. VIII. CONCLUSÃO. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

LEOPOLDINOMACHADO DE CASTRO NETO

I. INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho é a executividade das duplicatas virtuais, tema escolhido com o

objetivo de estudar o entendimento e o posicionamento jurídico corrente. A fim de elucidação,

serão abordados temas como o surgimento das duplicatas, suas modificações, a influência da

tecnologia neste instrumento de transferência de crédito e o entendimento doutrinário e

jurisprudencial sobre a existência e a validade jurídica da duplicata virtual.

Com o aumento das relações comerciais pela Internet, nasceu a necessidade de criar

formas de pagamento tão desenvoltas quanto o próprio ato de comprar pela Internet. Assim, a

duplicata começou a ser emitida digitalmente, como também sendo ͞assinada digitalmente͟, e

por muitas vezes, paga digitalmente.

A falta de um título de crédito real e palpável é a essência do problema levantado

nesse trabalho, onde se propõem as hipóteses de que o vínculo contratual não nasce na

formalidade, quanto ao crédito, enquanto na esfera de sua compensação e liquidação, não há

problemas na falta da existência real da duplicata, nem tampouco no protesto e na execução,

pois esta atende os requisitos da duplicata.

O Código Civil de 2002 veio trazendo alterações importantes para o instituto de títulos

de crédito em geral com relação à informática e tecnologia de informação, bem como em

relação à prova eletrônica.

Este trabalho utilizou método de abordagem dedutivo, e procedimentos histórico,

comparativo e monográfico, utilizando-se de documentação indireta, como a analogia como

também documentação direta, por meio de livros, jurisprudência, textos e a legislação


brasileira, bem como de artigos disponibilizados na rede mundial de computadores.

São essas as considerações introdutórias que fazemos sobre o tema.

II.3. A INFORMÁTICA NO PROCESSO DE INOVAÇÃO E ADESMATERIALIZAÇÃO DOS


DOCUMENTOS.

O comércio é tão dinâmico quanto as inovações surgidas, influenciadas pelatecnologia de


informação, possibilitando celeridade desde as formas de pagamento como deobtenção do
crédito. Com a informatização, nasceu também a desmaterialização dos títulos decrédito,
processo esse surgido na França, em 1967 e ainda, em 1970, substituíra totalmente opapel
pelas fitas magnéticas tanto em sua emissão quanto a sua circulação.

Albernaz, em seu artigo, Títulos de Créditos Eletrônicos sustenta que ͞o princípio


dacartularidade se encontra em declínio, visto que prática rotineira do comércio suprimiu sua
exigência há tempos͟154

Com a criação da rede mundial de computadores, diga-se Internet, surgiu também


atransmissão de diversos tipos de dados, bem como para entretenimento, fechar negócios,
baterpapocom amigos distantes, bem diferente do seu objetivo inicial, ͞transmitir dados
sigilososdo exército americano, na época chamada de Arphanet͟155

Transações comerciais via Internet, a prática de compra e venda de produtos por meiodela,
bem como de transições bancárias, e a prática do e-processo156, tiveram suasconseqüências,
como entende o Juiz Edison Aparecido Brandão, conforme proferira em umade suas
sentenças:

"O processo tal como o conhecemos está acabando, vindo a seu lugar meio inédito,apto a
novas realidades, que formará e criará parâmetros de um futuro em muitodiferente do que se
imaginava em nosso passado ou que se tem em mente em nosso presente"

No processo eletrônico, como já tem sido a prática de alguns Tribunais como oTribunal
Superior do Trabalho, bem como os Tribunais Regionais do Trabalho e a JustiçaFederal de
algumas capitais, admitem peticionamento eletrônico, ou ainda, vista do processo ede seu
andamento via Internet, sem a presença de autos, ambos mediante senhadisponibilizada ao
advogado e as partes.

Já no âmbito comercial, foi necessária a criação de uma forma de emissão de título decrédito
que fosse tão rápida quanto a compra realizada em um e-shop. Assim, os países quefazem
parte da inclusão digital, criaram suas formas de resolver esse problema.

O Brasil, da mesma forma que criara a duplicata, iniciou, pela prática, mesmo semnenhuma
regulamentação a emitir duplicata de maneira on-line, mesmo para as negociaçõesno meio
físico. O processo da duplicata virtual vem ficando cada vez mais moderno eaperfeiçoado,
tanto o é, que o próprio Código Civil prevê agora essa possibilidade, no artigo889, inc. III:͞Art.
889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitosque
confere, e a assinatura do emitente.(͙)§ 3o O título poderá ser emitido a partir dos caracteres
criados em computador ou meio técnicoequivalente e que constem da escrituração do
emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.͟

Assim, acertou o legislador, em prever a utilidade da informática nos títulos de crédito,visto


que tem sido uma prática consistente nos tempos de hoje. Ainda, LUIZ GASTÃO PAESDE
BARROS LEÃES, explica sobre o meio magnético: ͙͞ a fita magnética, por exemplo, seconstitui
num material plenamente apto a produzir um documento, tão válido e eficaz quantoo é o
papel.͟160

No entanto essa visão é ainda tida com reservas, mesmo que o Código Civil tenhaprevisto os
títulos de crédito com emissão a partir de caracteres criados em computador, o queserá
discutido em capítulo posterior.

III. ASPECTOS E PRINCÍPIOS DA DUPLICATA

III.1 CONCEITO DE DUPLICATA

Aos se conceituar a duplicata, há que se abordar, mesmo que brevemente, os títulos de

crédito em geral.

158 E-shop: Loja eletrônica, loja virtual.

159 BRASIL. Lei nº. 10.406/2002. Institui o Código Civil. Disponível em

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=221601> Acesso em 15
set. 2005.

160 LEÃES. Luiz Gastão Paes de Barros, estudos e pareceres sobre sociedades anônimas, Apud
ALBERNAZ,

Lister de Freitas. Op. cit.

100

Desta forma, Vivante conceitua o título de crédito, logo, duplicata, como ͞(͙) o

documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado͟161,

conceito esse utilizado em nossa legislação civil, em seu artigo 887: ͞O título de crédito,

documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente

produz efeito quando preencha os requisitos da lei.͟162

A duplicata é título de crédito exclusivamente brasileiro, que possui bastante

características da Letra de Câmbio, no entanto, possui em seu bojo, a causalidade, que será
explicada em momento oportuno.

Rubens Requião conceitua a duplicata como:

͞(͙) um título formal, circulante por meio de endosso, constituindo um saque

fundado sobre o crédito proveniente de contrato de compra e venda mercantil ou de

prestação de serviços, assimilados aos títulos cambiários por força de lei͟163.

161 VIVANTE, Cesare. Trattatodidireittocommerciale, Apud COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de

Direito Comercial, 7ª ed. rev. e atual. de acordo com o novo Código Civil e alterações da LSA. ʹ
São

Paulo: Saraiva,. 2003, v. 1, p. 369.

162 BRASIL. Lei nº. 10.406/2002. Institui o Código Civil. Disponível em

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=221601> Acesso em 15
set.

2005.

163 REQUIÃO, Rubens. Op. cit. p. 549.

101

É preciso observar que a duplicata não é um título de crédito obrigatório quando se há

uma relação comercial, no entanto é a duplicata o único título válido para comprovar que

houve um saque de vendedor por certa quantia, em relação ao comprador referente àquela

relação jurídica.

III.2 ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO

O Professor Marcos Roberto Gentil Monteiro164 da Universidade Federal de Sergipe,

arrola as espécies de títulos de crédito que são:

1- Letra de câmbio

2- Nota promissória

3- Cheque

4- Duplicata

5- Títulos de crédito rural

a) Nota promissória rural


b) Duplicata rural

c) Cédula rural pignoratícia

d) Cédula rural hipotecária

e) Cédula rural pignoratícia e hipotecária

f) Nota de crédito rural

6- Títulos de crédito industrial

7- Debêntures

8- Warrant

9- Conhecimento de transportes

10-Ações

11- Títulos da dívida pública

12- Letra imobiliária

13- Cédula hipotecária;

164 MONTEIRO. Marcos Roberto Gentil. Direito comercial e direito bancário. Disponível em

<www.infonet.com.br/marcosmonteiro/ direitobancario/ttulos_de_credito.doc> Acesso em 12


fev.

2006.

102

Dentre essas a que será objeto de estudo desse trabalho é a Duplicata e sua variação

como Duplicata Virtual.

Os princípios abaixo elencados são os princípios de todos os títulos de crédito,

obviamente, há princípios que são mais visíveis e mais presentes em um título de crédito do

que em outro, sendo então os princípios abaixo já encorpados aos aspectos da duplicata.

III.3 PRINCÍPIOS DA DUPLICATA

A definição de Vivante sobre o título de crédito expande-se em três princípios

aplicáveis a duplicata, como também a qualquer título de crédito, merecendo destaque

especial em lei, no entanto há pontos que hoje começam a ser discutíveis, conforme a

necessidade de se adaptar a prática do comércio.


III.3.1 CARTULARIDADE

Segundo Fábio Ulhoa, ͞o princípio da cartularidade é a garantia de que o sujeito que

postula a satisfação do direito é mesmo o seu titular (͙). A cartularidade é, desse modo, o

postulado que evita enriquecimento indevido de quem, tendo sido credor de um título de

crédito, o negociou com terceiros͟165.

A lei de Duplicatas prevê ainda, exceção a cartularidade no que tange ao protesto,

podendo essa ser feita por indicação, com informações sob responsabilidade do portador,

conforme art. 13, §1 da Lei de Duplicatas.

Com o avanço da tecnologia, o processo ficou mais moderno, e mais célere, conforme

conceitua o Juiz Federal George Marmelstein:

͞Esse novo processo, que, na onda dos modismos cibernéticos, pode ser chamado de e-
processo (processo

eletrônico), tem as seguintes características: a) máxima publicidade; b) máxima velocidade; c)


máxima

comodidade; d) máxima informação (democratização das informações jurídicas); e) diminuição


do contato

pessoal; f) automação das rotinas e decisões judiciais;(͙); l) reconhecimento da validade das


provas digitais; k)

surgimento de uma nova categoria de excluídos processuais:os desplugados͟166.

Se a estrutura mais formal e rígida do Poder, que é o Poder judiciário, já se rendeu a

essa facilidade do e-processo, como esperar que o comércio eletrônico também não o fosse

utilizar.

165 COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit. p. 372

166 LIMA, George Marmelstein. Op. cit.

103

Desta feita, o Código Civil em seu artigo 225, faz o reconhecimento das provas

digitais:

͞Art. 225 As reproduções fotográficas, cinematográficas, os registros fonográficos e,

em geral, quaisquer outras reproduções mecânicas ou eletrônicas de fatos ou de coisas


fazem prova plena destes, se a parte contra quem forem exibidos , não lhes impugnar

exatidão.͟167

Assim, fica demonstrado que até o princípio da cartularidade fora flexibilizado, para se

adaptar ao mundo informático.

Há corrente divergente, é o entendimento de Amador Paes de Almeida:

͞Em razão da cartularidade, título e direito se confundem tornando imprescindível o

documento para o exercício do direito que nele se contém é o DOCUMENTO

necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado͟168.

Segundo o autor, este é o chamado fenômeno da incorporação, citando Waldirio

Bulgarelli, ͞em decorrência da incorporação do direito no título: a) quem detenha o título,

legitimamente, pode exigir a prestação; b) sem o documento, o devedor não está obrigado,
em

princípio a cumprir a obrigação͟.

Desta mesma forma, esta corrente entende que a duplicata escritural, qual seja, aquela

que são gravadas em fitas magnéticas, podem ensejar uma série de problemas, não devendo

ser considerado um título eletrônico.

III.3.2.LITERALIDADE

Rubens Requião é objetivo e preciso ao conceituar o princípio da literalidade aplicada

aos títulos de crédito:

͞O título é literal porque sua existência se regula pelo teor de seu conteúdo. O título de

crédito se enuncia em um escrito, e somente o que está nele inserido se leva em

consideração; uma obrigação que dele não conste, embora sendo expressa em

documento separado, nele não se integra͟169.

167 BRASIL. Lei nº. 10.406/2002. Institui o Código Civil. Disponível em

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=221601> Acesso em 15
set.

2005

168 LIMA, Luiz de Freitas, Apud ALMEIDA, Amador Paes de. Op. cit, p. 5.
169 REQUIÃO, Rubens. Op. cit. p. 359.

104

O princípio da literalidade pressupões , segundo Fábio Ulhoa, que: ͞somente se

produzam efeitos jurídico-cambiais os atos lançados no próprio título de crédito͟·.

Ainda Ulhoa, exemplifica as conseqüências tanto positivas como negativas:

͞De um lado, nenhum credor pode pleitear mais direitos do que os resultantes

exclusivamente do conteúdo do título de crédito; isso corresponde, para o devedor, a

garantia de que não será obrigado a mais do que o mencionado no documento. De

outro lado, o titular do crédito pode exigir todas as obrigações decorrentes das

assinaturas constantes da cambial; o que representa, para os obrigados, o dever de as

satisfazer na exata extensão mencionada no título͟170.

Isto implica dizer que, para aquele portador de boa-fé de título de terceiro, tem o

direito de receber valor integral discriminado no título de crédito, visto que os sujeitos

primários diretamente envolvidos na confecção deste título não se atentaram a dar quitação

parcial ou integral no próprio título, mesmo que haja quitação em separado, ainda que

documento válido e eficaz.

III.3.3 AUTONOMIA

Da multidão de conceitos sobre o princípio da autonomia, o que se fez mais claro, fora

dado por Rubens Requião:

͞Diz-se que o título é autônomo (não em relação à sua causa como às vezes se tem explicado),

mas, segundo Vivante, porque o possuidor de boa-fé exercita um direito próprio, que não
pode

ser restringido ou destruído em virtude das relações existentes entre os anteriores,


possuidores

e o devedor. Cada obrigação que deriva do título é autônomo em relação às demais171͟.

Isto implica dizer que de um negócio que originou um título de crédito, entre duas

partes, ao existir uma terceira relação, ou seja, o credor do título da relação originária,
endossa

esse título a um credor seu. Sendo autônomas as relações, aquele, credor da relação originária
deverá satisfazer a obrigação, independente de qualquer vício do negócio realizado por ele.

Esse instituto é um dos mais importantes, pois traz segurança jurídica para aquele que

adquire um título de crédito proveniente de um negócio onde ele tampouco fazia parte, não

seja prejudicado, por desarranjos futuros, que deverão ser satisfeitos, de forma diversa que

não a suspensão da satisfação da obrigação, qual seja, acordos e negociações ou o a busca

pela tutela jurisdicional.

170 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 374.

171 REQUIÃO, Rubens. Op. cit. p. 360.

105

Assim, Ulhoa comenta sobre esse instituto, como sendo a ͞garantia efetiva de

circulabilidade do título de crédito172͟.

Deste princípio discorrem-se dois outros a abstração e a Inoponibilidade das exceções.

III.3.3.1 ABSTRAÇÃO

A abstração nasce do endosso173, pois quando o título é posto em circulação, este se

desvincula da relação fundamental, sendo então pressuposto para sua existência, a circulação

do título.

Não há que se confundir a abstração, subprincípio da autonomia, na qual se tem

mediante a circulação do título, com abstração quando se refere a emissão desta estar ou não

condicionada a determinadas causas, também chamada de causalidade.

Nesse caso, tem-se por abstração a primeira, já que a segunda terminologia, como bem

explica Antônio Carlos Zarif, ͞a duplicata não possui esta característica, pois fica vinculada

ao negócio mercantil que lhe deu origem174͟. A duplicata, virtual ou não, é causal, depende

de uma relação jurídica prévia.

III.3.3.2 INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES

Sobre o subprincípio da inoponibilidade, sustenta o professor Fran Martins:

͞Decorrência do princípio da autonomia das obrigações cambiárias (cada obrigação é

autônoma e independente, não ficando sua validade subordinada a uma outra


obrigação ʹ donde se concluir que cada obrigado se obriga não apenas com a pessoa a

quem transfere o título, mas com o portador do mesmo, seja ele quem for), surgiu a

regra chamada da inoponibilidade das exceções. Por essa regra, consagrada no art. 17

da Lei Uniforme, o obrigado em uma letra não pode recusar o pagamento ao portador

alegando suas relações pessoais com o sacador ou outros obrigados anteriores do título

(por exemplo, não pode o obrigado recusar o pagamento alegando que é credor do

sacador). Tais exceções ou defesas são inoponíveis ao portador, que fica, sempre,

assegurado quanto ao cumprimento da obrigação pelo obrigado175͟.

O simples conhecimento, pelo terceiro de fato oponível já é suficiente para caracterizar

má-fé, ressaltando que em qualquer ação jurídica a ser tomada por devedor que se viu

172 COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit. p. 376

173 Endosso: Forma de transferência de um título de crédito.

174 ZARIF, Antonio Carlos. Título de crédito. Disponível em

<http://www.advocaciaconsultoria.com.br/dircomercial/tcredito.html> Acesso em 11 fev.


2006.

175 MARTINS, Fran. Títulos de crédito Apud GRAHL, Orival. Título de crédito eletrônico. Não
publicado.

106

envolvido em uma trama de um negócio jurídico com vício, tendo esta sido transferida

propositalmente a terceiro, de má-fé, para que não haja a suspensão de cumprimento da

obrigação, sendo que cabe a este prejudicado provar a má-fé daquele.

III.3.4 PRINCÍPIO DA INCORPORAÇÃO

A incorporação é um princípio originado pelo princípio da literalidade, grande parte da

doutrina, separa-o como um princípio singular como está sendo apresentado neste. Este

princípio se dá ao direito representado pela cártula se incorporar no próprio título, ou seja,

depende da apresentação do título, como expressa Maria Bernadete Miranda:

͞Essa é a razão pela qual nosso legislador determina que o título de crédito é um documento

necessário para o exercício dos direitos nele contido. Essa definição quer ressaltar que a
declaração constante do título deve especificar quais os direitos que se incorporam no

documento176͟.

A ausência do título, não impossibilita cabalmente o recebimento do crédito, pois com

o comprovante da entrega da mercadoria, ainda é possível ajuizar ação, no entanto não é uma

execução, mas sim ação monitória. Já no caso de se ter a instrução do protesto, é possível

ainda a execução do título, como veremos posteriormente.

III.4 ASPECTOS DA DUPLICATA

III.4.1 CAUSALIDADE DAS DUPLICATAS

A causalidade da duplicata diz respeito ao fato desta nunca existir de maneira

independente, como é o cheque, e a nota promissória, mas sempre presume-se de que a

duplicata existirá sob uma condição, uma causa, o crédito de uma relação mercantil.

A duplicata antes da promulgação do Decreto-Lei nº. 265, só poderia ser emitida em

casos de compra e venda. Atualmente, a duplicata recepciona créditos originados por contrato

de prestação de serviço, que segundo o art. 22 da Lei de Duplicatas177 engloba profissionais

liberais e prestadores de serviços de natureza eventual, tendo ambos o mesmo regime


jurídico,

qual seja, aceite, devolução, circulação, protesto e execução previstas para a duplicata

mercantil, tendo como diferença:

176 MIRANDA, Maria Bernadete. O título de crédito eletrônico no novo código civil. Disponível
em

<http://www.direitobrasil.adv.br/artigos/artigo14.pdf > Acesso em 13 fev. 2006.

177 Lei nº. 5.474/1968.

107

a) a causa da emissão ʹ ao invés de ser motivada por um contrato de compra e

venda mercantil, o faz por contrato de prestação de serviço;

b) protesto por indicações depende de documento comprobatório da realização

do serviço, ou vínculo contratual.

Devemos entender que toda duplicata é condicionada a uma relação comercial ou


ainda de prestação de serviço, mas o oposto não é verdadeiro, ͞até 1968, a emissão da

duplicata era obrigatória nas operações a prazo. Hoje vigora a facultatividade178͟.

Admitir a falta da causalidade implica em dizer que a duplicata emitida não está de

acordo com a lei, prática considerada crime, como veremos no subitem a seguir.

III.4.2. O CRIME DE DUPLICATA SIMULADA E DUPLICATA ͞FRIA͟

Essa prática, não é novidade para operadores do direito da área comercial, e pelos

empresários, vítimas deste ato: emitir duplicata em nome de terceiro, sem existir nenhuma

transação comercial, e, assim, conseguir crédito para a própria empresa, ao dá-las em

desconto ao sistema bancário, quando não, emitindo-as em nome de empresas aleatórias,

culminando em protesto do título no nome das empresas vítimas desse crime.

Antes de tudo, faz-se necessário diferenciarmos a duplicata simulada da duplicata

͞fria͟ pois acreditamos, ser distintas. O art. 19 da Lei 8.137/1990 alterou o art. 172 do Código

Penal, deixando-nos assim a definição da duplicata simulada:

͞(͙)

Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria

vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.

Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único - Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a

escrituração do Livro de Registro de Duplicatas179͞.

Ou seja, duplicata simulada é aquela que está em desacordo com a venda.

178 COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit. p. 455

179 BRASIL, Lei nº. 8.137/1990. Define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra
as

relações de consumo, e dá outras providências. Disponível em

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/listaPublicacoes.action?id=134552>. Acesso em 12
fev. 2006

108

Já a duplicata fria era muito bem conceituada pelo art. 172 do Código Penal antes da
alteração realizada pela lei 8.137/1990, no entanto, esta definição ainda está presente na Lei

de Duplicatas, em seu art. 26:

"(͙)

Art. 172. Expedir ou aceitar duplicata que não corresponda, juntamente com a fatura

respectiva, a uma venda efetiva de bens ou a uma real prestação de serviço.

Pena - Detenção de um a cinco anos, e multa equivalente a 20% sobre o valor da

duplicata

Sendo assim, a duplicata fria, seria no caso, a duplicata emitida sem a existência real

de qualquer relação comercial.

Este assunto ficara então polêmico e com divergências, pois, segundo alguns autores, a

lei tipificou como crime, por um lado, mas aquilo que é considerado mais grave, tornou-se

então conduta atípica. Segundo Fábio Ulhoa:

͙͞a duplicata fria não é mais o mesmo que a duplicata simulada e o saque

daquela (fria) deixou de ser crime͙ a emissão de duplicata não fundada em

efetiva compra e venda mercantil é, portanto, hoje, e desde 28 de dezembro de

1990, data da entrada em vigor da Lei nº. 8.137, conduta penalmente

atípica180͟.

Rubens Requião, de antemão, interpreta nessa mudança de lei, que houve uma

ampliação da tipificação penal, e não um estreitamento, como pensa Ulhoa. Dessa forma:

͞A lei vigente estendeu a infração, que no regime anterior só se configurava na

expedição de duplicata que não correspondesse a uma venda efetiva de

mercadorias entregues real ou simbolicamente.

O crime pode ocorrer, portanto, pela simples emissão da duplicata que não

corresponda a uma venda efetiva ou a serviço prestado181͟(grifo nosso)

A interpretação de Rubens Requião mostra-se mais acertada, conforme interpretação

de Maria Bernadete Miranda:

͞Portanto o crime de duplicata simulada regulado pelo art. 172 do Código


Penal seria aplicável também ao crime de duplicata fria, pois, quer de uma

foram, quer de outra, existe o dolo genérico, no seu complexo de representação

180 COELHO, Fabio Ulhoa. O saque da duplicata fria não é mais crime. Tribuna do Direito, São

Paulo, fev. 1996.

181 REQUIÃO, Rubens. Op. cit. p. 550

109

e vontade, isto é, o agente prevê o resultado, caracterizando-se assim o crime,

cuja pena será de detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa182͟

Não podemos considerar que antes da Lei nº. 8.137/90 fosse punido emissão não só na

inexistência de venda, como na emissão sem conformidade com a venda, e que, após a Lei,

segundo entendimento de Maria Bernadete Miranda, o tipo penal ͞tenha-se restringido

àquelas hipóteses em que necessariamente haja ocorrido a venda de mercadoria183͟. Seria

punir a conduta menos gravosa, deixando a de maior alcance sem o crivo penal.

III.4.3. ACEITE

O aceite da duplicata vem a ser a assinatura da duplicata, reconhecendo a validade do

crédito do vendedor, ou seja, reconhece o devedor sua própria dívida, ou ainda, recusá-la por

motivos previstos em lei. Isso era útil para que não se incorresse na falta de causa para

emissão de duplicata, ou ainda nos crimes de duplicatas frias e simuladas, no entanto foi

caindo em desuso, devido a morosidade que dava ao processo.

Na falta do aceite, esse é um dos requisitos mais fáceis de serem supridos, por

exemplo, se no caso de não haver o aceite é possível suprir com o protesto e ainda com

comprovante de entrega de mercadoria, ou de prestação de serviço realizado. Quase sempre,


o

canhoto de recebimento da nota fiscal, como expressa a súmula do STJ nº. 248, ͞comprovada

a prestação de serviços, a duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para instituir

pedido de falência184͟.

III.4.4 REQUISITOS FORMAIS DA DUPLICATA

A duplicata para se tornar completa, deve conter algumas informações em seu corpo,
por questões de formalidade, e tendo a duplicata em seu bojo, o princípio da literalidade,

decorrem então os requisitos abaixo que devem estar no corpo do título, sendo citadas por

Waldo Fazzio Júnior:

͙͞a duplicata conterá:

182 MIRANDA, Maria Bernadete. O crime de duplicata fria ou simulada. Disponível em

<http://www.direitobrasil.adv.br/artigos/artigo14.pdf> Acesso em 10 fev. 2006.

183 MIRANDA, Maria Bernadete. Op. cit.

184 BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Súmula nº. 248. Fonte Disponível em:

<http://www.stj.gov.br/webstj/Processo/Jurisp/Download/sumulas.txt> Acesso em 12 fev


2006.

110

a denominação ͚duplicata͛; data de sua emissão; número de ordem; número da

fatura; data do vencimento ou a declaração de ser a vista; identificação do sacado

(RG, CPF e número do título de eleitor ou da Carteira Profissional); importância a

pagar, em algarismo e por extenso; praça de pagamento; cláusula à ordem;

declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser

assinada pelo sacado como aceite cambial; assinatura ou rubrica mecânica do

sacador185͟.

A maioria destes requisitos não precisa de maiores explicações, no entanto vale a

ressalva sobre o requisito da declaração do reconhecimento, ou seja, o aceite, como já fora

explicado anteriormente. Ainda, sobre a assinatura ou rubrica do sacador, ou seja, do credor, é

aplicável a duplicata virtual, não pela imagem da assinatura digitalizada para o computador,

mas sim uma chave particular (letras e números) ligadas a uma Autoridade Certificadora,

assunto a ser abordado em capítulo posterior.

IV. DESCARTULARIZAÇÃO DA DUPLICATA

IV.1. DESMATERIALIZAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

O mundo está em transformação e isso se deve a revolução da informática, com a

criação da Internet, com a possibilidade de comunicação com qualquer país, a transferência de


documentos, e informações por meios eletrônicos contribuíram inclusive na economia das

empresas com custo de papel e de envio de encomenda, bem como do tempo, que também é

dinheiro.

IV.1.1 COMÉRCIO ELETRÔNICO

O Comércio eletrônico tem sido uma das forças motrizes da Internet, além dos bancos

que são praticamente obrigados a utilizar dela para oferecerem um serviço rápido, como

também as grandes empresas que fazem transações pela rede mundial, reuniões entre

empresas, onde negócios são fechados em tempo real.

O comércio eletrônico tem começado a ter um respaldo jurídico específico, mas claro

que, ainda que não tivesse o juiz a lei prevendo o caso concreto, não poderia ele negar a

prestação jurisdicional ao caso.

185 FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Fundamentos de direito comercial: empresário, sociedade


empresária,

títulos de crédito. 4ª ed ʹ São Paulo: Atlas, 2002, Série Fundamentos Jurídicos. p. 144.

111

Na opinião de Ângela Bitencourt Brasil, o comércio eletrônico tem sua informalidade

também, como no mundo real:

112

͙͞fazendo uma analogia como o nosso dia à dia, quando vamos a um jornaleiro

pedimos o jornal do dia͙Acabamos de fazer uma transação comercial, verbal,

informal͙O mesmo se dá na Internet quando compramos um livro em uma livraria

virtual: solicitamos o produto, ͙e o livro será entregue em nossa casa͙Esta

informalidade é que dá o colorido do Direito Comercial, que o torna ágil, dinâmico e

sem maiores burocracias186͟.

O que a autora tenta transmitir é que paralelo às grandes negociações, transferências,

transações, haverá também aquele mercado informal, tal qual existe no mercado real hoje, e

que neste mercado talvez não haja a eficácia das Certificadoras de fato.

Ademais, ouso em discordar desse entendimento, pois, nenhuma relação na Internet é


informal o suficiente a ponto de não deixar a pessoa, consumidora, exposta ao risco daqueles

que estão dispostos a obter seu número de cartão de crédito, ou enviar um vírus a seu

computador, portanto, pode até vir a ser informal na sua compra, que vem a ser concretizada,

que não deve ser encarada dessa forma, quanto a segurança que deve envolver a Internet para

não acarretar a prejuízos posteriores.

Não há como se falar em comércio eletrônico, sem falar de alguns dos sites de

comércio eletrônico, principalmente aqueles chamados de sites de leilão, que disponibilizam

espaço para pessoas físicas anunciarem seus produtos, e inicialmente estes sites existiam

apenas para o leilão de produtos de pessoas físicas.

Atualmente efetua vendas, passando a ser uma extensão de empresas, que no plano

físico talvez não estivessem tão bem, mas que viram no mundo cibernético, uma maneira de

se ganhar dinheiro, âmbito que o Estado ainda não repousou seus olhos quanto a questão

tributária das negociações realizadas.

Os sites de leilão, tema que serviria para uma obra monográfica sozinho, servem como

mediadores, entre o comprador e vendedor, ganhando comissão pela venda, pelo mero

anúncio, e ainda, até disponibilizando formas de pagamento por cartão e duplicata para

aqueles interessados.

Dentre essas empresas pode-se citar a mais famosa internacionalmente, a eBay187, e

nacionalmente o Mercado Livre188. O assunto ainda é novo e os Tribunais estão ainda

começando a decidir sobre até onde vai a Responsabilidade Civil destas junto aquele

186 BRASIL, Ângela Bitencourt. Visão jurídica do comércio eletrônico. Disponível em

<http://www.sebraepb.com.br/bte/download/informatica/200_1_arquivo_juridica.pdf>
Acesso em 14

fev. 2006.

187 http://www.ebay.com

188 http://www.mercadolivre.com.br

113
comprador de boa-fé, que compra e não recebe, e o vendedor, que envia e não lhe é
repassado

dinheiro algum.

Essas empresas servem para propagar a evolução digital e comercial, sendo delas também

uma parcela da responsabilidade do aumento do comércio eletrônico, bem como da circulação

de documentos e títulos de crédito eletrônicos, não se esquecendo, é claro das Instituições

Bancárias, que são as principais difusoras da tecnologia da duplicata virtual.

IV.2. CAUSAS E CONSEQÜÊNCIAS

As causas da busca pelo digital em detrimento do papel, são muito simples, fácil

transporte, fácil envio, possibilidade de produzir e transmitir cópias incrivelmente rápida e

ainda, fácil arquivamento.

Em nossa atual sociedade é impossível conceber um mundo sem o uso de papel

para impressão ou produção de documentos, pelo menos, ainda, mas as idéias transmitidas

para nós em filmes futurísticos, nos fazem ter uma idéia do que pode estar adiante, como por

exemplo, cada ser humano ter um Handheld189, ou ainda pelo pagamento de contas por meio

tão somente do cartão, dispensando o uso de dinheiro em cédulas, mas apenas transferência
de

créditos, instantaneamente, dispensando o uso dos títulos de crédito.

A economia que se faz com o uso da Internet gera um maior lucro, e esta é a função

precípua das empresas, a obtenção do lucro.

As conseqüências dessa revolução têm seu lado positivo e negativo.

As conseqüências positivas podem começar pela dinamização das informações, rápida

comunicação, possibilidade de não haver mais a inadimplência, pois as transações serão feitas

em real time, ou tempo real, e rapidez no pagamento, rapidez de entrega, desburocratização

para um empresário sacar um duplicata e ainda endossá-la a um banco como garantia de um

empréstimo, sem nem mesmo ir ao banco, sabendo até quanto irá pagar de juros e taxas ao

descontar uma duplicata.

IV.3 A RELATIVIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS APLICADOS À DUPLICATA


Para que tudo isso fosse possível, todo esse dinamismo, paradigmas tiveram de ser

quebrados, como também princípios relativizados. Abaixo são dois casos de princípios que

tiveram que ser mitigados, para que assim, a prática das duplicatas virtuais fosse possibilitada,

ainda que pelos usos e costumes.

189 Handheld: Computador de mão

114

IV.3.1. LITERALIDADE

Os princípios ao serem formados, não tinham ainda nem como prever o que seria o

sistema cambiário hoje, Wilges Ariana Bruscato explica que:

͙͞tais atributos datam de uma época em que os meios de comunicação e transporte

eram extremamente limitados, exigindo de conseguinte, que o título fosse cercado das

maiores cautelas para que o terceiro de boa-fé, em caso de circulação cambial, não

visse frustrado o seu direito190͟.

Um exemplo disso é a evolução que a lei já vem sofrendo, culminando em algumas

mudanças, como a intermediação por instituição financeira, o resgate ou pagamento antes do

aceite ou vencimento, reconhecendo como prova de cumprimento da obrigação um recibo

dado em separado ou o cheque a favor de estabelecimento endossatário, em cujo verso se

consigne o destino da quantia espelhada, seja para amortização ou para pagamento da

duplicata especificada.

IV.3.2. CARTULARIDADE

Sobre este princípio, elucida Wilges Ariana Bruscato:

͞Atualmente, estas informações que obedecem à forma da duplicata atendendo seus

requisitos (͙), são enviadas ao banco via modem (modulador, demodulador)

diretamente dos registros informatizados da empresa, para os registros informatizados

do banco. Com isso evita-se todo o procedimento de se dar vida material à duplicata, o

que, de maneira inegável, reduz os custos͙191͟

Há também para contribuição da relativização do princípio da cartularidade algumas


previsões da lei, que garantem o avanço de sua utilização, quando o próprio legislador permite

que o protesto da duplicata seja feito por indicação192.

Ainda, a mesma autora faz uma importante consideração sobre esses princípios:

190 BRUSCATO, Wilges Ariana. Descartularização da duplicata. Disponível em

<http://150.162.138.14/a8-descartularizacaoD.htm> Acesso em 13 fev. 2006.

191 BRUSCATO, Wilges Ariana. Op. cit.

192 Lei nº. 5.474/1968, art. 13, §1º.

115

͞De toda forma, mesmo que não se admita o protesto por indicação entendendo-se que

tal só é cabível no caso de retenção indevida da duplicata, só se procederia ao saque

real da duplicata que não fosse paga através dos meios virtuais de cobrança͙193͟

Ainda assim, haveria economia para as empresas e estas já seriam largamente

beneficiadas com este instituto.

IV.4. MODIFICAÇÕES NOS ASPECTOS DA DUPLICATA

Da mesma forma que princípios são relativizados pela prática e costume, alguns aspectos

na duplicata foram precisos de alteração, ou em alguns casos a mitigação ou supressão, de

alguns aspectos, para tornar a duplicata virtual plausível, como veremos a seguir.

IV.4.1. A ASSINATURA DO SACADOR E ASSINATURA DIGITAL

A assinatura é um dos requisitos que merecem esclarecimento no estudo da existência

da duplicata virtual. Ao contrário do que se parece esse requisito formal da duplicata, não

desapareceu na existência da duplicata virtual, pelo contrário, continua essencial para a

validade da duplicata e a eficácia destas.

Busquemos os ensinamentos de Lister de Freitas Albernaz, sobre a assinatura:

͞Lembremos que, as assinaturas possuem três funções intrínsecas ao contrato firmado:

(a) declarativa, pela qual se determina que é o autor da assinatura; (b) probatória, pela

qual se determina a autenticidade do documento e vontade nele declarada; e (c)

declaratória, pela qual se determina que o conteúdo expresso no contrato representa a


vontade de quem assinou194͟.

Assim, a assinatura eletrônica deve conter, da mesma forma, o preenchimento desses

três requisitos e segundo Albernaz, ela o faz, conforme o art. 2º da Lei Modelo sobre

Assinaturas Eletrônicas da Comissão de Nações Unidas para o Direito Comercial Eletrônico

Internacional ʹ UNCITRAL, versão de 2001, em tradução do próprio autor:

͞Por assinatura eletrônica se entenderão os dados em forma eletrônica consignados em

uma mensagem de dados, ou incluídos ou logicamente associados ao mesmo, que

193 BRUSCATO, Wilges Ariana. Op. cit.

194 ALBERNAZ, Lister de Freitas. Op. cit.

116

possam ser utilizados para identificar que o signatário aprova a informação

reconhecida na mensagem de dados.195͟

A enciclopédia livre Wikipédia, disponível pela Internet, conceitua a assinatura digital

como:

͙͞um método de autenticação de informação digital tipicamente tratada, por vezes

com demasiada confiança, como análoga à assinatura física em papel. Embora existam

analogias, também existem diferenças que podem ser importantes. O termo assinatura

eletrônica, por vezes confundido, tem um significado diferente: refere-se a qualquer

mecanismo, não necessariamente criptográfico, para identificar o remetente de uma

mensagem electrônica. A legislação pode validar, por vezes, tais assinaturas

electrónicas como endereços Telex e cabo, bem como a transmissão por fax de

assinaturas manuscritas em papel.

A utilização da assinatura digital providencia a prova inegável de que uma mensagem

veio do emissor. Para verificar este requisito, uma assinatura digital deve ter as

seguintes propriedades: autenticação - o receptor deve poder confirmar a assinatura do

emissor; integridade - a assinatura não pode ser falsificável; não repúdio - o emissor

não pode negar a sua autenticidade196;


O procedimento sobre as Chaves Públicas e a Assinatura Digital é muito bem

explicada, pelo Mestre em Direito Processual, Augusto Tavares Rosa Marcacini197, segundo

ele, tudo fora possibilitado após a existência de um método seguro de criptografia198,


chamado

PGP, foi possível com a chave privada, mantida pelo usuário do computador, e a chave

pública, que é distribuída para aquele que disponibiliza acesso aos usuários portadores da

chave privada, como bancos, sites governamentais, etc.

A mensagem cifrada por uma chave pública só pode ser aberta por uma chave privada,

e vice-versa, com isso, a cada documento gerado e assinado, a chave privada gera uma

assinatura, onde por combinação matemática é possível saber quem é seu emissor.

Se no mesmo documento houver qualquer alteração sequer, necessário seria de uma

nova assinatura, que seria diferente da primeira, formando-se então dois documentos

diferentes, o que garante a autenticidade do documento eletrônico.

195 Lei Modelo sobre a assinatura Eletrônica da Comissão das Nações Unidas para o Direito
Comercial

Internacional ʹ UNCITRAL, versão 2001, Apud ALBERNAZ, Lister de Freitas, Op. cit.

196WIKIPEDIA ʹ A enciclopédia livre. Disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Assinatura_digital> Acesso em 14 fev. 2006.

197 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. O documento eletrônico como meio de prova.
Disponível

em <http://www.advogado.com/internet/zip/tavares.htm> Acesso em 12 fev 2006.

198 Criptografia: o estudo dos princípios e das técnicas pelas quais a informação pode ser
transformada

da sua forma original para outra ilegível, a menos que seja conhecida a "chave secreta", o que
a torna

difícil de ser lida por alguém não autorizado. Assim sendo, só o receptor da mensagem pode
ler a

informação com facilidade. Definição por WIKIPEDIA ʹ A enciclopedia livre. Disponível em

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Assinatura_digital> Acesso em 14 fev. 2006

117
Através da assinatura é possível saber ainda a data em que o documento fora gerado, e

se armazenado o documento eletrônico, dependendo da tecnologia aplicada, é possível saber

de que computador fora realizado tal transação.

Não se pode dizer que o legislador está totalmente atrasado, ou que não esteja

preocupado com as mudanças tecnológicas, pois se por um lado, fica emperrado para

aprovação de leis, por outro, pode criar outros dispositivos que agilizem o processo de

mudanças.

Foi através da Medida Provisória nº. 2.200-2/2001 que se instituiu a as Chaves

Públicas n Brasil, chamado de ICP-BRASIL, que passou o entendimento de ser aceita a

assinatura eletrônica em nosso direito. Como exposto:

͞Art. 1º Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil,

para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de documentos em

forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem

certificados digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras.

Art. 2º A ICP-Brasil, cuja organização será definida em regulamento, será composta

por uma autoridade gestora de políticas e pela cadeia de autoridades certificadoras

composta pela Autoridade Certificadora Raiz - AC Raiz, pelas Autoridades

Certificadoras - AC e pelas Autoridades de Registro ʹ AR͟199.

A Medida Provisória em questão trouxe possibilidade de regulamentações mais

específicas, por exemplo, a Circular nº. 3.234 de 15/04/2004, com procedimentos técnicos na

Carta Circular nº. 3.134 de 27/04/2004, emitida pelo BACEN, em seu art. 1º:

͞Alterar a regulamentação cambial para prever a assinatura digital em contratos de

câmbio por meio da utilização de certificados digitais no âmbito da Infra-Estrutura de

Chaves Públicas (ICP-Brasil)͟200. ,

Segundo Newton Lucca, ͙͞não existe, na verdade, diferença ontológica entre

a noção tradicional de documento e a nova noção de documentos eletrônicos͙201͟

199 BRASIL. MP. Nº. 2.200-2/2001. Institui a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira ʹ
ICPBrasil,
transforma o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação em autarquia, e dá outras

providências. Disponível em

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=233404> Acesso em 14
fev. 2006.

200 BACEN. Circular nº. 3.234 de 15/04/2004. Altera a regulamentação cambial para prever a

assinatura digital em contratos de câmbio por meio da utilização de certificados digitais


emitidos no

âmbito da Infra-Estrutura de Chaves Públicas (ICP-Brasil), e dá outras providências. Disponível


em

<http://www5.bcb.gov.br/pg1Frame.asp?idPai=NORMABUSCA&urlPg=/ixpress/correio/correio
/CO

NTINUACORREIO.DML?NUMERO=104058040&ISN=00210456&PAGINA=2&C=3234&ASS=C

IRCULAR+3.234> Acesso em 14 fev. 2006.

201 LUCCA, Newton de, Apud GOMES, Cárita Carolina dos Santos. Breves comentários sobre a

carta-circular nº. 3.134 de 27 de abril de 2004 ʹ grupo de pesquisa direito eletrônico e


cidadania da

118

A assinatura eletrônica então, é regulamentada e prevista no Brasil, tendo assim

validade jurídica, e atendendo os principais requisitos que a assinatura deve conter.

IV.4.2. O ACEITE NA DUPLICATA VIRTUAL

Na duplicata virtual, o aceite é plenamente possível pois as informações dos

documentos assinados, usando a analogia, presumem-se verdadeiras em relação aos

signatários.

IV.5 NORMATIZAÇÃO DAS CERTIFICAÇÕES DIGITAIS

A assinatura Digital deverá ser analisada e a ela dada um certificado de autenticidade

pela ICP-Brasil (Instituo de Chaves Públicas) através de alguma Autoridade Certificadora.

A Medida Provisória 2.200-2/2001 foi responsável pela Instituição do ICP-Brasil e da

estrutura dos órgãos subjacentes. Existe de acordo com a lei Autoridade Certificadora Raiz

que regula e dá certificados para as Autoridades Certificadoras, que são credenciadas,


conforme o art. 6º da Medida Provisória, ͞a emitir certificados digitais vinculando pares de

chaves criptográficas ao respectivo titular͟.

Como exemplo de unidades certificadoras, temos a ITI (Instituto Nacional de

Tecnologia da Informação) que é a Certificadora Raiz e como Autoridade Certificadora, de

nível imediatamente subseqüente ao da Autoridade Certificadora Raiz, como a VERISIGN202

e a CERTISIGN203, ambas tem o papel de conceder, emitir e revogar certificados de

autenticidade, como pode ser visto na figura abaixo o Certificado dado pela Certificadora

Verisign ao Banco do Brasil, onde é visível que há prazo de validade para cada certificado,

dando mais segurança ao documento eletrônico:

universidade católica de Petrópolis In: REDE - Revista do Direito Eletrônico. IBDE ʹ Instituto

Brasileiro de Direito Eletrônico. Ano II ʹ nº. 05. Disponível on-line em:

<http://www.ibde.org.br/revista>. ISSN: 1679-1045.

202 VERISIGN, certificadora Digital ʹ Disponível em <http://www.verisign.com>

203 CERTISIGN, certificadora Digital ʹ Disponível em <http://www.certisign.com.br>

119

Fonte: Banco do Brasil. Disponível em <http://www.bb.com.br> Acesso em 10 fev. 2006.

IV.6 O DOCUMENTO ELETRÔNICO COMO PROVA

IV.6.1 CONCEITO DE DOCUMENTO ELETRÔNICO

A definição de documento em sentido lato pode ser dividido ainda em documento

físico, e documento eletrônico, sendo importante termos as duas concepções,.

O documento, propriamente dito, para alguns autores, não adquirem o sentido de

coisa, como interpreta doutrinadores como Chiovenda e Pontes de Miranda, mas sim de sua

essência, ͙͞é qualquer escrito utilizável como prova do ato ou fato jurídico204͟. Interessante

como define como ͞escrito͟ e não mais como ͞coisa͟, sendo que é nesse sentido que o

conceito de documento eletrônico deve seguir. Segundo Tavares, o documento eletrônico:

͙͞é a seqüência de bits e, onde quer que esteja gravado qualquer quantidade de

cópias, desde que seja reproduzida exatamente a mesma seqüência, tem sempre o
mesmo documento205͟.

204 Jorge Americana Apud MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Op.cit.

205 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Op. cit.

120

V.6.2 AUTENTICIDADE E VERACIDADE DO DOCUMENTO ELETRÔNICO

A autenticidade do documento, que segundo Moacyr Amaral Santos é a ͙͞certeza de

que o documento provém do autor nele indicado206͟ como já exposto em item específico

supra, só é autêntico devido a sua Chave Pública. Entretanto, há grande diferença entre a

autenticidade do documento e da veracidade dele.

Assim, um documento, pode ser perfeito em sua forma e produção, ser o documento

em questão justamente ao qual se faz referência, nos autos de um processo, por exemplo, isso

não implica dizer que suas informações são verdadeiras, decorre daí então uma falsidade

material, incursa nas penas da duplicata ͞fria͟ ou ͞simulada".

A assinatura possui ainda maior segurança por possuir mecanismo que indica quando a

assinatura for realizada, de forma imutável, pois essa faz parte da combinação de números

constantes da assinatura digital.

V.6.3 A CÓPIA DO DOCUMENTO ELETRÔNICO

O documento, se eletrônico, pode ser transportando ao meio físico, através da

impressão, como também o documento físico, pose ser digitalizado, através de um scanner

para o computador para uma possível busca, muito mais facilitada destes documentos.

Assim, surge a dúvida, de como seria a cópia autenticada do documento eletrônico. O

que lhe atribui a situação de cópia é justamente tê-lo transferido para o meio físico, que se for

impugnada sua validade, sempre será necessário, comprovar sua autenticidade com aquela

presente no meio digital.

No meio digital, não importa quantas cópias sejam feitas, as cópias também serão

originais, pois manterá a mesma seqüência de números correspondentes a assinatura usada

naquele momento e transação.


Deve-se ter em mente que, uma vez alterado, uma vírgula que seja, o documento

inicial, ainda será o original e o segundo alterado uma vez alterado, nada tem de relação ao

primeiro, pois passou a ser outro documento, original, pois terá sua própria assinatura.

É possível ainda que haja a digitalização de algo do meio físico para o mundo digital.

Quando isso é realizado por órgão que tenha fé pública, e ainda tenha a certificação digital

206 SANTOS, Moacyr Amaral Apud MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Op. cit.

121

suas cópias digitalizadas, ou ainda seus originais eletrônicos, terão validade de documento,

como é o caso da Imprensa Nacional que o mesmo documento emitido eletronicamente seja

aquele do meio físico, que desde outubro de 2004 contém Certificação Digital em seu site,

para os assinantes dos diários publicados por este órgão, dando garantia de autenticidade as

suas publicações eletrônicas, como pode ser visto na figura abaixo:

Fonte: Imprensa Nacional. Diário Oficial da União ʹ Seção 2, nº. 31 de 13 de fevereiro de 2006,
segunda-feira,

página 43. Disponível em <http://wwww.in.gov.br/materias/pdf/secao2/13_02_2006/do2-


43.pdf> Acesso em 15

fev. 2006.

122

Este é um exemplo perfeito de documento impresso, derivado de um documento

eletrônico que teria validade jurídica nos autos de um processo.

Administrativamente, já vem sendo aceito documentos eletrônicos, como certidões

negativas emitidas pela Receita Federal, INSS e outros que tem validade, principalmente em

pregões e licitações.

Os comprovantes de transação bancária, ou de pagamento de boletos e duplicatas,

realizadas eletronicamente, da mesma sorte.

V.6.4 A IMPUGNAÇÃO DA PROVA ELETRÔNICA E O ÔNUS DA PROVA

A parte contrária poderá sempre, impugnar o documento eletrônico, e segundo

Augusto Tavares Marcacini, conclui-se que:


͞a parte que traz o documento ao processo tem o ônus de provar a autenticidade da

assinatura ou, no fundo, tem o ônus de provar a autoria, sendo autêntica a assinatura, ou

melhor, -- demonstrada incontroversa a autoria --, incumbe a quem alega provar eventual

adulteração do documento, ou o preenchimento abusivo daquele que foi subscrito em

branco207͟.

Há ainda a possibilidade de por em dúvida a autenticidade da Chave Pública, nesse

caso o ônus da prova, por analogia seria a mesma hipótese do art. 389, II, quando se alega ser

falsa a assinatura, e o ônus da prova é de quem produz o documento objeto em questão.

V.7 A LEI ATUAL E PROPOSTAS DE ALTERAÇÕES DA LEI

No Brasil, já existem tentativas no sentido de ͞digitalizar͟ o sistema. Nesse sentido,

podemos citar aquelas que já vem sendo citadas ao longo deste trabalho.

Inicialmente, e cronologicamente, a Medida Provisória nº. 2.200-2/2001, que criou a

Infra-Estrutura de Chaves Públicas, dando assim reconhecimento ao que vem a ser os

documentos eletrônicos, pois reconhecera a assinatura digital e sua autenticidade, bem como
o

Código Civil.

Sobre o reconhecimento da prova eletrônica, Renato M. S. OpiceBlum, verbera que:

͞A prova eletrônica foi, final e taxativamente reconhecida no art. 225, o que deve

fomentar o comércio eletrônico com certificação digital nos termos da Medida

207 MARCACINI Augusto Tavares Rosa. Op. cit.

123

Provisória 2.200-2/01. Anotamos, ainda, que o art. 889, § 3º, admite a emissão de

títulos de crédito a partir de caracteres criados em computador͟208.

Ainda, na esfera do Código Civil, e sua aplicabilidade a Internet citamos o art. 428, I,

que diz respeito a compra por telefone e ͞por meio de comunicação semelhante͟, bem como

os art. 884, 885 e 886, que dizem respeito ao enriquecimento sem causa, que podem ser

aplicadas a diversas condutas ilícitas praticadas através da Internet.

O professor Lister de Freitas Albernaz, faz a brilhante observação na conclusão de seu


artigo, Títulos de Créditos Eletrônicos, com um bom prognóstico:

͞Não obstante serem positivas as inovações do Novo Diploma (Código Civil de 2002)

e suas repercussões no campo do direito eletrônico, o ideal seria contar com

disposições mais específicas e adequadas ao ambiente digital, o que evitaria, inclusive,

na discussão, muitas vezes isolada, dos mais de cento e cinqüenta projetos em

tramitação no Congresso Nacional sobre o tema. Talvez fosse interessante o estudo

conjunto dessas proposições visando incorporá-las às futuras alterações no Novo

Código, já em discussão em projeto de lei específico͟209.

O país tem tentado ainda, entrar no século XXI, com a disponibilidade da reforma das

leis para se adaptar a esse milênio, o que outros países já vêm fazendo há quatro décadas,

como é caso da França, que desde então já prevê a letra de câmbio por banda magnética, e

ainda na França desde 1981, através da Lei Dailly, dando força executória ao borderô

(comprovante de entrega das fitas magnéticas que tenham sido objeto de desconto bancário).

Mais recentemente, em 1997, nos Estados Unidos, o Estado de Utah, foi o primeiro

estado a prever matéria de certificação digital, seguida dos demais estados americanos e

países como Alemanha, Argentina, Austrália, Dinamarca e Brasil. Na lei do estado de Utah,

diferente da lei brasileira, há uma detalhada série de especificações e procedimentos, bem

como o conceito de vários institutos da informática desde assinatura digital até Criptografia

Assimétrica.

V.7.1. OS PROJETOS DE LEI

Os projetos de Lei, sobre o assunto, passam hoje, de mais de 150 em trâmite pela

Câmara ou Senado, fazendo com que o estudo dessas fique ainda mais demorado, não

chegando a lugar algum.

208BLUM, Renato M. S. Opice. O novo código civil e a Internet. In: REDE - Revista do Direito

Eletrônico. IBDE ʹ Instituto Brasileiro de Direito Eletrônico. Ano I ʹ nº. 02. Disponível on-line
em:

<http://www.ibde.org.br/revista>.ISSN: 1679-1045. Acesso em 02 fev. 2006.

209 ALBERNAZ, Lister de Freitas. Op. cit.


124

Temos que considerar ainda, que a maioria dos projetos de Lei propostos são de certa

forma tímidos, pois não aprofundam na matéria e talvez não tenham sido utilizados de grande

pesquisa e assessoramento para sua elaboração.

Entretanto, dentre os Projetos de Lei existentes, é por bem analisarmos, o Projeto de

Lei nº. 4.906-A/2001 (Anexo) de autoria de Lúcio Alcântara (PSDB-CE) com substitutivo de

Júlio Semeguini. (PSDB-SP), aprovado já em Comissão Especial da Câmara, pronto para

pauta, pendente de votação no Plenário da Câmara, pendente de votação na Câmara e no

Senado.

Dentre os diversos projetos de Lei disponíveis, temos nesse a convicção de maior

possibilidade de aprovação, visto que já fora analisado também por Comissão Especial da

Câmara.

O projeto de Lei trata do reconhecimento da validade jurídica dos documentos

eletrônicos, alteração que se faz importante na lei vigente para não restar empecilho algum

sobre a legalidade das duplicatas virtuais.

Seu Capítulo I trata da validade e do reconhecimento da Duplicata Virtual, bem como

conceitua alguns termos do comércio eletrônico e do meio informático para efeitos da lei.

Traz também que qualquer lei que tenha como requisito a assinatura, e apresentação de

documento original em meio físico poderão ser considerados supridos, face a apresentação e

informação de que haja documento eletrônico e assinatura eletrônica.

Este projeto foi correto no art. 4º em estabelecer os princípios pelos quais o comércio

eletrônico deverá ser regido, pois é notório que a tecnologia no meio eletrônico muda de um

dia para o outro, e é impossível que o legislador consiga acompanhas as modificações da

tecnologia, dos sistemas de criptografia, bem como da assinatura digital, pois no futuro, pode

vir a ser criado sistema de identificação diversa ao da assinatura digital, por meio de outro

sistema de segurança, senha, que seja ainda mais seguro, por exemplo através da íris do globo

ocular, e outras, infinitas possibilidades.


O projeto, se aprovado, trará a validade e efeito jurídico ao correio eletrônico também,

e ainda, sobre os casos de validade dos e-mails com resposta, e sem resposta.

Estabelece padrões sobre os quais os documentos eletrônicos deverão ser analisados,

tais como as datas presentes no documento, a data e local de envio e de recebimento.

É bem verdade que se faz necessária uma lei mais completa, que detalhe a questão da

Certificação Digital, aspectos de segurança, a responsabilidade civil, no caso da quebra de

segurança desta chave, pois a Medida Provisória não é o instrumento correto para dispor
sobre

o assunto, como faz a Medida Provisória 2.200-2/2001, mas sim a Lei, propriamente dita.

125

Tamanhas mudanças no ordenamento não podem ocorrer tão somente no âmbito do

costume, será necessário que essa lei, ou outra melhor que essa, seja aprovada o quanto
antes,

pois necessário se faz que seja disciplinado de uma vez por todas a validade jurídica do

documento eletrônico, em todas as esferas do meio jurídico e da sociedade.

VI. EXECUTIVIDADE DAS DUPLICATAS VIRTUAIS

O tema é tão novo quanto o instituto das duplicatas virtuais, e não se encontra muitos

doutrinadores dispostos a discorrer sobre o assunto. Fábio Ulhoa Coelho, no entanto, dispõe

em sua obra um subitem específico tão somente para a execução das duplicatas virtuais, a

qual ele chama de ͞Duplicata em meio magnético210͟.

VI.1. A VISÃO DA DOUTRINA

Este trabalho monográfico, segue a opinião de doutrinadores como FÁBIO ULHOA e

LUIS EMYGDIO ROSA JÚNIOR, e também da jurisprudência, que afirmam ser a duplicata

virtual, um título executivo, além de tudo, funcional, discordando da visão de Amador Paes de

Almeida:

͙͞na ocorrência de inadimplemento do devedor, não ensejará a ͚duplicata escritural͛

processo de execução, não facultando senão a cobrança ordinária͙não é igualmente,

suscetível de endosso, não podendo, também, ser objeto de aval ou, ainda, de protesto211͟.
Esse é um tema importante, que pode implicar na obtenção de valor correspondente a

inadimplência de uma duplicata, muito mais rapidamente, visto que o processo de execução é,

dentre todos os processos morosos do Brasil, é um dos mais céleres.

A outra opção de ação proposta para aqueles que entendem que a duplicata virtual não

é um Título de Crédito, como cita Amador Paes de Almeida, ͞na ocorrência de

inadimplemento do devedor, não ensejará a ͞duplicata escritural͟ processo de execução, não

facultando senão a cobrança ordinária212͟.

Há quem entenda ainda ser passível a ação monitória. As diferenças entre a Ação de

Execução de Títulos de Crédito, prevista no art. 566, I; 567, I, in fine, inclusive da duplicata,

210 COELHO, Fábio Ulhoa. Op. cit. p. 464

211 ALMEIDA, Amador Paes de. Op. cit. p. 220.

212 ALMEIDA, Amador Paes. Op. cit. p. 220

126

prevista como título de crédito, no art. 585, I, em relação a Ação Monitória e seus

procedimentos prevista nos artigos. 1.102a, serão vistas a seguir, após serem discutidas as

diferenças entre a Ação de Execução e a Ação de Cobrança, do rito ordinário.

A diferença entre a Ação de Execução e a Ação de Cobrança são inúmeras, a começar

do tipo de processo, sendo aquele incurso no Processo de Execução (Livro II) e este no

Processo de Conhecimento (Livro I) do Código de Processo Civil

Enquanto na ação de conhecimento é necessário se fazer prova da relação jurídica,

haver discussão do mérito, para assim se chegar a um título executivo judicial.

No Processo de Execução já se tem o Título Executivo nas mãos, sendo que assim não

se faz necessária a discussão do mérito, e o Mandado deste é de citação do devedor para, ͞no

prazo de 24 (vinte e quatro) horas, pagar ou nomear bens à penhora213͟, o que já é bem mais

coercitivo, até por isso chamada de Execução Forçada.

Quanto às diferenças entre a Ação Monitória em comparação a Ação de Execução de

Titulo, não são tantas, mas é válida a observação, pois se não houvessem diferenças, não
seriam duas ações diversas.

A ação Monitória, prevista no Capítulo XV, Título II, do Livro IV do Código de

Processo Civil, em seu art. 1.102a, expressa o seguinte:

͞Art. 1.102a A Ação monitória compete a quem pretender, com base em prova

escrita sem eficácia de título executivo; pagamento de soma em dinheiro, entrega de

coisa fungível ou de determinado bem móvel214͟.

A Ação Monitória, frente a ação de cobrança pelo rito ordinário, já é excelentemente

mais célere, no entanto, nessa, compete ao autor juntar prova escrita, que não tenha validade

de título executivo, pois este tornar-se-á um novo título. No entanto, nesse, como elucida José

G. Ramanello Bueno:

͞distingue-se, ainda, pela severidade em caso de revelia. É que, ao passo que no

processo de conhecimento a revelia induz a uma presunção relativa͙no processo

monitório, tem início a fase executiva, sem possibilidades de outras discussões215͟.

213 Art. 652. BRASIL. Lei nº. 5.869/1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em:

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=102373> Acesso em 10
fev. 2006.

214 BRASIL. Lei nº. 5.869/1973. Op. cit.

215 BUENO. José G. Romanello. Ação monitória. Disponível em

<http://www.advocaciacarrara.com.br/artigos.php?id=30&action=exibir> Acesso em 17 fev.


2006.

127

Esse autor considera ainda a ação monitória um tipo de ação de execução, diferenciado

daqueles do Processo de Execução, mas que tem como mandado a intimação de pagar ou a

embargar, caso não o faça, só então é citado para pagar e nomear bens à penhora.

É por essa razão que o cheque, por exemplo, ao ser devolvido, deve ser executado logo

em seus primeiros meses, ou será considerado prescrito, e assim passível de ser reavido

apenas por meio da Ação Monitória, o que levaria um pouco mais tempo.

Assim, para aqueles que entendem que a duplicata virtual não é um título de crédito
executivo, essa seria a maneira de se obter o crédito, no caso da inadimplência, visão que

discordamos por ter a duplicata todos os requisitos para ser considerada duplicata virtual,

inclusive, previsão legal.

Fábio Ulhoa Coelho, concorda com a afirmação acima dizendo:

͞O direito em vigor dá sustentação, contudo à execução da duplicata ͚virtual͛ porque

não exige a sua exibição em papel, como requisito para liberar a prestação

jurisdicional satisfativa216͟.

Complementa ainda Ulhoa que ͞em juízo basta a apresentação de dois papéis: o

instrumento de protesto por indicações e o comprovante de entrega das mercadoria217͟.

VI.3. PAGAMENTO, QUITAÇÃO E INADI MPLÊNCIA

É perfeitamente aceitável todo o trâmite de nascimento da duplicata, seu envio para o

banco, seu desconto em carteira, já descontando os juros que cobram os bancos, a emissão do

boleto tudo pela Internet, para então o envio deste via correio ao sacado, e em alguns casos,
se

o banco do sacador é o mesmo do sacado, não é necessária tampouco a impressão do boleto

para pagamento, pois ao entrar no Internet banking218, já consta quais as duplicatas que
estão

lançadas para aquele sacador, o valor e a data de vencimento, e a opção de pagar aquele
título,

independente de estar a cártula nas mãos do devedor.

Algumas informações da duplicata podem ser variáveis ou modificadas, no corpo da

duplicata, ou na duplicata virtual.

Informações como desconto pontualidade, que é aquele dado simplesmente pelo

devedor ter pago em dias seu título, ou ainda, desconto antecipação, que vem a ser desconto

216 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 465

217 COELHO, Fabio Ulhoa. Op. cit. p. 466

218 Internet Banking ʹ Banco eletrônico

128

proporcional a quantidade de dias ou meses que este pagou sua duplicata antes da data do
vencimento, como se fosse um abatimento automático dos juros aplicados àquela parcela com

vencimento a prazo. Todas essas virão no corpo da duplicata, que o próprio software utilizado

para criação da duplicata disponibilizará para preenchimento, bem como do prazo para

protesto automático, como também qualquer aviso que o credor deseja dar a seus clientes,

como felicitações de feliz natal, pois tudo isso, ao ser externalizada via boleto, emitida pelo

banco, fará parte do corpo do boleto do cliente.

Já informações como prorrogação de data de vencimento, deverão ser cadastradas e

enviadas ao banco, as quais deverão estar sob a assinatura digital daquele sacador, para que

realize as alterações daquela duplicata. A baixa da duplicata por pagamento, ou sustação do

protesto em tempo hábil (quando ainda está na instrumentalização do protesto), também

poderá ser feita on-line.

Nestes casos, geralmente o sacado foi até a própria empresa na data do vencimento, ou

anterior a ela, e quitou a duplicata, das formas possíveis a seguir.

Para efeito de quitação, servirá termo de quitação no corpo da duplicata, autenticação

mecânica no corpo do boleto, ou por compensação de cheque, que deverá conter em seu
verso

que a quantia discriminada é referente ao pagamento da duplicata, e a referência desta.

Nos casos de agendamento automático de pagamento de duplicata, estes não servirão

como comprovante de quitação, muito menos agendamento de depósitos em conta do


sacador.

No primeiro caso, o sacado, deve acessar o site de seu banco, e emitir o comprovante de

pagamento daquela duplicata. É válido este comprovante como quitação pois ele faz

referência ao código de barras presente na duplicata.

Já o comprovante de transferência on-line, deve ser interpretado como se dinheiro

fosse, assim, necessário se faz que o sacado leve o comprovante ao sacador, para emitir recibo

de que o valor correspondente àquela duplicata fora pago. Essa prática poderá trazer

problemas, a não ser que o sacado certifique-se que o sacador deu baixo de quitação da

duplicata no banco mediante comprovante que o banco emite, ou recibo, relacionando a


transferência ao pagamento da mesma.

A via eletrônica contempla a possibilidade de na inadimplência, seja a duplicata

enviada automaticamente a protesto por indicação, se assim for da opção do sacador,

conforme previsto na Lei de Duplicatas.

129

VI.3. PROTESTO DA DUPLICATA

A definição de protesto vem da Lei 9.492/1997 que trata dos serviços de protestos de

título:

͞Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o

descumprimento de obrigação originada em título e outros documentos de dívida͟.

A função do protesto então é comprobatória, não gerando em si direito algum, mas que

gera efeitos, um deles é a restrição do crédito, fato que pode trazer certa constrição psíquica

ao devedor, mas que, se feita dento da legalidade, não incorre o sacador em problemas como

com os danos morais que a pessoa pode vir a alegar.

A Lei da Duplicata, prevê as hipóteses de realização de protesto, em seu art. 13:

"Art. 13. A duplicata é protestável por falta de aceite de devolução ou pagamento.

§ 1º Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, o protesto será tirado,

conforme o caso, mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda, por

simples indicações do portador, na falta de devolução do título219͟.

O que nos importa agora é o protesto por indicação, pois foi através deste texto da lei,

modificado pelo Decreto-Lei nº. 436/1969 que se justifica a possibilidade do sistema bancário

indicar a duplicata para protesto, possibilitando a execução e o pedido de falência por meio da

apresentação do protesto em si e do recibo de mercadoria.

O protesto, quando há intenção de executar o avalista não é necessário, mas quando a

execução vai recair sobre endossatários e os avalistas destes, deverá o protesto ser realizado

até trinta dias após o vencimento do título.

As possibilidades de execução variam de acordo com o tipo de duplicata que se tem


em mãos, a quem se vai executar e o tipo de aceite existente na duplicata.

No caso de aceite ordinário, ou seja, aquele praticado no corpo da duplicata bastará

instruir o processo com a duplicata, assinada pelo sacado inadimplente, sem protesto, nos

termos do art. 15, inc. I da Lei de Duplicatas.

Para haver a possibilidade de aceite por via eletrônica, deverá haver mudança na

legislação, pois essa ainda não criou formas para viabilizar essa possibilidade.

Quando pelo sacado, houver comunicação de aceite ou ainda comunicação de recusa,

deve-se juntar a comunicação aos autos. Mas quando essa é feita por meio eletrônico, há aqui

219 Lei nº. 5.474/1968. Op. cit.

130

um problema, devido a falta de uma legislação específica, que prevê a validade do correio

eletrônico.

O correio eletrônico não é considerado um documento, por isso não é uma

comunicação válida, pois não há como se provar que se originou de uma pessoa em

específico, como também há diversas formas de se criar forjar um e-mail. Nesse mesmo

sentido verbera ULHOA:

͞Essa modalidade, das três, é a menos usual, de existência praticamente nenhuma. (͙)

O instrumento da comunicação, necessariamente em suporte papel, pode ser carta,

telegrama ou telecópia (fax), não se admitindo mensagens transmitidas e arquivadas

em meio magnético (E-mail)͟220.

Há a tentativa de alguns órgãos, no intuito de criar a certificação digital para o e-mail,

como é o caso do site da Receita Federal, que para a comunicação com os contribuintes que

optam por essa prática, podem criar uma caixa postal eletrônica no site da Receita e assim ter

o envio e recebimento de documentos oficiais por meio do e-mail.

Há o exemplo também dos Tribunais que vem aceitando peticionamento eletrônico,

mas neste caso é criado via formulário, um vínculo do advogado com aquela conta de e-mail,

mas esse sistema depende do papel, pois o advogado tem que enviar a petição original até
cinco dias depois do término do prazo ou cinco dias depois da recepção pelo Tribunal do

material que não depende de prazo, nos termos do art. 2º da Lei nº. 9.800/1999221.

Na ausência de aceite, é válido o comprovante de entrega de mercadoria ou serviço e o

instrumento de protesto, conforme art. 13, II da Lei de Duplicata. Da qual não se pode exigir a

cártula da Duplicata.

Com relação ao comprovante de entrega de mercadoria, há a discussão se esse poderá

ser realizado por via eletrônica. Essa possibilidade através do e-mail não deve ser aplicável,

conforme visto acima, por sua fragilidade como prova, pelo menos até a atualidade. Nada

obsta de haver a certificação digital do e-mail.

No caso dos sites de leilão, poderia ser utilizada a qualificação que o comprador faz ao

vendedor. Por exemplo, quando um dos participantes realiza uma compra, este deve qualificar

a venda e o usuário vendedor, nos quesitos: ͞a compra foi realizada com sucesso?͟ Se não,

͞por qual motivo͟, em ambos os casos o comprador, só consegue concluir a qualificação se

220 COELHO. Fábio Ulhoa. Op. cit. p. 459

221 BRASIL. Lei nº. 9.800/1999. Permite às partes a utilização de sistema de transmissão de
dados

para a prática de atos processuais. Disponível em

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=226554> Acesso em 19
fev. 2006.

131

digitar algo seu comentário da venda, tudo isso em área segura, ou seja, com assinatura digital

que o próprio comprador digitou.

O vendedor, com a qualificação de que a negociação fora realizada com sucesso,

poderia ter suprida a necessidade de comprovante de entrega de mercadoria, para suprir o

requisito do art. 15, II, b, da Lei de Duplicatas.

VII. PEDIDO DE FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL ATRAVÉS DA

DUPLICATA VIRTUAL

Da mesma forma que a execução pode ser realizada sem a apresentação da duplicata,
entendemos ser o pedido de falência realizável, após o protesto, que deverá ser realizado por

indicação.

Antes da nova Lei de Falências, só se poderia apresentar documento original, vejamos a

redação da nova Lei de Falências:

͞Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7º, § 1º, desta Lei

deverá conter:

I ʹ (͙)

II ʹ (͙)

III - os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem

produzidas;

IV ʹ (͙)

V ʹ (͙)

Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos no

original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo222͟.

A Recuperação Judicial, da mesma forma, exige que seja juntada a certidão do

Cartório de Protestos da Comarca para a composição da Petição Inicial da Recuperação

Judicial, nos termos do art. 51, inc. VIII, da Lei de Falências, isto implica dizer que é o

protesto instruirá um pedido de falência junto ao comprovante de recebimento de


mercadoria,

pois são juntos, instrumento comprobatório da inadimplência, e da relação comercial

existente, culminando assim na decretação da falência ou Recuperação Judicial.

VII.1 JURISPRUDÊNCIA

222 BRASIL. Lei nº. 11.101/2005. Regula a Recuperação Judicial, a extrajudicial e a falência do

empresário e da sociedade empresária. Disponível em

<http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=250164> Acesso em 15
fev. 2005.

132

Alguns Tribunais já tem decidido sobre a desnecessidade de apresentar a prova do


título, como podemos ver a decisão do Ministro Eduardo Ribeiro, em Agravo em Recurso

Especial:

͞Não se defere pedido cautelar de sustação de protesto de duplicata, se presentes, através da

prova reduzida, indícios suficientes da existência de efetiva transação mercantil entre os

litigantes. A apresentação de alegações inverídicas e infundados, objetivando sustar protesto

de duplicata sacada em razão de comprovado negócio mercantil caracterizam litigância de


máfé.

A recorrente aponta, além de dissídio, violação aos arts. 6º, 7º, 8º e 12 da Lei 5.474/68.

Alega que a recorrida não cumpriu as exigências dos dispositivos, ao deixar de provar o

recebimento da mercadoria e que remeteu a duplicata para aceite. Salienta que nem mesmo
se

apresentou o título em discussão. O recurso não merece prosperar. O aresto afirma que os

documentos trazidos comprovam a existência do título e do negócio jurídico. Chegar à

conclusão diversa implica necessariamente reexame de provas. No que se refere à remessa de

duplicata para aceite, não houve discussão sobre o tema, pelo que carece do indispensável

prequestionamento. Nego provimento ao agravo223͟.

Ainda no STJ, a decisão do Min. Ruy Rosado de Aguiar da Quarta Turma em Recurso

Especial:

DUPLICATA. EXECUÇÃO. FALTA DE APRESENTAÇÃO.

A lei permite a execução sem a apresentação da duplicata ou da triplicata, desde que a petição

inicial venha acompanhada de comprovante do protesto e de documento hábil a comprovar a

entrega e recebimento da mercadoria (art. 15, §2º, da Lei 5.474/1968). Precedente. Recurso

conhecido e provido224͟.

Há muitas outras decisões de igual sentido no STJ, em contramão as poucas decisões

presentes nos Tribunais de Justiça dos Estados, mas acreditamos na conscientização e

aceitação deste instituto, que vem apenas para somar as boas transformações que ocorrem na

justiça, trazendo celeridade ao processo.

VIII. CONCLUSÃO
O número de inovações tecnológicas nos últimos 50 anos é absurdo, quanto mais nos

últimos 10 anos em que o computador pessoal se popularizou.

O computador, bem como a Internet, já é um veículo que atinge milhões de pessoas

pelo mundo e no Brasil, que é um dois países que mais têm a população de internautas em

223 Agravo em Recurso Especial nº. 294.826-MG, publicada no DJ de 10.ago. 2000. Min.
Eduardo

Ribeiro.

224 Resp 309829/CE; RECURSO ESPECIAL 2001/0029476-6. Órgão Julgador: 4ª Turma. Data do

Julgamento: 04/12/2001. Data de Publicação: 08/04/2001, p. 221. Min. Ruy Rosado de Aguiar.

133

crescimento, é um instrumento de comunicação, de serviço, de propaganda e infelizmente

também do crime, mas que é em seu todo muito útil, pela velocidade proporcionada por ela.

O Comércio Eletrônico surgiu claro, no intuito da empresa alcançar o lucro. Com esse

surgimento do e-commerce, veio também as soluções que se buscam para facilitar o comércio,

como é o caso da duplicata virtual, que atinge o comércio eletrônico e o físico, mas que tem

sua realização toda feita por meio eletrônico, vez que o comerciante se vê praticamente

obrigado a se ͞plugar͟ na Internet, para que possa trabalhar com a emissão da duplicata, pois

o meio bancário contempla atualmente, com essa forma de emissão do título.

Com a descartularização do título, dúvidas surgem como a possibilidade de aceite,

protesto, execução e se a mesma é ou não de fato, um título de crédito.

134

A duplicata é sim um título de crédito, pois atende aos anseios do comerciante

vendedor, do cliente, sacado, e preenche os requisitos previstos em lei.

Felizmente, o Código Civil trouxe inovações muito benéficas que aceleraram

certamente o processo para a legalização da duplicata virtual, pois trouxe em seu corpo a

contemplação do mundo eletrônico, algo que era impossível de se ter no Código Civil de

1916.

O ideal será a promulgação de uma lei que discipline todo o assunto, sem vontades
políticas de autopromoção do candidato e sem o entrave político das negociações para votos

de lei.

Mas, enquanto isso cabe aos Tribunais Superiores definirem sobre o assunto, e,

espera-se que positivamente, pois esse instituto só vem a ajudar o comércio, com isso, o

progresso.

Ao que tudo indica, os títulos de crédito desaparecerão, pois na sociedade que está

sendo remodelada pela tecnologia, não vai haver espaço para o papel, por desvantagens

óbvias como fazer uma busca de informações, o que pode ser feito por um computador em

poucos minutos, ou dependendo, segundos.

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