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VINTE

Maggie

Estou sentada na frente de uma garota com o cabelo tingido de loiro e raízes escuras. Ela
esta vestindo calça de moletom azul e uma camiseta azul como as outras garotas na prisão.
A Sra. Bushnell designou ela à minha mesa. A garota esta me olhando como se não quisesse
estar aqui.

"Sou Maggie", digo a ela.

"Então, Maggie, qual é sua história?" ela pergunta impacientemente, totalmente


desinteressada.

Eu conto a ela como fui atropelada por um carro em um acidente sem prestação de socorro e
passei um ano em hospitais e reabilitação. Seu olhar fica vidrado e chega a um ponto que
penso que ela pode estar caindo no sono.

Quando eu explico que não consegui me adaptar quando voltei para começar meu ultimo
ano do ensino médio, ela pergunta, "E isso deveria me fazer sentir pena de você? Escuta
aqui, eu tenho mais com que lidar do que uma perna detonada. Meu pai é um bêbado, e
minha mãe nos abandonou há cinco anos. Eu realmente não vou chorar por você mancar,
então pode economizar o fôlego e o resto de sua historia para alguém que realmente de
alguma merda por ela".

Não dormi muito na noite passada. Caleb não está falando comigo. Estou de mau humor e
meus nervos estão no limite. Se essa garota não quer simpatia, tudo bem. Mas isso não
significa que eu tenho que ficar sentada aqui enquanto ela me trata de forma
condescendente.

"Escuta aqui você" eu digo, então me inclino sobre a mesa assim consigo toda sua atenção e
me certifico de que ela me escute alto e claro. "Só porque você tem uma vida familiar ruim
não lhe dá o direito de sentar aí e ser mal educada".

"Claro que sim," ela dispara de volta. "Aposto que você tem pais com dinheiro".

"Minha mãe trabalha como garçonete em uma lanchonete".

"Bem, aposto que seu pai não é um bêbado-".

"Eu não saberia dizer," digo a ela. "Meu pai abandonou minha mãe. Não o vi em anos. Ah, e
me esqueci de mencionar que me apaixonei pelo cara que foi pra cadeia por me atropelar.
Em primeiro lugar eu nem deveria estar falando com ele. Então ele veio nesta viagem, mas
agora ele não está falando comigo de novo, e eu tenho que fingir que somos apenas amigos
e tenho medo de perdê-lo, embora sei que é estúpido porque sinto como se já o tivesse
perdido... e nada disso teria acontecido se não fosse por causa de um acidente de condução
imprudente. Então, quando você sair deste lugar, por favor não dirija de forma imprudente
ou você poderia acabar com uma incapacidade permanente, sem namorado e sendo uma
pária na escola".

Ao invés da garota caindo no sono ou não dando a minima, agora ela está olhando para mim
com olhos arregalados. "Muito bem. Você fez seu ponto. Entendi."

"Obrigada", digo a ela, falando sinceramente.

"É ruim quando as pessoas olham pra você enquanto anda?" pergunta ela .

No começo, quando sai do hospital eu não queria nem mesmo sair da minha cadeira de
rodas e andar, porque eu sabia que atrairia mais olhares por minha manqueira ridiculamente
pronunciada do que por estar confinada a uma cadeira de rodas. Eu odiava as encaradas.

"Odeio que fiquem me olhando, mas tento bloquear," digo a ela. "Admito que me faz sentir
como o principal evento em um show de horrores". Olho para baixo e digo o que não gosto
de colocar em palavras, embora seja a mais pura verdade. "Não passa um dia que eu não
deseje que o acidente não tivesse acontecido e assim eu pudesse ser normal. Isso esta na
minha mente todos os dias".

"Não passa um dia em que eu não me arrependa de ter feito o que fiz para ficar presa aqui"
diz ela .

"Não sei se posso te fazer perguntas sobre o porquê de você estar aqui".

"Digamos apenas que deixei alguém muito machucado," ela me diz, então se concentra em
um ponto na parede. Talvez ela não queira ver minha reação.

Olho para a guarda feminina bloqueando a porta e a Sra. Bushnell na extremidade oposta da
sala. Elas estão vigiando as presas. Me pergunto se existe algum momento que elas não
estejam sendo observadas ou avaliadas. Penso em Caleb, que me disse que odiava ser
vigiado pelos guardas a cada segundo do dia. Eu me pergunto como ele está suportando,
estando aqui novamente.

"Deve ser horrível estar aqui" murmuro

A garota dá de ombros. "Na verdade não é tão ruim assim. É melhor que tá em casa. Acho
que odeio tá aqui porque me lembra do que fiz. Machuquei essa garota. As lembranças
daquela noite me dão pesadelos quase todas as noites. Eu tava pensando em escrever uma
carta pra ela, mas ela provavelmente iria jogá-la fora e nunca ler".

"Você poderia tentar. Se há alguma coisa que provavelmente vai fazer, é fazer você se sentir
melhor por escrevê-la".
"Acho que não".

"Só pense nisso".

"Vocês tem mais um minuto, senhoritas!" Sra. Bushnell anuncia em voz alta. "Despeçam-se
e alinhem-se na porta".

"Sim, bem, acho que foi bom te conhecer, " diz a garota. "As meninas que não tem
visitantes têm que vir falar com vocês. É chato quando é dia de visita e ninguém chama seu
nome porque você tem algum visitante, então, uh, obrigada por estar aqui," ela limpa a
garganta. "Sou Vanessa. Meus amigos em casa me chamam de V, mas para ser honesta eu
não tenho mais amigos".

Levanto a mão. A Sra. Bushnell caminha para nossa mesa. "Algum problema?" pergunta ela
.

"Não", me apresso a dizer. "Só queria saber se poderia ter o endereço de Vanessa... para que
possamos ser amigas por correspondência".

O rosto severo da Sra. Bushnell suaviza. "Isso seria ótimo. Vou te dar a informação antes
que deixe o edifício".

"Você não tinha que fazer isso," diz Vanessa quando a Sra. Buchnell se afasta.

"Eu sei".

Vanessa sorri, o primeiro sorriso que vi dela desde que ela entrou na sala. "Está bem,
Maggie. E se você chegar a me escrever, prometo responder. Só não espere palavras
elegantes".

"É um trato".

"E só pra você saber, de modo algum acho que você seja uma aberração. Na verdade, acho
você uma das garotas mais legais que já conheci".

Eu sorrio. "Sou uma esquisita," digo a ela.

"Não, não é," ela aponta o dedo para mim. "Você, Maggie, é uma garota incrível. Não
esqueça disso".

Uma garota incrível? "Ninguém nunca me disse que sou incrível antes".
"Isso é porque você não age como tal. Se você se acha legal e age como se fosse, todo
mundo vai começar a te tratar como se você fosse. Entende o que quero dizer?"

"Acho que sim".

"Não desperdice um único dia pensando que é uma esquisita, se fosse assim, seria melhor
você estar trancada aqui como eu".

Vanessa e as outras garotas se formam em uma fila única próxima à porta de metal fechada,
com suas mãos atrás das costas. Algumas das garotas parecem realmente jovens... como se
mal estivessem no ensino médio ou até mais jovens que isso. A guarda as guia para fora.
Antes que Vanessa saia, ela olha para trás e me dá um pequeno aceno de despedida.

Segundo Vanessa, minha manqueira e cicatrizes não importam. Sou uma garota incrível. Só
tenho que começar a acreditar nisso.

Toda nosso grupo do Re-COMEÇAR esta calado quando deixamos o DOC. Eu vou para a
parte de trás da van, onde normalmente Caleb se senta, mas quando me vê, ele desliza para a
primeira fila ao lado de Trish.

Estou presa na parte de trás com Lenny.

Quando voltamos para o Dixon Hall, Damon nos diz que temos dois dias livres para
descansar e se divertir. Matt sugere irmos amanhã ao Independence Grove para alugar
canoas e pescar no lago.

Caleb parece muito distante desde que nós deixamos o centro de detenção. Eu me pergunto
o que aconteceu com ele no lado dos garotos da prisão. Não descubro, porém, porque Caleb
passa o resto da noite sozinho em seu quarto. Damon o chama à sala de estar para jantar.

"Eu pego alguma coisa na geladeira depois," diz ele . Quando estamos para assistir um filme
na sala, eu espreito dentro do quarto e o vejo deitado em sua cama, encarando o teto.

"Caleb, vamos ver um filme".

"Assistam sem mim".

"Você tá legal?" pergunto hesitante. "Quer conversar?"

Ele ri um pouco e balança a cabeça.

"Você vai ficar com raiva de mim pra sempre?"


Ele não responde.

Na manhã seguinte, enquanto todos estamos cobertos de protetor solar, Caleb é o ultimo a
ficar pronto. Ele esta de boné de beisebol, bermudas e uma regata. A tatuagem de Caleb me
faz lembrar de chamas negras lambendo sua pele. Ela o faz parecer mais duro e intocável, o
que tenho certeza que foi como ele queria parecer quando a fez.

No parque, Damon nos compra minhocas. Aluga artigos de pesca e três barcos e nos diz que
estamos por nossa conta, e que ele estará de volta antes do meio dia com o almoço.

"Hey Trish," Lenny diz enquanto a observa estender uma toalha sobre a areia à beira mar.
"Sabia que dá pra ver o contorno dos seus mamilos através do biquíni?".

"Você é um porco." diz Trish, então empurra Lenny para longe dela.

Lenny levanta as mãos. "O quê? Eu ia te dizer que você tem mamilos bonitos. Aff, Trish. Se
controle e aprenda a aceitar um elogio".

Estamos todos olhando para Lenny como se ele tivesse perdido a noção.

Trish cruza os braços sobre o peito e faz uma grande cena checando as regiões baixas de
Lenny. "Sabia que não dá pra ver o contorno do seu pênis através da sua sunga?" ela
balança o cabelo e diz, "E só pra você saber, Lenny, isso não foi um elogio".

Sem aviso, Lenny levanta Trish e a leva para o lago, gritando e esperneando.

"É melhor você não me jogar!" ela grita, ainda chutando, enquanto se agarra no pescoço de
Lenny se aferrando a sua apreciada vida.

"Ah, sim, baby, você tá sendo jogada," diz Lenny, aparentemente ignorando os chutes e
apelos da garota com quem esteve se estranhando desde que esta viagem começou.

Olho para Caleb, que está olhando Lenny e Trish. Ele se vira para mim e uma expressão
malvada cruza seu rosto. Ele acena, como se Lenny estivesse realizando o castigo mais
brilhante para uma garota que o irritou.

"Você não esta pensando em me jogar no lago," digo a ele.

"Sim" diz ele. "Estou".

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